• Nenhum resultado encontrado

Identifying Environmental Factors that Link When Eating Compulsive: a Behavioral Analytical Vision

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Identifying Environmental Factors that Link When Eating Compulsive: a Behavioral Analytical Vision"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

A

ingestão de alimentos é uma prática necessária à sobrevivência dos seres humanos (MACEDO; ESCOBAL; GOYOS, 2013), e essa prática, de maneira geral, pode ser compreendida como comportamento alimentar (VAZ; BENNEMAN, 2014). De acordo com dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 2008), comportamento é definido como uma maneira de se comportar, um procedimento e/ou um ato. O mesmo dicionário salienta que alimentar significa abastecer, dar alimento, nutrir, sustentar.

Resumo: o comportamento alimentar compulsivo caracteriza-se pela ingestão de grande quantidade de alimento em um período de tempo delimitado (até duas horas), acompanhado da sensação de perda de controle sobre o que e o quanto se come. Assim é que, este estudo se propôs a analisar funcionalmente o comer compulsivo. Com essa finalidade, apresenta resultados de estudos analítico-funcionais que, além de descreverem sua função desse padrão alimentar, também propõem intervenções de cunho comportamental, como contracontrole ao comer compulsivo. Logo, demonstra a metodologia de investigação e de intervenção para essa complexa classe de operante que pode ser extinta apenas via procedimentos de reorganização das variáveis ambientais e treinamentos de comportamentos alternativos a estes.

Palavras-chave: Compulsão Alimentar. Transtornos Alimentares. Análise do Comportamento. Avaliação Funcional.

* Recebido em: 05.12.2017. Aprovado em: 02.04.2018.

** Mestra em Psicologia (PUC Goiás). E-mail: gisellelobo@hotmail.com.

*** Doutora em Psicologia (University College of North Wales/Grã-Bretanha). Docente na PUC Goiás. E-mail: soniamelloneves@gmail.com.

**** Doutora e Mestra em Psicologia (PUC Goiás). Docente em Psicologia (PUC Goiás). E-mail: ginabuenopsi@ gmail.com

FATORES AMBIENTAIS QUE

SE RELACIONAM AO COMER

CUMPULSIVO: UMA VISÃO

ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL*

GISELLE GOMES LOBO**

SÔNIA MARIA MELLO NEVES*** GINA NOLÊTO BUENO****

DOI 10.18224/frag.v28i2.4763

(2)

De maneira geral, o alimento é fonte de energia às funções vitais do corpo, isto é, para o seu crescer, movimentar e reproduzir e, quando utilizado para essa finalidade, produz saúde e bem-estar ao organismo (PHILLIPI, 2008). Desse modo, quando um organismo recebe quantidades maiores ou menores de energia e de nutrientes necessários à sua sobrevivência, como consequência, é comum haver prejuízos à saúde (STACCIARINI, 2008). Entre as formas de de-sequilíbrio no fornecimento de alimentos ao corpo, destaca-se o consumo excessivo de alimentos. Os indivíduos que ingerem grandes quantidades de alimentos, em curtos intervalos de tempo, relatam a sensação de perda de controle sobre a quantidade e a qualidade do que está sendo ingerido (VITOLO; BORTOLINI; HORTA, 2006). E são denominados pela vi-são tradicional (médica) de comedores compulsivos, ou seja, pessoas que apresentam um padrão alimentar que não visa apenas nutrir o organismo com o que é necessário para seu adequado funcionamento. De maneira geral, optam pelo consumo de alimentos que lhes são mais agra-dáveis ao paladar (BERNARDI; CICHELERO; VITOLO, 2005).

