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A Clínica Psicológica Contemporânea como Ação Social DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria José Lima

A Clínica Psicológica Contemporânea como Ação Social

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

SÃO PAULO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Maria José Lima

A Clínica Psicológica Contemporânea como Ação Social

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Psicologia Clínica sob a orientação da Profa. Doutora Rosa Maria Stefanini de Macedo.

SÃO PAULO

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LIMA, Maria José

A Clínica Psicológica Contemporânea como Ação Social; Maria José Lima, orientação Rosa Maria Stefanini de Macedo. São Paulo, 2015.

198f.

Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica.

The Psychological Contemporary Clinic as Social Action

1. Pensamento Sistêmico Novo-paradigmático. 2. Clínica Psicológica Contemporânea. 3. Compromisso Social.

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Banca Examinadora

____________________________________________________

____________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

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“Filhinhos, não amemos só

com palavras e de boca, mas

com ações e de verdade”!

João,

3, 18

Dedico este trabalho a todos os profissionais que ousaram transitar para além

dos espaços institucionalizados da Psicologia, especialmente aos que veem se

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AGRADECIMENTOS

Minha gratidão dirige-se especialmente à minha orientadora, Profa. Dra. Rosa Maria Stefanini de Macedo, não apenas por seu acompanhamento e responsabilização como orientadora, mas acima de tudo por sua produção acadêmica, marcada por corajosas reflexões e ações, sendo a motivação principal deste trabalho. Fica aqui minha homenagem a esta profissional que ajudou a construir a Psicologia no Brasil, sempre atenta aos novos ventos da contemporaneidade e, sobretudo, atenta ao desenvolvimento de nossa competência, como categoria profissional, para o compromisso com a justiça e a equidade em nossas ações.

Meus agradecimentos ao Programa de Estudos Pós Graduados da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo por ter, por intermédio do Núcleo de Família e Comunidade (NUFAC), me acolhido e dado condições tão favoráveis para meu desenvolvimento acadêmico e profissional, contemplando-me com a ajuda da Fundação Capes do Ministério da Educação, a quem também dirijo meu reconhecimento pelo incentivo.

À Profa. Dra. Ceneide Maria de Oliveira Cerveny, que foi um marco inicial de toda essa caminhada, por ter me apoiado, como orientadora da Dissertação de Mestrado, de tal forma, que me motivou à continuidade do tema no desenvolvimento desta Tese. Assim como à Prof. Dra. Adriana Leônidas de Oliveira, que tem me acompanhado, com seu olhar atento e generoso, nas artimanhas metodológicas, como muito eficiente interlocutora.

Especial agradecimento a meus convidados participantes desta pesquisa, que abriram, de forma tão generosa e transparente, as portas de seus Institutos, corroborando as crenças e os valores revelados em suas entrevistas e produções. Foram momentos de encantamento, emoção e esperança.

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À minha revisora, Mara, por ter atuado, além de uma cuidadora do bem escrever, como uma parceira e incentivadora.

À minha família, pela compreensão nos momentos de ausência, e o apoio afetivo e caloroso nos momentos difíceis.

A meu marido, Hélio, por sua confiança, incentivo e apoio constante. A meus filhos, Francisco e Rodrigo, por sua eterna compreensão e carinho.

Agradeço finalmente, às forças, que vieram de minha fé em um Deus que me leva a acreditar na construção de um mundo mais digno e justo.

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A Clínica Psicológica Contemporânea como AçãoSocial

RESUMO

Este estudo, ao vislumbrar uma clínica psicológica em transformação, volta-se para os Institutos contemporâneos cujas práticas e produções teóricas, apoiadas nas contribuições do Pensamento Sistêmico Novo Paradigmático, concebem o social enquanto ação transformadora. Busca, ao identificar suas estratégias e ferramentas, compreender as concepções e articulações do social e da clínica implicadas em suas ações, assim como sua compreensão do compromisso social da Psicologia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com abordagem interpretativa, realizada por meio de uma pesquisa de campo e da estratégia de triangulação. Os participantes convidados são três Institutos, em atuação há pelo menos duas décadas, dos quais, para aproximação e análise, foram selecionadas três fontes: documental, mediante seus Estatutos Sociais; depoimentos de profissionais atuantes, com o auxílio de entrevistas; e reflexões de suas práticas via produções em forma de textos publicados. Para a análise interpretativa dos dados foram construídos memos e categorizações dos conteúdos apresentados em 13 quadros, cuja discussão foi realizada no diálogo com reflexões de autores que abordam o Pensamento Sistêmico Novo-paradigmático, a Clínica Psicológica e as ações profissionais em situações de vulnerabilidade social. A análise final aponta para o potencial do encontro da Psicologia com o Pensamento Sistêmico, como favorecedor, por suas implicações, tanto de um movimento de busca por ampliação e extensão das ações da Clínica Psicológica, como de incremento de sua vocação transdisciplinar. Observa-se um reposicionamento do psicólogo, o qual, na prática dos institutos participantes, ao assumir uma postura reflexiva, em uma nova concepção da ação clínica, ajuda a romper com a possível alienação da Psicologia com relação às questões sociais, gerando comprometimentos e posicionamentos perante questões ligadas à justiça, à desigualdade e ao desenvolvimento social. A concepção do social que emerge desta atuação contempla a intersubjetividade, dando voz à interconstituição do social com o individual, favorecendo a construção de uma clínica que carrega em si a ação transformadora, com forte potencial multiplicador. A Responsabilidade Social, como implicação de suas adesões, é concebida como Responsabilidade Relacional, com evidentes consequências inclusivas, concretizadas em constantes cuidados com a efetiva inclusão de todos. Revelou-se neste estudo uma Clínica Psicológica contemporânea em transformação, ampliada e mais efetiva em suas intenções de colaboração com a sociedade.

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The Psychological Contemporary Clinic as Social Action

ABSTRACT

In foreseeing a psychological clinic in transformation, this study turns to the contemporary institutes whose practices and theoretical productions, based on the contributions of the New-Paradigmatic Systemic Thinking, see the social as transforming practice. By identifying its strategies and tools, it aims to understand the constructions and interactions of the social and the clinic involved in its practices, as well as the understanding of the social commitment of Psychology. This is a qualitative research with an interpretative approach, developed from field research and triangulation strategy. Three Institutes, which have been operating for over two decades, were invited to participate in this study. From them, three sources were selected for approximation and analysis: a documental source, through the Bylaws; statements given in interviews by active professionals in the area; and reflections of their practice in the form of published articles. For the interpretative analysis of the data, memos and categorizations of its contents, presented in 13 tables, were designed. Based on them, discussions were carried out in the dialog with reflections from authors who address the New-Paradigmatic Systemic Thinking, the Psychological Clinic and professional practices in situations of social vulnerability. The final analysis points at the potential of the encounter between Psychology and the Systemic Thinking, as a promoter of a movement in search of the expansion and extension of the actions of the Psychological Clinic, as well as of the increase of its transdisciplinary vocation. A repositioning of the psychologist can be observed: in the everyday practice of the participant institutes, the psychologist, in adopting a reflexive stance in a new concept of the clinical practices, helps to prevent the possible alienation of Psychology from social issues, thus generating the commitment and taking position when faced with legal issues, inequality and social development. The concept of social that emerges from this attitude contemplates the intersubjectivity, giving voice to the interconstituition between the social and the individual, promoting the development of a clinic that bears transforming practices in itself, with a high potential for being a multiplier. As an implication of its adoption, the Social Responsibility, is seen as Relational Responsibility, and it presents an evident inclusive outcome, made visible by constant care and effective inclusion of all. This study revealed a contemporary Psychological Clinic in transformation, expanded and more effective in its intentions of collaborating with society.

