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Rede de assistência aos moradores de rua de Itapetininga

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE GESTÃO E ECONOMIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL

DANIELLY APARECIDA CAMARGO DA SILVA GEHRING CARDOSO

REDE DE ASSISTÊNCIA AOS MORADORES DE RUA NA CIDADE DE

ITAPETININGA/SP

MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO

CURITIBA - PR

2018

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DANIELLY APARECIDA CAMARGO DA SILVA GEHRING CARDOSO

Rede de assistência aos moradores de rua na cidade de Itapetininga/SP:

Monografia de Especialização apresentada ao Departamento Acadêmico de Itapetininga, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná como requisito parcial para obtenção do título de

“Especialista em Gestão Pública Municipal” - Orientadora: Profa. Dra. Isaura Alberton Lima

CURITIBA - PR 2018

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DEDICATÓRIA Ao meu marido Silas e meu filho Ruy, que sempre estão ao meu lado incentivando o meu aperfeiçoamento e colaborando nas minhas conquistas. Aos meus avós analfabetos (in

memoriam) que souberam ensinar o valor do estudo e da honestidade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter permitido nascer em um país livre que incentiva o aprimoramento por meio da educação.

Agradeço a todos os alunos da minha turma, coordenadores e professores, em especial à tutora Solange Costa pelo carinho e dedicação.

Agradeço à minha orientadora, que muito me ensinou e apoiou abraçando meu tema e direcionando meu trabalho.

Agradeço também à minha família pela paciência e compreensão pelas ausências nos momentos de estudo.

Finalmente agradeço aos entrevistados que dedicaram uma parcela de seu tempo para colaborar no presente trabalho.

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RESUMO

CARDOSO, Danielly A C S G. Rede de Assistência aos moradores de rua de Itapetininga. 2018. 117 f. Monografia (Especialização em Gestão Pública Municipal) – Programa de PósGraduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curitiba, 2018

Esta pesquisa documental e ação têm como escopo apresentar o funcionamento da rede de cooperação do Município de Itapetininga no atendimento e atenção aos moradores de rua que vivem nessa localidade, na dupla visão da pesquisadora, que também participa como voluntária em um grupo de apoio emergencial. Expõe a evolução gradativa da legislação, superando conceitos ultrapassados e buscando o resgate da dignidade humana, complementada, em constante processo de adaptação, por portarias e resoluções do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O foco do trabalho é a descrição das possibilidades de abrandar o problema em um grupo específico de moradores de rua, cuja avaliação permitiu o levantamento das características básicas. Para demonstrar como são os procedimentos nesse município, foram realizadas entrevistas estruturadas nos órgãos municipais que têm entre suas atribuições legais o atendimento aos moradores de rua, bem como junto a outros setores públicos que, por suas funções, também estão ligados ao assunto. Posteriormente, as instituições não governamentais foram procuradas para entrevistas, no intuito de conhecer o método e abrangência do seu trabalho, além de seu acesso às redes disponíveis no município, na busca de praticidade no atendimento às pessoas em situação de rua. Para conhecimento dessa rede de atendimento, foram realizadas entrevistas in loco com os beneficiários, no intuito de obter informações principalmente do acesso à mesma. Ao finalizar o trabalho, com a codificação das informações, objetivando o conhecimento das condições existentes, a avaliação leva, entre outras, à conclusão do cumprimento apenas parcial de algumas politicas públicas, e a dificuldade de integração entre os diferentes setores. A partir dessa conclusão, são apresentas propostas para melhor aproveitamento do sistema disponível no município, na integração das redes públicas e privada, buscando a eficiência necessária no atendimento ao segmento objeto deste trabalho.

Palavras-chave: Moradores em situação de rua: Legislação e Integração

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ABSTRACT

CARDOSO, Danielly A C S G. Rede de Assistência aos moradores de rua de Itapetininga. 2018. 117 f. Monografia (Especialização em Gestão Pública Municipal) – Programa de PósGraduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curitiba, 2018

