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I- INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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As novas funções das cidades do agronegócio da BR-163 mato-grossense: a cadeia de carnes em Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso

Israella Pires Alves Gabrig - UFRJ i.gabrig@hotmail.com

I- INTRODUÇÃO

Em 1970 ocorre o surgimento de um novo período marcado pela forte união da técnica com a ciência e a informação, denominado por Milton Santos (2009) de terceiro período, ou de “Meio técnico- científico- informacional”. De acordo com SANTOS (2009), “da mesma forma como participam da criação de novos processos vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu substrato.” (SANTOS, 2009:238) Nesse contexto, onde o homem se torna menos dependente do meio natural, onde torna-se possível “inventar a natureza”, uma nova fronteira agrícola começa a surgir: a produção de grãos da região sul migra-se para o Centro-Oeste.

Deve-se esclarecer que as características físicas do cerrado eram consideradas desfavoráveis ao cultivo de grãos, devido ao clima quente e seco e solos ácidos. Entretanto, tais dificuldades foram ultrapassadas com o uso de técnicas, a topografia plana e passou a ser reconhecida como fundamental, bem como a possibilidade de amplas escalas de produção em terras mais baratas.

O Mato Grosso é um dos estados da região que mais vêm se destacando nesse tipo de atividade, alcançando uma produtividade de grãos nunca vista antes, sendo hoje um estado reconhecido como grande produtor agrícola e competidor no mercado internacional (em termos de produção). Ao observar os últimos dados concedidos pelo IBGE, é possível afirmar que a quantidade produzida de soja no ano de 2012 no Mato Grosso é superior à os outros Estados, chegando a assumir 33% de a produção total do Brasil, com um total de 21.841.292 toneladas. Segue o Estado do Paraná em segundo

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maior produtor, detendo 17% da produção total, em terceiro temos Goiás atingindo 13%.

Porém, em 2005 após sofrerem uma crise no mercado das commodities, que gerou aumento dos insumos e de máquinas agrícolas, os empresários do ramo viram que era preciso diversificar a produção, que por sua vez estava voltada apenas paras os grãos. Nesse sentindo, a solução encontrada foi a implantação das cadeias agroindústrias de carnes (aves e suínos) com alto padrão técnico, que estariam organizadas e integradas com a grande produção de grãos que, por sua vez, também seriam industrializados e transformados em ração para os animais, constituindo assim, a cadeia carne/grãos.

A partir desse momento, empresas do ramo de carnes começaram a se instalar na região, com destaque para a Anhambi em Sorriso no ano de 2002, para a Perdigão em 2006, que escolheu Nova Mutum (MT) para sediar uma de suas unidades, e para Sadia, que se instalou em 2008, em Lucas do Rio Verde (MT). Os municípios ao receberem a instalação das indústrias de carnes passam por um processo intenso de reorganização de sua área urbana, constituindo exemplos de cidades que possuem suas funções e serviços voltados para atender as necessidades de desenvolvimento do agronegócio, assentadas na cadeia carne/grãos.

Nesse sentido, o objeto de estudo desta pesquisa são as cidades do agronegócio da BR-163, onde se pretende analisar as principais características que transformam as cidades estudadas (Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso) em espaços funcionais, verificar de que maneira ocorre a reestruturação do urbano ao receberem a cadeia de carnes e como isto será refletido no espaço material e social, e por fim, analisar as novas relações campo/cidades.

Para dar conta desta proposta serão trabalhados dados primários e dados secundários transformando-os em tabelas, mapas temáticos e gráficos, também será levantado um breve histórico dos municípios destacados, bem como a literatura de conceitos-chaves, como o de: função, cidades do agronegócio, circuitos espaciais da

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produção e círculos de cooperação. Também serão trabalhados dados primários e dados secundários.

O presente trabalho faz parte da monografia “AS CIDADES DO AGRONEGÓCIO E A CADEIA DE CARNES: a refuncionalização ocorrida em Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso” defendida no ano de 2013 e que está sendo incorporada e seguindo novos rumos no projeto de pesquisa de mestrado do curso de Pós Graduação em Geografia da UFRJ.

II- ABORDAGEM TEÓRICA

Daremos inicio à abordagem teórica com o primeiro conceito chave deste estudo: função, conceito desenvolvido por Milton Santos e por Joan- Eugeni Sánchez, contudo, com contribuições diferenciadas que se complementam.

