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PAVLISKI, E. 1984: a distopia do indivíduo sob controle [online]. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2014, pp. 1-10. ISBN 978-85-7798-218-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
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1984
A DISTOPIA DO INDIVÍDUO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
REITOR Carlos Luciano Sant’Ana Vargas PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS CULTURAIS Gisele Alves de Sá Quimelli
EDITORA UEPG Lucia Cortes da Costa CONSELHO EDITORIAL Lucia Cortes da Costa (Presidente) David de Souza Jaccoud Filho Fábio André dos Santos Gisele Alves de Sá Quimelli José Augusto Leandro Osvaldo Mitsuyuki Cintho Silvio Luiz Rutz da Silva
Editora
E
P
G
Evanir Pavloski
1984
A DISTOPIA DO INDIVÍDUO
SOB CONTROLE
Copyright © by Evanir Pavlovski & Editora UEPG Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da Editora, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem
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2014
Coordenação editorial Preparação de originais e ficha catalográfica Revisão Projeto gráfico e diagramação Capa
Lucia Cortes da Costa Cristina Maria Botelho Amanda Coca / Tikinet Maurício Marcelo / Tikinet Maurício Marcelo / Tikinet
553.0981 Pavloski, Evanir
P338u 1984: a distopia do indivíduo sob controle. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2014.
272 p.; il.
ISBN: 978-85-7798-184-7
1-Distopias na literatura. 2- Orwell, George, 1903-1950 – crítica e interpretação. I.T.
PREFÁCIO: REVISITANDO 1984
1984, do britânico George Orwell, lançado em 1949, foi leitura
obrigatória para aqueles que, em meados do século XX, acreditavam que a literatura tem o poder de mudar o mundo. Naquela altura, o nome do autor, ou antes, o pseudônimo usado por Eric Arthur Blair (1903-1950), já era bastante conhecido entre seus conterrâneos, quer pela fre-quentação de outras modalidades discursivas, sobretudo em atividades jornalísticas, quer pela repercussão alcançada com a novela A Revolução
dos bichos (1945). Em ambos os títulos ficcionais, a denúncia política e
social é a tônica.
Algumas décadas depois, sob os ventos do estruturalismo e de outros formalismos, em alguns círculos leitores, as expressões literá-rias marcadas pelo engajamento caíram no ostracismo. Entretanto, há marcas que não desaparecem tão facilmente. Umberto Eco ensina que algumas obras não podem mais ser lidas pela primeira vez, tantas são as referências culturais que nos permitem reconhecê-las, mesmo não as tendo lido. Um ocidental inserido na cultura letrada dificilmente deixa de apreender o sentido presente na expressão grande irmão, mesmo que
a leitura de Orwell não faça parte de seu repertório. É bem verdade que essa disseminação foi grandemente favorecida pela adaptação cinema-tográfica (1956), sobretudo em sua segunda versão (1984).
Pretende-se que, em tempos de globalização, faz pouco ou mes-mo nenhum sentido apontar diferenças. Mas o empirismes-mo nos diz, a todo momento, que a homogeneização é uma miragem. A produção, o papel e a difusão dos bens culturais apresentam variações no espaço e no tempo. Há uma coincidência, que pode ser mesmo coincidência, tantos são os acasos e azares editoriais, mas é possível que nem tudo seja acidental: O Reino deste mundo, de Alejo Carpentier – obra inau-gural na América Latina no uso da ficção pela via do fantástico como denúncia dos diferentes totalitarismos que grassaram no continente no século XX – é lançada no mesmo ano do livro de Orwell.
