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Michael Mohallem e Aloysio Corrêa da Veiga debatem o abuso de autoridade

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Academic year: 2020

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22/08/2019 Michael Mohallem e Aloysio Corrêa da Veiga debatem o abuso de autoridade - Época

https://epoca.globo.com/michael-mohallem-aloysio-correa-da-veiga-debatem-abuso-de-autoridade-23894470 1/7 MICHAEL MOHALLEM , 41 anos, paulista

O que faz e o que fez: é professor de Direito e coordenador do Centro de Justiça e Sociedade da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Rio). Foi diretor da organização Avaaz no Brasil

MICHAEL MOHALLEM E

ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA

DEBATEM O ABUSO DE

AUTORIDADE

Especialistas divergem sobre o projeto aprovado pelo Congresso. Alguns pontos poderão ser vetados pelo presidente Bolsonaro

Carolina Brígido

22/08/2019 - 07:00 / Atualizado em 22/08/2019 - 17:44

Michael Mohallem (à esquerda) e Aloysio Corrêa. Foto: Montagem sobre fotos de divulgação; e Aílton de Freitas / Agência O Globo

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22/08/2019 Michael Mohallem e Aloysio Corrêa da Veiga debatem o abuso de autoridade - Época

https://epoca.globo.com/michael-mohallem-aloysio-correa-da-veiga-debatem-abuso-de-autoridade-23894470 2/7 ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA , 68 anos, fluminense

O que faz e o que fez: é ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Foi professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Petrópolis de 1984 a 2016

O senhor concorda com o projeto de abuso de autoridade aprovado pelo Congresso?

MICHAEL MOHALLEM Há certo consenso de que a lei de abuso de autoridade deveria ser atualizada. Em qualquer lei nova com destinatário específico, é natural que haja reação do destinatário. Mas a crítica precisa ser analisada. No caso dos magistrados, procuradores e promotores, são categorias com muita força institucional, com prerrogativas que só eles têm entre os servidores. Portanto, estão preparadas para lidar com a responsabilidade que essa lei traz. Há hoje um desequilíbrio. Esse controle vem em boa hora. O Conselho Nacional de Justiça ( CNJ ) e o Conselho Nacional do Ministério Público ( CNMP ) não têm capacidade para frear abusos nas próprias carreiras.

ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA O abuso de autoridade é e sempre foi punido como crime. O projeto é polêmico. Alguns dispositivos são abertos em demasia, outros podem induzir a erro o censor da atividade. A

preocupação maior é que não haja possibilidade de violar, ou

responsabilizar, ou criminalizar a hermenêutica, ou seja, a interpretação da lei.

O presidente cogita vetar trechos do projeto, mas não disse quais. Qual ponto deveria ser suprimido?

MM Não vejo necessidade de vetos, mas há partes que criam dúvida na magistratura e no Ministério Público. Por exemplo, o artigo 9º, que proíbe decretar prisão em “manifesta desconformidade com as hipóteses legais”, deixa aberto o conceito de “manifesta desconformidade”, como se algum tipo de desconformidade fosse possível. Dá a impressão de que o juiz pode errar, mas não pode errar muito. É um trecho vago. No entanto, essa não será a primeira nem a única lei que depende de interpretação. A diferença é que, nesse caso, serão juízes julgando juízes.

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22/08/2019 Michael Mohallem e Aloysio Corrêa da Veiga debatem o abuso de autoridade - Época

https://epoca.globo.com/michael-mohallem-aloysio-correa-da-veiga-debatem-abuso-de-autoridade-23894470 3/7 ACV O Ministério da Justiça indica o veto a vários artigos, como o 9º.

Não vejo nenhum absurdo na proibição de prisão em manifesta desconformidade legal. Mas a regra é aberta, não deixa claro quais são essas desconformidades manifestas. Em outro ponto, o projeto diz que a divergência na interpretação da lei entre os juízes não configura “por si só” abuso. Esse “por si só” é desnecessário, porque dá margem a

considerar que algum tipo de divergência na interpretação da lei pode ser considerado abuso de autoridade.

O projeto inibe a atuação de juízes e procuradores?

MM A gente não quer juiz temeroso de fazer seu trabalho, isso seria uma consequência ruim da lei. Mas minha expectativa é que a lei fará com que a atuação dos juízes seja mais responsável. Essa lei tem uma importância muito maior quando a gente olha para o andar de baixo do Judiciário, as instâncias inferiores, onde os abusos são muito mais comuns. Muitos juízes dão pouco rigor aos processos, decretam prisões desnecessárias, com baixo grau probatório. Vale dizer que as penas da lei são baixas, permitem transação penal. Logo, nenhum juiz vai para a cadeia. E não vai ser simples condenar juízes e promotores com base nessa lei, porque eles mesmos vão interpretá-la. Ainda assim, o projeto cria um novo patamar de controle.

ACV É o perigo de criminalizar a interpretação do juiz. A independência do juiz precisa ser mantida. Em outro ponto, um dos artigos criminaliza o ato de deixar de corrigir um erro relevante em processo, mas não explica se é um procedimental, processual, praticado pela parte ou pelo serventuário. É uma regra aberta. Não se sabe exatamente o que representa e deixa para o censor a possibilidade de entender que tudo pode ser um erro.