This documentary research and action has as scope to present the operation of the cooperation network of the Municipality of Itapetininga in the care and attention to the street dwellers that live in that locality, in the double vision of the researcher, who also participates as a volunteer in an emergency support group. It exposes the gradual evolution of legislation, overcoming outdated concepts and seeking the rescue of human dignity, complemented, in a constant process of adaptation, by ordinances and resolutions of the Ministry of Social Development and Fight against Hunger. The focus of the work is the description of the possibilities of slowing

the problem a specific group of street dwellers, whose evaluation allowed the basic

characteristics to be surveyed. In order to demonstrate how the procedures are in this municipality, structured interviews have been carried out in municipal bodies that have among their legal duties the assistance to the homeless, as well as other public sectors that, by their functions, are also related to the subject. Subsequently, the non-governmental institutions have been searched for interviews, in order to know the method and scope of their work, in addition to their access to the available networks in the municipality, in the search for practicality in the care of street people. For the knowledge of this service network, on-site interviews have been conducted with the beneficiaries, in order to obtain information mainly from access to it. At the end of the work, with the codification of information, aiming at the knowledge of the existing conditions, the evaluation leads, among others, to the conclusion of only partial compliance with some public policies, and the difficulty of integration among the different sectors. Based on this conclusion, proposals are presented for a better use of the available system in the municipality, the integration of public and private networks, seeking the necessary efficiency in attending to the segment object of this work.

Key words: Situation of homeless people: Legislation Integration

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

Casa Referência Apoio e Inclusão Social (Casa Rais) Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)

Centro de Referência Especializado para População (Centro POP) Centro de Referencia Especializada de Assistência Social (CREAS) Grupo de Trabalho Interministerial (GTI)

Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) Ministério Público (MP)

Movimento Nacional de População de Rua (MNPR) Norma Operacional Básica (NOB)

Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) Política Nacional de Assistência Social (PNAS) Serviço de Obras Sociais (S.O.S)

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) Unidade Básica de Saúde (UBS)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9 1.1 Tema ... 9 1.2 Problema ... 9 1.3 Justificativa ... 10 1.4 Objetivos ... 10 1.5 Metodologia ... 10 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 12 2.1 Moradores de rua ... 12 2.2 Aplicação da Lei ... 14 2.3 Integração ... 16 3 METODOLOGIA ... 19 3.1 Caracterização da Pesquisa ... 19 3.2 Procedimentos da Pesquisa ... 21

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 23

4.1 Histórico e Legislação ... 23

4.2 Conceito: Moradores de rua ... 27

4.3 Instituições – governamentais e não governamentais ... 29

4.3.1 Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) ... 29

4.3.2 Consultório de Rua ... 30

4.3.3 Serviços de Obras Sociais (S.O.S) ... 32

4.3.4 Casa Referência Apoio e Inclusão Social (Casa Rais) ... 33

4.3.5 Polícia Militar ... 33

4.3.6 Guarda Municipal ... 34

4.3.7 Ministério Público ... 35

4.3.8 Presidente da Câmara Municipal (Gestão 2017/2018) ... 36

4.3.9 Grupo Azul ... 37 4.3.10 Upani ... 38 4.3.11 DeMolay ... 39 4.4 Moradores de rua ... 39 4.5 Proposta ... 40 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 44

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REFERÊNCIAS ... 46 APÊNDICES ... 48 ANEXOS ... 103

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1 INTRODUÇÃO

A pesquisa aborda o panorama da rede de assistência pública aos moradores de rua na cidade de Itapetininga/SP, sua sobrevivência e acesso aos programas governamentais, além do trabalho das entidades não governamentais.

1.1 Tema

O trabalho de pesquisa descreve os serviços governamentais e não governamentais direcionados ao atendimento às pessoas em situação de rua no município de Itapetininga/SP, levando em consideração as leis e normas que tratam da rede de cooperação local na assistência aos vulneráveis nessas condições.

Como o tema aborda a análise de redução de danos com a utilização da rede de cooperação local, importante apresentar um histórico dos tratamentos adotados em períodos distintos, para explicitar que a permanência das pessoas na rua não será abolida com as políticas públicas, por ter um referencial semântico diverso e difícil de ser trabalhado individualmente.

1.2 Problema

A crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos fez aumentar significativamente a população em situação de rua nas cidades de médio e pequeno porte. Problemas apontados com maior frequência nos grandes centros urbanos hoje estão disseminados em municípios menores que não têm condições estruturais e financeiras para amenizar os danos.

O crescente número de delitos; a mendicância; a poluição visual; as doenças infecciosas provocadas pela falta de higiene e a exposição ao deficitário atendimento humanitário, são algumas das consequências sociais provocadas por esse aumento.

Serviços públicos para atender as pessoas em estado de vulnerabilidade existem, porém não atingem satisfatoriamente o público alvo, e em algum momento a teia de atendimento se rompe e a população de rua fica desassistida. Os recursos financeiros, que já eram escassos, definharam nos últimos anos e o pouco que restou é utilizado em programas caros e com diminuto acesso aos assistidos.

