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Zero, 2007, ano 25, n.6, dez.

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(1)

ENTREVISTAS:

lHldnas

..

ANA

CAROLINA

FERNANDES

páginas

3e4 I ��. : i

DANIELA PINHEIRO

página

5

6a

BIENAL DE

ARTES VISUAIS

DO

MERCOSUL HOMENAGEIA

GUIMARÃES

ROSA

página

15e16

RUBENS VALENTE

"'"'

página

14 LUCAS SAMPAI�irENSAIO�ORNALISMO (>l'i!i

FLORIANÓPOLIS,

DEZEMBRO

DE 2007

-

CURSO

DE

JORNAliSMO

DA

UFSC

-ANO

XXV

-EDlçAO

6

ESPECULAÇÃO

IMOBILIÁRIA

GRINGA

E

OCUPAÇÃO

DESORDENADA

À

REVELIA

DO

PLANO

DIRETOR

páginas

8,

9e 10

APRENDA

A

TURBINAR

SEUS PONTOS

NO

CURRíCULO

LATTES

HOSPITAIS

PSIQUIÁTRICOS

COM

CARA

NOVA

(2)

[Iuto]

Aidademudou,mas oolhar continuou omesmo.Ao lado,Mailer em 1948com25anos eacimauma fototirada porumfã doescritorem

janeiro

desteano

Entre

jabs

e

punchs,

uma

obra

única

Norman

Mailer falece

sem

completar

a

sua

grande

ambição:

escrever o

"grande

romance

americano"

Um

personagemcontroverso

e ex­

travagante,detentordeumestilo

e uma

personalidade

cáustica inconfundíveis deixouomundo literá­

rio nodia dez de novembro. Norman Mailermorreu aos85anosde insufici­

ênciarenalemManhattan

-asletrase a vida

pública

norte-americana estão órfãos do peso

pesado

que, durante quase 60 anos de

atividade,

esteve ro­

deado de

polêmicas,

obras excelentese

medianas,

críticasreverentese severas.

Escritor

incansável,

publicou

maisde 30 obrasem

gêneros

variados,

deromances a

biografias.

Seu

objetivo

maior,

porém,

penna­

neceuforade alcance:the

big

one,au o

"grande

romance americano", uma

obra

capital

queocolocarianopatamar de

Tolstoi, Dostoievski,

Stendhal,

Joyce

ouFaulkner.Não que Mailerse

julgasse

indigno

desercitadoaolado destes

gi­

gantes,mesmo sem seu

hipotético

livro

epítome;

ele representavaa

antiga

tra­

dição

literária,

segunda

a

qual

escrever

éumato

heróico,

levadoacabopores­

critoresidem.

Comumego à alturadesuas am­

bições,

se

julgava

capazde discorrerso­

bretemassem

ligação

aparente.Guerra

Fria, protestoscontraaguerradoVietnã,

Marilyn

Monroe,

existencialismo,

ho­

mem naluae sexo.

Que

traçocomum uneissotudo?AobsessãodeMailerem

descrever as

contradições

dasociedade

americana,amoralidadeea

fascinação

pelas

celebridades,

sexo e

poder,

a ce­

gueira

consumistae aânsia

pela

fama.

Tudoissofoi

possível

graçasa umolhar

ZEBO

JORNAL

LABORATÓRIO

ZERO ANO XXV- N° 6

DEZEMBRO2007

CURSODEJORNALISMODA UNIVERSIDADEFEDERAL DESANTA CATARINA- UFSC FECHAMENTO:XX DEDEZEMBRO

REDAÇÃO

DO JORNAL CURSO DEJORNALISMO UFSC -CCE- JOR Trindade

-Florianópolis

CEP 88040-900

rápido

epenetrante,umaprosaviolenta e

belicosa,

umestilo capaz dedarconta

dasturbulentas décadasde60e70. De famt1ia

judaica,

Mailerfoi um

estudante brilhante e

ingressou

em

Harvardaos16anos com a

intenção

de estudar

engenharia

aeronáutica.

Logo

porém,

seuinteressederivouparaapro­ sa.Deacordocom seus

relatos, imergiu

nos romances de T. Farrele

John

Dos

Passos,epassouaescrever umquotade trêsmil

palavras diárias,

para superaras

qualidades

de "mauescritor".

Pouco

depois

deseformarem

1943,

foi recrutado para a

segunda

guerra

mundial,

mas sua

experiência

decom­

bateseresumiua umaúnica incursão de

patrulha

no

Japão.

Mesmoassim,esta

passagem theforneceumaterial parao

primeiro

romance,TIle Nakedand the Dead

(1948),

um relato de guerraque vendeu200 mil

cópias

eteveumacrítica

positiva

quaseuniversal- fato

que não maisse

repetiria

em suacarreira.Sobre

ofato deser umaobra deiniciante,Mai­ lercomentou:

"parte

demimacreditou

ser esse omaiorlivro escritodesdeGuer­

ra ePaz, Poroutrolado

pensei,

'eu não seinada sobreescrever.Sou virtualmen­

teum

impostor"'.

Durante a década

seguinte

publi­

cououtros dois romances de pequena

expressão,

eviveu relativamente a de­

riva,

freqüentemente

bêbado,

drogado

ouambos.Em

conjunto

com os

amigos

Daniel WolfeEdwin Fancher fundouem

1955arevistaTIle

Village

Voice,na

qual

expunha

suafilosofia

hipster

e seuestilo

arrojado

e

poético,

as vezesbeirandoao

metaffsico.

Entretanto, há

um certo consenso

de queo

legado

mais substantivo deMailer tenha sido no que

Tom Wolfe chamou de new

journalism,

ou,comochamamos por

aqui, jornalismo

literário. Em "TIle armies of the

Night:

History

as a

Novel,

"" VI;)118 W'

the Novelas

History",

umlivro

premiado

compostoa

partir

deumasériede

artigos

publicados

na revista

Esquire,

sobreos

protestoscontraaguerradoVietnãocor­

tidosemfrenteao

Pentágono

em

1967,

éumbom

exemplo

dessa faceta doau­

tor.Narrandoa sua

própria

experiência

noevento- em

que

chegou

a serdetido

pela polícia

-,tomou-seumadas obras fundamentais deste

gênero

mesclado:as

técnicas novelescas

aplicadas

aotrabalho de

observação jomalística

"nama",

Em 1979 um de seus livros mais relevantesda

seqüência

aestetrabalho. "Theexecutioner

Song",

um

épico

ame­

ricanoemqueoautorrelataahistória realdoassassinoconfesso

Gary

Gilmore atravésdasvozdo

próprio

criminosoe

das pessoas que the foram

próximas,

rompendo

com seu estilo literário ha­

bitual,

emqueonarrador é

geralmente

um

alter-ego

doescritor,com as marcas

desua

personalídade,

Emumaocasião

semelhante,

tam­

bém nofinaldadécada de70, Mailer recebeu

correspondência

doassassinoe

estelionatárioMr.Abbott, Reconhecendo

um

potencialliterário

nascartasque lhe

eramenviadas da

cadeia,

oautor

ajudou

Abbotta

publicar

olivro "In the

Belly

of

theBeast" efezum

lobby

para

conseguir

aliberdade condicional docondenado. Poucotempo

após

serlibertado

porém,

Abbottassassinouumgarçomnum res­

taurantede

periferia

eMailerviroualvo de revolta

pública.

