Grupos de Lie e Aplica¸
c˜
oes
Mini Curso – XVI EBT
UFSCar – S˜
ao Carlos, SP
de 28/07 a 1
o
/08/2008
Fernanda S. P. Cardona
Departamento de Matem´
atica, IME-USP
´
Indice
1 Introdu¸c˜ao 1
2 Grupos de Lie de Matrizes 2
3 Algebras de Lie e Aplica¸´ c˜ao Exponencial 10
4 A F´ormula de Baker-Campbell-Hausdorff 29
5 Aplica¸c˜oes 31
5.1 Ref. [2]: The Structure of Solvmanifolds . . . 31 5.2 Ref. [4]: Nielsen Numbers of Maps of Tori . . . . 34 5.3 Ref. [9]: On a Theorem of Anosov on Nielsen Numbers
for Nilmanifolds . . . 35 5.4 Ref. [8]: Two Vignettes in Fixed Point Theory . . . . 35 5.5 Ref. [5, 6]: On Changing Fixed Points and Coincidences
1
Introdu¸
c˜
ao
Assim come¸ca um curso sobre grupos de Lie:
“Assume-se familiaridade com conceitos b´asicos da Teoria de Variedades. A menos quando explicitamente mencionado, assume-se que as fun¸c˜oes s˜ao dife-renci´aveis tanto quanto necess´ario. O mesmo se aplica `as variedades.
Defini¸c˜ao 1.1 Um grupo de Lie sobre um corpo K ´e um grupo G equipado com a estrutura de uma variedade diferenci´avel sobre K de maneira que a aplica¸c˜ao
µ : G × G −→ G, (x, y) 7→ xy
seja diferenci´avel. Neste caso, usando o teorema da fun¸c˜ao impl´ıcita vemos que a aplica¸c˜ao
ı : G −→ G, x 7→ x−1
´e diferenci´avel. Grupos de Lie sobre C ser˜ao chamados grupos de Lie complexos, e sobre R, grupos de Lie reais.”
Ap´os recolher mais dados sobre a estrutura alg´ebrica e geom´etrica dos gru-pos de Lie, o que segue, na maneira usual de apresentar a Teoria dos Grugru-pos e ´Algebras de Lie, ´e a defini¸c˜ao das ´Algebras de Lie como campos vetoriais in-variantes `a esquerda; e a aplica¸c˜ao exponencial ´e definida em termos do fluxo de tais campos vetoriais. Em seguida estuda-se suas propriedades. Esta ´e a maneira correta/completa de estudar a teoria e pode ser encontrada em diversos livros, j´a cl´assicos: Chevaley [7], Helgason [11], Varadarajan [17], entre outros. E no caso seria preciso assumir que o aluno tenha conhecimento pr´evio da teoria das variedades, o que afastaria v´arios alunos em in´ıcio da pos-gradua¸c˜ao; ou gastar um tempo trabalhando os conceitos necess´arios, e ent˜ao demoraria a chegar na teoria de Lie propriamente dita.
No entanto, num minicurso assim curto, optei por seguir um outro caminho, sugerido pela leitura do livro de Brian C. Hall [10]: trabalhar com Grupos de Lie de Matrizes. Isto ´e uma restri¸c˜ao; mas apesar de nem todo grupo de Lie ser dessa forma, os exemplos mais interessantes o s˜ao. Como juntamente com a teoria de Lie caminha a teoria das Representa¸c˜oes, que busca as representa¸c˜ao de um grupo de Lie como subgrupo de GL(V ), vˆe-se que esse ponto de vista pode ser bem interessante. Nesta abordagem a exponencial de uma matriz X, exp (X), ´e facilmente definida pela s´erie de potˆencias usual e a ´algebra de Lie de um subgrupo fechado G de GL(n; C) ´e o conjunto das matrizes X para as quais exp (tX) pertence a G para todo n´umero real t. O que para um top´ologo alg´ebrico n˜ao ´e nada mau, afinal grupos de matrizes sempre s˜ao poss´ıveis fontes de exemplos!
Agrade¸co `a Comiss˜ao Cient´ıfica a oportunidade de apresentar este trabalho; e `a Comiss˜ao Organizadora por todo empenho em realizar este XVI EBT.
2
Grupos de Lie de Matrizes
Defini¸
c˜
ao de Grupos de Lie de Matrizes
Sejam GL(n; C) e GL(n; R) os respectivos grupos lineares das matrizes invert´ı-veis n × n sobre C e R. Seja Mn(C) o espa¸co das matrizes n × n sobre C.
Defini¸c˜ao 2.1 Seja Am uma seq¨uˆencia de matrizes complexas em Mn(C).
Dize-mos que Am converge para a matriz A, se cada elemento (Am)kl de Am
con-verge (quando m → +∞) ao elemento correspondente Akl em A.
Defini¸c˜ao 2.2 Um subgrupo G de GL(n; C) ´e um grupo de Lie de matrizes se tem a seguinte propriedade: Se Am ´e uma seq¨uˆencia de matrizes em G e Am
converge para a matriz A ent˜ao ou A ∈ G ou A n˜ao ´e invert´ıvel.
Esta defini¸c˜ao equivale a dizer que um grupo de Lie de matrizes ´e um subgrupo fechado de GL(n; C).
Exemplos de Grupos de Lie de Matrizes
Em alguns dos exemplos abaixo, especialmente nos referentes aos chamados gru-pos cl´assicos (GL(n; R) e GL(n; C); SL(n; R) e SL(n; C); O(n) e SO(n); U(n) e SU(n); Sp(n; R), Sp(n; C) e Sp(n)), usaremos defini¸c˜oes equivalentes `as usuais — as quais envolvem formas bilineares — visando facilitar a verifica¸c˜ao dos grupos em quest˜ao serem, de fato, grupos de Lie de matrizes.
1. Os grupos lineares GL(n; R) e GL(n; C) (imediato das defini¸c˜oes dos grupos lineares (conjunto das matrizes invert´ıveis) e de grupo de Lie de matrizes).
2. Os grupos lineares especiais SL(n; R) e SL(n; C) (determinante ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua, logo o limite de matrizes com determinante 1 ´e uma matriz de deter-minante 1).
3. O grupo ortogonal O(n) e o grupo ortogonal especial SO(n):
Uma matriz A ´e ortogonal se AtA = I ie, se At= A−1(aqui At´e a transposta
de A, (At)kl= Alk). Logo det AtA = det I = 1. Como det At= det A segue que
(det A)2 = 1, portanto det A = ±1. Logo as matrizes ortogonais s˜ao invert´ıveis. E novamente usamos o fato da fun¸c˜ao determinante ser cont´ınua.
4. O grupo unit´ario U(n) e o grupo unit´ario especial SU(n).
An´alogo ao ´ıtem anterior. Uma matriz A ´e unit´aria A∗A = I ie, se A∗ = A−1 (aqui A∗ ´e a adjunta de A, (A∗)jk = Akj). Logo det A∗A = det I = 1. Como
det A∗ = det A segue que | det A|2 = 1, portanto | det A| = 1. Logo as matrizes unit´arias s˜ao invert´ıveis. E novamente usamos o fato da fun¸c˜ao determinante ser cont´ınua.
5. O grupo ortogonal complexo O(n; C) e SO(n; C). (Mesmo argumento usado para O(n) e SO(n), lembrando que aqui permitimos que elementos das matrizes sejam n´umeros complexos e notando que O(n; C) n˜ao ´e o mesmo que U(n).)
6. O grupo ortogonal generalizado O(n; k) e o grupo de Lorentz O(3; 1).
Seja g a (n + k) × (n + k) matriz diagonal com 1 nos n primeiros elementos da diagonal e −1 nos k ´ultimos. Temos que A ∈ O(n; k) se e somente se AtgA = g. Assim det(AtgA) = (det A)2det g. Logo (det A)2 = 1. Portanto det A = ±1. O grupo de Lorentz O(3; 1) ´e de particular interesse para os f´ısicos, pois ´e utilizado na representa¸c˜ao do espa¸co–tempo em algumas modelagens.
7. Os grupos simpl´eticos Sp(n; R), Sp(n; C) e Sp(n).
Estes apresentam maiores dificuldades na sua defini¸c˜ao, pois al´em de involverem formas bilineares anti-sim´etricas, eles n˜ao tˆem uma nota¸c˜ao consistente, variando de autor a autor. S˜ao grupos que surgem naturalmente no estudo da mecˆanica cl´assica. Usando a nota¸c˜ao de Hall [10]: seja J a 2n × 2n matriz de blocos
J = 0 I −I 0 .
O conjunto das 2n × 2n matrizes reais A tais que AtJ A = J formam o grupo simpl´etico real, Sp(n; R), que ´e um subgrupo de GL(2n; R). Calculando o determinante na equa¸c˜ao acima, temos que (det A)2det J = det J e segue que (det A)2 = 1. Portanto det A = ±1, para A ∈ Sp(n; R). (De fato, temos det A = 1, mas isto n˜ao ´e ´obvio.) E usando a continuidade do determinante, obtemos que Sp(n; R) ´e um grupo de Lie de matrizes.
O conjunto das 2n × 2n matrizes complexas A tais que AtJ A = J (´e transposta de A mesmo, n˜ao envolve a adjunta de A) formam o grupo simpl´etico com-plexo, Sp(n; C), que ´e um subgrupo de GL(2n; C). Logo (det A)2det J = det J , segue que (det A)2 = 1. Portanto det A = ±1, para A ∈ Sp(n; C). (De fato, novamente temos det A = 1, mas isto n˜ao ´e ´obvio.) E usando a continuidade do determinante, obtemos que Sp(n; C) ´e um grupo de Lie de matrizes.
O grupo simpl´etico compacto, Sp(n) ´e definido por Sp(n) = Sp(n; C) ∩ U(2n) .
8. O grupo de Heisenberg H.
O conjunto da matrizes reais 3 × 3 da forma
A = 1 a b 0 1 c 0 0 1
´e o grupo de Heisenberg. E ´e ´obvio que o limite de matrizes do tipo descrito acima ´e uma matriz da mesma forma.
9. Os grupos R∗, C∗, S1, R e Rn.
Observe que R∗ ≈ GL(1; R); C∗≈ GL(1; C); C ⊃ S1 ≈ U(1); R ≈ GL(1; R)+, pela
exponencial; e Rn ´e isomorfo ao grupo das matrizes diagonais com elementos
positivos pela aplica¸c˜ao (x1, . . . , xn) 7→
ex1 0 . .. 0 exn .