Por outro lado, instituições filantrópicas, prestam serviços emergenciais, com recursos financeiros e de pessoal próprio, mas que não são benquistas pelo caráter ilusório que provocam no assistido e pela descontinuidade no atendimento. Ainda assim, o aparato das instituições

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filantrópicas é maior que o do poder público, mas que desordenadamente, não produz resultados satisfatórios que possam gerar segurança à sociedade.

A questão principal é se existe a possibilidade de cooperação do poder público e a comunidade, para amenizar a situação das pessoas em situação de rua?

1.3 Justificativa

O assunto: população de rua em Itapetininga, é sentido na comunidade, pela grande quantidade de marquises ocupadas por objetos utilizados para pernoite e pela quantidade de pedintes nas ruas, principalmente nos centros comerciais.

Porém o tema é tratado com maior ênfase no inverno, quando fica perceptível o sofrimento daqueles que não têm um lar. Nesse período a comunidade presta,

desordenadamente, assistência aos moradores de rua, de forma improvisada e temporária, que não favorece ou soluciona a questão do desabrigado.

Em 2017 vários setores públicos e privados, preocupados com o aumento da população em situação de rua, iniciaram um trabalho de conscientização e cobrança do cumprimento da legislação para o acesso dos moradores de rua, aos programas sociais com envolvimento direto da sociedade civil que já atua no setor.

Com a iniciativa, algumas mudanças foram sugeridas para melhor integração na teia de atendimento aos moradores de rua, inclusive com a reorganização das instituições não governamentais que prestam serviços emergenciais.

1.4 Objetivos

O foco da pesquisa é descrever possibilidades de abrandar, ao menos na estrutura básica, o problema dos moradores de rua da cidade de Itapetininga, usando os recursos físicos e financeiros das entidades filantrópicas e os programas públicos disponíveis no município, em rede de cooperação.

1.5 Metodologia

Foi organizada com a busca de reportagens da imprensa escrita local, participando de reuniões públicas das atividades desenvolvidas no município e seminário que debateu o tema.

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A pesquisa foi realizada através da dupla posição da pesquisadora, que é voluntária em trabalho assistencial aos moradores de rua e averiguou como funciona a rede de cooperação da cidade na aplicação do estabelecido em lei.

Para atribuir intensidades ao trabalho foram realizados estudos em instituições filantrópicas, na maioria ligadas a organizações religiosas que realizam trabalho emergencial e que mantêm contato estreito com a problemática, possui recursos próprios e possuem estrutura de atendimento significativa, além examinar os entes governamentais envolvidos na teia de assistência pública aos vulneráveis em situação de rua, em todas as categorias, como: saúde, segurança pública e assistência social.

Nesta seara, o exame direto com os assistidos foi realizado a fim de buscar informações sobre os programas destinados a eles, quais atingem os objetivos e sobre eventual forma acaciana adotada na cidade.

Após analisar os 33 questionários, as leis e demais procedimentos adotados no município, foi apresentada proposta para maior integração entre a teia de assistência, com o fim de minimizar os problemas enfrentados pelas pessoas em situação de rua.

Por fim, através de análise do conteúdo propõe-se ações de integração entre as redes de cooperação.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As questões relacionadas com moradores de rua são inúmeras e as políticas públicas voltadas ao caso não pretendem extinguir, mas reduzir os danos, por seu perfil semântico diferenciado. Não obstante a eficácia parcial das propostas, encontramos resistência à sua aplicação nos órgãos competentes, o que denota ser um problema de pouco interesse social.

2.1 Moradores de rua

A caracterização das pessoas em situação de rua é difícil pela heterogeneidade, e, por essa razão, é importante apresentar alguns fatores que possa delimitar a população de rua estudada no presente.

Os autores Bulla, Mendes, Prates (2004), apresentam algumas características que diferenciam as pessoas objeto da pesquisa, como por exemplo, o uso de vestimentas sujas e sapatos surrados, mas que carregam alguns pertences que expressam sua individualidade. Parte deles perdeu os vínculos familiares, por problemas como desemprego, violência, morte de algum ente querido, perda de autoestima, uso de substância entorpecente (álcool ou droga), doenças mentais, entre outros fatores. Também é possível encontrar nas ruas aqueles que se aventuram nas grandes cidades em busca de emprego ou algum familiar, e não o conseguindo, abrigam-se nas ruas. Outros ainda, têm residência mas permanecem nas ruas para trabalhar (coleta de matérias recicláveis ou flanelinhas) ou mendigar.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, através da Lei nº. 7053/09, conceitua a população em situação de rua no Parágrafo Único do art. 1º, como:

Grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória.