Este foi apenas um dos escânda­

losemque oescritoresteveenvolvido.

Sempre

ávido

pelas

câmeras,

elasnãose

retiraramnosmomentosemque Mailer as

poderia dispensar.

Emcertaocasião,

quasematousua

segunda

mulhercom umcanivete.Tambémsustentou

opini­

ões

divergentes

com omovimento

femi-nista, dizendo-se contrário aocontrole denatalidade- ao

que parece, elenão

estavabrincando: casou-seseisvezes e

tevedezfilhos,

Em diversas ocasiões derivou as

divergências

com críticos e comenta­ dores da suaobra do

plano

verbal ao físico: aficionado por

boxe,

chegou

a

darum

pundi

emGoreVidalnafrente

das câmeras deTV.Referindo-seaMai­

ler,

Vidal disse: "elequer influenciara

consciência de seus

contemporâneos,

maselesnão vão

notá-lo,

mesmo seele for bomnoqueescreve.Assim,cadavez

que falaeletemqueficarmais

violento,

maisaltoetocarmais sinosinúteis,"Em meio aencrencas, controvérsias e um

ego

imensurável,

umacoisaé certae

praticamente

indiscutível:o

jornalismo

e aliteratura

perdem

um boxeador de

estilo únicoeidéias sólidas.

POt'ManfredMattos

INFORMAÇÕES

IMPRESSÃO:Diário Catarinense

CIRCULAÇÃO:Nacional DISTRIBUiÇÃO:Gratuita TIRAGEM:5.000

exemplares

TELEFONES +55

(48)

3721.6599/3721.9490/ 3721.3215/FAX 3721.9490 NA INTERNET SITE:www.zero.ufsc.br CIRCULAÇÃO zero@cce.ufsc.br

EDIÇÃO

Ana Paula Flores, Elaine Manini, Fernanda Rebelo,

Ingrid

Cristina dos

Santos, Jéssica

Lipinski,

Lucas

Sampaio,

NaianaCantu, Rafaela Bitt Cera, Renan

Dissenha,

Thiago

Santaella

-ILUSTRAÇÃO

Priscila Mei Minku

-EDITORAÇÃO

André Faust,

Diogo

Honorato, Renan Dissenha,

Thiago

Santaella, Sabrina

Carozzi, Tadeu

Sposito

- FOTOGRAFIA

Agência

Ensaiofotojornalismo,

Andre

Faust,

Fundação

Bienal do Mercosul

-indicefoto.com, Stockx chance

-REPORTAGEM André Faust, AmandaBusato,Ana Carolina Dali

Agnol,

Claudia Mussi

Viegas,

Ingrid

Cristina dosSantos,Lucas

Sampaio,

LuizaFerreira, Manfred

Mattos,PaulaReverbel,RenenDissenha

Fagundes, Thiago

Santaella,VeraFlesch

- PROFESSORCOORDENADORLucio

Baggio

-MONITORIALucasNeumann

Melhor

Peça

Gráfica

I, II, III,IVeXI Set Universitário / PUC-RS

1988, 89, 90, 91,92e98

30 melhor Jornal-laboratório do Brasil EXPOCOM 1994

MelhorJornal-laboratório IPrêmio Foca

Sind. dos Jornalistas deSC,2000

02

ZERO

DEZEMBRO

-2007

(3)

[semana

do

jornalismo]

"Precisa

ter

muita

paixão"

A

repórter fotográfica

Ana

Carolina

Fernandes

se

destaca

pela

experiência

conquistada

com amor e

prática

, ,

Quem

nãosofreuessaservidãoquesealimen­

tados

imprevistos

da

vida,

não

pode

imagi­

ná-la.

Quem

não viveua

palpitação

sobrena­

tural da

'cia,

oorgasmodo

furo,

a

demolição

moral do

fracasso,

não

pode

sequer concebero quesão.

Ninguém

que nãotenhanascido paraissoe

esteja

disposto

aviver só para isso

poderia

persistir

numa

profissão

tão incom­

preensível

evoraz,

cuja

obratermina

depois

de cadanotí­

cia,comoseforapara sempre,masque nãoconcedeum

instantedepazenquantonãotomaacomeçarcommais ardor doquenuncanominuto

seguinte" (Gabriel

Garda

Márquez)"

ZERO- Você

disse que

ganhou

sua

primeira

câmera com13anos e aos 17 decidiuser

repórter

fotográ­

fica.Comofoi? AnaCarolina Fernandes

-Com 13anosminhamãeme

deu minha

primeira

câmera. Aos 17 foi uma

decisão,

realmente.Foino anodo

vestibular,

eu

queria

fazer foto­

grafia

enãotinha faculdade.Nemnos cursosde

jornal­

ismo

daquela época

tinha a cadeira de

fotojornalismo.

Nãotinha nenhumcursode

fotojornalismo específico

de

faculdadeeaífuimorar nosEstados

Unidos,

onde fizmeu

primeiro

curso. Euvolteicom 18 anos, comecei afazer

umcursode

fotografia

naEscola deArtesVisuaisdo

Parque Lage,

aescola de

belasartes,pordoisanos.

É

um cursomuito

bom,

mas erasóobásico.No meio do

segundo

ano eu fui fazer

estágio

n'O

Globo,

quefoi ondeeu realmente fui

aprender.

Foicom19anos.

Z

-Hoje

emdia

temacadeira de

fotojornalísmo

namaioriados

cur-50S do

país.

Como você é deuma

época

anteriora esses cursos,

quais

atributos são necessários parao

fotojornalísta hoje,

para o

repórter

fotográfico?

ACF

-Já

existeinclusive faculdadesóde

fotografia, também,

emSãoPauloe no

Rio. Osatributos passam

pelo jornalismo,

antesdemais

nada,

porque éuma

profissão

que vocêtemquegostarmuito.Você não vaificarricono

fotojornal­

ismo

-paraissotemafoto

publicidade

(risos)

-,vocêtem quegostarmuito porqueéumavidabastantedifícil.Nãotem

horário,

você vai atrásda

notícia,

nãotem

natal,

anonovo,dia dasmães...

É

umavidasem

horários,

muitodes­

gastante,muito pesoparacarregar. Z- Você acha

queéuma

profissão

aindamaisdifícilqueado

próprio

jornalista?

ACF- Euacho

que é

complicado.