10. Os grupos Euclidiano E(n) e de Poincar´e P(n; 1).
O grupo Euclidiano ´e o grupo das isometrias de Rn (ie, aplica¸c˜oes f : Rn−→ Rn
tais que d(f x, f y) = d(x, y), para quaisquer x e y em Rn), considerando d(x, y) = kx − yk a distˆancia usual em Rn. O grupo O(n) ´e um subgrupo de E(n), pois ´e
formado pelas isometrias lineares. Vamos denotar por Txa transla¸c˜ao por x ∈ Rn;
ie, a aplica¸c˜ao Tx(y) = x + y. O conjunto das transla¸c˜oes ´e tamb´em um subgrupo
de E(n). De fato, qualquer elemento T de E(n) pode ser descrito como T = Tx◦R
onde x ∈ Rn e R ∈ O(n). Denotando um elemento T = T
x+ R de E(n) como
um par {x, R}, podemos calcular T (y) = {x, R}(y) = Ry + x. Observe que E(n) n˜ao ´e um subgrupo de GL(n; R), mas ´e isomorfo a um subgrupo de GL(n + 1; R) atrav´es da aplica¸c˜ao {x, R} ∈ E(n)|−→ x1 R ... xn 0 . . . 0 1 ∈ GL(n + 1; R) .
Portanto E(n) ´e um grupo de Lie de matrizes.
Quanto ao grupo de Poincar´e, P(n; 1), ele ´e o grupo das transforma¸c˜oes afins de Rn+1 que preservam a distˆancia de Lorentz, dL(x, y) = (x1 − y1)2 + · · · +
(xn− yn)2− (xn+1− yn+1)2. Um elemento T de P(n; 1) pode ser descrito como
T (y) = Tx◦ A(y), onde x ∈ Rn+1 e A ∈ O(n; 1). Similar ao grupo Euclidiano,
temos que P(n; 1) ´e isomorfo ao grupo de Lie das matrizes (n + 2) × (n + 2) da forma x1 A ... xn+1 0 . . . 0 1 , com A ∈ O(n; 1).
Compacidade
Defini¸c˜ao 2.3 Um grupo de Lie de matrizes G ´e compacto se as duas condi¸c˜oes a seguir s˜ao satisfeitas:
1. Se Am ´e uma seq¨uˆencia qualquer de matrizes em G que converge para uma
matriz A, ent˜ao A est´a em G.
2. Existe uma constante C tal que para toda A ∈ G, |Aij| ≤ C para todo
N˜ao ´e a defini¸c˜ao usual de compacidade, mas ´e equivalente, lembrando que Mn(C)
pode ser visto como Cn2.
Exemplos de grupos compactos
Os grupos O(n) e SO(n) s˜ao compactos. Se A ´e uma matriz ortogonal, ent˜ao seus vetores coluna tˆem norma 1 e assim para cada elemento de A, |Akl| ≤ 1,
para todo 0 ≤ k ≤ n e 0 ≤ l ≤ n, a propriedade 2 est´a satisfeita. Como limite de ortogonais ´e uma ortogonal, a propriedade 1 est´a satisfeita e O(n) ´e compacto. Como limite de matrizes com determinante 1 ´e uma matriz com determinante 1, a propriedade 1 est´a satisfeita e SO(n) ´e compacto. Argumento similar mostra que os grupos U(n) e SU(n), incluindo S1 ' U(1) e o grupo Sp(n) s˜ao compactos.
Exemplos de grupos n˜ao compactos
• Os grupos GL(n; R) e GL(n; C) n˜ao satisfazem a condi¸c˜ao 1.
• Os grupos SL(n; R) e SL(n; C) n˜ao satisfazem a condi¸c˜ao 2 (exceto caso
n = 1), pois por exemplo a matriz diagonal A = m 1 m 0 . .. 0 1 1 tem determinante igual a 1, mas m pode ser t˜ao grande quanto quisermos. • Tamb´em por n˜ao satisfazer a condi¸c˜ao 2, temos os grupos O(n; k) e SO(n; k); O(n; C) e SO(n; C); H; Sp(n; R) e Sp(n; C); R e Rn; R∗ e C∗; E(n) e P(n; 1).
Conexidade
Defini¸c˜ao 2.4 Um grupo de Lie de matrizes, G ´e conexo se dadas quaisquer duas matrizes A e B em G, existe um caminho cont´ınuo C(t), a ≤ t ≤ b, inteira-mente em G, com C(a) = A e C(b) = B.
Estamos cometendo um abuso nessa defini¸c˜ao ao chamar de conexidade o que de fato ´e conexidade por caminhos; isto s´o ´e desculp´avel pois nos grupos de Lie de matrizes conexidade ´e, de fato, equivalente a conexidade por caminhos.
Um grupo de Lie de matrizes n˜ao conexo pode ser decomposto (de forma ´unica) em suas componentes conexas por caminhos.
Proposi¸c˜ao 2.5 Se G ´e um grupo de Lie de matrizes ent˜ao a componente de G que cont´em a identidade ´e um subgrupo de G.
Demonstra¸c˜ao: Sejam A e B duas matrizes na componente que cont´em a iden-tidade; ent˜ao existem caminhos A(t), com A(0) = I e A(1) = A; e B(t), com B(0) = I e B(1) = B. Se tomarmos A(t)B(t), ele ´e um caminho cont´ınuo, come¸cando na identidade e terminando em AB. O caminho (A(t))−1 ´e um cami-nho cont´ınuo, come¸cando na identidade e terminando em A−1.
Proposi¸c˜ao 2.6 O grupo GL(n; C) ´e conexo, para todo n ≥ 1.
Demonstra¸c˜ao: Sejam A e B duas matrizes em GL(n; C). Existe um n´umero finito de λ ∈ C tais que det(λA + (1 − λ)B) = 0, pois fixados A e B o que temos na igualdade anterior ´e um polinˆomio na vari´avel λ, de grau no m´aximo n2. Vamos cham´a-lo de `(λ). Seja λ(t) um caminho cont´ınuo no plano, com
λ(0) = 0 e λ(1) = 1, tal que λ(t) n˜ao ´e raiz para o polinˆomio `(λ), qualquer que seja t ∈]0, 1[. (Observe que, no nosso caso, λ = 0 e λ = 1 nunca podem ser ra´ızes para `(λ).) O caminho A(t) = λ(t)A + (1 − λ(t))B ´e cont´ınuo (lembrando que GL(n; C) pode ser identificado com Cn2, basta olhar em cada elemento de A(t), (A(t))jk = λ(t)Ajk + (1 − λ(t))Bjk e ver que ´e cont´ınuo); come¸ca em B, termina
em A.
Proposi¸c˜ao 2.7 O grupo SL(n; C) ´e conexo, para todo n ≥ 1.
Demonstra¸c˜ao: (A primeira parte desta ´e uma outra maneira de provar que GL(n; C) ´e conexo.) Sabemos da ´algebra linear que dada qualquer matriz com-plexa quadrada A, existe uma matriz comcom-plexa invert´ıvel C tal que A = CBC−1, onde B ´e uma matriz triangular superior (ie, sabemos que A ´e semelhante `a uma matriz triangular superior):
B = λ1 ∗ . .. 0 λn .
Seja A ∈ SL(n; C); como A ´e invert´ıvel, devemos ter todos os λ’s diferentes de zero pois o det A = det B = λ1. . . λn (por isso a demonstra¸c˜ao ´e a mesma para
A ∈ GL(n; C)). Seja B(t) obtido de B ao multiplicarmos os elementos de B que est˜ao acima da diagonal por (1 − t), para 0 ≤ t ≤ 1. Ent˜ao A(t) = CB(t)C−1 ´e um caminho cont´ınuo com imagem em GL(n; C) (no nosso caso, em SL(n; C) pois det A(t) = λ1. . . λn = det A = 1), come¸cando em A e terminando em CDC−1,
onde D ´e a matriz diagonal
D = λ1 0 . .. 0 λn .
Podemos definir, para cada i, um caminho λi(t) que conecta λi a 1 em C∗
para 1 ≤ t ≤ 2. Ent˜ao podemos definir A(t) no intervalo 1 ≤ t ≤ 2 por
A(t) = C λ1(t) 0 . .. 0 λn(t) C −1 .
Este ´e um caminho cont´ınuo com imagem em GL(n; C) (pois os λi(t) s˜ao sempre
diferentes de zero), ligando CDC−1 (quando t = 1) `a I(= CIC−1) (quando t = 2). (Isto prova que GL(n; C) ´e conexo.) Para garantir que a imagem do caminho esteja em SL(n; C), modificamos ligeiramente a defini¸c˜ao dos λi(t): para
1 ≤ i ≤ n − 1 fazemos como acima; e definimos λn(t) = [λ1(t) . . . λn−1(t)]−1.
Proposi¸c˜ao 2.8 Os grupos U(n) e SU(n) s˜ao conexos, para todo n ≥ 1.
Demonstra¸c˜ao: Da ´algebra linear sabemos que toda matriz unit´aria tem uma base ortonormal formada por autovetores, com autovalores da forma eθ. Segue
que toda matriz unit´aria U pode ser escrita como
U = U1 eiθ1 0 . .. 0 eiθn U −1 1 ,
onde U1 ´e uma matriz unit´aria e θi ∈ R. Reciprocamente, toda matriz da forma
acima ´e uma matriz unit´aria. Definindo a fun¸c˜ao
U (t) = U1 ei(1−t)θ1 0 . .. 0 ei(1−t)θn U −1 1 ,
obtemos um caminho cont´ınuo para t variando de 0 a 1, definido em U(n) ligando U a I. Assim, como podemos ligar quaisquer duas matrizes unit´arias `a matriz identidade por um caminho cont´ınuo contido em U(n), temos que U(n) ´e conexo. Similar ao que fizemos para SL(n; C) na proposi¸c˜ao 2.7, podemos provar que SU(n) ´e conexo.
Proposi¸c˜ao 2.9 O grupo GL(n; R) n˜ao ´e conexo, apresentando duas compo-nentes: GL(n; R)+, o conjunto das matrizes reais n×n com determinante positivo
e GL(n; R)−, o conjunto das matrizes reais n × n com determinante negativo. Demonstra¸c˜ao: Suponha, por absurdo, que o grupo GL(n; R) fosse conexo. Ent˜ao para quaisquer matrizes A e B de GL(n; R), com det A > 0 e det B < 0, existiria um caminho cont´ınuo em GL(n; R), ligando A `a B. Como a fun¸c˜ao determinante ´e cont´ınua exitiria uma matriz C em GL(n; R) com det C = 0. Contradi¸c˜ao.
O grupo GL(n; R)+ ´e conexo; no entanto, a demonstra¸c˜ao desse fato fica fora do
escopo deste trabalho.
Sabendo que GL(n; R)+ ´e conexo, ´e f´acil ver que o grupo GL(n; R)− ´e conexo:
Sejam A e B ∈ GL(n; R)− e seja C uma matriz arbitr´aria em GL(n; R)−. Ent˜ao, C−1A e C−1B ∈ GL(n; R)+ e existe um caminho cont´ınuo em GL(n; R)+, D(t), ligando as duas. Assim C.D(t) ´e um caminho em GL(n; R)− ligando A `a B.
A tabela a seguir lista alguns grupos de Lie de matrizes e indica se ´e, ou n˜ao, conexo e qual o n´umero de componentes que apresenta.
