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QUESTÃO URBANA, AGRÁRIA, AMBIENTAL, MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL

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Academic year: 2021

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QUESTÃO URBANA, AGRÁRIA, AMBIENTAL, MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL

ESTATUTO DA CIDADE E AS ZEIS: COMO INSTRUMENTO DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA URBANA.

Eliana Costa Guerra, Profa. Dra. Do de Serviço Social da UFRN e Orientadora do trabalho, E-mail: elianacostaguerra@hotmail.com Maria Angélica Barbosa Marinho, graduanda de Serviço Social, do quarto período da

UFRN, E-mail: angélica.marinho@hotmail.com

Suzérica Helena de Moura Mafra, graduanda de Serviço Social, do quarto período da UFRN, E-mail: suzerica@live.com RESUMO

O presente estudo intitulado: Estatuto da Cidade e as ZEIS como instrumento de implementação da Política Urbana, se caracteriza em ensaios teóricos sobre a questão urbana, em especial, sobre o Estatuto da Cidade e as ZEIS como instrumentos de regulamentação fundiária urbana. Tem por objetivo contribuir com as reflexões no campo da questão urbana, sobretudo, analisando histórica e dialeticamente o processo de formação das cidades, as implicações desse processo e a formulação e gestão das políticas urbanas. Este estudo teve como metodologia a pesquisa bibliográfica e documental, dentro da proposta da pesquisa qualitativa. Os resultados revelam que, as ZEIS e o Estatuto da Cidade foram conquistas dos movimentos sociais de luta pelo direito à cidade e à moradia, e os quais buscam a efetivação de tais direitos. Considerando também na nossa análise as balizas conjunturais e estruturais para a efetivação desses direitos relativos à política urbana, concluímos portanto, relevando a importância de tais mecanismos de regulamentação fundiária, visto que eles representam um marco legal de legitimação dos direitos sociais no que tange a questão urbana, sobretudo que se tem feito necessário a intensificação do debate sobre esses mecanismos legais de regimento habitacional urbano, e de como estes sofrem diretamente os rebatimentos da conjuntura neoliberal.

PALAVRAS-CHAVE: Estatuto da Cidade, ZEIS, Política Urbana e Regularização

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INTRODUÇÃO

Considerando a construção sócio-histórica brasileira, compreendemos o seu processo de urbanização e industrialização como fases importantes da formação das cidades, visto que, tiveram seu início e ênfase em períodos contemporâneos, entre as décadas de 1930 e 1950, o que tornou este processo peculiar na história do Brasil.

Todavia, esse desenvolvimento sempre esteve articulado aos interesses das elites brasileiras, que sempre se beneficiaram e prevaleceram dos bens coletivos. Essa desigualdade, com relação às terras, foi normatizada desde o século XIX, com a Lei de Terras, que, apesar de tratar sobre a função social destas, trouxe consigo o princípio da propriedade privada das terras, tornando a posse/ocupação, como ilegais, e a partir desta lei, as terras só seriam adquiridas mediante pagamento, mercantilizando-as, restringindo o direito ao acesso à terra, no campo ou na cidade como uma questão latente, o que mobilizou diversos setores sociais na luta pela terra. Dessa luta, se destacam movimentos como a Via Campesina, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o Movimento Terra Livre e entre outros. Esses movimentos foram e são muito importantes na luta do direito à terra e moradia, na área urbana e rural, os quais se destacam, sobretudo na década de 1980, que o Brasil reiniciava seu processo de redemocratização.

Considerando que nossa reflexão se dá sobre a questão urbana, antes desse processo de redemocratização brasileira, vale salientar que o movimento de luta pelo direito à cidade tem seu início desde a década de 1960, em que as cidades se encontravam em um pleno desgaste, devido aos processos históricos e economicamente desiguais de urbanização e industrialização, marcados por marginalização da maior parte da população, apropriação desigual do espaço urbano, formação irregular de moradias e entre outros aspectos.

É válido destacar que, um marco importante no processo de regularização fundiária das cidades, foi a criação das ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social, que a partir da década de 1980 foram desenvolvidas como políticas de urbanização e regularização fundiária, com a lei n° 6.766/79. Um aspecto importante da construção das ZEIS é o controle social, ou seja, a participação dos indivíduos no processo que envolvia essa política fundiária urbana.

