Verificação de Propriedades Psicométricas do Inventário de Motivações à Certificação ISO 14001
Autoria: Marcos Alencar Abaide Balbinotti, Iuri Gavronski
Resumo
O Inventário de Motivações à Certificação ISO 14001 (IMCI14K) é um importante instrumento que avalia quatro dimensões relacionadas à decisão para certificação do sistema de gestão ambiental (SGA), na norma NBR ISO 14001. Esta pesquisa apresenta as propriedades psicométricas do IMCI14K, obtidas com uma amostra de 63 empresas (de um total de 130 empresas) dos setores químico, metal-mecânico e eletro-eletrônico, com unidades produtivas certificadas localizadas no Brasil. Os resultados estão sistematicamente apresentados conforme suas dimensões. Os coeficientes Alpha, para cada uma das quatro dimensões estudadas, são satisfatórios (α > 0,71). Tanto os resultados das análises fatoriais quanto as correlações item-item, item dimensão e item-escala total apóiam uma solução a quatro fatores. Pesquisas são ainda necessárias a fim de continuar o estudo de outras importantes qualidades psicométricas.
Palavras Chave: gestão da qualidade, gestão ambiental, estratégia, propriedades psicométricas.
Introdução
As empresas buscam certificar seus sistemas de gestão através de normas internacionais, normalmente oriundas da ISO. A norma que certifica o sistema de gestão ambiental (SGA) é a norma ISO 14001, editada no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Essas certificações permitem, eventualmente, à uma empresa participar de um processo de fornecimento, ou divulgar o certificado para seus públicos externos. Mas, afinal, o que leva essas empresas a buscarem a certificação ISO 14001 para seus SGAs?
Esse estudo explora as propriedades psicométricas de um novo inventário de motivações à certificação ISO 14001.
Operacionalização dos Conceitos Motivação
Diz-se, geralmente, que a motivação é o que faz uma pessoa agir. Vallerand e Thill (1993) apresentam uma definição mais precisa deste conceito: “(...) um construto hipotético utilizado a fim de descrever as forças internas e/ou externas que produzem estopins, direções, intensidades e persistências num comportamento” (p.18). Diversos autores têm sublinhado a importância do papel da motivação dentro da ótica das decisões empresariais (Maslow, 1943; Herzberg et al., 1959; Bergamini, 1997). Particularmente, Hoyt (1977) teoriza sobre a necessidade de aquisição de um conjunto de valores significativos que possam motivar a ação.
Motivações à Certificação ISO 14001
Em um levantamento recente, Morrow and Rondinelli (2002) identificaram as principais razões pelas quais empresas alemãs haviam se certificado na norma ISO 14001, e os benefícios percebidos por essas empresas. Já o NDEMS (2001) é uma base de dados
norte-americana com dados em profundidade e atualizada periodicamente, a fim de proporcionar estudos longitudinais, com as práticas ambientais das empresas que voluntariamente participam dessa pesquisa. O NDEMS (2001) é um estudo recente feito com dados dessa base, e releva algumas motivações pelas quais as empresas norte-americanas buscam um SGA. Para esse estudo, as motivações e benefícios foram obtidos, e adaptados, de Morrow and Rondinelli (2002), NDEMS (2001), GM (2001) e das entrevistas com gestores ambientais em empresas certificadas.