Grupo Conexo? Componentes GL(n; C) sim 1 SL(n; C) sim 1 GL(n; R) n˜ao 2 SL(n; R) sim 1 O(n) n˜ao 2 SO(n) sim 1 U(n) sim 1 SU(n) sim 1 O(n; 1) n˜ao 4 SO(n; 1) n˜ao 2 Heisenberg sim 1 E(n) n˜ao 2 P(n; 1) n˜ao 4
Grupos Simplesmente Conexos
Defini¸c˜ao 2.10 Um grupo de Lie de matrizes G ´e simplesmente conexo se ´e conexo e se todo la¸co em G pode ser deformado continuamente a um ponto em G. Mais precisamente: assuma que G ´e conexo. Ent˜ao G ´e simplesmente conexo se dado qualquer caminho cont´ınuo A(t) em G, 0 ≤ t ≤ 1, com A(0) = A(1), existe uma fun¸c˜ao cont´ınua F (s, t) a valores em G com as seguintes propriedades: (1) F (s, 0) = F (s, 1), para todo s; (2) F (0, t) = A(t), para todo t e (3) F (1, t) = F (1, 0), para todo t.
Proposi¸c˜ao 2.11 O grupo SU(2) ´e simplesmente conexo.
Demonstra¸c˜ao: Sabemos que S3 ´e um espa¸co simplesmente conexo (Sn ´e
sim-plesmente conexo para n ≥ 2). Se α e β s˜ao n´umeros complexos tais que |α|2 + |β|2 = 1, a matriz A = α −β
β α
∈ SU(2). Reciprocamente, toda A ∈ SU(2) pode ser descrita na forma acima para um ´unico par (α, β) ∈ C2 que
satisfaz |α|2+ |β|2 = 1. Esta ´ultima ´e a descri¸c˜ao da esfera S3 em C2.
Ser simplesmente conexo ´e uma das propriedades mais importantes, pois um dos teoremas estabelece que, se G ´e simplesmente conexo ent˜ao existe uma correspon-dˆencia natural entre as representa¸c˜oes de G e as representa¸c˜oes de sua ´algebra de Lie.
Para qualquer espa¸co topol´ogico conexo por caminhos definimos seu grupo fun-damental (para maiores detalhes, ver, por exemplo, [13]). A seguir apresentamos uma tabela onde listamos os grupos fundamentais para os grupos compactos e em seguida para os n˜ao compactos. Mais sobre esse assunto pode ser encontrado no livro de Sufian Husseini [12]. Aqui SOe(n; 1) denota a componente da identidade
de SO(n; 1), para n ≥ 1.
Grupo Simplesmente conexo? Grupo Fundamental
SO(2) n˜ao Z
SO(n) (n ≥ 3) n˜ao Z/2
U(n) n˜ao Z
SU(n) sim {1}
Sp(n) sim {1}
Grupo Simplesmente conexo? Grupo Fundamental GL(n; R)+ (n ≥ 2) n˜ao o mesmo de SO(n)
GL(n; C) n˜ao Z
SL(n; R) (n ≥ 2) n˜ao o mesmo de SO(n)
SL(n; C) sim {1}
SO(n; C) n˜ao o mesmo de SO(n)
SOe(1; 1) sim {1}
SOe(n; 1) (n ≥ 2) n˜ao o mesmo de SO(n)
Sp(n; R) n˜ao Z
Sp(n; C) sim {1}
Homomorfismos e Isomorfismos
Defini¸c˜ao 2.12 Sejam G e H dois grupos de Lie de matrizes. Uma aplica¸c˜ao Φ de G em H ´e um homomorfismo de grupos de Lie se (1) Φ ´e um homomor-fismo de grupos e (2) Φ ´e cont´ınua. Se, al´em disso, Φ ´e bijetora com aplica¸c˜ao inversa Φ−1 cont´ınua, ent˜ao Φ ´e um isomorfismo de grupos de Lie.
Exemplos
1. O determinante, que ´e um homomorfismo de GL(n; C) em C∗; 2. A aplica¸c˜ao Φ : R −→ SO(2) definida por Φ(θ) =
cos θ −sen θ sen θ cos θ
;
3. SU(2) e SO(3): o homomorfismo que discutiremos a seguir, apesar de n˜ao ser um isomorfismo, permite que relacionemos problemas no espa¸co n˜ao simplesmente conexo SO(3) a problemas no espa¸co simplesmente conexo SU(2).
3
Algebras de Lie e Aplica¸
´
c˜
ao Exponencial
A Exponencial de Matrizes
A exponencial de uma matriz tem um papel important´ıssimo na teoria dos grupos de Lie: definir a ´algebra de Lie de uma matriz. Al´em disso ´e o meio atrav´es do qual passamos informa¸c˜oes da ´algebra de Lie (onde os c´alculos s˜ao mais facilmente feitos) para o grupo de Lie correspondente.
Lembrando que a norma de um vetor x = (x1, x2, . . . , xn) em Cn ´e definida por
kxk =phx, xi = n X k=1 |xk|2 !1/2 ,
e pensando no espa¸co Mn(C) das matrizes complexas como Cn
2
, definimos a norma de uma matriz X como
kXk = n X k,l=1 |Xkl|2 !1/2 .
(Essa norma ´e conhecida como norma de Hilbert-Schmidt.) Vale o seguinte re-sultado: uma seq¨uˆencia de matrizes Xm converge para uma matriz X segundo
nossa defini¸c˜ao 2.2, se e somente se, kXm− Xk → 0 quando m → +∞.
Essa norma satisfaz as desigualdades
kX + Y k ≤ kXk + kY k, (desigualdade triangular)
kXY k ≤ kXk kY k (conseq. desigualdade Schwarz)
Defini¸c˜ao 3.1 Se kXm− Xlk → 0 quando m, l → 0 dizemos que a seq¨uˆencia de
matrizes Xm ´e uma seq¨uˆencia de Cauchy.
Olhando o espa¸co Mn(C) das matrizes complexas como Cn
2
e usando um resultado b´asico de an´alise, obtemos
Proposi¸c˜ao 3.2 Se Xm ´e uma seq¨uˆencia de Cauchy em Mn(C) ent˜ao existe uma
´
unica matriz X tal que Xm converge para X.
Defini¸c˜ao 3.3 Dizemos que a s´erie de matrizes X0 + X1 + X2+ . . . converge
absolutamente, se
∞
P
m=0
kXmk < ∞.
Proposi¸c˜ao 3.4 Dada uma matriz quadrada, real ou complexa, X, a s´erie de potˆencias ∞ X m=0 Xm m!
denotada por eX, ou exp (X), converge. Al´em disso, a exponencial de uma matriz,
Demonstra¸c˜ao: Temos que kXmk ≤ kXkm pelas propriedades da norma; e assim, ∞ X m=0 Xm m! ≤ ∞ X m=0 kXkm m! = exp (kXk) < ∞ .
Como a s´erie converge absolutamente, ela converge. A continuidade segue do fato de cada soma parcial ser cont´ınua, uma vez que Xm ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua de X.
Proposi¸c˜ao 3.5 Sejam X e Y matrizes n × n arbitr´arias. Valem as seguintes propriedades:
1. exp (0) = I, onde 0 denota a matriz nula; 2. ( exp (X))∗ = exp (X∗);
3. exp (X) ´e invert´ıvel e ( exp (X))−1 = exp (−X);
4. exp ((α + β)X) = exp (αX) exp (βX) para quaisquer α, β ∈ C;
5. Se XY = Y X ent˜ao exp (X + Y ) = exp (X) exp (Y ) = exp (Y ) exp (X);
6. Se C ´e invert´ıvel ent˜ao exp (CXC−1) = C exp (X) C−1; 7. k exp (X) k ≤ exp (kXk).
Proposi¸c˜ao 3.6 Seja X uma matriz complexa n × n. Ent˜ao exp (tX) ´e uma curva lisa (C∞) em Mn(C) e
d
dtexp (tX) = X exp (tX) = exp (tX) X . Em particular, d dtexp (tX) t=0 = X .
Demonstra¸c˜ao: Para cada i e j, o elemento ( exp (tX))ij ´e a soma de uma s´erie
convergente de potˆencias de t, e portanto podemos diferenci´a-la termo a termo. O resultado desejado segue da diferencia¸c˜ao termo a termo de s´erie de potˆencias para exp (tX).
Calculando a Exponencial de uma Matriz
Agora vamos considerar m´etodos para calcular a exponencial de uma matriz em geral.
Caso 1: X ´e diagonaliz´avel Suponha que X ´e uma matriz quadrada di-agonaliz´avel sobre C; isto ´e, existe uma matriz complexa C invert´ıvel tal que X = CDC−1, onde D = λ1 0 . .. 0 λn . ´
E f´acil ver que exp (D) ´e uma matriz diagonal com autovalores eλ1, . . . , eλn e pela
proposi¸c˜ao 3.5 temos exp (X) = C eλ1 0 . .. 0 eλn C −1 .
Observe que se podemos diagonalizar X ent˜ao podemos calcular a exponencial de X explicitamente. Lembre tamb´em que, mesmo quando X ´e real, podemos ter C complexa e os λk tamb´em; no entanto exp (X) ser´a real, pois cada termo
da s´erie ´e real.
Caso 2: X ´e nilpotente Uma matriz X quadrada, ´e nilpotente se Xm = 0 para algum m, inteiro positivo. Sem d´uvida, se Xm = 0 ent˜ao Xl = 0 para
l > m. Neste caso, a s´erie exponencial ´e na verdade uma soma finita, e pode ser computada explicitamente.
Caso 3: X arbitr´aria Em geral, uma matriz X n˜ao ´e diagonaliz´avel, nem nilpotente, mas pode ser escrita (de maneira ´unica) na forma X = S + N , onde S ´e diagonaliz´avel, N ´e nilpotente e SN = N S. Ent˜ao, vale que
exp (X) = exp (S + N ) = exp (S) exp (N )
onde exp (S) e exp (N ) podem ser calculadas como nos casos anteriores.
O Logaritmo de Matrizes
Na medida do poss´ıvel gostar´ıamos de definir uma inversa para a exponencial de uma matriz. Por similaridade com a fun¸c˜ao exponencial a candidata seria uma fun¸c˜ao logaritmica. Mas n˜ao podemos ter grandes expectativas: para qualquer X ∈ Mn(C) temos que exp (X) ´e invert´ıvel, logo somente matrizes invert´ıveis
poder˜ao ter um logaritmo. Entretanto, X n˜ao ´e ´unica, e n˜ao existe uma maneira de definir o logaritmo continuamente no conjunto das matrizes invert´ıveis. Como no caso dos n´umeros complexos a defini¸c˜ao se d´a por meio de uma s´erie.
Lema 3.7 A fun¸c˜ao log z = ∞ X m=1 (−1)m+1(z − 1) m m (?)
est´a definida, e ´e anal´ıtica, num c´ırculo de raio r = 1, centrado em z = 1. Para todo z satisfazendo |z − 1| < 1, temos
elog z = z .
Para todo u satisfazendo |u| < log 2 temos |eu− 1| < 1 e
log eu = u .