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Já na década de 1990, destacamos a redução drástica de recursos destinados à política urbana, tendo em vista o processo de neoliberalização da economia, que se agudiza nos anos 90, e que tem desinteresse explícito nas políticas sociais. Entretanto, em 2001, como marco importante do processo de lutas urbanas, foi promulgado o Estatuto da Cidade, que, segundo Betânia Alfonsin (2003, p. 2)

Calcada no princípio da função social da cidade e da propriedade, a lei estabelece um novo paradigma legal, enfraquecendo a concepção liberal que preconiza um direito de propriedade absoluto, exclusivo e perpetuo e que esteve presente no ordenamento civil do século passado, mas que ainda é largamente influente.

Feito esse resgate histórico, este estudo prioriza abordar sobre a criação das Zonas Especiais de Interesse Social e sobre o Estatuto da Cidade, e algumas questões pertinentes sobre ambos, considerando-os expoentes de suma importância na luta pela moradia no espaço urbano.

O ESTATUTO DA CIDADE: CRIAÇÃO, AVANÇOS E PERSPECTIVAS

Concebendo o longo processo histórico de luta pela moradia nas grandes cidades, foi promulgado, em 2001, o Estatuto da Cidade, que foi o maior e mais eficiente mecanismo de regularização fundiária no Brasil. Este Estatuto, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, que tratam da política urbana, representa um marco legal de conquista da Reforma Urbana, em que, depois de sua publicação, nas ideias de Alfonsin (2003), são gestadas políticas de democratização da gestão dos municípios, significando, entre outros avanços, a participação popular nas administrações municipais, visto que a execução deste Estatuto é de responsabilidade dos municípios brasileiros. Sobretudo, este documento estabeleceu o compromisso de revelar e pautar a função social do território urbano.

É importante considerarmos todo processo de luta do Movimento Nacional de Reforma Urbana, sobretudo, o Estatuto da Cidade como conquista desse movimento, que, de acordo com Ermínia Maricato (2010, p. 16) “reuniu movimentos sociais [...], entidades sindicais, entidades acadêmicas e de pesquisa, ONGs, integrantes da Igreja Católica [...], além de prefeitos e parlamentares progressistas”. Esse movimento foi gestado no século XX, e como já foi citado, resistiu na luta pela

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moradia urbana, durante a época da Ditadura Militar, e, principalmente, retoma com mais fôlego no processo de redemocratização brasileira.

No que tange o Estatuto da Cidade, podemos tecer algumas considerações sobre sua organização, considerando seus avanços e perspectivas. Como principal avanço, aprioristicamente, elucidamos o controle social como prerrogativa dessa política urbana. O Estatuto da Cidade está divido em 5 capítulos, dentre os quais, elencamos para esse estudo os capítulos I – Das diretrizes gerais; II – Dos instrumentos da política urbana; e o capítulo IV – Da gestão democrática; visto que eles contemplam de forma mais expoente a análise construída neste estudo.

O primeiro capítulo do Estatuto da Cidade, Das diretrizes gerais, contempla o ordenamento da política de forma mais geral, de modo que estabelece, entre outros aspectos: o direito à cidade, à terra, à moradia, à serviços públicos de qualidade, trabalho e lazer. Esse aspecto é importante, tendo em vista a concepção ampliada de direitos que é adquirida na conjuntura de efervescência dos movimentos e lutas sociais, que embasaram a formulação dessa política.

Outro aspecto relevante que vale ressaltar sobre as diretrizes gerais do Estatuto, é que elas trazem também a garantia do direito à gestão democrática, que já foi mencionado, a qual diz respeito à participação popular, e somado a isso, institui a necessidade de uma gestão que pense cidades sustentáveis.

