DO TRIÂNGULO MINEIRO – Câmpus Ituiutaba
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
RUBERVAL GARCIA DE MORAES
Comercialização e destinação de lâmpadas fluorescentes em Ituiutaba-MG
ITUIUTABA-MG 2013
RUBERVAL GARCIA DE MORAES
Comercialização e destinação de lâmpadas fluorescentes em Ituiutaba-MG
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, Câmpus Ituiutaba, como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós Graduação em Ciências Ambientais.
Orientador: Prof. Me Humberto Ferreira Silva Minéu
ITUIUTABA-MG 2013
Ruberval Garcia de Moraes¹, Humberto Ferreira Silva Minéu² ¹ Estudante de Pós-graduação em Ciências Ambientais, IFTM, Câmpus Ituiutaba, MG,
rubervalgarcia13@gmail.com,
² Professor do IFTM, Câmpus Ituiutaba, MG, hmineu@iftm.edu.br
Resumo: Este trabalho demonstra a comercialização de lâmpadas fluorescentes novas e o
descarte após o uso em Ituiutaba, MG. Aborda-se a importância dessas lâmpadas devido à presença de mercúrio, os riscos à saúde e ao meio ambiente. A metodologia envolveu a coleta de dados em empreendimentos que vendem lâmpadas, que geram lâmpadas fluorescentes usadas (comércio, bancos, hospitais, farmácias, templos religiosos, hotéis e repartições públicas), e entrevistas a representantes ou responsáveis pelos empreendimentos geradores, por instituições de ensino dos vários níveis educacionais e das três esferas do poder público local. O estudo demonstra a discrepância entre a venda e o recolhimento das lâmpadas; alta ocorrência de descarte inadequado das lâmpadas após o uso; a carência de conhecimento e de aplicação da responsabilidade compartilhada e da logística reversa e sugere medidas para a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Palavras-chave: Lâmpadas fluorescentes. Resíduos Sólidos. Logística reversa.
Abstract: This article demonstrates the commercialization of new fluorescent lamps and
discard after use in Ituiutaba, MG. Discusses the importance of these bulbs due to the presence of mercury, the risks to health and the environment. The methodology involved the collection of data in enterprises that sell lamps, that generate fluorescent lamps used (trade, banks, hospitals, pharmacies, places of worship, hotels and government offices), and interviews with representatives or responsible for generating enterprises, by educational institutions the various educational levels and the three levels of local government. The study demonstrates the discrepancy between sale and payment of the lamps, high occurrence of improper disposal of the bulbs after use, the lack of knowledge and application of shared responsibility and reverse logistics and suggests measures for the implementation of the National Policy on Solid Waste.
Keywords: Fluorescent lamps. Solid Waste. Reverse logistics.
1 INTRODUÇÃO
A iluminação artificial passou a ser imprescindível para o convívio em sociedade, especialmente com o aumento da urbanização, relacionando-se a condições de trabalho, estudo, pesquisa, esporte, cultura, lazer, entre outras atividades humanas.
Recentemente, no Brasil, foi definida a eliminação1 progressiva de lâmpadas incandescentes no mercado devido a seu alto consumo de energia elétrica em relação à iluminação oferecida. Isto fortaleceu o processo de substituição dessas lâmpadas pelas fluorescentes, embora mais caras, mas com menor consumo de energia e maior tempo de uso.
Assim, a utilização das lâmpadas fluorescentes tornou-se necessária e relevante em trazer conforto e economia de energia. Como consequência, cresceu a procura pelo produto, que é um sistema de iluminação cada vez mais presente em nosso dia-a-dia e disponível no mercado de várias formas e modelos.
Quando descartadas aleatoriamente, junto com os resíduos da construção civil ou domiciliar, por exemplo, pode causar contaminação no meio ambiente e riscos à saúde das pessoas, afetando a qualidade de vida da população.
As lâmpadas fluorescentes possuem em sua composição elementos químicos que afetam o ser humano, como o mercúrio, que se ingerido ou inalado provoca efeitos desastrosos nas pessoas e impactos ambientais irreversíveis se chegar à cadeia alimentar.
