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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL

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Academic year: 2019

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Petrópolis 2010

ROBERTO NOVAES XAVIER DE LIMA

A obra Serviço Social e Terceiro Setor de Roberto Novaes Xavier de Lima foi licenciada com uma LicençaCreative Commons - Atribuição - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.

SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

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Livros Grátis

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Petrópolis 2010

SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR:

Relações Reais e Relações Possíveis

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel

em Serviço Social.

Orientadora: Professora Amanda Boza Gonçalves.

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AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Maria da Paz e meus filhos, Gabriel e Daniel, por não me deixarem esquecer a raiz dos meus porquês;

À minha mãe, Barbara e seu namorido André, pelo apoio e motivação constantes e pela rica diversidade de métodos proporcionada;

À minha irmã, Carol e seu marido Alexandre, por tudo, mas, em especial, pelo carinho incondicional comigo e com os meus;

À Tia Zó e Tio Zé, aos primos Chico e André, pelo apreço à Filosofia, além do carinho com os budingas;

Aos meus amigos, colegas, profissionais e professores (não dá mais pra saber quem é o quê): Marcelo Prata, Monica Duriez, Érika Rangel, Andrea Teixeira, Deborah Soares, Mirene Abreu, Tamires Ferreira, Marisa Gonçalves e Adriana Montenegro, pela mais genuína, frutífera e prazerosa relação de troca de saberes e experiências;

À Seu Júlio e Sandra, Zenilda, Deuza, Ritinha, Dona Maria dos Remédios, Dona Tininha, Seu Serranu e toda a Família Serranu, exemplos de militância social legítima, fé no trabalho e no ser humano. Amigos e companheiros, portanto. O jogo vai virar!

Às instituições estudadas, aqui representadas por atores de seus contextos, sejam usuários, colaboradores, profissionais e estagiários, financiadores e dirigentes, atuais e passados que, involuntariamente ou corajosamente, prestaram valiosas informações, sem as quais, este trabalho não passaria de coletânea de considerações unilaterais inúteis aos seus propósitos;

A uma instituição, o particular agradecimento pela oportunidade do mais duro (e rico) método de ensino-aprendizagem; pelo tenso, constante, invasivo e conflituoso ambiente de trabalho proporcionado ao longo de nove anos de trabalho voluntário e outros três anos de atuação profissional;

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suas atuações e compromisso com a formação acadêmica.

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Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela província da Terra.

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NOVAES XAVIER DE LIMA, Roberto. Serviço social e terceiro setor: relações reais e relações possíveis. 2010. 51 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Petrópolis, 2010.

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo geral, refletir sobre as relações presentes e as relações possíveis entre o Serviço Social e o Terceiro Setor, com ênfase nas funções gerenciais, a partir de pesquisa realizada sobre a atuação de três instituições da Baixada Fluminense e Região Serrana do estado do Rio. A análise foi construída a partir de pesquisas bibliográficas de diversos autores, além de relatórios de atividades de algumas instituições e da legislação pertinente. Concomitantemente, este estudo realizou entrevistas, compostas de questionário aberto, com dirigentes, colaboradores e usuários dos serviços prestados pelas três entidades avaliadas, mantendo inclusive os solecismos originais, além de pesquisa empírica, de caráter qualitativo e apreensões tomadas a partir das vivências do campo de estágio, além de observações e análises construídas durante três anos de atuação profissional em uma destas instituições. A reflexão, presente em todo o processo de construção deste esforço, se efetivou, com maior relevância sobre aspectos pertinentes à formação acadêmica e qualificação profissional, caráter autoritário do poder institucional, desempenho geral das entidades, novas alternativas de configuração do trabalho do assistente social, além de reflexões sobre as relações entre os saberes acadêmicos e populares, construídos a partir de diálogos horizontais.

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NOVAES XAVIER DE LIMA, Roberto. Social service and nonprofit sector: real relations and possible relations. 2010. 51 pages. Completion of course work (Bachelor's Degree in Social Work) - Centre for Applied Business and Social Sciences, University of Northern Parana, Petropolis, 2010.

ABSTRACT

This study aims to generally reflect on the present relationship and the possible relationships between Social Work and the Third Sector, with emphasis on managerial functions, from research conducted on the performance of three institutions in the Baixada Fluminense and mountainous region of the state Rio's analysis was constructed from literature searches of several authors, as well as reports of activities of some institutions and the relevant legislation. Concomitantly, this study conducted interviews, questionnaire composed of open, managers, developers and users of services provided by the three bodies found, including keeping the original solecisms, and empirical research, qualitative and seizures made from the experiences of the field stage, as well as observations and analysis built during three years of practice in one of these institutions. The thinking in this whole process of construction of this effort came to fruition, with greater emphasis on aspects relevant to the academic and professional qualification, authoritarian character of institutional power overall performance of the entities, new alternative configuration of the work of social workers, and reflections on the relationship between academic and popular knowledge, built from horizontal dialogues.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais BPC Benefício de Prestação Continuada

CIEE Centro de Integração Empresa-Escola

FASFIL Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos FHC Fernando Henrique Cardoso

GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS Instituto Nacional da Seguridade Social IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MP Ministério Público

MTE Ministério do Trabalho e Emprego ONG Organização Não Governamental

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PNE Portadores de Necessidades Especiais

SESI Serviço Social da Indústria

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESC Serviço Social do Comércio

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 O TERCEIRO SETOR: SIGNIFICADOS ADOTADOS ... 16

3 SERVIÇO SOCIAL: ELUCIDAÇÕES AOS MEIOS EXTRA-ACADÊMICOS .... 25

4 O TERCEIRO SETOR ENQUANTO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ... 32

5 O TERCEIRO SETOR: ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS ... 37

5.1 ENTIDADEA ... 37

5.2 ENTIDADEB ... 46

5.3 ENTIDADEC ... 51

6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ... 60

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 62

REFERÊNCIAS ... 69

SITES CONSULTADOS ... 73

ANEXOS ... 74

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1 INTRODUÇÃO

O conceito dominante sobre o Terceiro Setor o situa entre o Estado (Primeiro Setor) e o Mercado (Segundo Setor) e abarca um variado número de iniciativas que oportunizam bens e serviços públicos sem gerar lucros. De modo geral, podemos citar como exemplos, igrejas, clubes, associações de moradores, sindicatos, fundações, ONGs / OSCIPs, entre muitos outros.

Nosso objeto, no entanto, trata especificamente de instituições do terceiro setor que atuam, minimamente em seus estatutos, na efetivação de direitos e na promoção de cidadania.

Conceituar e situar o Terceiro Setor não é tarefa simples, contudo, e tem sido fonte de polêmica entre seus principais teóricos. De toda forma, objetivando dar ao termo um significado particular e bem delimitado, trataremos melhor disto no Capítulo 2 – O Terceiro Setor: Significados adotados.

Igualmente, escolhemos um capítulo à parte para tratar do Serviço Social, especialmente para atender a um de nossos objetivos, fazendo deste trabalho matéria útil também fora dos muros acadêmicos, onde certa dose de confusão se verifica na compreensão dos conceitos de Serviço Social, Assistente Social e Assistência Social.

