ENTREVISTAS:
lHldnas..
ANA
CAROLINA
FERNANDES
páginas
3e4 I ��. : iDANIELA PINHEIRO
página
56a
BIENAL DE
ARTES VISUAIS
DO
MERCOSUL HOMENAGEIA
GUIMARÃES
ROSA
página
15e16RUBENS VALENTE
"'"'página
14 LUCAS SAMPAI�irENSAIO�ORNALISMO (>l'i!iFLORIANÓPOLIS,
DEZEMBRO
DE 2007
-CURSO
DE
JORNAliSMO
DAUFSC
-ANO
XXV
-EDlçAO
6
ESPECULAÇÃO
IMOBILIÁRIA
GRINGA
E
OCUPAÇÃO
DESORDENADA
À
REVELIA
DO
PLANO
DIRETOR
páginas
8,
9e 10APRENDA
A
TURBINAR
SEUS PONTOS
NO
CURRíCULO
LATTES
HOSPITAIS
PSIQUIÁTRICOS
COM
CARA
NOVA
[Iuto]
Aidademudou,mas oolhar continuou omesmo.Ao lado,Mailer em 1948com25anos eacimauma fototirada porumfã doescritorem
janeiro
desteanoEntre
jabs
e
punchs,
uma
obra
única
Norman
Mailer falece
sem
completar
a
sua
grande
ambição:
escrever o
"grande
romance
americano"
Um
personagemcontroversoe ex
travagante,detentordeumestilo
e uma
personalidade
cáustica inconfundíveis deixouomundo literário nodia dez de novembro. Norman Mailermorreu aos85anosde insufici
ênciarenalemManhattan
-asletrase a vida
pública
norte-americana estão órfãos do pesopesado
que, durante quase 60 anos deatividade,
esteve rodeado de
polêmicas,
obras excelentesemedianas,
críticasreverentese severas.Escritor
incansável,
publicou
maisde 30 obrasemgêneros
variados,
deromances abiografias.
Seu
objetivo
maior,porém,
pennaneceuforade alcance:the
big
one,au o"grande
romance americano", umaobra
capital
queocolocarianopatamar deTolstoi, Dostoievski,
Stendhal,
Joyce
ouFaulkner.Não que Mailerse
julgasse
indigno
desercitadoaolado destesgi
gantes,mesmo sem seu
hipotético
livroepítome;
ele representavaaantiga
tradição
literária,
segunda
aqual
escreveréumato
heróico,
levadoacaboporescritoresidem.
Comumego à alturadesuas am
bições,
sejulgava
capazde discorrersobretemassem
ligação
aparente.GuerraFria, protestoscontraaguerradoVietnã,
Marilyn
Monroe,existencialismo,
homem naluae sexo.
Que
traçocomum uneissotudo?AobsessãodeMaileremdescrever as
contradições
dasociedadeamericana,amoralidadeea
fascinação
pelas
celebridades,
sexo epoder,
a cegueira
consumistae aânsiapela
fama.Tudoissofoi
possível
graçasa umolharZEBO
JORNAL
LABORATÓRIO
ZERO ANO XXV- N° 6DEZEMBRO2007
CURSODEJORNALISMODA UNIVERSIDADEFEDERAL DESANTA CATARINA- UFSC FECHAMENTO:XX DEDEZEMBRO
REDAÇÃO
DO JORNAL CURSO DEJORNALISMO UFSC -CCE- JOR Trindade-Florianópolis
CEP 88040-900rápido
epenetrante,umaprosaviolenta ebelicosa,
umestilo capaz dedarcontadasturbulentas décadasde60e70. De famt1ia
judaica,
Mailerfoi umestudante brilhante e
ingressou
emHarvardaos16anos com a
intenção
de estudarengenharia
aeronáutica.Logo
porém,
seuinteressederivouparaapro sa.Deacordocom seusrelatos, imergiu
nos romances de T. FarreleJohn
DosPassos,epassouaescrever umquotade trêsmil
palavras diárias,
para superarasqualidades
de "mauescritor".Pouco
depois
deseformarem1943,
foi recrutado para a
segunda
guerramundial,
mas suaexperiência
decombateseresumiua umaúnica incursão de
patrulha
noJapão.
Mesmoassim,estapassagem theforneceumaterial parao
primeiro
romance,TIle Nakedand the Dead(1948),
um relato de guerraque vendeu200 milcópias
eteveumacríticapositiva
quaseuniversal- fatoque não maisse
repetiria
em suacarreira.Sobreofato deser umaobra deiniciante,Mai lercomentou:
"parte
demimacreditouser esse omaiorlivro escritodesdeGuer
ra ePaz, Poroutrolado
pensei,
'eu não seinada sobreescrever.Sou virtualmenteum
impostor"'.
Durante a década
seguinte
publi
cououtros dois romances de pequenaexpressão,
eviveu relativamente a deriva,
freqüentemente
bêbado,
drogado
ouambos.Em
conjunto
com osamigos
Daniel WolfeEdwin Fancher fundouem
1955arevistaTIle
Village
Voice,naqual
expunha
suafilosofiahipster
e seuestiloarrojado
epoético,
as vezesbeirandoaometaffsico.
Entretanto, há
um certo consenso
de queo
legado
mais substantivo deMailer tenha sido no queTom Wolfe chamou de new
journalism,
ou,comochamamos por
aqui, jornalismo
literário. Em "TIle armies of the
Night:
History
as aNovel,
"" VI;)118 W'
the Novelas
History",
umlivropremiado
compostoa
partir
deumasériedeartigos
publicados
na revistaEsquire,
sobreosprotestoscontraaguerradoVietnãocor
tidosemfrenteao
Pentágono
em1967,
éumbom
exemplo
dessa faceta doautor.Narrandoa sua
própria
experiência
noevento- emque
chegou
a serdetidopela polícia
-,tomou-seumadas obras fundamentais destegênero
mesclado:astécnicas novelescas
aplicadas
aotrabalho deobservação jomalística
"nama",Em 1979 um de seus livros mais relevantesda
seqüência
aestetrabalho. "TheexecutionerSong",
umépico
americanoemqueoautorrelataahistória realdoassassinoconfesso
Gary
Gilmore atravésdasvozdopróprio
criminosoedas pessoas que the foram
próximas,
rompendo
com seu estilo literário habitual,
emqueonarrador égeralmente
um
alter-ego
doescritor,com as marcasdesua
personalídade,
Emumaocasião
semelhante,
também nofinaldadécada de70, Mailer recebeu
correspondência
doassassinoeestelionatárioMr.Abbott, Reconhecendo
um
potencialliterário
nascartasque lheeramenviadas da
cadeia,
oautorajudou
Abbotta
publicar
olivro "In theBelly
oftheBeast" efezum
lobby
paraconseguir
aliberdade condicional docondenado. Poucotempoapós
serlibertadoporém,
Abbottassassinouumgarçomnum restaurantede
periferia
eMailerviroualvo de revoltapública.