No entanto o conceito de moradores de rua é amplo e depende da visão de cada ator. Para a igreja cristã o morador de rua reflete a imagem do servo sofredor designando o termo sofredor de rua, para dar ênfase às injustiças sociais a que está sujeito. Esse entendimento surgiu com a criação da Pastoral de Rua em 1978, conforme afirma Castelvecchi (1985) e foi

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amplamente utilizado na década de 90 devido a situação de carência e fragilidade desses indivíduos.

Outro fator que interfere no conceito de morador de rua são as condições financeiras e o subemprego que o indivíduo fica obrigado a realizar para sua sobrevivência, acarretando o pauperismo e com isto a vulnerabilidade dos indivíduos:

O pauperismo é a parte da superpopulação relativa composta dos aptos para o trabalho, mas que não são absorvidos pelo mercado, dos órfãos e filhos de indigentes e dos incapazes para o trabalho (as pessoas com deficiência incapacitadas para o trabalho, pessoas idosas, enfermos etc.) É a camada da superpopulação relativa que vive em piores condições (SILVA, 2009 p.100).

Neste mesmo contexto Costa (2005) afirma que moradores de rua são:

Grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta e a falta de pertencimento à sociedade formal. São homens, mulheres, jovens, famílias inteiras, grupos, que têm em sua trajetória a referência de ter realizado alguma atividade laboral, que foi importante na constituição de suas identidades sociais. Com o tempo, algum infortúnio atingiu suas vidas, seja a perda do emprego, seja o rompimento de algum laço afetivo, fazendo com que aos poucos fossem perdendo a perspectiva de projeto de vida, passando a utilizar o espaço da rua como sobrevivência e moradia. (COSTA, 2005, p. 3)

De acordo com Serafino e Luz (2015) como as condições de vida dos moradores de rua são precárias, a saúde também é negligenciada, o que gera a disseminação de doenças quase erradicadas nos demais moradores das cidades, como hanseníase, tuberculose e DST’s, o que denota mais um tipo na seleção e no conceito dos moradores de rua.

Para os autores Vieira, Bezerra e Rosa (1994) existem 3 tipos básicos de moradores de rua, aqueles que ficam na rua circunstancialmente por viagem ou saída de unidade prisional; aquelas pessoas que estão nas ruas e estabelecem relações afetivas e de subemprego e as pessoas que são da rua, que pelo uso de substancia entorpecente lícita ou ilícita ou pela debilidade física e mental permanecem nas mesmas.

Outro ponto importante expresso na pesquisa foi a marginalização e Gabiatti (2003, p.26) ao mencionar a marginalização e preconceito das pessoas em situação rua afirma:

Quando se fala de população de rua ninguém tem dúvida de que este segmento social expressa uma situação limite de pobreza por mais

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diferente que seja a conceituação que se desenvolva. (apud LOPES, 1990, p. 15)

A pesquisa foi pautada no terceiro tipo básico de moradores de rua, ou seja, aqueles que permanecem nas ruas por motivos diversos e o foco principal de grande número de normas protecionistas e inclusivas.

2.2 Aplicação da Lei

O problema abordado no presente trabalho, não está adstrito ao Município de Itapetininga e tampouco é fruto do neoliberalismo, mas uma somatória de causas que levam a pessoa a considerar como sua residência, marquises, praças, imóveis abandonados e outros.

Costa (2005, p. 3), afirma que:

Desde a antiguidade, já eram registrados grupos habitando as ruas e vivendo quase que exclusivamente da mendicância. Apesar de o fenômeno ter várias conotações ao longo da História, morar na rua sempre esteve relacionado ao espaço urbano. A civilização grega e o Império Romano também geravam pessoas vivendo nas ruas; na Idade Média, há notícias, inclusive, de uma certa “profissionalização” da situação de rua. Já, na Era Industrial, sabe-se que teria havido repressão generalizada à difusão de atividades ligadas à vagabundagem e à mendicância. (apud SIMÃO JÚNIOR, 1992 p. 19-20)

No Brasil a atenção a essa população é recente e teve inicio com mobilização social influenciada em grande parte pela igreja com as ideias cristãs, que observava as iniciativas do Estado como simples higienização e segregação social da população de rua (COSTA, 2005).