As motivações à certificação podem ser: obter melhorias no desempenho ambiental;
identificar oportunidades para melhor utilização das nossas fontes de energia; motivar os funcionários para seu trabalho (melhorar o moral, etc.);
melhorar a imagem da empresa junto à sociedade em geral; melhorar a imagem da empresa junto aos clientes;
aumentar a certeza do cumprimento da legislação ambiental; melhorar a organização interna;
expectativa de aumento futuro da exigência da legislação ambiental; atender a legislação ambiental vigente;
detectar e minimizar a possibilidade de criar passivos ambientais; detectar e minimizar riscos ambientais;
reduzir impactos ambientais específicos atuais da empresa; obter redução de custos de produção;
obter acesso a linhas de crédito especiais, com juros reduzidos; obter benefícios fiscais;
obter apoio técnico de órgãos públicos (SEBRAE, etc.);
atender à solicitação da empresa controladora, matriz, corporação ou holding; responder à solicitação de clientes;
responder à solicitação de grupos de proteção ambiental (ONGs);
responder à solicitação de agências/órgãos governamentais ligados à questão ambiental;
responder à pressão de fornecedores; atingir o padrão dos concorrentes; antecipar-se aos concorrentes;
responder à orientação de entidades de classe (CNI, ABIQUIM, etc.); atender a uma decisão interna da própria unidade produtiva;
desenvolver produtos e processos inovadores em relação ao meio ambiente.
As questões então foram construídas a partir das motivações identificadas acima, e as dimensões obtidas através de análise fatorial exploratória.
Método Sujeitos
Foram utilizadas, nesta pesquisa, duas amostras emparelhadas e independentes de empresas dos setores químico, metal-mecânico e eletro-eletrônico. A primeira (n = 3) serviu, apenas, para se realizar os estudos pilotos iniciais que garantiram, na medida do possível, uma satisfatória qualidade semântica e de conteúdo do instrumento na utilização da amostra propriamente dita deste estudo (Hernandez-Nieto, 2002). Caminho feito, a amostra propriamente dita deste estudo, foi composta de 63 empresas (de um total de 130 empresas certificadas, dos mesmos setores, no Brasil), com unidades produtivas certificadas localizadas no Brasil. A fim de descrever, precisamente, a amostra, destaca-se que, das empresas que
responderam (48,5% de devoluções), 29 (46%) são do setor químico, 25 (40%) são do setor metal-mecânico e, finalmente, 9 (14%) são do setor eletro-eletrônico. Os sujeitos que representavam as empresas foram, em um primeiro momento, questionados quanto ao interesse e a possibilidade real de participação na pesquisa. Após a apresentação formal dos objetivos, das colocações referentes a confidencialidade e dos demais aspectos referentes ao consentimento livre e esclarecido (lei 196 do ano de 1996), os sujeitos sentiram-se capazes de decidir se queriam ou não participar da mesma. Outro aspecto importante, que vale a pena ser apresentado, é que foi dada a alternativa dos sujeitos responderem segundo três meios distintos: correio tradicional, fax ou correio eletrônico. Todas as empresas que efetivamente responderam preferiram receber o instrumento por meio de correio eletrônico, mas alguns preferiram responder por outros meios, como o fax.
Instrumento
Os itens do IMCI14K
Os diversos itens isolados e a concepção de uma escala total foram derivados da literatura especializada. Ao elaborar o Inventário de Motivações à Certificação ISO 14001 (IMCI14K), partiu-se de um interesse em construir uma escala breve (em torno de 20 a 25 itens), não perdendo de vista as qualidades psicométricas deste inventário (validade e fidedignidade). Os 22 itens elaborados compreendem quatro dimensões distintas: a primeira, com 9 itens, se propõe avaliar o quanto a empresa buscou uma certificação ISO 14001 em reação a uma situação externa (Motivações Reativas – MR); a segunda, com 6 itens, se propõe avaliar o quanto forças internas à própria empresa influíram na busca da certificação (Motivações Internas – MI); a terceira, com 4 itens, se propõe avaliar o quanto a empresa buscou sua certificação a fim de atender uma regulamentação, seja futura ou vigente (Motivações Legais – ML); e, finalmente, a quarta, com 3 itens, se propõe avaliar o quanto a empresa busca a certificação para antecipar-se a eventuais problemas com stakeholders externos à empresa (Motivações Pró-ativas – MP). Cada uma destas quatro dimensões apresenta questões formuladas positivamente. As instruções de respostas ao inventário são simples, exigindo-se apenas respostas verdadeiras, e portanto confiáveis, por parte dos respondentes representantes das empresas certificadas. Estes, finalmente, responderam conforme uma escala bidirecional, de tipo Likert, em 5 pontos, indo de “Discordo completamente” (indicando o valor “1”) à “Concordo plenamente” (indicando o valor “5”).
