NÚCLEO DE PRODUÇÃO E PESQUISA EM CINEMA DA UNICENTRO Área temática: Cultura
Anderson Costa1 (Coordenador da Ação de Extensão)
(Autores) Anderson Costa Clério Back2
Francismar Formentão3
Márcio Fernandes4
Palavras-chave: cinema, tecnologia, cultura. Resumo
Projeto de extensão para incentivo da produção em cinema, seja em curtas e longas-metragens, seja em documentários ou vídeos experimentais, a partir de tecnologias de baixo custo, como o celular e as máquinas fotográficas. Incentivar a pesquisa de mídias alternativas e o estudo do audiovisual. Atividade na Modalidade de Intervenção Extensionista na categoria Projeto de Extensão por Tempo Determinado, sem financiamento externo.
Introdução
Aconselho a usar a oportunidade que o vídeo digital oferece para fazer aquilo em que você realmente acredita. [...] Fazer filmes na escola é muito bom; adquire-se conhecimento intelectual e aprende-se com a prática. E agora, com o custo baixo, você pode fazer o que quiser por própria conta. Existem inúmeros festivais de cinema onde você pode entrar para tentar conseguir um distribuidor ou apoio financeiro.
LYNCH, 2008, p. 161 O Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema é uma atividade da modalidade de Intervenção Extensionista na categoria Projeto de Extensão por Tempo Determinado. Tem por objetivo o incentivo da produção em cinema (curtas-1 Anderson Costa é formado em Comunicação Social (Jornalismo) pela Unipar (Universidade
Paranaense), Especialista em Cinema pela UTP (Universidade Tuiuti do Paraná) e é Mestrando do programa de Linguagem, Identidade e Subjetividade da UEPG (Universidade Estadual de Ponta-Grossa). Atualmente é professor do Departamento de Comunicação Social da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste). E-mail: naoentreempanico@gmail.com
2 Clério Back é formado em Publicidade e Propaganda e Especialista em Artes Visuais. Atualmente é
professor do Departamento de Comunicação Social da Unicentro. E-mail:
cleriofotografia@gmail.com
3 Francismar Formentão é formado em Comunicação Social (Jornalismo), Especialista em
Comunicação, Educação e Artes, Mestre em Letras pela Unioeste (Universidade Estadual do Centro-Oeste), e Doutorando do programa de Comunicação e Cultura da UFRJ. Atualmente é professor do Departamento de Comunicação Social da Unicentro. E-mail: fformentao@gmail.com
4 Márcio Fernandes é formado em Comunicação Social (Jornalismo), Mestre em Comunicação pela
metragens de ficção ou documentais) a partir de tecnologias de baixo custo, como o celular e as máquinas fotográficas. O projeto, nesse sentido, se insere tanto numa tendência de estudos acadêmicos sobre o audiovisual, bem como na perspectiva mercadológica que busca maneiras de se baratear o sistema de produção. Para isso, os alunos e comunidade em geral frequentam as oficinas e participam de Ciclos de Exibição, que lhes permite suporte para análises mais críticas dos filmes, bem como instrumental para a confecção de curtas-metragens.
O objetivo geral é incentivar a produção audiovisual (de curtas-metragens, documentários, videopoemas, vídeos experimentais, etc.), a partir da pesquisa teórica e técnica do cinema. Entre os objetivos específicos estão: a) Incentivar e promover o estudo e a pesquisa em cinema; b) Colaborar com o Unicentro como grupo consultivo no estudo e nas soluções de problemas relacionados a área cinematográfica; c) Promover a realização Ciclos de Exibição e Discussão de obras cinematográficas e; e) Organizar e promover mostra do material produzido.
A realização deste projeto tem como consideração o conhecimento sobre a comunicação que surge principalmente devido à proliferação de diversos sistemas de transmissão de dados, destaque para a ideia da comunicação como sendo aquela da reprodução dos estados mentais (MATTELART, 2004). Neste sentido, “é preciso pensar de maneira diferente, portanto, a questão da liberdade e da democracia. A liberdade política não pode se resumir no direito de exercer a própria vontade. Ela reside igualmente no direito de dominar o processo de formação dessa vontade” (MATTELART, 2004, p.187).
