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DIRETRIZES PARA A POLÍTICA FLORESTAL CATARINENSE

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DIRETRIZES PARA A

POLÍTICA FLORESTAL

CATARINENSE

CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE – CONSEMA GRUPO DE TRABALHO DE POLITICA FLORESTAL

Proposta elaborada pelo

Grupo de Trabalho de Política Florestal de Santa Catarina

(GT-PEFSC), instituído pela Portaria CONSEMA/SDS 60/2012

Florianópolis

Maio de 2013

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2 RESUMO

A elaboração das diretrizes para uma nova política florestal catarinense foi motivada e está baseada nos resultados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC), levantamento sistemático e detalhado das florestas catarinenses realizado nos anos 2007 a 2011.

O empobrecimento dos remanescentes florestais, as ameaças à biodiversidade vegetal, a continuada degradação das florestas por intervenções humanas equivocadas e as constantes mudanças de uso do solo, com o avanço do uso agropastoril e de plantações florestais, tornaram evidente a ineficiência das ações do Estado até agora desenvolvidas para a proteção das florestas.

O grupo de trabalho GT-PEFSC propõe um conjunto de medidas para efetivamente proteger o que está ameaçado, recuperar o que está degradado, ligar através de novas florestas o que está isolado e integrar o que está desintegrado - as ações de conservação e uso dos recursos florestais, de planejamento territorial, fiscalização e licenciamento ambiental.

As seguintes linhas de ação são detalhadas no presente documento:

Efetiva estruturação das Unidades de Conservação estaduais existentes;

Implantação de uma “extensão florestal” para capacitar e apoiar ações de proteção, uso e valorização dos recursos florestais nativos;

Incentivo ao manejo de florestas secundárias;

Implantação de um programa de silvicultura de espécies nativas fundamentado nos resultados dos estudos genéticos do IFFSC;

Implantação de ações de defesa florestal, visando o controle de incêndios florestais, o controle de plantas invasoras e a defesa fitossanitária;

Integração das ações de conservação, licenciamento, controle e fiscalização, tendo como prioridade a regularização ambiental da propriedade rural;

Continuação do monitoramento do estado das florestas catarinenses, por meio do IFFSC e da adoção de um programa de pesquisa científica para a área florestal.

Identificação de uma instância única dentro da estrutura do Poder Executivo Estadual de gestão das ações da política florestal.

Propõe-se a inclusão na revisão da Lei 14.675 de 2009, tramitando atualmente na Assembleia Legislativa, das propostas acima citadas e detalhadas neste documento, como sendo atribuições do Estado de Santa Catarina.

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ... 4

1.1 Justificativa ... 4

1.2 Grupo de Trabalho - Política Estadual de Florestas de S. Catarina (GT–PEFSC) ... 5

1.3 Objetivo da proposta ... 5

1.4 Metodologia dos trabalhos ... 6

2 DIAGNÓSTICO GERAL ... 6

2.1 Deficiências ... 6

2.2 Potencialidades ... 9

3 DIRETRIZES PARA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ... 9

4. MANEJO DE FLORESTAS SECUNDÁRIAS ... 15

Diagnóstico ... 15

5. SILVICULTURA DE ESPÉCIES NATIVAS ... 18

Programa de plantio de espécies florestais nativas... 19

6. PRODUÇÃO FLORESTAL (SILVICULTURA DE ESPÉCIES EXÓTICAS) ... 21

7. DEFESA FLORESTAL ... 23

7.1 Incêndios Florestais ... 23

7.2 Defesa Sanitária ... 26

7.3 Espécies Exóticas Invasoras ... 27

8. PROTEÇÃO DOS AQUÍFEROS ... 29

9. EXTENSÃO E PESQUISA FLORESTAL, EDUCAÇÃO AMBIENTAL ... 31

9.1 Extensão florestal ... 31

9.2 Pesquisa florestal ... 31

9.3 Capacitação e educação ambiental ... 31

10. FISCALIZAÇÃO, CONTROLE, LICENCIAMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL ... 33

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa

As Florestas nos fornecem uma grande gama de produtos, serviços e benefícios. Sua conservação, cada vez mais, é considerada uma questão estratégica tanto para a sociedade local ou regional quanto à humanidade como um todo, devido ao seu importante papel como estoque de carbono e fixador de CO2, além de mantenedora de regimes

pluviométricos equilibrados. A dizimação de florestas tem sido considerada um dos fatores capazes de desencadear a decadência e o extermínio de civilizações ao longo da história.

Os dados coletados durante os quatro anos de levantamentos de campo do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC), as informações extraídas e os resultados de suas análises, constituem uma sólida base de conhecimento, que permite identificar prioridades para o direcionamento das atividades no espaço rural, seja para fins de conservação, recuperação, uso e manejo dos recursos florestais, bem como delinear propostas para uma nova politica florestal.

Identificar quais as bacias hidrográficas que demandam maior proteção de suas florestas para garantir a proteção dos mananciais e dos aquíferos, qual município ou região do Estado enfrenta problemas na conservação dos recursos florestais, são importantes elementos deste conhecimento. Estas informações permitem orientar a gestão dos recursos naturais e o planejamento territorial.

O inventário das florestas catarinenses veio preencher uma lacuna no conhecimento sobre a cobertura florestal do Estado, que abrange aproximadamente 1/3 do território, e permite aos gestores, a partir desta abrangente base de dados, elaborar medidas para desenvolver o potencial social, econômico e ambiental dos seus recursos florestais. Estas medidas se fazem necessárias para enfrentar e reverter algumas tendências apontadas pelo IFFSC. Elas deverão compor um novo escopo para uma política verdadeiramente orientada nos interesses coletivos que garanta a sobrevivência das florestas, a manutenção e a recuperação de suas múltiplas e benéficas funções para a sociedade.

Este documento apresenta uma síntese da situação atual das florestas bem como proposições básicas para a construção de uma política florestal para o Estado de Santa Catarina.

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5 1.2 Grupo de Trabalho - Política Estadual de Florestas de Santa Catarina (GT–PEFSC)

No dia 2 de março de 2012, foram apresentados ao Plenário do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA, os resultados e os principais achados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina. Considerando a evidente necessidade apontada pelos resultados de estruturar uma política para garantir a manutenção dos remanescentes florestais, permitir seu desenvolvimento sustentável e ainda proporcionar benefícios econômicos e sociais à sociedade catarinense, o CONSEMA determinou, na mesma data, por decisão unânime, a criação de um Grupo de Trabalho de Política Florestal de Santa Catarina GT-PEFSC.

Este Grupo de Trabalho foi vinculado à Câmara Técnica de Atividades Agroflorestais - CTAFLO do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA. O grupo de trabalho foi composto pelas instituições já integrantes da CTAFLO, com participação de demais instituições de notório saber relacionado ao tema. O grupo de trabalho foi oficializado pela Portaria CONSEMA/SDS 060/2012.

Os trabalhos iniciaram-se em 20 de abril de 2012 e foram desenvolvidos por meio de reuniões quinzenais durante o ano de 2012 (totalizando 12 reuniões). As reuniões contaram com a participação dos membros indicados na portaria, além de especialistas convidados, que contribuíram para assuntos específicos.

Considerando que o arcabouço legal que rege o setor é complexo e envolve políticas de uso do solo, agrícolas, ambientais, florestais, sanitárias, econômicas e de educação, optou-se por apresentar as conclusões e sugestões do grupo por meio de Diretrizes, que servirão de base para a construção de uma Lei de Política Florestal para o estado de Santa Catarina.

1.3 Objetivo da proposta

Apresentar diretrizes para a Política Florestal de Santa Catarina, e orientar ações do poder público e da sociedade civil na sua atuação relacionada às florestas catarinenses.