Cuidados na Elaboração da Escala
Tendo-se em vista, por um lado, todos os aspectos levantados nas questões teóricas e, por outro lado, tendo-se verificado a inexistência de um inventário pareado ou paralelo na literatura investigada, teve-se como objetivo a construção de um instrumento de avaliação, de fácil aplicação, para investigar algumas das importantes motivações (ou motivos) que levam uma empresa a certificar determinada unidade produtiva na norma NBR ISO 14001. Teve-se como ponto de partida, em termos de conteúdo, os construtos teóricos fundamentados na literatura, traduzidos nas quatro dimensões já expressas.
Procedimento de Aplicação
As empresas certificadas tiveram seu nome obtido de uma base do Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), o órgão credenciador das certificações ISO 14001 no Brasil (MOURA, 2000). Dessa base, foram selecionadas as empresas que tinham ramos de atuação dentro dos setores químico, metal-mecânico e eletro-eletrônico.
Dessas empresas, foram localizados os responsáveis pela avaliação crítica do sistema de gestão ambiental junto à alta administração (RAs). Esses RAs foram contatados e, caso
estivessem de acordo em participar, recebiam o instrumento de pesquisa, numerado, com 5 inventários, entre eles o IMCI14K, e demais questões de caracterização da empresa. O tempo estimado de resposta do instrumento, mesmo sendo um tanto longo, foi estimado em 15 a 20 minutos. Foi prometido aos respondentes um relatório executivo, com as informações mais importantes da empresa, e uma comparação das respostas da empresa com seu setor. Todas as 130 empresas certificadas no Brasil até janeiro de 2002 que puderam ser localizadas foram contatadas, e destas, 63 empresas (48,5%) responderam.
Resultados
Após a criteriosa construção de 22 itens, respeitando a teoria, mas adaptando as questões à realidade das empresas brasileiras, apresentam-se, a seguir e sistematicamente, os resultados das análises descritivas, de itens, a estrutura fatorial exploratória desta primeira versão do IMCI14K e, finalmente, a correlação entre as quatro dimensões avaliadas.
Análises descritivas
A Tabela 1 apresenta os resultados dos cálculos de tendência central, de dispersão e de distribuição amostral como propõem alguns dos mais recentes manuais de psicometria e de análise de dados para estudos em ciências sociais aplicadas (Bryman & Cramer, 1999; Kaplan & Saccuzzo, 1999; Pestana & Gageiro, 2000; Reis, 2000, 2001). Mesmo que se faça uma análise comparativa, por dimensão, dos resultados das medidas de tendência central (constatando-se índices de valores relativamente próximos), o cálculo de distribuição amostral de Pearson (assimetria e curtose) não deixa dúvidas quanto aos graus de assimetria e achatamento encontrados. Conforme os resultados descritos nesta Tabela, verifica-se uma tendência assimétrica negativa nas motivações Internas, Legais e Pró-ativas. Quanto à motivação Reativa, verifica-se uma satisfatória simetria na distribuição amostral. Considerando os índices de achatamento, verifica-se que as motivações Internas, Legais e Pró-ativas encontram-se lepticúrticas (achatadas positivamente) e, a Reativa apresentou índices mesocúrticos. Esses resultados miscigenados somados ao fato de que, de maneira geral, cerca de 95% dos dados não encontram-se entre dois desvios padrões (negativos e positivos), implicam na constatação das diferenças significativas encontradas nos cálculos de normalidade executados. Afora esses pequenos problemas, unicamente de ordem de distribuição amostral, os outros resultados (Alpha, Tendência central e Dispersão), geralmente favoráveis (a única exceção seria o resultado da moda na motivação Reativa), garantem, em certo sentido, que nossa amostra, mesmo não sendo probabilística no sentido estrito do termo, pode fornecer resultados com níveis satisfatórios de confiança.