No que tange o capítulo II, que versa sobre os instrumentos da política urbana, podemos considerar que a regularização dos instrumentos de viabilização desta política refletem a necessidade de gestá-los e executá-los nas três esferas governamentais, através de “I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; III – planejamento municipal” (BRASIL, 2001). Sobretudo, o Estatuto especifica as atribuições da esfera municipal em especial, a qual deve ser competente para execução prioritária do Estatuto, visto que esses instrumentos estão, em suma, dispostos em:

a) plano diretor; b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; c) zoneamento ambiental; d) plano plurianual; e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual; f) gestão orçamentária participativa; g)

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planos, programas e projetos setoriais; h) planos de desenvolvimento econômico e social. (BRASIL, 2001)

Além disso, o Estatuto ainda dispõe, dentro desse capítulo, sobre as atribuições dos institutos jurídicos e financeiros com relação à organização urbana, sobretudo da moradia. O recorte às atribuições municipais se faz imprescindível pois, é notório no Brasil, em muitas cidades, a abstenção governamental municipal, no que diz respeito ao Estatuto da Cidade, sobretudo, por interesses econômicos que balizam, muitas vezes, a materialização dessas atribuições previstas em lei, prescrevendo assim, a reprodução de um espaço urbano injusto e desigual. Essa análise ainda suscita questionamentos sobre os fóruns coletivos, conselhos e entre outros espaços democráticos, relacionados às temáticas sobre o espaço urbano, de modo que se questiona a não promoção destes na maioria das cidades brasileiras, o que interfere na prerrogativa de gestão democrática da política urbana, deixando sempre, estrategicamente, a população à mercê dos interesses das elites.

Outro capítulo do Estatuto da Cidade que destacamos para análise é o capítulo IV, que trata de questões sobre a gestão democrática das cidades. De acordo com o artigo 43° do Estatuto,

Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal; II – debates, audiências e consultas públicas; III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal; IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; V – (VETADO)(BRASIL, 2001)

Esse capítulo teve destaque no estudo, visto que, consideramos as perspectivas do Estatuto da Cidade, dentre as quais, a participação popular em vistas da democratização, e o enfrentamento à desigualdade, aparecem como latentes nesse documento. São perspectivas assumidas em forma de compromissos com a classe trabalhadora e os movimentos sociais, pautados em busca de uma sociedade mais justa e igualitária, sendo estes ideais assumidos mediante a conjuntura de redemocratização do Brasil.

Os demais capítulos do Estatuto versam sobre a organização fundiária urbana nos mais diversos aspectos, regulamentando o direito à cidade, caracterizando-o como uma conquista do povo.

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ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL: INSTRUMENTO DE IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA URBANA.

No século XX, o Brasil passa por um processo intenso de urbanização, que é resultado da combinação das mudanças sociais ocasionadas pela industrialização e a estagnação das regiões agroexportadoras. Com uma crescente nas soluções habitacionais de iniciativas autônomas da população de baixa renda, como: cortiços, loteamentos irregulares de periferia, favelas e assemelhados, reflexo histórico da desigualdade na distribuição da terra e da riqueza produzida no país.

As ações do poder publico voltadas para as soluções habitacionais, variam desde as tentativas de erradicações até melhorias pontuais e paliativas. Com isso gerava-se conflitos de vizinhanças, devido à desvalorização imobiliária e a mencionada deterioração dos bairros adjacentes. Outros conflitos foram os entre residentes de assentamentos precários e o poder público, devido às leis segregacionistas e reivindicação de direitos de cidadania não atendidos.

O modelo Habitacional de financiamento de novas moradias pelo sistema BNH/SFH demonstrava sinais de exaustão e não havia atendido as famílias de baixa renda. Os governos municipais e estaduais buscavam outras soluções para o problema habitacional, que aumentava a cada dia, por consequência do desemprego e da recessão econômica.

O governo tentou atender as demandas populares de habitação com Programa de Erradicação dos Aglomerados de Sub-habitações (PROMORAR), criado em 1979. Tinha como objetivo financiar projetos que mantivessem a população nas áreas ocupadas por favelas, com a construção de habitações, estímulo ao desenvolvimento comunitário e melhoria da infraestrutura urbana.

Apesar desse programa não possuir números representativos foi um importante marco, para se repensar a ideia de que as favelas podiam e deviam ser removidas.

[...] Disso resultou uma nova abordagem para a questão da habitação de interesse social: o município de São Paulo cria o Fundo de Atendimento à População Moradora em Habitação Subnormal (FUNAPS), 1979, que promoveu e financiou programas próprios da cidade, como Programa de Urbanização em Favelas (PROFAVELA), 1979, PROÁGUA (1979) e Programa de Ligações de Unidades Subnormais (PROLUZ), 1981, além do Programa de Construção, Ampliação e Melhoria de Habitações Populares e

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Complementação Urbana de Loteamentos da Periferia (PROPERIFERIA), 1980 [...] (CALDAS, 2009, p.33-34),

Além de possibilitar que as cidades de Recife e Belo Horizonte se tornassem pioneiras na criação de um novo modelo de zoneamentosi especiais, para a regularização e consolidação de assentamentos precários, com base na lei nº 6.766/79ii.