Keywords: New-Paradigmatic Systemic Thinking. Contemporary Psychological Clinic. Social Commitment.

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La Clinique Psychologique Contemporaine as Action Sociale

RÉSUMÉ

Cette étude, du fait d‟entrevoir une clinique psychologique en transformation, est axée sur les Instituts contemporains dont les pratiques et productions théoriques, reposant sur les contributions de la Pensée Systémique Nouvelle Paradigmatique, conçoivent le social en tant qu‟action transformatrice. Elle cherche, en identifiant ses stratégies et ses outils, à comprendre les conceptions et articulations du social et de la clinique

impliquées dans ses actions, ainsi que sa compréhension de l‟engagement social de la

Psychologie. Il s‟agit d‟une recherche qualitative à l‟approche interprétative, réalisée au moyen de l‟enquête sur le terrain et de la stratégie de triangulation. Les participants invités sont trois Instituts qui opèrent depuis deux décennies au moins, desquels ont été sélectionnés, pour l‟approche et l‟analyse, trois sources: documentaire, à travers les Statuts Sociaux; témoignages de professionnels actifs, à travers des entrevues; et réflexions de leurs pratiques à travers des productions sous forme de textes publiés.

Pour l‟analyse interprétative des données, ont été construits des memos et

catégorisations des contenus présentés dans 13 grilles, dont la discussion a été réalisée dans le dialogue avec des réflexions d‟auteurs qui abordent la Pensée Systémique Nouvelle-paradigmatique, la Clinique Psychologique et les actions professionnelles dans des situations de vulnérabilité sociale. L‟analyse finale relève le potentiel de la rencontre de la Psychologie avec la Pensée Systémique comme facteur qui favoriserait, de par ses implications, aussi bien un mouvement de recherche pour l‟expansion et l‟extension des actions de la Clinique Psychologique, que le développement de sa vocation transdisciplinaire. On observe un repositionnement du psychologue, lequel, dans la pratique des instituts participants, de par le fait d‟assumer une posture réflexive dans une nouvelle conception de l‟action clinique, aide à rompre l‟éventuelle aliénation de la Psychologie en ce qui concerne les questions sociales, produisant des engagements et des positionnements envers des questions relatives à la justice, à l‟inégalité et au développement social. La conception du social qui émerge de cette

action comprend l‟intersubjectivité, exprimant l‟inter-constitution du social avec

l‟individuel, favorisant la construction d‟une clinique qui contient en elle-même l‟action transformatrice, avec un fort potentiel multiplicateur. La Responsabilité Sociale, comme implication de ses adhésions, est conçue comme étant une Responsabilité Relationnelle avec d‟évidentes conséquences inclusives, concrétisées dans des soins constants à l‟égard de l‟inclusion effective de tous. Cette étude a abouti à une Clinique Psychologique contemporaine en transformation, amplifiée et plus effective dans ses intentions de collaboration avec la société.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Quadro comparativo entre a Ciência tradicional e a novo-paradigmática. ... 24

Figura 2: Apresentação dos “desenvolvimentos das cibernéticas”. ... 29

Figura 3: Apresentação das principais diferenças entre o Construtivismo e o ... 32

Construcionismo Social. ... 32

Figura 4: Apresentação das principais semelhanças entre o Construtivismo e o ... 33

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Caracterização das instituições participantes, a partir de informações dos Estatutos. ... 77 Quadro 2: Apresentação dos objetivos sociais e políticas gerais das instituições participantes. ... 80 Quadro 3: Caracterização dos profissionais participantes... 84 Quadro 4: Categorias temáticas construídas a partir da análise da entrevista realizada com P1 ... 87 Quadro 5: Categorias temáticas construídas a partir da análise da entrevista realizada com P2 ... 90 Quadro 6: Categorias temáticas construídas a partir da análise da entrevista realizada com P3 ... 94 Quadro 7: Perfil de práticas apresentadas em produções* referentes ao I1. ... 100 Quadro 8: Categorias temáticas da Produção 3*, referentes ao I1, que historia suas práticas. ... 104 Quadro 9: Apresentação das práticas do I1 a partir do relato da Produção 3*... 107 Quadro 10: Perfil de práticas apresentadas em produções* referentes ao I2. ... 112 Quadro 11: Categorias temáticas da Produção 3* referente ao I2, que historia sua prática... 115 Quadro12: Perfil de práticas apresentadas em produções* referentes ao I3. ... 119

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SUMÁRIO

RESUMO ABSTRACT RESUMÉ

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO 1 CONCEPÇÕES DO SOCIAL NO PENSAMENTO SISTÊMICO NOVO -PARADIGMÁTICO ... 21

CAPÍTULO 2 – A CLÍNICA PSICOLÓGICA COMO AÇÃO SOCIAL: DO MODELO MÉDICO ÀS TERAPIAS PÓS-MODERNAS ... 35

CAPÍTULO 3 – REFLEXÕES SOBRE AÇÕES PSICOLÓGICAS EM CONTEXTOS DE VULNERABILIDADE SOCIAL ... 51

CAPÍTULO 4 MÉTODO ... 67

4.1 Tipo de pesquisa ... 68

4.2 Participantes ... 69

4.3 Instrumentos para coleta de dados ... 70

4.4 Procedimento para coleta dos dados ... 71

4.5 Análise dos Dados... 73

CAPÍTULO 5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 75

5.1 Análise dos Documentos – Estatutos ... 76

5.2 Análise das entrevistas ... 83

5.2.1 Análise da Entrevista – P1 ... 85

5.2.2 Análise da Entrevista - P2 ... 89

5.2.3 Análise da Entrevista - P3 ... 93

5.3 Análise das produções ... 98

5.3.1 Análise das produções referentes ao I1 ... 98

5.3.2 Análise das Produções referentes ao I2 ... 110

5.3.3 Análise das Produções referentes ao I3 ... 116

5.4 Análise dos Institutos... 123

5.4.1 O Instituto 1 ... 124

5.4.2 O Instituto 2 ... 126

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5.5 Análise geral: os Institutos ... 130

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 138

REFERÊNCIAS ... 141

APÊNDICE A ... 151

APÊNDICE B ... 153

APÊNDICE C ... 163

APÊNDICE D ... 191

APÊNDICE E ... 193

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INTRODUÇÃO

Quem vê de longe pode não gostar Não entender e até censurar Quem tá de perto diz que é Cultura, crença, tradição e fé. A gente vê, a gente ouve, a gente quer. Mas será que a gente sabe como é?

Música “Diferenças”- de Criolo, (Rapper brasileiro e cantor de MPB)

Este trabalho desenvolveu-se a partir da crença de que há um movimento novo na Psicologia, considerando-se as últimas décadas, mais especificamente de que há uma Clínica Psicológica em transformação, ampliando-se e beneficiando-se de suas aberturas. Um movimento especialmente vislumbrado em ações desenvolvidas por instituições contemporâneas - institutos ou entidades privadas ou públicas - cujas práticas buscam atrelar-se a uma ação social, compreendida como ação transformadora.

Como bem traduz a letra da música “Diferenças” (epígrafe) movimentos novos,

quando vistos de longe, podem causar no mínimo estranheza, assim como podem, quando vistos de perto, serem traduzidos de uma forma já compromissada com teorias e crenças pré-concebidas. Mesmo acreditando que para a pergunta “Mas será que a gente sabe como é?”, não há uma única e verdadeira resposta, esta pesquisa buscou aproximar-se do universo das ações e reflexões destas instituições, munida de um genuíno interesse. Um interesse que se sustentou na esperança de encontrar ali ações que efetivamente estivessem renovando a convivência da Clínica Psicológica com as questões sociais, delineando o recorte feito neste trabalho de pesquisa.