Pensando nas possibilidades de relação entre os diversos conhecimentos e, principalmente, a reflexão de que estes conhecimentos articulam-se pela comunicação na cultura, a filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin (1895-1975) apresenta a alteridade e o dialogismo como métodos, não pensando a alteridade como diferença ou como par antagônico do sujeito. Não estabelece também ordenação, combinação de ordem valorativa ou normativa. O significado da alteridade ocorre entre o Eu e o Outro como interação em que ambos se incluem mutuamente. As relações recíprocas se definem na tríade eu-para-mim, no outro-para-mim e no eu-para-o outro, como ação concreta, ato em realização que requer compreensão responsiva e assunção responsável (responsabilidade) de ordem ética e cognitiva. Nesse processo, os sujeitos participam ativamente da interação, experienciam o mundo em ação situada, avaliativa e valorada, dessa forma este subsídio organiza o pensamento sobre a cultura, sua articulação entre sujeitos que constituem sua identidade na alteridade.
O método de estudo da comunicação centrado na semiótica bakhtiniana tem o signo ideológico como fator na interação e na socialização do homem e mais ainda, propulsor da ação material que transforma o próprio homem e a natureza. Os signos assumem forma e conteúdo, conduzindo o sentido para a materialização dos processos de comunicação. Desta forma, deve-se pensar a prática da atividade de extensão propiciada pelo núcleo em suma, trata-se do processo de interação objetivada do sujeito no mudo, entre o eu e o outro.
Para Robert Stam, “os filmes (...) só fazem ampliar esta noção do artista (produção cultural) como orquestradores das mensagens lançadas por todas as séries – literárias, pictóricas, musicais, cinematográficas, publicitárias etc.” (STAM, 2000, p. 75). Estes elementos são organizadores da cultura, determinando o circuito da comunicação que constitui a identidade, que é forjada interativamente no(s) e pelo(s) outro(s) e sustenta-se na diferença, apresentando aspectos “subjetivos” e “objetivos” provenientes do processo de internalização de relações
sócio-histórico-ideológicas e culturais. Esta identidade caracteriza-se tanto pelo agir do sujeito no fluxo da comunicação, pela compreensão responsiva que o sujeito tem deste fluxo e empreende em suas relações interdiscursivas, quanto pela perspectiva do meio social/cultural em que está inserido.
Em 2010, foram realizadas duas exibições seguidas de oficinais especiais. A primeira delas foi Arca Russa e o cinema de Alexander Sokurov, que, como o próprio nome sugere, conteve a exibição do longa-metragem russo Arca Russa, do cineasta contemporâneo Alexander Sokurov, seguida de Oficina Especial sobre a obra do cineasta e sobre os conceitos de planos no cinema em perspectiva com as novas tecnologias. A segunda exibição foi intitulada A Montagem no Cinema, e contou com a exibição do documentário The Cutting Edge (ainda não lançado oficialmente no Brasil), seguida de Oficina Especial sobre os processos de edição de filmes e suas aplicações.
Foram realizadas três grandes mostras.
- 1ª Mostra de Filmes Proibidos: essa Mostra foi realizada de 25 a 29 de
outubro e contou com a exibição e discussão de filmes que, em algum momento, foram proibidos de serem exibidos;
- Semana do Mau Gosto: 1ª Mostra de Filmes Tensos: a Mostra foi realizada
de 16 a 19 de novembro, e contou com filmes não comerciais que possuem temática controversa, como violência extrema. O sucesso da Mostra fez com que já programássemos uma segunda edição no primeiro semestre de 2011;
- 00:24 Vídeo Minuto – Criação em Imagem e Movimento: a Mostra foi
realizada nos dias 22 e 23 de novembro, entre às 19h e 21 horas. Na programação estavam vídeos de até um minuto produzidos por alunos do quarto ano de Jornalismo da Unicentro.
A primeira produção do Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema foi um documentário rural chamado “Só não acredito no homem” – Pequenas Histórias do Campo, disponível para visualização gratuita em http://www.vimeo.com/14491731. O curta-metragem participou do Festival de Cinema e Vídeo Rural de Piratuba, Santa Catarina.
Em 2011, o Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema iniciou as atividades em abril, com a Oficina Cinema e Fotografia: Análises da Narrativa Visual, que foi realizada em duas etapas. A primeira, teórica, foi realizada no dia 14, e a prática, dia 25. Os integrantes foram convidados a refazer uma cena de um filme clássico a partir de tecnologias caseiras, como câmeras fotográficas. No total, foram produzidos cinco pequenos vídeos, que estão disponíveis para visualização no blogue do projeto: npcinema.tumblr.com.
