SALVAR
OSFENOfuÍENOS
57 Ensab sobre a noção de tæria física dePlúõo
a Galileo 5. Copërniæ e RhaetiansA
idéia
tão nítida
que
muitos tiveram na Idade Média eno
início
da Renascença sobre a natureza das hipóteses físicasvai,
Pouco a pouco, turvar-se næ épocæ seguin-tes; ela recuará na própria época em que a Astronomia e a Física farão novos e rápidos progressos; os maiores artistas não são sempre os clue melhor filosofam sobre sua arte.No
dia 24demaio
de
1543, Copérnicomorria,
ao mesmo tempo que se imprimiasua obra-prima
imortal
Sobre as revolu@æ dos orbcs celestesr . O astrônomo de Thorna dedicou ao papa Paulo
III
em uma carta naqual
revelava ao SobetanoPontífice
os esforços e tendéncias de seu pensamento."O
que Vossa Santidade mais espera demim
-
dizia Copdrnico nesse prefzício-é saber como me veio ao
espírito
a imaginação audaciosa deatribuir
à Terra umcerto movimento, contra
a
opiniã'o herdada dos matelnáticos e quase contra o sensocomum.
Desejoque
Vossa Santidade não ignoreo
único motivo
que me levou a conceber uma nova razão dos movimcntos das esferas celestes; o motivoé
que
vi
os
matemáticos' discordatemeutre
si em
relaçãoâ
pesquisa desses movimentos. Primeiramente, elesaté
agora Pelrnaneceram emtal
incerteza emrelação aos movimentos
do
Sol e da Lua que nâ-o puderam nem observar, nemprovar a duração invariável
do
ano. Em segundo lugar, quando se trata de cons'truir
os
movimentos dessesdois
astrose
dos
cinco
astros errantes, eles nã'opartem dos
mesmosprincípios
nem
das mesmas hipóteses,não
explicam damesma maneira as revoluções
e
os movimentos aparentes; uns,de fato,
usamsomente homocêntricos;
outros,
excêntricose
epiciclos;
e,
no
entanto,
não satisfazem plenamente aquilo que se exige da Astronomia' Aqueles que confiamnos homocêntricos provam, de
fato,
que certos movimentos variados podem ser compostospor
esse procedimento; mas eles nâ'o puderam estabelecer sobre suas hipótesesnada
de
preciso
que
correspondesse
exatamente aos fenômenos. Aqueles que imaginaram osexéntricos
parecem haver resolvido' por esse meio, a.
maior
parte dos
movimentos aparentesde
tal
modo que
concordam numeri-camentecom
as tabelas; mas as hipóteses que elesadmitiram
parecem, em suamaior
parte,violar
os primeirosprincípios
sobre a uniformidade do movimento;além disso, não puderam descobrir nem
tirar
de suas suposições aquilo que maisimporta,
a saber, aforma do
Mundo e a simetria exata de suas partes. .'
Vê-se,portanto,
que no decurso da demonstração, que se chama ¡të0o6ovImétodo]
, oueles
omitiram
alguma das condiçÕes neces¿íriasou introduziram
alguma suposição estranha, sem qualquer relação com o assunto. Isso certamente uâ'o lhes teria
acontecido se houvessem seguido
princípios
corretos. Se as hipóteses queado-taram
não
fossem suposições enganadoras,todas
as conseqüências cluedaí
sededuzisse¡n encontra¡-se-iam sem dúvida alguma verificadas."
lNicolau
Copérnico (Nicolaii Copcrnici Torincnsis) De revohttiottibus orbium coelestfum IihrÌ VI. Noribcrgæ, apud Joh. Petrcüum, 1543'Essa passagem evoca a nossos espíritos os grandes debates que agitavam as univer-sidades
ituti-u,
na época em que Copérnico veio ocupar seus bancos: por um lado, as discussões sobrea
reforma do calendário e ateoria
da precessão dos equinócios; poroutro,
a ardente discussão entre os averroístasc
os partidários do sistema ptolemaico;do
choque entre essas duas Escolasbrotou
a centelha que incendiou o gónio decopér-nlco.
copérnico
concebeo
problema astronÓmicotal
como era concu'bido pelos físicos itali-ants dos quaisfoi
ouvinte ou colega; esse problema consiste em sølvar as apalências¡nr
meb
cle htpótesesque
esteiøm deacorlo
com osprincípios
da Ftsìca.Tanto
osaverroístas
quanto
os
ptolemaicosnão
deramsenÍo
meia respostaà
questão assimcolocadal
os
averroístai
adotaram hipóteses fisicamente aceitáveis, masnão
conse-guiram
salvaros
fenômenos; osexata. mas suas suPosições
contr
incapazes
de fomecer a
soluçãoque
delelúpóteses
eram
falsas.Para
construir
urrp;;;ir"
edifìcar
sobre hipóteses ve¡cladei¡as, sobre suposições que estejam de acordocon
a natureza das coisas.Tais hipóteses verdadeiras
foi
o que o Astrônomo deThom
se propôs procurar2 :,'Após
haverpor muito tempo remoído
em meu pensamento essa incerteza em,1.,.