Tabela 1: Análises descritivas por motivações
Análises Descritivas Tendência Central
(Dispersão) Distribuição
Normalidade Assimetria Achatamento Motivações Alpha X (DP) X 5% Med Mod K-S gl Sig Skewness EP s Kurtosis EPk Reativas 0,90 20,3 (8,7) 19,9 18,5 9 ,133 54 ,018 0,498 ,325 0,553 ,639 Internas 0,78 23,8 (4,7) 24,1 24,5 23 ,176 54 ,000 -1,421 ,325 3,071 ,639 Legais 0,82 16,7 (3,7) 17,1 18,0 19 ,212 54 ,000 -1,581 ,325 2,348 ,639 Pró-ativas 0,71 13,6 (1,8) 13,8 14,0 15 ,244 54 ,000 -1,591 ,325 2,607 ,639
Análise de itens
As correlações “item-escala total” obtidas com esta amostra variaram de 0,185 à 0,755, sendo que a mediana das correlações foi de 0,466. Estes resultados sugerem a possibilidade real de estar-se medindo mais do que uma única dimensão. Esta indicação é também sugerida pelos cálculos de correlação “item-item” (ver Tabela 3) e “item-dimensão” (ver Tabela 2), onde se podem encontrar conjuntos de índices correlacionais mais fortes e mais fracos. Como ainda se podem ver na Tabela 1, os coeficientes Alpha individuais para cada uma das quatro dimensões estudadas são satisfatórios (Garson, 2003; Pestana e Gageiro, 2000), com um destaque especial para a motivação Reativa, que apresentou um índice Alpha de 0,90, justificando, assim, uma excelente consistência interna dos itens (fidedignidade). Já o coeficiente Alpha da escala total é de 0,88, um não menos excelente índice (Cronbach, 1988) para o inventário como um todo. Como se pode notar, os índices de consistência interna, tanto o da escala total quanto aqueles representativos das quatro dimensões estudadas, são sensivelmente satisfatórios (Alpha > 0,70). Nota-se que, analisando os índices Alpha se algum item for retirado da escala, não haverá aumentos importantes de valores, o que significa, portanto, que decidiu-se manter todos os itens como estão, priorizando, nesses poucos casos, o conteúdo dos itens.
Tabela 2: Análises preliminares da fidedignidade do IMCI14K.
Análises preliminares da fidedignidade
Análises descritivas Análises correlacionais
Intercorrelações intra-dimensões Motivação Itens Média D.P. Alpha se Item retirado Correlação item-escala total Correlação Item-dimensão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2,0 1,1 0,88 0,755 0,830 -- 2 2,1 1,3 0,89 0,625 0,774 ,60 -- 3 2,2 1,2 0,89 0,659 0,765 ,84 ,57 -- 4 1,9 1,1 0,89 0,617 0,765 ,73 ,76 ,58 -- Reativa 5 2,3 1,3 0,89 0,698 0,759 ,79 ,65 ,91 ,57 -- 6 2,0 1,3 0,89 0,651 0,705 ,67 ,58 ,57 ,61 ,52 -- 7 2,2 1,3 0,90 0,542 0,623 ,57 ,52 ,50 ,56 ,48 ,65 -- 8 2,5 1,3 0,90 0,422 