Este foi apenas um dos escânda
losemque oescritoresteveenvolvido.
Sempre
ávidopelas
câmeras,
elasnãoseretiraramnosmomentosemque Mailer as
poderia dispensar.
Emcertaocasião,quasematousua
segunda
mulhercom umcanivete.Tambémsustentouopini
ões
divergentes
com omovimentofemi-nista, dizendo-se contrário aocontrole denatalidade- ao
que parece, elenão
estavabrincando: casou-seseisvezes e
tevedezfilhos,
Em diversas ocasiões derivou as
divergências
com críticos e comenta dores da suaobra doplano
verbal ao físico: aficionado porboxe,
chegou
adarum
pundi
emGoreVidalnafrentedas câmeras deTV.Referindo-seaMai
ler,
Vidal disse: "elequer influenciaraconsciência de seus
contemporâneos,
maselesnão vãonotá-lo,
mesmo seele for bomnoqueescreve.Assim,cadavezque falaeletemqueficarmais
violento,
maisaltoetocarmais sinosinúteis,"Em meio aencrencas, controvérsias e umego
imensurável,
umacoisaé certaepraticamente
indiscutível:ojornalismo
e aliteraturaperdem
um boxeador deestilo únicoeidéias sólidas.
POt'ManfredMattos
INFORMAÇÕES
IMPRESSÃO:Diário Catarinense
CIRCULAÇÃO:Nacional DISTRIBUiÇÃO:Gratuita TIRAGEM:5.000
exemplares
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3721.6599/3721.9490/ 3721.3215/FAX 3721.9490 NA INTERNET SITE:www.zero.ufsc.br CIRCULAÇÃO zero@cce.ufsc.brEDIÇÃO
Ana Paula Flores, Elaine Manini, Fernanda Rebelo,Ingrid
Cristina dosSantos, Jéssica
Lipinski,
LucasSampaio,
NaianaCantu, Rafaela Bitt Cera, RenanDissenha,
Thiago
Santaella-ILUSTRAÇÃO
Priscila Mei Minku-EDITORAÇÃO
André Faust,
Diogo
Honorato, Renan Dissenha,Thiago
Santaella, SabrinaCarozzi, Tadeu
Sposito
- FOTOGRAFIAAgência
Ensaiofotojornalismo,
AndreFaust,
Fundação
Bienal do Mercosul-indicefoto.com, Stockx chance
-REPORTAGEM André Faust, AmandaBusato,Ana Carolina Dali
Agnol,
Claudia MussiViegas,
Ingrid
Cristina dosSantos,LucasSampaio,
LuizaFerreira, ManfredMattos,PaulaReverbel,RenenDissenha
Fagundes, Thiago
Santaella,VeraFlesch- PROFESSORCOORDENADORLucio
Baggio
-MONITORIALucasNeumann
Melhor
Peça
GráficaI, II, III,IVeXI Set Universitário / PUC-RS
1988, 89, 90, 91,92e98
�
30 melhor Jornal-laboratório do Brasil EXPOCOM 1994�
MelhorJornal-laboratório IPrêmio FocaSind. dos Jornalistas deSC,2000
02
ZERO
DEZEMBRO
-2007
[semana
do
jornalismo]
"Precisa
ter
muita
paixão"
A
repórter fotográfica
Ana
Carolina
Fernandes
se
destaca
pela
experiência
conquistada
com amor e
prática
, ,
Quem
nãosofreuessaservidãoquesealimen
tados
imprevistos
davida,
nãopode
imagi
ná-la.Quem
não viveuapalpitação
sobrenatural da
'cia,
oorgasmodofuro,
ademolição
moral dofracasso,
nãopode
sequer concebero quesão.Ninguém
que nãotenhanascido paraissoeesteja
disposto
aviver só para issopoderia
persistir
numaprofissão
tão incompreensível
evoraz,cuja
obraterminadepois
de cadanotícia,comoseforapara sempre,masque nãoconcedeum
instantedepazenquantonãotomaacomeçarcommais ardor doquenuncanominuto
seguinte" (Gabriel
GardaMárquez)"
ZERO- Você
disse que
ganhou
suaprimeira
câmera com13anos e aos 17 decidiuserrepórter
fotográ
fica.Comofoi? AnaCarolina Fernandes
-Com 13anosminhamãeme
deu minha
primeira
câmera. Aos 17 foi umadecisão,
realmente.Foino anodo
vestibular,
euqueria
fazer fotografia
enãotinha faculdade.Nemnos cursosdejornal
ismo
daquela época
tinha a cadeira defotojornalismo.
Nãotinha nenhumcursode
fotojornalismo específico
defaculdadeeaífuimorar nosEstados
Unidos,
onde fizmeuprimeiro
curso. Euvolteicom 18 anos, comecei afazerumcursode
fotografia
naEscola deArtesVisuaisdoParque Lage,
aescola debelasartes,pordoisanos.
É
um cursomuitobom,
mas erasóobásico.No meio dosegundo
ano eu fui fazerestágio
n'OGlobo,
quefoi ondeeu realmente fuiaprender.
Foicom19anos.Z
-Hoje
emdiajá
temacadeira defotojornalísmo
namaioriadoscur-50S do
país.
Como você é deumaépoca
anteriora esses cursos,quais
atributos são necessários parao
fotojornalísta hoje,
para orepórter
fotográfico?
ACF
-Já
existeinclusive faculdadesódefotografia, também,
emSãoPauloe noRio. Osatributos passam
pelo jornalismo,
antesdemaisnada,
porque éumaprofissão
que vocêtemquegostarmuito.Você não vaificarriconofotojornal
ismo
-paraissotemafoto
publicidade
(risos)
-,vocêtem quegostarmuito porqueéumavidabastantedifícil.Nãotemhorário,
você vai atrásdanotícia,
nãotemnatal,
anonovo,dia dasmães...É
umavidasemhorários,
muitodesgastante,muito pesoparacarregar. Z- Você acha
queéuma
profissão
aindamaisdifícilqueadopróprio
jornalista?
ACF- Euacho
que é
complicado.