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clínico como ação social” (MACEDO, 2006, p. 13); “trabalho social clínico” (WALDEGRAVE, 2001, p. 25); “subjetividade social” (NEUBERN, 2001, p. 249);

“atuação socialmente comprometida” (DANTAS; OLIVEIRA; YAMAMOTO, 2010, p.

105); “psicólogo como agente de transformação social” (GRANDESSO, 2001, p. 15);

“compromisso social do Psicólogo” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA –

CREPOP, 2011).

A história aponta para uma multiplicidade de fatores que estaria favorecendo este movimento de convivência com o social na clínica, dando especial atenção à chamada inserção do psicólogo nas instituições que atendem à população que vive em situação de vulnerabilidade social. Uma inserção que coloca este profissional – formado até pouco tempo pelo modelo tradicional da clínica individual , mas já beneficiado em algumas universidades por significativas mudanças nas grades curriculares – face a face tanto com as vicissitudes da pobreza, como com as questões próprias da Saúde Pública.

É a partir deste lugar – do psicólogo na instituição – que desenvolvi minha pesquisa de Mestrado (LIMA, 2010), que ao se voltar para os psicólogos que atuavam em instituições que atendiam à população que vivia em situação de vulnerabilidade social, deparou-se com elementos de criação de novos recursos, sendo “novos” comparativamente à clínica que aprenderam em suas formações, desenvolvidos como respostas às demandas desta realidade de atendimento. Um fazer psicológico que levou os participantes a questionarem a designação e significação de seu trabalho.

Uma importante contribuição, ao vislumbrar a competência para atuar neste novo contexto, foi a de repensar a Clínica Psicológica de forma geral: “O que fazemos aqui pode ser chamado de clínica?”, “Continuamos psicólogas?”. Questões que ajudaram a construir meu interesse pela clínica psicológica contemporânea, especialmente no tocante às suas relações com as questões sociais.

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órgãos representativos, que a partir do conceito de Compromisso social da Psicologia, orientam para uma prática comprometida “com a realidade social do país”, com o intuito de fortalecer a implantação das Políticas Públicas, melhorando o “atendimento ao cidadão” (CFP, 2011).

Tanto a construção de um lugar para os psicólogos junto às instituições, como a construção de um compromisso social, vem se dando dentro do movimento de transição de paradigmas da Ciência Moderna levando-nos para as questões típicas do que alguns teóricos chamam de Pós-Modernidade, dando voz às novidades da contemporaneidade, que incluem a Psicologia Pós-Moderna, que traz, por sua vez, como novidade, justamente o repensar do social na ação psicológica, inclusive na clínica.

É dentro deste movimento que se constrói o Pensamento Sistêmico Novo Paradigmático (VASCONCELLOS, 2002), escolhido como referencial teórico deste trabalho justamente por abordar questões da complexidade que contemplam a interconstituição indivíduo/social, também colaborando para o repensar do que se construiu como clínica psicológica tradicional que convive com uma clínica psicológica chamada de social, ou com ações denominadas sociais.

Um referencial que abre portas para a terapia psicológica vista como uma “pratica social transformadora” (GRANDESSO, 2001, p. 15) pondo em questão práticas que vinham “veiculando os discursos dominantes”, propondo um posicionamento crítico, colocando o pensamento pós-moderno como “uma postura filosófica que propõe uma nova visão da pessoa e do mundo” (p. 03), e criando um terreno fértil no tocante à possível ressignificação da clínica e do social na contemporaneidade.

Um referencial que leva Macedo (2004) a propor uma nova conceituação para a Psicologia Clínica, afirmando que para a Psicologia o termo clínica vem se mantendo “por tradição”, e que devemos fazer dele um uso com “significado próprio”, propondo

que se alargue o campo da Psicologia Clínica, para “além da dimensão intrapsíquica”,

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A partir deste cenário – psicólogo nas instituições, compromisso social, novos paradigmas, pensamento pós-moderno – pode-se considerar algumas possibilidades para a compreensão do que seriam as ações psicológicas contemporâneas que se engendram com o social em suas designações.

Considerando os engendramentos com as questões da pobreza, podemos pensar o social como sinônimo de atenção às camadas menos privilegiadas, incluindo, tanto ações tipicamente assistencialistas – clínicas que atendem a quem não pode pagar pelo atendimento – como ações desenvolvidas dentro do espírito do chamado “novo voluntariado”, uma nova cultura que acolheria uma “solidariedade renovada”, em um exercício de cidadania (CUNHA, 2010, p. 19).

Considerando as determinações e motivações para uma atuação com compromisso social, pode-se pensar em ações atreladas em torno da justiça social, que podem envolver tanto práticas advindas de abordagens Pós-Modernas, de uma “prática social transformadora”, como práticas que dão especial relevância ao contexto sócio histórico, a favor de uma Psicologia socialmente engajada (BOCK, 2008). Ou ainda simplesmente como sinônimo de ações que envolvam grupos e comunidades, sendo o social aqui considerado apenas o “não-individual”.

Este trabalho volta-se, em uma nova concepção do social, para as ações e reflexões técnicas e teóricas que contemplem as novas demandas para a Psicologia na contemporaneidade, entendendo o individual e o social em interconstituição – uma posição epistemológica que põe em xeque a ideia de uma clínica individual ou social – , tendo como um norteador ético de suas ações a inclusão social. É esta a concepção que adotei, não só pela coerência com minha visão de mundo, alinhada com o Pensamento Sistêmico, como por perceber seu potencial de abrangência e inclusão, assim como de implicação e responsabilização de todos, abrindo para o necessário empoderamento dos cidadãos, estejam eles na qualidade de profissional ou cliente.

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aproximar-se de Institutos e seus profissionais que desenvolvessem suas práticas a partir do referencial Sistêmico Novo-paradigmático, que tivessem proeminência nos meios acadêmicos em função de suas práticas e reflexões e que incluíssem ações com a população em diferentes contextos.

As questões que me nortearam nesta aproximação foram: Quais as repercussões da Clínica e na Clínica das ações comprometidas com transformações sociais? Quais as ressonâncias e significados construídos para essa clínica? Como podemos repensar a Clínica Psicológica Contemporânea? Para isso busquei conhecer e conviver com Institutos que desenvolvessem ações assim designadas para conhecer seu funcionamento e suas concepções, para pensar a Clínica que emerge nos tempos atuais.

Sua relevância acadêmica apoia-se principalmente no que Féres-Carneiro (2003,

p. 113) definiu como “a necessidade de a pesquisa acompanhar pari passu a atividade

prática”, principalmente considerando-se que muitas vezes a prática convive e responde primeiro, antes das construções teóricas, às demandas de cada tempo. Apoia-se também na crença e na importância de que se dê voz para o que Schön (2000, p. 38) chama de “talento artístico” ou “performance habilidosa” do profissional que, ao se deparar com o novo, o inesperado, responde, indo além do já construído.

Está ainda no possível repensar dos conceitos de clínica e de social nas ações psicológicas contemporâneas, propondo novas conceituações que possam ser úteis para uma formação do profissional psicólogo de forma a que se veja mais preparado para os engendramentos com as questões sociais, como acréscimo à formação que já vem sendo repensada.

A relevância social se constrói a partir do intuito de desenvolver neste trabalho reflexões críticas que coloquem em foco as preocupações, cuidados e recursos desenvolvidos para a inclusão efetiva de todos os cidadãos nos serviços prestados.