No

jornalismo

eu

vejo

hoje

muitos

repórteres

quefazemmatériasemsairda

redação, pelo

telefone.Vocênuncavai

conseguir

issocom

foto;

é

preciso

estarnoslocais- àsvezesdedifícil

acesso.Já

fizmaté­ rias que vocêtemquecaminhar3,4 horascom o

equipamento

para

chegar

no

local.

Z- Comoésermulherem uma

profissão predominantemente

machis­

ta? ACF-

É

complicado,

éuma

profissão

muitomachista.

Quando

eucomecei,os

chefes deixavam bem claro queeles estavam contrariados.

Quando

fui fazer

estágio

n'O

Globo,

eu eraaúnicamulher.Eram25

fotógrafos

e eu era aúnica mulher.Oschefes

hoje

emdiasãoatémeus

amigos,

sãobemmais

velhos,

mas na

época

(1984)

elesdeixavammuitoclaroqueelesnãoestavamsatisfeitoscom aminhapresença

lá,

que

aquilo

nãoera

lugar

mulher.E n'OGlobonãotinha nenhuma mulher.Aúltima quetinha

passado

por lá dizem que

pediu

demissão porquecolocaram ela para subirmorro nosétimomêsde

gravidez.

Não seiseé

verdade,

mastemessahistória.ElasechamaCristina

Zappa.

Z- Vocêtem

algum exemplo

do queacontecia

contigo,

algum

casoque

temarcou? O queoschefes

chegavam

atefalar? ACF- Elesdiziam

que

departamento fotográfico

nãoera

lugar

demulheretudo queeu gostavade fazerera

pior

ainda. Eu gostavadehardnews, defutebol.

Futebol,

então... AíteveoFilô - um

grande

mestre,quemorreumuito

jovem,

um

grande

fotógrafo

d'O Globo-;elemeadotou. Elemelevavaparatodosos

lugares

comele.Eraumcaramuito

disciplinado

e

técnico,

queestavasempre

fazendo

palestras

e

projeções

para estudantesemuniversidadesecursosde foto­

grafia.

Anos

depois

eleviroueditor de

fotografia

d'O

Globo,

mas eu

estavaem

LAURADAUDÉNIAG.ENS;lJO fOTOJORN;lJISMO

Brasília.Os

fotógrafos

eram

muito

legais

comigo,

mas o

trio dechefes deixava bem claro que o

departamento

fotográfico

não era

lugar

para mulher. O

próprio

O Globo nessa

época já

era um

jornal

muitodurocom

os

fotógrafos,

uma linha

muitosob

pressão,

nãoera umacoisa muito

tranqüila.

Z- Esuacarreirano

jor­

nal?

ACF - Eu estava feliz de

fazer

estágio

lá,

onde eu

fiquei

8meses.Euachoaté quefazmuitafaltaisso,era

muito mais

ralação

antiga­

mente. Primeirovocê saía

com o

fotógrafo, depois

você saía

sozinha,

aí de­

pois

eufuiparao

jornal

de

bairro

-queera umaescola muitointeressante. Maso meusonhosemprefoiir parao

Jornal

do Brasil

(]B),

queera um

grande jornalna época. Quando

eufuipara

0]B

tinha duasout­

rasmulheres lá- Viviane RochaeMabel Arthur

-, masnenhuma delas está

maisna

profissão.

Umaé

fotógrafa

de

estúdio,

a

Mabel,

aoutraé

professora

de HistórianaUFRJ.

Z- A

partede

fotografia

noJSeramuitoforte.

ACF

-Muito,muitoforte.Oseditores de

fotografia

tinhammuito mais

poder

do que elestêm

hoje.

Nessa

época

oAlbertoFerreira

-quemorreuhá doisanos e

foiummestreparamim,umcara

maravilhoso,

maisvelhoqueoFilô

-oque

elediziaeralei.Nãotinha "a

primeira

página

quer daressafoto

aqui",

não tinha. Elequemescolhia.

Hoje

emdiaoeditor de

fotografia

nãotemo

poder

de

dizer "afotoé essa". Avontade doseditoresda

primeira

página

eatédeoutros

cadernos acaba

prevalecendo.

Muitasvezes oeditor de

fotografia briga,

mas a

última

palavra

quasenuncaéadele.

Z

-Detodasas coberturasquevocê

já fez, quais

foramasque maiste

marcaram? ACF- A

cobertura do Césio 137 foimuito

importante, pois

era oinícioda minha

carreira,efoi

no]B,

queabriaportas.

Ninguém

sabia direitooqueera

aquilo,

os

níveisde

contaminação

que

poderiam

ser

causados,

nem mesmo os

jornalistas.

Também cobri

alguns

acontecimentosemBrasíliamuitointeressantes,como os

badernaços,

acho queem 1988,queeram

manifestações

contraoPlanoCru­ zadoNovodo

Sarney.

A constituintetambém foiuma

experiência

muito interes­

sante.

Z- Efotosmarcantes?

ACF- Temumafoto do

badernaço

emBrasíliaqueeugosto muito,foiparao

Prêmio Essoenão

ganhou.

Também

aquela

fotoqueeuchamei de "Brincadeira

de

Guerra",

das

crianças

brincandocomcartuchosde

munição

escrevendoTC

(Terceiro Comando).

Foi muito

impressionante

para mim. Temumafoto que eufizna

Índia,

aquela

do

coração.

Ela

foiatrêsleilõese nuncafoi

publicada.

Eununca

publiquei

nenhuma de minhas fotos da

Índia,

apesarteridoemuma

parceria

com aFolha.Euatéestou

preparando

uma

exposição

individualcom essas

fotos,

no

primeiro

semestrede2008,mas nunca

publiquei

nenhuma de­ las.

Z - 'E você tem

algum

outro

projeto

de

viagem,

de

fotografar

outro

lugar?

ACF- Eutenho

muitavontade de

fotografar

os

lençóis

maranhenses, gostaria

devivernaAmazônia

algum

tempo,sefosse

possível

vivernumatribode

índios,

fazerum trabalhocomíndioséumacoisa queeu

gostaria

muito,mesmo.A Amazôniaéumacoisa queme

fascina,

osíndios também.Eugostodesaircom umacâmera

fotografando

aspessoasno

Brasil,

e eutenhomuitavontade de fazerisso,andarpor aí

pelo

Brasil.

(4)

Z - Mas você

pensou em

largar

o hard news, o

fotojornalismo

diário?

ACF- Eutôficando

meio velha

prohardnews

(risos)

... Assim,euestoupas­

sandoporumafasenaFolha queeu

estounaturalmentesaindoumpouco

do hard news, do dia-a-diamesmo,

élimacoisa natural que está aconte­

cendo. Eles acabaram decontratarumoutro

fotógrafo

mais pra isso

também,

porqueeu nunca

podia

viajar

porquesó tinhaeu noRio. PrametirardoRio tinhaque vir

alguém

deSão

Paulo,

então sempre acabava sendoumaopera­

ção

complicada,

e quemefez

viajar

pouco na

Folha,

éuma

logística

muito

complicada.