Dois modelos de politicas públicas são mencionados por FERRO (2012) para definir o tratamento dispensado aos moradores de rua:

“Um primeiro tipo de política, que remonta à origem das ruas, é a criminalização e repressão dessas pessoas por agentes públicos. O uso da violência tem sido prática habitual para afastar essas pessoas dos centros urbanos e levá-las para áreas remotas ou para outros municípios, em nítidas políticas de higienização social. Esse tipo de ação estatal reflete, é claro, a cultura dominante em nossa sociedade de discriminação e culpabilização do indivíduo por estar e morar nas ruas, visão que é projetada e estimulada por diversos meios de comunicação. O segundo tipo de política consiste na omissão do Estado e, como consequência, na cobertura ínfima ou inexistente das políticas sociais para este segmento em todos os três níveis de governo (municipal, estadual e federal), ou seja, a invisibilidade do fenônemo para o poder público. Nesse sentido, a ausência de políticas sociais também é uma política". (FERRO 2012, p. 36)

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A partir da Constituição Federal de 1988, o Brasil começou a delinear políticas públicas direcionadas ao Bem-Estar Social, com a instituição dos direitos sociais expressos em seu art. 6º. “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Cinco anos mais tarde, o Congresso Nacional sancionou a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, instituindo um novo parâmetro de universalização do acesso ao bem-estar- social.

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

(BRASIL, 1993)

Passada mais de uma década (2004), a população em situação de rua ganhou atenção no âmbito da assistência social, através da Política Nacional de Assistência Social – PNAS – NOB/SUAS, quando foram criados programas destinados aos moradores de rua e determinando que o atendimento fosse realizado diretamente no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS e indiretamente em outras entidades e organizações assistenciais governamentais, ou não governamentais, mas que recebem subvenção do Estado.

Em 2005, a Lei nº. 8.742/93 em seu art. 23 foi alterada pela Lei nº. 11.258 de 30 de dezembro, para acrescentar o serviço de atendimento social às pessoas que vivem em situação de rua.

No ano seguinte, através do Decreto de 25 de outubro de 2006, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para elaborar estudos e apresentar propostas de políticas públicas, direcionadas à inclusão social das pessoas em situação de rua. No mesmo ano, o MDS, através da portaria nº. 381 de 12 de dezembro e 2009, regulamentou o repasse de cofinanciamento federal aos municípios para ofertar serviço de acolhimento a população em situação de rua, em seu art. 7º e seguintes, considerando para tanto mais de 300 mil habitantes e que possua cadastro dos moradores em situação de rua. (BRASIL, 2009)

No entanto, a população de rua só recebeu notoriedade nacional quando foi instituída a política Nacional para inclusão social da População em Situação de Rua, através do decreto nº.

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7053 de 23 de dezembro de 2009, que abrange as peculiaridades dessa população vulnerável, estabelecendo procedimentos para reinserção na vida social.

Contudo, existe uma lacuna entre o que foi estabelecido em lei e outras diretrizes e a reintegração dos indivíduos em situação de rua. A rede de cooperação não está disponível em todos os municípios do país e algumas vezes trabalham com outras finalidades que não a retirada do indivíduo da vulnerabilidade, em outros, nem existe estimativa de população em situação de rua.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, em texto para discussão nº. 2246, publicado em 2016, afirma que:

“O próprio fato de se ter ou não estimativa já é um indicativo de que a municipalidade identifica a questão da situação de rua como um problema social relevante. Assim, a própria ausência de informações não é completamente aleatória. Como exposto antes, municípios maiores tendem a realizar mais estimativas de população em situação de rua que municípios menores”. (NATALINO, 2016, p. 14)

O estudo realizado em Itapetininga mostra que o município engatinha para aplicar a Lei e as normas para assistência aos moradores de rua, com projetos semi-instaurados.

2.3 Integração

Outro ponto importante é a questão das entidades não governamentais que atuam às margens do sistema social instituído, gerando sentimentos contraditórios de crítica e defesa perante a sociedade e o Estado.

Dal Rio (2004) defende que a atenção social não é de responsabilidade exclusiva do Estado, mas de toda a população, enquanto sociedade civil, entre elas as ONG´s, instituições e fundações religiosas e empresas que integram o Terceiro Setor, passando a ser peça-chave nas intervenções de problemas sociais.

A cartilha editada pelo Ministério da Saúde sobre a saúde dos moradores de rua (2014) inclui na sua lista de desafios de articulação em rede de todos os atores, de diferentes áreas de atuação para que exista progresso na assistência aos moradores de rua.