Nojornalismo
euvejo
hoje
muitosrepórteres
quefazemmatériasemsairdaredação, pelo
telefone.Vocênuncavaiconseguir
issocomfoto;
épreciso
estarnoslocais- àsvezesdedifícilacesso.Já
fizmaté rias que vocêtemquecaminhar3,4 horascom oequipamento
parachegar
nolocal.
Z- Comoésermulherem uma
profissão predominantemente
machista? ACF-
É
complicado,
éumaprofissão
muitomachista.Quando
eucomecei,oschefes deixavam bem claro queeles estavam contrariados.
Quando
fui fazerestágio
n'OGlobo,
eu eraaúnicamulher.Eram25fotógrafos
e eu era aúnica mulher.Oschefeshoje
emdiasãoatémeusamigos,
sãobemmaisvelhos,
mas naépoca
(1984)
elesdeixavammuitoclaroqueelesnãoestavamsatisfeitoscom aminhapresençalá,
queaquilo
nãoeralugar
mulher.E n'OGlobonãotinha nenhuma mulher.Aúltima quetinhapassado
por lá dizem quepediu
demissão porquecolocaram ela para subirmorro nosétimomêsdegravidez.
Não seiseéverdade,
mastemessahistória.ElasechamaCristinaZappa.
Z- Vocêtemalgum exemplo
do queaconteciacontigo,
algum
casoquetemarcou? O queoschefes
chegavam
atefalar? ACF- Elesdiziamque
departamento fotográfico
nãoeralugar
demulheretudo queeu gostavade fazererapior
ainda. Eu gostavadehardnews, defutebol.Futebol,
então... AíteveoFilô - umgrande
mestre,quemorreumuitojovem,
um
grande
fotógrafo
d'O Globo-;elemeadotou. Elemelevavaparatodososlugares
comele.Eraumcaramuitodisciplinado
etécnico,
queestavasemprefazendo
palestras
eprojeções
para estudantesemuniversidadesecursosde fotografia.
Anosdepois
eleviroueditor defotografia
d'OGlobo,
mas eujá
estavaemLAURADAUDÉNIAG.ENS;lJO fOTOJORN;lJISMO
Brasília.Os
fotógrafos
erammuito
legais
comigo,
mas otrio dechefes deixava bem claro que o
departamento
fotográfico
não eralugar
para mulher. O
próprio
O Globo nessaépoca já
era umjornal
muitodurocomos
fotógrafos,
uma linhamuitosob
pressão,
nãoera umacoisa muitotranqüila.
Z- Esuacarreiranojor
nal?
ACF - Eu estava feliz de
fazer
estágio
lá,
onde eufiquei
8meses.Euachoaté quefazmuitafaltaisso,eramuito mais
ralação
antiga
mente. Primeirovocê saía
com o
fotógrafo, depois
você saía
sozinha,
aí depois
eufuiparaojornal
debairro
-queera umaescola muitointeressante. Maso meusonhosemprefoiir parao
Jornal
do Brasil(]B),
queera umgrande jornalna época. Quando
eufuipara0]B
tinha duasoutrasmulheres lá- Viviane RochaeMabel Arthur
-, masnenhuma delas está
maisna
profissão.
Umaéfotógrafa
deestúdio,
aMabel,
aoutraéprofessora
de HistórianaUFRJ.Z- A
partede
fotografia
noJSeramuitoforte.ACF
-Muito,muitoforte.Oseditores de
fotografia
tinhammuito maispoder
do que elestêmhoje.
Nessaépoca
oAlbertoFerreira-quemorreuhá doisanos e
foiummestreparamim,umcara
maravilhoso,
maisvelhoqueoFilô-oque
elediziaeralei.Nãotinha "a
primeira
página
quer daressafotoaqui",
não tinha. Elequemescolhia.Hoje
emdiaoeditor defotografia
nãotemopoder
dedizer "afotoé essa". Avontade doseditoresda
primeira
página
eatédeoutroscadernos acaba
prevalecendo.
Muitasvezes oeditor defotografia briga,
mas aúltima
palavra
quasenuncaéadele.Z
-Detodasas coberturasquevocê
já fez, quais
foramasque maistemarcaram? ACF- A
cobertura do Césio 137 foimuito
importante, pois
era oinícioda minhacarreira,efoi
no]B,
queabriaportas.Ninguém
sabia direitooqueeraaquilo,
osníveisde
contaminação
quepoderiam
sercausados,
nem mesmo osjornalistas.
Também cobri
alguns
acontecimentosemBrasíliamuitointeressantes,como osbadernaços,
acho queem 1988,queerammanifestações
contraoPlanoCru zadoNovodoSarney.
A constituintetambém foiumaexperiência
muito interessante.
Z- Efotosmarcantes?
ACF- Temumafoto do
badernaço
emBrasíliaqueeugosto muito,foiparaoPrêmio Essoenão
ganhou.
Tambémaquela
fotoqueeuchamei de "Brincadeirade
Guerra",
dascrianças
brincandocomcartuchosdemunição
escrevendoTC(Terceiro Comando).
Foi muitoimpressionante
para mim. Temumafoto que eufiznaÍndia,
aquela
docoração.
Elajá
foiatrêsleilõese nuncafoipublicada.
Eununcapubliquei
nenhuma de minhas fotos daÍndia,
apesarteridoemumaparceria
com aFolha.Euatéestoupreparando
umaexposição
individualcom essasfotos,
noprimeiro
semestrede2008,mas nuncapubliquei
nenhuma de las.Z - 'E você tem
algum
outroprojeto
deviagem,
defotografar
outrolugar?
ACF- Eutenho
muitavontade de
fotografar
oslençóis
maranhenses, gostaria
devivernaAmazônia
algum
tempo,sefossepossível
vivernumatribodeíndios,
fazerum trabalhocomíndioséumacoisa queeugostaria
muito,mesmo.A Amazôniaéumacoisa quemefascina,
osíndios também.Eugostodesaircom umacâmerafotografando
aspessoasnoBrasil,
e eutenhomuitavontade de fazerisso,andarpor aípelo
Brasil.Z - Mas você
já
pensou emlargar
o hard news, ofotojornalismo
diário?
ACF- Eutôficando
meio velha
já
prohardnews(risos)
... Assim,euestoupassandoporumafasenaFolha queeu
já
estounaturalmentesaindoumpoucodo hard news, do dia-a-diamesmo,
já
élimacoisa natural que está acontecendo. Eles acabaram decontratarumoutro
fotógrafo
mais pra issotambém,
porqueeu nunca
podia
viajar
porquesó tinhaeu noRio. PrametirardoRio tinhaque viralguém
deSãoPaulo,
então sempre acabava sendoumaoperação
complicada,
e quemefezviajar
pouco naFolha,
éumalogística
muitocomplicada.