O presente estudo tem por objetivo geral refletir acerca das relações entre o Serviço Social e o Terceiro Setor.

Por objetivos específicos, pretendemos:

Debater a respeito da atuação profissional dos assistentes sociais no terceiro setor, especialmente sobre o caráter de alienação verificado nas aproximações com as instituições pesquisadas.

Aprofundar o conhecimento quanto às práticas institucionais, especificamente em relação às distâncias verificadas entre a missão estatutária e a atuação efetiva destas entidades.

Compor parte dos subsídios teóricos para o desenvolvimento institucional das entidades pesquisadas, sob a perspectiva da participação de todos os sujeitos.

Costa (2006) observa que:

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formas tradicionais; a gestão ainda é centralizada e exercida por pessoas não especializadas; a preocupação com a sustentabilidade financeira é predominante entre os gestores; e não há a percepção de que a gestão implica a visão da totalidade institucional em que a participação e o plano gestor ocupam papéis estratégicos.

Ainda segundo Costa (2006), este quadro:

[...] impede a existência de projetos setoriais que propiciem a formação continuada dos recursos humanos envolvidos em todos os setores; forneçam atendimento de qualidade social às famílias; gerem captação de recursos a partir de uma perspectiva de investimento social e não de caridade e filantropia; e possibilitem a avaliação contínua do trabalho realizado.

A atuação destas instituições, entretanto, abrange grande parcela da população e carece de estudos mais específicos, construídos a partir de suas particularidades.

Destacamos que este estudo não desconsidera, em absoluto, o terceiro setor organizado, aqui entendido como universo de iniciativas que primam pela excelência em seu desempenho sem abrir mão do debate / embate Trabalho x Capital. Todavia, é o outro lado da moeda que retém nossa atenção, conforme se verifica ao longo do esforço.

O recorte micro regional deste trabalho, portanto, elegendo três entidades de pequeno e médio porte, objetiva um estudo mais profundo sobre os meandros do aparelho institucional do terceiro setor, capaz de contribuir na construção de projetos de intervenção profissional objetiva, sem perder de vista que

“história é sempre a história mundial e as histórias particulares vivem só no quadro da história mundial.” (Semeraro, 1999, p. 264).

É intenção deste esforço, ainda, identificar os possíveis espaços para a atuação profissional do assistente social no terceiro setor, em especial, nas funções de gestão ou assessoria aos gestores. Ainda que estes espaços estejam camuflados sob o conservadorismo de muitas instituições, há uma absoluta compatibilidade entre as demandas institucionais e as habilidades profissionais. Esta compatibilidade vem à tona, se abertos os espaços, conforme verificado na pesquisa de Silva (2008, p. 148):

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profissionais. Assim, podemos concluir que esses assistentes sociais compreendem a importância do trabalho em equipe no desenvolvimento de projetos e buscam agregar à sua prática o conhecimento de outras áreas. Alguns profissionais ainda sentem dificuldades nesse trabalho: Não há troca de conhecimentos e os profissionais trabalham paralelamente.

Motivação relevante à confecção desta análise constitui-se da importância pela produção intelectual acerca dos espaços profissionais do assistente social, conforme identificado por Iamamoto (2008, p. 200):

Nos diferentes espaços ocupacionais do assistente social é de suma importância impulsionar pesquisas e projetos que favoreçam o conhecimento do modo de vida e de trabalho – e correspondentes expressões culturais – dos segmentos populacionais atendidos, criando um acervo de dados sobre os sujeitos e as expressões da questão social que as vivenciam [...].

Desde a promulgação da Constituição de 1988, criou-se o ambiente favorável ao processo de fortalecimento dos vínculos entre o Estado e a sociedade civil, co-responsáveis por garantir a efetividade dos direitos ali assegurados.

Há teóricos que qualificam tal ambiente como mecanismo de desresponsabilização do Estado nas Políticas Sociais, parte das ações neoliberais pelo Estado mínimo, como Montaño (1997); Visão que Falconer (1999) considera simplista e ingênua.

Não pretendemos ter tendência exclusiva a uma ou a outra orientação, senão, apropriar-nos de variados aspectos de ambas, tomando como pressuposto inicial o caráter de irrefreável desestatização das políticas sociais, reconhecendo as potencialidades, ainda que ocultas, do terceiro setor, compatíveis com o projeto profissional do Serviço Social.

O campo empírico da pesquisa se constitui de três entidades do terceiro setor no estado do Rio de Janeiro, mais especificamente, nos municípios de Petrópolis, Duque de Caxias e Magé, nas áreas temáticas de Desenvolvimento Comunitário e Organização Popular, Educação Integral e Portadores de Necessidades Especiais.

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usuários dos serviços prestados pelas três entidades avaliadas, mantendo inclusive os solecismos originais. Alguns dados coletados apresentaram a necessidade da construção de novas questões, especialmente para a interlocução com dirigentes. Os questionários encontram-se no Anexo I.

Elegemos a pesquisa qualitativa como instrumento mais adequado aos nossos propósitos, uma vez que, segundo Neves (1996, p. 2):

Enquanto estudos quantitativos geralmente procuram seguir com rigor um plano previamente estabelecido [...] a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada ao longo de seu desenvolvimento. [...] Dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é freqüente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada, e a partir daí, situe sua interpretação dos fenômenos estudados.

Nos apropriamos, ainda, das observações tomadas a partir de oito anos de trabalho voluntário e outros três anos de atuação profissional junto a uma destas instituições.

Como afirmamos, anteriormente, no Capítulo 2 – Terceiro Setor: Significados adotados – pretendemos apresentar e analisar os principais conceitos verificados sobre o terceiro setor, além de estabelecer (e justificar) a escolha pelo significado adotado neste trabalho.

No Capítulo 3 – Serviço Social: Elucidações ao universo extra-acadêmico – apresentamos alguns esclarecimentos a respeito do Serviço Social, da Assistência Social e do Assistente Social. Embora redundantes aos meios científicos, tais elucidações se fazem necessárias, especialmente a fim de potencializar o alcance de nosso terceiro objetivo específico, de conferir utilidade prática a este esforço, fora do universo acadêmico.

No Capítulo 4 – O Terceiro Setor Enquanto Espaço Sócio-ocupacional do Assistente Social – refletimos sobre a compatibilidade entre as questões gerenciais e operacionais das instituições e as habilidades inerentes ao assistente social.

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No Capítulo 6 – Limitações do Estudo – expomos as principais dificuldades verificadas na construção deste trabalho.

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2 O TERCEIRO SETOR: SIGNIFICADOS ADOTADOS

Neste capítulo, apresentamos os principais conceitos acerca do Terceiro Setor, em que pese o único consenso verificado, sua heterogeneidade.

O conceito presente em Fernandes (1994, p.21) tem sido eleito como identificação oficial do terceiro setor e, ao menos ao início de nosso esforço, cumpre parte da missão:

[...] um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam a produção de bens e serviços públicos. Este é o sentido positivo da expressão. "Bens e serviços públicos", nesse caso implicam uma dupla qualificação: não geram lucros e respondem a necessidades coletivas.