Então,eusei queohardnewsvicia,é

aquela

adrenalina,

mas eu

achoqueocaminho natural também é irumpoucomais praoutros

projetos

maiores,

viagens

eir

largando

umpoucoohardnews.

nãoentra.O Riode

Janeiro

é consideradoem

qualquer lugar

domundouma zonadeguerra,

pela

imprensa mundial,

pelas

associações

de

jornalistas.

Es­ ses cursosqueagentefazécursopra quem trabalhaem zonade

conflito,

ou

seja,

zonas deguerra mesmo. Tanto queesse curso queeu fiz foi dado por uma

capitã

do exército britânicoque

tinha estadoemguerra.Apartemais

interessantequeeuachei foiade

primeiros

socorros,porquearealidade deles

éumpoucodiferente.Mesmonumaguerraeu achoque não é tão

perigoso,

porque esses soldadossão

completamente

loucos, muitas vezes

drogados,

e

muitasvezes com armasquenem a

polícia

tem.São muito

jovens,

são muito

loucos,

émuito

perigoso.

Eu

acheiocontrário,

achei queumafoto valia esserisco,

hoje

nãoachomais. Hápouco tempo naVilaCruzeiro, aconteceu

de elesatirarememcima dos

fotógrafos.

Eu,sinceramente,nuncatinha visto

isso. Aimprensasempreerachamadanasfavelas,

quando

acoisaesquentava pro lado

deles,

eles chamavam aimprensa praser

testemunha,

para meio

queestardoladodeles,dacomunidade.

Hoje

em

dia,

depois

damortedo Tim

Lopes,

aimprensavirouvilã. Z

-Apesar de,

comovocê

falou,

termuita

adrenalina,

nãotemum mo­

mento quecansadormirpoucoemvários dias

seguidos?

ACF

-Sim, e omaisgrave é que

chega

um momentode

dúvida,

àsvezes eu meperguntava,por

exemplo, quando

iabater fotoda guerrado tráficonoRio de

Janeiro,

se eunãoestavaali

explorando aquela

situação...Eraumacoisa

muito

frustrante,

e eu me sentiamuitas vezes me

aproveitando

ali

daquela

situação que eu não

vejo solução,

é umacoisa de

polícia,

é uma

situação

política,

e queenvolve corrupção

policial,

tráfico de

drogas,

baixíssimossa­

lários de

policiais,

sabe... Aí, você ta ali porquevai

ganhar

umaboa

foto,

porque envolve um

prêmio

...Acho que àsvezes eu me sinto um pouco ex­

plorando

a

situação,

epra que, pralevarumtiro

qualquer

horadessa.Eu

achoque nãomeinteressamaisumafotoassim,maisumacriança,maisum

fuzil... Podeserque

algum

dia

seja

uma

grande

foto,

dêum

prêmio

Esso,mas eu

não

vejo

maistantofascínionisso.

Z- Houve

uma

campanha

muito

grande

da TVGlobo

depois

damorte

doTimLopes,masvocê achaquefoiisso quefezcomquea

população

dafavelamudasseessavisãodos

jornalistas?

ACF- Eu não seise a

população,

eles sãomuitos

legais

com agente.Ontem

mesmo euvina

televisão,

teveumtiroteioe os

jornalistas

entraramnacasa

demoradores.

Sempre

queeu vou fazermatérias que nãoenvolvam bandi­

dos,

aspessoas são muito

legais.

Mascomo quemmandaéo

tráfico,

muitas

vezeselesmandamatirar,ameaçamos

moradores,

elessãoo

poder

dentro da

favela.Então,elesé que nãogostamde

jornalistas.

Tambéméumaforma de elesmostrarem

poder.

Z- Você falou

quevocês fazemcurso naFolha dezonadeguerra, têm que usarcoletes àprovade balas...

Então,

eu

queria

quevocê falasse

daescaladadaviolênciano

R),

quevocê disse tambémque

hoje

em

diaos

jornalistas

são tão

inimigos

quantoa

polícia.

ACF- Eu

acho que

depois

damortedo Tim

Lopes

ficou muito

perigoso.

Os

jornalistas

são vistos como

inimigos

tantoquanto a

polícia,

o alvo deles é a

polícia

e os

jornalistas,

eles botaram tudo no mesmo saco.Eu nãosou a

favor do queoTim

Lopes fez,

euachoquefoiumaloucura. Entrarcom uma

câmera escondidaprafilmarumaáreaquea

polícia

nãoentra,queoEstado

Por Lucas

Sampaio

Colaborado de

Felipe

Flores Z - Você falou de

prêmios.

Você

foi indicada a um

prêmio

Esso,

ganhou

duasvezes o

prêmio Folha,

em2000e

2002,

eteve

uma

menção

honrosaem um

prêmio

daONU. ACF

-É,

foiumvazamentodeóleo naBaíade Guanabaraem2000. Esse trabalho também me marcou

bastante,

porque foi um desastre

ecológico

enorme,eeuachoque por

negligência

daPetrobrás.Eucon­

vivi muitoalicom os

pescadores,

que foramosmaiores

prejudicados.

Foium trabalho interessante, que eu

gostei

muito de

fazer,

mas que

tambémfoimuitotriste.

Z- Você

já chegou

a uma

situação

emque pensouque iamor­

rer?Uma

situação

demuito riscoemque nãosabiao quefaz­

er? ACF- Teve

umdiaqueeuentreinaVilaCruzeiro,odiaemque ati­ raram nos

fotógrafos.

Mas o

pior

é

quando

está tudovazio,

quando

você nãoouve

nada,

porqueos morrossão muitoabertos.O que

pode

aconteceréoque

pode

acontecercom ocidadão comum,umabala

perdida

vindo denão sei aonde... O Rio de

Janeiro

é umacidadeem

guerra, entãoomedo fazparte.Mas ébomtermedo

também,

porque vocêficaumpouco maiscuidadoso.

Z

-Uma das suas fotos que mais

impressiona

é a do assalto noUnibanco. Pelo momento, vocêtira muito deperto a

foto,

e

atéo

próprio

assaltante fica

assustado,

a armadelenãoaponta

nempro refém nem pra

ninguém

e ele olhafixamente paraa

foto,

achoquenemele esperava,você disse que vocêentrouna

agência

...

ACF:

É,

eu estava

passando

eviacena,e

quando

eu

cheguei

a

polícia

estava

chegando,

e eu

aproveitei

ahoraque

aquele policial

entrou(o

queestavasem

camisa)

eentrei

junto,

ele tirouacamisa pramostrar

procaraqueeleestavaentrandosemarma, parao caranãoseassustar, eali naconfusãoeuentrei pra tirarafotoe

fiquei

bem no

cantinho,

escondidinha,

achoqueelenemmeviu...