O presente trabalho trata dessa questão, considerada de interesse público e privado sobre as lâmpadas fluorescentes - de vapor de sódio, mercúrio e luz mista, tubulares ou compactas - utilizadas em muitas atividades do cotidiano, como a indústria, iluminação pública e nas residências. Sua delimitação é na questão da comercialização de lâmpadas fluorescentes novas e a destinação após o uso, com a situação atual em Ituiutaba, MG.
O objetivo do trabalho é identificar a quantidade de lâmpadas comercializadas (geradas) e a destinação após seu uso. E também, avaliar o conhecimento dos segmentos envolvidos sobre o tema e verificar as medidas adotadas pelo setor privado e o poder público.
2 AS LÂMPADAS FLUORESCENTES: COMPOSIÇÃO, CLASSSIFICAÇÃO, IMPACTOS AO AMBIENTE E RISCOS À SAÚDE
As lâmpadas fluorescentes possuem em seu interior (quadro 1) elementos químicos de alto peso molecular, metais reativos de grande densidade, considerados pesados e de átomos próximos do grupo situado entre o cobre e o chumbo na tabela periódica, incluindo: alumínio, ferro, níquel e outros. O mercúrio e o chumbo se destacam pelo poder de afetar a saúde das pessoas e contaminar o meio ambiente. O cobalto, o cobre, o magnésio, o manganês e o zinco
1 Portaria interministerial 1007, de 31 de dezembro de 2010. Ministérios de Estado de Minas e Energia, da Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em
são necessários para animais e plantas em pequenas quantidades para realizar suas funções vitais. Absorvê-los além do que é natural se torna tóxico (MUNDO ESTEANHO, 2012).
Quadro 1. Composição da poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescente.
Elemento Concentração mg/Kg Elemento Concentração mg/Kg Elemento Concentração mg/Kg
Alumínio 3.000 Chumbo 75 Manganês 4.400
Antimônio 2.300 Cobre 70 Mercúrio 4.700
Bário 610 Cromo 09 Níquel 130
Cádmio 1.000 Ferro 1.900 Sódio 1.700
Cálcio 170.000 Magnésio 1.000 Zinco 148
Fonte: Truesdale et. al. apud Lima (2003).
Após sua utilização, as lâmpadas fluorescentes são classificadas como resíduo perigoso, classe I, pela Norma Brasileira Regulamentadora - NBR 10.004/2004 que estabelece o limite que deve ter o material para disposição no meio ambiente. Ou seja, 100mg de mercúrio por quilograma do resíduo. A pessoa em contato com níveis superiores a esses causa sérios danos a sua saúde (ABNT, 2004).Além do mais, a Norma Regulamentadora - NR 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE, 2008), que trata de atividades em locais insalubres, lista o mercúrio como agente nocivo, que afeta a saúde do trabalhador, necessitando de políticas eficientes de gerenciamento e gestão dos resíduos constituintes.
No meio ambiente, se o mercúrio for liberado de maneira irregular em rios, por exemplo, pode volatilizar ou ser absorvido por microorganismos. Se animais aquáticos ou plantas retiverem o mercúrio, contamina o meio ambiente sem possibilidade de descontaminação ao chegar à cadeia alimentar, causando riscos à saúde das pessoas (ECYCLE,2012).
De acordo com Mourão & Seo (2012), as lâmpadas fluorescentes, apesar de minimizarem os impactos provocados pela geração de energia, podem protagonizar contaminações no meio ambiente e prejuízos à saúde se forem descartadas sem os devidos cuidados.
Conforme o MMA (2012), além do elemento químico mercúrio, as lâmpadas fluorescentes formam em seu interior uma substância bastante tóxica de risco potencial à saúde das pessoas, que é o policlorofibenil (PCB), sendo importante na aquisição os consumidores buscarem lâmpadas isentas desse resíduo.
Observa-se, pela literatura, que as lâmpadas fluorescentes contribuem de forma significativa com a redução no consumo de energia, mas apresentam maiores riscos ao ambiente e à saúde. Assim, a sua correta destinação após o uso torna-se fundamental para que
as pessoas possam usufruir dos benefícios e evitar danos que possam ocorrer pelo descarte inadequado.