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6 1.4 Metodologia dos trabalhos

Os trabalhos do GT-PEFSC foram desenvolvidos em quatro áreas temáticas: Conservação, Defesa Florestal, Licenciamento e Fiscalização, Educação Ambiental e Comunicação. Foi realizado um diagnóstico, que apontou as deficiências, os riscos e os potenciais de cada área, seguido de discussão e formulação de propostas de ações necessárias para reverter as situações adversas e realizar os potenciais identificados.

Embora os resultados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) formem a principal fonte de dados, outras informações relevantes foram trazidas para a discussão do grupo pelos participantes e por especialistas externos consultados.

As Diretrizes elaboradas contém as principais contribuições do grupo de trabalho para com os diversos temas ligados ao desenvolvimento florestal sustentável, apresentando para cada tema um breve diagnóstico da situação, destacando deficiências e potencialidades, além de objetivos, estratégias e linhas de ação prioritárias propostas.

2 DIAGNÓSTICO GERAL

2.1 Deficiências

Os resultados do IFFSC mostram um retrato preocupante das florestas catarinenses, ou melhor, do que restou delas. Muitas constatações não são novas e já tinham sido observadas anteriormente, embora a sociedade disponha agora de informações atualizadas, representativas e abrangentes acerca da situação dos recursos florestais. A seguir são listados os principais achados do IFFSC que formam o embasamento para o novo direcionamento de uma política florestal e para a definição de ações prioritárias.

• A cobertura florestal remanescente em Santa Catarina atualmente é de aproximadamente 29% do território, considerando como florestas formações florestais com mais de 10m de altura e mais de 15 anos de idade. Estas são as florestas detectáveis pelos sensores dos satélites Landsat e Spot, que geraram as imagens utilizadas. Esta cobertura varia entre 8% no extremo oeste catarinense e 60% em algumas regiões da Floresta Ombrófila Densa na parte oriental do Estado.

• Considerando as três regiões fitoecológicas de Santa Catarina, a Floresta Estacional Decidual (FED) apresenta cobertura de 16%, a Floresta Ombrófila Mista (FOM) 24% e a Floresta Ombrófila Densa (FOD) 40%.

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7 • A diversidade de plantas vasculares é grande: 2.372 espécies foram registradas, entre

as quais 857 espécies arbóreas e arbustivas, 483 epífitos, 170 lianas, 315 pteridófitas (samambaias), além de 547 ervas terrícolas. O IFFSC registrou 43% de todas as espécies citadas por Stehmann et al. (2009) para a Floresta Ombrófila Mista brasileira, 33,9% das espécies citadas para a Floresta Ombrófila Densa, bem como 61,8% das espécies citadas para a Floresta Estacional Decidual.

• Um quinto das espécies arbóreas registradas há 50 anos pelos botânicos Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein, publicados na Flora Ilustrada Catarinense (REITZ, 19651), não foram mais observadas. Além disso, 32% de todas as espécies arbóreo-arbustivas foram encontrados com menos de 10 indivíduos no Estado;

• Florestas empobrecidas: na Floresta Ombrófila Mista foram encontradas, em média, apenas 36 espécies lenhosas por remanescente florestal, na Floresta Estacional Decidual 38 e na Floresta Ombrófila Densa 58. Na regeneração ocorre uma situação mais preocupante: na Floresta Ombrófila Mista foram observadas somente 14 espécies, na Floresta Estacional Decidual 15 e na Floresta Ombrófila Densa 57 espécies regenerantes e de sub-bosque.

• Entre as dez espécies dominantes na Floresta Ombrófila Mista encontram-se oito espécies pioneiras e secundárias, na Floresta Ombrófila Densa sete destas categorias, enquanto que na Floresta Estacional Decidual todas são tidas como pioneiras (três) e secundárias (sete); isto quer dizer que há pouquíssimos indivíduos de espécies climácicas entre as árvores dominantes nas florestas catarinenses. O mesmo vale para as espécies da regeneração nas três regiões fitoecológicas. Hovenia dulcis Thunb. (uva-do-japão - Rhamnaceae), uma espécie exótica introduzida nos anos de 1970, ocupa a décima primeira posição entre as espécies mais importantes na Floresta Estacional Decidual.

• As constantes intervenções humanas na floresta, como a exploração indiscriminada de madeira, roçadas e, principalmente no planalto e no oeste catarinense, o pastoreio de bovinos dentro da floresta, surtiram estes efeitos. Eles são potencializados pelo intensivo uso agrícola nos entornos dos remanescentes pequenos (quanto menor a área do remanescente, mais suscetível ele fica às influências dos impactos no entorno, como o uso do fogo e de pesticidas, perda de umidade devido à maior incidência do vento e do sol). Pesa assim o fato de 85% dos fragmentos florestais de Santa Catarina terem área menor que 50 hectares.

• Menos de 5% das florestas tem características de florestas maduras, enquanto mais de 95 % dos remanescentes florestais do Estado são florestas secundárias, formadas por

1

Reitz, R. 1965. Plano de Coleção. In: Reitz, R. (ed.). Flora Ilustrada Catarinense. Itajaí. Herbário Barbosa Rodrigues.

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8 árvores jovens de espécies pioneiras e secundárias, com troncos finos e altura de até 15 metros e baixo potencial de uso.

• Os efeitos do pequeno tamanho das áreas florestais e de seu uso inadequado resultam num significativo empobrecimento da floresta e na simplificação de sua estrutura. Estes fatores, por sua vez, prejudicam as suas funções protetoras do solo e dos mananciais, bem como sua função de reservatório de carbono e guardião da biodiversidade.

• Os estudos genéticos do IFFSC mostram que várias espécies importantes sob os aspectos ecológicos e/ou econômicos apresentam baixa diversidade genética em muitas de suas populações, mesmo considerando fragmentos com populações mais densas. A situação de fragmentação das florestas e redução do tamanho populacional leva a uma perspectiva de perdas ainda maiores de diversidade (índices de fixação de alelos elevados) para várias espécies.

• O conjunto de resultados reforça as possibilidades de perda de adaptabilidade e dinamismo populacional, o que traz como consequência, com o passar do tempo (gerações), grande aumento do risco de extinção local.

• De uma maneira geral, os resultados indicam grande variação de diversidade genética potencial em cada uma das espécies e, principalmente, entre as populações das mesmas. Contudo, os índices de fixação foram, na sua maioria, elevados, refletindo os efeitos da redução dos tamanhos populacionais nas populações estudadas em decorrência do processo histórico de super-exploração.

• O levantamento sócio-ambiental do IFFSC evidenciou que existe um grande distanciamento entre os proprietários em relação às suas florestas. Decorrente em parte pelo desconhecimento e complexidade da legislação, observou-se um comportamento contra produtivo da população rural em relação aos remanescentes florestais como, por exemplo, a erradicação de qualquer regeneração de araucárias por medo de se criar um “problema”. O resultado disto é a perda de conhecimento das populações sobre as florestas e o descomprometimento com sua conservação.

• Por outro lado constatou-se que a grande maioria da população rural tem uma consciência muito clara dos benefícios sociais e ambientais das florestas nativas, consciência essa que, no entanto, não se traduz em ações para assegurá-las, muito pelo contrário, como o exemplo acima citado mostra.

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9 2.2 Potencialidades

Três aspectos devem ser citados neste item. O percentual de cobertura florestal remanescente de aproximadamente 29% do território é um patrimônio considerável e coloca Santa Catarina numa posição privilegiada entre os estados brasileiros. Apesar do seu empobrecimento estrutural, acima descrito, esta cobertura está em fase de recuperação. Justamente por esta razão ela precisa ser protegida, por exemplo, dos efeitos devastadores do pastoreio bovino no seu interior.