Nota-se no mesmo modelo (2014), que as pessoas em situação de rua têm maior dificuldade de acesso aos serviços básicos disponíveis à população em geral, quiçá os serviços direcionados para sua assistência.

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Quando se propõe ajustes para trabalhar em rede de cooperação, não se trata de delegar a responsabilidade pelas politicas públicas exclusivamente ao terceiro setor, mas trabalhar em conjunto: sociedade civil e poder público, complementando as atividades e não as sobrepondo (QUEIROZ, 2009).

Citado no trabalho de Landim e Scalon (2000), o sociólogo Herbert de Souza (1993) que liderou o projeto de voluntariado “Ação contra miséria e pela vida”, afirma que:

É preciso rever antigas polarizações como assistência/política, caridade/cidadania, emergencial/estrutural, trazendo novos elementos para o imaginário político e as formas de participação. (SOUZA, 2000, p. 24)

Outra importante defensora do trabalho voluntario integrado com o Poder Público em benefício da população é a socióloga Ruth Cardoso, mencionada por Dal Rio (2004, p. 74) em seu pronunciamento no lançamento do Programa Voluntario em 1997:

A tradição de trabalho voluntário no Brasil sempre foi grande, apesar do pouco reconhecimento que sempre recebeu. Existem ações religiosas ou civis que tem uma larga história em nosso país e que devem ser valorizadas. Atualmente existe maior consciência da importância da participação da sociedade e, por isso, a colaboração dos voluntários em programas e ações sociais de vários tipos promove um maior grau de compromisso com os resultados. (DAL RIO, 2004, p. 74)

A questão do trabalho voluntário na assistência social e especificamente na assistência à população de rua é complexa e contraditória. Ao mesmo tempo em que contribui com a sobrevivência dos beneficiados no lugar em que se encontram, pode alimentar o propósito de continuar na rua. Por isso para FAGUNDES (2006) é importante “a edificação de um sistema misto de proteção social que concilia iniciativas do Estado e da sociedade civil, mas especificamente do terceiro setor”.

Ressalta ainda a mesma autora (2006) que:

O voluntariado e a solidariedade devem ser identificados como importantes valores morais para serem resgatados para a humanidade, mas as políticas sociais, mais especificamente a política de assistência social, que devem dar conta das desigualdades sociais, não devem ser cooptadas exclusivamente por esses valores. (FAGUNDES, 2006, p. 13).

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Desta forma, o voluntariado deve ser aproveitado na assistência aos moradores de rua, sem contudo, chocar-se com o interesse do Poder Público, que é a reinserção desta população na sociedade. Essa intervenção realizada pelas instituições não governamentais também não pode gerar a diminuição dos direitos sociais, mas ser meio de cobrança para que o Estado cumpra seu papel.

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3 METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa está baseada em diferentes ferramentas: pesquisa ação e documental. Ação como participante-observadora, buscando objetivar suas condições e

realidades no estudo de caso e observadora-participante, que realiza a investigação como expectadora. E documental com análise da legislação vigente e outras obras que apontam a questão.

3.1 Caracterização da Pesquisa

A busca bibliográfica abrange conteúdos jornalísticos, boletins de seminários, monografias, além do extenso material legislativo, como explica Lakatos e Marconi (1987):

A pesquisa bibliográfica trata-se do levantamento, seleção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto que está sendo pesquisados, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses, dissertações, material cartográfico, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o mesmo. (LAKATOS E MARCONI 1987, p. 66)

Para que uma pesquisa científica possa ter amparo, imprescindível a pesquisa bibliografia como método de síntese de todas as experiências anteriormente registradas, para só então acrescer novas perspectivas, como menciona Cervo e Bervian (1976):

Qualquer tipo de pesquisa em qualquer área do conhecimento, supõem e exigem pesquisa bibliográfica prévia, quer para o levantamento da situação em questão, quer para a fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria pesquisa. (CERVO e BERVIAN, 1976, p.70)

As reportagens publicadas em jornais locais foram o ponto de partida para a pesquisa depois se buscou explorar diversos artigos e sites da internet acerca do assunto. Concomitantemente, buscou-se fontes primárias (pesquisa documental), fundamentalmente a Carta Magna, as Leis e Diretrizes dos órgãos governamentais.

Os jornais utilizados na pesquisa são do período de 2016/2018 e retratam através de reportagens e editoriais o drama das pessoas em situação de rua; os movimentos sociais que trabalham com este público; a mobilização do Poder Público através de reuniões, seminários e

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outras propostas para amenizar o problema e o trabalho que o Município vêm realizando ao longo destes anos.