O suposto potencial sintetizador do conceito desenvolvido por Fernandes, no entanto, não é aspecto suficiente a garantir sua hegemonia nos debates a respeito do terceiro setor, para o que, o apoio dos meios de comunicação de massas tem sido determinante. A fim de evitar a mistificação faz-se necessário que esse conceito seja apreendido como conceito introdutório aos estudos e não conclusivos, como verificamos.

Segundo a Rede Brasileira do Terceiro Setor (REBRATES):

O Terceiro Setor corresponde às instituições com preocupações e práticas sociais, sem fins lucrativos, que geram bens e serviços de caráter público, tais como: ONGs, instituições religiosas, clubes de serviços, entidades beneficentes, centros sociais, organizações de voluntariado etc.

O que caracteriza cada setor em face dos recursos financeiros é o seguinte: Primeiro Setor: dinheiro público para fins públicos; Segundo Setor: dinheiro privado para fins privados; Terceiro Setor: dinheiro privado para fins públicos (nada impede, todavia, que o poder público destine verbas para o Terceiro Setor, pois é seu dever promover a solidariedade social).

Neste sentido, nos apropriamos de outros conceitos acerca da sociedade civil organizada. O terceiro setor, por si só, é tema absolutamente rico e diverso, como sustenta Semeraro (1999, p. 259):

As teorias do “terceiro setor” se apresentam com a pretensão de ser um

corretivo das visões liberais tradicionais, cujos princípios originários, acentuando a excessiva autonomia do mercado e a burocratização do poder Estatal, geram distanciamento perigoso da vida real. Procuram, com isso, valorizar as forças da sociedade civil para controlar os sistemas dominados

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sociedade civil com um discurso que visa recuperar as relações humanas e incentiva a integração social das pessoas, distanciando-se de qualquer concepção liberal, abstrata e universalista: o comunitarismo (ou neocomunitarismo).

O comunitarismo, grosso modo, trata de resolver os problemas do mundo por etapas, a partir do enfrentamento de questões regionais; algo como respostas locais para problemas globais, cujo potencial de resolubilidade está diretamente relacionado à capacidade de cada iniciativa regional em articular-se ao contexto global.

Ao que acrescentamos que – pelas apreensões tomadas em nosso campo empírico – as propostas declaradamente comunitaristas do terceiro setor nem sempre se transpõem dos estatutos institucionais para as práticas institucionais, consideradas as peculiaridades de cada realidade.

Situando o terceiro setor, Wieczynski e Ronconi (200-, p. 02) contribuem de forma mais adequada à apreensão da sociedade civil:

Embora entre o mercado e o Estado, para nós a sociedade civil não é autônoma e independente. Distintos teórica e metodologicamente, Estado, mercado e sociedade civil são inseparáveis na prática; formam, portanto, uma mesma realidade. Ao analisarmos a sociedade civil, devemos percebê-la numa repercebê-lação dialética com o Estado e o mercado; não devem ser compreendidos como bloco monolítico sem contradições sociopolíticas.

Numerosos e variados aspectos caracterizam o terceiro setor, no entanto. Mantendo uma ótica mais simplista, ONGs, igrejas, associações de moradores, de produtores rurais, de trabalhadores, fundações, cooperativas e muitas outras formas associativas se inserem no conceito de terceiro setor, e se diferenciam pelas consistências de seus aspectos mais ou menos conservadoras ou progressistas.

Coutinho (2008, p. 5) conceitua ONGs conservadoras e progressistas:

Como uma forma de diferenciação entre elas, costuma-se classificá-las

grosso modo ONGs “progressistas” e “conservadoras”. As primeiras seriam

aquelas oriundas da década de 1970/1980 (ou fundada segundo essa concepção), vinculadas direta ou indiretamente aos movimentos sociais; as segundas, criadas já no auge da implementação das políticas neoliberais, teriam um forte cunho assistencialista. Ou seja, a maioria delas. Essa classificação na verdade não revela a realidade dessas organizações.

Mesmo as consideradas “progressistas”, é bom frisar que assim como o termo “sociedade civil” toma uma significação durante os regimes

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“progressista”. Ou seja, todos aqueles que se opunham aos regimes autoritários, fossem a favor da “redemocratização” da sociedade, da

liberdade de expressão, eram imediatamente considerados do campo progressista. O projeto político, as diferenças ideológicas eram pouco sublinhadas. Com a abertura política, essas diferenças vão ficando mais nítidas, e a linha que separa as organizações consideradas progressistas das conservadoras é cada vez mais tênue porque ambas estão amarradas ao financiamento que recebem. Claro que há diferenças na sua forma de atuação, e aqui, cabe ressalvar que muitas dessas organizações têm cada vez mais dificuldades de conseguirem se manter enquanto tais.

É importante destacar que, apesar de nos apropriarmos de alguns aspectos conservadores das análises do terceiro setor – especialmente pelas afinidades de ordem econômica, presentes em seus financiamentos – nosso compromisso é, principalmente, com a classe trabalhadora, com os movimentos sociais e com os indivíduos socialmente excluídos, sujeitos de protagonismo nos processos de enfrentamento das questões sociais.

A fim de contextualizar mais apropriadamente o terceiro setor – ao menos para os nossos propósitos – é importante, desde já e ainda que de forma generalista, separar o joio do trigo entre instituições supostamente progressistas e aquelas minimamente de potencial progressista e verdadeiramente comprometidas com causas populares.

A idéia hegemônica (e mistificada) sobre o Terceiro Setor o apresenta como um conjunto de iniciativas, legalmente constituídas, que prestam serviços públicos com recursos privados – ou privatizados, se observarmos que diversas instituições privadas recebem recursos públicos através de convênios e parcerias. O argumento central que ampara, intelectualmente, esta relação, expõe um ambiente de bem e mal entre a sociedade civil e o Estado, onde este é endemonizado como corrupto, lento e ineficiente e aquela é santificada como ágil, ética e eficaz.

Segundo Silva (2008, p. 53), o que se convencionou chamar parceria, não o é, pois:

[...] o Estado apenas repassa uma determinada verba às instituições, mas são elas que prestam serviço à população, não existe um acompanhamento ou uma sistemática avaliação desses serviços. Fica claro que o próprio Estado procura minimizar suas responsabilidades, justamente por isso não podemos acreditar na idéia de parceria, porque vemos que na realidade o que existe no lugar das chamadas parcerias é a substituição da responsabilidade estatal pela responsabilidade civil.