De acordo com Wolf et al. (2009), os indivíduos que comem compulsivamente ingerem de duas a cinco mil quilocalorias em um período de até duas horas, quando há a caracterização do episódio de compulsão alimentar. Entretanto, é válido salientar não haver ainda um consenso entre pesquisadores sobre a quantidade de quilocalorias para se conside-rar a ocorrência de um episódio alimentar compulsivo (FRANÇA, 2010). Desse modo, a identificação do comportamento alimentar compulsivo comumente considera os seguintes aspectos: relatos de sensação de perda de controle, mal-estar físico (denominado de “empan-turramento” em decorrência da quantidade de alimento ingerida), intervalos de tempo entre as refeições (o indivíduo ingere alimentos em um intervalo de tempo menor ou igual a duas horas) e a reincidência desse comportamento no período de sete dias (MOSCA et al., 2010). Na literatura, observa-se pouca variação sobre a descrição topográfica (da forma) do comer compulsivo. Entretanto, diferentes são as abordagens encontradas na literatura para lidar com essa problemática. Dentre essas a Análise do Comportamento busca compreender, em ter-mos funcionais, o comportamento. Logo, seu estudo considera ser o comportamento processo da interação do indivíduo com o meio ambiente (SKINNER, 2003). Se assim, ao ser descrita a função desse comportamento, o programa de intervenção deverá se dar sobre as variáveis am-bientais, a fim de serem observadas mudanças nas variáveis comportamentais, geradoras de pre-juízos àquele que se comporta, assim como ao seu ambiente social, tal qual o comer compulsivo.

Objetivos deste estudo – O presente trabalho objetiva analisar, funcionalmente o

com-portamento de comer compulsivo sob a vertente analítico comportamental e, desse modo, des-mistificar categorizações entre sua normalidade e sua pretensa patologia. Uma vez que sua expli-cação requer, isto sim, observar as variáveis ambientais que o evocam e que o mantêm. Portanto, descrever as agências de controle desse padrão comportamental para, a partir daí, estabelecer estratégias comportamentais para o seu controle. Com essa finalidade, estudos analíticos com-portamentais sobre o comer compulsivo são aqui apresentados e discutidos, a fim de demons-trar a metodologia de investigação para, em seguida, se propor programas de intervenções nas variáveis ambientais, bem como treino de comportamentos alternativos a eles.

A VISÃO ANALÍTICO COMPORTAMENTAL DO COMER COMPULSIVO

Para a abordagem analítico comportamental, baseada no behaviorismo radical de B. F. Skinner, a compulsão alimentar é descrita como uma variação no padrão alimentar, que se

(3)

carac-teriza pelo consumo excessivo de alimentos (NÓBREGA; BUENO, 2014). Por essa perspectiva, ao se considerar o comportamento alimentar compulsivo, é possível observar que esse padrão de respostas é produto das contingências de sobrevivência, responsáveis pela seleção natural das espécies, especialmente, isto é, nível filogenético. Isso implica ser produto das contingências de re-forçamento, responsáveis pelos repertórios adquiridos – nível ontogenético. Assim como também é produto das condições especialmente estabelecidas e mantidas pelo ambiente social daquele que se comporta – nível cultural (ANDERY, MICHELLETO, SÉRIO, 2007; SKINNER, 2005). Exatamente por isso, o estudo do comportamento alimentar deve considerar o comer compulsivo como produto dos três níveis de seleção e de variação do comportamento, ou seja, produto das interações entre os fatores filogenéticos, ontogenéticos e culturais (NETTO, 1998).

E dentre os fatores determinantes do comportamento alimentar compulsivo desta-cam-se (a) no nível filogenético: neurotransmissores, hormônios, taxa metabólica, estados do sistema gastrointestinal, tecidos de reserva e receptores sensoriais. (b) No nível ontogenético: experiências com os sabores, texturas, cheiros dos alimentos associados ao contexto social em que a ingestão ocorre (e.g., local em que ocorre, sob a presença de quem, qual quantidade consumida, com quais consequências). E, por fim, (c) no nível sociocultural: renda familiar, regionalismo, regras alimentares e a influência da mídia (QUAIOTI; ALMEIDA, 2006).

Dado que a abordagem analítico comportamental considera o papel seletivo do ambiente sobre as ações do organismo, adota um modelo causal de variação e de seleção por consequências (BUENO; BRITTO, 2011). Assim, considera que um comportamento interage tanto com as contingências ambientais, quanto com os efeitos de sua história. Desse modo, a compreensão da função de um determinado comportamento requer, de acordo com essa abordagem, a descrição da interação entre as respostas de um organismo e o ambiente onde ocorrem, a fim de que sejam identificadas as variáveis de controle que se relacionam com o comportamento (SKINNER, 2003). Inclusive, o comportamento alimentar compulsivo.