Demonstra¸c˜ao: O logaritmo usual para n´umeros reais positivos tem a expans˜ao em s´erie de potˆencias
d
dxlog(1 − x) = −1
1 − x = − 1 + x + x
2 + . . .
para |x| < 1. Integrando termo a termo, e lembrando que log 1 = 0 obtemos
log(1 − x) = − x + x 2 2 + x3 3 + . . . . Tomando z = 1 − x obtemos log z = − (1 − z) + (1 − z) 2 2 + (1 − z)3 3 + . . . = ∞ X m=1 (−1)m+1(1 − z) m m .
Esta s´erie tem raio de convergˆencia 1, define uma fun¸c˜ao anal´ıtica complexa no conjunto {|z − 1| < 1} e coincide com o fun¸c˜ao logaritmica usual para z real no intervalo ]0, 2[. Temos que exp (log z) = z para z ∈]0, 2]; por ser anal´ıtica, esta igualdade continua v´alida em todo o conjunto {|z − 1| < 1}.
Por outro lado, se |u| < log 2, ent˜ao
|eu− 1| = u +u 2 2 + . . . ≤ |u| + |u| 2 2 + · · · = e |u|− 1 < 1 .
Assim, a express˜ao log( exp (u)) est´a definida para todo u nestas condi¸c˜oes. Como log( exp (u)) = u para todo u real satisfazendo |u| < log 2, segue que, por ser anal´ıtica, log( exp (u)) = u para todo u complexo satisfazendo |u| < log 2.
Defini¸c˜ao 3.8 Dada uma matriz A, n × n, definimos log A, por
log A = ∞ X m=1 (−1)m+1(A − I) m m ,
Como conseq¨uˆencia do lema 3.7 e do fato k(A − I)mk ≤ kA − Ikm, temos que a
s´erie acima converge se kA − Ik < 1. Por´em, mesmo se kA − Ik > 1 poderemos ter que k(A − I)mk < kA − Ikm; por exemplo, se A − I ´e nilpotente.
Teorema 3.9 A fun¸c˜ao log A = ∞ X m=1 (−1)m+1(A − I) m m ,
est´a definida, e ´e cont´ınua, no conjunto de todas as matrizes quadradas complexas tais que kA − Ik < 1.
Para todo A satisfazendo kA − Ik < 1,
exp (log A) = A .
Para todo X satisfazendo kXk < log 2 temos k exp (X) − Ik < 1 e
log exp (X) = X .
Demonstra¸c˜ao: Como k(A − I)mk ≤ k(A − I)km e a s´erie (?) de 3.7 tem raio
de convergˆencia 1, a s´erie do logaritmo converge absolutamente para todo A tal que k(A − I)k < 1. A demonstra¸c˜ao da continuidade ´e basicamente a mesma que fizemos para a exponencial. Provaremos que exp (log A) = A, para todo A tal que k(A − I)k < 1. Temos 2 casos:
Caso 1: A ´e diagonaliz´avel Suponha que A = CDC−1, com D diagonal. Ent˜ao, A − I = CDC−1− I = C(D − I)C−1. Segue que (A − I)m ´e da forma
(A − I)m = C (z1− 1)m 0 . .. (zn− 1)m C −1 ,
onde z1, . . . , zn s˜ao autovalores de A. Se k(A − I)k < 1 ent˜ao |zi − 1| < 1, para
cada autovalor zi de A. Assim,
∞ X m=1 (−1)m+1(A − I) m m = C log z1 0 . .. log zn C −1 , e pelo lema 3.7, exp (log A) = C elog z1 0 . .. elog zn C −1 = A .
Caso 2: A n˜ao ´e diagonaliz´avel Se A n˜ao ´e diagonaliz´avel, construimos uma seq¨uˆencia Am de matrizes diagonaliz´aveis tal que Am → A (Usamos para isso o
resultado da ´algebra linear: Toda matriz ´e semelhante `a uma matriz triangular superior. Toda matriz nilpotente ´e semelhante `a uma matriz triangular superior com zeros na diagonal.) Se k(A − I)k < 1 ent˜ao k(Am− I)k < 1 para m suficientemente grande.
Pelo caso 1, exp (log Am) = Ame pela continuidade de exp e log, exp (log A) = A.
Provamos que exp (log A) = A para todo A tal que k(A − I)k < 1. O mesmo argumento usado no caso complexo prova que, se kXk < log 2 ent˜ao k exp (X)−1k < 1. O mesmo argumento dos dois casos, prova que log( exp (X)) = X para todo X da forma acima.
Uma proposi¸c˜ao que nos ser´a ´util:
Proposi¸c˜ao 3.10 Para todas as matrizes quadradas B, satisfazendo kBk < 12 existe uma constante c tal que
k log(I + B) − Bk ≤ ckBk2 .
(Em outras palavras, log(I + B) = B + O(kBk2).)
Demonstra¸c˜ao: Observe que
log(I + B) − B = ∞ X m=2 (−1)m+1B m m = B 2 ∞ X m=2 (−1)m+1B m−2 m logo k log(I + B) − Bk ≤ kBk2 ∞ X m=2 1 2 m−2 m e a soma nesta ´ultima express˜ao ´e convergente.
Um resultado interessante ´e o seguinte
Teorema 3.11 Qualquer matriz n × n invert´ıvel pode ser expressa como exp (X) para algum X ∈ Mn(C).
cuja demonstra¸c˜ao est´a delineada nos exerc´ıcios 8 e 9 do cap´ıtulo 2 de [10].
Outras Propriedades da Exponencial de Matrizes
Teorema 3.12 (F´ormula do Produto de Lie) Sejam X e Y matrizes n × n complexas. Ent˜ao,
exp (X + Y ) = lim m→∞ exp X m exp Y m m .
Demonstra¸c˜ao: Se multiplicarmos as s´eries de potˆencias de exp Xm e exp mY, todos os termos, com exce¸c˜ao dos 3 primeiros, envolvem m12 ou potˆencias de ordem
maior de m1. Assim, temos
exp X m exp Y m = I + X m + Y m + O 1 m2 .
Como exp Xm exp Ym → I, quando m → ∞, temos que exp Xm exp Ym est´a no dom´ınio do logaritmo para m suficientemente grande. Pela proposi¸c˜ao 3.10
log exp X m exp Y m = log I +X m + Y m + O 1 m2 = X m + Y m + O X m + Y m + O 1 m2 2! = X m + Y m + O 1 m2 .
Calculando a exponencial do logaritmo temos
exp X m exp Y m = exp X m + Y m + O 1 m2 e portanto, exp X m exp Y m m = exp X + Y + O 1 m .
Assim, pela continuidade da exponencial, conclu´ımos que
lim m→∞ exp X m exp Y m m = exp (X + Y ) .
Lembrando que o tra¸co de uma matriz ´e a soma dos elementos de sua diagonal e que matrizes semelhantes tem o mesmo tra¸co, o teorema a seguir relaciona a exponencial, o tra¸co e o determinante de uma matriz.
Teorema 3.13 Qualquer que seja X ∈ Mn(C) temos
det( exp (X)) = etr(X) ,
Demonstra¸c˜ao: Temos 3 casos como anteriormente
Caso 1: X ´e diagonaliz´avel Existe uma matriz complexa C invert´ıvel tal que
X = C λ1 0 . .. 0 λn C −1 . Ent˜ao exp (X) = C eλ1 0 . .. 0 eλn C −1 .
Assim, tr(X) =P λi e det( exp (X)) =Q eλi = eP λi.
Caso 2: X ´e nilpotente Se X ´e nilpotente ent˜ao ela ´e semelhante `a uma matriz triangular superior com zeros na diagonal. Ou seja, existe C matriz invert´ıvel tal que X = C 0 ∗ . .. 0 0 C −1 .
Neste caso, exp (X) ser´a triangular superior com 1’s na diagonal
exp (X) = C 1 ∗ . .. 0 1 C −1 .
Assim, se X ´e nilpotente, tr(X) = 0 e det( exp (X)) = 1.
Caso 3: X arbitr´aria X pode ser escrita (de maneira ´unica) na forma X = S+ N , onde S ´e diagonaliz´avel, N ´e nilpotente e SN = N S. Como S e N comutam, temos exp (X) = exp (S + N ) = exp (S) exp (N ). Pelos casos anteriores,
det( exp (X)) = det( exp (S)) det( exp (N )) = etr(S)etr(N ) = etr(X) .
(Observe que tr(N ) = 0 e tr(S) = tr(X).)
Defini¸c˜ao 3.14 Uma fun¸c˜ao A : R −→ GL(n; C) ´e um subgrupo a um parˆ a-metro de GL(n; C) se
1. A ´e cont´ınua;
2. A(0) = I;
Teorema 3.15 (Subgrupos a um Parˆametro) Se A ´e um subgrupo a um parˆametro de GL(n; C) ent˜ao existe uma ´unica matriz quadrada complexa X tal que
A(t) = exp (tX) .
Demonstra¸c˜ao: A unicidade ´e imediata: se existe tal X ent˜ao X = d dtA(t) t=0 . S´o precisamos nos ocupar da existˆencia.
Seja Bε a bola aberta em Mn(C) de raio ε, centrada em 0; ie, Bε = {X ∈
Mn(C) | kXk < ε}. Seja ε < log 2. Mostramos que “exp” leva Bε em Mn(C) de
maneira injetora, com inversa cont´ınua “log”. Seja U = exp Bε/2, um aberto
em GL(n; C). A continuidade de A garante que existe t0 > 0 tal que A(t) ∈ U
para t tal que |t| < t0. Tome X = t1
0 log(A(t0)); assim, t0X = log(A(t0)). Logo,
t0X ∈ Bε/2 e A(t0) = exp (t0X). Ent˜ao A(t0/2) ∈ U e A(t0/2)2 = A(t0).
Fato: (Lema 2.14 de [10]) Todo g ∈ U tem uma ´unica raiz quadrada, h ∈ U , definida como h = exp 12log g.
Portanto, A(t0) tem uma ´unica raiz quadrada em U que ´e exp (t0X/2). Logo
A(t0/2) = exp (t0X/2). Aplicando o argumento acima repetidamente, obtemos
A(t0/2k) = exp t0X/2k
para qualquer k inteiro positivo. Ent˜ao, para quaquer inteiro positivo m, temos A(mt0/2k) = A(t0/2k)m = exp mt0X/2k. Isto significa que A(t) = exp (tX)
para todo t ∈ R da forma t = mt0/2k, e que o conjunto desses t’s ´e denso em
R. Como tanto A(t) quanto exp (tX) s˜ao cont´ınuas, segue que A(t) = exp (tX) para todo t ∈ R.
A ´
Algebra de Lie de um Grupo de Lie de Matrizes
A ´Algebra de Lie ´e um instrumento de muita utilidade no estudo de um grupo de Lie de matrizes. Primeiro, porque as ´algebras de Lie s˜ao mais simples que os grupos de Lie de matrizes, pois como veremos a seguir s˜ao espa¸cos vetoriais. Segundo, porque elas cont´em muita informa¸c˜ao sobre o grupo associado.
Defini¸c˜ao 3.16 Seja G um grupo de Lie. A ´Algebra de Lie de G, denotada por g, ´e o conjunto das matrizes X tais que exp (tX) ∈ G, para todo t ∈ R. Isto significa que X est´a em g se e s´o se o subgrupo a um parˆametro gerado por X est´a em G.