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suas debilidades – ganha consistência através de quase a totalidade dos meios de comunicação de massa, sua desconstrução promoveria mais confusão do que esclarecimentos. Aos nossos propósitos, como já afirmamos, basta separar o joio do trigo. De acordo com Montaño (2007, p. 264):

[...]. Justamente, a questão recai em que o cerne do debate dominante

sobre o “terceiro setor” (e sua própria denominação conceitual trabalha para isso) concebe as atividades (“sociais”) desenvolvidas pela sociedade civil

como um todo orgânico, relativamente homogêneo, dirigido ao mesmo fim: o bem comum, a participação cidadã – isto é, o SESI, a Fundação Roberto Marinho, a Igreja Universal do Reino de Deus, a Fundação Augusto Pinochet, todos eles de formas diferentes seguindo supostamente o mesmo rumo que a CUT, o Movimento Feminista, a OAB, o MST, as Farcs.

Pretendemos nos apropriar das contribuições sobre o terceiro setor, especialmente as de Ronconi e Wieczinsky (2010) e de Montaño (2007), por aliarem tanto a crítica realista como a perspectiva de alternativas à atuação profissional.

Observamos o ideário burguês, camuflado de solidariedade, presente no terceiro setor. Porém, também observamos as alternativas que se apresentam aos assistentes sociais comprometidos com o projeto ético-político profissional, no sentido de se apropriarem das oportunidades presentes, constituindo o terceiro setor num espaço de efetivação de direitos e promoção de cidadania, como afirmam Ronconi e Wieczinsky (2010, p. 7):

A sociedade civil brasileira tem reinventado uma nova maneira de fazer política e viver em sociedade, caminhando no sentido de se tornar autoorganizada ao mesmo tempo em que desenvolve em relação ao Estado uma posição de fiscalização, cobrança e denúncia; e não substituidora do desenvolvimento de ações sociais.

Todavia, não pretendemos nos aprofundar sobre as debilidades presentes nas teorias sobre o Terceiro Setor; tal empreitada é, por si só, tema suficiente para outros esforços. Nossa preocupação maior consiste em seus aspectos enquanto espaço sócio-ocupacional do assistente social, e nas contribuições que o Serviço Social pode trazer ao setor, conforme abordamos no Capítulo 4.

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Atuam em uma diversidade e variedade de questões que afetam a sociedade na área da assistência social, da saúde, do meio ambiente, da cultura, educação, lazer, esporte, etc.;

Nas áreas da assistência social, educação e saúde, geralmente, prestam atendimento a pessoas e famílias que estão à margem do processo produtivo ou fora do mercado de trabalho;

Trabalham na defesa e garantia dos direitos dessa população;

São de caráter privado, mas desenvolvem um trabalho de interesse público;

Não têm finalidade de lucro no sentido mercantil da palavra;

Não são estatais, embora mantenham vínculos com o poder público,

Contam com o trabalho de um corpo de voluntariado.

Destarte, o terceiro setor, mesmo denominado por um termo controverso, refere-se a uma imensa variedade de instituições legalmente constituídas, de direito privado e que atuam na produção de bens e serviços voltados à coletividade.

No entanto, o terceiro setor se refere a um conjunto de iniciativas absolutamente diversas em seus objetivos e métodos. Por exemplo, muitas instituições se constituíram no contexto da Ditadura Militar e, com a abertura política, redefiniram seus papéis na sociedade, com o propósito de evitar seu próprio desmantelamento.

Segundo a ABONG (2005), as controvérsias presentes nos debates sobre o terceiro setor são ocorrências naturais:

A expressão “terceiro setor”, também constantemente utilizada para referir -se às organizações da sociedade civil -sem fins lucrativos de uma forma geral, abriga, além das ONGs, outros segmentos com identidades diversas, como entidades filantrópicas e institutos empresariais.

A idéia de um setor social, ao lado do Estado e de um setor empresarial, começou a ser utilizada no Brasil há poucos anos. Em torno dessa expressão, trajetórias históricas concretas de vários segmentos da sociedade civil brasileira, que sempre atuaram com base em diferentes valores, perspectivas e alianças, são re-significadas e tendem a se diluir em um conceito homogeneizador.

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concentração de renda e violação de direitos. As organizações naturalmente expressam os conflitos e contradições existentes em nossa sociedade.

Alguns dados contribuem para a apreensão das proporções do terceiro setor. Em relação a estes números, segundo a ABONG (2005):

O estudo mais recente sobre o universo associativo brasileiro, do qual as ONGs fazem parte, foi lançado em dezembro de 2004, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE).

O estudo revela que, em 2002, havia 276 mil fundações e associações sem fins lucrativos (FASFIL) no país, empregando 1,5 milhão de pessoas. Contudo, os dados da pesquisa apontam para uma imensa pluralidade e heterogeneidade dessas organizações sem fins lucrativos: igrejas, hospitais, escolas, universidades, associações patronais e profissionais, entidades de cultura e recreação, meio ambiente, de desenvolvimento e defesa de direitos, etc.

De modo geral, o conjunto das associações e fundações brasileiras é formado por milhares de organizações muito pequenas e por uma minoria que concentra a maior parte dos/as empregados/as das organizações. Cerca de 77% delas não têm sequer um/a empregado/a e, por outro lado, cerca de 2.500 entidades (1% do total) absorvem quase um milhão de trabalhadores/as. Esse pequeno universo é formado por grandes hospitais e universidades pretensamente sem fins lucrativos, na sua maioria, entidades filantrópicas (portadoras do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, que possibilita a isenção da cota patronal, devida em razão da contratação de funcionários e prestadores de serviços).

Ainda no sentido de contextualizar o terceiro setor, a pesquisa de Silva (2008) traz contribuições à compreensão de alguns aspectos relevantes do terceiro setor. Segundo a autora, a maioria da ONGs brasileiras foi fundada entre os anos 80 (46,8%) e 90 (34,8%), respectivamente, períodos de abertura política e constituição do ambiente legal ao financiamento público das iniciativas privadas sem finalidades lucrativas.

Quanto à origem do financiamento, a mesma pesquisa apurou certa paridade entre financiamentos públicos (24,8%) e privados (23,2%), mas não avaliou se este financiamento privado é motivado ou não, por leis de incentivo fiscal, o que implica diretamente – senão legalmente, moralmente – na classificação adequada dos recursos em públicos ou privados.

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comercialização de produtos e serviços (18,5%).

O aspecto do financiamento das atividades carece de análise mais próxima e crítica, uma vez que, se considerarmos o potencial de isenção fiscal embutido em doações individuais, de empresas e financiamento privado, podemos chegar a índices mais significativos de aportes financeiros públicos – ainda que indiretos – algo em torno de 69%.

Segundo a pesquisa de perfil das associadas da ABONG (2004), em relação às certificações: 26,7% não possuem quaisquer certificações ou títulos; 51,98% das entidades associadas possuem Título de Utilidade Pública Municipal; Apenas 37% possuem registros no CNAS – Conselho Nacional de Serviço Social.

Pelo que observamos nas instituições de nossa pesquisa, a ausência de certificações e titulações se deve, grosso modo, ao desconhecimento dos atores institucionais em relação aos trâmites burocráticos necessários à sua obtenção ou, ainda, ao não-observância dos órgãos financiadores (mesmo da administração pública) pela exigibilidade dos mesmos ao financiamento.