Na década de 1980, a questão de acesso à terra urbana vira pauta de revindicação dos movimentos sociais (num contexto de lutas pela redemocratização e reorganização dos movimentos de moradia), que junto com a igualdade social ficam no topo da lista das agendas política e de desenvolvimento. Como consequência, veio à resposta brasileira de mudar a Constituição, para promover uma reforma de longo prazo na dinâmica urbana. Com a incorporação de novas estruturas fundamentais de ordem jurídico-urbanísticas na Constituição Federal de 1988, por meio da Lei 10.257iii de 2001, intitulado de Estatuto da Cidade.

A criação de Áreas Especiais de Interesse Social – AEIS, instrumento urbanístico que futuramente no Estatuto da Cidade seria chamado de Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, se deu no Plano Diretor promulgado em janeiro de 1994. Esse plano tinha como seus objetivos: “realizar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade e o uso socialmente justo e ecologicamente equilibrado de seu território, de forma a assegurar o bem-estar de seus habitantes” (ESTATUTO DA CIDADE: COMENTADO, 2010, p.40). Para isso ele incorporou vários outros instrumentos como: o parcelamento e a edificação compulsórios; a operação urbana e o consórcio imobiliário, por meio do qual os proprietários estabeleciam parcerias com a Prefeitura para possibilitar a urbanização de seus loteamentos.

Contudo esses mecanismos, praticamente não foram utilizados. Isso chamou a atenção dos movimentos sociais, que utilizaram as AEIS, como pauta reivindicatória na luta pela reforma urbana. Com isso acontece uma apropriação do instrumento de zoneamento, criando a figura de ZONA ESPECIAL DE INTERESSE SOCIAL – (ZEIS) para o combate a segregação que esse instrumento produzia. Segundo Alfonsin (2003, p.13),

Para efeito de regularização fundiária, se percebeu que o zoneamento, como instrumento jurídico e urbanístico, podia ser flexionado de mais de

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uma forma. Uma forma, é aquela que em diferentes cidades brasileiras, em diferentes épocas, disciplinou o zoneamento a partir de interesses econômicos e políticos em favor do mercado imobiliário. Outra possibilidade de utilização do instrumento seria respeitar o contexto imposto por necessidades sociais, as quais conduziram determinada parte da população a instalar-se num espaço da cidade que a própria comunidade zoneou, por exemplo, para a sua moradia, coagida por invencível estado de necessidade, gerando o conflito entre a cidade legal e a cidade real.

As Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, são formas de marcação de porções do território municipal, instituídas por lei e destinadas à recuperação urbanística, á regularização fundiária e a produção de Habitação de Interesse Social – HIS e de Habitação de Mercado Popular – HMP. A criação das ZEIS pretende reconhecer como legal a cidade real, por meio da regularização dessa forma de ocupação do solo urbano. Sendo essas normas, apropriadas, específicas e excepcionais para cada local, criadas a partir das características singulares dos assentamentos. Assim fica claramente identificada nesse instrumento sua função de Regularização Urbanística da área, uma dimensão primordial para a Regularização Fundiáriaiv.

Os principais instrumentos do Estatuto da Cidade que possibilitam a regularização Fundiária e a promoção de habitação de interesse social em ZEIS são: A Usucapião Especial de Imóvel Urbano possibilita a aquisição da propriedade em terras particulares, com o domínio pleno, desde que respeitada sua função social, em decorrência do lapso temporal. Esse instrumento também pode ser estendido para promover a Regularização Fundiária em ocupações coletivas, como previsto no Art. 10v do Estatuto da Cidade;

A Concessão do direito Real de Uso (CDRU) possibilita a transferência do domínio útil da propriedade, sendo aplicada tanto às áreas públicas quanto as privadas. A utilização da área não está destinada exclusivamente para fins de moradia, podendo ser destinado para urbanização, edificação, industrialização ou utilização de interesse social.