Existe uma no¸c˜ao abstrata de ´algebra de Lie e, como n˜ao podia deixar de ser, a ´
Exemplos
1. A ´algebra de Lie dos grupos lineares GL(n; R) e GL(n; C).
Se X ´e uma matriz complexa quadrada, pela proposi¸c˜ao 3.5, exp (tX) ´e invert´ıvel, logo a ´algebra de Lie de GL(n; C) ´e o espa¸co das matrizes complexas n × n, denotada por gl(n; C).
Se X ´e uma matriz real quadrada, exp (tX) ´e invert´ıvel e real. Por outro lado, se exp (tX) ´e real para todo t ∈ R, ent˜ao X = d
dtexp (tX) t=0
tamb´em ser´a real. Logo a ´algebra de Lie de GL(n; R) ´e o espa¸co das matrizes reais n × n, denotada por gl(n; R).
Observe que o argumento apresentado prova que se G ´e um subgrupo de GL(n; R) ent˜ao a ´algebra de Lie de G s´o contem matrizes reais.
2. A ´algebra de Lie dos grupos lineares especiais SL(n; R) e SL(n; C).
Pelo teorema 3.13, det( exp (X)) = etr(X). Assim, se tr(X) = 0 ent˜ao, para todo t ∈ R, temos det( exp (tX)) = 1. Por outro lado se X ´e uma matriz real quadrada satisfazendo det( exp (tX)) = 1, para todo t ∈ R ent˜ao etr(X)t= 1, para todo t ∈ R. Isto significa que tr(X)t ´e um m´ultiplo inteiro de 2πi, para todo t ∈ R, o que s´o ´e poss´ıvel se tr(X) = 0. Portanto a ´algebra de Lie de SL(n; C) ´e o espa¸co das n × n matrizes complexas com tra¸co zero, denotada por sl(n; C). De maneira similar, a ´algebra de Lie de SL(n; R) ´e o espa¸co das n × n matrizes reais com tra¸co zero, denotada por sl(n; R).
3. A ´algebra de Lie do grupo unit´ario U(n) e do grupo unit´ario especial SU(n).
U’a matriz U ´e unit´aria se e s´o se U∗= U−1. Portanto, exp (tX) ´e unit´aria se e s´o se
( exp (tX))∗ = ( exp (tX))−1= ( exp (−tX)) .
Pelo ´ıtem 2 da proposi¸c˜ao 3.5 temos ( exp (tX))∗ = exp (tX∗), e a igualdade acima se torna
exp (tX∗) = ( exp (−tX)) (∗).
Claramente vemos que uma condi¸c˜ao suficiente para termos a igualdade (∗) ´e que X∗= −X. Por outro lado se (∗) vale para todo t, ent˜ao tomando a derivada em t = 0 vemos que a condi¸c˜ao X∗ = −X ´e suficiente.
Assim a ´algebra de Lie de U(n) ´e o espa¸co de todas as matrizes X complexas, n × n, tais que X∗= −X, denotada por u(n).
Combinando os dois c´alculos feitos anteriormente temos que a ´algebra de Lie de SU(n) ´e o espa¸co de todas as matrizes X complexas, n × n, tais que X∗ = −X e tr(X) = 0, denotadas por su(n).
4. A ´algebra de Lie dos grupos ortogonais O(n) e O(n; C); e dos grupos ortog-onais especiais SO(n) e SO(n; C).
A componente da identidade de O(n) ´e SO(n); como a exponencial de matrizes na ´
algebra de Lie pertence `a componente da identidade (proposi¸c˜ao 3.17, a seguir), a ´algebra de Lie de O(n) ´e a mesma de SO(n).
U’a matriz real R ´e ortogonal se e s´o se Rt= R−1. Portanto, dada X matriz real, n × x, temos que exp (tX) ´e ortogonal se e s´o se ( exp (tX))t= ( exp (tX))−1, ou
exp tXt = exp (−tX) (∗∗).
Claramente vemos que uma condi¸c˜ao suficiente para termos a igualdade (∗∗) ´e que Xt= −X. Por outro lado se (∗∗) vale para todo t, ent˜ao tomando a derivada em t = 0 vemos que a condi¸c˜ao Xt= −X ´e suficiente.
Assim a ´algebra de Lie de O(n), bem como a de SO(n), ´e o espa¸co de todas as matrizes X reais, n × n, tais que Xt= −X, denotada por so(n). Observe que a condi¸c ao Xt= −X obriga a diagonal de X ser nula e, necessariamente, o tra¸co de X ser zero.
O mesmo argumento prova que a ´algebra de Lie de SO(n; C) ´e o espa¸co das matrizes n × n complexas que satisfazem Xt= −X, denotada por so(n; C). Este espa¸co n˜ao ´e o mesmo que su(n).
5. A ´algebra de Lie do grupo ortogonal generalizado.
Temos que A ∈ O(n; k) se e somente se AtgA = g, onde g ´e a (n + k) × (n + k) matriz diagonal com 1 nos n primeiros elementos da diagonal e −1 nos k ´ultimos. Esta condi¸c˜ao equivale a g−1Atg = A−1; como g−1 = g, segue que gAtg = A−1. Se X ´e u’a (n + k) × (n + k) matriz real, ent˜ao exp (tx) est´a em O(n; k) se e s´o se
g exp tXt g = exp gtXtg = exp (−tX) .
Esta condi¸c˜ao vale para qualquer t ∈ R se e s´o se gXtg = −X. Assim a ´algebra de Lie de O(n; k), que ´e a mesma de SO(n; k), ´e o espa¸co das matrizes X reais, (n + k) × (n + k), tais que gXtg = −X, e ´e denotada por so(n; k).
(Em geral, o grupo SO(n; k) n˜ao ´e conexo, em contraste com SO(n). A compo-nente da identidade de SO(n; k), que tamb´em ´e a componente da identidade de O(n; k) ´e denotada por SOe(n; k). A ´algebra de Lie de SOe(n; k) ´e a mesma de
SO(n; k).)
6. As ´algebras de Lie dos grupos simpl´eticos Sp(n; R), Sp(n; C) e Sp(n).
S˜ao denotadas, respectivamente, por sp(n; R), sp(n; C) e sp(n). O c´alculo destas ´e similar ao da ´algebra de Lie do grupo ortogonal generalizado. Para registro, apenas listaremos os resultados. Seja J a 2n × 2n matriz de blocos
J =
0 I −I 0
da defini¸c˜ao dos grupos simpl´eticos. Ent˜ao, sp(n; R) ´e o espa¸co das 2n × 2n matrizes reais X tais que J XtJ = X; sp(n; C) ´e o espa¸co das 2n × 2n matrizes complexas X tais que J XtJ = X; e sp(n) = sp(n; C) ∩ u(2n).
7. A ´algebra de Lie do grupo de Heisenberg H.
O grupo de Heisenberg ´e formado pelas matrizes reais 3 × 3 da forma
A = 1 a b 0 1 c 0 0 1 (?),
com a, b e c ∈ R. Lembrando que j´a calculamos a exponencial da matriz
X = 0 α β 0 0 γ 0 0 0 (??),
e vimos que exp (X) ∈ H. Por outro lado, se a matriz X ´e tal que exp (tX) ´e da forma (?), os elementos de X = d dtexp (tX) t=0
que est˜ao na diagonal ou abaixo dela devem ser nulos, e portanto X ´e da forma (??) acima.
Assim a ´algebra de Lie do grupo de Heisenberg ´e o espa¸co das matrizes reais 3 × 3 estritamente triangulares superiores.
8. A ´algebra de Lie dos grupos Euclidiano E(n) e de Poincar´e P(n).
O grupos Euclidiano, E(n), pode ser visto como o grupo das (n + 1) × (n + 1) matrizes reais da forma
x1 R ... xn 0 . . . 0 1
com R ∈ O(n). Se X ´e u’a matriz real (n + 1) × (n + 1) tal que exp (tX) pertence a E(n), para todo t, ent˜ao X = d
dtexp (tX) t=0
deve ter sua ´ultima linha nula:
X = y1 Y ... yn 0 . . . 0 (?).
Nosso objetivo ´e deteminar quais matrizes da forma (?) pertencem `a ´algebra de Lie de E. Um c´alculo simples mostra que, para n ≥ 1,
y1 Y ... yn 0 . . . 0 n = Yn Yn−1y 0 . . . 0 ,
onde y ´e o vetor coluna com elementos y1, . . . , yn. Segue que se X ´e da forma
(?), ent˜ao exp (tX) ´e da forma
exp (tX) = ∗ exp (tY ) ... ∗ 0 . . . 0 1 .
J´a sabemos que exp (tY ) ∈ O(n) para qualquer t se e somente se Yt = −Y . Assim temos que a ´algebra de Lie de E(n) ´e o espa¸co das (n + 1) × (n + 1) matrizes reais da forma (?), com Y satisfazendo Yt= −Y .
Um argumento similar mostra que ´algebra de Lie de P(n) ´e o espa¸co das (n + 2) × (n + 2) matrizes reais da forma
y1 Y ... yn+1 0 . . . 0 com Y ∈ so(n; 1).
Propriedades da ´
Algebra de Lie
Veremos agora algumas propriedades das ´algebras de Lie de grupos de Lie de matrizes. Ao leitor cabe verificar essas propriedades para os exemplos calculados.
Proposi¸c˜ao 3.17 Seja G um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de Lie g e X um elemento de sua ´algebra de Lie. Ent˜ao exp (X) ´e um elemento da componente da identidade de G.
Demonstra¸c˜ao: Pela defini¸c˜ao de ´algebra de Lie, exp (tX) ´e elemento de G para todo t ∈ R. Entretanto, quando t varia de 0 a 1, temos que exp (tX) ´e um caminho cont´ınuo ligando a identidade a exp (X).
Proposi¸c˜ao 3.18 Seja G um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de Lie g. Seja X um elemento de g e A um elemento de G. Ent˜ao AXA−1 ´e um elemento de g.
Demonstra¸c˜ao: Imediato, pois pela proposi¸c˜ao 3.5,
exp t(AXA−1) = A exp (tX) A−1 , e assim A exp (tX) A−1∈ G, para todo t.
Teorema 3.19 Seja G um grupo de Lie de matrizes e g, sua ´algebra de Lie. Sejam X e Y elementos de g. Ent˜ao
1. sX ∈ g, para todo s ∈ R; 2. X + Y ∈ g;
3. XY − Y X ∈ g.
Defini¸c˜ao 3.20 Dadas duas matrizes quadradas A e B o colchete (de Lie) de A e B, denotado por [A, B], ´e definido por
[A, B] = AB − BA .
De acordo com o Teorema 3.19 a ´algebra de Lie ´e fechada para opera¸c˜ao do colchete.
Defini¸c˜ao 3.21 Um grupo de Lie de matrizes G ´e dito complexo se sua ´algebra de Lie, g, ´e um subespa¸co complexo de Mn(C) (ie, se iX ∈ g, para todo X ∈ g).