Quanto à pesquisa documental Lopes, Pederneiras, Dantas, Mulatinho e Monrant (2006) definem que:

[...] são documentos de primeira mão, provenientes dos próprios órgãos que realizam a observação. Engloba todos os materiais, ainda não elaborados, escritos, ou não, que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica. (LOPES, PEDERNEIRAS, DANTAS, MULATINHO e MONRANT, 2006, p.200)

Importante destacar que o Município até a data da pesquisa (2017/2018) não dispunha de registros oficiais de moradores de rua, por essa razão as entrevistas não foram realizadas com a totalidade dos atores, apontados pelos órgãos entrevistados.

A técnica de pesquisa-ação foi adotada porque o problema dos moradores de rua não tem explicação preexistente e não se adapta às teorias prontas. Mesmo a legislação e protocolos sobre a rede de atendimento a essa população não cumpre satisfatoriamente o seu fim. Por isso, a teorização indutiva defendida por Tripp (2005):

Na pesquisa-ação, tendemos a nos engajar em teorização indutiva apenas quando não há uma explicação preexistente ou uma teoria que explique satisfatoriamente o que quer que tenhamos observado ou estejamos tentando observar, de modo que os pesquisadores de pesquisa-ação frequentemente operam dedutivamente, especialmente nos estágios iniciais. Porém, como acontece frequentemente de não haver teorias prontas que se ajustem a nossos dados ou intenções, nesse caso trabalhamos indutivamente, teorizando nossos dados mediante a criação de novas categorias. No entanto, quando o fazemos, nosso propósito é inteiramente pragmático: não fazemos isso porque apenas queremos conhecer (isso é “pesquisa pura”), indagamos por que alguma coisa é como é apenas para podermos saber melhor como aprimorar a prática. (TRIPP, 2005, p.452)

Para trabalhar com moradores de rua que são arredios à interferência de pessoas estranhas ao seu convívio, a pesquisa – ação foi o meio mais indicado para promover a entrevista, analisando não só o conteúdo das respostas, mas todo contexto de vida, chegando assim o mais próximo possível da realidade.

Enquanto metodologia de pesquisa, a pesquisa-ação não deve ser confundida com outros métodos participativos cujas características e finalidades são diferentes, como no caso de técnicas de planejamento, monitoramento ou avaliação. É bom lembrar que a principal vocação da pesquisa-ação é principalmente investigativa, dentro de um processo de

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interação entre pesquisadores e população interessada, para gerar possíveis soluções aos problemas detectados. (THIOLLENT e SILVA, 2007, p.95)

A opção pela pesquisa-ação foi feita porque a técnica não se limita a uma consultoria simples do problema dos moradores de rua, mas permite avançar nos conhecimentos sobre o tema e abrir brecha para novos questionamentos e estudos. Essa integração pesquisadora e atores da teia de atenção aos moradores de rua gera como afirma (THIOLLENT e SILVA, 2007. p. 95) “uma construção do conhecimento para a qual é necessário apreender a dimensão cultural, as diferenças de linguagens, posturas sociais, percepções e interpretações”.

3.2 Procedimentos da Pesquisa

A pesquisa está baseada nas ações dos diferentes atores envolvidos na questão dos moradores de rua, mas não despreza a experiências da pesquisadora que desempenha um papel de intervenção indireta.

Com os questionários estruturados buscaram-se dados de fatos particulares para chegar a delinear um rumo para a integração entre as entidades governamentais e não governamentais.

Considerando o público alvo heterogêneo e de difícil acesso, a análise dos dados coletados nas entrevistas teve que atender o rigor, a disciplina, a paciência e a perseverança da pesquisadora para que fosse completa. (FREITAS, CUNHA E MOSCAROLA, 1997).

A realização de entrevistas é uma técnica muito utilizada para coleta de dados mas neste trabalho as entrevistas são sine quo non para obtenção de resultados e por tratar-se de pessoas com alto grau de vulnerabilidade e para distinguir o discurso convencional dos fatos em si, a análise dos dados com a eleição das categorias de moradores de rua deve cautelosamente ser utilizada na pesquisa.

Para a realização das pesquisas foram utilizados recursos diferentes: para os agentes públicos, com exceção do Capitão da Polícia Militar na ocasião, foram realizadas entrevistas em áudio e depois transcritas para o anexo; para os moradores de rua, devido suas

peculiaridades psíquicas, as entrevistas foram escritas.