Consequentemente, a compreensão do comportamento alimentar compulsivo, as-sim como de qualquer outra classe de operantes considerados “problema”, requer o conhe-cimento de leis que explicam tanto as respostas reflexas, quanto as respostas condicionadas (NASCIMENTO, 2011). O comportamento reflexo, produto de seleção filogenética (NE-VES et al., 2011), é descrito pela relação S-R (estímulo-resposta), ou seja, uma mudança no ambiente elicia uma resposta no organismo. Já o comportamento operante diz respeito à rela-ção entre o comportamento emitido e a alterarela-ção que a resposta produz no ambiente (relarela-ção S: R-C). O que implica que operantes são comportamentos selecionados pelas consequências que produzem (NETO, 2002; NEVES et al., 2011; SKINNER, 2003).

Desse modo, o estudo do comportamento alimentar deve considerar, inicialmente, ser essa uma resposta reflexa, com alto valor de sobrevivência, uma vez que todo organismo necessita do alimento para o seu desenvolvimento e manutenção (VALE; ELIAS, 2011). Complementarmente, é também um comportamento operante, uma vez que gera efeitos no ambiente e é afetado pelas modificações que produz [e.g., ganho de peso, alívio das chatea-ções etc.] (MARTIN, PEAR, 2009; REIS, DA ROCHA TEIXEIRA, PARACAMPO, 2005). VARIÁVEIS AMBIENTAIS QUE SE RELACIONAM AO COMER COMPULSIVO

O estudo da compulsão alimentar, enquanto problema que aflige uma relevante parcela da população mundial, busca explicar o comportamento, isto é, descrever sob quais

(4)

condições esse comportamento, que é considerado um problema, ocorre. Ou seja, implica descrever as variáveis que se relacionam a ele, portanto, os estímulos antecedentes e

conse-quentes do comportamento (KIENEN; MITSUEKUBO; BOTOMÉ, 2013), sob pena de

não se estabelecer condições adequadas para o controle dessas problemáticas (BUENO, MA-GRI, NOGUEIRA, 2014; VALE, ELIAS, 2011).

Conclui-se que a explicação dessas problemáticas, de acordo com a Análise do Comportamento, requer a compreensão do comportamento em seu processo de interação com o ambiente. Isto é, requer a identificação da função do comportamento. O que implica descrever as relações de funcionalidade, portanto, as contingências que especificam a relação condicional entre os estímulos antecedentes (SA), a resposta (R) e suas consequências [C] (MEYER, 2003; SKINNER, 2003). Para o alcance desse objetivo, “[...] a ferramenta que os analistas do comportamento têm para descrever essas relações é a avaliação funcional.” (BANACO, 1999, p. 77). Com esse procedimento, a descrição do comportamento se torna possível, assim como do contexto em que ocorre, sua intensidade e duração, bem como as consequências que produzem. Logo, a descrição dos agentes que o controlam (LAPPALAI-NEN; TUOMISTO, 2005).

E para que seja especificada a relação funcional, a resposta (o comportamento) é considerada uma variável dependente (que fica na dependência direta dos outros dois ter-mos) dos estímulos antecedentes e consequentes (variáveis independentes). Daí a relação de causalidade entre esses três termos [SA – R – C] (BUENO, BRITTO, 2013; SOUZA, 1997; SKINNER, 2003).

Nesse sentido, a avaliação funcional propõe identificar as circunstâncias em que o comportamento ocorre, a fim de que sejam verificadas as variáveis de controle para deter-minado padrão de respostas (BUENO; MAGRI; NOGUEIRA, 2014; MATOS, 1999). Tal compreensão envolve investigar, descrever e manipular variáveis ambientais que se relacionam à resposta de cada indivíduo. Por isso, o enfoque dessa abordagem preza pelo caráter idios-sincrático em suas análises, o que implica comparar um indivíduo apenas com ele mesmo e não com uma média estatística da sociedade (ROCHA-COUTINHO, 2008; NENO, 2003). Isso porque compreende que um mesmo comportamento tem diferentes funções e é função de diferentes antecedentes para cada indivíduo. Logo, possui uma história única de aprendizagem (DARWICH, TOURINHO, 2005; MEYER, 2003). Em outras palavras, a Análise do Comportamento não discute as manifestações comportamentais em termos de

normal e patológico, mas sim em termos adaptativos às contingências que os instalaram e que

os mantêm (BANACO, 1999; MATOS, 1999; VALE, ELIAS, 2011), ainda que essas con-tingências apresentem uma organização problemática.