No dia 19 de maio, foi promovida outra oficina, intitulada Western: Ascenção,
Queda e Ressureição. O palestrante fez um apanhado histórico do gênero e em
seguida discutiu a influência em produções atuais. De 06 e 10 de junho, haverá a Mostra e Oficina Sergio Leone. Entre os dias 06 e 09 haverá mostra comentada dos principais filmes do cineasta, e no dia 10, a oficina Tempo e Narrativa em Sergio
Leone.
Também estão programadas oficinas sobre o trabalho do cineasta Quentin Tarantino, sobre o movimento cinematográfico conhecido como Marginal no Brasil, sobre Produção de Set e Roteiro, e sobre Crítica Cinematográfica. Por fim, deve ser
realizada também a 2ª Semana do Mau Gosto – Mostra de Filmes Tensos, que é considerada um das mais importantes mostras do projeto.
Em quase todas essas oficinas, os integrantes serão convidados a produzir novos materiais audiovisuais, que deverão ser exibidos em uma mostra no final do ano, bem como enviados para festivais de cinema.
Nestas atividades o grupo tem registrado em média a participação regular de cerca de 30 pessoas entre acadêmicos e interessados da comunidade em geral, ainda há uma média de 50 pessoas que visitam estes encontros de forma esporádica interessados pelas temáticas discutidas.
Metodologia
Os participantes das oficinas, podem organizar e participar dos Ciclos, bem como produzir produtos audiovisuais; pesquisar a aplicação de suportes alternativos. A avaliação e a certificação se dará a partir da presença dos alunos nas oficinas, da participação e do envolvimento deles nas atividades, e da entrega de eventuais relatórios.
As oficinas englobam: (1) Instruções Teóricas, calcadas nas teorias e na história do cinema, bem como nas pesquisas da narrativa e da estética; (2) Instruções Culturais, que têm por objetivo apresentar e discutir filmes e profissionais (diretores, roteiristas...) de relevância histórica; e (3) Instruções Técnicas, que permitem aos participantes produzir.
O público-alvo do projeto são os acadêmicos da Unicentro e a comunidade em geral, que é sempre convidada a participar, bem como acadêmicos de outras instituições.
Considerações finais
O Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema é uma atividade que busca articular o ensino e pesquisa na interação entre comunidade e universidade. O Núcleo é vinculado ao Grupo de Pesquisa GCC – Grupo Círculo de Conversas sobre Linguagem, Comunicação e Artes, registrado no CNPq e certificado pela instituição. Promove ensino em suas atividades quando em diálogo com os mais variados sujeitos buscando produzir conhecimento. Toda a atividade, até mesmo as práticas, buscam articular conhecimentos científicos com o conhecimento popular, além de incentivar a produção científica de seus integrantes. Mas certamente o resultado de maior expressividade desta atividade extensionista tem sido a promoção deste contato entre comunidade em geral e acadêmicos, com a arte do cinema, em sua produção técnica e estética.
Referências
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Paulo, Editora UNESP, 1998.
EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2002. _________________. O sentido do filme. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2002.
São Paulo: Loyola, 2004.
LYNCH, David. Vídeo Digital para Jovens Cineastas in Em Águas Profundas. Fio de Janeiro: Gryphus, 2008.
McKEE, Robert. Story – Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita de
Roteiro. Tradução: Chico Marés. Editora Curitiba: Paraná, 2006.
MURCH, Walter. Num piscar de olhos. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2004. MOSCARIELLO, Angelo. Como si guarda um filme. Col. Dimensões. Editorial
Presença: Lisboa, 1980.
RICHARD, André. La Critique D’Art. Tradução de: Maria Salete Bento Cicaroni. Martins Fontes: São Paulo, 1989.
SOUZA, Carlos Roberto de. Nossa Aventura na Tela. Cultura: São Paulo, 2002. STAM, Robert. Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. São Paulo, Ática,
2000.
VANOYE, Francis. GOLIOT-LETÉ, Anne. Précis d’ analyse filmique. Tradução de: Marina Appenzeller. Nathan, Paris, 1992.