O Direito de Preempção garante ao poder público municipal a preferência na aquisição de imóvel urbano, que sejam considerados fundamentais para o cumprimento de funções sociais da cidade, como a implantação de praças, escolas, hospitais, parques etc.

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As ZEIS também funcionam como um sistema de planejamento participativo, que estar relacionada diretamente com o exercício da cidadania e da própria Democracia na sociedade brasileira. O reconhecimento dessas formas consolidadas de ocupação informal fortalece o reconhecimento de seus moradores como sujeitos políticos.

A EXPERIÊNCIA DO PLANO DE REGULARIZAÇÃO DAS ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL – PREZEIS, NO RECIFE.

A experiência do Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social, no Recife (PREZEIS), no campo dos programas de urbanização de favelas, tornou-se referência para a gestão municipal brasileira. Ele antecipou alguns dos instrumentos que futuramente, por meio da constituição de 1988, representaria uma nova de intervenção nas favelas e de relacionamento entre o Estado e a sociedade civil.

O PREZEIS, é um sistema de gestão participativa, criado em 1987, por entidades e organizações civis. Formado por um conjunto de normas e procedimentos, que visa à regularização urbanística e fundiária. Para isso prever a institucionalização de arenas de discussão e deliberação sobre os recursos e investimentos, destinados as Zonas Especiais de Interesse Social – (ZEIS), com uma definição legal clara dos direitos e responsabilidades de todo o contingente participante (líderes comunitários, ONGS e Poder Público) do sistema.

Atualmente existem 66 localidades reconhecidas como ZEIS, que equivale a 12% da superfície do município – 80% das áreas de favelas. Conquista de um longo processo de discussão com as organizações populares, da proposta apresentada pela Comissão de Justiça e Paz – CJP, que foi aperfeiçoada e enviada para o Legislativo em novembro de 1986. Sendo aprovado em março de 1987, criando a Lei nº 14.947/87vi. No ano de 1995, foi revisada e aprovada, gerando a nova Lei do PREZEIS nº 16.113/95vii.

O PREZEIS parte de princípios forjados no ambiente de discussões sobre a REFORMA URBANA: a valorização da função social da propriedade; a propriedade do direito de moradia sobre o direito de propriedade; o combate à especulação imobiliária; o respeito às características socioespaciais locais de cada comunidade (“tipicidade”, elementos urbanísticos criados a partir do próprio processo de ocupação); e o incentivo à participação comunitária. (MORAES, p.126).

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Cada ZEIS precisa ter um plano urbanístico exclusivo, em que será detalhado o parcelamento e as normas de uso, ocupação e aproveitamento do solo da área. Esses parâmetros podem divergir dos previstos na Lei de Uso e Ocupação do Solo. As principais diretrizes para urbanização das ZEIS são:

Respeitar a tipicidade e as características da área; Relocar famílias que habitem lotes menores que 18 m², ou que estejam em áreas non

aedificandiviii ou de risco; Criar tipologias habitacionais que estejam

adequadas as necessidades das famílias; Possibilitar o acesso aos lotes; Garantir a salubridade ambiental de todos os espaços; e Criar e otimizar espaços de lazer. (MORAES, p.127).

A dimensão máxima estabelecida para os lotes, pela Lei do PREZEIS é de 250 m². Esse limite é utilizado como instrumento fundamental, para que as ZEIS se tornem pouco interessantes para os grandes empreendedores imobiliários.

Os principais resultados alcançados a partir do PREZEIS para as comunidades de baixa renda foram:

A atenuação dos conflitos fundiários (resguardando o direito de moradia); O reconhecimento institucional da participação de representantes comunitários na condução de políticas urbanas; A consolidação da mudança nos padrões de intervenção urbanística daqueles assentamentos – sem perder de vista as condições de habitabilidade, envolvendo, nos processos de planejamento, além da unidade habitacional, as redes de acesso, de saneamento, os espaços de convivência e lazer; e Os equipamentos sociais necessários ao desenvolvimento da comunidade. (MORAES, p.128).

As principais dificuldades identificadas durante a implantação dos processos referentes às ZEIS foram:

Adaptar a máquina administrativa e os técnicos da empresa de urbanização ás práticas exigidas pelo sistema de co-gestão; Capacidade operacional, contudo é limitada para levantar estimativas e discutir alternativas e parâmetros urbanísticos na direção do estabelecimento de critérios para estruturar estratégias de intervenção; Recursos são insuficientes para uma intervenção integral em cada área; Descoordenação entre as intervenções para regularização urbanística, os processos de normatização e de controle urbanístico; A necessidade de aguardar a efetivação dos planos urbanísticos não deveria inviabilizar propostas amplas quanto a parâmetros gerais. (MORAES, p.128-129).