Por exemplo, GL(n; C), SL(n; C), SO(n; C) e Sp(n; C) s˜ao grupos complexos. Teorema 3.22 Sejam G e H grupos de Lie de matrizes, com respectivas ´algebras de Lie g e h. Seja Φ : G −→ H um homomorfismo de grupos de Lie. Ent˜ao existe uma ´unica aplica¸c˜ao linear real φ : g −→ h tal que
Φ( exp (X)) = exp (φ(X))
para todo X ∈ g. A aplica¸c˜ao φ tem as seguintes propriedades:
1. φ(AXA−1) = Φ(A)φ(X)Φ(A)−1, para todo X ∈ g, todo A ∈ G; 2. φ([X, Y ]) = [φ(X), φ(Y )], para todo X, Y ∈ g;
3. φ(X) = d dtΦ( exp (tX)) t=0 , para todo X ∈ g.
Suponha que G, H e K sejam grupos de Lie de matrizes. Sejam Φ : H −→ K e Ψ : G −→ H homomorfismos de grupos de Lie. Seja Λ : G −→ K a composi¸c˜ao de Φ e Ψ, Λ(A) = Φ(Ψ(A)). Sejam φ, ψ e λ as aplica¸c˜oes de ´algebras de Lie correspondentes. Ent˜ao
λ(X) = φ(ψ(X)) .
Na pr´atica usamos a propriedade 3 para obter φ a partir de Φ; como φ ´e linear, basta comput´a-la numa base de g. Na linguagem das variedades diferenci´aveis, φ ´e a derivada de Φ na identidade (que ´e a defini¸c˜ao usual de φ). Uma aplica¸c˜ao linear satisfazendo a propriedade 2 ´e um homomorfismo de ´algebras de Lie.
Vamos `a demonstra¸c˜ao de 3.22:
Demonstra¸c˜ao: Similar `a demonstra¸c˜ao do teorema 3.19. Como Φ ´e um homo-morfismo de grupos cont´ınuo, Φ( exp (tX)) ´e um subgrupo a um parˆametro de H. Assim, pelo teorema 3.15, existe uma ´unica matriz Z tal que
Φ( exp (tX)) = exp (tZ)
para todo t ∈ R. Esta matriz Z deve pertencer a h uma vez que exp (tZ) = Φ( exp (tX)) ∈ H. Definimos φ(X) = Z e verificamos que φ satisfaz as pro-priedades requeridas. A demonstra¸c˜ao ´e feita em v´arios passos e aqui somente os enumeraremos (para maiores detalhes ver [10, p.46-47]).
Passo 1 Φ( exp (X)) = exp (φ(X)).
Passo 2 φ(sX) = sφ(X), para todo s ∈ R. Passo 3 φ(X + Y ) = φ(X) + φ(Y ).
Passo 4 φ(AXA−1) = Φ(A)φ(X)Φ(A)−1. Passo 5 φ([X, Y ]) = [φ(X), φ(Y )]. Passo 6 φ(X) = d dtΦ( exp (tX)) t=0 .
Passo 7 φ ´e a ´unica aplica¸c˜ao linear real tal que Φ( exp (X)) = exp (φ(X)).
Passo 8 λ = φ ◦ ψ.
Defini¸c˜ao 3.23 (A Aplica¸c˜ao Adjunta) Seja G um grupo de Lie de ma-trizes e g sua ´algebra de Lie. Para cada A ∈ G, definimos um aplica¸c˜ao linear AdA: g −→ g pela f´ormula
AdA(X) = AXA−1 .
Proposi¸c˜ao 3.24 Seja G um grupo de Lie de matrizes e g sua ´algebra de Lie. Seja GL(g) o grupo das transforma¸c˜oes lineares invert´ıveis de g. Ent˜ao, para cada A ∈ G, temos que AdA ´e uma transforma¸c˜ao linear invert´ıvel de g, com inversa
AdA−1, e a aplica¸c˜ao A 7→ AdA ´e um homomorfismo de grupo de G em GL(g).
Al´em disso, para cada A ∈ G, AdA satisfaz
AdA([X, Y ]) = [AdA(X), AdA(Y )]
para todo X, Y ∈ g.
Demonstra¸c˜ao: A proposi¸c˜ao 3.18 garante que AdA(X) ´e elemento de g, para
todo X ∈ g.
Como g ´e um espa¸co vetorial real com dimens˜ao k, para algum k inteiro positivo, o grupo GL(g) ´e essencialmente o mesmo que GL(k; R). Assim vamos olhar para GL(g) como um grupo de Lie de matrizes. ´E f´acil ver que Ad : G −→ GL(g) ´e cont´ınua e portanto ´e um homomorfismo de grupos de Lie. Pelo teorema 3.22, existe uma aplica¸c˜ao linear associada X 7→ adX da ´algebra de Lie de G a ´algebra
de Lie de GL(g) (ie, de g em gl(g)), com a propriedade
exp (adX) = Adexp(X) .
Observe que gl(g) ´e a ´algebra de Lie de GL(g), ou seja, o espa¸co de todas as aplica¸c˜oes lineares de g em g.
Proposi¸c˜ao 3.25 Seja G um grupo de Lie de matrizes, g sua ´algebra de Lie e seja Ad : G −→ GL(g) o homomorfismo de grupos de Lie definido acima. Seja ad : g −→ gl(g) aplica¸c˜ao da ´algebra de Lie associada. Ent˜ao para todo X, Y ∈ g temos
adX(Y ) = [X, Y ] .
Demonstra¸c˜ao: Pelo 3o´ıtem do teorema 3.22,
adX = d dtAdexp(tX) t=0 . Portanto, adX(Y ) = d dtAdexp(tX)(Y ) t=0 = d dt exp (tX) Y exp (−tX) t=0 = [X, Y ] .
A Aplica¸
c˜
ao Exponencial
Defini¸c˜ao 3.26 Se G ´e um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de Lie g, ent˜ao a aplica¸c˜ao exponencial de G ´e
exp : g −→ G .
Ou seja, a aplica¸c˜ao exponencial de G ´e a exponencial de matrizes restrita `a ´
algebra de Lie g de G.
Teorema 3.27 Dado 0 < ε < ln 2, seja Uε = {X ∈ Mn(C) | kXk < ε} e seja
Vε = exp (U ε). Seja G ⊂ GL(n; C) um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de
Lie g. Ent˜ao existe ε ∈]0, ln 2[ tal que para todo A ∈ Vε, temos que A ∈ G se e
s´o se log A ∈ g.
Demonstra¸c˜ao: Ver [10, p.49-50].
Corol´ario 3.28 Se G ´e um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de Lie g, existe uma vizinhan¸ca U de 0 em g e uma vizinhan¸ca V de I em G tal que a aplica¸c˜ao exponencial leva U homeomorficamente sobre V .
Demonstra¸c˜ao: Seja ε para o qual as condi¸c˜oes do teorema 3.27 est˜ao satisfeitas. Tome U = Uε∩ g e V = Vε∩ U . O teorema garante que exp leva U sobre V .
Al´em disso, exp ´e um homeomorfismo de U sobre V , uma vez que existe uma aplica¸c˜ao inversa cont´ınua, a restri¸c˜ao do logaritmo de matrizes `a V .
Defini¸c˜ao 3.29 Se U e V s˜ao como no corol´ario 3.28, ent˜ao a aplica¸c˜ao inversa exp−1: V −→ g ´e chamada de logaritmo de G.
Corol´ario 3.30 Se G ´e um grupo de Lie de matrizes conexo, ent˜ao todo elemento A de G pode ser escrito na forma
A = exp (X1) exp (X2) . . . exp (Xm) ,
onde X1, X2, . . . , Xm ∈ g.
Demonstra¸c˜ao: Como G ´e conexo, existe um caminho cont´ınuo A(t) em G com A(0) = I e A(1) = A. Seja V uma vizinhan¸ca de I em G como no corol´ario 3.28, de forma que todo elemento de V ´e a exponencial de um elemento de g. Um argumento comum usando a compacidade do intervalo [0, 1] prova que existe uma seq¨uˆencia de n´umeros t0, . . . , tm com 0 = t0 < t1 < · · · < tm = 1 tal que
A−1t
k−1Atk ∈ V
para todo k = 1, . . . , m. Ent˜ao,
A = (A−1t 0 At1)(A −1 t1 At2) . . . (A −1 tm−1Atm) .
Se escolhermos Xk ∈ g tal que exp (Xk) = A−1tk−1Atk para k = 1, . . . , m, temos
que
A = exp (X1) exp (X2) . . . exp (Xm) .
Corol´ario 3.31 Suponha que G e H s˜ao grupos de Lie de matrizes, com G conexo, e que Φ1 e Φ2 s˜ao homomorfismos de grupos de Lie de G em H.
Se-jam φ1 e φ2 os respectivos homomorfismos das ´algebras de Lie associadas. Se
φ1 = φ2 ent˜ao Φ1 = Φ2.
Demonstra¸c˜ao: Seja g um elemento qualquer de G. Como G ´e conexo, pelo corol´ario 3.30 podemos escrever g como g = exp (X1) exp (X2) . . . exp (Xn), com
Xi ∈ g. Ent˜ao,
Φ1(g) = Φ1( exp (X1))Φ1( exp (X2)) . . . Φ1( exp (Xn))
= exp (φ1(X1)) exp (φ1(X2)) . . . exp (φ1(Xn))
= exp (φ2(X1)) exp (φ2(X2)) . . . exp (φ2(Xn))
= Φ2( exp (X1))Φ2( exp (X2)) . . . Φ2( exp (Xn))
= Φ2(g)
.
Como uma conseq¨uˆencia do teorema 3.27 obtemos os resultados a seguir.
Corol´ario 3.32 Todo grupo de Lie de matrizes G ´e uma subvariedade lisa mer-gulhada de Mn(C); e portanto, um grupo de Lie.
Demonstra¸c˜ao: Seja ε ∈]0, ln 2[ tal que as condi¸c˜oes do teorema 3.27 est˜ao satisfeitas. Ent˜ao, para qualquer A0 ∈ G, tome a vizinhan¸ca A0Vε de A0 em
Mn(C). Observe que A ∈ A0Vεse e somente se A−10 A ∈ Vε. Definimos um sistema
local de coordenadas em A0Vε escrevendo cada A ∈ A0Vε como A = A0exp (X),
para X ∈ Uε ⊂ Mn(C). Segue do teorema 3.27 que (para A ∈ A0Vε) A ∈ G
se e somente se X ∈ g. Isto quer dizer que, neste sistema local de coordenadas definido numa vizinhan¸ca de A0, G se parece com o subespa¸co g de Mn(C). Uma
vez que ´e poss´ıvel achar um tal sistema local de coordenadas para qualquer ponto A0 de G, temos que G ´e uma subvariedade mergulhada de Mn(C). Portanto, G
´e um grupo de Lie na defini¸c˜ao usual.
O corol´ario 3.32 mostra que um grupo de Lie de matrizes G ´e necessariamente um espa¸co localmente conexo por caminhos; o que implica que G ´e conexo se e somente se G ´e conexo por caminhos. Assim, a defini¸c˜ao de conexidade adotada ´e equivalente `a usual.