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O Capítulo 1 – Concepções do Social no Pensamento Sistêmico Novo-paradigmático – reconstruiu a história do Pensamento Sistêmico para ajudar na compreensão do novo-paradigmático. Neste percurso definiu-se o lugar da Psicologia da Pós-modernidade, assim como do social, como fruto da interconstituição e da intersubjetividade, abrindo espaço para a integração, no lugar das possíveis dicotomias e reducionismos. Dedicou-se ainda, em desenvolver as abordagens Construtivista e Construcionista, por serem frequentemente citadas por ações contemporâneas.

Já no Capítulo 2 – A Clínica Psicológica como Ação Social: do modelo médico às terapias pós-modernas” – fez-se um recorte pela história da Clínica Psicológica, apontando tanto críticas ao modelo inicial como desafios para mudanças. Apresentou-se as terapias pós-modernas que estariam respondendo às novas demandas e desafios, na direção da expansão, da complexidade, da inclusão efetiva e da responsabilidade relacional, dentro das novas formas de se conceber o social.

Finalmente no Capítulo 3 – Reflexões sobre ações psicológicas em contexto de vulnerabilidade social – abordou-se este contexto como porta de entrada para as mudanças vividas na concepção do social, perante sua inevitabilidade em situações de risco. Apresenta reflexões, alertas e cuidados desenvolvidos por quem vem atuando e refletindo sobre a especificidade da ação psicológica nestes contextos.

O Problema

Como se caracteriza a Clínica Psicológica, quando se abre para concepções e práticas que implicam o social enquanto ações transformadoras?

Objetivos

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Específicos:

1- Compreender como são conceitualizados o social e a clínica e como tais dimensões se articulam nas ações psicológicas de cada Instituto.

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CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DO SOCIAL NO PENSAMENTO SISTÊMICO NOVO -PARADIGMÁTICO

Este capítulo desenvolveu considerações a respeito do Pensamento Sistêmico em sua definição novo paradigmática, focando as concepções de social derivadas de suas práticas, as quais, agrupadas em diferentes denominações, ao redor das abordagens Construtivista e Construcionista Social, vêm favorecendo um novo posicionamento do profissional da Psicologia perante as questões sociais, possibilitando que seja visto como “agente de transformação social” (GRANDESSO, 2001, p. 15).

Para a compreensão do novo paradigmático apresentou-se a seguir um pouco de seu histórico a partir das contribuições de Grandesso (2006) e Vasconcellos (2002), por serem nomes de relevância tanto no meio acadêmico como no das práticas contemporâneas, tendo ambas se tornado referências frequentes para os que buscam compreender e nominar as reflexões e práticas associadas ao Pensamento Sistêmico Novo Paradigmático.

O Pensamento Sistêmico, construído a partir de dois referenciais teóricos – a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética – pautado em um movimento que, para as ações psicológicas, transita do intrapsíquico para o relacional, faz uso da metáfora do sistema para pensar as relações humanas. A prática configurada por essas duas teorias pode ser considerada, segundo Grandesso (2006, p. 125) como uma prática sistêmica e uma epistemologia cibernética, destacando a vocação das duas teorias que tanto em seu paralelismo como em seu entrelaçamento, pretendem “transcender as fronteiras disciplinares” (VASCONCELLOS, 2002, p. 187).

Deve-se esclarecer que, ciente do caráter interdisciplinar inerente ao pensamento sistêmico, fez-se neste trabalho um recorte pela Psicologia Clínica e suas ações apenas por questões de enquadramento e delineamento da pesquisa que tem como foco de interesse as ações psicológicas, que em seu desenvolvimento atual conta justamente com a interdisciplinaridade.

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outras‟” (p. 108), ajuda-nos a avaliar a importância de seu encontro com o Pensamento Sistêmico. Penso que este pensamento pode ocupar a função descrita por este autor, como sendo aquela demandada por uma ciência interdisciplinar, para que não se feche para outros saberes, ou seja, um pensamento “capaz de circular, afetando e sendo afetado por outros saberes” (p. 112). A aliança Psicologia/Pensamento Sistêmico vem dar voz e lugar para ações transdisciplinares, favorecendo, provavelmente, a qualificação da Psicologia Clínica contemporânea como “ampliada”, quando se abre para afetar e ser afetada por outros saberes. Aqui se justifica, mais uma vez, a escolha do Pensamento Sistêmico como referencial para se refletir sobre as novas práticas da Psicologia Clínica.

A Teoria Geral dos Sistemas de Von Bertalanffy marcou o caráter totalizante destes, afirmando que “os sistemas não podem ser plenamente compreendidos apenas pela análise separada e exclusiva de cada uma de suas partes” (VASCONCELLOS, 2002, p. 195), identificando propriedades e leis dos sistemas, que foram utilizadas pelas abordagens iniciais de terapia familiar sistêmicas. O conceito de sistema que daí emergiu foi de um “complexo de elementos em interação, de natureza ordenada e não fortuita”, podendo ser classificados como “fechados” ou “abertos”, sendo esses os sociais. A existência da interação ou da relação entre as partes, é o que “identifica a existência do sistema como entidade” (p. 199).

A teoria Cibernética, por sua vez, como ciência do controle e da comunicação, saiu das metáforas da matéria e energia para as de informação e organização (GRANDESSO, 2006, p. 129), favorecendo que se compreendessem as intervenções nos sistemas familiares como “correção de rotas”, configurando o que se chamou de “Cibernética de 1ª ordem”, dos “sistemas observados”, onde os sintomas eram vistos como desvios da meta. O terapeuta que daí emergiu foi chamado para uma ação interventiva, estando de fora do sistema como um expert.

Um segundo momento da Cibernética identificado como de “2ª Ordem”, foi

considerado como um avanço, uma “mudança radical” na concepção de sistema, que,

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paradigmático, dando voz para a autorreferência, liberando o profissional / terapeuta de dizer quem é o outro, podendo falar apenas do que sente e pensa sobre o outro, de dentro de um sistema que agora pode ser visto como “auto-organizador”, implicando “conviver com o imprevisível e a incerteza”, considerando agora os sistemas como autônomos, “regidos por suas próprias leis” (GRANDESSO, 2006, p. 134). A definição de sistema que daí emergiu apontou para a “capacidade de autoprogramação e de introdução de alterações em seu programa inicial”, segundo Varela; Maturana (1997, p. 71), evidenciando a capacidade do sistema de se “complexificar”.

Tanto Grandesso (2006) como Vasconcellos (2002) apontam a importância das contribuições de Humberto Maturana e Francisco Varela, biólogos, para o desenvolvimento de uma Cibernética de Segunda Ordem, destacando-se a definição de uma organização autopoiética para os sistemas vivos, significando a capacidade de “criar componentes necessários para sua própria organização” (GRANDESSO, 2006, p. 135). Vasconcellos (2002, p. 137) dá destaque para o conceito de determinismo estrutural (MATURANA, 2014) que se refere ao fato de que “o sistema se relaciona com o ambiente de acordo com sua estrutura naquele momento”, estando o sistema vivo

“sempre em acoplamento estrutural com seu ambiente”, numa interação em que ambos

vão mudando, o organismo, sua estrutura, e o ambiente. Neste sentido, para estes autores, não seria possível uma interação instrutiva.

Ainda destacando as contribuições de Maturana, Grandesso (2006, p. 136) aponta a especial importância dada por este autor à linguagem (MATURANA, 2014) na “constituição do humano”, entendendo que os “indivíduos constroem o significado de sua experiência dialogicamente”. A autora ressalta que a Cibernética de 2ª Ordem,

“enquanto uma epistemologia” pode ser definida como construtivista, assim como as

terapias (p. 136). Assim entendida, na terapia, como uma atividade dialógica, o destaque é dado para a intersubjetividade, marcando importante mudança paradigmática, que anteriormente nos moldes do pensamento científico cartesiano, do paradigma moderno, buscava não só a objetividade, como a certeza e o conhecimento universal.