3 AS LÂMPADAS FLUORESCENTES NO APARATO LEGAL VIGENTE
Com a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, pela Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010 e regulamentada pelo Decreto Nº 7.404 de 23 de dezembro do mesmo ano, cria-se um amparo legal nacional para tratar da questão dos resíduos gerados com a fabricação e uso desses materiais.
A PNRS define vários conceitos importantes para a respectiva aplicação, como a responsabilidade compartilhada e a logística reversa e também três instrumentos a serem utilizados: o acordo setorial, que é considerado instrumento principal pelo Comitê Orientador, por permitir grande representação social; o termo de compromisso entre as partes envolvidas e o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS).
A concepção da PNRS faz frente à carência de saneamento e de informações sobre o setor, à disposição inadequada dos resíduos sólidos que está associada à qualidade ambiental, ao descaso social com a saúde e a negligência do poder público e da sociedade. A lei isoladamente não resolve o problema. É um importante avanço no sentido de buscar soluções para o manejo correto dos materiais descartados pela sociedade.
Entre os conceitos e responsabilidades estabelecidas na PNRS, cabe destacar a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, conforme o Art. 3º, da lei 12.305/2010:
XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei; (BRASIL, 2010).
Combinado à responsabilidade compartilhada está a definição da logística reversa, que responde pelo retorno do material após o uso ou consumo pela cadeia produtiva, conforme estabelecido no Art. 3º, da lei 12.305/2010:
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada; (BRASIL, 2010).
Na aplicação desses dois conceitos, a PNRS estabelece que as lâmpadas fluorescentes estão enquadradas como resíduos em que aplica a logística reversa, conforme o Art. 33, da lei 12.305/2010, inciso V:
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
[...].
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; [...].(BRASIL, 2010).
A análise conjunta dos três conceitos acima permite o entendimento de que cabe aos agentes da cadeia produtiva, comércio, poder público e sociedade, a responsabilidade por dar a destinação correta dos resíduos gerados.
A questão dos níveis de mercúrio nas lâmpadas fluorescentes ainda encontra um vácuo na legislação/regulamentação brasileira, sendo reconhecido pelo próprio Ministério do Meio Ambiente, não existindo ainda resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA).
Vale destacar que as empresas fabricantes dessas lâmpadas tornaram-se, praticamente importadoras, o que causa uma preocupação maior, pois não existe legislação brasileira que estabeleça limites de concentração de mercúrio nas lâmpadas, portanto sua composição ainda não é controlada (MMA, 2013, p.1).
Apesar desta situação atual, a Monção Conama nº 85, de 27 de junho de 2007, propunha a criação e efetivação de uma política nacional de mercúrio. O referido documento sugere “... reduzir a quantidade de mercúrio por lâmpada conforme legislação da União Européia.” E informa que um “Grupo de Trabalho organizado por iniciativa do Ministério do Trabalho elaborou um documento que propõe o limite de até 10mg/lâmpada. Atualmente este teor varia entre 10 e 20mg.” (MMA, 2007). A mesma monção também afirma que “existe um GT do Conama criado para discutir uma proposta de resíduos de lâmpadas contendo mercúrio” e sugere que o mesmo deve ser reativado.
Devido à economia de energia, a procura pelo material do estudo cresce consideravelmente. Por meio do CONAMA, o Governo Federal, no dia 17 de fevereiro de 2011, instalou o Comitê Orientador com a finalidade de definir regras para devolver os
resíduos que tem valor econômico à indústria para reaproveitamento, ser reciclado ou reutilizado em outros ciclos produtivos (MMA, 2011).
A produção de lâmpadas no Brasil é pequena, comparada às importações, principalmente da China, maior fornecedora. Não há pesquisa conclusiva sobre o total de lâmpadas comercializadas, dependendo da fonte, os dados podem apresentar diferenças significativas2.
Com base na PNRS é da competência das cadeias produtivas, importação, comércio e consumidores, as medidas necessárias para assegurar e implementar a operacionalização do sistema de logística reversa para a devolução após o uso e das embalagens (BRASIL, 2010).
