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5 O TERCEIRO SETOR: ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS

Nas aproximações com as entidades, observamos que as pesquisas disponíveis têm se mostrado ineficazes, senão inúteis à aplicabilidade de suas reflexões em instituições de baixo grau de desenvolvimento. Apenas uma das entidades estudadas apresentou atividades de debates – envolvendo tanto os colaboradores diretos como os sujeitos destinatários dos serviços – sobre produção acadêmica ou mesmo reflexões acerca de suas próprias atividades.

A seguir são apresentadas observações, relatos e análises dos contextos de três entidades do terceiro setor, atuantes na Baixada Fluminense (Duque de Caxias e Magé) e da região serrana do estado do Rio (Petrópolis).

O anonimato das instituições e de seus colaboradores foi resultado de um acordo efetivado com a finalidade de obter informações mais precisas e relatos mais espontâneos. Portanto, usaremos as denominações de Entidades A, B e C.

5.1 ENTIDADE A

A entidade A atua há mais de vinte anos, em atividades diversas, todas voltadas à área temática do desenvolvimento comunitário. As atividades da entidade eram efetivadas em mais de vinte comunidades de baixo desenvolvimento sócio-econômico e beneficiavam cerca de duas mil famílias, com serviços de creches comunitárias, cursos de capacitação profissional, assistência emergencial, formação de lideranças comunitárias, entre outros.

O financiamento de suas ações foi inicialmente custeado pela solidariedade internacional, de baixo grau de exigência nos processos de liberação e aplicação de recursos, bem como na prestação de contas, apesar da grande capacidade econômica desses aportes.

Atualmente, três diretores executivos respondem pelas tarefas de gestão operacional. Observamos que um dos gestores atua, com maior intensidade, no estabelecimento de diretrizes e metodologias, enquanto outros dois dirigentes concentram esforços exclusivos na supervisão e execução das atividades.

Segundo um dos relatos do Sujeito 1A, após doze anos de parceria, entre 1990 e 2002, a principal instituição financiadora, responsável por 70% das

receitas, estabeleceu extensa auditoria independente e apurou resultados inversamente proporcionais aos recursos empregados. A mesma auditoria identificou, ainda, entre as principais causas do desempenho insatisfatório, a desqualificação profissional de seus quadros, a ausência de qualificação de seus gestores e o quadro geral de desorganização da entidade, além de métodos autocráticos de liderança.

A auditoria sugeriu um prazo de três anos para que a ONG promovesse sua reestruturação, adequando-se às exigências do organismo financiador, e/ou apresentando suas próprias sugestões à apreciação do parceiro. Como não houve esforços neste sentido, a entidade perdeu o acesso a estes recursos privados, passando a custear suas atividades apenas com doações espontâneas de pessoas físicas do país e de pequenos financiadores internacionais, além de verbas públicas originadas na formalização de termos de convênio com as prefeituras locais.

O financiamento público, no entanto, exige muito mais do que apenas relatos informais da aplicação dos recursos, na prestação de contas; Exige abrangência maior dos serviços prestados, em relação ao financiamento privado. Sendo assim, com menor capacidade econômica e sem um gestor qualificado, a solução encontrada pela entidade, foi reduzir suas atividades a fim de adequar-se à verba disponível, equívoco responsável por retrair o espaço de atuação institucional. Foi apresentada, e rejeitada, uma proposta de admitir um assistente social para gerir a entidade. O colaborador que sugeriu a contratação demonstrou grande insatisfação com o trabalho na instituição, conforme se verifica em sua fala:

Cara, aqui tem um problema grave de gestão. A presidente é meio bipolar (risos), eu acho... Cada hora dá uma ordem diferente, pra cada um dá uma ordem diferente, deixa todo mundo doido. Os outros diretores são uns paus- mandados, não decidem nada sem autorização dela. Minha sorte foi que os patrocinadores do projeto de informática exigiram um supervisor de projetos qualificado, e instrutores também. Quem sofre mais é esse supervisor, que tem que aturar essa mala. (Sujeito 1A).