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como “a epistemologia da ciência novo-paradigmática” (p. 28). Uma ciência que abre espaço para pensar a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade, o que, para esta autora (p. 147), significa pensar sistemicamente, sendo definido o pensamento sistêmico justamente como aquele que contempla estas três dimensões. Fazendo-a cunhar a expressão – amplamente utilizada por estudiosos e profissionais que trabalham com esta epistemologia – Pensamento Sistêmico Novo-Paradigmático, da qual se fez uso neste trabalho, por sua coerência e consistência teórica, e, principalmente, pelo sentido que dá às práticas contemporâneas.

Para melhor compreensão deste pensamento Vasconcellos (2002), distingue uma “relação de recursividade” entre as três dimensões, afirmando que entre elas “se estabelece uma conexão não trivial, isto é, uma relação triádica fechada, em que se necessita das três para se ter cada uma das três” (p. 153). Ajuda-nos ainda a compreender melhor o novo deste pensamento fazendo um quadro de comparação

entre o que chama de “ciência tradicional” e “ciência novo-paradigmática emergente” (p.

102).

(26)

Este quadro, ao distinguir movimentos de mudanças relativos aos principais pressupostos epistemológicos da ciência, fornece elementos para reflexões a respeito das possíveis mudanças na concepção do social, como implicação da adesão aos novos paradigmas da ciência contemporânea. Quando, para o avanço da ciência, de forma alinhada com o espírito da época, foi necessária e útil a adesão aos pressupostos da simplicidade, da estabilidade e da subjetividade - que favoreciam respectivamente uma leitura ou um recorte de forma causal linear dos fenômenos; a crença em um mundo estável e previsível; e de que se poderia conhecer a realidade tal como ela, construiu-se uma ação social que empoderava o profissional como quem, ao conhecer a realidade, e as causas e efeitos de um fenômeno social, saberia como controlar e intervir nas situações vistas como problemáticas. Avalia-se que aqui se enquadram tanto as bem intencionadas ações assistencialistas, como as também bem intencionadas ações engajadas com revoluções sociais, que se amparavam em oposições que justificavam o espírito de luta atrelado às questões sociais.

Mas, quando ganham lugar os pressupostos da complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade, dando voz e vez para a contextualização dos fenômenos, jogando o foco para as relações, assimilando o constante movimento e a imprevisibilidade dos sistemas, concebendo a coconstrução tanto dos problemas como das soluções, emerge daí uma ação social que não oferece soluções de um especialista que tudo sabe sobre determinada realidade, que não mais agirá sobre o social e sim, compondo o social, cuja interconstituição com o individual, na construção intersubjetiva, traz o poder terapêutico – de mudança ou transformação – para o encontro. Uma transferência de poder que contempla o coletivo, a inclusão, a diversidade.

Ao apontar a necessidade de “integração da diversidade” (p. 154), Vasconcellos (2002) baseada em exortação de Morin (1982), em obra na qual desenvolve sobre as vicissitudes da ciência contemporânea, para que se conceba e trabalhe “por uma integração que não elimine as diferenças”, esclarece que ao falar de um novo

paradigma da ciência, está também “implicitamente falando” dos “vários paradigmas

pós-modernos” ou “epistemologias pós-modernas”, propondo pensar a sua articulação.

(27)

resume o discurso filosófico da modernidade como aquele que “ressalta o caráter desvendador de um sujeito que descobre verdades universais, que podem ser expressas em leis gerais, atemporais e não contextualizadas” (p. 56). Marca a

mudança a partir dos “filósofos da não representação” – Shopenhauer, Nitzsche e

Heidegger – que vêm colocar em xeque a existência de representações claras que fundamentem um conhecimento válido, assim como a possibilidade de separação entre o sujeito epistêmico e o objeto de seu conhecimento.

Considerando os diferentes significados existentes para o pós-modernismo, trata

do epistemológico, destacando Gergen (2010) e a “concepção pós-moderna da

linguagem”, que por sua vez põe em xeque a crença milenar da língua “como principal representação do mundo e como veículo para comunicar os conteúdos mentais”. A linguagem fica aqui compreendida como “um processo interativo, construído nos

espaços compartilhados de pessoas em relação”, levando-nos à importante reflexão de

que “todo e qualquer conhecimento resulta do intercâmbio social” (p. 59).

Grandesso, neste capítulo, trouxe clareza e sentido para o que seria uma prática

pós-moderna da Psicologia, marcando aqui uma “virada” a partir de um projeto

epistemológico, cuja teoria e prática, “afinadas com a ênfase iluminista”, configurando um modelo onde o “universo psicológico” era pensado como observável de forma isenta e mensurável, levando à busca de leis gerais de comportamento. O movimento era, então, o de construção de metanarrativas sobre o comportamento humano, levando à construção de teorias consideradas como “representações de verdades gerais sobre a realidade de pessoas” (GRANDESSO, 2006, p. 60).

(28)

Para uma Psicologia da Pós-Modernidade, portanto, as teorias psicológicas e seus conceitos, são reposicionados, agora como “construções sociais úteis”, não perdendo sua utilidade, mas não podendo mais ser utilizadas de forma reificada, “como se fizessem referências a fatos de uma realidade externa e preexistente” (GRANDESSO, 2006, p. 61). Há neste reposicionamento, perante as teorias e técnicas delas derivadas, a meu ver, uma potencial ampliação das possibilidades terapêuticas de um encontro, seja ele configurado como de caráter clínico ou não, por se beneficiar de uma concepção do social que coloca a construção do conhecimento no encontro entre saberes e não mais no encontro com um saber teórico.

As mudanças paradigmáticas ou viradas epistemológicas trazem consigo, a meu ver, para o campo da Psicologia e suas possíveis ações, uma importante contribuição a respeito do social que convivia até então com uma inquestionável dicotomia com o individual. Especialmente quando se distingue a questão da intersubjetividade, abrindo espaço, segundo VASCONCELLOS (2002, p. 246), para a: inclusão do observador, a autorreferência, a significação da experiência na conversação e a coconstrução. E, conforme destaque de Grandesso (2006, p. 61), abrindo espaço para uma concepção relacional do self, pondo em questão uma visão essencialista deste.

Em um subcapítulo intitulado “O individual e o social: em busca da

complexidade”, Grandesso (2006, p.110-118), apoia-se em Maturana para questionar

critérios de distinção de abordagens que se apoiam justamente no individual ou social. Maturana (2014, p. 49) usa a expressão “mutuamente generativos”, afirmando que “o social é o meio em que esses indivíduos se realizam como indivíduos”, considerando que as dinâmicas de constituição do indivíduo e do social são “interdependentes”, “não no sentido de dependência mútua, mas de interconstituição”.

(29)

biologicamente falando, entre o social e o individual”, sendo nossa percepção desta contradição de “origem cultural” (p. 207), dando papel fundante para a cooperação, estando o fenômeno social intimamente relacionado à “aceitação e respeito pelo outro” (p. 208).

As construções a respeito da coconstrução e da colaboração remetem ao importante conceito de Redes Sociais, uma metáfora construída, a partir do pensamento sistêmico, para a concepção do “universo como rede” (NAJMANOVICH,

1998), tendo favorecido a “legitimação de outras formas de conceber o social” (p. 59),

dando lugar para o “sujeito complexo”, não mais compreendido isoladamente, mas como aquele que “só advém como tal, na trama relacional de sua sociedade” (p. 64). A metáfora da rede merece aqui destaque por ter se tornado de grande utilidade para se construir novas práticas que permitam “gestar novos mundos”, nos quais “sejamos coprotagonistas, co-evoluindo graças ao permanente interjogo do encontro e da diferença” (p. 69).