Embora o Brasil ainda não tenha os requisitos limitando a concentração de mercúrio nas lâmpadas, com a PNRS e seus instrumentos, os municípios e o setor produtivo, dispõem de meios para aplicar a logística reversa que é uma destinação ambientalmente adequada aos resíduos das lâmpadas fluorescentes.
4 METODOLOGIA
Na realização do trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica, entrevistas aos agentes envolvidos na comercialização e destinação das lâmpadas após o uso e consulta à base de dados cadastrais do município.
Os agentes (públicos e privados) que participaram da pesquisa foram empresas que comercializam as lâmpadas, estabelecimentos que apenas geram o resíduo (lâmpadas usadas), instituições de ensino e o poder público local.
Utilizou-se de questionários como instrumento de coleta de dados, mediante uso de entrevistas aos responsáveis ou representantes do empreendimento ou instituição pesquisada, tanto do poder público como da iniciativa privada no período considerado para cada levantamento.
4.1 Agentes que comercializam lâmpadas fluorescentes na cidade
Procurou-se estimar a quantidade de lâmpadas comercializadas por mês, por meio do
levantamento em campo junto aos principais estabelecimentos comerciais na cidade. A
2
A Avant - Distribuidora especializada no desenvolvimento de soluções para iluminação – e outras fontes trabalham com a seguinte informação: Compactas fluorescentes – 190 milhões/ano; Fluorescentes tubulares – 95 milhões/ano e Fluorescentes compactas sem reator integrado – 18 milhões/ano (MOURÃO & SEO, 2012).
identificação desses empreendimentos foi realizada mediante cadastro do Centro de Processamento de Dados (CPD) da Secretaria de Fazenda e Recursos Humanos da Prefeitura. Em cada estabelecimento foi levantada a quantidade mensal de vendas das lâmpadas novas, a ocorrência (e quantidade) do recolhimento de lâmpadas usadas e o destino dado.
O levantamento envolveu nove lojas e três filiais (26,53%) do total de 49 estabelecimentos presentes no cadastro municipal, no período de julho a dezembro de 2012, envolvendo as maiores e principais lojas e supermercados.
4.2 Agentes que atuam somente como geradores
Nesse levantamento, delimitou-se a área considerada o centro da cidade, entre a Av. Minas Gerais, a Rua 36, a Av. José João Dib, a Av. 3, a Rua 14, a Av. 31 e a Rua 16 (figura 1).
Fonte:https://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl
Figura 1. Mapa do centro da cidade de Ituiutaba com a delimitação da área de estudo,
exceto para os supermercados.
Foram visitadas as lojas de maior potencial de geração (quantidades de lâmpadas trocadas), incluindo serem as mais visitadas pela população, das seguintes atividades: comércio (21); bancos (08); saúde (06); templos religiosos (06); farmácias, incluindo as respectivas filiais (10); hotéis (05) e repartições públicas (06).
Em todos estes locais procurou-se levantar a quantidade de lâmpadas geradas por ano, destinação dada, armazenamento provisório e o valor pago pela destinação. A pesquisa alcançou 62 empreendimentos e serviços no tempo transcorrido de outubro de 2012 a março de 2013.
4.3 Levantamento em instituições de ensino
Foram envolvidas instituições de ensino públicas e privadas de todos os níveis educacionais, do superior ao fundamental, idiomas e música, no período de fevereiro a julho de 2013. Abordaram-se as questões sobre a destinação dada, se paga pelo serviço e o valor, e se desenvolvem algum trabalho educativo quanto à destinação correta.
Utilizou-se a relação das escolas fornecidas pela Superintendência Estadual de Ensino e Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Lazer e levantamento de campo para escolas da rede federal e particular.