A fala de um ex-colaborador, Sujeito 2A – coordenador do principal programa da instituição – complementa:

Eu identifiquei diversas questões, lá. São coisas até simples de resolver, já que a entidade não tem problema de grana; mas não se resolvem porque há uma centralização de poder muito forte, muito autoritarismo e a pessoa que detém todo esse poder é extremamente inoperante, fala demais e não

tem a menor objetividade. Só fui contratado por exigência da própria prefeitura que queria pessoal qualificado pra coordenar o projeto. Como o projeto estava previsto pra durar dois anos, fui dispensado. Nem fiquei surpreso, tive muitos conflitos com a direção. Eles meio que me engoliram, por causa da exigência da prefeitura e porque o projeto foi bem executado. (Sujeito 2A).

A relevância pelo relato de um ex-colaborador – Sujeito 2A – reside na observação de que, em vinte anos de atividades, ele foi um dos raros profissionais com qualificação técnica adequada, trabalhando na Entidade A. Houve, ainda, outros cinco ex-colaboradores com graduação superior, convidados a participar da pesquisa. Todos se recusaram e apenas um justificou, argumentando questões éticas; os quatro convidados restantes apenas afirmaram não possuir interesse em contribuir, fosse com a pesquisa, fosse com a instituição.

Sobre esta resistência à qualificação profissional de seus quadros, as falas de dois atores institucionais sintetizam o posicionamento geral da entidade A.

Não adianta contratar um assistente social pra administrar isso aqui. Sempre funcionamos assim, sem ninguém com diploma. É só mais uma crise, já passamos por outras e vamos passar por essa também, com ou sem assistente social, advogado, psicólogo, nada disso. (Sujeito 3A). Olha só, eu não tenho faculdade. Nem terminei a oitava série, mas tô administrando tudo isso há mais de dez anos. Se eu não preciso de diploma, eles também não precisam. (Sujeito 4A)

Ainda de acordo com o Sujeito 1A, foram apresentadas, ainda, outras propostas, todas relacionadas a atividades de planejamento estratégico com a finalidade específica de proporcionar à entidade, uma estrutura adequada ao cumprimento de seus objetivos.

Pelos estudos que realizamos em atas de assembléias e relatórios de atividades institucionais, observamos que, de todas as alternativas propostas aos gestores, apenas uma obteve aprovação. Tratou-se de um Plano de Trabalho para aumento nos valores do financiamento público das creches comunitárias mantidas pela entidade. No documento referido, estavam previstas as obrigações das partes do convênio. Todas as obrigações do poder público foram cumpridas, inclusive a pontualidade dos repasses financeiros. Entre as obrigações não cumpridas pela entidade A, no entanto, uma delas tratava exatamente da adequação e qualificação dos quadros.

Observamos ainda, que as atividades de gestão institucional se resumem a assembléias anuais e reuniões semanais. Nestes encontros, são tomadas decisões sobre assuntos pertinentes ao cotidiano institucional. Contudo, quase a totalidade destas decisões não se traduz em nenhuma resolução prática, constituindo-se em mera formalidade, mascarada pela dissimulação presente no discurso de seus dirigentes.

Algumas decisões que, efetivamente, são praticadas, são aquelas tomadas individualmente pelo presidente da entidade, quase sempre à revelia de outros colaboradores e mesmo dirigentes.

A gestão operacional, por sua vez, limita-se ao controle de informações bancárias, apuração das receitas, ordenação das despesas com folha de pagamento, além de ressarcimento das despesas tomadas pelos gestores. Sobre este último procedimento, cabe uma análise mais cuidadosa.

Verificamos que a entidade não exerce qualquer tipo de controle sobre as despesas passíveis de ressarcimento. O dirigente solicitante apresenta recibos, notas fiscais e notas de despesa de qualquer natureza e é automaticamente reembolsado sem que sejam questionadas ou verificadas a relevância ou justificativa das mesmas.

Tais procedimentos não representariam, necessariamente, um problema, desde que a entidade cumprisse suas obrigações primeiras, ou seja, custear as despesas que efetivamente foram tomadas na consecução genuína e legítima de seus objetivos institucionais. Mas, este não é o caso, como veremos.

Segundo o termo de convênio, cujo objeto é a manutenção de creches comunitárias, a entidade recebe do poder público municipal, valor suficiente para custear a folha de pagamento – considerados, inclusive, o aprovisionamento de verbas trabalhistas. Há, ainda, um valor excedente a ser empregado em manutenção predial das creches, e pequenas despesas emergenciais. As demais despesas, pertinentes às atividades rotineiras das creches comunitárias – como alimentação, material de limpeza e higiene, contas de luz, água, telefone e gás, têm os pagamentos efetuados diretamente pela administração pública municipal.

