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A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO E OS IMPACTOS AMBIENTAIS EM COMUNIDADES DO SERTÃO PARAIBANO

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Anais – I Seminário Regional sobre Potencialidades do Bioma Caatinga 23 a 25 de abril de 2014, Sumé – PB

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A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO E OS IMPACTOS AMBIENTAIS EM COMUNIDADES DO SERTÃO PARAIBANO

Maria Eunice Diniz PEREIRA¹ Josefa Rafaeli Ferreira de SOUSA¹ Maria Francisca Alves de ANDRADE² Antonia Arisdélia Fonseca Matias Aguiar FEITOSA³

¹Estudante Pesquisador do GPA/CFP/UFC. E-mail para correspondência - eunicecz@hotmail.com; ²Estudante do PPGCN- MCN-UERN.; 3Profa. Adjunta da Unidade Acadêmica de Ciências Exatas e da Natureza – UACEN/UFCG, Campus de Cajazeiras – PB RESUMO: O Projeto de Integração do Rio São Francisco para o semiárido nordestino está projetado para oferecer água em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semiárida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Além dos benefícios previsíveis, esse projeto provocará muitos impactos ao ambiente, tais como: o desmatamento da vegetação nativa, a impermeabilização do solo e alterações no habitat de várias espécies. Esta pesquisa buscou analisar as previsões de impactos registrados no EIA/RIMA do Projeto de Transposição e confirmar, junto à comunidade, a efetivação ou não das medidas apontadas como mitigadoras. Foram identificados como impactos negativos: a desapropriação de terras; alterações das comunidades biológicas e perdas de habitats da fauna da região pelo desmatamento da área. Entretanto, as medidas mitigadoras indicadas no projeto foram parcialmente atendidas. O contexto que envolve a execução das obras de transposição do Rio São Francisco configura-se como desafiador aos gestores e à comunidade que alimentam as expectativas de alcançarem um desenvolvimento sustentável para a região a partir de tal empreendimento.

Palavras-chave: Transposição hídrica, Semiárido, Impactos ambientais, Desenvolvimento Sustentável

ABSTRACT: The São Francisco River Integration Project concerning the dry lands of Paraiba is planned to provide water, in 2025, to about 12 million inhabitants located in small, medium and large cities of the semiarid region, in the states of Pernambuco, Ceará, Paraíba and Rio Grande do Norte. Apart from the foreseeable benefits, such project will also lead to great environmental impacts. Some of them are the deforestation of native vegetation and some soil changes concerning the habitat of several species. This research, thus, aimed at analyzing some of the predictions related to the impacts which were registered in the EIA/RIMA as to the Transposition Project. Besides, this project also aimed at confirming, together with the community, the establishment of measures which were pointed out as being mitigating. Concerning some of the identified negative impacts, we can mention the land expropriation, changes in biological communities and some habitat loss related to the area deforestation. The mitigating measures which were indicated in the project, however, were partially filled. The context which involves the execution of works concerning the São Francisco river transposition is a challenging one, both to the managers, and to the community, whose expectations are connected with the reaching of a sustainable development to the region as soon as such project is achieved.

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INTRODUÇÃO

A região semiárida ocupa 70% do Nordeste brasileiro e corresponde a 11% do território nacional. O índice de chuvas é de 600 mm anuais em média. Essa escassez de água associada à incerteza climática mantém limitadas as atividades básicas, o abastecimento das populações e o desenvolvimento das atividades agrícolas e industriais.

Devido a essa irregularidade das chuvas, o Projeto de Integração do Rio São Francisco para o semiárido nordestino visa assegurar a oferta de água em 2025 a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semiárida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Esse projeto prevê a construção de dois canais, denominados EIXO NORTE e EIXO LESTE. O primeiro levará água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, enquanto o segundo beneficiará parte do Sertão e região Agreste de Pernambuco e da Paraíba. Além de visar a oferta de água para o povo nordestino que sofre com irregularidade das chuvas, também fornece água de forma complementar para açudes existentes na região, viabilizando melhor gestão de água. Todavia, esse projeto tem levantado grandes polêmicas acerca do assunto, havendo a intervenção entre governos federal, estaduais e sociedade civil em relação a necessidade desse projeto e sobre os benefícios para a população.