4.4 Levantamento em agentes do setor público local
Neste segmento, foram pesquisadas representações dos três poderes. No Executivo, participaram as secretarias de Educação, Esporte e Lazer, a de Planejamento e a de Obras e Serviços Urbanos. O Legislativo foi representado pela Câmara de Vereadores e o Judiciário pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Em todos os órgãos procurou-se identificar as ações do poder público em relação à destinação de lâmpadas usadas, a existência de regulamentação no município, a ocorrência de fiscalização quanto à destinação do resíduo junto a entulhos, lixo domiciliar e ecopontos e se o poder público faz alguma orientação a empresas terceirizadas, comércio e consumidores quanto à destinação das lâmpadas.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Perfil dos pesquisados na comercialização de lâmpadas fluorescentes na cidade
Apenas em duas das empresas (quadro 2) a pessoa que forneceu as informações não é proprietário ou gestor; 40% dos representantes possuem nível superior e os demais tem o ensino médio completo. Em relação ao tempo na empresa e no cargo, trata-se de um grupo bastante experiente, com apenas uma empresa em que o responsável tem menos de dois anos.
Quadro 2. Responsáveis pelas informações no levantamento da comercialização de lâmpadas
fluorescentes na cidade
EMPRESA CARGO FORMAÇÃO
(ESCOLARIDADE) TEMPO NA EMPRESA (ANOS) TEMPO NO CARGO (ANOS) A Proprietário Superior 14 14
B (1Filial) Proprietário Ensino Médio 35 35
C Dir. Proprietário Superior 2,6 2,6
D Proprietário Ensino Médio 17 17
E Gerente Geral Ensino Médio 35 11
F Gerente Ensino Médio 15 10
G (3Filiais) Ass. Gerência Superior Incompleto 03 03 meses H Aux. de Escritório Ensino Médio 10 08
I Vendedor Superior 05 10
J Sócio - Dir. Téc. Superior 26 26
O empreendimento B possui uma filial e o G três filiais, sendo o total de lâmpadas contabilizado na matriz correspondente. A empresa J, além de comercializar, armazena o resíduo (as lâmpadas usadas) de oito geradoras na cidade, por ser prestadora de serviço especializada ao realizar a troca das lâmpadas das empresas clientes.
5.2 Comercialização, recolhimento e descarte pelos empreendimentos que comercializam
Durante o período de pesquisa, os estabelecimentos venderam 42.624 lâmpadas novas, ao mesmo tempo em que recolheram apenas 734 lâmpadas usadas. Esta diferença ilustra a carência de recolhimentos comerciais na aplicação dos pressupostos estabelecidos pela PNRS em relação à logística reversa.
Quadro 3. Comercialização, recolhimento e descarte de lâmpadas fluorescentes no período da
pesquisa
EMPRESA AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL Recolhimento Descarte Destino
A 45 31 38 49 55 218 02 Lixo B (1Filial) 1.350 1.400 1.540 1650 1.570 7.510 S. I. * C 310 208 223 182 173 1.096 40 Estoque D 2.106 3.287 1.944 2198 2.009 11.544 294 Distribuição E 4.400 2.117 3.645 2821 2.984 15.967 34 Lixo F 71 57 72 43 73 316 S. I. G (3Filiais) 1.226 1.099 1.215 804 995 5.339 S. I. H 06 02 05 18 01 34 S. I. I 94 62 69 08 09 242 S. I. J 80 80 80 80 80 400 400 Estoque TOTAL 9.688 8.343 8.831 7.853 7.949 42.624 734 36 Lixo * S. I. – Sem Informação
Conforme o quadro 3 observam-se diferenças significativas entre as quantidades vendidas pelas empresas pesquisadas, demonstrando a diversidade de porte dos empreendimentos.
Em relação ao destino dado pelos estabelecimentos, cinco não informaram, dois armazenam na própria empresa, uma à distribuidora e duas assumiram enviar para o lixo (aterro sanitário da cidade).
5.3 Descarte de lâmpadas por empresas que apenas geram
Foram levantados 62 empreendimentos que apenas geram o resíduo, conforme delimitação da área considerada o centro da cidade para a pesquisa.
A pesquisa revelou um total de 7.055 lâmpadas fluorescentes trocadas anualmente nas 62 geradoras. Dessas, somente 846 unidades são armazenadas, não ocorrendo relato de despesa específica pela destinação.