Corol´ario 3.33 Sejam G e H dois grupos de Lie de matrizes e seja Φ um ho-momorfismo de grupos de G em H. Se Φ ´e cont´ınuo, ele ´e liso (C∞).
Demonstra¸c˜ao: Dada A ∈ G, escrevemos B ∈ G os elementos pr´oximos de A (demonstra¸c˜ao do corol´ario 3.32) como B = A exp (X), para X ∈ g. Ent˜ao,
Φ(B) = Φ(A)Φ( exp (X)) = Φ(A) exp (φ(X)) .
Isto quer dizer que, em coordenadas exponenciais numa vizinhan¸ca de A, o ho-momorfismo Φ ´e a composi¸c˜ao da aplica¸c˜ao linear φ, da aplica¸c˜ao exponencial e da multiplica¸c˜ao (`a esquerda) por Φ(A), todas aplica¸c˜oes lisas.
O que segue ´e prova de que a nossa defini¸c˜ao satisfaz a descri¸c˜ao usual da ´algebra de Lie associada `a um grupo de Lie.
Corol´ario 3.34 Suponha que G ⊂ GL(n; C) ´e um grupo de Lie de matrizes com ´
algebra de Lie g. Ent˜ao uma matriz X ∈ g se e somente se existe uma curva lisa γ em Mn(C) tal que
1. γ(t) ∈ G, para todo t (ie, a imagem de γ est´a contida em G);
2. γ(0) = I; 3. dγ dt t=0 = X.
´
Algebras de Lie
Proposi¸c˜ao 3.35 A ´algebra de Lie g de um grupo de Lie de matrizes G ´e uma ´
algebra de Lie sobre R.
Demonstra¸c˜ao: Pelo teorema 3.19, g ´e uma sub´algebra real do espa¸co das ma-trizes quadradas complexas Mn(C) e ´e, portanto, uma ´algebra de Lie sobre R.
4
A F´
ormula de Baker-Campbell-Hausdorff
A F´
ormula de Baker-Campbell-Hausdorff para o Grupo de
Heisenberg
Teorema 4.1 Sejam X e Y matrizes quadradas complexas e que X e Y comutam com seu comutador. Isto ´e,
[X, [X, Y ]] = [Y, [X, Y ]] .
Ent˜ao,
exp (X) exp (Y ) = exp
X + Y + 1 2[X, Y ]
Teorema 4.2 Seja H o grupo de Heisenberg e h sua ´algebra de Lie. Seja G um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de Lie g e seja φ : h −→ g um homomor-fismo de ´algebras de Lie. Ent˜ao existe um ´unico homomorfismo de grupos de Lie Φ : G −→ H tal que
Φ( exp (X)) = exp (φ(X)) para todo X ∈ h.
A F´
ormula de Baker-Campbell-Hausdorff Geral
Considere a fun¸c˜ao
g(z) = log z 1 − 1z .
Ela est´a definida e ´e anal´ıtica no disco {|z − 1| < 1} e portanto para z neste conjunto, g(z) pode ser descrito como
g(z) =
∞
X
m=0
am(z − 1)m ,
para o conjunto de coeficientes {am} adequado. Esta s´erie tem raio de
con-vergˆencia 1.
Seja V um espa¸co vetorial complexo de dimens˜ao finita. Escolhemos uma base arbitr´aria para V , de forma que possa ser identificado com Cn, e assim podemos definir a norma de um operador linear em V . Ent˜ao, para qualquer operador A em V com kA − Ik < 1 definimos g(A) = ∞ X m=0 am(A − I)m .
Teorema 4.3 Para matrizes quadradas complexas X e Y , com kXk e kY k sufi-cientemente pequena temos
X + Z 1
0
g( exp (adX) exp (tadY))(Y ) dt .
Corol´ario 4.4 Seja G um grupo de Lie e g sua ´algebra de Lie. Seja φ : g −→ gl(n; C) um homomorfismo de ´algebras de Lie. Ent˜ao, para X e Y em g, sufi-cientemente pequenos, temos que log( exp (X) exp (Y )) pertence a g e
φ(log( exp (X) exp (Y ))) = log( exp (φ(X)) exp (φ(Y ))) .
A Derivada da Aplica¸
c˜
ao Exponencial
Teorema 4.5 (A Derivada da Exponencial) Sejam X e Y matrizes com-plexas quadradas. Ent˜ao
d dtexp (X + tY ) t=0
= exp (X) I − exp (−adX) adX (Y ) = exp (X) Y − [X, Y ] 2! + [X, [X, Y ]] 3! − . . . .
Homomorfismos de Grupos de Lie e de ´
Algebras de Lie
Teorema 4.6 Sejam G e H grupos de Lie de matrizes com respectivas ´algebras de Lie g e h. Seja Φ : g −→ h um homomorfismo de ´algebras de Lie. Se G ´e simplesmente conexo, ent˜ao existe um ´unico homomorfismo de grupos de Lie Φ : G −→ H tal que Φ( exp (X)) = exp (φ(X)), para todo X ∈ g.
Corol´ario 4.7 Sejam G e H grupos de Lie de matrizes, simplesmente conexos, com respectivas ´algebras de Lie g e h. Se g ´e isomorfo a h ent˜ao G ´e isomorfo a H.
Subgrupos e Sub´
algebras
Teorema 4.8 Seja G um grupo de Lie de matrizes com ´algebra de Lie g. Seja h uma sub´algebra de Lie de g. Ent˜ao existe um ´unico subgrupo de Lie conexo, H, de G tal que a ´algebra de Lie de H ´e h. O subgrupo H ´e formado por elementos da forma
exp (X1) exp (X2) . . . exp (Xm)
5
Aplica¸
c˜
oes
5.1
Ref. [2]: The Structure of Solvmanifolds
Neste artigo Louis Auslander exp˜oe a teoria moderna das solv-variedades, ini-ciando pelas nilvariedades, o objetivo de nossas aplica¸c˜oes.
Teoria Abeliana
No primeiro cap´ıtulo ele comenta a teoria abeliana, olhando seus diversos aspec-tos: geral, racional e compacto. Definindo Ah(Φ) = envolt´orio convexo (alg´ebrico)
gerado por Φ = subgrupo de G ⊂ GL(n; R), como a intersec¸c˜ao de todos os sub-grupos (alg´ebricos) de GL(n; R) que cont´em Φ, ele comenta a estrutura de Rn/H,
onde R ´e visto como um grupo de Lie abeliano, conexo e simplesmente conexo, e identificando Rn com o grupo alg´ebrico da forma
1 0 x1 1 x2 . .. ... 0 1 xn 1
temos como conseq¨uˆencia que os subgrupos alg´ebricos de Rn s˜ao exatamente os subespa¸cos lineares de Rn.
Teoria geral: Seja H0 a componente da identidade de H e Ah(H) o “convex
hull” alg´ebrico de H. Temos que H0 ´e subgrupo normal de Ah(H) e Ah(H)/H
´e grupo abeliano compacto cujo grupo fundamental ´e H/H0. Al´em disso, como
Rn = V ⊕ Ah(H), onde V ´e um subespa¸co vetorial, Rn/H ≈ V × Ah(H)/H ≈
V × T , onde T ´e o toro Ah(H)/H. Portanto Rn/H ´e compacto se e somente se
Rn= Ah(H).
Teoria racional: Seja e1, . . . , en uma base para Rn e seja Qn ⊂ Rn o
sub-grupo das combina¸cˆoes lineares racionais desta base. Chamamos Qn de forma
racional de Rn. Seja G um subgrupo de Qn. Sabemos que G ´e subgrupo discreto
de Rn se e somente se G ´e finitamente gerado. Seja π um subgrupo finitamente gerado de Qn e seja A
h(π, Q) o subespa¸co racional de Qngerado por π, ou
equiva-lentemente o conjunto dos pontos racionais de Ah(π) ⊂ Rn. Seja W um subespa¸co
racional de Qn. Ent˜ao
Ah(π ∩ W, Q) = Ah(π, Q) ∩ W .
Teoria compacta: Seja π ⊂ Rm um subgrupo discreto de Rm (ou
equiva-lentemente, um subgrupo finitamente gerado da forma racional de Rm) tal que
Ah(π) = Rm. Seja π1 ⊂ Rn um subgrupo discreto de Rn tal que Ah(π) = Rn
Se ψ : π → π1 ´e um isomorfismo, ent˜ao ψ pode ser estendido a um isomorfismo
ψ∗: Rm → Rn. Portanto n = m e ψ∗
induz um difeomorfismo entre Rn/π e
Grupos de Lie Nilpotentes e Nilvariedades
No segundo cap´ıtulo, temos a defini¸c˜ao das nilvariedades. Na teoria cl´assica, um grupo de Lie N , conexo e simplesmente conexo ´e nilpotente se a sua ´algebra de Lie ´e nilpotente. Em seguida mostra-se que isso equivale a pedir que N seja nilpotente como um grupo abstrato, ie que sua s´erie central inferior seja finita. (A s´erie central inferior ´e uma seq¨uˆencia de grupos Gk definidos indutivamente por
G1 = G e Gk = [Gk−1, G], onde [H, K] ´e o grupo gerado por todos os elementos
da forma khk−1h−1 onde h ∈ H e k ∈ K. A s´erie central inferior ´e finita se existe k finito tal que Gk = e, onde e ´e o elemento identidade de G.)
Similar ao que vimos no primeiro cap´ıtulo, qualquer grupo de Lie nilpotente, conexo e simplesmente conexo, N , ´e isomorfo ao grupo das matrizes triangulares superiores unipotentes (a matriz A ´e unipotente, se A − I ´e nilpotente), aqui denotadas por U (m) (cuidado para n˜ao confundir com o grupo de Lie das matrizes unit´arias U(m)),
U (m) = 1 ∗ 1 . .. 0 1
´e um subgrupo de GL(m; R) e qualquer subgrupo conexo de U (m) ´e um grupo alg´ebrico. Mas o que, de fato, marca a similaridade ´e que os subgrupos alg´ebricos de N que s˜ao mergulhados em U (m) s˜ao exatamente os subgrupos conexos de N . Assim, se H ´e subgrupo de N , tomamos o envolt´orio convexo (alg´ebrico), Ah(H),
de H em N (o menor subgrupo conexo de N que cont´em H).
Nossa habilidade de representar fielmente N em U (m) nos permite encontrar um sistema de coordenadas X = (x1, . . . , xn) global (v´alido em todo N ) de forma
que a multiplica¸c˜ao em N seja dada por
X.Y = (x1, . . . , xn)(y1, . . . , yn) = (p1(X, Y ), . . . , pn(X, Y )) (∗)
onde pi s˜ao polinˆomios em 2n vari´aveis. A rec´ıproca tamb´em ´e verdadeira: Se N
´e um grupo com coordenadas X = (x1, . . . , xn) cuja lei de composi¸c˜ao satisfaz a
equa¸c˜ao (∗), ent˜ao N ´e um grupo de Lie nilpotente. Assim, vamos adotar que, ao trabalhar com grupos de Lie nilpotentes, ou N ´e alg´ebrico ou sua multiplica¸c˜ao ´e polinomial.