Então,eusei queohardnewsvicia,éaquela
adrenalina,
mas euachoqueocaminho natural também é irumpoucomais praoutros
projetos
maiores,
viagens
eirlargando
umpoucoohardnews.nãoentra.O Riode
Janeiro
é consideradoemqualquer lugar
domundouma zonadeguerra,pela
imprensa mundial,
pelas
associações
dejornalistas.
Es ses cursosqueagentefazécursopra quem trabalhaem zonadeconflito,
ouseja,
zonas deguerra mesmo. Tanto queesse curso queeu fiz foi dado por umacapitã
do exército britânicoquejá
tinha estadoemguerra.Apartemaisinteressantequeeuachei foiade
primeiros
socorros,porquearealidade deleséumpoucodiferente.Mesmonumaguerraeu achoque não é tão
perigoso,
porque esses soldadossão
completamente
loucos, muitas vezesdrogados,
emuitasvezes com armasquenem a
polícia
tem.São muitojovens,
são muitoloucos,
émuitoperigoso.
Eujá
acheiocontrário,já
achei queumafoto valia esserisco,hoje
nãoachomais. Hápouco tempo naVilaCruzeiro, aconteceude elesatirarememcima dos
fotógrafos.
Eu,sinceramente,nuncatinha vistoisso. Aimprensasempreerachamadanasfavelas,
quando
acoisaesquentava pro ladodeles,
eles chamavam aimprensa prasertestemunha,
para meioqueestardoladodeles,dacomunidade.
Hoje
emdia,
depois
damortedo TimLopes,
aimprensavirouvilã. Z-Apesar de,
comovocêfalou,
termuitaadrenalina,
nãotemum momento quecansadormirpoucoemvários dias
seguidos?
ACF
-Sim, e omaisgrave é que
chega
um momentodedúvida,
àsvezes eu meperguntava,porexemplo, quando
iabater fotoda guerrado tráficonoRio deJaneiro,
se eunãoestavaaliexplorando aquela
situação...Eraumacoisamuito
frustrante,
e eu me sentiamuitas vezes meaproveitando
alidaquela
situação que eu não
vejo solução,
é umacoisa depolícia,
é umasituação
política,
e queenvolve corrupçãopolicial,
tráfico dedrogas,
baixíssimossalários de
policiais,
sabe... Aí, você ta ali porquevaiganhar
umaboafoto,
porque envolve um
prêmio
...Acho que àsvezes eu me sinto um pouco explorando
asituação,
epra que, pralevarumtiroqualquer
horadessa.Eujá
achoque nãomeinteressamaisumafotoassim,maisumacriança,maisumfuzil... Podeserque
algum
diaseja
umagrande
foto,
dêumprêmio
Esso,mas eujá
nãovejo
maistantofascínionisso.Z- Houve
uma
campanha
muitogrande
da TVGlobodepois
damortedoTimLopes,masvocê achaquefoiisso quefezcomquea
população
dafavelamudasseessavisãodos
jornalistas?
ACF- Eu não seise apopulação,
eles sãomuitoslegais
com agente.Ontemmesmo euvina
televisão,
teveumtiroteioe osjornalistas
entraramnacasademoradores.
Sempre
queeu vou fazermatérias que nãoenvolvam bandidos,
aspessoas são muitolegais.
Mascomo quemmandaéotráfico,
muitasvezeselesmandamatirar,ameaçamos
moradores,
elessãoopoder
dentro dafavela.Então,elesé que nãogostamde
jornalistas.
Tambéméumaforma de elesmostrarempoder.
Z- Você falou
quevocês fazemcurso naFolha dezonadeguerra, têm que usarcoletes àprovade balas...
Então,
euqueria
quevocê falassedaescaladadaviolênciano
R),
já
quevocê disse tambémquehoje
emdiaos
jornalistas
são tãoinimigos
quantoapolícia.
ACF- Eu
acho que
depois
damortedo TimLopes
ficou muitoperigoso.
Osjornalistas
são vistos comoinimigos
tantoquanto apolícia,
o alvo deles é apolícia
e osjornalistas,
eles botaram tudo no mesmo saco.Eu nãosou afavor do queoTim
Lopes fez,
euachoquefoiumaloucura. Entrarcom umacâmera escondidaprafilmarumaáreaquea
polícia
nãoentra,queoEstadoPor Lucas
Sampaio
Colaborado deFelipe
Flores Z - Você falou deprêmios.
Vocêjá
foi indicada a umprêmio
Esso,
ganhou
duasvezes oprêmio Folha,
em2000e2002,
eteveuma
menção
honrosaem umprêmio
daONU. ACF-É,
foiumvazamentodeóleo naBaíade Guanabaraem2000. Esse trabalho também me marcoubastante,
porque foi um desastreecológico
enorme,eeuachoque pornegligência
daPetrobrás.Euconvivi muitoalicom os
pescadores,
que foramosmaioresprejudicados.
Foium trabalho interessante, que eugostei
muito defazer,
mas quetambémfoimuitotriste.
Z- Você
já chegou
a umasituação
emque pensouque iamorrer?Uma
situação
demuito riscoemque nãosabiao quefazer? ACF- Teve
umdiaqueeuentreinaVilaCruzeiro,odiaemque ati raram nos
fotógrafos.
Mas opior
équando
está tudovazio,quando
você nãoouve
nada,
porqueos morrossão muitoabertos.O quepode
aconteceréoque
pode
acontecercom ocidadão comum,umabalaperdida
vindo denão sei aonde... O Rio deJaneiro
é umacidadeemguerra, entãoomedo fazparte.Mas ébomtermedo
também,
porque vocêficaumpouco maiscuidadoso.Z
-Uma das suas fotos que mais
impressiona
é a do assalto noUnibanco. Pelo momento, vocêtira muito deperto afoto,
eatéo
próprio
assaltante ficaassustado,
a armadelenãoapontanempro refém nem pra
ninguém
e ele olhafixamente paraafoto,
achoquenemele esperava,você disse que vocêentrounaagência
...ACF:
É,
eu estavapassando
eviacena,equando
eucheguei
apolícia
estava
chegando,
e euaproveitei
ahoraqueaquele policial
entrou(oqueestavasem
camisa)
eentreijunto,
ele tirouacamisa pramostrarprocaraqueeleestavaentrandosemarma, parao caranãoseassustar, eali naconfusãoeuentrei pra tirarafotoe
fiquei
bem nocantinho,
escondidinha,
achoqueelenemmeviu...É,
parece
pela
fotoque elemeviu,parece queeleestá olhando pramim,mas eunão sei...