Nas unidades Regionais da Diretoria de Controle Urbanísticos (Dircon), existe uma carência de equipes especializadas para a fiscalização das ZEIS, que possibilitaria um maior controle dos investimentos públicos já implementados e a garantia dos interesses coletivos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como em todo processo histórico brasileiro, verificamos a importância da mobilização dos movimentos sociais na luta por uma perspectiva de urbanização que garanta o acesso ao direito à cidade para todos. Foi a pressão desse movimento que possibilitou uma reforma em longo prazo da dinâmica urbana no Brasil, com a incorporação de novas estruturas de ordem jurídico-urbanísticas na Constituição de 1988 com a Lei 10.257 de 2001, o Estatuto da Cidade.

Portanto o Estatuto da Cidade representa o marco legal no avanço em busca da superação da desigualdade urbana, um instrumento importante na luta por uma cidade mais democrática, em defesa dos direitos a cidade e a habitação, utilizando como elemento central a Função Social da Propriedade, por meio do instrumento das Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, possibilitando assim a recuperação urbanística e a Regularização Fundiária, com a produção de habitações de interesse social, além de funcionar como um sistema de planejamento participativo de exercício da cidadania e até da própria democracia brasileira, fortalecendo a identidade e o reconhecimento de seus moradores como sujeitos políticos.

i Delimitação, marcação de uma área ou zona. Historicamente foi utilizado em muitos casos para justificar um “apartheid urbano” ou para impedir a permanência de famílias de baixa renda em determinadas localizações.

ii Legislação que “disciplina o parcelamento do solo urbano e faculta aos municípios a flexibilização de parâmetros urbanísticos em áreas de urbanização específica ou destinadas a conjuntos habitacionais de interesse social (artigo 4º, II)”. (Guia para regulamentação e implementação de Zonas Especiais de Interesse Social ZEIS, 2009, p.9).

iii Lei Federal que estabelece diretrizes para Política Urbana Nacional.

iv Art. 46. A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. (Lei nº 11.977, de 07de julho de 2009).

v As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. vi Lei que Cria o plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social - PREZEIS.

vii Lei que dispõe sobre o Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social- PREZEIS e dá outras providências.

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REFERÊNCIAS

ALFONSIN, Betânia. O significado do Estatuto da Cidade para a regularização

fundiária no Brasil. Brasil - Rio de Janeiro, RJ. 2003.

BRASIL. Lei nº 6.766/79 de 19 de dezembro de 1979: Regulamenta os arts. 1 ao

55 da Casa Civíl, dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm. Acesso em: 02/12/2014.

BRASIL. Lei n° 10.257 de 10 de julho de 2001: Regulamenta os arts. 182 e 183

da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm. Acesso em: 02/12/14. CALDAS, Nisimar Martinez Perez. Os Novos Instrumentos da Política Urbana:

Alcance e Limitações da ZEIS. 2009. 260f. Tese (Doutorado em Arquitetura e

Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

MINISTÉRIO DAS CIDADES. Guia para regulamentação e implementação de

Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS em Vazios Urbanos. Brasília, 2009.

p. 55.

MORAES, Demóstenes Andrade de. Por uma Política de Habitação de Interesse

Social para o Recife – Apontamentos sobre PREZEIS. (p.125-130)

O Estatuto da Cidade: comentado = The City Statute of Brazil : a Commentary /

organizadores Celso Santos Carvalho, Anaclaudia Rossbach. – São Paulo: Ministério das Cidades : Aliança das Cidades, 2010. 120 p.: il.

RECIFE. Lei nº 14.947 de ... : Cria o Plano de Regularização das Zonas

Especiais de Interesse Social – PREZEIS. Disponível em:

http://www.legiscidade.recife.pe.gov.br/lei/14947/original/1/. Acesso em: 02/12/2014 RECIFE. Lei do PREZEIS nº 16.113/95 de ...: Dispõe sobre o Plano de

Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social – PREZEIS e dá outras

providências. Disponível em:

Referências

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