Milton Santos (1996), para analisar o espaço geográfico e sua organização, desenvolve quatro categorias de análise: forma, função, estrutura e processo. A forma é a materialidade, o aspecto visível e exterior de um objeto de estudo e se relaciona diretamente com a função, pois esta “(...) está diretamente relacionada com sua forma; portanto, a função é a atividade elementar de que a forma se reveste” (SANTOS, 1996: 51), ou seja, a função é responsável por dar vida à forma, ela é o papel que a forma desempenha, implicando em uma tarefa.

A estrutura é aquela que gera a inter-relação de todas as partes de um todo, é o modo de como os elementos estão organizados e interligados a partir de uma matriz social, é onde as formas e funções são criadas. Sem a estrutura não entenderíamos a origem de como e em que contexto surge o objeto de estudo. Para finalizar, o processo se define como ‘estrutura em movimento’, ou seja, uma ação continua que visa um objetivo qualquer, agrega conceitos de tempo (continuidade) e mudança. Apesar da forma e da função serem conceitos indissociáveis, devemos pensar nessas quatro

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categorias de forma integrada para uma análise coerente do espaço geográfico e sua organização.

É nesse sentido que dizemos que as cidades em estudo constituíam antes da cadeia de carnes uma forma que desencadeava uma função especifica. Após a instalação da cadeia de carnes ocorre uma série de mudanças nas formas já existentes, onde algumas precisaram se reestruturar diante das novas exigências, e outras formas são adicionadas ao espaço urbano, gerando uma série de transformações significativas que serão avaliadas no decorrer do trabalho.

Uma única unidade espacial pode assumir diversas funções, e isso está diretamente ligado a quem se apropria deste espaço e seus interesses (SÁNCHEZ,1991), e o uso do espaço exige sua apropriação e domínio sobre a natureza e os homens, e cada forma de apropriação reflete um modo de produção que implica um nível de relações sociais de produção (BERNARDES, 2011). Dessa forma, tornar um espaço funcional, na visão de Sánchez (1991), passa pelas adequações à sua nova função, o que constituirá uma nova forma de produção desse espaço, significando que o modo de produção deverá moldá-lo conforme seus interesses.

Denise Elias (2006), definindo o que é uma cidade do agronegócio, também fala sobre funções: “Se a cidade é a materialização da condição geral de reprodução do capital, a cidade do agronegócio é aquela cujas funções de atendimento às demandas do agronegócio são hegemônicas sobre as demais funções” (ELIAS, 2006:16-17), ou seja, são cidades que possuem como função principal sustentar a atividade ali vigente, o agronegócio.

Na lógica do agronegócio, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso, possuem cidades hierarquizadas, com funções individuais, mas que também se articulam entre si, na medida em que possuem circuitos espaciais de produção e círculos de cooperação vinculados às mesmas produções (CASTILLO, FREDERICO, 2010). Sabendo-se que o circuito espacial de produção “(...) pressupõe a circulação de matéria (fluxos materiais) no encadeamento das instâncias geograficamente separadas da

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produção, distribuição, troca e consumo, de um determinado produto, num movimento permanente” (CASTILLO, FREDERICO, 2010: 464), é preciso fazer duas ressalvas: a primeira é que cada município destacado possui o seu próprio circuito espacial da produção e, a segunda, refere-se às etapas dos circuitos, onde as cidades participam apenas da produção e parte da distribuição, a troca e o consumo vão além dos limites territoriais dos municípios, pois são produtos comercializados e consumidos a nível mundial.

Já os círculos de cooperação, “(...) tratam da comunicação, consubstanciada na transferência de capitais, ordens e informações (fluxos imateriais), garantindo os níveis de organização necessários para articular lugares e agentes dispersos geograficamente, isto é, unificando, através de comandos centralizados, diversas etapas espacialmente segmentadas, da produção” (CASTILLO, FREDERICO, 2010: 465). Em outras palavras, os municípios articulados entre si, através dos círculos de cooperação, visam otimizar a produção do produto final que implicará em benefícios e redução de custos. As etapas de produção apesar de estarem separadas espacialmente, estão também unidas a um comando central, e só te torna possível articulá-las separadamente graças às eficientes tecnologias de telecomunicação que tornaram cada vez mais viável esse tipo de relação. Podemos ilustrar com o caso da Sadia e da Perdigão, que atuam em Lucas do Rio Verde e em Nova Mutum respectivamente, com organização específica, embora se unam na escala da Brasil Foods – BRF, quando se trata do mercado.

III- CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E POLÍTICA

A ocupação da região norte mato-grossense pertence ao um passado recente da história do Brasil. Até a década de 1940 o estado contava com dezoito munícipios, passando para trinta e oito em 1970, possuindo hoje cento e quarenta e um, mas o grande incentivo para a ocupação dessas áreas está entre as décadas de 1970 e 1980, período marcado pela Ditadura Militar e as políticas desenvolvimentistas do governo.

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O II Plano Nacional de Desenvolvimento (IIPND) que tinha como objetivo desenvolver e integrar o Centro-Oeste ao Brasil através da construção da rodovia BR-163, destinando 100 km de cada lado desta rodovia para a colonização. Este projeto passa a estimular o fluxo migratório para esta parte da região, apesar de que em sua maioria fosse habitada por comunidades indígenas.

Nesse momento o estado do Mato Grosso vinculava-se a nova fronteira agrícola e a ideia de “terra prometida”, enquanto na região sul os conflitos de terra se intensificavam por conta da grande escassez de terras e, consequentemente, o encarecimento das mesmas. Portanto, tais fatos incentivaram as famílias de pequenos produtores a venderem um pedaço de terra no sul, e a comprarem grandes extensões em Mato Grosso, iniciando o fluxo migratório interno sul/centro- oeste, e consolidando a ocupação dos ditos ‘espaços vazios’ do território nacional.

A partir desse contexto histórico e político que se desenvolvem os municípios de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso, assim como todo o território mato-grossense, apesar de algumas particularidades internas, estão marcados pela lógica do colonialismo privado e pelas grandes propriedades. Sorriso é o mais antigo dentre os três, recebendo o título de município no ano de 1986, após dois anos, em 1988, é o momento de Nova Mutum , e por último temos Lucas do Rio Verde, elevando-se à município em 1989. Nota-se que tratamos de municípios muito novos e com um histórico diferenciado.

Vale ressaltar, que o histórico de Lucas do Rio Verde difere-se um pouco quando se trata do inicio de sua colonização, que a princípio possuía o objetivo de ser alternativa de assentamento do movimento dos sem-terra oriundos do Rio Grande do .Sul. Contudo, houve um acúmulo de dívidas e a retirada de subsídios das famílias assentadas, levando o abandono das terras que foram incorporadas novamente ao INCRA, que por sua vez, distribuiu os lotes para latifundiários e comerciantes também de origem sulista.

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IV) AS CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES DO AGRONEGÓCIO DA BR-163 E A CADEIA CARNE/GRÃOS

As cidades do agronegócio possuem características gerais que as diferenciam dos outros tipos de cidades. Tratando-se dos aspectos gerais dessas cidades determinadas como funcionais à agricultura moderna, podemos destacar, primeiramente, a forte interdependência com o campo, pois estamos tratando de uma região cujo seu espaço rural possui um altíssimo nível técnico, e “(...) quanto mais moderna se torna a atividade agropecuária, mais urbana se apresenta sua regulação” (ELIAS.D.2006:16).

Sobre as características referentes à estrutura da cidade, destacamos o intenso planejamento, inclusive dos futuros lotes a serem urbanizados e a presença das avenidas largas e contínuas, mesmo ainda que nas cidades mais novas o fluxo de carros seja muito abaixo ao correspondente para esse tipo de avenida.

As empresas e tradings referentes à cadeia carne/grãos e ao campo são de grande importância para caracterizarmos as cidades do agronegócio, pois essas empresas além de comercializarem e produzirem elementos importantes para a agroindústria, elas também podem financiar a produção, fornecerem pacotes agrícolas e comercializar o produto final.. Temos como exemplo de empresas as esmagadoras, as fábricas de ração, os frigoríficos, os abatedouros, as mecânicas, os representantes de máquinas agrícolas, de defensivos químicos, e etc.

Colocamos em evidencia também a presença dos bancos públicos e privados, que possuem um considerável papel para aquisição de crédito para investimento, e que habita apenas no espaço urbano que lhe trará retornos lucrativos. A grande diferença entre o financiamento público e o privado é o valor médio dos empréstimos e a seletividade. O banco privado pode chegar a um valor médio de R$ 56 mil (Banco Central do Brasil), além se serem mais seletivos e estarem presentes apenas nos municípios mais rentáveis. Os financiamentos públicos realizam um número maior de

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contratos, porém, com o valor médio de pouco mais de R$ 12 mil. (FREDERICO,S; 2011:10)

Com a cadeia de grãos podemos afirmar que esse complexo agroindustrial era restrito às atividades vinculadas à soja, ao milho e ao algodão. Contudo, com a chegada das indústrias de carnes, formando a cadeia carne/grãos, há um intenso incremento deste complexo, aumentando o número de empresas, tradings, bancos, etc. Consideramos, portanto, que as cidades se tornam mais atrativas e luminosas para empreendedores do agronegócio.