Para ilustrar a descrição de contingências (variáveis que controlam o comporta-mento), na prática clínica de base analítico-funcional, pode-se considerar o estudo de caso realizado por Nascimento (2011). O seu objetivo foi descrever a função do comportamento alimentar de uma participante que apresentava obesidade. Para tanto, buscou descrever as variáveis presentes no comportamento alimentar excessivo que ela apresentava. A partici-pante do estudo foi uma mulher de 65 anos, aposentada, dona de casa, casada, mãe de duas filhas, com idades de 21 e 24 anos. A participante foi incluída nesse estudo, pois almejava ser assistida psicologicamente, a fim de mudar o seu comportamento em relação à alimentação e, por conseguinte, emagrecer. Ao início do estudo, com uma estatura de 1,60m, pesava 94 kg e IMC de 36,7, o que a classificava com obesidade grau II. Devido ao peso, encontrava-se

(5)

hipertensa, pré-diabética e com problemas no joelho. Já havia realizado vários tratamentos medicamentosos. Porém, conforme a participante, “todos com sucesso temporário, dado que logo voltava a engordar” (NASCIMENTO, 2011, p. 3).

Inicialmente, a pesquisadora optou por levantar as principais informações obtidas nas primeiras sessões do estudo (chamada de avaliação inicial) para, então, verificar a história de vida da participante e sua relação com o alimento. Sobre isso, a autora destacou: “Citou que na casa de seus pais sempre comeram muito e que tudo girava em torno da comida. Sua mãe sempre cozinhou muito bem e era a forma que usava para demonstrar carinho, receben-do a toreceben-dos com ‘muita comida’” (NASCIMENTO, 2011, p. 4, grifo da autora). Salientou ainda que a participante cozinhava com alta qualidade e que gostava muito de casa cheia, de “fartura alimentar”.

De posse de informações sobre sua história de aprendizagem passada e atual, a pesquisadora incluiu o diário de registro alimentar. A finalidade desse instrumento foi a de favorecer a obtenção de mais informações sobre o comportamento alimentar da participante (e.g., quantidade de alimento ingerido, qualidade dos alimentos, horários em que as refeições ocorriam, condições em que se alimentava, sob a companhia de quem fazia suas refeições, res-posta emocional e comportamento verbal privado – como descrevia a si mesma – antes e após se alimentar). Assim, para cada refeição registrada, foram levantados os eventos antecedentes e consequentes que se relacionavam com a emissão dessa resposta: comer compulsivamente.

Com base na descrição das variáveis que se relacionavam ao comportamento-alvo (comer excessivamente), a pesquisadora observou que a participante ingeria alimentos sempre que se encontrava em condição de supressão de reforçadores; ou feliz em função de alguma contingência reforçadora; ou respondendo às demandas ambientais (atarefada); assim como em momento nos quais não tinha eventos programados a cumprir. Outro dado que muito se destacou em seus registros, e nos relatos verbais no setting deste estudo: a participante sempre sinalizava à pesquisadora ter se alimentado excessivamente, pois gostava muito de comer.

Sobre os eventos que se associavam ao comer excessivo dessa participante, Nasci-mento (2011) observou que o meio social, especialmente, a casa da mãe e a sua própria casa, eram lugares que lhe propiciavam o consumo de grandes quantidades de alimentos, porém, de baixa qualidade (e.g., frituras, açúcares e muitos tipos de massas). A participante também justificava a dificuldade que tinha para perder peso, por não saber dizer não ao marido, que sempre trazia para casa salgados e doces, com o propósito de agradá-la. Na tentativa de não fazer compulsão alimentar, mantinha como estratégias ficar dando voltas ao redor de sua casa. Mas que, a invés de sentir-se segura de sua decisão, era tomada por muita angústia, o que a levava, como estratégia para dar fim a essa “emoção ruim de ser experimentada”, a ingerir todos os alimentos trazidos pelo esposo. De imediato, experimentava a sensação de alívio (reforço negativo, em relação a condição angústia; e reforço positivo em relação aos alimentos ingeridos, por ela descritos com extremamente gostosos). Porém, em seguida, sentia culpa e raiva por não ter conseguido resistir (NASCIMENTO, 2011).

Observou-se ainda que o comportamento alimentar excessivo da participante era reforçado na convivência com o marido, assim como em ocasiões sociais. Porém, Nascimento (2011) também verificou que mesmo a participante experimentando uma satisfação momen-tânea com o comer, a ocorrência do sentimento de culpa funcionava como uma punição re-gistrada em médio e longo prazos. Por consequência, a participante voltava a comer compul-sivamente, com o objetivo de aliviar suas respostas emocionais negativas (e.g., culpa e raiva).