0,576 ,51 ,49 ,46 ,43 ,45 ,43 ,46 -- 9 3,1 1,5 0,92 0,230 0,402 ,32 ,50 ,24 ,40 ,28 ,31 ,16 ,35 -- 1 4,7 0,7 0,74 0,337 0,628 -- 2 3,6 1,3 0,73 0,433 0,566 ,39 -- 3 3,9 1,0 0,73 0,579 0,591 ,46 ,42 -- Interna 4 4,1 1,3 0,78 0,359 0,426 ,43 ,34 ,32 -- 5 4,1 0,9 0,75 0,299 0,505 ,55 ,37 ,42 ,18 -- 6 3,7 1,2 0,74 0,498 0,541 ,43 ,41 ,41 ,32 ,40 -- 1 4,5 0,9 0,71 0,496 0,780 -- 2 4,2 1,2 0,79 0,343 0,592 ,59 -- Legal 3 4,0 1,0 0,79 0,331 0,579 ,57 ,46 -- 4 4,1 1,3 0,77 0,602 0,643 ,70 ,47 ,46 -- 1 4,4 1,0 0,69 0,185 0,522 -- Pró-ativa 2 4,7 0,6 0,45 0,274 0,753 ,63 -- 3 4,5 0,6 0,76 0,378 0,475 ,33 ,62 --
Notas: Os valores correlacionais iguais ou superiores a ,31 são significativos (p<0,05)
Motivações
Reativas Internas Legais Pró-ativas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 1 2 3 1 -- 2 ,59 -- 3 ,85 ,56 -- 4 ,74 ,76 ,59 -- 5 ,79 ,64 ,91 ,57 -- 6 ,65 ,60 ,55 ,60 ,50 -- 7 ,55 ,54 ,47 ,56 ,45 ,66 -- 8 ,51 ,51 ,47 ,43 ,45 ,44 ,46 -- Reati vas 9 ,31 ,52 ,23 ,40 ,27 ,33 ,19 ,37 -- 1 ,12 ,03 ,03 ,08 ,11 ,11 ,10 ,19 ,14 -- 2 ,22 ,22 ,14 ,22 ,19 ,33 ,28 ,09 ,10 ,40 -- 3 ,33 ,31 ,19 ,28 ,25 ,34 ,29 ,23 ,14 ,46 ,52 -- 4 ,14 ,13 ,05 ,09 ,15 ,14 ,09 ,11 ,07 ,43 ,35 ,34 -- 5 ,19 ,03 ,15 ,03 ,21 ,12 ,08 ,01 ,18 ,56 ,39 ,44 ,20 -- Internas 6 ,44 ,20 ,33 ,36 ,40 ,37 ,14 ,02 ,03 ,43 ,41 ,41 ,32 ,40 -- 1 ,19 ,14 ,21 ,07 ,26 ,05 ,13 ,02 ,02 ,59 ,30 ,38 ,48 ,33 ,26 -- 2 ,13 ,03 ,18 ,01 ,22 ,11 ,04 ,01 ,15 ,34 ,14 ,35 ,17 ,30 ,22 ,59 -- 3 ,14 ,15 ,08 ,01 ,11 ,16 ,18 ,06 ,11 ,27 ,16 ,08 ,25 ,06 ,27 ,56 ,46 -- Legais 4 ,37 ,31 ,39 ,22 ,43 ,15 ,22 ,20 ,24 ,32 ,28 ,41 ,26 ,26 ,27 ,70 ,47 ,46 -- 1 ,09 ,20 ,04 ,12 ,07 ,19 ,06 ,30 ,28 ,08 ,02 ,03 ,09 ,13 ,05 ,06 ,11 ,09 ,14 -- 2 ,11 ,20 ,08 ,02 ,13 ,12 ,08 ,12 ,22 ,03 ,02 ,07 ,04 ,13 ,15 ,36 ,28 ,26 ,30 ,63 -- Pró -ativas 3 ,12 ,17 ,01 ,18 ,07 ,24 ,21 ,16 ,02 ,38 ,15 ,28 ,23 ,25 ,26 ,41 ,31 ,27 ,27 ,33 ,63 --
Notas: Os valores correlacionais iguais ou superiores a ,31 são significativos (p<0,05)
Tabela 4: Normas para interpretação individual de resultados Percentis/Quartis/Decis Motivações 5 10 25 50 75 90 95 Reativas 9 9 12,75 18,5 27 31 37,5 Internas 14,25 18 21,75 24,5 27 29 30 Legais 7,75 11,5 15 18 19 20 20 Pró-ativas 9 11,5 12 14 15 15 15
Já a Tabela 4, apresenta outros importantes dados de normatização, ainda referentes às estatísticas descritivas de localização, mas agora de tendência não central: os percentis, os quartis e os decis. Estas estatísticas robustas de ordem não sofrem a influência de casos aberrantes, o que garante resultados satisfatórios nas interpretações.