O segundo aspecto que configura uma potencialidade, certamente é a grande biodiversidade de plantas vasculares confirmada pelo IFFSC. Foram registradas em Santa Catarina 43% de todas as espécies citadas por Stehmann et al. (20092) para a Floresta Ombrófila Mista brasileira, 33,9% das espécies citadas para a Floresta Ombrófila Densa, bem como 61,8% das espécies citadas para a Floresta Estacional Decidual em todo território brasileiro. Isto significa que o Estado ainda é um extraordinário centro de diversidade da Mata Atlântica brasileira. Esta diversidade é significativa não somente pelo seu valor de existência, mas também pelo seu potencial econômico e social, tendo em vista a vasta gama de plantas ornamentais, bioativas, alimentícias e de outros usos.

O terceiro aspecto importante é representado pelo valioso conjunto de dados coletados e das informações geradas a partir de sua análise pelo IFFSC. Nenhum outro Estado brasileiro dispõe de uma base de dados desta natureza, detalhada, sistemática e atualizada. Desta forma é imprescindível que o IFFSC torne-se uma atividade permanente, permitindo o monitoramento da extensão e do estado de conservação das florestas, bem como dos efeitos das ações do poder público, em especial, das medidas propostas para uma nova política florestal.

3 DIRETRIZES PARA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Existem basicamente duas estratégias para a conservação de espécies ameaçadas, a conservação in situ e a ex situ. Para a estratégia de conservação in situ, as Unidades de Conservação (UCs) e a legislação relacionada às Áreas de Preservação Permanente (APPs) e à Reserva Legal (RL) podem representar os principais elementos disponíveis para

2

Stehmann, J.R.; Forza, R.C.; Salino, A., Sobral, M.; Costa, D.P.; Kamino, L.H.Y.. (Org.). 2009. Plantas da Floresta Atlântica. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

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10 esta forma de conservação. No caso de criação de mais áreas de conservação (sejam estas Parques, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas, dentre outras), a definição dos locais de implantação devem necessariamente levar em consideração critérios com embasamento técnico científico, para que a área criada possa efetivamente cumprir com seu objetivo. Dentre estes critérios podemos citar: endemismos, riqueza, presença de espécies ameaçadas, diversidade genética, entre outras Para tanto, em Santa Catarina, as informações disponibilizadas pelo IFFSC (para as espécies vegetais) são primordiais.

Para a definição de áreas prioritárias para conservação em Santa Catarina a Figura 1 mostra algumas variáveis espacializadas que contemplam aspectos considerados importantes, tais como: riqueza de espécies, número de espécies endêmicas e prioridade genética.

Figura 1- Distribuição espacial de variáveis que podem ser utilizadas na definição de áreas prioritárias para conservação, ou áreas críticas para ações de recuperação.

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11 É importante destacar que outras variáveis podem ser adicionadas à Figura 1, como o número de espécies raras. Além disso, no que se refere às informações genéticas, é importante esclarecer que a escala verificada na Figura 1 refere-se às informações conjuntas das espécies avaliadas; desta forma, poderíamos definir uma nova abordagem espacial para cada espécie avaliada, caso fosse necessário uma definição específica ou detalhada.

Outro fator importante da Figura 1, é que as áreas consideradas de riqueza “0” (em branco), não necessariamente devam ser desconsideradas, muito pelo contrário: são áreas não amostradas pelo IFFSC por possuírem baixíssima cobertura florestal que não permitiu a instalação de unidades amostrais do inventário. Eventuais pequenos fragmentos nelas existentes tem sua importância baseada no seu potencial de servirem como trampolim (key-stone) para a migração de espécies entre os remanescentes das células (quadriculas) vizinhas.

A espacialização das informações do IFFSC ou de outros trabalhos, como os de riqueza de fauna, do mapeamento do Sistema Aquífero Guarani/Serra Geral, da determinação do tamanho de fragmentos, das áreas com sobreposição com Corredores Ecológicos já estabelecidos, da distância de UCs já existentes, podem contribuir, de maneira decisiva, para melhorar o direcionamento de investimentos em Unidades de Conservação, ou ainda, para atividades relacionadas à recomposição da cobertura florestal.

Deficiências

• O Estado, no âmbito de sua competência e responsabilidade legal, não dispõe de uma estrutura organizacional para a implantação, gestão, monitoramento e proteção das unidades de conservação compatível com o grau de complexidade e com a grandeza que envolve as ações de conservação da biodiversidade, tão pouco dispõe de número de pessoal suficiente. Na atualidade a estrutura existente para planejamento e execução do Sistema Estadual de Unidades de Conservação se resume a uma Diretoria e duas gerências que compõem o organograma da Fundação do Meio Ambiente – FATMA. Existem unidades de conservação estaduais que carecem de equipe de gestão, outras que não estão com sua situação fundiária regularizada, não possuem demarcação física, plano de manejo e conselho ou não possuem infraestrutura para administração, pesquisa e uso público.

Das 10 unidades de conservação estaduais de proteção integral, 6 carecem de regularização de suas terras. A inexistência de estrutura adequada para desenvolver

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12 as ações de regularização fundiária das unidades de conservação, a complexidade inerente ao processo de regularização fundiária e o grande passivo de áreas a serem regularizadas, exigem do poder público a implantação/implementação imediata de uma estrutura para conduzir o processo de regularização fundiária das unidades de conservação.

• Há falta de informações quanto ao estado de conservação dos ecossistemas e espécies “protegidas” nas unidades de conservação. Ou seja, não se conhece a efetividade do Sistema Estadual de Unidades de Conservação da natureza e a localização e a qualidade populacional das espécies ameaçadas. O Estado de Santa Catarina não possui dados suficientes para diversos grupos da fauna e flora e de suas interações para que se possa medir/identificar o grau de eficiência das ações de conservação tomadas até o presente momento e as necessidades futuras. Ainda, as informações já disponíveis não estão organizadas em um banco de dados público que possa subsidiar de forma prática, a tomada de decisões quanto a ações necessárias e prioritárias para identificar e suprir as lacunas de conservação;

• Alguns ecossistemas ainda não são representados, ou estão insuficientemente representados no sistema de unidades de conservação (a Floresta Estacional Decidual e os Campos Naturais); algumas espécies ameaçadas de extinção não estão protegidas no âmbito desse sistema;

• A definição das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade (Portaria MMA N° 09, de 23 de janeiro de 2007) está desatualizada e em escala inadequada para aplicação em nível estadual.

Potencialidades

• Existência de critérios, normas, objetivos, competências para os processos de criação, implantação e gestão de unidades de conservação estabelecidas num sistema nacional instituído pela Lei Nº 9.985/2000 e em grande parte regulamentado pelo Decreto Nº 4.340/2002;

• A Lei Nº 14.675/2009 estabelece normas específicas e obrigações aplicáveis ao Estado de Santa Catarina visando a implantação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação, onde se destaca, por exemplo, a obrigação de definir e executar programa de monitoramento da fauna silvestre nas unidades de conservação estaduais. Além disso, esta lei define que o Estado tem a obrigação de publicar e manter atualizadas as listas de espécies exóticas invasoras e as listas da flora e da fauna ameaçadas de extinção;

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13 • Publicação da Lista das espécies da fauna ameaçadas de extinção pela Resolução

CONSEMA Nº 002/2011. Este instrumento atualizado é fundamental para o planejamento e a execução de ações de proteção das espécies ameaçadas e permite verificar a efetividade das Unidades de Conservação, assim como as lacunas de conservação dessas espécies;

• Lista das espécies da flora ameaçadas de extinção (no prelo). Este instrumento também será fundamental para o planejamento e a execução de ações de proteção das espécies ameaçadas e permitirá verificar a efetividade das Unidades de Conservação, assim como as lacunas de conservação dessas espécies;