(6)

As descrições das contingências que se relacionavam com comportamento-pro-blema da participante possibilitaram a construção de hipóteses sobre as variáveis cau-sadoras e mantenedoras de seu comportamento alimentar excessivo, que gerava ganho de peso. A ingestão indevida de alimentos era mantida por reforçamento negativo, ou seja, fuga/esquiva de eventos aos quais não apresentava repertório de controle eficiente para com eles lidar. Assim como era mantido por reforçamento positivo (e.g., ganhava alimentos, que gostava muito, adquiridos por seu esposo, ou preparados por sua mãe, e até por ela mesma). E por não apresentar em seu repertório, respostas eficientes sobre quando comer, quanto comer, por que comer, onde comer, estar sob o controle de alimentos, por ela selecionados como reforçadores, gerava-se angústia e raiva. E para controlar essas respostas aversivas, co-mia, mesmo sem a presença da condição fome (resposta biológica), a fim de alcançar alívio emocional e, por consequência, experimentava prazer imediato, dado o sabor do alimento. Posteriormente, culpa pela compulsão (e.g., quantidade e qualidade de alimento ingerido), o que lhe acarretava ganho de peso (NASCIMENTO, 2011).

Outras pesquisas têm buscado descrever o comportamento alimentar excessivo

em termos funcionais (JACKSON et al., 2003; KJELSAS, BORSTING, GUDDE, 2004;

LORO, ORLEANS, 1981; STICKNEY, MILTENBERGER, WOLFF, 1999; WEDIG, NOCK, 2010). Seus resultados têm demonstrado que eventos aversivos são responsáveis pela emissão do comer compulsivo (e.g., problemas no relacionamento, dificuldades para lidar com uma situação aversiva etc.). Ou seja, observa-se que esse comportamento é emitido quando do registro de ocorrência de emoções negativas (e.g., raiva, tédio, ansiedade, medo). Lobo, Mello e Bueno (2015), ao descreverem o comportamento alimentar com-pulsivo de três mulheres obesas, observaram esse padrão comportamental ocorrendo em condições ambivalentes, isto e, com a função de aliviar condições aversivas (e.g., sentir-se: angustiada, inútil, entediada e/ou chateada), mas, também, em contingências relevantemente reforçadoras (e.g., estar em eventos festivos, estar junto a pessoas de valor afetivo e ou ter o alimento, selecionado como reforçador, gratuitamente disponibilizado).

Grilo, Shiffman e Carter-Campbelll (1999) salientam haver uma maior prevalência do comer compulsivo quando a pessoa encontra-se diante de situações negativas (87%). Des-tacam também haver uma menor relação do comer excessivo quando situações sociais geram respostas emocionais positivas (13%). Assim é que, além de se descrever o comportamento funcionalmente, a fim de que sejam identificadas as condições que se relacionam à emissão e manutenção de determinada resposta (avaliação funcional), é necessário, ao analista do com-portamento, confirmar as hipóteses que explicam sua análise (COSTA; MARINHO, 2002). Pois, conforme salientam Martin e Pear (2009), a avaliação funcional é procedimento com o qual se busca conhecer a funcionalidade dos comportamentos, isto é, identificar os agentes que os controlam. Por conseguinte, é procedimento que favorece a descrição das funções de um comportamento a partir da identificação de antecedentes e consequentes e sua relação de funcionalidade com o comportamento. Descrição essa que torna desnecessária a categori-zação do comportamento como normal ou patológico. Assim, as relações observadas em um processo de avaliação funcional devem ser confirmadas ou refutadas por meio da manipula-ção de variáveis ambientais e da observamanipula-ção dos efeitos dessas manipulações nos comporta-mentos-alvo. O que consiste na operacionalização da análise funcional (SKINNER, 2003).

Descrita a função do comportamento-problema (MARTIN; PEAR, 2009), é che-gado o momento de delinear um programa de intervenção nas variáveis ambientes, bem

(7)

como treinar comportamentos alternativos a estes. Ou seja, esse programa, comumente descrito como de modificação comportamental, objetiva controlar os agentes antecedentes e consequentes da resposta-alvo, bem como auxiliar o indivíduo a adquirir novos repertó-rios comportamentais, a fim de não ter de emitir os comportamentos-problema [e.g., auto-monitoramento, técnicas de relaxamento etc.] (DIDDEN, 2007).