É,

parece

pela

fotoque eleme

viu,parece queeleestá olhando pramim,mas eunão sei...

Z- Mas o seu

perfil

é de não ter muito medo. Você

chega

a

pararpara pensarem

alguma

situação

dessaouvocê

simples­

mente

fotografa?

ACF

-Teveumdiaqueeu

fiquei

commedo. Foiumcasal quemorreu

eletrocutado na

Rocinha,

acho que elesestavam num poste. Omo­

torista entrou

pela

Rocinha,

aoinvés de ir porfora.

Daqui

apouco,o carrofoi cercadoe uns carasdepretoda

cabeça

aos

pés

começaram abaterno

capô,

em ummomentoagente

chegou

aacharqueera a

polícia,

oBOPE,mas eramtraficantes.

Aquele

diaeu

fiquei

assustada,

porqueeunão entrei

preparada

paraisso,fui lápara

fotografar

um

casal que tinhamorrido eletrocutado.Eu falei que vinha

fotografar

ocasal

eletrocutado,

eeles diziam "não anda

aqui

com esse carrode

reportagem...

"

Isso tem um ano epouco. Eu e o motoristaficamos muitoassustados.

Z- Masnahora você

não pensou queele

poderia

se assustare

darumtiroem

você,

por

exemplo?

ACF- Confesso

que não.Confessoque não

pensei

nisso. Z- Você falou da

sua rotinae falou que é

pautada.

Mas

pelo

que a gente vê das suas

fotos,

a maioria é

não-pautada,

ou se são

pautadas,

sãodeuma

elaboração

muito maior queas

convencionais,

até

pelo

tempo que você tempara

fotografar.

E você faloumuito na

palestra

sobre o fatorsorte.Você achamesmoque ésorte ter tantas

fotosedetanta

qualidade?

ACF

-É,

euestousempre

ligada, esperando alguma

coisa.

Sempre

com uma

maquininha portátil

dentro deuma

bolsa, esperando

acontecer

alguma

coisa. Nuncaaconteceu, deeuestarde bobeira...

É

essacoisadeestar

preparado,

e

determuitoamor

pela profissão também,

devestiracamisada

Folha,

dees­

tarali.

Porque

é

complicado,

àsvezes4 damanhã você vai para não sei

aonde,

àsvezes

6,

7 damanhã debaixode

chuva,

de

sol,

semcomer, é

desgastante.

Maseuacho que éisso,ésempreestar

esperando,

sempreatento

realmente,

captarou ser

captada pela

foto.

Z- Sevocêpensasse,hesitaria? ACF- Acho

quenão,porqueeusempre fuimeiokamikazemesmo,talvezpor isso

seja

hora de parar, porqueeusempre fui consideradameiolouca deen­

trarnos

lugares,

emtiroteio,esempre

gostei.

Averdadeé queeugostava dessa

adrenalina.Não seiseissoéumacoisasaudável. Z- E

ahistória doenterrodaElzaGomes? ACF

-Eu era

estagiária

doGlobo. Eu estavacom oChi

quito

Chaves no en­

terro daatrizElzaGomes. O cemitérioestava lotado e o

Chiquito

ficou em

cimadeum muro,

esperando

ocaixão

chegar,

e memandouesperarondeo

corpo seriaenterrado. Haviaumamultidãoemcimados túmulosao ladoe,

derepente,umdeles cedeueváriaspessoascaíramdentrodeuma

sepultura.

Aíeufizafoto.As pessoasestavam

esperando,

muito

calor,

daí

daqui

apouco

quebrou

uma

daquelas lápides,

e aspessoascaindocom apernapracima,e eu

fotografando

(risos)

...Mas foiaminha

primeira

página

davida.

Z

-Qual

a

recomendação

que vocêpra quem é estudante de

jor­

nalismo,

praquem querfazer

jornalismo

e

principalmente

praquem

gostade

fotografia

equer

seguir

nessaárea?

ACF- Eu

acho quetemque

fotografar bastante,

experimentar,

fotografar

com o

coração

mesmo, com a

alma,

e tem que gostarmuito. Pra quererseguir

umacarreira,fazer dissoa sua

vida,

éumacoisa muitode

paixão.

Nadaim­

pede depois

tambémqueapessoapasse praoutra

área,

publicidade,

cinema,

nãosei,maspraterumacarreira

longa

é necessáriaessa

paixão,

porqueem

DiadasMães,dosPais,

Natal,

Ano

Novo,

muitasvezes eu nãotava,eu

perdi

muitacoisa,muitosaniversários de família.

(5)

[semana

do

jornalismo]

Uma

trajetória

de

sucesso

De

Veja

a

Piauí,

Daniela Pinheiro

conta

como

cada

veículo

contribuiu para

seu

crescimento

profissional

"N0SSa,

masvocês estãotomandournchá de

cadeira",

disse Daniela Pinheiro

quan-doentrounohall da Pousada dos Cháseencontrouos

repórteres

doZero assis­ tindoa]Vacabo. DanielaveiodoRio de

Janeiro

para

Florianópolis

como

palestrante

da

VISemanade

Jornalismo

daUFSC(UniversidadeFederal deSanta

Catarina)

epor todos

aqueles

motivos

conhecidos,

seuvôoatrasou.Percorreros

quilômetros

que separamo

aeroportoHera1ioLuzda tal

pousada,

queficaem

Jurerê

- noNorteda Ilha

-,também

tomouurnbomtempoe,além

disso,

a

jornalista

tinhaurnareporta­

gemparaterminarao

longo

danoite.

Apesar

doscontratemposedo

cansaço,Daniela foiextremamente

simpática.

Brasilienseformadaem

jornalismo pela

UNE

(Universidade

de

Brasília),

Daniela Pinheiro

trabalhounasucursal da Folha deSão Paulona suacidade

natal,

ondeficouporquatroanoscobrindo

polí­

tica,na

época

dosgovernos Itamar FrancoeFernando

Henrique

Car­ doso.Foi

também,

pordezanos,

jornalista

da revista

Veja,

em

Brasília,

São

Paulo,

e,por

último,

Riode

Janeiro.

No começode

2oo7largou

a

Veja

parasetomar

repórter

darevista

Piauí, projeto

criadopornomes como

João

MoreiraSalleseMário SáCorreia.

lugar

navida

adulta,

quando

você

tem

experiência,

temumestilo.

Z - Não

querendo

acharquea

Veja

éodemônio do

jornalismo,

mas

alguns

jornalistas

quetrabalharampoucosmeses narevistadizemquetinhamdifi­

culdades atépracontatar

fontes, quando

seidentificavamcomo

repórteres

da

Veja.

Você

passou por isso?