O Supremo Tribunal Federal (STF) tem uma súmula que trata como exceção o uso de algemas. O projeto vai além e pune a autoridade que submeter um preso ao uso de algemas quando não houver resistência à prisão. Essa regra é necessária? MM O Judiciário faz súmula para fixar um entendimento que é

reiteradamente produzido. Mas a súmula, ainda assim, é interpretação do Judiciário. Não há redundância, porque a lei cria perspectiva de punição, que a súmula não tem.

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https://epoca.globo.com/michael-mohallem-aloysio-correa-da-veiga-debatem-abuso-de-autoridade-23894470 4/7 ACV Tipificar como crime me parece exagero, porque as algemas devem

ser usadas quando necessário. A autoridade precisa ter sensibilidade. Um réu com 100 anos de idade tem potencial ofensivo menor, mas isso não é absoluto. Já houve caso de juiz mandar tirar algema do preso na

audiência, o policial tirou, o preso fugiu e nunca mais foi visto.

Presos pela Operação Spoofing, que investiga a interceptação de mensagens de autoridades, dizem que foram vítimas de violência psicológica por parte de agentes da Polícia Federal, que os teriam algemado indevidamente. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Há pontos que podem ser entendidos como recados para a Lava Jato? Por exemplo, criminalizar a divulgação de gravação sem relação com as provas que a investigação pretende produzir? MM Acho possível estabelecer esse elo, mas ainda assim não é além da normalidade do Direito Penal brasileiro. Várias normas surgem assim. Por exemplo, logo depois do assassinato da (atriz) Daniella Perez, criou-se a Lei dos Crimes Hediondos. O momento de aprovação descriou-se projeto de lei externaliza suposta reação a uma investigação. Isso cria uma perspectiva ruim para o projeto, que é usar uma lei necessária para dizer que é apenas uma reação. O contexto permite esse tipo de especulação, embora eu consiga ver méritos além desse suposto revanchismo. Parece fazer sentido criar mecanismos para controlar autoridades com muito poder, que é o caso de juízes e promotores.

ACV Não vejo nada endereçado exclusivamente à Lava Jato, porque a norma é genérica.

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https://epoca.globo.com/michael-mohallem-aloysio-correa-da-veiga-debatem-abuso-de-autoridade-23894470 5/7 Muitos advogados de réus da Lava Jato reclamam de não terem

tido acesso a todas as delações premiadas que deram origem às investigações. O projeto de lei criminaliza essa prática. Isso não seria também um recado?

MM A Lava Jato externalizou problemas que não eram tão comuns. As delações são novas, estão sendo testadas no Direito brasileiro. Há a impressão de reatividade. Mesmo que seja um recado, a pergunta é se esse recado faz sentido. Muitos parlamentares não são investigados e não têm interesse pessoal nesse projeto de lei. O recado pode ser o de dar mais responsabilidade às investigações penais.

ACV Muitas vezes, a delação premiada pode iniciar a demonstração de crime de alto valor ofensivo. Mas, primeiro, é preciso haver investigação e ouvir, sem dar ampla publicidade, até porque ela pode ser totalmente improcedente. Agora, uma vez admitida a delação, ela deve se tornar pública.

O projeto também prevê pena para quem pedir a instauração de investigação contra alguém mesmo sem indícios de prática de crime. Esse procedimento é corriqueiro no país?

MM Esse é um poder muito grande na mão dos promotores, em uma etapa que não passa diretamente pelo juiz. O risco é o promotor usar o inquérito como instrumento de pressão, ou de coação, ou de forma política. Não sei dizer se é disseminado, mas é um poder grande que depende só do ato individual do promotor ou procurador. É papel do promotor ir atrás quando vê indício de prática de crime. Se não há indício, não deveria haver a

motivação de investigação.

ACV Não vejo ninguém pedir investigação criminal quando não há prática de crime. Vejo o contrário: existe o crime e ninguém investiga. Isso eu confesso que não existe como regra, senão seria o caos.

Muitas investigações no STF são estendidas por tempo excessivo, a ponto de alguns ministros determinarem arquivamento sem a manifestação da Procuradoria-Geral da República. O projeto pune quem estender investigação de

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https://epoca.globo.com/michael-mohallem-aloysio-correa-da-veiga-debatem-abuso-de-autoridade-23894470 6/7 forma injustificada. Isso poderia prejudicar o trabalho do

Ministério Público?

MM As regras de prescrição já são motivação para que o Ministério Público não demore. Esse tipo de norma tem de ser interpretada com muita cautela, para que não seja obstáculo para uma investigação mais complexa.

ACV Não há como criminalizar esse fato por si só. Só quando houver dolo ou culpa. Mas, muitas vezes, o recado no pronunciamento judicial decorre de uma série de fatores que dificultam a apuração e é preciso que haja a instrução processual, mesmo que seja um processo demorado. Isso ( a

Referências

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