V) A CADEIA DE CARNES E SEUS IMPACTOS NA ESTRUTURA SOCIAL, MATRIAL, E AS NOVAS RELAÇÕES ENTRE O CAMPO E A CIDADE

Nos anos 2000, após a consolidação da cadeia de grãos na região e o consenso de empresários do ramo de que era necessário diversificar a produção, a cadeia de carnes (aves e suínos) começa a chegar a algumas cidades da BR-163 mato-grossense, gerando muitos impactos materiais e sociais de forma quantitativa e qualitativa.

A primeira indústria a se instalar foi a Anhambi em Sorriso no ano de 2002. O município de Sorriso se destaca como o maior produtor de soja do Brasil e do mundo, justificando a escolha deste município para sediar a primeira cadeia carne/grãos, pois entendemos que a cadeia de carnes é extremamente dependente da cadeia de grãos, necessitando estar muito próximas e interligadas, além da abundância permanente dos grãos.

Após alguns anos, Nova Mutum, o segundo maior município produtor de soja da região concentrada, recebe a Perdigão no ano de 2006, que realiza apenas o abate de aves, chegando a abater 280 mil frangos/dia no ano de 2012, mas com a capacidade de 350 mil frangos/dia. Em 2008 é o momento de Lucas o Rio Verde receber a unidade da Sadia, que realiza o abate de aves e suínos, produzindo diariamente 300 mil frangos no ano de 2012, mas com capacidade para 500 mil frangos/dia, e abatendo 5 mil suínos/dia, mas com capacidade de produção de 10 mil suínos/dia (metas de 2010 ainda não

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superadas). A Sadia e a Perdigão formam a BR Foods: segunda maior indústria alimentícia do Brasil (atrás apenas do JBS Friboi), como também é a maior produtora e exportadora mundial de carnes processadas, ressaltando as diversas escalas de influência (regional, nacional e global) dessas indústrias, bem como a relevância de tê-las em seu território municipal.

Junto com a chegada da cadeia de carnes também se instalam uma série de fixos e fluxos no espaço urbano que irão refletir na estrutura social e material das cidades, onde podemos citar inicialmente, como primeiros impactos sociais, o grande aumento populacional nos centros urbanos.

Ao analisar a população residente nos municípios, podemos afirmar que há um aumento populacional significativo de 2000 a 2010 em todos os municípios estudados. Contudo, ao analisar a variação percentual entre os anos de 2007 e 2010, os municípios que mais crescem são o de Lucas do Rio Verde e o de Nova Mutum, fato explicado pela presença mais recente da cadeia de carnes e pelo porte das duas indústrias que ali instaladas, maiores do que a presente em Sorriso. A taxa de população urbana de todos os municípios também possui valores expressivos, sendo sempre maior que a taxa da população rural. A taxa de urbanização que mais se destaca é a de Lucas do Rio Verde, chegando a 93,1% em 2010 (CENSO/IBGE), então podemos afirmar que além de ter maior variação populacional entre 2007/2010, esse município também assume o maior percentual de urbanização entre os quatro municípios. O município de Sorriso segue com 87,1% de taxa de urbanização e Nova Mutum com 81,1%, sendo também taxa elevadas.

Esse crescimento populacional intenso está diretamente ligado ao fluxo migratório, presente desde o início da história desses municípios que perdura até hoje, embora com motivos e regiões diferentes do que na década de 1960/1970. Como já mencionado na primeira parte do trabalho referente à bibliografia, a colonização dos municípios estudados era feita principalmente pelos migrantes do sul do país, sendo eles os pioneiros da região. Contudo, essa lógica se modifica intensamente com a chegada da

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cadeia de carnes, que necessita de numerosa mão de obra no processo produtivo de abate e embalagem, indo buscar sua força de trabalho nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para o estado do Maranhão. Há uma forte tendência de ocupação dos cargos mais qualificados e de melhores salários pela mão de obra do sulista, sendo a mão de obra nortista e nordestina ocupando cargos menos qualificados.