DP- Nunca.Mirilladificuldade foi

quando

eusaíefui parao

Jornal

do Brasilem lli11a

época

emque eleesta­

vatotalmente falido.

Ninguém

queria

falarcomo

]B,

eu

ligava

eficava

esperando

três horasparafalarcom uma

pessoa.As pessoas queremfalarcom a

Veja

porquea

Veja

éaVeja.

Z- E

comofoiessa

experiência

no

Jornal

do Bra-i1�

s .

DP

-OMário

Sérgio

Conti

[que

eradiretor de

redação

da

Veja]

foi chamadoparareformular

0]B.

Elechamou

uma

galera,

todos damesma

geração.

TIrouumasdez

pessoasda

Veja. Largamos

tudoemSãoPauloemudou todo mundopro Rio. Durouquatromeses

[risos].

ZERO- Umavezvocê

publicou

duas matériasna mesmaedi­

ção

da

Veja,

umasobregayse umasobre embaixadasemBra­ silia. Comofoiisso?

DanielaPinheiro-Essasmatérias nãoforam feitasno mesmomês.

Essasobregays

estavahátrêsmeses nagaveta,era uma

daquelas

matériasque demorampra

soltar,

quesó vai

quando

nãotemnenhu­

manotícia.Aoutranão,essada

diplomacia

erabemquente.Sobreas

embaixadasem

Brasília,

algumas

nãotinhamnada pra

fazer,

tipo

a

embaixadado

Egito,

aíaspessoas chamavam deaembaixada do

agito

[risos].

Eraumpoucoisso,vercomo era arotinadesse povo quevaimorar emBrasília.

Z- Você trabalhouna

Veja

durantedez anos,masexistemvários

jornalistas

quetrabalham lápor muito poucotempoedizemque não

agiientaram,

queas

pautasvêmcom umateseprontaque

precisa

ser

comprovada.

DP- Eu nãoacho

que

seja verdade,

achoquea

Veja

éamelhor escolapara começara

trabalhar. Trabalheiquatroanos naFolha

[de

São

Paulo]

antesdeirpra

Veja.

AFolha tambémera umaótima

escola,

masé

diferente.

Eu seiquegostomaisderevista,meu

textoéderevistas.Osanosda Folhaforam maravilhosos.Eucobria

jornalismo político,

congresso,

depois

o

palácio

do

planalto

na

época

doItamar

[Franco]

etambém doFer­ nando

Henrique

Cardoso.

É importante

começarem

jornal,

terhorapara

fechar,

por que àsvezes narevistavocê

perde

umpoucoisso. Paramima

Veja

éamaiorescolaquetem

paraser

jornalista,

porquelátem

hierarquia,

queum

jornalista

temqueter.Umaestru­ tura

editorial,

você éo

repórter,

mastambémtemo

editor,

oeditorexecutivo,odiretor de

redação,

todos

pensando

naquilo

quevocê vaifazer.Issoé

ótimo,

teruma

direção,

enão quetenhapauta pronta.

Agora,

dizer que

chega

láeé

surpreendido pela

notíciaetemque

ignorar

porquetuapautaé outra? Isso não existe. Outra coisa quetemna

Veja

é

precisão

de

informação,

a

precisão

lá éumacoisaabsurda.A

Veja

e aPiauísão,

hoje,

asduas

únicasrevistas

[no Brasil]

quetem

checagem.

Acabei de fecharurnamatériaetemuma

pessoa que vaificar batendo

informação

por

informação.

É

muitodifícilterum erro na

Veja. É

muitodifícilterum erro naPiauí.

Z- Você falou

quea

Veja

é boa porteruma

hierarquia

forte.Issoémaisou menos oopostodavisão quesetemda

Piauí,

deser uma

publicação

maisanár­

quica,

comodisseoMarcosSá Correia

(editor

da

Piauí),

DP-Eu nãoacho

aPiauí

anárquica,

elatemuma

hierarquia,

masmuito maisdiluída. AgentetemsóLUll

chefe,

queéoMário

Sérgio

Conti,diretor de

redação.

Eleé quemsabe

tudooque vaiternarevista.Sevocê falaque nãotemisso,éurnaloucura.Todo mundo vailáetrabalha todo dia.O que nãotemsãoessasamarras, por

exemplo,

reuniãodepau­

ta.Nãotêmdezpessoas mexendono seutexto,porqueaspessoas que estão lá

quasetêm

umtextoqueagentechamade final. Achoquea

diferença

éassim,

hoje, depois

dequatro

anos na

Folha,

dezanosde

Veja

eagora háumano naPiauí:a

Veja

éuma

grande

escola,

todo mundodeviatrabalhar

lá,

concordeounão, gosteounãodoqueelesescrevem,das

posturasedoscolunistas queelestêm.

Agora, você,

como

jornalista, poder

escrever uma

matériana

Veja,

umacapa,quevaiserlida por 100milhõesde pessoas, isso nãotem

preço. Ea

Veja

sabe fazerreportagem.O maior

repórter

de

política

pra mim

hoje

éoPoli­ carpoJr.,LUll caraque estána

Veja

há20anos.Euacho quea

Veja

vira,na

faculdade,

tipo

umaRússianaguerra

fria,

sabe,

temosque combater...

bobagem.

A

Veja

pratrabalhar é

um

lugar

muitobom.Maseu

queria

outracoisa. Na

Veja

vocêlêarevista inteiraeacha que éamesmapessoa queescreveu.Látemumafórmula de texto,epra mimeramuito interessante

poder

escrevermais

livremente,

que éo casoda

Piauí,

umtextomais

autoral,

que éatuacara.EaPiauítempautasque não interessariamna

Veja.

Seforprafazeruma

comparação,

eudiriaquea

Veja

éumótimo

lugar

natenraidadee aPiauílunótimo

Z

-O que aconteceu? DP- Nãodeucerto.

As pessoas queestavamnocomando

do

jornal

...nãodeucerto.Ficoutodo mundonoRiode

Janeiro

sevirando.Eudeisortedequea

Veja

mechamou

denovo.Só que aí praficarnoRio. Foi

quando

comecei

afazersó matériasdecomportamento.SãoPauloé mais

variado,

tem

política,

economia, comportamento.EmBrasíliasó

política.

Norio,sócom­

portamento.

Z

-Jornalismo

decomportamentoéumaáreasensível detrabalhar.

DP

-É,

temumatênuelinha paraumamatéria nãoficar

brega.

Matériadecomporta­

mentoéfácildeficar

óbvia, lugar

comum.Nãoéfácil de fazer. Z- Você éda

primeira equipe

de

repórteres

da

Época.

Comoéa

experiência

de

fundarumarevista? DP

-Eu não senti isso porqueeuestavaemBrasilia.

Quem

teveessa

experiência

équem

estavaemSão

Paulo,

ondeaconteceua

fundação.