Dentre as empresas pesquisadas, o comércio descartou 3.079 unidades (43,5%), os bancos 1.608 (23%), o setor de saúde 902 (13,%), templos religiosos 99 (1,4%), farmácias 231 (3,1%), hotéis 732 (10%), repartições públicas 424 (6%), conforme quadro 4.
Quadro 4. Lâmpadas descartadas e porcentagem por gerador
GERADOR UNIDADES DESCARTADAS PORCENTAGEM (%)
Comércio 3.079 43,50 Bancos 1.608 23,00 Saúde 902 13,00 Templos Religiosos 99 1,40 Farmácias 231 3,10 Hotéis 732 10,00 Repartições Públicas 424 6,00 Total 7.055 100,00
As lâmpadas descartadas pelas geradoras são destinadas a caminhos diversos de acordo com os respondentes: 17 empresas (27,0%) armazenam; 16 (26,0%) devolvem; 26 (42,0%) é o lixo comum urbano; e 03 (5,0%) para a cooperativa de reciclagem (quadro 5).
Quadro 5. Descarte dado pelas geradoras às lâmpadas fluorescentes após o uso
DESTINO QUANTIDADE DE EMPRESAS PORCENTAGEM (%)
Armazena 17 27,0
Devolve 16 26,0
Lixo comum 26 42,0
Cooperativa 03 5,0
As lâmpadas fluorescentes são destinadas principalmente para o lixo comum. Além dos 42,0% manifestados diretamente, somam-se os 5,0% informados como destino a cooperativa, atingindo 47,0% das lâmpadas descartadas após o uso. Pois, conforme informação da Cooperativa de Reciclagem de Ituiutaba – Copercicla, os 5% declarados que destinam à cooperativa, na realidade vão para o aterro sanitário, pois a coleta seletiva não realiza este trabalho com as lâmpadas fluorescentes na cidade.
O armazenamento corresponde a empresas que devolvem posteriormente às matrizes correspondentes. A devolução pelas geradoras (26,0%) refere-se às trocas realizadas por empresas terceirizadas prestadoras de serviço, que levam as lâmpadas usadas.
5.4 Geração e descarte de lâmpadas usadas pela concessionária da iluminação pública
A empresa concessionária de iluminação pública possui contrato com empresa terceirizada prestadora de serviços nos logradouros públicos da cidade para a manutenção e substituição das lâmpadas que são armazenadas até um mês e destinadas ao centro de triagem em Uberlândia, Minas Gerais.
Nos espaços públicos da cidade estão instaladas 15.074 lâmpadas, sendo 12.455 (83,0%) de vapor de sódio e 2.619 (17,0%) de vapor de mercúrio, com substituição anual de 4.484 e 940 respectivamente e, descarte anual de 5.424 unidades no total.
Para cálculo da geração do resíduo, baseou-se na média de 3,0% por mês que são substituídas, conforme informação do representante da empresa.
5.5 Ações das instituições de ensino
Foram visitados 48 (94,0%) dos estabelecimentos do setor educacional existente no perímetro urbano, sendo: 02 federais; 17 estaduais; 13 municipais e 16 da iniciativa privada. Dos pesquisados, 30 (62,5%) possuem formação superior completa, com tempo no cargo de até 05 anos e 44% dos respondentes não permanecem por muito tempo no cargo, fruto de mudanças por designações.
O descarte das lâmpadas fluorescentes após uso pelas instituições de ensino nas várias esferas, de acordo com a pesquisa, apresentou diversidade de encaminhamentos, na maioria práticas inadequadas, evidenciando a ausência da aplicação da responsabilidade compartilhada e da logística reversa (quadro 7).
Quadro 7. Descarte de lâmpadas usadas pelas escolas.
DESTINAÇÃO QUANTIFICAÇÃO PORCENTAGEM (%)
Armazena 06 13,0 Aterro 01 2,0 Prefeitura 08 17,0 Lixo 25 52,0 Cooperativa 05 10,0 Devolve 02 4,0 Eletricista 01 2,0 Total 48 100,0
Observa-se que o descarte predominante dos 48 estabelecimentos visitados é o lixo comum (52,0%), num total de 52 existentes no meio urbano. Considerando os que armazenam (13,0%) e os que devolvem (4,0%), significa que os demais 83% estão adotando procedimentos inadequados frente ao que estabelece a PNRS.