• Publicação da Lista das espécies exóticas invasoras pela Resolução CONSEMA Nº 008/2012. A publicação dessa Resolução constitui importante lista de referência para ações de prevenção de degradação e restauração de ambientes degradados. Ressalta-se que em todas as Unidades de ConRessalta-servação nas esferas federal, estadual e municipal constatam-se processos de contaminação por espécies exóticas invasoras, que em maior ou menor grau provocam perda de biodiversidade. Todas as Unidades de Conservação de proteção integral administradas pela Fundação do Meio Ambiente – FATMA possuem um plano de ação de controle de espécies exóticas invasoras;

• Mapeamento do uso e ocupação do solo, confecção de ortocarta imagem, ortofotocarta e base cartográfica planimétrica da maioria das unidades de conservação. Estes produtos estabeleceram um marco zero de monitoramento para a realização de toda a cartografia temática que alimentará o sistema de acompanhamento de processos de fiscalização e irão subsidiar os trabalhos de cartografia para a gestão das UCs estaduais;

• As informações sobre a localização e a qualidade das populações florestais disponibilizadas pelo Inventário Florístico Florestal (IFFSC). Estas informações embasam, com segurança, o planejamento e a definição de estratégias de ações de conservação, assim como a priorização dessas ações. Ainda auxiliam no conhecimento da efetividade das atuais unidades de conservação;

A FATMA possui um diagnóstico atualizado das ações e atividades necessárias para implementação das unidades de conservação de proteção integral que estão sob sua administração. Estas atividades estão estruturadas em um planejamento físico-financeiro. A maioria dessas unidades de conservação possui também planos de manejo;

• Programa estadual de apoio à RPPN, instituído pelo Código Estadual do Meio Ambiente e pela implementação pelo Decreto Nº 3.755/2010, favorece e apoia as iniciativas de

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14 criação de Unidades de Conservação privadas por proprietários de áreas que possuem relevância de biodiversidade;

Estratégias

• Reforçar as ações de conservação de biodiversidade na política florestal do Estado, com atenção especial para conservação in situ;

• Definir as áreas prioritárias para conservação de biodiversidade, com base no mapeamento resultante do cruzamento dos dados do IFFSC e das listas das espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção;

• Apoiar o desenvolvimento de um programa de pesquisa voltado à ampliação do conhecimento sobre a conservação de ecossistemas e das espécies ameaçadas, mediante vinculação de recurso específico para estes fins no orçamento da FAPESC; • Definir no órgão executor da política estadual de meio ambiente uma instância única de

interlocução, planejamento e instrumentalização das ações da política florestal propostas.

Ações prioritárias

• Implementar o Planejamento Físico-Financeiro das Unidades de Conservação Estaduais, desenvolvido pela FATMA, estabelecendo prioridades para as ações por ele propostas;

• Publicar e implementar o rito da regularização fundiária das unidades de conservação administradas pela FATMA;

• Ampliar o apoio ao desenvolvimento de pesquisa nas unidades de conservação por meio do estabelecimento de procedimentos e de convênios de cooperação interinstitucional;

• Ampliar a área das unidades de conservação existentes e/ou criar unidades de conservação visando atender as lacunas de conservação, com base nas informações técnico-científica e nas espécies ameaçadas de extinção (Flora e Fauna), que contemplem todas as Tipologias Florestais, Campestres e áreas úmidas do estado de Santa Catarina;

• Analisar todas as UCs existentes em Santa Catarina para diagnosticar a situação destas, especialmente no que se refere à sua efetiva função de conservação;

(15)

15 • Regulamentar dispositivos legais relativos a unidades de conservação (UCs), tais como

a regulamentação para concessões visando a exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais ou da exploração da imagem da UC;

• Regulamentar a contribuição financeira para a proteção e implementação da UC por parte do órgão ou empresa, público ou privado, responsável pelo abastecimento de água ou pela geração e distribuição de energia elétrica e beneficiário da proteção proporcionada pela UC, conforme previsto nos arts. 33, 47 e 48 da Lei Nº 9985/2000 (SNUC);

• Implementar o Programa de valorização de áreas particulares conservadas (RPPN).

4. MANEJO DE FLORESTAS SECUNDÁRIAS

Diagnóstico

• Em Santa Catarina há duas condições favoráveis para tornar as florestas nativas alvo de programas de desenvolvimento no espaço rural. A estrutura fundiária consiste de pequenos estabelecimentos agrícolas e o relevo é predominantemente acidentado. Estas duas características contribuem para a perda da competitividade dos agricultores familiares que realizam cultivos anuais. Por outro lado, o uso da terra com cobertura permanente do solo, como o manejo de formações florestais nativas representa uma alternativa para promover o bom desempenho ambiental das propriedades rurais. • Entretanto, a legislação ambiental impôs muitas restrições ao manejo destas florestas,

engrossando a lista de razões que fazem os agricultores desistirem de suas florestas ou até de suas propriedades. O resultado é a conversão, na maioria das vezes, clandestina, de florestas secundárias em reflorestamentos com espécies exóticas, realizado pelos próprios agricultores ou investidores que adquiriram estas áreas. Este efeito é contrário ao desejado por uma legislação ambiental equivocada. Curiosamente Santa Catarina foi o Estado em que ocorreram mais desmatamentos na Mata Atlântica entre 2000 e 2007: cerca de 45,5 mil hectares foram perdidos neste período (Fundação SOS Mata Atlântica e Inpe, 2008). Resultados como esse são intrigantes, particularmente quando se considera que a região da Mata Atlântica tem sido alvo de legislações ambientais restritivas à supressão da vegetação, e que em Santa Catarina ela é fiscalizada com bastante rigor, quando comparado com o padrão nacional.

• Pode-se afirmar que o potencial dos recursos florestais nativos como elemento para promover desenvolvimento local é grande, políticas públicas com esse objetivo,

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16 entretanto, praticamente não existem. Um fato que reforça esta observação é que o serviço de assistência técnica rural em Santa Catarina, apesar de ser considerado modelo, não tem no manejo de florestas nativas uma de suas prioridades. A ausência de pessoal com sólida formação acadêmica nessa área reflete bem a situação.

• Historicamente, a floresta sempre representava para os pequenos agricultores mais do que uma fonte de matérias-primas. Ela foi parte integrante do sistema tradicional de cultivo da terra conhecido como roça-de-toco ou coivara. Nesse sistema, a floresta, após um período de pousio de cerca de 30 anos, é derrubada e queimada após o aproveitamento das madeiras de maior porte. Todo o restante da biomassa acumulada nesse período vira cinzas, tornando disponíveis os seus nutrientes para as plantas a serem cultivadas nos próximos dois ou três anos. Na prática, a Lei da Mata Atlântica proíbe hoje esse sistema, restringindo-o ao estádio inicial de sucessão, equivalente a cinco anos de pousio, período demasiadamente curto nas condições edáficas do Estado. Diante da impossibilidade do manejo das florestas secundárias nativas, a alternativa que se apresenta ao agricultor é a conversão para outros usos da terra.

Objetivos

• Constituem objetivos a valorização, o aproveitamento e a manutenção dos remanescentes florestais, na sua maioria, secundárias. O manejo, tanto sob formas tradicionais de utilização, como a roça-de-toco, como sob formas inovadoras de corte seletivo de árvores maduras em florestas secundárias, precisa ser estimulado.