Apesar de o projeto beneficiar áreas do interior do Nordeste com razoável potencial econômico, estratégias no âmbito de uma política de descontração do desenvolvimento, por outro lado, as obras, além dos canais, provocarão muitos impactos no ambiente como a derrubada de matas, impermeabilização do solo entre outros, e em especial na vida da coletividade. Esses impactos ambientais ocasionados pela transferência de água devem ser mínimos para ambas as regiões de destino e de origem, e é um desses aspectos que vem gerando polêmica entre aqueles que defendem o projeto como uma solução e aqueles que o criticam.

O presente projeto tem relevância por estudar a repercussão socioambiental do Projeto de Integração do Rio São Francisco nas comunidades vinculadas à sub-bacia do Rio Piranhas e, consequentemente, colaborar no processo de gestão ambiental em áreas envolvidas.

METODOLOGIA

O estudo, realizado entre os meses de Dezembro de 2012 a Junho de 2013, foi desenvolvido mediante análise do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impactos Ambientais (EIA/RIMA)

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do Projeto de Transposição do Rio São Francisco na área circunscrita à sub-bacia do Rio Piranhas, no interior da Paraíba.

Os procedimentos consistiram na análise dos impactos ambientais expressos no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.

Foram realizados estudos, análises de conteúdo e diálogos orientados junto às pessoas envolvidas no projeto, atuando no canteiro de obras, no interior da Paraíba. Para esta finalidade foram analisados aspectos relacionados às condições socioambientais previstas na proposta de transposição, tais como: aspectos socioambientais, ecológicos e econômicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto de Integração do Rio São Francisco é um empreendimento do Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério de Integração a assegurar a oferta de água em 2025 a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semiárida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte (CASTRO, 2011).

Esse projeto localiza-se em área de clima semiárido, com pequena precipitação pluviométrica e temperatura elevada. A transposição de rios, córregos de uma bacia hidrográfica localizada em clima semiárido provocará consequências que não estão sendo analisadas. Estuda-se a capacidade de bombeamento, a extensão dos aquedutos, o diâmetro dos túneis e quase nada sobre a complexidade sócio-espacial da região, sobre os impactos sociais.

No que concerne a impactos ambientais causados por uma atividade que se encontra em fase de projeto, requer do analista um conjunto de análises, incluindo principalmente um bom conhecimento científico, uma visão abrangente, bom senso e, sobretudo objetividade.

No caso do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional foram detectados pelo RIMA – Relatório de impacto ambiental, 44 impactos, sendo 23 de maior relevância, dos quais 11 são relevantes como positivos e 12 relevantes como negativos. Para a avaliação desses impactos o MI contratou as empresas Ecology Brasil, Agrar Consultoria e Estudos Técnicos e JP Meio Ambiente e delimitou duas unidades de análise: a Área de Influência Indireta (AII) onde ocorrem os efeitos indiretos da integração das águas, e a Área de Influência Direta (AID), onde se dão as transformações ambientais diretas (ou primárias) decorrentes do empreendimento, no entorno imediato de onde serão construídos os canais.

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No entanto, na Avaliação de Impactos Ambientais, o diagnóstico elaborado ficou a desejar, pois não enfatizou o meio antrópico, o patrimônio cultural, social e de subsistência da população cuja área será impactada. Segundo Silva (2005), os estudos não identificam e analisam suficientemente os potenciais impactos positivos e negativos do empreendimento. Dessa forma, não revelam a equação completa dos benefícios e ônus do empreendimento nos diferentes grupos sociais envolvidos.

Foram apreendidos na análise dos documentos (EIA/RIMA) os seguintes aspectos e repercussão: Aspectos socioambientais - ruptura das relações sócio - comunitárias durante a fase de obra; Aspectos Ecológicos - riscos de introdução de espécies de peixes potencialmente daninhas ao homem nas bacias receptoras e modificação do regime fluvial das drenagens receptoras; Aspectos Econômicos - perda temporária de empregos e renda por efeito das desapropriações e introdução de tensões e riscos sociais durante a fase de implementação da obra.