Estrutura Fatorial
Antes de proceder ao cálculo de análise fatorial, o coeficiente Kaiser-Meyer-Olkin (KMO = 0,69) foi estimado, o Determinante de Matriz de Correlação (0,0000000215) foi calculado e o teste de esfericidade de Bartlett (p < 0,00000) foi aplicado. Seus respectivos valores indicam que as correlações entre os itens são suficientes – e mesmo muito adequadas – para se proceder a uma análise fatorial exploratória. Ainda, o resultado da medida de redundância de informação (|R| diferente de 0) indica a ausência de todo tipo de repetição das ligações correlativas lineares. Todos esses dados asseguram a pertinência e a confiabilidade dos resultados do cálculo fatorial (Dassa, 1999). Assim, uma análise em componentes principais, seguida de uma rotação obliqua (considerando as relações entre os fatores), serviu para examinar a estrutura fatorial exploratória do IMCI14K. A partir desta análise, extraíram-se quatro fatores tendo raízes latentes superiores a um (1). Eles explicam 63,7% da variância. Considerando-se o fato de que as comunalidades dos itens são todas superiores a 0,40, esta solução fatorial mostra-se perfeitamente satisfatória. No mais, foram necessárias apenas 12 interações para convergências dos fatores após a rotação. Ainda, esta solução fatorial apresentou-se de forma pura, ou seja, não houve dupla saturação e os itens saturam de forma importante (Satf > 0,50), cada um em seu próprio fator, teoricamente postulado. Portanto, não se faz necessário rodar novas análises fatoriais (ver Tabelas 5 e 6).
Tabela 5: Variância total explicada para a matriz fatorial em 4 fatores. Saturações da soma dos quadrados rotados
Em 2 fatores Componentes fatoriais
da Motivação
Total % da variância % cumulativa
Reativo 6,75 30,7 30,7
Interno 3,60 16,4 47,1
Legal 2,20 10,0 57,1
Tabela 6: Explicação fatorial do IMCI14K.
Comunalidades Matriz de Explicações Fatoriais
Motivações Extração em Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Itens 5 fatores Reativo Interno Legal Pró-ativo
1 0,88 0,865 2 0,73 0,838 3 0,85 0,869 4 0,71 0,820 Reativas 5 0,84 0,848 6 0,66 0,690 7 0,49 0,647 8 0,51 0,637 9 0,41 0,506 1 0,72 0,751 2 0,58 0,770 3 0,60 0,700 Internas 4 0,46 0,652 5 0,46 0,647 6 0,47 0,575 1 0,80 0,765 2 0,59 0,735 Legais 3 0,54 0,709 4 0,64 0,664 1 0,71 0,831 Pró-ativas 2 0,79 0,812 3 0,66 0,697
Correlação entre as Quatro Dimensões Medidas
Dois procedimentos foram realizados para se verificar os índices de correlação entre as duas dimensões medidas: Pearson (0,139 > r < 0,470) e Spearman (0,188 > rho < 0,528). Ambos os resultados variaram de não significativo (p > 0,05) a altamente significativos (p < 0,001). Tais resultados reforçam a decisão da rotação fatorial oblíqua. Destaca-se, inicialmente, a não importante diferença entre os dois índices calculados. Sendo assim, qualquer que sejam os resultados dos índices interpretados (Spearman ou Pearson), devem-se entender realmente como dimensões independentes. Dos três aspectos interpretativos levantados destaca-se: independente do índice interpretado todas as correlações foram positivas e com forças de muito fracas a moderadas. Mesmo sabendo que o índice de significância é influenciado pela quantidade de sujeitos da amostra (n) em estudo, destaca-se que estes índices estão aproximadamente de acordo com as forças das correlações conforme Pestana e Gageiro (2000). A Tabela 7 apresenta todos os dados, pormenorizadamente. Quer-se deixar claro que, não desconsiderou-Quer-se o fato de que cada uma destas análiQuer-ses tem Quer-seus pré-requisitos (Barbetta, 2001; Bryman & Cramer, 1999; Green & Salkind, 2002; Levin, 1987; Pestana & Gageiro, 2000; Sirkin, 1999; Sweet, 1999), mas de uma forma ou de outra eles foram respeitados (ver índices de normalidade apresentados na Tabela 1).