Estratégias

• É imprescindível instituir um serviço de extensão florestal para assessorar e capacitar os proprietários dos remanescentes florestais, visando sua conservação, uso e valorização. Os técnicos deste serviço devem desenvolver a produção planejada e a comercialização de produtos madeireiros e não-madeireiros (entre plantas ornamentais, bioativas, fibras e alimentares), uma vez que o estímulo e a promoção de boas práticas de manejo de florestas secundárias, constitui um mecanismo importante para alcançar a manutenção dos remanescentes florestais ainda existentes.

• Dentre as estratégias para estimular a conservação das florestas secundárias através do uso dos seus recursos está o licenciamento da atividade de roça de toco, também conhecida como coivara. A relevância desse sistema de uso da terra tem sido cada vez mais reconhecida, assim como o seu potencial para conservar a

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17 biodiversidade, através do mosaico de vegetação que compõe a paisagem. A roça de toco implica na derrubada da vegetação para cultivo da terra, assim como o pousio para a recomposição da vegetação após esse cultivo. Assim, uma política que apoie esse uso da terra não pode considerar a derrubada da vegetação como desmatamento, o que exige uma interpretação particular da legislação florestal que impede a supressão da floresta secundária em estágio médio ou avançado de regeneração. Por outro lado, é lícito exigir do agricultor compromisso de deixar a terra em pousio, permitindo a regeneração da floresta após o uso agrícola da terra.

• Resgatar o manejo de florestas secundárias para produção sustentável de madeira e retomar o licenciamento de projetos com esse objetivo. Nesse caso, o licenciamento poderia ser obtido por processo simplificado para exploração seletiva ou seguindo Instrução Normativa específica a ser elaborada para esse fim. A produção de madeira de espécies pioneiras, de rápido crescimento, típicas desses ecossistemas possuem grande potencial produtivo. Atualmente esse potencial está praticamente inexplorado na Mata Atlântica, principalmente em SC, onde nenhum plano de manejo está em desenvolvimento.

• Aproveitar o potencial dos Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNMs) conciliando geração de renda e conservação das florestas secundárias. Muitos desses produtos poderiam ser manejados sem necessidade de licenciamento. Para os demais, uma Instrução Normativa deve ser elaborada para guiar os produtores e simplificar os procedimentos para a obtenção de licença para exploração.

• Capacitar os produtores no manejo de florestas secundárias. O sucesso de uma política de incentivo tanto da continuidade da prática da roça de toco quanto do manejo seletivo da floresta secundária para produção de madeira e PFNMs depende de mecanismos que simplifiquem a autorização do manejo e o transporte legal dos produtos obtidos.

• Apoiar à pesquisa em manejo de florestas secundárias como forma de criar e consolidar uma cultura de manejo florestal no Estado. Para tanto, é imprescindível consolidar a infraestrutura dos laboratórios de pesquisa existentes, bem como destinar recursos para custeio de projetos de pesquisa Outra estratégia importante para promover projetos dessa natureza é a simplificação do licenciamento de atividades de manejo caracterizadas nos projetos de pesquisa.

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18 5. SILVICULTURA DE ESPÉCIES NATIVAS

Diagnóstico

Até o presente momento, não existem em Santa Catarina experiências significativas com a silvicultura de espécies nativas, embora em outros Estados (São Paulo e Paraná) elas têm sido plantadas com sucesso. Por outro lado, constatou-se que em várias regiões as plantações florestais com espécies exóticas atingiram um percentual crítico e um alto adensamento, pondo em risco a sustentabilidade da paisagem e a diversificação da produção agrícola e de subsistência. Tampouco existem incentivos para a silvicultura de espécies arbóreas nativas, necessários para alavancá-la diante da alta competitividade da silvicultura das espécies exóticas.

São nativas em Santa Catarina diversas espécies arbóreas fornecedoras de produtos madeireiros e não-madeireiros de alto valor comercial, que apresentam características silviculturais favoráveis, como crescimento rápido, robustez e adaptabilidade a condições ambientais diversas, inclusive em sistema agrosilvipastoris. Entre estas espécies com grande potencial econômico podem ser citadas a araucária (Araucaria angustifolia), a bracatinga (Mimosa scabrella), o palmiteiro (Euterpe edulis), o cedro (Cedrela fissilis), o louro (Cordia trichotoma), o sobraji (Colubrina glandulosa), o jacatirão açu (Miconia cinnamomifolia), a licurana (Hieronyma alchorneoides) e a canela branca (Nectandra membranacea), entre muitas outras.

Importância dos recursos genéticos

O estado de Santa Catarina detém importante área de cobertura florestal nativa, embora em sua grande maioria, fragmentada e antropizada em algum nível. Apesar de alteradas, estas áreas contêm importantes reservas de material genético de diversas espécies nativas que possuem valor real ou potencial. Neste sentido, é importante que ações direcionadas para caracterização quantitativa e qualitativa destes recursos sejam levadas em consideração em planos de desenvolvimento estadual. Desta forma, ações como, implementação de Unidades de Conservação, valorização das APPs e Reservas Legais, coleta e caracterização de espécies potenciais sob a forma de testes de procedências e progênies e bancos de germoplasma, são algumas das ações que poderiam, em médio e longo prazo, alterar o status de conservação com perspectivas de uso dos recursos florestais no estado de forma sustentável.

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19 Tomando como exemplo uma espécie florestal ameaçada, uma das sugestões de ações, seria a coleta de sementes de araucária em toda sua área de ocorrência para compor testes de procedências implantados em vários locais do Estado. Esta ação permitiria indicações de melhores procedências para utilização em programas de plantios comerciais, quer seja visando o uso da madeira ou uso do pinhão. Da mesma forma, devem ser realizadas coletas de outras espécies potenciais como a bracatinga (na Floresta Ombrófila Mista), o jacatirão (na Floresta Ombrófila Densa) e o angico (na Floresta Estacional Decidual), entre outras.

A conservação ex situ deve ser vista como uma forma complementar da conservação in situ, devendo ser utilizada quando a conservação in situ é insuficiente ou impraticável. No caso das espécies ameaçadas de extinção, é necessário à adoção dos dois métodos de conservação.

Para a conservação ex situ, recomenda-se o plantio de espécies ameaçadas e/ou de importância sócio econômica, em diversos locais de ocorrência destas espécies, em forma de testes de procedências. Neste caso, são necessárias coletas de sementes em populações representativas de toda a distribuição geográfica natural das espécies. Para isso, é necessário:

• Coletar sementes das espécies em todas as regiões e bacias hidrográficas do Estado; • Produzir mudas para implantação dos bancos nas principais regiões do Estado;

• Disponibilizar áreas seguras (públicas) para implantação dos bancos de germoplasma; • Disponibilizar recursos para implantação e manutenção destes bancos.

Programa de plantio de espécies florestais nativas

Objetivos:

• Desburocratizar os procedimentos de autorização de plantio/comercialização, para garantir a segurança jurídica da atividade;

• Salvaguardar o material genético ainda existente mediante sua reprodução;

• Recuperar a composição e estrutura das florestas degradadas, a começar pelas áreas legalmente protegidas como APP e RL, mediante plantios de adensamento e enriquecimento;

• Expandir a cobertura florestal nativa em regiões de baixa cobertura, por meio da implantação de florestas de produção, servindo também de corredores ecológicos.