É em função deste posicionamento que, ao observar o quadro criado por Vasconcellos (2001, p. 247) onde apresenta o conceito de Si-Cibernética para tratar de

uma “Cibernética novo-paradigmática”, fazendo uma “articulação dos desenvolvimentos

(30)

Figura 2: Apresentação dos “desenvolvimentos das cibernéticas”. Fonte: Vasconcellos (2001, p. 247).

A beleza deste quadro que nos mostra que é possível ultrapassar, “resgatando e

integrando, sem necessidade de renegar” (p.246) está, justamente em permitir que se

visualize a construção de uma nova concepção do social, cada vez mais integradora, não dando espaços para dicotomias, que em tempos contemporâneos não se revelam mais úteis para a compreensão e ação com sistemas humanos. Isto faz pensar que conceber ou distinguir nossa interconstituição, nossa construção identitária na intersubjetividade, pode ter como consequência um repensar da solidão, do não pertencimento, pois estaremos assim mais cientes da multidão que nos habita...

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sujeito, com suas construções e crenças acaba sendo a única referência. Sua definição, quase poética, de intersubjetividade como “a crença em que a realidade é construída por nós, no entrecruzamento de nossas subjetividades” (p. 84), dá voz à coautoria de nossas vidas e seus significados preferidos assim como dos constructos teóricos das ciências.

Ao desenvolver sobre a construção social da ciência, no capítulo referido anteriormente, a autora reflete sobre o “pressuposto epistemológico da intersubjetividade” como um “pressuposto construtivista”, porém com o cuidado de diferenciá-lo do que chama de “teorias construtivistas e construcionistas”, quando vistas como “teorias psicológicas sobre a construção individual ou coletiva da realidade”. Grandesso (2006, p. 62-97), por sua vez, ao construir análise de suas convergências e diferenças, questionando sobre “a conveniência de serem mantidos como distintos sistemas de inteligibilidade”, afirma que Construtivismo e Construcionismo Social, “mais do que teorias ou abordagens”, estariam sendo definidas como “propostas

epistemológicas distintas”. Para essas propostas usa a expressão “epistemologias pós

-modernas”.

Avalia-se ser útil para os objetivos deste trabalho – sejam tais propostas consideradas teorias, epistemologias, abordagens, enfoques, perspectivas – desenvolver um pouco sobre como vêm sendo compreendidos e designados, utilizando-se aqui da designação que Grandesso, apresenta no capítulo citado,

“conjuntos de princípios e derivações práticas” (p. 62) conhecidos como Construtivismo

e Construcionismo Social.

Sua utilidade se justifica por sua emergência no cenário do pensamento sistêmico e suas implicações, justamente compondo o que se convencionou chamar de Cibernética de Segunda Ordem, dando voz às práticas pós-modernas como aquelas que se alinham com o Pensamento Sistêmico Novo Paradigmático. Práticas essas que são o foco de nosso interesse nesta pesquisa.

Grandesso (2006) ao apresentá-las inicia por apontar a “confusão” de posicionamentos e análises, alimentando uma tensão onde conclui existirem “mais convergências que diferenças incompatibilizantes” (76). Entende que embora exista

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pós-modernidade –, convivem com uma “interface que justifica seu uso confundido e indiferenciado” (p. 102).

Para esta “confusão”, onde alguns enxergam dicotomias – individual/social – e outros enxergam diferenças de focos e ênfases neste par, ou ainda a coexistência deles em um continuum, citando Von Glasersfeld (1991), recomenda “mais diálogos” a serem conduzidos “de forma mais colaborativa e menos sectarista” (p. 76). Arendt (2003), em artigo sobre as contribuições das abordagens Construtivista e Construcionista para a Psicologia Social, propõe a integração de ambas, de forma a evitar o reducionismo do psicológico ao social ou do social ao psicológico. Como fruto do que chama de posturas reducionistas, aponta a tendência da adesão ao Construcionismo caminhar para o “sociologismo”, e a adesão ao construtivismo caminhar para o “psicologismo”, mantendo a dicotomia indivíduo/sociedade, tornando “incompatíveis entre si” a Psicologia Social Psicológica e a Sociológica (p. 06).

Ao defender a dissolução desta dicotomia – individual/social – Arendt (2003) constrói o desafio, de grande utilidade também para a Psicologia Clínica, de assumir “a proposta mais complexa de sermos ao mesmo tempo (grifo meu) seres individuais e

sociais” (p.11). As implicações desta integração, acredita-se, provocam

questionamentos e inquietações que têm favorecido o repensar das delimitações e designações das ações psicológicas em suas diferentes áreas de atuação.

Partindo de uma diferenciação básica – coerente com a caminhada de quem assumiu pensar a construção social da realidade como propõe Vasconcellos (2005, p. 85) – vê-se a diferença de posições a partir das diferenças de focos e preocupações. Estando para os construtivistas, na compreensão do processo de construção do conhecimento como subordinado a um indivíduo operando, a partir de suas estruturas pré-construídas, na interação com o meio ambiente. O foco estaria, em minha compreensão, na apropriação possível de cada indivíduo para a construção e significação de sua experiência. Para os construcionistas, o foco estaria na interação,

ou seja, “no intercâmbio social” (GRANDESSO, 2006, p. 104) como inerente a

construção do conhecimento, estando esta subordinada ao possível de sua comunidade de pertencimento, em pequena e larga escala. Minha posição se aproxima

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possibilitando, para esta autora a construção de uma “Psicologia Social psicológica”, e para a Psicologia Clínica, a construção de uma clínica que pode se construir como uma ação social, em qualquer contexto de prática.

Como fruto do trabalho de análise dessas abordagens, Grandesso (2006, p. 109-110) construiu dois quadros, que por sua clareza e utilidade na compreensão desta

aparente “confusão”, julga-se ser conveniente reproduzir aqui. O primeiro descreve as

“principais divergências” e o segundo a “interface” entre Construtivismo e Construcionismo Social.

Figura 3: Apresentação das principais diferenças entre o Construtivismo e o Construcionismo Social.

(34)

Figura 4: Apresentação das principais semelhanças entre o Construtivismo e o Construcionismo Social.

Fonte: Grandesso (2002, p.110).

Para pensar o lugar do social em cada uma delas, considera-se que, embora partam de ênfases diferentes, não há como negar a importância, para ambas, da convivência com o outro ou com meio, para, no “entrecuzamento de nossas subjetividades” (VASCONCELLOS, 2005, p. 84), ou de nossas estruturas, desenvolvermos o que passa a se constituir como nosso meio de compreender e estar no mundo.

De minha apropriação, ao longo de meus 30 anos de estudos e ação, posso dizer que vivi e vivo o encontro com essas epistemologias, de forma agregada, não contraditória, embora, perceba e me depare com as ditas tensões, em muitos momentos inclusive de forma amarrada às questões ideológicas, até mesmo em tentativas de enquadrá-las em polarizações políticas de esquerda/direita.

(35)

quando estudei Piaget na Universidade – sempre causando mudanças significativas em meu olhar para o mundo. Deparar-me, por diferentes caminhos, com a construção social da realidade, tem me levado a um constante exercício, não só na forma de pensar o mundo, o que seria próprio dos encontros com as Teorias, como em minha forma de estar nele, levando-me a concordar com Vasconcellos (2005, p. 85) quando afirma que “diferentemente das teorias, as quais podemos aplicar, nossa epistemologia nos implica”.