O valor mensal gasto pela entidade com reembolsos, varia, regularmente, ao equivalente a 20% das receitas totais, ou 90% da receita excedente do convênio. Considerando nossa observação de que os prédios das creches não recebem manutenção – além de pintura das fachadas com freqüência

anual – há mais de cinco anos, configura-se uma situação suspeita de desvio de finalidade na aplicação dos recursos, fato responsável por conduzir a entidade a ser convocada a prestar esclarecimento ao Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

Diante da precariedade de informações prestadas pela instituição, o TCE abriu processo para investigar a destinação real dos recursos públicos aplicados na entidade. Além de financiamento das creches, a entidade recebeu, ainda, verbas para efetivação de um segundo e um terceiro convênios.

O segundo convênio tem como objeto a operacionalização e custeio de uma agência de microcrédito, além do aporte financeiro ao fundo de empréstimo do programa. Conduzido por profissionais qualificados, indicados pelo município, o convênio teve suas contas aprovadas pelo TCE em todos os exercícios, desde 2002, segundo informações da prefeitura, confirmadas pelo próprio TCE.

O terceiro convênio tinha por objeto a promoção de inclusão digital, semestralmente, a cinco mil alunos da rede municipal e vigorou de junho de 2006 a novembro de 2008.

Para este convênio, também por exigência da prefeitura, foi nomeado um supervisor de projetos, profissional da área de serviço social. A execução do projeto foi efetivada mediante parceria da prefeitura com a ONG conveniada e uma escola de informática da iniciativa privada. Nele, foi apurado saldo financeiro remanescente em valores significativamente altos. A aplicação deste saldo, que esteve sempre sob a responsabilidade exclusiva dos dirigentes da ONG e sem intervenção do supervisor do projeto, foi destinada às mais variadas despesas, todas alheias ao objeto do convênio que originou a receita, gerando forte conflito interno, entre a supervisão do projeto e a direção da ONG.

Sobre tal procedimento, a entidade se pronuncia na fala de um dos gestores, confrontada pela fala do Sujeito 2A:

Nós utilizamos esse dinheiro pra financiar os projetos de agricultura familiar na Baixada. Os pequenos agricultores de lá não têm nenhum amparo das prefeituras e, se a gente não ajudar, eles vão cair na mais profunda miséria. Isso é uma obrigação moral da entidade. (Sujeito 5A).

O projeto alcançou os objetivos previstos, sim, mas foi muito sacrificante, profissionalmente. O que a ONG chama de saldo remanescente, eu chamo de verbas operacionais da supervisão. Posso dizer que paguei pra trabalhar, até pra defender meu interesse... A responsabilidade era minha. (Sujeito 2A).

Sobre tais pronunciamentos e, sobre o contexto geral da atuação da entidade A, este esforço tece algumas considerações relevantes.

Primeira, por mais nobre que seja o apoio às iniciativas populares desprovidas de amparo público, o mesmo não deve ser efetivado com verbas destinadas legalmente a outros fins. A destinação de recursos, neste caso específico e considerando o descaso das prefeituras locais com o problema, deveria ser sugerida ao governo do estado e os saldos remanescentes deveriam ser reaplicados na consecução do objeto do convênio que os originou.

Segunda, o convênio para inclusão digital alcançou absolutamente todas as metas projetadas, além de ter registrado alguns alcances não planejados, porém significativos, como a inclusão produtiva de cerca de cinco por cento dos alunos formados no projeto. Esta análise atribui a tal desempenho, a supervisão profissional qualificada do projeto e a ativa participação do órgão municipal convenente em sua consecução, fugindo do clássico papel de mero repassador de recursos.

Terceira, apesar do alto desempenho do projeto de inclusão digital, o convênio que o efetivou, mesmo estando extinto, atravessa extenso processo no TCE, motivado pelo suposto desvio de finalidade verificado na aplicação dos saldos remanescentes.

Quarta, apesar da capacidade econômica garantida pelos diversos convênios, as creches comunitárias apresentam-se como os clássicos depósitos de

crianças; Pela manhã, são entregues pelos pais e recebem pouco além de

alimentação. A gestão operacional, bem como a supervisão pedagógica, exerce exclusivamente tarefas burocráticas, é distante e alheia às questões reais do cotidiano das crianças, das equipes e das comunidades e não delegam às equipes locais qualquer autonomia para realizar tarefas além daquelas rotineiras. As falas de alguns colaboradores ilustram esse ambiente.