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20 Atividades:

• Identificar as “situações problema” nas áreas de plantio: recuperação de diversos tipos de vegetação nativa ou reflorestamento;

• Escolher espécies prioritárias, por região;

• Identificar áreas de coleta de sementes (ACS), baseado nos resultados do IFFSC; • Planejar a coleta e armazenamento de sementes, considerando tamanho efetivo das

populações e tamanho do remanescente, número e distância mínima das árvores a serem coletadas, entre outras precauções;

• Planejar a contratação de viveiros, possivelmente através de um Projeto Cooperativo de Sementes e Mudas Florestais, integrando as atividades de viveiros florestais de entidades públicas, privadas ou ONGs, sob coordenação técnica de uma instituição líder em cada região;

• Planejar a identificação e escolha de áreas de plantio (públicas, particulares);

• Planejar o plantio, incluídas a análise do sítio e das condições edáficas, assessoria para o preparo da terra, o plantio, a manutenção, os tratos silviculturais, desbastes e comercialização como atribuições dos extensionistas florestais, a serem contratados pelo Estado (EPAGRI);

• Planejar a divulgação do programa por ações específicas na mídia (impressa, rádio, TV) • Planejar o controle da execução do programa;

• Realizar concurso específico para contratação de extensionistas florestais pela EPAGRI;

• Implantar inicialmente uma estrutura mínima de dois extensionistas especializados em alguns escritórios regionais da EPAGRI, no litoral, planalto e oeste catarinense, para dar início ao programa;

• Capacitar técnicos multiplicadores que darão apoio aos proprietários rurais participantes do programa.

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21 6. PRODUÇÃO FLORESTAL (SILVICULTURA DE ESPÉCIES EXÓTICAS)

Diagnóstico

No final dos anos sessenta, quando a principal fonte de produção de riquezas em Santa Catarina ainda advinha da industrialização dos recursos florestais nativos iniciou-se no estado, por iniciativa de indústrias de celulose e papel localizadas no Planalto Sul e no Alto Vale do Rio do Peixe, a introdução experimental de espécies do gênero Pinus. Primeiramente, esses experimentos iniciaram-se com Pinus elliottii, que apresentaram crescimento e adaptabilidade ambiental satisfatórios, sendo posteriormente substituídos pela espécie Pinus taeda, que além de adaptar-se melhor aos solos ácidos e ao clima frio do planalto apresentaram melhor produtividade que a primeira, adequando-se aos principais processos de industrialização. Hoje, cerca de 95% dos plantios do gênero no estado são realizados com Pinus taeda.

Atualmente, graças ao clima e solos favoráveis e a crescente agregação de tecnologias de cultivo, a produtividade dessa espécie em Santa Catarina é no mínimo três vezes superior a obtida em sua região de origem, Sul dos Estados Unidos.

No mesmo período que se iniciaram os experimentos com Pinus, agroindústrias localizadas no meio oeste do estado iniciaram plantios comerciais com Eucalyptus, visando a produção de escoras, o uso em estruturas das instalações rurais, e posteriormente no uso de resíduos da industrialização como cama de aviários, atividade em franca expansão na época e que perdura até nossos dias.

No segmento de celulose e papel, cujas indústrias se localizam nas regiões altas do estado, em particular nos Planaltos Sul e Norte, além do Alto Vale do Rio do Peixe, as empresas vem realizando experimentos com cultivos de Eucalyptus, visando a busca de espécies que se adaptem aos solos e ao ambiente climático. O acréscimo de percentual de fibras de Eucalyptus à celulose de Pinus destinada a produção de papel para a fabricação de embalagens tem se mostrado extremamente eficiente, em particular quanto às propriedades físicas e qualidade de impressão das embalagens.

Os aspectos culturais e históricos da industrialização madeireira do estado e a modernização das tecnologias de cultivo florestal e a tecnificação dos processos industriais fazem deste setor o terceiro mais importante do estado, contribuindo decisivamente na geração de trabalho, renda e tributos púbicos em benefício da sociedade.

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22 Ao contrário dos empreendimentos florestais tecnicamente bem estruturados, ligados às maiores empresas, a maioria dos plantios florestais independentes em Santa Catarina é carente em agregação de altas tecnologias de cultivo, o que proporciona baixo incremento volumétrico e má qualidade da madeira; a maioria dos viveiros florestais que servem a pequenos plantios, especialmente plantios de produtores rurais silvicultores, produzem mudas de inferior qualidade, tanto quanto ao aspecto técnico, quanto genético, redundando em resultados econômicos desestimuladores à continuidade da atividade; outros fatores limitantes da produção de florestas plantadas são:

• Sistemas de manejo inadequados executados por produtores florestais não verticalizados e destituídos de assistência técnica própria;

• Falta de capacitação tecnológica em silvicultura;

• Exercício de silvicultura em conflito com as normas ambientais;

• Deficiências na realização de extensão e educação ambiental à população rural a fim de levar-lhe conhecimentos sobre o uso sustentável dos recursos florestais;

• Deficiências quanto ao conhecimento técnico e científico das espécies florestais nativas com potencial econômico;

• Falta de tecnologias voltadas à exploração sustentável dos recursos florestais nativos; • Realização de explorações não sustentáveis econômica e ambientalmente das espécies

nativas.

Potencialidades:

• Disponibilidade de solos apropriados à execução de plantios florestais sustentáveis; • Disponibilidade de espécies exóticas de rápido crescimento adequadas aos mercados

interno e externo;

• Existência de espécies florestais nativas com potencial para utilização em mono cultivos;

• Existência de instituições públicas e privadas aptas para desenvolver pesquisas científicas voltadas à maximização da produção, tanto de espécies nativas quanto exóticas destinadas ao atendimento das demandas de mercado;

• Existência de instituições públicas e privadas para promover a qualificação profissional de produtores rurais silvicultores;

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23 Linhas de ação prioritárias

• Busca de espécies alternativas, nativas e exóticas, para atender as demandas futuras de madeira;

• Realizar pesquisas tecnológicas visando a crescente mecanização das atividades de silvicultura adequando-a à geomorfologia predominante nas regiões de maior concentração dos plantios florestais;

Realizar pesquisa científica visando a busca de espécies de Eucalyptus cuja adaptação ao clima e solos regionais possibilitem o alcance de altas produtividades;

• Buscar a adaptação e modernização dos sistemas cultivo, manejo, colheita e transporte florestal frente às novas exigências legais e a crescente redução da oferta de mão de obra para realizar essas atividades;

• Buscar a excelência no que cabe à realização de atividades e procedimentos voltados ao alcance dos objetivos de ordem social e ambiental para atender as exigências dos mercados nacionais e internacionais;

• Criar incentivos para fomentar a silvicultura de espécies nativas, em monocultivos ou sistemas agrosilvipastoris.

7. DEFESA FLORESTAL

7.1 Incêndios Florestais

Entende-se por incêndio florestal todo fogo sem controle sobre qualquer vegetação, podendo ser provocado pelo homem (intencionalmente ou por negligência), ou por fonte natural (ex: descargas atmosféricas). Anualmente, após as geadas, ocorre a estação seca, um período crítico que se estende do mês de julho até meados de outubro, neste período a vegetação torna-se propícia a incêndios. Os incêndios florestais, casuais ou propositados, são geradores de grandes prejuízos, tanto para o meio ambiente quanto ao próprio homem e suas atividades econômicas. No período de 1983 a 1988 no Brasil, os incêndios destruíram uma área de 201.262 hectares de reflorestamento, que representa aproximadamente 154 milhões de dólares para o seu replantio, fora o prejuízo direto, em Santa Catarina.

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24 A partir da pesquisa realizada pelo CBMSC no Estado entre 2000 e 2004, ocorreram, em média 1353 incêndios florestais por ano, com os maiores ocorrências nos meses entre julho e setembro, dados que mostram que é fundamental a criação de uma política de proteção das nossas florestas. Os dados coletados representam um instrumento importante no planejamento da prevenção de incêndios florestais, por indicar em que meses do ano serão necessárias medidas de controle mais intensas.