Z- Mas o seu
perfil
é de não ter muito medo. Vocêchega
apararpara pensarem
alguma
situação
dessaouvocêsimples
mente
fotografa?
ACF
-Teveumdiaqueeu
fiquei
commedo. Foiumcasal quemorreueletrocutado na
Rocinha,
acho que elesestavam num poste. Omotorista entrou
pela
Rocinha,
aoinvés de ir porfora.Daqui
apouco,o carrofoi cercadoe uns carasdepretodacabeça
aospés
começaram abaternocapô,
em ummomentoagentechegou
aacharqueera apolícia,
oBOPE,mas eramtraficantes.Aquele
diaeufiquei
assustada,
porqueeunão entrei
preparada
paraisso,fui láparafotografar
umcasal que tinhamorrido eletrocutado.Eu falei que vinha
fotografar
ocasal
eletrocutado,
eeles diziam "não andaaqui
com esse carrodereportagem...
"
Isso tem um ano epouco. Eu e o motoristaficamos muitoassustados.
Z- Masnahora você
não pensou queele
poderia
se assustaredarumtiroem
você,
porexemplo?
ACF- Confesso
que não.Confessoque não
pensei
nisso. Z- Você falou dasua rotinae falou que é
pautada.
Maspelo
que a gente vê das suasfotos,
a maioria énão-pautada,
ou se sãopautadas,
sãodeumaelaboração
muito maior queasconvencionais,
até
pelo
tempo que você temparafotografar.
E você faloumuito napalestra
sobre o fatorsorte.Você achamesmoque ésorte ter tantasfotosedetanta
qualidade?
ACF
-É,
euestousempreligada, esperando alguma
coisa.Sempre
com umamaquininha portátil
dentro deumabolsa, esperando
aconteceralguma
coisa. Nuncaaconteceu, deeuestarde bobeira...É
essacoisadeestarpreparado,
edetermuitoamor
pela profissão também,
devestiracamisadaFolha,
deestarali.
Porque
écomplicado,
àsvezes4 damanhã você vai para não seiaonde,
àsvezes
6,
7 damanhã debaixodechuva,
desol,
semcomer, édesgastante.
Maseuacho que éisso,ésempreestar
esperando,
sempreatentorealmente,
captarou ser
captada pela
foto.Z- Sevocêpensasse,hesitaria? ACF- Acho
quenão,porqueeusempre fuimeiokamikazemesmo,talvezpor isso
seja
hora de parar, porqueeusempre fui consideradameiolouca deentrarnos
lugares,
emtiroteio,esempregostei.
Averdadeé queeugostava dessaadrenalina.Não seiseissoéumacoisasaudável. Z- E
ahistória doenterrodaElzaGomes? ACF
-Eu era
estagiária
doGlobo. Eu estavacom oChiquito
Chaves no enterro daatrizElzaGomes. O cemitérioestava lotado e o
Chiquito
ficou emcimadeum muro,
esperando
ocaixãochegar,
e memandouesperarondeocorpo seriaenterrado. Haviaumamultidãoemcimados túmulosao ladoe,
derepente,umdeles cedeueváriaspessoascaíramdentrodeuma
sepultura.
Aíeufizafoto.As pessoasestavam
esperando,
muitocalor,
daídaqui
apoucoquebrou
umadaquelas lápides,
e aspessoascaindocom apernapracima,e eufotografando
(risos)
...Mas foiaminhaprimeira
página
davida.Z
-Qual
arecomendação
que você dápra quem é estudante dejor
nalismo,
praquem querfazerjornalismo
eprincipalmente
praquemgostade
fotografia
equerseguir
nessaárea?ACF- Eu
acho quetemque
fotografar bastante,
experimentar,
fotografar
com ocoração
mesmo, com aalma,
e tem que gostarmuito. Pra quererseguirumacarreira,fazer dissoa sua
vida,
éumacoisa muitodepaixão.
Nadaimpede depois
tambémqueapessoapasse praoutraárea,
publicidade,
cinema,nãosei,maspraterumacarreira
longa
é necessáriaessapaixão,
porqueemDiadasMães,dosPais,
Natal,
AnoNovo,
muitasvezes eu nãotava,euperdi
muitacoisa,muitosaniversários de família.
[semana
do
jornalismo]
Uma
trajetória
de
sucesso
De
Veja
a
Piauí,
Daniela Pinheiro
conta
como
cada
veículo
contribuiu para
seu
crescimento
profissional
"N0SSa,
masvocês estãotomandournchá decadeira",
disse Daniela Pinheiroquan-doentrounohall da Pousada dos Cháseencontrouos
repórteres
doZero assis tindoa]Vacabo. DanielaveiodoRio deJaneiro
paraFlorianópolis
comopalestrante
daVISemanade
Jornalismo
daUFSC(UniversidadeFederal deSantaCatarina)
epor todosaqueles
motivosconhecidos,
seuvôoatrasou.Percorrerosquilômetros
que separamoaeroportoHera1ioLuzda tal
pousada,
queficaemJurerê
- noNorteda Ilha-,também
tomouurnbomtempoe,além
disso,
ajornalista
tinhaurnareportagemparaterminarao
longo
danoite.Apesar
doscontratemposedocansaço,Daniela foiextremamente
simpática.
Brasilienseformadaem
jornalismo pela
UNE(Universidade
deBrasília),
Daniela Pinheirojá
trabalhounasucursal da Folha deSão Paulona suacidadenatal,
ondeficouporquatroanoscobrindopolí
tica,na
época
dosgovernos Itamar FrancoeFernandoHenrique
Car doso.Foitambém,
pordezanos,jornalista
da revistaVeja,
emBrasília,
São
Paulo,
e,porúltimo,
RiodeJaneiro.
No começode2oo7largou
aVeja
parasetomarrepórter
darevistaPiauí, projeto
criadopornomes comoJoão
MoreiraSalleseMário SáCorreia.lugar
navidaadulta,
quando
vocêjá
temexperiência,
já
temumestilo.Z - Não
querendo
acharqueaVeja
éodemônio dojornalismo,
masalguns
jornalistas
quetrabalharampoucosmeses narevistadizemquetinhamdificuldades atépracontatar
fontes, quando
seidentificavamcomorepórteres
daVeja.
Vocêjá
passou por isso?DP- Nunca.Mirilladificuldade foi
quando
eusaíefui paraoJornal
do Brasilem lli11aépoca
emque eleestavatotalmente falido.