A gente não pode mais nada. Coloquei o liquidificador no concerto, levei a maior bronca, que eu não podia ter atropelado a hierarquia, que fui antiética, ouvi um monte de absurdos. (Sujeito 6A).

Eu tenho que dar justificativa de tudo, pedir autorização pra qualquer coisinha! Até pra levar as crianças no parquinho aqui do lado tenho que pedir a autorização dela pra poder pedir autorização dos pais, tudo em ofício, assinado... É ridículo! Muita burocracia e pouco trabalho. (Sujeito 7A).

Eles (os gestores) quase não aparecem aqui e quando aparecem é pra atrapalhar. Recebi doação de brinquedos pro Dia das Crianças e não pude dar porque aquela doação não tinha nenhuma documentação comprovando que não era de candidato a vereador. Agora os brinquedos tão lá, pegando poeira. Outra coisa, eu queria fazer oficina de brinquedos de sucata, só que não deixaram porque pode provocar doenças, que não se sabe por onde andaram as sucatas... Isso desanima. (Sujeito 8A).

Ainda que não disponham da devida formação acadêmica ou qualificação profissional, as coordenadoras das creches apresentam grau de comprometimento suficiente a promover um trabalho, ao menos, um pouco mais efetivo. Todavia, carecem de autonomia, mesmo para tarefas cotidianas, reforçando os relatos de autoritarismo.

A respeito da baixa qualificação profissional dos colaboradores lotados nas creches, é importante considerar alguns fatos.

As creches mantidas pela entidade A, em oito regiões de baixo desenvolvimento sócio-econômico, recebem trezentas e cinquenta crianças por dia. Cada equipe de creche é composta por uma coordenadora, uma merendeira e três recreadoras, todas moradoras das comunidades onde trabalham. Nenhuma delas possui graduação superior e a maioria sequer completou o primeiro segmento do Ensino Fundamental.

Segundo dois relatórios anuais de atividades da Entidade A, durante uma curta gestão anterior, de apenas dezoito meses, foi dado início a um processo de formalização de parceria com uma universidade local, com a finalidade de proporcionar escolaridade e graduação gratuita às equipes; O processo foi abandonado e encerrado por determinação dos dirigentes sucessores na gestão da entidade A, sob a justificativa de que as colaboradoras não teriam disponibilidade para a atividade, por conta do conflito de horários entre a vida acadêmica e o trabalho. A direção da entidade rejeitou, inclusive, a possibilidade desta qualificação se efetivar na modalidade de Educação à Distância, sem apresentar justificativas.

Segundo o relato do Sujeito 9A, a entidade não assumiria nenhuma despesa na efetivação das parcerias, uma vez que a própria universidade disponibilizou ajuda de custo para transporte e alimentação das colaboradoras. Além disto, a única exigência da universidade foi por formalizar legalmente a parceria a fim de que a mesma pudesse compor parte de suas atividades de responsabilidade social.

caráter de “mercantilização da miséria”; Estranhamos, para dizer o mínimo, este argumento utilizado por uma instituição que apresenta, anualmente, relatórios ricos em imagens e textos carregados de poesia nas oportunidades em que efetiva sua captação de recursos, realizadas em ciclos de palestras no Primeiro Mundo.

As conseqüências práticas de todo este contexto se refletem em retração institucional, com vias à completa desintegração, além dos riscos contidos nos processos do TCE, cujas sentenças podem determinar a devolução de vultosas somas ao erário, ou a penhora de bens, entre outros.

Para esta análise, há alternativas que possibilitam a sobrevivência e o desenvolvimento da instituição. Todas elas passam pela transformação da mentalidade de seus dirigentes e a conseqüente reestruturação profissional de seus quadros. Uma de nossas hipóteses consiste em que tais processos podem ser conduzidos, satisfatoriamente, por profissional de Serviço Social e encontra sustentação em uma das falas do Sujeito 9A:

Além das atribuições mais tradicionais de um assistente social nas ONGs, de gestão de recursos materiais de assistência social, acho que as melhores contribuições do Serviço Social seriam: a) no planejamento estratégico e no desenvolvimento institucional, como um todo; b) na articulação e ativação de rede e nas relações institucionais e políticas e c) na pesquisa, pra subsidiar as próprias ações e alimentar a produção científica e a formação acadêmica (que devem ser indissociáveis), até porque, como é uma instituição estatutariamente de assistência social, tem uma obrigação moral (e, provavelmente legal) de promover o desenvolvimento das Ciências Sociais. (Sujeito 9A).