CONCLUSÃO

De acordo com a abordagem analítico funcional, proposta por Skinner (2003), a descrição da função dos agentes que antecedem a emissão de um comportamento, bem como dos agentes que sucedem sua ocorrência tornam inócuas explicações mentalistas e circula-res para os comportamentos-problema, inclusive o comportamento de compulsão alimentar. Uma vez que identificar os agentes causadores de sua ocorrência (seja para instalá-los, seja para mantê-los) é o caminho para controlar sua ocorrência. É também ocasião para discrimi-nar o quão reforçador é esse comportamento. Visto que, comumente, a compulsão alimentar é um operante fruto da seleção natural, dadas as consequências que gera. Ou seja, o indivíduo que recebe o rótulo de “comedor compulsivo”, come excessivamente alimentos por ele descri-tos como prazerosos. E quando está sob essa contingência, esse indivíduo relata sensação de bem-estar e, inclusive, de alívio sobre os eventos aversivos que estavam presentes em seu con-texto. E se é possível descrever sob quais condições ambientais esse operante é mais provável de ocorrer, possível também será estabelecer estratégias comportamentais para o seu controle. Logo, ficam sem efeito as tentativas de se buscar patologizar esse comportamento, o comer compulsivo.

O comer compulsivo valida-se pela complexa contingência explicativa à sua ocor-rência: tanto pelo efeito reforçador imediato (e.g., prazer pelo sabor do alimento), quanto por seu efeito reforçador negativo [e.g., alívio da sensação de fome; da sensação de angústia; da sensação de tédio; da sensação de culpa etc.] (VALE, ELIAS, 2011; LOBO, MELLO, BUENO, 2015).

Desse modo, a Análise do Comportamento é uma abordagem que preza pelo caráter idiossincrático do indivíduo em suas análises, pois, ainda que sejam observadas semelhanças nas variáveis ambientais, controladoras do comer compulsivo, o processo de aprendizagem, a variação do repertório comportamental e as contingências sociais serão diferentes para cada indivíduo que apresenta esse padrão comportamental, passível de controle (NENO, 2003).

Desse modo, destaca-se que o papel do analista do comportamento não deve se li-mitar apenas a um levantamento de descrições de topografias de comportamentos. Mas deve promover o conhecimento acerca da funcionalidade do comportamento para que então seja possível propor um programa de modificação comportamental capaz de controlar o compor-tamento-problema. Ocasião propícia também para a instalação de repertórios comportamen-tais alternativos, porém, eficientes.

IDENTIFYING ENVIRONMENTAL FACTORS THAT LINK WHEN EATING COMPULSIVE: A BEHAVIORAL ANALYTICAL VISION

Abstract: compulsive eating behavior is characterized by ingestion of large amounts of food within a defined period of time (up to two hours), accompanied by a sense of loss of control over what and

(8)

how much. Thus, this study proposed to functionally analyze compulsive eating. With this purpose, it presents results of analytical-functional studies that, besides describing their function of this food pattern, also propose behavioral interventions, as a counter-control to compulsive eating. Therefore, it demonstrates the methodology of investigation and intervention for this complex class of operant that can be extinguished only through procedures of reorganization of environmental variables and training of alternative behaviors to these.

Keywords: Alimentary compulsion. Eating Disorders. Analyze of the Behavior. Functional

Evaluation.

Referências

ANDERY, M. L.; MICHELETTO, N.; SERIO, T. M. Modo causal de seleção por conse-quências e a explicação do comportamento. Comportamento e Causalidade, v. 31, p. 45-49, 2007.

BANACO, R. A. Técnicas cognitivo-comportamentais e análise funcional. Sobre

comporta-mento e cognição, v. 4, n. 1, p. 75-82, 1999.

BERNARDI, F.; CICHELERO, C.; VITOLO, M. R. Comportamento de restrição alimen-tar e obesidade. Revista de Nutrição, Campinas,  v.18, n. 1, p. 85-93, 2005.

BUENO, G. N.; BRITTO, I. A. G. S. A esquizofrenia de acordo com a abordagem

comporta-mental. Curitiba: Juruá Editora, 2013.

BUENO, G. N.; BRITTO, I. A. G. S. Uma abordagem funcional para os comportamentos delirar e alucinar. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva,v. 13, n. 1, p. 4-15, 2011.