Eu sinto issona

Piauí,

apesarde

ter

entrado láquatromeses

depois

quearevistaestavanabanca.

Z- Sobre

o seuprocessode

apuração.

Você anota? Usa

gravador?

DP

-Anototudo.Não gravo. Eugravoassim,por

exemplo,

eufuientrevistaro

Sérgio

Cabral

[governador

do

RJ]

ontem,paraessamatéria daColômbiaqueestoufazendo.Aí você grava, porquesevaiumafrase erradado cara, dáurnamerda.Normalmentenão gravo, porqueachoquelunahoraoentrevistadoesquece do

gravador,

masdemora.O riscodenão gravar é que

depois

ésua

palavra

contraadafonte.Seela diz 'eunão

falei,

eunão

falei',

comoé quefaz?Entãoeuachoque ébom gravar,e

quando

estiver

gravando

temque avisar.

Z- Sobre

as

grifes

quevocê àsvezescitaemtextos,vocêtentarepararouper­

guntaparaa

pessoa?

DP

-Eu reparoecoloconotexto.

Porque

esseéumassuntoquemeinteressa. Não que eu use marca nemnada.Masna

Veja

eufaziamuitamatéria de

"peruagem".

A

primeira

capa da Daslú da

Veja

quemfez fuieu,em

1996

ou97.Tenhomuitafonte perua.

Sabe,

mulher desociedade.

Z

-Que

entendemtudo de marca? DP

-Não. Perua mesmo,

socialite,

quevailáepassaumafofoca.Aúltimavezque

preci­

sei,foinamatéria da balada

[Como

se

jogar

na

balada].

Consultei váriasperuas parame

daremdicas de ondeir. Não iaa umaboate achoquedesde

1994 [risos].

Precisavasaber ondeera.Euentendo doqueéa

"peruagem",

damarca.Se isso é

necessário,

àsvezesé. Se você estáfalando de

dinheiro,

falarqueo caraestácom um

relógio Búlgari.

Outrasvezes

não,fazendoumamatériado

Maluf,

óbvioqueele estácom um

relógio

caro,diferente

seriasetivessecom um

Swatch,

porque obviamente elevaiestarcom um

Búlgari.

Z- O

que vocêtem

lido,

de

jornais

eliteratura?

DP- Euleiomuita

coisa,procuroler literatura. Desde queentreina

Piauí,

estoulendo muito

aqueles

livros da

coleção

de

jornalismo

narrativo daCiadasLetras. Esteslivros do

Gay

Talese,

todos que foram

publicados.

(6)

[guerra]

dosupostoDossíê

Cuiabá,

aPolíciaFe­ deral

quebrou

o

sigilo

dedois telefones

do

jornal

Folha deS.PauloemBrasilia.

Os

policiais alegaram

que não

imagina­

vamsetratardenúmeros de

jornalistas.

Enquanto

na

Rússia,

informações

sobre

ações

terroristassó

podem

ser

divulga­

dascom aformae otamanho ditados

pelo

Centro de

Operações

Antiterroristas. Em

junho

de

2006,

o

presidente

Vladi­

mirPutinaprovou emendas que

penni­

tem

punir

até

jornalistas

que

critiquem

políticos.

Jornais

e revistas receberam 32 advertênciasaté agora.

no

Chade,

com o

pretexto

de colocar fimàviolên­

ciaentreárabese

não-árabes,

ogoverno

chegou

a

implantar,

no ano

passado,

a censura

prévia

nos

jornais

e

proibiu

as

rádios

privadas

decobrirtemas

polêmi­

cos.

Os

"países

desenvolvidos" também são

participantes

nessa ameaça. Em

2005,ogoverno da Grã-bretanhaame­

açouprocessar

jornais

que

publicassem

ummemorandorestritocom adescri­

ção

das discussões entre o

presidente

dos

EUA, George

W

Bush,

e o

primeiro­

ministro,Tony Blair,

paraatacararede

de televisão

Al-Jazeera.

Na Irlanda do

Norte,um

projeto

emdiscussãonopar­

lamento reduzas

exigências

para apre­

ender documentos de

suspeitos,

seria para acelerar

investigações

de grupos terroristas.

Depois

de mostrar que o governo

dinamarquês

sustentou com provas

frágeis

o

apoio

à invasãodo

Iraque,

em

2003, dois

jornalistas

precisaram

en­

frentarostribunaisem2006.Os

repór­

teresforam acusados de

publicar

infor­

mações

obtidas

ilegalmente.

Ajustiça

os

inocentou. Eogovernosuecoanunciou paraesteano umaleiqueautorizaráo

monitoramentodas chamadase comu­

nicações

internacionais.

Na

França,

policiais

revistaram a

redação

do

jornal

Midi Iibreem

julho

doano

passado

nabuscadeumrelató­ rioconfidencial do Tribunal

Regional

de

Contas,

quefoiabaseparareportagens sobre o governona

região

de

Langue­

doc-Roussillon. Autoridades abriram processocontratrês

jornalistas

da

publi­

cação

por

violação

de

segredo

de

Justiça.

Eogoverno da Itália

propôs,

em

projeto

apresentado

no ano

passado,

umamuI­

tade quase

US$

77 milpara

jornalistas

que

publicarem informações

obtidaspor

escutastelefônicassecretasda

polícia.

O

artigo

19da

Declaração

Universal dosDireitos Humanos garantealiber­

dade para

"procurar,

recebere

divulgar

informações

eidéias através de

qualquer

mídia,

semlevaremcontafronteiras". Os26

jornalistas desaparecidos

no mun­

do desde

1994,

os134

jornalistas

presos no mundo

segundo

levantamento de

2006e os 124

jornalistas

assassinados sóno

Iraque

desdeoiníciodo conflito

em2003mostramqueesse

direito, pelo

menospOI'enquanto,está sóno

papel.

Por

Thiago

Santaella

Qual

o

alvo,

terroristas

ou

jornalistas?

Desde

a

queda

das torres

gêmeas,

o

combate

ao

terrorismo aumenta

a

vigilância

e

as

tentativas

de

controle

da

mídia

A

guerraaoterrorismocada

v�z

mais

r\parece

umaguerraaosreporteres.

É

oquefala Dinah

PoKempner,

con­

selheira

geral

daONG Human

Rights

Watch: "Nósestamosvivendoem uma era emque aliberdadede

expressão

é essencial para a sobrivívência dos nossos valores mais

apreciados,

e

aindaassimelaestá

ameaçada

como nunca. Estaé a era do terrorismo e

docontraterrorismo. E hámomentos

emque édifícildizer

qual

fenômeno émaisassustador".

existiamtenta­

tivasde limitara

expressão,

mas es­ sas seaceleraram consideravelmente

desdeodianovede setembro de

2001,

com o início daguerracontrao ter­

rorismo.

Em uma guerra em que o alvo é

uma nuvem de

fumaça, qualquer

um

que estiver dentro da neblina acaba sendo

atingido.