Há, em Ribeiro (1995, p. 7), contribuição que motiva boa parte de nossas escolhas:

Mas não se equivoque comigo. Nenhum escritor é inocente, eu também não... [...]. Os brasileiros vêm sendo tão massacrados pela indoutrinação direitista, difundida por toda a mídia, que já não há onde alguém possa informar-se realmente como viemos a ser o que somos, sobre como se implantou a crise em que estamos afundados e sobre as alternativas políticas que se abrem para nós. [...].

Aqui reconhecemos que nossa pesquisa não é isenta, absolutamente; abraçamos, primordialmente, o compromisso com a classe trabalhadora e destituída de poder decisório e acesso aos debates pertinentes. Cremos que esta escolha não representa, ao rigor científico, prejuízos capazes de comprometer os propósitos deste trabalho, mas, ao contrário, reforça nosso compromisso com o projeto ético-político do Serviço Social.

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questões públicas, é que constitui e legitima o Estado, mesmo que irrefletidamente. Assim como o Estado, o mercado também é constituído e legitimado pela mesma sociedade civil, a fim de cumprir funções específicas na produção de bens e serviços, bem como no fortalecimento da economia e, sob uma perspectiva menos conservadora, gerar trabalho e impulsionar o desenvolvimento social e econômico.

Na perspectiva neoliberal, enquanto o mercado impulsiona a economia, o Estado se responsabiliza pela assistência aos trabalhadores excluídos dos processos produtivos, a fim de evitar convulsões sociais que possam comprometer o ambiente favorável ao capitalismo e à manutenção da hegemonia burguesa no poder.

Nossa perspectiva é de que o terceiro setor constitui-se de iniciativas privadas, instituídas a partir da sociedade civil, a fim de suprir a ausência do Estado no enfrentamento de questões sociais dos mais variados aspectos.

Entretanto, creches comunitárias, associações de moradores, de portadores de deficiências, de aposentados, entre outras formas associativas, não substituem o Estado, mas, ao contrário, o pressionam a cumprir suas obrigações. Mesmo quando o terceiro setor promove ações de obrigação estatal, o fazem como mecanismo estratégico, no sentido de atrair as atenções da sociedade civil, organizar forças políticas capazes de exigir que o Estado amplie, efetivamente, suas responsabilidades.

Mesmo quando o Estado se reconhece ausente de determinada região – e esta se encontra assistida pela sociedade civil organizada – as discussões centrais recaem sobre as formas pelas quais o Estado se fará presente daquele momento em diante e, geralmente, o financiamento público de ações do terceiro setor tem sido eleito o mecanismo adequado; especialmente porque, fosse o Estado assumir todas as atividades, os trâmites burocráticos (licitações, concursos públicos, publicações oficiais, etc.) fariam necessária a suspensão temporária dos serviços, além de representar maiores aportes financeiros.

Desta forma, a agilidade operacional e o custo financeiro têm sido os principais argumentos de sustentação das parcerias público-privado.

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articulação política da instituição, além de aspectos de gestão estratégica, normalmente ausentes em grande parte das instituições, incluindo aquelas que pesquisamos.

No sentido de conceituar o termo gestão, utilizamos um dos mais citados autores no campo da Administração, Peter Drucker (apud Ferreira, et al, 2002, p. 109) que afirma que:

Gestão organizacional significa, entre outras coisas, permitir que um indivíduo de excelente atuação empresarial realize livremente seu trabalho, sendo que a gerência da organização deve exercer sua autoridade para garantir a coordenação das atividades, de forma a alcançar bons resultados econômicos.

Falconer (1999, p. 10) afirma que a questão da gestão é a principal debilidade no terceiro setor:

As ações de desenvolvimento do terceiro setor no plano organizacional fundamentam-se na suposição de que a gestão organizacional é o principal ponto fraco do setor e, conseqüentemente, a capacitação em gestão é a principal arma para que este desempenhe plenamente o seu papel esperado. [...]

Ainda, Falconer (1999, p. 22) reconhece que uma única ciência – a Administração – não detém respostas adequadas para o problema da gestão no terceiro setor:

Os quatro principais aspectos a serem desenvolvidos na gestão do terceiro setor [...] [...] - accountability, qualidade de serviço, sustentabilidade e capacidade de articulação institucional - representam um guia para a formação de um campo de conhecimento específico de administração de organizações sem fins lucrativos. Aprimorar as organizações nestas quatro dimensões é essencial para o desenvolvimento de um terceiro setor capaz de se relacionar com a sociedade civil e com as suas instituições, de prover bens de efetivo valor à sociedade, de conciliar autonomia com mobilização de recursos e de fazer frente a problemas públicos. Esta é a chave no campo de Administração para a promessa do terceiro setor.

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3 SERVIÇO SOCIAL: ELUCIDAÇÕES AOS MEIOS EXTRA-ACADÊMICOS

Algumas elucidações se fazem necessárias, acerca do Serviço Social, justificadas pela intenção deste trabalho em consubstanciar-se matéria útil, também fora dos meios acadêmicos, onde certa confusão é verificada nos conceitos de serviço social, assistente social e assistência social.

A Lei 8662/93 regulamenta a profissão de Assistente Social. O Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (apud BRASIL, 2002) contribui, em síntese, para a apreensão do que são as principais atribuições e competências do assistente social:

Realiza estudos e pesquisas para avaliar a realidade e emitir parecer social e propor medidas e políticas sociais; planeja, elabora e executa planos, programas e projetos sociais; presta assessoria e consultoria a instituições públicas e privadas e a movimentos sociais; orienta indivíduos e grupos, auxiliando na identificação de recursos e proporcionando o acesso aos mesmos; realiza estudos socioeconômicos com indivíduos e grupos para fins de acesso a benefícios e serviços sociais; atua no magistério de Serviço Social e na direção de Unidade de ensino e Centro de estudos.

A atuação do assistente social em assessoria e consultoria não tem sido, ao longo da história do Serviço Social, prática comum. Apesar disto, o senso crítico tem impulsionado o desenvolvimento científico e profissional e aberto novos espaços sócio-ocupacionais e funções, consideradas as características de cada profissional.

Há, ainda, necessidade de resgatar alguns fatos históricos em relação ao Serviço Social brasileiro, no sentido de esclarecer e reforçar aos meios extra-acadêmicos as mudanças ocorridas no projeto ético-político desde a Ruptura.

O século XVI registra as primeiras ações institucionais de assistência social no Brasil, através do surgimento das Santas Casas de Misericórdia. Já no final do século XVII, a Coroa Portuguesa cita, oficialmente, a assistência social, a fim de proteger a crianças abandonadas, através da Câmara dos Bens do Conselho, órgão representante do governo português no Brasil.

A partir dos anos 1920, a assistência social brasileira se expressa de forma mais organizada pelas ações sociais da Igreja Católica, de caráter assistencialista e norteado por princípios cristãos de caridade.

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reajustamento social e moral – e mistificando a questão social como mero somatório de problemas isolados de famílias desestruturadas – o Código promoveu alguns avanços consideráveis, à época, como a regulamentação do trabalho infantil, estabelecendo a idade mínima de 12 anos para a vida laborativa, além de ter abolido o ambiente legal para a mera repressão e a punição.