No questionamento quanto a despesas pela destinação do resíduo, nenhum estabelecimento educacional arca com despesas pelo descarte.
Em relação a trabalhos educativos, informações e tomada de consciência, constatou-se que 21,0% relataram realizar algum trabalho e 79,0% não realizam nenhuma atividade relacionada ao tema.
5.6 Atuação do poder público local
No levantamento nas três esferas do poder público local, os respondentes ocupavam os seguintes cargos: Eletricista, Secretário, Diretor Serviços Urbanos, Assessoria de Imprensa e Coordenador de Serviços, respectivamente.
Os resultados (quadro 8) demonstram que o poder público local não exerce nenhuma ação direta em relação à destinação das lâmpadas usadas; não dispõe ou os respondentes não conhecem regulamentação municipal para o tema; não ocorre fiscalização e orientação para setor produtivo e consumidores quanto à destinação correta das lâmpadas na cidade.
Quadro 8. Ações, regulamentação, fiscalização e orientações do poder público em relação à
destinação das lâmpadas fluorescentes.
AÇÕES EXECUTIVO LEGISLATIVO JUDICIÁRIO
Ações do poder público em relação à
destinação de lâmpadas fluorescentes usadas Não Não Não Tem regulamentação no município Não Não Não Tem fiscalização quanto à destinação Não Não Não Faz orientação a empresas e consumidores Não Não Não
A análise do quadro 8 demonstra uma ausência completa do poder público local, nas representações dos três poderes – executivo, legislativo e judiciário. Esta falta de ação corrobora a situação encontrada na pesquisa, não ocorrendo orientação, regulamentação e fiscalização, com os resíduos de lâmpadas fluorescentes sem uma destinação local adequada.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi de colocar o assunto em discussão e levantar a situação no
transcorrer da pesquisa, sobre a logística que compõe a rede de comercialização, substituição, descarte e destinação de lâmpadas fluorescentes na cidade de Ituiutaba, MG.
Em virtude do grande volume de lâmpadas utilizadas e descartadas inadequadamente pela população e o fato de não existir nenhuma ação ou orientação do poder público, há necessidade urgente de viabilizar políticas públicas, com base na legislação vigente. E um ponto de partida importante é a elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente no município.
Pelas observações, dirigentes e empresários no geral têm conhecimento da problemática do setor, mas nas suas respostas demonstram não saber o que é correto fazer. E como não existe nenhuma regulamentação no município, não ocorre fiscalização.
Outra iniciativa interessante seria envolver o setor educacional para a formação de Agentes Ambientais, em parceria com escolas como o Instituto Federal Ciência e Tecnologia do Triangulo Mineiro - IFTM, no intuito de atuar junto à população, contribuindo para promover a tomada de consciência dos problemas ambientais pela sociedade.
REFERÊNCIAS
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em 03 de julho de 2013.
ECYCLE. Fluorescentes: Dos benefícios aos perigos. 2012. Disponível em
<www.ecycle.com.br/component/content/article/44-guia-de-eciclagem/fluorescentes-dos-benefícios-aos-perigos.html>. Acesso em 27 de julho de 2013.
LIMA, A. L. e. Avaliação da situação quanto ao destino de Lâmpadas Fluorescentes
<http://www2.ib.unicamp.br/profs/eco_aplicada/arquivos/educacao_ambiental/Lampada%20 ALINE_2003.pdf>. Acesso em 01 de dezembro de 2013.
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<http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/6AC6BB8C/Apresent/Mercúrio_SMCQ.pdf Acesso em 07 de julho de 2013.
MMA – Ministério do Meio Ambiente. Logística Reversa: Lâmpadas Fluorescentes. 2011. Disponível em <http//:www.mma.gov.br/cidades...da.../comitê-orientador-logística-reversa> Acesso em 1 de julho de 2011.
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