Ninguém
queria
falarcomo]B,
euligava
eficavaesperando
três horasparafalarcom umapessoa.As pessoas queremfalarcom a
Veja
porqueaVeja
éaVeja.
Z- E
comofoiessa
experiência
noJornal
do Bra-i1�s .
DP
-OMário
Sérgio
Conti[que
eradiretor deredação
da
Veja]
foi chamadoparareformular0]B.
Elechamouuma
galera,
todos damesmageração.
TIrouumasdezpessoasda
Veja. Largamos
tudoemSãoPauloemudou todo mundopro Rio. Durouquatromeses[risos].
ZERO- Umavezvocê
publicou
duas matériasna mesmaedição
daVeja,
umasobregayse umasobre embaixadasemBra silia. Comofoiisso?DanielaPinheiro-Essasmatérias nãoforam feitasno mesmomês.
Essasobregays
já
estavahátrêsmeses nagaveta,era umadaquelas
matériasque demorampra
soltar,
quesó vaiquando
nãotemnenhumanotícia.Aoutranão,essada
diplomacia
erabemquente.Sobreasembaixadasem
Brasília,
algumas
nãotinhamnada prafazer,
tipo
aembaixadado
Egito,
aíaspessoas chamavam deaembaixada doagito
[risos].
Eraumpoucoisso,vercomo era arotinadesse povo quevaimorar emBrasília.Z- Você trabalhouna
Veja
durantedez anos,masexistemváriosjornalistas
quetrabalham lápor muito poucotempoedizemque nãoagiientaram,
queaspautasvêmcom umateseprontaque
precisa
sercomprovada.
DP- Eu nãoacho
que
seja verdade,
achoqueaVeja
éamelhor escolapara começaratrabalhar. Trabalheiquatroanos naFolha
[de
SãoPaulo]
antesdeirpraVeja.
AFolha tambémera umaótimaescola,
masédiferente.
Eu seiquegostomaisderevista,meutextoéderevistas.Osanosda Folhaforam maravilhosos.Eucobria
jornalismo político,
congresso,depois
opalácio
doplanalto
naépoca
doItamar[Franco]
etambém doFer nandoHenrique
Cardoso.É importante
começaremjornal,
terhoraparafechar,
por que àsvezes narevistavocêperde
umpoucoisso. ParamimaVeja
éamaiorescolaquetemparaser
jornalista,
porquelátemhierarquia,
queumjornalista
temqueter.Umaestru turaeditorial,
você éorepórter,
mastambémtemoeditor,
oeditorexecutivo,odiretor deredação,
todospensando
naquilo
quevocê vaifazer.Issoéótimo,
terumadireção,
enão quetenhapauta pronta.Agora,
dizer quechega
láeésurpreendido pela
notíciaetemqueignorar
porquetuapautaé outra? Isso não existe. Outra coisa quetemnaVeja
éprecisão
deinformação,
aprecisão
lá éumacoisaabsurda.AVeja
e aPiauísão,hoje,
asduasúnicasrevistas
[no Brasil]
quetemchecagem.
Acabei de fecharurnamatériaetemumapessoa que vaificar batendo
informação
porinformação.
É
muitodifícilterum erro naVeja. É
muitodifícilterum erro naPiauí.Z- Você falou
quea
Veja
é boa porterumahierarquia
forte.Issoémaisou menos oopostodavisão quesetemdaPiauí,
deser umapublicação
maisanárquica,
comodisseoMarcosSá Correia(editor
daPiauí),
DP-Eu nãoacho
aPiauí
anárquica,
elatemumahierarquia,
masmuito maisdiluída. AgentetemsóLUllchefe,
queéoMárioSérgio
Conti,diretor deredação.
Eleé quemsabetudooque vaiternarevista.Sevocê falaque nãotemisso,éurnaloucura.Todo mundo vailáetrabalha todo dia.O que nãotemsãoessasamarras, por
exemplo,
reuniãodepauta.Nãotêmdezpessoas mexendono seutexto,porqueaspessoas que estão lá
já
quasetêmumtextoqueagentechamade final. Achoquea
diferença
éassim,hoje, depois
dequatroanos na
Folha,
dezanosdeVeja
eagora háumano naPiauí:aVeja
éumagrande
escola,
todo mundodeviatrabalhar
lá,
concordeounão, gosteounãodoqueelesescrevem,dasposturasedoscolunistas queelestêm.
Agora, você,
comojornalista, poder
escrever umamatériana
Veja,
umacapa,quevaiserlida por 100milhõesde pessoas, isso nãotempreço. Ea
Veja
sabe fazerreportagem.O maiorrepórter
depolítica
pra mimhoje
éoPoli carpoJr.,LUll caraque estánaVeja
há20anos.Euacho queaVeja
vira,nafaculdade,
tipo
umaRússianaguerrafria,
sabe,
temosque combater...bobagem.
AVeja
pratrabalhar éum
lugar
muitobom.Maseuqueria
outracoisa. NaVeja
vocêlêarevista inteiraeacha que éamesmapessoa queescreveu.Látemumafórmula de texto,epra mimeramuito interessantepoder
escrevermaislivremente,
que éo casodaPiauí,
umtextomaisautoral,
que éatuacara.EaPiauítempautasque não interessariamnaVeja.
Seforprafazerumamá
comparação,
eudiriaqueaVeja
éumótimolugar
natenraidadee aPiauílunótimoZ
-O que aconteceu? DP- Nãodeucerto.
As pessoas queestavamnocomando
do
jornal
...nãodeucerto.Ficoutodo mundonoRiodeJaneiro
sevirando.EudeisortedequeaVeja
mechamoudenovo.Só que aí praficarnoRio. Foi
quando
comeceiafazersó matériasdecomportamento.SãoPauloé mais
variado,
tempolítica,
economia, comportamento.EmBrasíliasópolítica.
Norio,sócomportamento.
Z
-Jornalismo
decomportamentoéumaáreasensível detrabalhar.DP
-É,
temumatênuelinha paraumamatéria nãoficarbrega.
Matériadecomportamentoéfácildeficar
óbvia, lugar
comum.Nãoéfácil de fazer. Z- Você édaprimeira equipe
derepórteres
daÉpoca.
Comoéaexperiência
defundarumarevista? DP
-Eu não senti isso porqueeuestavaemBrasilia.
Quem
teveessaexperiência
équemestavaemSão
Paulo,
ondeaconteceuafundação.