BUENO, G. N.; MAGRI, M. R.; NOGUEIRA, G. R. Análise Funcional: Tecnologia para o controle de comportamentos alimentares problema. Fragmentos de Cultura, v. 24, p. 49-59, 2014. COSTA, S. E. G. C.; MARINHO, M. L. Um modelo de apresentação de Análise Funcionais do Comportamento. Revista Estudos de Psicologia, v. 19, n. 3, p. 43-54, 2002.

DARWICH, R. A.; TOURINHO, E. Z. Respostas emocionais à luz do modo causal de se-leção por consequências. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 7, n. 1, p. 107-118, 2005.

DIDDEN, R. Functional analysis methodology in developmental disabilities. In: STUR-MEY, P. Functional analysys in clinical treatment. San Diego: Elsevier, 2007. p. 65-86.

FERREIRA, A. B. D. H. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. Curitiba: Positivo, 2008.

FRANÇA, G. V. A. Compulsão Alimentar em Adultos: um estudo epidemiológico de base

popu-lacional em Pelotas – RS. Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em

Epide-miologia da Faculdade Federal de Pelotas, 2010.

GRILO, C. M.; SHIFFMAN, S; CARTER-CAMPBELLl, J. T. Binge eating antecedents in normal weight nonpurging females: Is there consistency? The Internacional Journal of Eating

Disorders, v. 16, n. 3, p. 239-249, 1999.

JACKSON, B. et al. Motivations to eat: Scale development and validation. Journal of

(9)

KIENEN, N.; MITSUEKUBO, O.; BOTOME, S. P. Ensino programado e programação de condições para o desenvolvimento de comportamentos: alguns aspectos no desenvolvimento de um campo de atuação do psicólogo. Acta Comportamentalia, v. 21, n. 4, p. 481-494, 2013. KJELSAS, E.; BORSTING, I.; GUIDDE, C. B. Antecedents and consequences of binge eating episodes in women with an eating disorder. Eating and Weight Disorders-Studies on

Anorexia, Bulimia and Obesity, v. 9, n. 1, p. 7-15, 2004.

LAPPALAINEN, R.; TUOMISTO, M. T. Functional behavior analysis of anorexia nervosa: applications to clinical practice. The Behavior Analyst Today, v. 06, n. 3, p.166-177, 2005.

LOBO, G. G.; MELLO, S. M.; BUENO, G. N. Comportamento alimentar compulsivo em

mulheres obesas sob a perspectiva da Abordagem Comportamental. 2015 Dissertação (Mestrado

em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2015.

LORO, A. D.; ORLEANS, C. S. Binge eating in obesity: Preliminary findings and guidelines for behavioral analysis and treatment. Addictive Behaviors, v. 6, p. 155–166, 1981.

MACEDO, M.; ESCOBAL, G.; GOYOS, C. Escolha e preferência por alimentos com ou sem valor calórico em crianças com deficiência intelectual e sobrepeso. Acta

Comportamenta-lia, v. 21, n. 1, p. 83-98, 2013.

MARTIN, G.; PEAR, J. Modificação de comportamento: o que é e como fazer. São Paulo: Roca, 2009.

MATOS, M. A. Análise Funcional do Comportamento. Revista Estudo de Psicologia, v. 16, n. 3, p. 8-18, 1999.

MEYER, S. B. Análise Funcional do Comportamento. In: COSTA, C. E., LUZIA, J. C., SANT’ANNA, H. H. N. (Orgs.). Primeiros passos em análise do comportamento e cognição. São Paulo: Esetec, 2003. p. 75-91.

MOSCA, L. N. et al. Compulsão Alimentar Periódica de Pacientes em Tratamento para Re-dução do Peso. Journal Health Science Institute, v. 28, p. 59-63, 2010.

NASCIMENTO, R. Análise de Contingências aplicada a um caso de obesidade.  Pós em

revista, v. 4, p. 14-24, 2011.

NENO, S. Análise Funcional: Definição e Aplicação na Terapia Analítico Comportamental.

Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n.2, p. 151-165, 2003.

NETO, C. M. B. Análise do comportamento: Behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em Psicologia, v. 6, n. 1, p. 13-18, 2002.

NETTO, C. A. Psicobiologia do comportamento alimentar. In: NUNES, M. A. A, J. C.; APPOLINÁRIO, A. L. G.; ABUCHAIM e V. COUTINHO (Eds.). Transtornos alimentares

e obesidade. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 47-53.