A implicação mais significativa, que me motivou e conduziu a elaboração desta Tese, refere-se à percepção da responsabilidade social de forma inerente à nossa interconstituição, por estarmos todos sempre implicados em todas as construções, não sendo, portanto, uma responsabilidade que se preconiza ou se institui. Ou que estaria presente nesta ou naquela ação psicológica. Apenas como implicação advinda do fato de termos assumido, como pesquisadores, profissionais ou simples cidadãos “a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade como pressupostos epistemológicos, como integrantes de nossa nova visão do mundo” (VASCONCELLOS, 2005, p. 87).

(36)

CAPÍTULO 2 – A CLÍNICA PSICOLÓGICA COMO AÇÃO SOCIAL: DO MODELO MÉDICO ÀS TERAPIAS PÓS-MODERNAS

A proposta de se contemplar a história da Clínica Psicológica a partir de construções teóricas e reflexões a respeito de seu desenvolvimento tem, neste trabalho, a intenção de favorecer possíveis considerações a respeito dos encontros e desencontros com o social em seu percurso, no qual convive com diferentes designações e concepções.

Distingue-se aqui um percurso que vai da demanda de maior atenção às chamadas questões sociais – movimento de grande importância – passando por ações que se qualificam como em interface com o social, até às práticas pós-modernas atreladas ao Pensamento Sistêmico novo paradigmático, cujo social remete à sua interconstituição com o individual, levando-nos a questionar as denominações clínica individual ou clínica social.

A clínica como “área nobre” da Psicologia (FERREIRA NETO, 2010), preponderante nos currículos, fortemente marcada no “imaginário social da figura do

psicólogo”, quase como sinônimo desta, ganhou provavelmente este lugar em razão de

ter a Psicologia, como um “um projeto da Modernidade”, segundo Santos (2003), na busca de validação científica, tem se esforçado em compatibilizar-se com as Ciências Naturais, facilitando sua adesão ao modelo médico de clinicar, deixando aos profissionais da área forte identidade com a chamada clínica tradicional.

Ao modelo construído sob os pressupostos epistemológicas da Modernidade, são dirigidas críticas relativas à sua não adequação perante as demandas da vida humana na pós-modernidade, levando Portella (2008) a afirmar que nossos referenciais teóricos não dão conta de um sujeito em mutação. Um desencontro entre teoria e prática apontado principalmente por aqueles que começaram a atuar em contextos diferentes dos tradicionais da Psicologia até então organizados nas três grandes áreas: Clínica, Escolar e Industrial.

É a essa clínica, exercida em consultórios particulares, por profissionais liberais,

denominada de “clínica dos segredos” (MOREIRA; ROMAGNOLLI; NEVES, 2007) que

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cenário que viria a favorecer uma prática que as autoras descrevem como descomprometida do contexto social, ou com parte deles apenas. Um cenário que Ferreira Neto (2010) descreve como sendo o das sociedades industriais modernas, que levavam aos consultórios pessoas as quais caracteriza como ávidas consumidoras de serviços psicológicos.

Por questões sociais entendem-se aquelas que dão voz às desigualdades sociais, que se ocupam com os outros, os que pertencem aos grupos dos que têm pouco ou nenhum acesso aos bens sociais básicos, inclusive ao atendimento psicológico público ou privado. Neste momento o “não social”, no campo da Psicologia, dizia respeito a não atenção e não inclusão da parcela mais vulnerável da população nos serviços psicológicos.

Tal condição começou a ser questionada com mais veemência no início da década de 80 do século passado, quando se iniciou a inserção do psicólogo junto às instituições que na época prestavam atendimento à população – Rede Pública e Organizações Não Governamentais – levando o profissional a se deparar com um contexto social e político que não fazia parte de seu universo de ações (ANDRADE, 1999).

Os questionamentos ganharam voz em importante obra da época – “Psicologia e

Instituição: novas formas de atendimento” – no qual Macedo (1984) produziu um

capítulo onde analisava a relação da Psicologia clínica com a sociedade e as classes sociais, já propondo a discussão do conceito de clínica. Constatava uma prática até então voltada para a demanda das classes mais privilegiadas, afirmando, assim como Mejias (1984), que as reais necessidades da população, agora incluída nos atendimentos institucionais, seriam desconhecidas, por não serem nem vivenciadas nem pesquisadas pelos psicólogos.

Alinhada com esta análise encontra-se Antunes (2004), que em capítulo sobre o desenvolvimento científico e profissional da Psicologia no Brasil no séc. XX, avalia que, em um contexto de “luta pela democratização” (p.110) no final dos anos de 1970, quando se viveu o “renascimento dos movimentos sociais” (p. 145) havia uma “busca de novas perspectivas teóricas e metodológicas”. Movimento este que estaria

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a superação da velha tríade escola-trabalho-clinica. O social aqui aparece ligado à vida, marcando, a meu ver, a ampliação da ação psicológica.

As preocupações articulavam-se em torno de não somente tornar o atendimento psicológico mais acessível e útil a uma faixa da população (Mejias,1984) como também em torno da necessidade de se conhecer o dia a dia e os valores da comunidade, levando a autora a indicar a Psicologia Comunitária como resposta. O movimento inicial, como resposta a essas demandas, foi o de trazer a prevenção para o campo da Psicologia, ampliando suas ações para além das questões diagnóstico/prognóstico/tratamento, abrindo espaço para o que mais tarde vem se configurar como atenção ao empoderamento dos cidadãos, mediante a intenção de ajudá-los, segundo Mejias (1984) a reconhecer sua própria responsabilidade relativamente à sua saúde mental e orgânica.

No entanto, já no final do século passado e começo deste, surgem as críticas a esse movimento. Assim como Whestphal (2007) que, associando as ideias relacionadas à educação e prevenção de doenças a uma forma higienista, normatizadora, de cima para baixo de ação, referindo-se ao paradigma biomédico vigente, afirma que, embora tenha promovido importantes avanços, não mais estaria dando conta dos efeitos das mudanças sociais, culturais, econômicas e políticas deste começo de século.

Assim, junto às necessidades já evidentes de se trabalhar mais efetivamente com as questões da vulnerabilidade social, desenvolvem-se o que chamo de demandas da complexidade, de um mundo em acelerado processo de transformação. Neste momento o conceito de “Promoção de Saúde” (Whestphal, 2007) aparece como alternativa ao modelo de prevenção, buscando considerar os determinantes sociais do processo saúde/doença, mas ainda, a meu ver, em uma aproximação apenas do que se passou a designar como interface com as questões sociais, deixando evidente sua convivência, mas não seus engendramentos interconstitutivos. Lefevre; Lefevre (2004), por sua vez, abordam a Promoção de Saúde como uma estratégia que implicaria, além de um novo modo de ver saúde e doença, em uma “mudança social significativa” (p.

41), no plano de uma “sociedade inclusiva” (p. 45), passando a saúde a ser buscada

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profissionais da saúde, uma ampliação dos limites de sua atuação, na direção do que chamo de responsabilidade social.

Os autores supracitados contribuem com uma concepção de saúde/doença, na qual a informação ganha lugar de “peça chave” (p. 53), compreendida dentro da

“pedagogia dialogal” (p.57) de Paulo Freire, em um contexto de troca com o paciente,

“sem perda do caráter técnico, inerente à informação especializada”. Aqui se pode vislumbrar a ação do profissional da saúde, inclusive o psicólogo, em conexão com questões próprias da construção da cidadania, por viabilizar a “participação ativa” do

paciente em um “diálogo legalmente instituído” (p. 58). São movimentos que se

considera como avanços que, em meu entendimento, também vão construindo novas demandas para o psicólogo à medida que ampliam os limites de suas ações, juntando ao tornar-se sujeito, demanda da clínica psicológica, o tornar-se cidadão, como constitutivo do almejado equilíbrio mental.