,,
euconìram
astradições
materruiticas,sobre
a teoria
dos
movimentoscilestes,
fui
tomaclopor
umvivo
desgosto dado queosfilósofos,
cujosespíritosp.rr.r,,iuru*
tão
minuciosamente osmínimos
objetos desteMundo,não
encon-iruru*
qualquer razão mais segura dos movimentos da máquina do Mundo."Nlovido
por
csse desgosto, Copérnico, clue éum
humanista, percorre as obras dosescritores
gì.go,
.
latinos; de Cicero
e do autor
do De
pbcitß
¡tlrilonplnrum
elelprendeu
{u.
diurrror
pensadores da Antigüidade haviam colocado a Terra em moYi' mento."
"Aproveitando
essas sugestões-
pfosseguecopérnico
-
comecei também eu ap.nsar
no
movimento da Terra.
Esa
opinião
parecia absurda;no
entanto'
euiabia
que se havia concedido a meus predecessores a liberdade de imaginar nãoimportã
quaiscírculos
fìctícios
para salvar os fenômenos celestes. Pensei,por-tanìo,
quô também me seria dado facilmente odireito
de fazer uma tentativa; deu.,
,",
ätrib.rindo-se à Terra um certo movimento, nâ'o poderiam ser encontradædemonstrações
mais
sólidasdo que
asde
meus predecessores,a
respeito das revoluções dos orbes celestes.,,De
îato,
dando àTera
os diversos movimentos que lhe atribuo mais adiantenesta
Obra,
uma
longa
e
repetida observação mostrou'meque os
fenÓmenosrelativos
a
cadaum
dos
outros
astros errantes decorriamde
um
c¿ílculo dosmovimentos
dos
astros,em
relaçãoà
Terra,
levando em conta a circulação de58
Heffe
Duhem2Cop,Jrnico, De revohttionib¿r¡s, Ad Sanctissimum Dontinunr Paulum
III
Pontificem Maximum, Nicolai Copcrnici præfatio in libros Rcr¡olutionunl'SALVAROSFENÓMENOS
59Envio
sabre anoçlo
de teoria Íísica tle Platão a Galileostrou'me, além disso, que a ordem e a gran' e
do proprio
Céu encontravam-seasim
tão setomava
imposível
deslocar fosseo
que semlevar
confusã'oa
cada umadæ
outras partes e seuconjunto."
a
Schonera-
que
lugar
ocuPam ase como
o
matemático difere dofísico'
,
que
devemosir
aonde nos levam asCéu."
Socictatis Copcr nicanae, I 873
4Rhacticus, Nanatío prima,transitio ad enumerationem nova¡um hypothesium totius Astro-ntrmiae,
p.4634.
60
Piene Duhemdaíresultem."Elepensa,alémdisso'-quc.aobradeseuMestresatisfanínãoapenasos
desejos de Ptolomeu, mãs
antla
as exigðncias de Aristóteles'movimento circular, o repouso e o movlmento da
Terra"'
u
Mestre, aoformular
suas novas hipóteses' nã'o defísico;
que construiu uma nova Física' desti' atética, umäFíúca
àqual
o
próprio
Aristóteles*'ä;ï¿åHtHì:iJtÏ^
hipóteses pelo método
do físico,
retornando dos ereitos às causas; que grau¿.
.."åäå'rä"i;l;;;ñ
ã.
uti"eit
por
esseprocedimento? Rhaeticus vai dizê-los :
"AristÓteles disse: uma coisa é
muito
vcle
suas conseqüênciascausa est). Ora, meu m vessem em si çausas ca
passados; alérn disso, no{e-s.e esp:rar
iodas as predições astronômicas rcou tp
Isso leva
forçosamenteà
seguinte conclusão'que
o
fìel
discípulo
nã'o enuncia: portanto, as ltipóteses de Copérnico sãoRhaeticus considera6 essas
hipóteses
ue as hipóteses e os fenômetlos podem ser
mutuamente
a definição e o"
definido:"Espero que
ambas nanações sejclaramente Perceberes
que'
emvirt
listas, as hipóteses de meu Mestre corrverti Possint
)"
s
Rlract icus, N arrat in pr i ftß, rJniver si distribu tio' p' 464'
.
SALYAROSFENÔMENOS
6I
Envìo
wbre
ø noçäc de t@riaff
líca (te Þt¿tAo ø GalileoFiel
discípulo decopérnico,
Rhaeticusnfo
é nem averroísta, nem ptolemaico, masconcebe
o
mesmoideal
de teoria
astronômicaque
o
ptolemaico capuano
ou
queo
averrolstaNifo. um bom
sistema astronômico não é apenæum
sistima que saiva os fenômenos celestes e permite calcular com precisão o mõvimento dos astros; é, alémdisso,