NEVES, S. et al. Obesidade e a Teoria de Determinação Skinneriana: correspondências de relatos de crianças. Comportamento em foco, v. 1, p. 455-468, 2011.

NÓBREGA, L. G.; BUENO, G. N. Anorexia Nervosa e tentativa de suicídio pela perspec-tiva da análise do comportamento. In: VICHIAT, C. et al. (Orgs.). Comportamento em foco.

V. 3. São Paulo: ABPMC, 2014. p.25-44.

PHILLIPI, S. T. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri, São Paulo: Editora Manole, 2008.

(10)

QUAIOTI, T.; ALMEIDA, S. Determinantes psicobiológicos do comportamento alimentar: uma ênfase em fatores ambientais que contribuem para a obesidade. Psicologia USP, v. 17,

n. 4, p.193-211, 2006.

REIS, A. A.; da ROCHA TEIXEIRA, E.; PARACAMPO, C. C. P. Auto-regras como variá-veis facilitadoras na emissão de comportamentos autocontrolados: o exemplo do comporta-mento alimentar. Interação em Psicologia, v. 9, n. 1, p. 8-15, 2005.

ROCHA-COUTINHO, M. L. A análise do discurso em Psicologia: Algumas questões, pro-blemas e limites. In: SOUZA, L. de; FRETAS, M. de F. Q. de; RODRIGUES, M. M. P. (Orgs.). Psicologia: Reflexões (im)pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. p. 317-345. SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. Tradução organizada por M.P. Villalobos. 11.ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.

SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. Tradução por J. C. Todorov & R. Azzi. 10.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

SOUZA, D. G. A evolução do conceito contingência? In: BANACO, R. A. (Org.). Sobre

comportamento e cognição. Santo André: Arbytes, 1997. p. 82-87.

STACCIARINI, J. A fome e a globalização x a globalização da fome: causas e consequências da fome no limiar do terceiro milênio. Boletim Goiano de Geografia, v. 16, n. 1, p. 41-52, 2008.

STICKNEY, M. I.; MILTENBERG, R. G.; WOLFF, G. A descriptive analysis of factors contributing of binge eating. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, v. 30, p. 177-189, 1999.

VALE, A. M. O.; ELIAS, L. R. Transtornos Alimentares: uma perspectiva analítico-com-portamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 13, n. 1, p. 52-70, 2011.

VAZ, D. S. S.; BENNEMAN, R.M. Comportamento alimentar e hábito alimentar: uma revisão. Revista Uningá Review v. 20, n. 1, p. 108-112, 2014.

VITOLO, M. R.; BORTOLONI, G. A.; HORTA, R. L. Prevalência da compulsão alimentar entre universitárias de diferentes áreas de estudo. Revista de Psiquiatria. Rio Grande do Sul, v.

28, n.1, p. 20-26, 2006.

WEDIG, M. M.; NOCK, M. K. The functional assessment of maladaptive behaviors: A preliminary evaluation of binge eating and purging among women. Psychiatry research, v.

178, n. 3, p. 518-524, 2010.

WOLF, A. M. et al., A nationwide survey on bariatric surgery in Germany-results. Obesity surgery, v. 19, n. 5, p. 632-640, 2009.

Referências

Documentos relacionados

aconselhável fazer cesariana, pois não se sabe se a bacia da mãe é compatível com a passagem da cabeça do feto. Existe uma técnica para a rotação do feto para

Assim, o presente trabalho objetivou desenvolver sistemas dispersos na forma de mistura eutética, solução sólida amorfa e dispersões sólidas contendo PCZ e BNZ a fim de

Subordinada a Diretoria Executiva, tem como competência as atividades de desenvolvimento de protocolo, registros dos profissionais médicos veterinários e zootecnistas, registro

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento

Entrega do material para finalização: até as 18h da quinta-feira que antecede o início da cine-semana. Para casos de remanejamento de cópias (cinema para cinema) será necessária

Para um mesmo preço relativo de fatores, um ganho geral de produti­ vidade corresponderia a um deslocamento da isoquanta SS para baixo, ou seja, seria obter o mesmo nível de produção

Tendo-se em vista que a comparação dos resultados das crianças em função do tipo de escola indicou que havia diferenças estatisticamente significantes entre as médias das