Havia, entretanto, argumento da entidade no sentido de que um processo de reestruturação tão amplo e profundo poderia acarretar em que populações já excluídas da sociedade civil teriam esta condição perpetuada.

Este esforço não desconsidera esta visão, ao contrário, preza-a. No entanto, apesar de partilhar os mesmos fins, financiador e financiado encontravam- se em divergências quanto aos meios para alcançá-los. A não-resolução deste conflito se efetivou, primordialmente, pela inflexibilidade de ambos, que poderia ter sido mediada, satisfatoriamente, pelo assistente social, não estivesse sufocado pela burocracia institucional, surpreendentemente mais paralisante que a burocracia pública municipal.

Diante deste contexto de encerramento das relações institucionais, produzido pela inflexibilidade, a parte mais prejudicada constitui-se dos usuários,

sujeitos da atuação. Sendo assim, sob nossa perspectiva, se faz necessário o desenvolvimento de uma proposta de intervenção, com a participação efetiva desses sujeitos, a ser encaminhada aos antigos financiadores da entidade, no sentido de que estes retomem a disponibilização de recursos, mediante termo de parceria e cooperação, a fim de evitar o desmantelamento de toda a rede de serviços populares dos quais ainda dependem mais de trezentas famílias, cerca de mil e duzentas pessoas.

Há alternativas, no entanto, como afirma Iamamoto (2008, p. 416):

Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o assistente social como um ser prático-social dotado de liberdade e teleologia, capaz de realizar projeções e buscar implementá-las na vida social; e a condição de trabalhador assalariado, cujas ações são submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos indivíduos singulares, às quais são socialmente forjados a subordinar-se, ainda que coletivamente possam rebelar-se.

A mesma proposta deve sugerir que o organismo exija como contrapartida da ONG, a aplicação de determinada porcentagem das receitas em investimentos na qualificação profissional de seus dirigentes e colaboradores, ainda que tal empreitada precise ser desenvolvida à revelia de seus gestores, por antigos colaboradores e usuários, devidamente organizados e ainda que transgredindo algumas normas institucionais, conforme sustenta o trabalho de Azevedo (2006, p. 228):

No âmbito da profissão, sobre as situações-limite enfrentadas pelos profissionais diante dos seguintes dilemas: entre a norma institucional e o direito; entre os interesses dominantes e os interesses dos usuários; entre as necessidades do capital e as do trabalhador (incluindo aqui as necessidades daqueles que estão excluídos da possibilidade de trabalho).

Igualmente, é de fundamental importância, que esta iniciativa deve buscar o apoio formal de órgãos públicos, atores políticos, entidades de defesa dos direitos da criança, além de seguir acompanhada das determinações apuradas na primeira auditoria, além de outros mecanismos estratégicos pertinentes.

O assistente social pode conduzir todo este processo de mudanças, de forma satisfatória, dadas as habilidades inerentes à profissão em mediação de conflitos, mobilização popular, articulação política, além do olhar sobre os diversos fatores determinantes do contexto da atuação institucional.

próprio discurso, se retraindo ao encerramento das atividades ou, transferência destas – e do financiamento público – a outra instituição, senão por deliberação própria, por determinação dos órgãos competentes.

5.2 ENTIDADE B

A entidade B está constituída há oito anos e promove ações sócio- educativas em contra turno escolar, para crianças de oito a dezoito anos de idade, objetivando oportunizar processos de educação integral, além de assistência social às famílias dos estudantes.

Sua atuação é financiada com recursos públicos e conta, ainda, com considerável apoio institucional da iniciativa privada. Não há escassez de recursos ao cumprimento de seus objetivos.

Em seus quadros, cinquenta profissionais atuam tanto nas atividades-fim quanto nas atividades-meio da instituição. São profissionais das áreas de Direito, Psicologia, Educação Física, Pedagogia, Administração e Serviço Social.

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