O segundo Código de Menores (de 1979) trouxe poucos avanços, além de ter reforçado as idéias centrais de reajustamento social. Mesmo a carência de recursos materiais da família poderia ser desencadeadora do processo de institucionalização de crianças e adolescentes. A questão colateral residia em que a ação institucional jamais alcançou qualquer eficácia em seus processos de reajuste social, moral ou educacional.

A partir dos anos 1930, surgem o Centro de Estudos e Ação Social e, posteriormente, a Escola de Serviço Social de São Paulo, marcos da formação profissional técnica. Até o final dos anos 1950, surgiriam a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – incorporando a Escola de Serviço Social de São Paulo – e a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social, estabelecendo as diretrizes metodológicas de ensino e a formação universitária em Serviço Social.

Nos anos 1950, foram regulamentadas por Lei, a graduação superior e o exercício profissional do assistente social. Essa legislação perdurou até os anos 1990.

No mesmo período, data a criação do Conselho Nacional de Serviço Social, substituído pelo Conselho Nacional de Assistência Social, em 1993, com a promulgação da LOAS, Lei Orgânica da Assistência Social, além da inserção do assistente social no funcionalismo público, na Previdência Social – o que ocorreria também nos institutos de pensão – campo tradicional para a profissão, ainda nos dias atuais.

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A partir dos anos 1970, no contexto da Ditadura Militar e sob influência direta do Movimento de Reconceituação do Serviço Social, surgem as primeiras manifestações de considerável parcela dos assistentes sociais, questionando, de modo geral, os compromissos éticos e políticos da profissão cuja metodologia, até então, possuía caráter de reprodução da classe trabalhadora bem como das relações de exploração comuns ao capitalismo. No mesmo período, a formação acadêmica é enriquecida com o surgimento de cursos de mestrado em Serviço Social no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Os anos 1980 marcam, no Serviço Social, a ruptura com as formas tradicionais de prática e formação acadêmica, lançam luz à dimensão política da profissão – até então, ocultada – e resultam no Código de Ética do Assistente Social, que estabelece claros compromissos políticos em defesa dos interesses da população, conforme atestam os princípios fundamentais do referido código. Assim, o Código de Ética dos Assistentes Sociais, instituído pela Resolução CFESS nº 273/93 (1993, p. 3) define os princípios fundamentais:

Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;

Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo;

Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;

Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida;

Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças;

Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual;

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gênero;

Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores;

Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.

Dentre os princípios fundamentais, destaca-se o da construção de uma nova ordem societária como potencial sintetizador dos objetivos mesmo do Serviço Social. Nele estão manifestos os compromissos claros com a promoção social das classes subalternizadas, socialização da participação política e das riquezas, entre outros; Destacamos a práxis como instância legitimadora desses compromissos, ou seja, o Código de Ética do Assistente Social não deve ser entendido como mera referência bibliográfica à formação acadêmica, mas como documento em constante construção / reconstrução, além de dar sentido à própria essência questionadora da ação profissional.

Como mencionamos, há a necessidade de conceituar, ainda que sinteticamente, alguns termos que, apesar de corriqueiros aos profissionais e estudantes de Serviço Social, são compreendidos confusamente nos meios extra-acadêmicos.

Assistência Social é uma política pública regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Serviço Social é a profissão exercida pelo assistente social, que para exercê-la, legalmente, deve graduar-se em curso de Serviço Social em unidade de Ensino Superior reconhecida pelo Ministério da Educação; É, ainda, ciência, cujo objeto de estudo é bem esclarecido por Iamamoto (2008, p. 28):

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opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...]

Observamos, nas aproximações com as instituições pesquisadas, idéias confusas, especialmente, sobre as competências e atribuições do assistente social. Preferimos destacar, aqui, as atribuições privativas do assistente social, ou seja, aquelas que somente podem ser efetivadas pelo profissional de Serviço Social, segundo a Lei 8662/93, que regulamenta a profissão (BRASIL, Lei 8662 de 07 de junho de 1993):

Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social:

I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;

II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social;

III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;

IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social;

V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto no nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;

VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;

VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação;

VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social;

IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;

XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais;

XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;

XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

Destacamos que a primeira das atribuições privativas é justamente a mais negligenciada, nas instituições estudadas. Nenhum profissional entrevistado relatou desenvolver quaisquer atividades de pesquisa, o que se configura, minimamente, em obstáculo ao desenvolvimento científico e, conseqüentemente, à formação acadêmica, refletindo, também, na atuação profissional.

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com maior freqüência nas entidades pesquisadas, observamos a supervisão de estágio e realização de pareceres e laudos técnicos, ainda que por exigência de organismos financiadores e/ou legitimadores de financiamentos.

De todas as atribuições privativas do assistente social, aquela com maiores afinidades com a gestão, trata de planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social, atividade igualmente negligenciada em nosso campo empírico, fosse pelo desinteresse profissional, fosse pelo poder institucional – alimentado pelas confusas idéias acerca do Serviço Social

– ou por ambos.

É comum, em muitas instituições filantrópicas, que seus agentes comunitários sejam equivocadamente denominados assistentes sociais. Os três primeiros artigos da mesma Lei (BRASIL, Lei 8662 de 07 de junho de 1993) tratam de pôr os pontos nos is:

Art. 1º É livre o exercício da profissão de Assistente Social em todo o território nacional, observadas as condições estabelecidas nesta lei.

Art. 2º Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social:

I - Os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social, oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior existente no País, devidamente registrado no órgão competente;

II - os possuidores de diploma de curso superior em Serviço Social, em nível de graduação ou equivalente, expedido por estabelecimento de ensino sediado em países estrangeiros, conveniado ou não com o governo brasileiro, desde que devidamente revalidado e registrado em órgão competente no Brasil;

III - os agentes sociais, qualquer que seja sua denominação com funções nos vários órgãos públicos, segundo o disposto no art. 14 e seu parágrafo único da Lei nº 1.889, de 13 de junho de 1953.

Parágrafo único. O exercício da profissão de Assistente Social requer prévio registro nos Conselhos Regionais que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado nos termos desta lei.

Art. 3º A designação profissional de Assistente Social é privativa dos habilitados na forma da legislação vigente.

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Empresarial, a descentralização da gestão das políticas de Assistência Social e, neste esforço particular, as visíveis necessidades do terceiro setor, conforme veremos no Capítulo 5.

Observamos que há, de fato, um problema de gestão institucional comum às três entidades estudadas neste trabalho. As ações são efetivadas sem planejamento estratégico, sem pesquisa e sem reflexões críticas; não há avaliação das ações ou das políticas sociais presentes.

Além destes aspectos, observamos, ainda, a aplicação inadequada e/ou ineficiente de recursos públicos, provocando redução dos serviços prestados, na contramão das crescentes demandas institucionais, cujo resultado excedente tem sido transposto às filas de espera pelos serviços destas entidades.