Como resposta aos aspectos ecológicos os funcionários que prestam serviço ao canteiro de obras no município de São José de Piranhas se pronunciaram que há implantação do sistema de monitoramento das vazões excedentes considerados canais naturais para açudes de maior porte como o Armando Ribeiro Gonçalves. Declararam a existência de um programa de Educação Ambiental previsto que evitará o surgimento de processos erosivos e degradadores que venham a comprometer o novo regime fluvial – esta medida está expressa no RIMA. Quanto à perda da vegetação nativa pelo desmatamento, embora tenham relatado a ocorrência de planos de recuperação (PRAD – Plano de recuperação das áreas degradadas), não foi perceptível durante a visita realizada no local.

Com relação aos moradores, muitos tiveram que se deslocar de suas casas para a realização das obras. O governo fez uma proposta para as famílias ficarem reassentadas em outro local e esse processo ainda continua até as obras serem concluídas e com essas desapropriações muitos dos moradores ficaram desempregados em uma porcentagem de mais de 51%, porém 50% das obras realizadas foram mão-de-obra local, o que significa que boa parte da população teve seu trabalho garantido.

A preocupação evidenciada é na forma como as famílias serão reassentadas e como o gerenciamento da área irá ocorrer. São questões que não estão claras nos documentos, setor ou gestor hora atuante no canteiro de obras estudado.

Junto ao projeto integra-se a implantação de cisternas, estas fornecem água apenas para o consumo humano durante as estiagens anuais, e não durante as secas prolongadas, por isso é indispensável que haja uma melhor utilização da água, com maior consciência ambiental, sobretudo

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nas áreas mais carentes deste recurso. Neste aspecto, as demandas para Educação Ambiental são evidentes tanto no que se refere ao período de instalação das cisternas e vilas de reassentamento, como no processo de implementação de uma gestão participativa que integre os interesses comuns em ações para o desenvolvimento e preservação do meio ambiente na região semiárida visando dessa forma a sustentabilidade humana e ambiental.

Configura-se, portanto, a execução de um projeto de grande porte, com repercussões diversas na vida da população e no ambiente semiárido cujos efeitos estão a depender da forma a ser gerenciada a partir das obras de engenharia. O desafio é perceptível e programas de intervenção na área tecnológica, educativa e econômica devem constituir o processo de instalação funcional do empreendimento.

Em análise aos fatos obtidos durante a pesquisa, tem-se que a transposição em si não é um impacto ambiental, mas ele causa impactos ambientais, afetando também a sociedade passando este a ser um impacto socioambiental, pois além de atingir o meio natural interfere na vida social e econômica das pessoas, e nesse caso, as obras da transposição do rio São Francisco, além dos canais, desgastam muito os recursos naturais, provocando muitos impactos ao ambiente como a derrubada de matas, impermeabilização do solo e em especial na vida coletiva dos moradores que precisam se deslocar de suas residências para que o projeto seja realizado, gerando muitas vezes desconforto e até dúvidas sobre o processo em execução.

Problemas como desapropriação de terras e remoção da população; alterações das comunidades biológicas terrestres e aquáticas; perdas de hábitats da fauna da região pelo desmatamento, desconfiguração do cenário vegetal do bioma Caatinga constituem os impactos negativos cujas medidas mitigadoras precisam ser efetivadas na totalidade, como projetos em execução. Configura-se um cenário desafiador aos gestores e à comunidade que alimentam a expectativas de alcançarem um desenvolvimento sustentável para a região a partir de tal empreendimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, César Nunes. Transposição do Rio São Francisco: Análise de oportunidade do

Projeto. INSTITUTO DE PESQUISA APLICADA. Rio de Janeiro. 2011. P.57. Disponível em:

<www.iea.gov.br/sites/000/21 publicações/tals/TD-15772-web.pdf> Acesso em: 21 de Fevereiro de

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PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO COM BACIAS HIDROGRÁFICAS DO NORDESTE SETENTRIONAL. Relatório de Impacto ambiental –RIMA. Julho/2004.129 p.

SILVA, Maria Fernanda Paranhos de Paula. Ministério Público Federal. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.cimi.org.br/pub/publicacoes/1128978479_NT34EIARima.doc> Acesso em: 25 de Maio de 2013.

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