Junto ao conceito de Promoção de Saúde Ayres (2001), em artigo onde trata da intersubjetividade nas práticas de saúde, coloca o de Vulnerabilidade, e os aponta como aqueles que vêm resgatar “a importância das relações entre saúde e relações sociais”, e favorecer o uso da crise como oportunidade. A noção de vulnerabilidade social vem sendo usada como alternativa às noções normativas de avaliação da extensão da pobreza, que passaram a ser criticadas por não atingir a complexidade do fenômeno das condições de vida da população pobre. Buscando contemplar esta complexidade, ficou definida pela Fundação Sistema Estadual de Análises de Dados – SEAD – como uma combinação de fatores que possam produzir uma deterioração de seu nível de bem estar, em consequência de sua exposição a determinados tipos de risco.

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“nos ajude a construir referências conceituais mais fecundas para o campo da saúde” (2001, p. 66).

Enquanto isso, junto a esse movimento, o que a literatura aponta perante as novas demandas para o psicólogo, “na interface” com o social, é uma crise de identidade profissional (MACEDO, 1984), por conta de um modelo constituído que vinha se mostrando ineficiente em contextos outros que não o da clínica tradicional. Falava-se de desorientação profissional, marcando um desencontro entre instituições sem demandas claras para seu mais recente profissional, e estes convivendo com o desafio de atuar em contextos para os quais não haviam sido preparados.

Um desafio que no campo da Saúde Pública tem gerado – apoiado pelo Sistema Único de Saúde – “novas modelagens clínicas”, conforme aponta Campos (2001) em

artigo no qual desenvolve reflexões sobre “as práticas clínicas nos serviços substitutivos

de Saúde Mental”, nas quais observa um movimento de “esvaziamento de discussão

sobre a clínica” (p. 132), tornando-a uma “palavra negada” por sua possível “redução do

social” (p. 99). Para o surgimento de práticas com grupos e comunidades, aponta o risco de que não passe de uma “mudança de escala”, comparativamente aos consultórios, mantendo a intenção de “desvendar segredos e necessidades”, em uma tentativa de transferência simplesmente do privado para o público.

Com essas considerações Campos (2001) defende e propõe a necessidade “de se ampliar o debate sobre a clínica possível no serviço público” (p. 103). Partilho das preocupações da autora, e posso dizer que é o que me move nesta pesquisa, ou seja, saber sobre esta clínica possível, abrindo para que se conheça o que ganha quando se abre para o social, não negando seu lugar, e sim favorecendo um repensar, no sentido de uma ampliação de seus limites. Assim como partilho da preocupação de que esta abertura transforme o lugar clínico em “um espaço esvaziado de sentido” (p. 106), conduzido por pessoas sem formação para atuar em grupo, prevalecendo o caráter de “produção” sobre o de criação de sentido.

Ainda como contribuição desta autora, destaca-se sua definição de uma clínica ampliada, que constrói a partir de comparação com outras duas clínicas, as quais adjetiva como “degradada”, a que trata dos sintomas, e a “tradicional” que teria seu

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lembrando que “a doença nunca ocupa todo o lugar do sujeito” incluindo, portanto, “também” os “riscos sociais e a subjetividade” (p. 102). Uma definição que vem abrindo espaço para o que ela chama de “desejos construídos socialmente”, como sendo também objeto de ação desta clínica, responsabilizando o profissional de saúde mental não só pelas necessidades individuais do usuário como também pelas suas demandas.

Foi para saber deste movimento, de construção de práticas, que minha pesquisa de Mestrado (LIMA, 2010) voltou-se para psicólogas que estavam atuando neste contexto, incluindo instituições públicas e não governamentais. Ficou evidente a construção de um envolvimento, gerando um “comprometimento social”, segundo depoimentos das psicólogas participantes, enquanto se desenvolvia um trabalho que incluía a vida da grande maioria das pessoas, falando de um caminho sem volta, inclusive no que se refere a repensar a ação psicológica em seu caráter terapêutico.

Um comprometimento que começou pela solidariedade e compaixão pelas questões da vida em situação de vulnerabilidade e se estendeu para a necessidade de uma nova postura profissional. Andrade (1999) ao tratar desta nova postura aponta para outra forma de conceber as relações sociais, o homem, a vida, ressaltando a importância da dimensão ética em nossas práticas. Uma dimensão que inclui a capacidade de acolher o processualmente emergente, no lugar de se trabalhar em nome de uma verdade, seja ela de origem teórica ou ideológica.

Um comprometimento que ganha novas demandas em seu caráter social, passando a questionar a “suposta neutralidade do psicólogo clínico no seu saber/fazer” (ANDRADE, 1999), implicando-o, agora, a meu ver, de forma sistêmica nova paradigmática, vislumbrando-se aqui a atuação do profissional como parte do sistema, não mais como um observador/interventor que atua amparado em suposta neutralidade, mas um observador/participante que busca meios para uma ação contextualizada.

Um caminho que vai se delineando na direção de uma Psicologia clínica que passa a ter como demanda a integração da complexidade, mas que encontra obstáculos inerentes à sua história, aos quais Neuberm (2001) chamou de

“epistemológicos”, por serem “formas de construção de pensamento presentes na

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a Psicologia Clínica, ao silêncio, referindo-se à “subjetividade presente em sua construção” (p. 243). A inclusão deste artigo neste capítulo deu-se perante o fato de que ao argumentar pelo “reconhecimento da subjetividade na Psicologia Clínica”, como coloca em seu título, dá um passo a mais argumentando também por uma “subjetividade social”, considerando que “a subjetividade implica um jogo dialético entre o sujeito e o mundo social” (p. 247).

Para a compreensão deste subjetivo Neubern (2001) traz as reflexões da Pós-Modernidade, dando lugar central para a dimensão da linguagem, como constitutiva do

que chama de “cenários de sentido”, tornando possível, um “aprofundamento do

sofrimento em seus múltiplos circuitos de construção” (p. 248). Foi a partir da compreensão de sentidos construídos pela linguagem, que o autor designou três obstáculos para o reconhecimento da subjetividade na Psicologia Clínica – o Conhecimento Geral Totalitário; a Tendência Patologizante e Incapacitadora; e as Conclusões Apressadas – dos quais me aproprio como obstáculos para uma Psicologia clínica contemporânea. As críticas foram dirigidas principalmente a uma “perspectiva individualista”, que tendo o indivíduo, ou a família, ou desconsiderasse “a complexidade dos fatores” (p. 247). Críticas que ajudam a compor uma concepção do social que passa a contemplar os sentidos, os significados, o conhecimento enfim, como construção social.

Neste momento as preocupações com as “questões sociais” não perdem seu lugar e sim, passam a ser uma implicação da forma de se conceber a construção do conhecimento, a respeito do mundo e de si mesmo, sempre na relação com o outro. Um pressuposto epistemológico que nos inclui a todos, quebrando dicotomias, abrindo espaço para novas conversações, que por sua vez podem gerar novas percepções, marcando seu potencial terapêutico.

Uma forma de compreender e estar no mundo que tem gerado, no campo das ações psicológicas, muitas novidades, que ganham, com uma nova compreensão do social e da clínica, em muitos momentos a designação de uma “clínica ampliada”, não mais se referindo simplesmente a mais gente incluída no processo terapêutico, ou a diferentes espaços (além consultórios) ou a diferentes contextos de ação, ou ainda

Imagem

Figura 1: Quadro comparativo entre a Ciência tradicional e a novo-paradigmática.
Figura 2 : Apresentação dos “desenvolvimentos das cibernéticas”.
Figura 3: Apresentação das principais diferenças entre o Construtivismo e o   Construcionismo Social
Figura 4: Apresentação das principais semelhanças entre o Construtivismo e o   Construcionismo Social

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