Neste sentido, estas instituições têm negligenciado, além das atribuições privativas do assistente social, algumas competências absolutamente relevantes para a intervenção eficaz, entre elas: a elaboração e execução de planos, programas e projetos e o planejamento e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social (BRASIL, Lei 8662 de 07 de junho de 1993).

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4 O TERCEIRO SETOR ENQUANTO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

O ambiente favorável ao desenvolvimento do terceiro setor, criado com a Constituição de 1988, não se traduziu em efetivação de direitos, conforme anunciado nas propagandas oficiais do Estado. A descaracterização da Constituição de 1988, promovida sob o ideário neoliberal, nos doze anos seguintes, explica este fato, mas não é fundamental aos nossos propósitos promover maior aprofundamento neste aspecto.

A promessa de abastados financiamentos públicos ao setor alimentou a fantasia de micro e pequenas iniciativas populares, instituições notoriamente engajadas na luta pela garantia e ampliação de direitos, de que o aporte financeiro, por si só, seria o bastante para a consecução de seus objetivos, desconsiderados alguns aspectos fundamentais, como estrutura organizacional, planejamento estratégico e qualificação profissional.

Ainda, o financiamento, privado ou público, invariavelmente procedeu a todo um corpo de exigências que, para serem cumpridas pelas ONGs, era necessário certo desvirtuamento de suas finalidades originais.

Originalmente e principalmente entre os anos 70 e 80, as ONGs desempenhavam papel secundário de articulação ao lado dos movimentos sociais. A partir dos anos 90, no entanto, esta relação entre ONGs e movimentos sociais foi descaracterizada, conforme verifica Montaño (2007, p. 271):

No entanto, na última década do século que terminou – tem ocorrido uma monumental inflexão nesta relação – movimento social/ONG.

Com efeito, as ONGs passaram paulatinamente, na década anterior, a ocupar o lugar dos movimentos sociais, deslocando-os de seu espaço de luta e da preferência na adesão popular.

De porta-voz das causas populares, as ONGs passam a desempenhar um papel de atenuador de conflitos.

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preliminar e pré-requisito à possibilidade de deparar-se com o inimigo titular, a esfera pública.

Nossa hipótese, conforme dados coletados na pesquisa, consiste em que os assistentes sociais presentes nestas instituições têm sido alocados, invariavelmente, em atividades meramente burocráticas e tarefeiras, despidos de poder de voz ou voto nas instituições; exatamente o mesmo contexto oportunizado aos sujeitos da ação institucional.

As relações entre assistentes sociais e instituições do terceiro setor não são, em si, uma novidade. Desde sua gênese, o Serviço Social sempre esteve em relações constantes com instituições de caridade, filantropia, movimentos sociais, etc. O que se constitui novidade, neste fato, é a transposição dos assistentes sociais de um espaço sócio-ocupacional público para outro privado.

Não raro, temos observado que a inserção do assistente social no âmbito destas instituições tem se dado por força maior de exigências de órgãos financiadores ou de controle social do que pela identificação de demandas específicas do Serviço Social. Este contexto acaba por fazer do profissional um estranho no ninho. Nas entidades pesquisadas, nem os gestores, nem os demais profissionais e nem os usuários têm idéia clara do que venha a ser o trabalho do assistente social.

Costa (2005, p. 7), pontua algumas atribuições específicas do assistente social no terceiro setor:

Implantar, no âmbito institucional, a Política de Assistência Social, conforme as diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS /93) e Sistema Único da Assistência Social (SUAS /04), de acordo com a área e o segmento atendido pela instituição;

Subsidiar e auxiliar a administração da instituição na elaboração, execução e avaliação do Plano Gestor Institucional, tendo como referência o processo do planejamento estratégico para organizações do terceiro setor;

Desenvolver pesquisas junto aos usuários da instituição, definindo o perfil social desta população, obtendo dados para a implantação de projetos sociais, interdisciplinares;

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Realizar seleção sócio-econômica, quando for o caso , de usuários para as vagas disponíveis, a partir de critérios pré-estabelecidos, sem perder de vista o atendimento integral e de qualidade social; e nem o direito de acesso universal ao atendimento;

Estender o atendimento social às famílias dos usuários da instituição, com projetos específicos e formulados a partir de diagnósticos preliminares;

Intensificar a relação instituição / família, objetivando uma ação integrada de parceria na busca de soluções dos problemas que se apresentarem;

Fornecer orientação social e fazer encaminhamentos da população usuária aos recursos da comunidade, integrando e utilizando-se da rede de serviços sócio-assistenciais;

Participar, coordenar e assessorar estudos e discussões de casos com a equipe técnica, relacionados à política de atendimento institucional e nos assuntos concernentes à política de Assistência Social;

Realizar perícia, laudos e pareceres técnicos relacionados à matéria específica da Assistência Social, no âmbito da instituição, quando solicitado;

Nos casos estudados, observamos que há clara necessidade pelo desenvolvimento de um Plano Gestor Institucional, capaz de orientar as ações, avaliar o desempenho geral de forma crítica, realista, a fim de oportunizar subsídios teóricos claros e objetivos.

Antes mesmo da confecção do Plano Gestor, urge a necessidade pela realização de pesquisa de perfil social, articulação com profissionais de outras áreas e mobilização dos sujeitos destinatários da ação, no sentido de possibilitar a construção de um Plano de Ação desenvolvido a partir de sua própria perspectiva, otimizando a aceitação dos programas e projetos por parte dos usuários e, portanto, promovendo melhores resultados.

Nossa idéia central, portanto, considera a relevância da atuação do assistente social na gestão social das ONGs, ainda que paritariamente em conjunto com profissionais de outras áreas, a fim de promover a reordenação das relações entre ONGs e movimentos sociais e entre atores institucionais, de modo geral.

Considerando que o embate Trabalho x Capital – ou seja, as contradições tradicionais das sociedades capitalistas – permeia toda a sociedade, é necessário desvelar os jogos de poder presentes em todos os espaços, trazendo-os aos debates, mobilizando todos os sujeitos, mediando interesses e estabelecendo acordos, no sentido de minimizar resistências e boicotes aos programas.

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de poder, a mesma não será oportunizada ao assistente social ou aos próprios sujeitos sem a ocorrência de conflitos, cujas respostas se efetivarão em estreita relação com as habilidades do profissional.

Todavia, o empoderamento dos sujeitos da ação institucional, indispensável ao fortalecimento dos movimentos sociais, demanda um amplo e complexo conjunto de habilidades profissionais, todas naturais ao assistente social, conforme sustentado por Ronconi e Wieczinsky (2010, p. 6):

É neste viés que o Assistente Social deve inserir-se. O terceiro setor para o Assistente Social é um espaço profissional que deve ser ocupado com criatividade e competência técnica, teórica e política. Estes são os pressupostos que devem reger a ação profissional nestas instituições. Devem não apenas ser um executor de programas ou projetos, mas um planejador e propositor de políticas públicas que possam vir ao encontro dos interesses da maioria da população.