Diremos que um corpo F ´e um corpo de defini¸c˜ao para o grupo de Lie nilpotente N , se existe uma lei de composi¸c˜ao polinomial em N com coeficientes em F ou se N pode ser representado como um grupo alg´ebrico tendo F como corpo de defini¸c˜ao. Um grupo de Lie nilpotente definido sobre o corpo dos racionais ´e um grupo de Lie nilpotente racional.
Teoria nilpotente geral: Seja H um subgrupo fechado do grupo de Lie nilpotente N e seja H0 a componente da identidade de H. Denotando por Ah(H)
o envolt´orio convexo (alg´ebrico) de H em N e se Ah(H) 6= N ve-se que N/Ah(H)
´e topologicamente um espa¸co vetorial V e que N/H ≈ V × Ah(H)/H, onde ≈
Se H ⊂ N e Ah(H) = N , ent˜ao H0´e um subgrupo normal de N , pois H0´e normal
em H e N ´e o envolt´orio convexo (alg´ebrico) de H. Assim, podemos formar o grupo de Lie nilpotente M = N/H0 e considerar H/H0 como um subgrupo
discreto π de M . Temos que Ah(π) = M . Da teoria dos grupos alg´ebricos temos
que
Ah([π, π]) = [Ah(π), Ah(π)] = [M, M ] .
Um argumento de indu¸c˜ao nos permite concluir que M/π ≈ N/H ´e compacto. Temos que: Se H ´e um subgrupo fechado do grupo de Lie nilpotente N ent˜ao N/H ´e compacto se e somente se Ah(H) = N .
Chamamos o espa¸co homogˆeneo de um grupo de Lie nilpotente uma nilvar-iedade. E os resultados desta sec¸c˜ao podem ser resumidos como: Uma nilvar-iedade ´e o produto cartesiano de um espa¸co vetorial e de uma variedade compacta. Grupos de Lie nilpotentes racionais: Seja N um grupo de Lie nilpotente e X = (x1, . . . , xn) um sistema de coordenadas em N tal que a multiplica¸c˜ao ´e
definida por polinˆomios com coeficientes no corpo dos racionais Q. Seja NQ(X) os pontos racionais de N relativos ao sistema X. Seja Y = (y1, . . . , yn) um
outro sistema de coordenadas em N tal que a multiplica¸c˜ao em N ´e definida por polinˆomios com coeficientes no corpo dos racionais Q. Seja NQ(Y ) os pontos racionais de N relativos ao sistema Y . Temos que NQ(X) e NQ(Y ) n˜ao ser˜ao necessariamente isomorfos. Chamamos NQ(X) uma forma racional de N . No que segue, trabalharemos com uma forma racional fixada e denotada simplesmente por NQ. (Nem todo grupo de Lie nilpotente tem uma forma racional veja [14]) Um resultado interessante da teoria ´e: Seja N um grupo de Lie nilpotente e NQ uma forma racional de N . Seja π um subgrupo de NQ. Ent˜ao π ´e discreto se e somente se for finitamente gerado. O que nos leva a um dos resultados fundamentais de existˆencia: Seja N um grupo de Lie nilpotente e NQ uma forma racional de N . Ent˜ao existe π ⊂ NQ tal que π ´e subgrupo discreto de N e N/π ´e compacto.
Nilvariedades compactas: Seja π um subgrupo discreto de um grupo de Lie nilpotente N tal que π ´e cocompacto em N , ou equivalentemente, N/π ´e compacto. Ent˜ao π determina N de maneira ´unica. De maneira mais precisa: Sejam πi ⊂ Ni, i = 1, 2, subgrupos discretos cocompactos dos grupos de Lie
nilpotentes Ni, i = 1, 2. Seja
α : π1 −→ π2
um isomorfismo. Ent˜ao α se estende de maneira ´unica a um isomorfismo
α∗: N1 −→ N2 .
A demonstra¸c˜ao deste fato ´e feita por indu¸c˜ao na dimens˜ao de N1.
O argumento de indu¸c˜ao na dimens˜ao ´e novamente utilizado para demonstrar que: Seja N um grupo nilpotente e π ⊂ N um subgrupo discreto e cocompacto. Ent˜ao existe uma forma racional NQ tal que π ⊂ NQ.
Novamento usamos um argumento de indu¸c˜ao para provar que: Se π ´e um grupo nilpotente, livre de tor¸c˜ao, finitamente gerado ent˜ao existe um grupo de Lie nilpo-tente N tal que π ⊂ N e N/π e compacto. A base desta demonstra¸c˜ao ´e um fato
da teoria dos grupos: um tal grupo π tem uma representa¸c˜ao como produto semidireto da forma π = Z n π∗, onde π∗ ´e novamente um grupo nilpotente, livre de tor¸c˜ao, finitamente gerado.
Esses resultados s˜ao finalmente utilizados para demonstrar o resultado principal: Sejam N1 e N2 nilvariedades compactas com grupo fundamental π1,
respectiva-mente π2. Se π1 ´e isomorfo a π2 ent˜ao N1 e N2 s˜ao difeomorfas.
Nos limitaremos a comentar esses cap´ıtulos do artigo; mas quem se interes-sar pela teoria das solv-variedades, tem neste e na sua seq¨uˆencia [3] uma fonte importante de informa¸c˜oes.
Observa¸c˜ao:
O livro da Encyclopaedia of Mathematical Sciences devotado `a teoria dos grupos de Lie (ver [16]) d´a uma vis˜ao mais moderna dessa aplica¸c˜ao, com linguagem mais atual; afinal, 20 anos separam esses dois trabalhos. No entanto, o trabalho de Auslander ´e um cl´assico na teoria, e tem o m´erito de examinar completa-mente a estrutura das nilvariedades, e das solv-variedades, focalizando inclusive nos seus aspectos dinˆamicos. Do nosso ponto de vista, ´e costumeiro tratar as nilvariedades (respectivamente, as solv-variedades) como espa¸cos homogˆeneos de grupos de Lie nilpotentes (respectivamente, sol´uveis). Numa linguagem mais simples, teorema 1.1 de [16, p.161], descreve as nilvariedades: Uma nilvariedade arbitr´aria M ´e difeomorfa ao produto M∗ × Rn, onde n ≥ 0 e M∗ ´e uma
nilvar-iedade compacta. Prossegue comentando a estrutura das nilvarnilvar-iedades compactas, primeiro de forma alg´ebrica; e depois, com a estrutura de fibrado principal, tendo o toro como fibra (esse ´e o ponto de vista utilizado nos trabalhos que se seguem).
5.2
Ref. [4]: Nielsen Numbers of Maps of Tori
Neste artigo os autores provam que a rela¸c˜ao entre os n´umeros de Nielsen e de Lefschetz para as auto-aplica¸c˜oes dos toros ´e significativa: o n´umero de Lefschetz n˜ao somente informa a existˆencia de pontos fixos, mas como ele ´e igual ao n´umero de Nielsen, informa tamb´em a quantidade de tais pontos. Isto ´e, N(f ) = |L(f )|. Nenhum outro grupo de Lie compacto, conexo tem essa propriedade. O fato de termos uma nilvariedade compacta ´e fator determinante para esse resultado. Isto fica claro quando os autores provam que: Se G ´e um grupo de Lie compacto e conexo tal que N(f ) = |L(f )| para todas as auto-aplica¸c˜oes f : G → G ent˜ao G ´e um toro. Um outro resultado interessante para uma auto-aplica¸c˜ao de um grupo de Lie compacto que preserva fibras, usando a decomposi¸c˜ao pelo subgrupo toroidal, ´e o corol´ario que vem em seguida, pois faz uso da estrutura de fibrado principal das nilvariedades.
5.3
Ref. [9]: On a Theorem of Anosov on Nielsen
Num-bers for Nilmanifolds
Anosov, em seu artigo [1] que d´a nome a esta subsec¸c˜ao, prova que as auto-aplica¸c˜oes de nilvariedades tˆem o n´umero de Nielsen igual, a menos de sinal, ao n´umero de Lefschetz. Como j´a vimos, na sec¸c˜ao anterior, esse resultado ´e v´alido para os toros. Na verdade, a propriedade utilizada era o fato de eles serem nilvariedades e n˜ao somente grupos de Lie compactos. (O teorema n˜ao se estende para infra-nilvariedades, como por exemplo a garrafa de Klein, ver [1]). Enquanto Anosov prova este fato usando fortemente a teoria de sistemas dinˆamicos (da teoria de Nielsen ele apenas faz uso da defini¸c˜ao de n´umero de Nielsen e sua invariˆancia homot´opica), Fadell e Husseini fazem uso massivo da Teoria de Nilsen para conseguir tal resultado. Simplificando um pouco o enunciado, o resultado provado por Fadell-Husseini ´e: Qualquer auto-aplica¸c˜ao g : M → M , onde M ´e uma nilvariedade satisfaz N(g) = |L(g)|.
5.4
Ref. [8]: Two Vignettes in Fixed Point Theory
1. Espa¸cos com a propriedade do ponto fixo e os teoremas de Borsuk-Ulam
As similaridades entre esses dois assuntos n˜ao s˜ao apenas o uso de t´ecnicas e estrat´egias semelhantes. Neste artigo vemos que eles est˜ao intimamente ligados no contexto dos espa¸cos homogˆeneos.
Seja M = G/K um espa¸co homogˆeneo, onde G ´e um grupo de Lie compacto e conexo, e K ⊂ G um subgrupo fechado. As t´ecnicas utilizadas envolvem o uso de fibrado principal com fibra K. O autor trabalha com as seguintes defini¸c˜oes: Propriedade Borsuk-Ulam: Se ϕ : G −→ M ´e qualquer K-aplica¸c˜ao, ent˜ao Z = ϕ−1(x0) ´e n˜ao vazio. (Observe que Z ´e o conjunto das ra´ızes de ϕ.)
e
Propriedade do Ponto Fixo: Se f : M −→ M ´e uma aplica¸c˜ao qualquer, ent˜ao Fix f = {x | f (x) = x} ´e n˜ao vazio.
O teorema principal nesta sec¸c˜ao, teorema 1.1, mostra que ´e poss´ıvel relacionar um problema de ponto fixo a um de ra´ızes, e vice-versa: M tem a propriedade Borsuk-Ulam se, e somente se, M tem a propriedade do Ponto Fixo. Como conseq¨uˆencia, obtemos uma condi¸c˜ao para que M admita uma aplica¸c˜ao livre de pontos fixos: o grupo N (K)/K deve ser n˜ao-trivial.
2. F´ormula universal para n´umeros de Lefschetz relativos
Dada uma auto-aplica¸c˜ao f : M −→ M , Fadell prova que o n´umero de Lefschetz da auto-aplica¸c˜ao (fn, fn
∆) do par (M
n, ∆), onde Mn ´e o produto cartesiano de
n c´opias de M e ∆ ´e a diagonal “gorda”, ´e um polinˆomio de grau n com ra´ızes 0, 1, 2, . . . , n − 1, calculado em L(f ).