Eu sinto issonaPiauí,
apesardejá
terentrado láquatromeses
depois
quearevistaestavanabanca.Z- Sobre
o seuprocessode
apuração.
Você anota? Usagravador?
DP
-Anototudo.Não gravo. Eugravoassim,por
exemplo,
eufuientrevistaroSérgio
Cabral
[governador
doRJ]
ontem,paraessamatéria daColômbiaqueestoufazendo.Aí você grava, porquesevaiumafrase erradado cara, dáurnamerda.Normalmentenão gravo, porqueachoquelunahoraoentrevistadoesquece dogravador,
masdemora.O riscodenão gravar é quedepois
ésuapalavra
contraadafonte.Seela diz 'eunãofalei,
eunão
falei',
comoé quefaz?Entãoeuachoque ébom gravar,equando
estivergravando
temque avisar.
Z- Sobre
as
grifes
quevocê àsvezescitaemtextos,vocêtentarepararouperguntaparaa
pessoa?
DP
-Eu reparoecoloconotexto.
Porque
esseéumassuntoquemeinteressa. Não que eu use marca nemnada.MasnaVeja
eufaziamuitamatéria de"peruagem".
Aprimeira
capa da Daslú daVeja
quemfez fuieu,em1996
ou97.Tenhomuitafonte perua.Sabe,
mulher desociedade.Z
-Que
entendemtudo de marca? DP-Não. Perua mesmo,
socialite,
quevailáepassaumafofoca.Aúltimavezquepreci
sei,foinamatéria da balada
[Como
sejogar
nabalada].
Consultei váriasperuas paramedaremdicas de ondeir. Não iaa umaboate achoquedesde
1994 [risos].
Precisavasaber ondeera.Euentendo doqueéa"peruagem",
damarca.Se isso énecessário,
àsvezesé. Se você estáfalando dedinheiro,
falarqueo caraestácom umrelógio Búlgari.
Outrasvezesnão,fazendoumamatériado
Maluf,
óbvioqueele estácom umrelógio
caro,diferenteseriasetivessecom um
Swatch,
porque obviamente elevaiestarcom umBúlgari.
Z- O
que vocêtem
lido,
dejornais
eliteratura?DP- Euleiomuita
coisa,procuroler literatura. Desde queentreina
Piauí,
estoulendo muitoaqueles
livros dacoleção
dejornalismo
narrativo daCiadasLetras. Esteslivros doGay
Talese,
todos que forampublicados.
[guerra]
dosupostoDossíê
Cuiabá,
aPolíciaFe deralquebrou
osigilo
dedois telefonesdo
jornal
Folha deS.PauloemBrasilia.Os
policiais alegaram
que nãoimagina
vamsetratardenúmeros de
jornalistas.
Enquanto
naRússia,
informações
sobreações
terroristassópodem
serdivulga
dascom aformae otamanho ditados
pelo
Centro deOperações
Antiterroristas. Emjunho
de2006,
opresidente
VladimirPutinaprovou emendas que
penni
tem
punir
atéjornalistas
quecritiquem
políticos.
Jornais
e revistas receberam 32 advertênciasaté agora.Já
noChade,
com opretexto
de colocar fimàviolênciaentreárabese
não-árabes,
ogovernochegou
aimplantar,
no anopassado,
a censuraprévia
nosjornais
eproibiu
asrádios
privadas
decobrirtemaspolêmi
cos.
Os
"países
desenvolvidos" também sãoparticipantes
nessa ameaça. Em2005,ogoverno da Grã-bretanhaame
açouprocessar
jornais
quepublicassem
ummemorandorestritocom adescri
ção
das discussões entre opresidente
dos
EUA, George
WBush,
e oprimeiro
ministro,Tony Blair,
paraatacararedede televisão
Al-Jazeera.
Na Irlanda doNorte,um
projeto
emdiscussãonoparlamento reduzas
exigências
para apreender documentos de
suspeitos,
seria para acelerarinvestigações
de grupos terroristas.Depois
de mostrar que o governodinamarquês
sustentou com provasfrágeis
oapoio
à invasãodoIraque,
em2003, dois
jornalistas
precisaram
enfrentarostribunaisem2006.Os
repór
teresforam acusados de
publicar
informações
obtidasilegalmente.
Ajustiça
osinocentou. Eogovernosuecoanunciou paraesteano umaleiqueautorizaráo
monitoramentodas chamadase comu
nicações
internacionais.Na
França,
policiais
revistaram aredação
dojornal
Midi Iibreemjulho
doano
passado
nabuscadeumrelató rioconfidencial do TribunalRegional
deContas,
quefoiabaseparareportagens sobre o governonaregião
deLangue
doc-Roussillon. Autoridades abriram processocontratrêsjornalistas
dapubli
cação
porviolação
desegredo
deJustiça.
Eogoverno da Itáliapropôs,
emprojeto
apresentado
no anopassado,
umamuItade quase
US$
77 milparajornalistas
que
publicarem informações
obtidasporescutastelefônicassecretasda
polícia.
Oartigo
19daDeclaração
Universal dosDireitos Humanos garantealiberdade para
"procurar,
receberedivulgar
informações
eidéias através dequalquer
mídia,
semlevaremcontafronteiras". Os26jornalistas desaparecidos
no mundo desde
1994,
os134jornalistas
presos no mundosegundo
levantamento de2006e os 124
jornalistas
assassinados sónoIraque
desdeoiníciodo conflitoem2003mostramqueesse
direito, pelo
menospOI'enquanto,está sónopapel.
Por
Thiago
SantaellaQual
o
alvo,
terroristas
ou
jornalistas?
Desde
a
queda
das torres
gêmeas,
o
combate
ao
terrorismo aumenta
a
vigilância
e
as
tentativas
de
controle
da
mídia
A
guerraaoterrorismocadav�z
maisr\parece
umaguerraaosreporteres.É
oquefala DinahPoKempner,
conselheira
geral
daONG HumanRights
Watch: "Nósestamosvivendoem uma era emque aliberdadedeexpressão
é essencial para a sobrivívência dos nossos valores mais
apreciados,
eaindaassimelaestá
ameaçada
como nunca. Estaé a era do terrorismo edocontraterrorismo. E hámomentos
emque édifícildizer
qual
fenômeno émaisassustador".Já
existiamtentativasde limitara
expressão,
mas es sas seaceleraram consideravelmentedesdeodianovede setembro de
2001,
com o início daguerracontrao terrorismo.
Em uma guerra em que o alvo é
uma nuvem de
fumaça, qualquer
umque estiver dentro da neblina acaba sendo
atingido.