Desde abril de

2006,

o

iraquiano

Bilal Hussein,

fotógrafo

da

agência

Associated Press, é mantido preso

pelo

exército americanosemque

haja qualquer

acusação

contraele. Os militaresoacusam, de maneiravagae semprovas,de

possuir

ligações

comin­

surgentesno

país.

Dados doComitêpara

a

Proteção

de

Jornalistas (CPJ)

mostram

que

quinze

por cento dos

jornalistas

presosnomundoassimestãosemque

existam

acusações

contraelesemuito

menos

condenações

por processos

judi­

ciais.Pelomenosoutrosoito

jornalistas

iraquianos

foram detidossem

acusações

eliberadosmeses

depois.

Não é sóoexército americano que

não atuade maneiraclarapara com a

imprensa

e com o

público.

Omesmo

acontececom ogovernodo

país.

Eesse

clima de

conspiração,

de cadavezmais

segredos

de

estado,

foitemadeum

artigo

intitulado

"Quando

nós

publicamos

um

segredo?"

eco-assinado

pelo

editor che­

fe doNewYork

Times,

Bill

Keller,

e

pelo

editordo TheLos

Angeles

Times, Dean

Baquet.

Kellerconta que "as escolhas

estão mais

complicadas

porque o ini­

migo

do Estadonãoébem

definido,

não existem linhas

inimigas

demarcadase amaiorpartedaguerraaconteceatrás deumacortinade

segredos

emambos oslados". Ele

explica

quenessemundo

de

informação

altamente confidencial "é difícil balancear ambososlados da

equação

- os

riscos à segurança nacio­ nale asameaças àsliberdadescivis".

O

jornalista

Max

Frankel,

do The

Times,contaquenaregrade

"relações

maduras" com a

imprensa

o governo

escondeoque

pode, alegando

essa ne­

cessidadeomaiortempoqueeleconse­

gue,e a

imprensa

publica

tudo que ela

pode, alegando

anecessidadee odireito

do

público

saber,

o interesse

público.

"Cada lado desse

'jogo'

normalmente

perde

umarodadaouduas.Ecadaum

lutacom as armasquetem.

Quando

o

governo

perde

um

segredo

ou

dois,

ele

simplesmente

se

ajusta

a essanovare­

alidade".

Porém,

o lado dos governos

anda roubandono

jogo.

NosEstados

Unidos,

quetemcomo umdos

principais

pontosdesuaconsti­

tuição

aliberdadede

imprensa,

tribunais têm mandadoparaacadeia

jornalistas

quese recusam arevelaraidentidade de

fontesde

informações

secretas. Em

ju­

nho de

2006,

o

Departamento

deJustiça

insistiunousodeleis para

vigiar

telefo­

nemas- comordens

judiciais

-eproces­ sarquem

publique segredos

de Estado.O

umrelatórioconfidencialdeum

ex-juiz

revelaqueo

serviço

secretoalemãoes­

pionou

jornalistas

de forma

ilegal

du­

rantemaisdeumadécada.O

serviço

se­

cretotambém pagou

jornalistas

parater

espiões

dentro das

redações

dos

jornais.

O

objetivo

eraidentificarosinformantes dos

repórteres.

Ficou mais fácil se comunicarna era

digital, porém,

agora também é

mais

simples

rastrearquemestá

comu-'"

NOS COLOCAMOS

A

LlBt;RO

AOt; Ot;

IMPRt;NSA

t;M UM

LU6AR

St;6URO,.,

PARA

PROTt;6�-LA

OOS

AT

A�Ut;S

Tt;RROR1ST

AS!

nicando.

É

possível

conseguir

alocaliza­

ção

dequem estiverusandoumcelular

para fazer

chamadas,

gravar e-mails enviadose

recebidos,

páginas

desitesvi­

sitadas.Essesdados

gravados

podem

re­

velartantoasfontes

quanto

qual

seráo

próximo

assuntoparaumareportagem

deum

repórter.

Aempresa Yahoo!reve­

louoe-maile as

informações

de usuário do

jornalista

ShiTaoaogovernochinês.

Issoolevoua umasentençade dezanos

de

prisão

emmarçodesteano.

AChinaéo

país

com omaiornú­

mero de

jornalistas

presos no

mundo,

31casos. A

condição

de

repórteres

c au­

toresdeinternet

(blogs

e

sites)

- todos

aqueles

que criticamogoverno chinês emseusvários

níveis,

lançam

investiga­

ções

sobreos acontecimentosmais im­

portanteseassumemo

papel

dereportar

de verdade- émotivode

preocupação.

Zhang Jianhong

escreveu comentários

online

pedindo

uma reforma

política

parao

país.

Doisdias

depois

ele foi preso

aopostarum

artigo

citando críticasin­ ternacionaissobreafalta de

respeito

aos

direitos humanosnaChina.A

acusação:

"incitação

parasubverter aautoridade

estatal"- no

mundo,

63%

dos

jornalis­

taspresos estãoencarcerados soba mes­ ma

acusação.

Suasentença:seisanosde

I

I,

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.DEZEMBRO

-200i'

L

mesmo ocorreu naHolanda

quando

os

jornalistas

Bart MoseJoostdeHaas,do

De

Telegraaf,

ficaram presospor cinco diasao senegaremarevelarsuasfontes.

Eles

investigaram

o casodeum

policial

suspeito

deprestar

informações sigilosas

acriminosos, A

agência

de segurança

conseguiu autorização

judicial

para fa­

zer aescutados telefones dos

repórteres,

sem, noentanto,obteras

informações

que

desejava.

Fontes confidencias são a susten­

tação

de muitos dos trabalhos dosre­

pórteres.

A

proteção

defontesédefinida

pela

Corte

Européia

de DireitosHuma­

nos como "uma das

condições

básicas paraaliberdade de

imprensa",

Mas a

vigilância

em nomeda segurançaestá minandoessedireito essencial dos

jor­

nalistasemvários

países,

Na

Alemanha,

prisão,

Foiessa mesmasentençaque Gao

Yu, umadas

jornalistas

chinesasmais

famosas,

recebeu em novembro de

1994,

mas por "fornecer

informações

sigilosas

para

instituições

de fora das fronteiras do

país", Informações

que

haviam sido

publicadas

antesdasmaté­ riasda

repórter

poroutros

jornais

que

nãosofreram

quaisquer represálias.

Ela

explica

quea"Chinanãotemnenhum espaço parao

jornalismo

independente

(que

nãoéfeito

pelo

PartidoComunis­

ta),

oficialmente aindaé

proibido

até que sites

publiquem

notícias,A

impren­

sa

independente

écapazapenasdepro­ duzir coberturas limitadas",

Tentativasde cerceamento àliber­ dade de

imprensa

aparecememtodoo

mundo.Na

investigação

sobreacompra

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