A proteção das florestas, bem como a de povoamentos florestais, torna-se eficiente, quando há um planejamento prévio das atitudes e atividades a serem seguidas ou praticadas nas diferentes situações que podem apresentar e a inclusão da proteção contra incêndios florestais na política florestal catarinense vêm de encontro e justifica esta proposta de proteger nosso patrimônio natural, seja matas nativas ou reflorestamentos, pois o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina possui em sua competência constitucional, artigo 108 e incisos da Carta Magna catarinense, todos os institutos que permitirão a este órgão estabelecer normas, analisar previamente os projetos de segurança contra incêndio, acompanhar e fiscalizar sua execução, impor sanções administrativas estabelecidas em lei, fomentar as ações de combate a incêndio e a realização de perícias de incêndio de áreas sinistradas no limite de sua competência.

É fundamental destacar que os incêndios florestais aqui citados são os que tiveram de alguma forma interferência direta do corpo de bombeiros, ou seja, foram atendidos e os devidos relatórios gerados e mantidos nos arquivos da corporação.

Os incêndios florestais estão associados às práticas agrícolas originais e a expansão do setor no Estado. Assim como o declínio da floresta natural, os incêndios em florestas no Estado estão associados à evolução da lavoura. Não há ponto sem cobertura natural do Estado que não ardeu em uma fogueira durante a fase de colonização. Até os dias atuais a prática de queimadas para limpeza pré-plantio é largamente utilizada pelos agricultores na maioria das regiões do estado.

Deficiências

• Inexistência de normatização que verse sobre a segurança contra incêndios florestais no Estado. Assim como nas edificações urbanas, projetos preventivos contra incêndios na área rural são extremamente importantes para que se evitem grandes tragédias provocadas por esses incêndios;

• Falta da definição de um índice que mensure diariamente o risco de incêndio florestal para o Estado;

• Inexistência da realização de perícias de incêndios florestais, permitindo que se conheçam as causas e se trabalhe na prevenção de forma mais adequada;

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25 • Dificuldade no desenvolvimento de pesquisas científicas;

• Falta de investimento em veículos e equipamentos próprios para a prevenção e combate aos incêndios florestais.

Potencialidades

• Otimizar a estrutura do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina em relação a prevenção e combate aos incêndios florestais;

• Fomentar a parceria do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) através da pesquisa na área de proteção florestal.

Objetivos

• Aumentar a segurança contra incêndio florestal;

• Diminuir o risco de que os incêndios provoquem grandes danos ao meio rural; • Criação de planos de prevenção para unidades de conservação;

• Fortalecer o órgão do Estado – Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, na estruturação e capacitação dos seus agentes.

Estratégias

• Vincular a segurança contra incêndio florestal à política florestal do Estado;

• Definir as áreas prioritárias a serem desenvolvidas pelo Estado, por meio do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina;

• Apoiar o desenvolvimento de um programa de pesquisa voltado a ampliação do conhecimento sobre os incêndios florestais;

• Definir o Corpo de Bombeiro Militar de Santa Catarina como órgão executor da política estadual de meio ambiente compondo o “comitê” ou “grupo executivo” de coordenação das ações de implantação da política florestal do Estado.

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26 Ações prioritárias

• Implementar o plano de ação na segurança contra incêndio florestal, estabelecendo prioridades nas ações;

• Diminuir a vulnerabilidade dos reflorestamentos comerciais através de medidas preventivas, implantadas e fiscalizadas através do Corpo de Bombeiros do Estado, exigindo apresentação do projeto preventivo contra incêndio florestal, com base nas Instruções Normativas do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina;

• Ampliar o apoio ao desenvolvimento de pesquisa dos incêndios florestais;

• Promover a construção de um laboratório de excelência para o estudo dos incêndios florestais no Estado, através da parceria CBMSC e UDESC.

7.2 Defesa Sanitária

O Estado de Santa Catarina não possui legislação própria de defesa fitossanitária ou defesa sanitária vegetal. Para executar as suas ações o Estado faz uso da legislação federal, a qual se resume no decreto nº 24.114/34 e suas alterações, e nas Instruções Normativas e Portarias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

A legislação federal é abrangente, sua atuação é em todo território nacional sem distinções, porém, tem deficiências em questões locais, específicas, isto devido as grandes diferenças existentes em nosso país, desde diferenças climáticas, ambientais e sociais.

Como alternativa a estas deficiências e como forma garantir o status sanitário de determinados locais, alguns estados da federação elaboraram sua própria legislação em defesa fitossanitária. Um exemplo é o estado de Minas Gerais o qual possui lei especifica em defesa, o estado do Paraná o qual determina compulsoriedade para o controle da praga Sirex noctilio (vespa da madeira) em plantios de Pinus sp, entre outros.

Dentro da legislação federal de defesa fitossanitária um dos quesitos mais importantes é a lista que define as pragas e doenças sujeitas ao controle oficial, também conhecidas como quarentenárias; esta lista é definida pela IN-Mapa 52/2007 com pequena alteração na feita pela IN-Mapa 59/2007.

A atuação do estado no controle oficial de pragas e doenças limita-se a lista definida pelo MAPA em suas instruções normativas. Isto leva o engessamento do estado na atribuição de controles de determinada praga sem que a mesma não seja reconhecida como

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27 quarentenária pelo MAPA. Este fato prejudica o controle de pragas que possam causar danos localizados, como em florestas nativas.

Está em fase de elaboração uma minuta de lei de defesa agropecuária para o estado de Santa Catarina. Nesta minuta já existe o termo “praga sócio ambiental”, sendo destinado a esta um capítulo o qual possibilitará ao estado regulamentar as medidas de controle de pragas causadoras de danos ambientais, seja em florestas bem como em outras formas de vegetação, além de pragas que possam causar danos entendidos como sociais.

Para sanar as deficiências apontadas é necessária a aprovação de uma lei estadual de defesa agropecuária, baseada nos princípios de prevenção, controle, monitoramento e geração de conhecimento.

7.3 Espécies Exóticas Invasoras

A Convenção da Diversidade Biológica, da qual o Brasil é signatário, estabelece que os países membros devem desenvolver esforços para impedir a introdução, controlar ou erradicar espécies exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espécies nativos.

A Comissão Nacional de Biodiversidade da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (na Resolução CONABIO Nº 5 de 21 de outubro de 2009, que dispõe sobre a estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras), reconhece que as espécies exóticas invasoras estão assumindo no Brasil grande significado como ameaça real à biodiversidade, aos recursos genéticos e à saúde humana, ameaçando a integridade e o equilíbrio dessas áreas e causando mudanças nas características naturais das paisagens.

No Estado de Santa Catarina, trabalhos realizados pela FATMA registraram que todas as unidades de conservação estaduais e federais possuem espécies exóticas invasoras impactando em maior ou menor grau a conservação da biodiversidade. Os dados do Inventário Florístico Florestal documentaram a importante invasão florestal causada por Hovenia dulcis, que compete com espécies nativas nos ecossistemas florestais, provocando o seu empobrecimento.

A lei N° 14.675 que institui o Código Estadual do M eio Ambiente, impõe ao Estado a responsabilidade prevenir a entrada de novas espécies exóticas invasoras e ao produtor que se utilize de espécies exóticas invasoras a responsabilidade pelo controle de sua dispersão. Ainda segundo o Código, ao CONSEMA cabe publicar e manter atualizada a lista de espécies exóticas invasoras que deve ser observada no licenciamento e no desenvolvimento de atividades e a FATMA cabe implantar o Programa Estadual de Controle destas espécies.

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28 Respondendo as competências e responsabilidades ditadas pela legislação, o CONSEMA publicou Resolução N° 08 de 14 de setembro de 2012 que reconhece a lista de espécies exóticas invasoras e dá outras providências; a FATMA elaborou uma proposta de Programa Estadual de Controle de EEI, onde propõe a criação de um Comitê Estadual com a participação das Secretarias de Estado do Meio Ambiente, da Saúde, da Educação e da Agricultura; ANVISA, IBAMA, ICMBio e da Sociedade Civil. O Programa Estadual de EEI deverá trabalhar para desenvolver ações voltadas à prevenção, capacitação técnica, educação e informação pública, geração de conhecimento, controle e monitoramento.