Desde abril de2006,
oiraquiano
Bilal Hussein,fotógrafo
daagência
Associated Press, é mantido presopelo
exército americanosemquehaja qualquer
acusação
contraele. Os militaresoacusam, de maneiravagae semprovas,depossuir
ligações
cominsurgentesno
país.
Dados doComitêparaa
Proteção
deJornalistas (CPJ)
mostramque
quinze
por cento dosjornalistas
presosnomundoassimestãosemqueexistam
acusações
contraelesemuitomenos
condenações
por processosjudi
ciais.Pelomenosoutrosoito
jornalistas
iraquianos
foram detidossemacusações
eliberadosmesesdepois.
Não é sóoexército americano que
não atuade maneiraclarapara com a
imprensa
e com opúblico.
Omesmoacontececom ogovernodo
país.
Eesseclima de
conspiração,
de cadavezmaissegredos
deestado,
foitemadeumartigo
intitulado
"Quando
nóspublicamos
umsegredo?"
eco-assinadopelo
editor chefe doNewYork
Times,
BillKeller,
epelo
editordo TheLos
Angeles
Times, DeanBaquet.
Kellerconta que "as escolhasestão mais
complicadas
porque o inimigo
do Estadonãoébemdefinido,
não existem linhasinimigas
demarcadase amaiorpartedaguerraaconteceatrás deumacortinadesegredos
emambos oslados". Eleexplica
quenessemundode
informação
altamente confidencial "é difícil balancear ambososlados daequação
- osriscos à segurança nacio nale asameaças àsliberdadescivis".
O
jornalista
MaxFrankel,
do TheTimes,contaquenaregrade
"relações
maduras" com a
imprensa
o governoescondeoque
pode, alegando
essa necessidadeomaiortempoqueeleconse
gue,e a
imprensa
publica
tudo que elapode, alegando
anecessidadee odireitodo
público
saber,
o interessepúblico.
"Cada lado desse'jogo'
normalmenteperde
umarodadaouduas.Ecadaumlutacom as armasquetem.
Quando
ogoverno
perde
umsegredo
oudois,
elesimplesmente
seajusta
a essanovarealidade".
Porém,
o lado dos governosanda roubandono
jogo.
NosEstados
Unidos,
quetemcomo umdosprincipais
pontosdesuaconstituição
aliberdadedeimprensa,
tribunais têm mandadoparaacadeiajornalistas
quese recusam arevelaraidentidade de
fontesde
informações
secretas. Emju
nho de2006,
oDepartamento
deJustiçainsistiunousodeleis para
vigiar
telefonemas- comordens
judiciais
-eproces sarquem
publique segredos
de Estado.Oumrelatórioconfidencialdeum
ex-juiz
revelaqueo
serviço
secretoalemãoespionou
jornalistas
de formailegal
durantemaisdeumadécada.O
serviço
secretotambém pagou
jornalistas
paraterespiões
dentro dasredações
dosjornais.
Oobjetivo
eraidentificarosinformantes dosrepórteres.
Ficou mais fácil se comunicarna era
digital, porém,
agora também émais
simples
rastrearquemestácomu-'"
NOS COLOCAMOS
A
LlBt;RO
AOt; Ot;
IMPRt;NSA
t;M UM
LU6AR
St;6URO,.,
PARA
PROTt;6�-LA
OOS
AT
A�Ut;S
Tt;RROR1ST
AS!
nicando.
É
possível
conseguir
alocalização
dequem estiverusandoumcelularpara fazer
chamadas,
gravar e-mails enviadoserecebidos,
páginas
desitesvisitadas.Essesdados
gravados
podem
revelartantoasfontes
quanto
qual
seráopróximo
assuntoparaumareportagemdeum
repórter.
Aempresa Yahoo!revelouoe-maile as
informações
de usuário dojornalista
ShiTaoaogovernochinês.Issoolevoua umasentençade dezanos
de
prisão
emmarçodesteano.AChinaéo
país
com omaiornúmero de
jornalistas
presos nomundo,
31casos. A
condição
derepórteres
c autoresdeinternet
(blogs
esites)
- todosaqueles
que criticamogoverno chinês emseusváriosníveis,
lançam
investiga
ções
sobreos acontecimentosmais importanteseassumemo
papel
dereportarde verdade- émotivode
preocupação.
Zhang Jianhong
escreveu comentáriosonline
pedindo
uma reformapolítica
parao
país.
Doisdiasdepois
ele foi presoaopostarum
artigo
citando críticasin ternacionaissobreafalta derespeito
aosdireitos humanosnaChina.A
acusação:
"incitação
parasubverter aautoridadeestatal"- no
mundo,
63%
dosjornalis
taspresos estãoencarcerados soba mes ma
acusação.
Suasentença:seisanosdeI
I,
4I'
1
�I'
.:;.. <:::. I ;:> '-.06
'.,.'
" '.,ZERO
" , . --",.:.
- :.. " --.DEZEMBRO
-200i'
L
mesmo ocorreu naHolanda
quando
osjornalistas
Bart MoseJoostdeHaas,doDe
Telegraaf,
ficaram presospor cinco diasao senegaremarevelarsuasfontes.Eles
investigaram
o casodeumpolicial
suspeito
deprestarinformações sigilosas
acriminosos, A
agência
de segurançaconseguiu autorização
judicial
para fazer aescutados telefones dos
repórteres,
sem, noentanto,obterasinformações
que
desejava.
Fontes confidencias são a susten
tação
de muitos dos trabalhos dosrepórteres.
Aproteção
defontesédefinidapela
CorteEuropéia
de DireitosHumanos como "uma das
condições
básicas paraaliberdade deimprensa",
Mas avigilância
em nomeda segurançaestá minandoessedireito essencial dosjor
nalistasemvários
países,
NaAlemanha,
prisão,
Foiessa mesmasentençaque Gao
Yu, umadas
jornalistas
chinesasmaisfamosas,
recebeu em novembro de1994,
mas por "fornecerinformações
sigilosas
parainstituições
de fora das fronteiras dopaís", Informações
quejá
haviam sidopublicadas
antesdasmaté riasdarepórter
poroutrosjornais
quenãosofreram
quaisquer represálias.
Elaexplica
quea"Chinanãotemnenhum espaço paraojornalismo
independente
(que
nãoéfeitopelo
PartidoComunista),
oficialmente aindaéproibido
até que sitespubliquem
notícias,Aimpren
sa
independente
écapazapenasdepro duzir coberturas limitadas",Tentativasde cerceamento àliber dade de
imprensa
aparecememtodoomundo.Na