Só um acurado estudo, recorrendo ao instrumental analítico ofe-recido pela Estética da Recepção, permitiria afirmar se esse paralelismo foi apreendido pelos leitores da época. A impressão, à vista de estudos de cunho histórico e crítico sobre a produção que ficou conhecida como
boom da ficção latino americana, é que essa simultaneidade não foi
percebida então, ou pelo menos não lhe foi atribuído destaque. Pelo menos duas hipóteses podem ser consideradas para explicar essa falta de percepção. É possível que nós, habitantes do hemisfério sul, estivés-semos tão preocupados com nossa situação política, e ao mesmo tempo tão enlevados com nossa própria capacidade de criar, de figurar ficcio-nalmente a nossa realidade, enfim reconhecida além das fronteiras con-tinentais, que nem nos demos conta da similaridade. A outra hipótese é que a opção de Orwell de denunciar totalitarismos de esquerda e de direita com a mesma veemência, colocando no mesmo patamar nazis-mo, fascismo e comunisnazis-mo, não coubesse ao momento latino america-no. Vale lembrar que, até certa altura do século XX, se não é caso de afirmar que expressiva parte da intelectualidade da porção do mundo abaixo da linha do equador se queria comunista, certamente não falta-va à comunidade leitora tendências esquerdizantes, embalada ainda no sonho socialista.
As considerações acima giram em torno da obra de George Orwell. Entretanto, não foram provocadas por uma revisitação aciden-tal, mas pela leitura de 1984: a distopia do indivíduo sob controle, de Evanir Pavloski. Levar a essa revisitação é a função primeira do texto
crítico. Se o efeito será de revitalização ou de sensação de passadismo, se não de equívocos mesmo, depende das qualidades dos dois textos, o de criação e o crítico. A escolha do objeto já diz da acuidade do es-tudioso. Exceto em circunstâncias decorrentes de particularidades que estão no entorno e não na própria obra, ninguém dedica muitas e muitas horas de esforço de análise, para demonstrar as falhas de uma realiza-ção artística.
No entanto, esse esforço só será recompensado se também as es-colhas teóricas e metodológicas forem adequadas. É o caso das páginas que se seguem. Destaque-se especialmente a recorrência a Foucault, e mais especificamente o rendimento alcançado com o uso das reflexões buscadas em A microfísica do poder. Para o leitor do estudo, fica a impressão de que Orwell fez na ficção o que Foucault fez na reflexão histórica e filosófica. Convém ainda observar a precisa recorrência a Jean Baudrillard, que também resulta em intuições relevantes. O leitor desconfiado pode antecipar que a presença de títulos referentes ao pós-modernismo pode comportar alguma forma de anacronismo, mas a ar-gumentação, e, sobretudo, os resultados alcançados, convencem plena-mente quanto à propriedade do aproveitamento de tais noções. Afinal, ao crítico cabe a aplicação dos recursos de leitura disponíveis em sua própria época, não há razões para restringir-se às disponibilidades con-temporâneas à produção da obra em foco. É justamente essa capacidade de suportar leituras em outros tempos, com outros métodos analíticos, que diz de seu potencial para resistir a novas leituras, a revisitações. A atualidade do pesadelo de Orwell é comprovada na abordagem, exa-cerbando-se mesmo o que há de assustador na narrativa, quando se pensa que as formas de totalitarismo lá apontadas não vingaram e, no entanto, em boa medida, os riscos continuam a nos assombrar, agora decorrentes da ordem capitalista, da ditadura do consumo, da globaliza-ção, da busca de identidade, da falta de identidade, da violência urbana, da crise rural, das alterações climáticas, enfim, dos medos tantos.
O sucesso de um estudo acadêmico não depende apenas das es-colhas teóricas e metodológicas, aliás, tão melhor aproveitadas quanto menos se mostrarem na superfície do texto. Se, na obra de criação, não é possível separar conteúdo e forma, independe da terminologia que se use para essa dupla – falsa dupla, unidade que é – da mesma for-ma, na área de pesquisa a que nos dedicamos a dualidade não existe.
Também nesse quesito o trabalho que aqui se apresenta prima pela exemplaridade. Fluidez, organização, clareza de hipóteses, sequência da argumentação, solidez das conclusões são qualidades que a cada pas-so brindam o leitor atento, que deve seguir logo para a aventura propos-ta por Evanir Pavloski.