Tabela 7: Índices correlacionais (r e rho) conforme as dimensões do IMCI14K.
Motivações
Dimensões Reativas Internas Legais Pró-ativas Reativas -- 0,303* 0,228 0,208 Internas 0,339* -- 0,470** 0,139 Legais 0,237 0.415** -- 0,320* Motivações
Pró-ativas 0,241 0,188 0,528** -- Notas: rho de Spearman e r de Pearson; ** p < 0,01; * p<0,05
Conclusão
O objetivo deste estudo foi de explorar algumas das importantes propriedades psicométricas de um novo instrumento que avalia quatro dimensões relacionadas à decisão para certificação do sistema de gestão ambiental, na norma NBR ISO 14001, o Inventário de Motivações à Certificação ISO 14001 (IMCI14K). A fundamentação teórica está apresentada de forma a demonstrar que as dimensões “Reativa”, “Interna”, “Legal” e “Pró-ativa” são, de certo modo, medidas de motivação à certificação ISSO 14001 e, porque não dizer, de decisão, pois foram a partir destas motivações que estas empresas buscaram esta certificação.
As qualidades psicométricas gerais do IMCI14K são bastante satisfatórias. De forma pormenorizada, pode-se concluir que a validade fatorial foi positivamente demonstrada, dando certa garantia de que este promissor inventário mede o que ele se propõe medir. Depois da garantia de que os fatores são apresentados de forma pura, pode-se avaliar o índice de consistência interna de cada uma das duas dimensões estudadas e, ainda, um índice de consistência interna de todo o inventário (considerando os índices de correlação inter-dimensão obtidos). Ambos os resultados foram satisfatórios, o que garante a fidedignidade do instrumento, assim sendo, os níveis de precisão de cada dimensão e do inventário, e como um todo, são bastante satisfatórios, demonstrando-se que se pode confiar nos resultados.
Finalmente, trata-se de um inventário construído a partir de nossa realidade sócio-político, econômica e cultural e que apresenta qualidades psicométricas adequadas. A partir desses resultados, justifica-se o uso deste instrumento em pesquisas. Chegou-se a determinar normas gerais de interpretação, mas cabe, em um outro momento, pesquisar as normas específicas por setor. Dispondo-se de normas específicas, pode-se considerar até, após novos e específicos estudos, utilizar esse inventário em consultorias especializadas. Sendo assim, novos estudos são requeridos para que se possa verificar, por um lado, outras formas de validade (de conteúdo e de critério) e fidedignidade (método teste-reteste, formas paralelas, das metades) e por outro lado, estudos correlacionais, levando-se em conta outros importantes construtos relacionados à motivação (benefícios, interesses, valores, etc.). Novos estudos são aconselhados para que se possa garantir, com maior certeza, a utilidade deste instrumento em uso geral.
Referências
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