Ainda segundo Ronconi e Wieczinsky (2010, p. 7):

As entidades do terceiro setor através do Assistente Social devem assim, desenvolver ações que promovam a democracia, a liberdade e a participação da sociedade. Devem desenvolver um tipo de gestão que resgate as demandas universalistas, no sentido de cobrar do Estado o desenvolvimento de políticas públicas, fiscalizar essas políticas e denunciar as irregularidades no desenvolvimento dessas políticas. Este sim é o pleno exercício da cidadania.

Não negamos a existência de instituições do terceiro setor onde a inserção profissional se dê com maior autonomia e poder decisório. Elas existem mesmo na região onde efetivamos nossa pesquisa. A excelência de suas atividades e os graus de desenvolvimento – operacional e científico – que alcançaram, contudo, as tornam inelegíveis aos nossos estudos.

Nosso foco, entretanto, recai sobre aquelas entidades cuja atuação se distancia tanto de seus objetivos estatutários, como de seus históricos de lutas pelo desenvolvimento e consolidação da democracia.

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de qualquer formação – venha a exercer poder institucional.

Não tratamos aqui de desqualificar a atuação de profissionais das demais áreas, mas constatar que, além da Administração, somente para o Serviço Social as debilidades gerenciais do terceiro setor se consubstanciam em objeto de intervenção profissional – desde que apreendidas como questões sociais – uma vez que o desempenho insatisfatório destas instituições resulta em maior vulnerabilidade social dos sujeitos destinatários de seus serviços.

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5 O TERCEIRO SETOR: ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS

Nas aproximações com as entidades, observamos que as pesquisas disponíveis têm se mostrado ineficazes, senão inúteis à aplicabilidade de suas reflexões em instituições de baixo grau de desenvolvimento. Apenas uma das entidades estudadas apresentou atividades de debates – envolvendo tanto os colaboradores diretos como os sujeitos destinatários dos serviços – sobre produção acadêmica ou mesmo reflexões acerca de suas próprias atividades.

A seguir são apresentadas observações, relatos e análises dos contextos de três entidades do terceiro setor, atuantes na Baixada Fluminense (Duque de Caxias e Magé) e da região serrana do estado do Rio (Petrópolis).

O anonimato das instituições e de seus colaboradores foi resultado de um acordo efetivado com a finalidade de obter informações mais precisas e relatos mais espontâneos. Portanto, usaremos as denominações de Entidades A, B e C.

5.1 ENTIDADE A

A entidade A atua há mais de vinte anos, em atividades diversas, todas voltadas à área temática do desenvolvimento comunitário. As atividades da entidade eram efetivadas em mais de vinte comunidades de baixo desenvolvimento sócio-econômico e beneficiavam cerca de duas mil famílias, com serviços de creches comunitárias, cursos de capacitação profissional, assistência emergencial, formação de lideranças comunitárias, entre outros.

O financiamento de suas ações foi inicialmente custeado pela solidariedade internacional, de baixo grau de exigência nos processos de liberação e aplicação de recursos, bem como na prestação de contas, apesar da grande capacidade econômica desses aportes.

Atualmente, três diretores executivos respondem pelas tarefas de gestão operacional. Observamos que um dos gestores atua, com maior intensidade, no estabelecimento de diretrizes e metodologias, enquanto outros dois dirigentes concentram esforços exclusivos na supervisão e execução das atividades.

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receitas, estabeleceu extensa auditoria independente e apurou resultados inversamente proporcionais aos recursos empregados. A mesma auditoria identificou, ainda, entre as principais causas do desempenho insatisfatório, a desqualificação profissional de seus quadros, a ausência de qualificação de seus gestores e o quadro geral de desorganização da entidade, além de métodos autocráticos de liderança.

A auditoria sugeriu um prazo de três anos para que a ONG promovesse sua reestruturação, adequando-se às exigências do organismo financiador, e/ou apresentando suas próprias sugestões à apreciação do parceiro. Como não houve esforços neste sentido, a entidade perdeu o acesso a estes recursos privados, passando a custear suas atividades apenas com doações espontâneas de pessoas físicas do país e de pequenos financiadores internacionais, além de verbas públicas originadas na formalização de termos de convênio com as prefeituras locais.

O financiamento público, no entanto, exige muito mais do que apenas relatos informais da aplicação dos recursos, na prestação de contas; Exige abrangência maior dos serviços prestados, em relação ao financiamento privado. Sendo assim, com menor capacidade econômica e sem um gestor qualificado, a solução encontrada pela entidade, foi reduzir suas atividades a fim de adequar-se à verba disponível, equívoco responsável por retrair o espaço de atuação institucional. Foi apresentada, e rejeitada, uma proposta de admitir um assistente social para gerir a entidade. O colaborador que sugeriu a contratação demonstrou grande insatisfação com o trabalho na instituição, conforme se verifica em sua fala:

Cara, aqui tem um problema grave de gestão. A presidente é meio bipolar (risos), eu acho... Cada hora dá uma ordem diferente, pra cada um dá uma ordem diferente, deixa todo mundo doido. Os outros diretores são uns paus-mandados, não decidem nada sem autorização dela. Minha sorte foi que os patrocinadores do projeto de informática exigiram um supervisor de projetos qualificado, e instrutores também. Quem sofre mais é esse supervisor, que tem que aturar essa mala. (Sujeito 1A).

A fala de um ex-colaborador, Sujeito 2A – coordenador do principal programa da instituição – complementa:

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tem a menor objetividade. Só fui contratado por exigência da própria prefeitura que queria pessoal qualificado pra coordenar o projeto. Como o projeto estava previsto pra durar dois anos, fui dispensado. Nem fiquei surpreso, tive muitos conflitos com a direção. Eles meio que me engoliram, por causa da exigência da prefeitura e porque o projeto foi bem executado. (Sujeito 2A).

A relevância pelo relato de um ex-colaborador – Sujeito 2A – reside na observação de que, em vinte anos de atividades, ele foi um dos raros profissionais com qualificação técnica adequada, trabalhando na Entidade A. Houve, ainda, outros cinco ex-colaboradores com graduação superior, convidados a participar da pesquisa. Todos se recusaram e apenas um justificou, argumentando questões éticas; os quatro convidados restantes apenas afirmaram não possuir interesse em contribuir, fosse com a pesquisa, fosse com a instituição.

Sobre esta resistência à qualificação profissional de seus quadros, as falas de dois atores institucionais sintetizam o posicionamento geral da entidade A.

Não adianta contratar um assistente social pra administrar isso aqui. Sempre funcionamos assim, sem ninguém com diploma. É só mais uma crise, já passamos por outras e vamos passar por essa também, com ou sem assistente social, advogado, psicólogo, nada disso. (Sujeito 3A). Olha só, eu não tenho faculdade. Nem terminei a oitava série, mas tô administrando tudo isso há mais de dez anos. Se eu não preciso de diploma, eles também não precisam. (Sujeito 4A)

Ainda de acordo com o Sujeito 1A, foram apresentadas, ainda, outras propostas, todas relacionadas a atividades de planejamento estratégico com a finalidade específica de proporcionar à entidade, uma estrutura adequada ao cumprimento de seus objetivos.

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