Foram identificadas com deficiências a falta de normas infra-legais para orientar os produtores e agentes públicos, a falta de dados sobre as espécies exóticas invasoras, a reduzida capacidade do setor ambiental em atuar na mudança de comportamento nas propriedades rurais para efetuar a prevenção de invasões biológicas.

Linhas de ação

Desta forma, considera-se necessário incorporar a problemática das invasões biológicas nas atividades agrosilvopastorís, buscando prevenir e minimizar impactos sobre a biodiversidade, a saúde e a economia.

Para o alcance dos objetivos e o atendimento do que dispõe a Lei N° 14.675/2009, a Política Florestal do Estado de Santa Catarina deve incorporar as diretrizes do Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras, assim como da Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras Resolução CONABIO Nº 5/2009. Ações prioritárias devem ser voltadas à capacitação técnica de pessoal, à prevenção, controle e monitoramento de espécies exóticas invasoras e à educação e informação a respeito do tema.

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8. PROTEÇÃO DOS AQUÍFEROS

A recente exploração em larga escala das águas subterrâneas tem conferido a este recurso natural não renovável, importância ímpar pelo fato de apresentar em média boa qualidade e também, por ter relativa independência das condições climáticas de superfície. Assim, as águas subterrâneas não estão vulneráveis, pelo menos a curto prazo, a condições de estiagem prolongada e, desta forma, permitem atender às demandas de consumo mesmo em períodos climáticos desfavoráveis.

Existe ainda muito desconhecimento quanto à capacidade de atendimento e durabilidade dos mananciais subterrâneos, bem como, se esta qualidade irá perdurar com o atual cenário de equivocados usos da terra em superfície, donde podemos destacar o intenso uso de agroquímicos, sobretudo para a manutenção dos cultivos anuais e o risco da exploração de recursos minerais subterrâneos, cujos impactos podem levar a contaminação dos aquíferos e das águas superficiais.

São considerados aspectos importantes para a governança das águas subterrâneas: o uso sustentável; a transparência; a participação; a responsabilidade; a integração; a avaliação dos riscos dos impactos sobre as águas subterrâneas; a proteção das zonas e dos processos de recarga.

Por se tratar da última fronteira exploratória de água doce de acesso “fácil” (acesso local), é importante compreender quais são as condições geológicas que conformam os aquíferos, ou seja, as rochas porosas ou fraturadas que funcionam como imensos reservatórios que abrigam as águas subterrâneas. No Planalto e Oeste Catarinense é localizado o Sistema Aquífero Serra Geral (SASG), que possui característica fissural, ou seja, suas águas estão presentes apenas nas fraturas e espaços vazios existentes nas rochas. Este sistema está interligado por meio destas mesmas fraturas ao outro, o Sistema Aquífero Guarani (SAG) e ambos podem ser considerados, para fins de gestão, como um único, o Sistema Aquífero Integrado Guarani/Serra Geral (SAIG/SG). Esta denominação se deve ao fato de um afetar diretamente o outro, no que tange às questões de qualidade das águas e por vezes, das quantidades, como é o caso de zonas urbanizadas.

Neste aspecto, assim como quando se refere à necessidade de uma gestão que considere o uso integrado das águas superficiais e subterrâneas, além daquelas provenientes das precipitações atmosféricas, é necessário colocar como um dos objetivos desta gestão, contribuir para uma mudança de nosso entendimento geral quanto ao conceito de bacia hidrográfica: é necessário inverter a ideia de “bacia de drenagem” para uma ideia

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30 de “bacia de captação”, de forma a assegurar o armazenamento – de preferência, subterrâneo - da maior quantidade possível da água disponível.

Esta será uma abordagem mais coerente com o planejamento estratégico do espaço, de forma a dar conta de atender não só as demandas crescentes por água, como as suas próprias funções ecológicas. Se a gestão das bacias hidrográficas prioriza o escoamento e a drenagem destas, precisamos chamar a atenção para as perdas daí decorrentes. A água que é mandada embora serve apenas à erosão e ao assoreamento, bem como aos interesses de diluição de efluentes e meio de transporte para resíduos inadequadamente disponibilizados no ambiente, resultando a médio e longo prazo, na redução drástica das reservas subterrâneas e, em consequência, na escassez hídrica e todos os constrangimentos econômicos e sociais daí advindos.

A vulnerabilidade à contaminação, por sua vez, é distinta de risco de poluição. Este último depende não só da vulnerabilidade, mas também da existência de cargas poluentes significativas que possam se infiltrar no ambiente subterrâneo. Assim, é possível existir um aquífero com um alto índice de vulnerabilidade, mas sem risco de poluição, caso não haja carga poluente (como no caso das áreas de florestas nativas), ou de haver um elevado risco de poluição apesar do índice de vulnerabilidade ser baixo (esgotos urbanos, monoculturas convencionais, dejetos suínos,).

Por esta razão, é necessária a determinação das diferentes coberturas e dos usos da terra, no intuito de melhor entender os possíveis riscos de poluição dos recursos hídricos, tanto superficiais como subterrâneos, em determinada região. Por todos estes motivos, é de vital importância a manutenção da cobertura florestal nativa nas áreas de maior vulnerabilidade dos aquíferos, como as áreas de afloramento dos arenitos do Sistema Aquífero Guarani (SAG), assim como nas áreas de ocorrência do Sistema Aquífero Serra Geral (SASG) com intenso fraturamento e estreita cobertura de solos. Estas áreas estão sendo identificadas e mapeadas pelo Projeto PROJETO REDE GUARANI/SERRA GERAL – RGSG.

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9. EXTENSÃO E PESQUISA FLORESTAL, EDUCAÇÃO AMBIENTAL

9.1 Extensão florestal

A principal deficiência identificada é a ausência de um serviço de “extensão florestal” público voltado às espécies nativas. Como não há técnicos especializados para lidarem com as florestas nativas, a sua conservação e uso sustentável tem sido deixado de lado. No entanto, as florestas nativas representam potencial para geração de empregos e renda, ao mesmo tempo em que fornecem serviços ambientais, como proteção do solo, de mananciais e aquíferos e da biodiversidade da flora e da fauna.

Objetivos

Capacitar e assistir os agricultores e proprietários rurais na conservação, recuperação e manejo sustentável das florestas nativas, como estratégia para viabilizar economicamente as pequenas propriedades, predominantes no Estado.

9.2 Pesquisa florestal

As ações de pesquisa são realizadas de forma pontual, independente e não integrada, por pesquisadores de diversas instituições. Há necessidade de aprofundar o conhecimento técnico e científico a respeito do aproveitamento do potencial que a biodiversidade da Floresta Atlântica disponibiliza e que pode proporcionar novas fontes de renda para a propriedade rural. No entanto, não há um programa de pesquisa florestal definido.

Objetivo

Ampliar o conhecimento tecnológico sobre a silvicultura e manejo de espécies nativas madeireiras e não madeireiras em monocultivos, consórcios ou em sistemas agrosilvipastoris.

9.3 Capacitação e educação ambiental

A educação ambiental é a principal ferramenta para sensibilização e motivação dos indivíduos no desenvolvimento de atitudes e valores voltados a conservação ambiental. Deve ser executada de forma ampla, interdisciplinar e interinstitucional, através de processos educativos formais e não formais. A lei 13.558 de 17 de novembro de 2005 criou a Política Estadual de Educação Ambiental. Atualmente diversos órgãos estaduais

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