O crescimento populacional em um curto espaço de tempo também pode gerar impactos, levando os municípios a criar estratégias para minimizá-los e tornar mais atraentes os novos investimentos empresariais: a crescente valorização imobiliária e verticalização do solo urbano, elevado o custo de vida tanto pela valorização do solo quanto pela sobrevivência do dia-a-dia, o aumento da criminalidade e das áreas de pobreza, as desigualdades socioeconômicas, a rede hospitalar, o saneamento básico não contemplando boa parte da população, e a coleta de lixo ineficiente, são alguns impactos e problemas em maior ou menor grau nos três municípios, mas presente em todos.

Outros setores da economia também passam a ser favorecidos ao crescerem economicamente junto à indústria de carnes pela grande demanda de serviços que a cadeia de carnes gera em seu entorno, como o setor de serviços, de comércio, e da construção civil, que cresce em grande parte de forma informal, e claramente os setores industriais e agropecuários.

Investigando de forma geral as funções e a reestruturação ocorrida antes e após a cadeia de carnes nas cidades do agronegócio e no espaço rural são: antes o campo desempenhava a função de cultivo de grãos (soja, milho e algodão) e também desenvolvia em pequena escala a criação de animais (aves, suínos e bovinos), já a cidade, no geral, desempenhava as funções de armazenar os grãos, de gerar serviços para o agronegócio e para a população, de residência e de logística de escoamento.

Com a chegada das indústrias de carnes, algumas mudanças ocorrem: o campo passa a intensificar a produção de grão de soja e milho e a criação de aves e suínos, e a cidade além de intensificar todas as funções já existentes, assume outras novas, como de

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transformação dos grãos em farelo e ração, de abate dos animais, de industrialização das carnes, como também passa a atrair empresas vinculadas ao setor de carnes.

Denise Elias (2012) explica que o incremento das relações entre os diferentes setores econômicos associados à organização das redes agroindustriais, como ocorrido após a instalação da indústria de carnes, é um importante caminho para entender como se processa uma série de novas relações campo/cidade.

“Quanto mais dinâmica a reestruturação produtiva da agropecuária, quanto mais complexa a formação das redes agroindustriais e quanto mais globalizados seus circuitos espaciais de produção e seus círculos de cooperação, mais complexas se tornam as relações campo-cidade”. (ELIAS,2012:8) Isto gera um remodelamento das clássicas relações campo/cidade, intensificando a interdependência.

Observa-se a atividade industrial, presente no espaço urbano, aproximando-se cada vez mais da agropecuária, desenvolvida no espaço rural, tanto pela concessão de produtos industriais (máquinas e insumos) para a agricultura, quanto pela transformação industrial da matéria prima (soja, milho, animais) em mercadoria. Diante desse estreitamento, Denise Elias diz que as indústrias “(...) estabelecem uma gama de novas relações no território, transformam radicalmente as tradicionais relações campo-cidade, e levam esses dois espaços a emitir e a receber larga quantidade de fluxos de matéria e de informação”, em outras palavras, podemos afirmar que a relação campo/cidade vem se manifestando de uma maneira diferente graças à agroindústria.

VI- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estado mato-grossense passou por grandes transformações nas últimas duas décadas: de um solo considerado hostil tornou-se um grande celeiro agropecuário brasileiro e competidor internacional, graças a incentivos federais e inovações tecnológicas. A partir da consolidação dos grãos, a cadeia de carnes se instala gerando cidades cada vez mais funcionais, que precisam se ajustar às novas exigências, sendo

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um este um grande marco para as mudanças ocorridas na estrutura urbana e na transformação das funções, no espaço material e social.

O planejamento, a rapidez, a funcionalidade exclusiva do agronegócio, bem como as contradições detectadas, estão diretamente ligadas à racionalidade imposta pelos atores hegemônicos. Nesse sentido, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Sorriso de fato constituem exemplos de cidades do agronegócio, inseridas cada vez mais na lógica global. Através da reestruturação urbana e do investimento intensivo de tecnologia na agropecuária e nas indústrias, esses municípios se tornam cada vez mais luminosos e fluidos para empresários e para os grandes agentes do capital.

Os efeitos provocados são detectados na estrutura material das cidades, como a atração de novas empresas vinculadas ao setor de carnes, de silos e armazéns, o aumento das áreas ocupadas tanto para habitação quanto para empreendimentos comerciais, mas também os que estão visivelmente presentes na estrutura social, marcada pelo grande aumento populacional vinculado à população migrante em busca de trabalho e suas condições de vida.

O campo e a cidade modernizam-se, sendo necessário a readequação do meio urbano para atender as demandas do meio rural, remodelando as relações tradicionais e intensificando a presença da indústria e da ciência em todas as etapas do processo produtivo agropecuário.

VII- BIBLIOGRAFIA

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