Em um primeiro momento, foi realizada a pesquisa com os moradores de rua no período diurno, e nesse momento foram realizadas 50 entrevistas em pontos de grande concentração da população considerada de rua.

Depois observando as peculiaridades das respostas, foram selecionadas somente aquelas entrevistas com pessoas que permaneciam nas ruas, porque grande parte dos entrevistados

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tinham casa para retornar no final do dia e estavam naquele local por afinidade com os indivíduos, por essa razão essas pesquisas foram descartadas.

Com isso, surgiu um fator complicador para a coleta de dados que foi a necessidade de obter as informações somente após a criação de certo vinculo prévio ou direto pelo contato anterior, ou através de indicação de outro morador de rua.

O pernoite nas ruas traz certa insegurança aos moradores de rua e por isso, para conseguir encontrar os locais de pouso e convencer a participar da pesquisa, foi um complicador que no primeiro momento, quase impediu o presente trabalho.

Quando as entrevistas passaram a ser feitas nos órgãos governamentais e não governamentais, a recusa para as informações foi gerada pelo medo de desvalorizar o trabalho que é desenvolvido por cada órgão. Somente após um trabalho de convencimento e

principalmente de persistência é que as entrevistas foram realizadas.

Importante destacar que pela Lei da Transparência, as informações constantes no presente trabalho deveriam estar disponíveis para qualquer cidadão, sem a necessidade de autorização prévia para os dados. Apesar disso, foi autorizada pelos superiores hierárquicos de cada departamento a coleta dos dados que em alguns casos indicaram pessoa responsável pela coordenação dos programas ligados com os moradores de rua.

Assim defende Freitas, Cunha e Moscarola (1997):

O valor de uma análise de conteúdo depende da qualidade da elaboração conceitual feita a priori pelo pesquisador, da exatidão com que ela será traduzi da em variáveis, do esquema de análise ou das categorias e, em definitivo, da concordância entre a realidade a analisar e estas categorias. (FREITAS, CUNHA e MOSCAROLA

1997, p. 21)

Partindo desta premissa os questionários foram estruturados contendo dados sóciodemográficos, suporte social e acesso aos serviços públicos, para atender aos interesses da pesquisa.

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4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Em 2015 a pesquisadora começou a trabalhar como voluntária em um grupo não governamental de assistência emergencial aos moradores de rua. Na época observou-se a desorganização existente no Município e ausência de integração entre as diferentes entidades públicas e privadas no trato com o tema. Partindo desta experiência enriquecedora, o trabalho começou a ser ponderado.

Quando as temperaturas ficam amenas, as pessoas em situação de rua voltam a ser “invisíveis” e indesejadas por considerável parcela da sociedade.

Quem trabalha na assistência aos moradores de rua, nota que não existe no município uma rede organizada para tratar o problema. O que se têm são ações pontuais e fragmentadas, que pelejam para cumprir a Lei, mas que comumente são descontinuadas por ausência de recursos e engajamento dos órgãos públicos.

Em agosto de 2016, uma matéria jornalística do Município abriu discussão para o problema dos moradores de rua, culminando no ano seguinte com um seminário que debateu as atividades de assistência aos moradores de rua, apresentaram-se as instituições não governamentais que assistem essas pessoas e iniciou-se uma ampla cobrança para atender as diretrizes e protocolos de atenção aos vulneráveis de rua.

No período foram feitas diversas reuniões de trabalho multidisciplinar entre os órgãos governamentais e instituições privadas que são financiadas pelo Poder Público, excluídas as entidades não governamentais.

Ao expor as atividades de cada ator envolvido na atenção às pessoas em situação de rua, foi possível identificar seus impactos e coligir as convergências e divergências dos programas existentes e, ainda, propor uma forma de integração entre os vários poderes para atenuar a vulnerabilidade dos moradores de rua para reinseri-los no meio social, cultural, político e econômico da cidade.

Em se tratando de um problema mundial e que pouco tem avançado na solução definitiva, importante fazer algumas considerações antes de adentrar a análise das entrevistas.

4.1 Histórico e Legislação

[...] porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestiste-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste ver-me. (Mateus 25: 35-36)

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A vulnerabilidade do ser humano está descrita desde os primórdios da humanidade. Alguns dos registros mais conhecidos são bíblicos, apesar de ser de conhecimento religioso e não científico, a bíblia, com publicação mundial, pode servir para demonstrar o quanto a questão dos moradores de rua é antiga e não está restrita ao Brasil e ao Município de Itapetininga.

Segundo a Bíblia, que descreve um regime patriarcal, a hospitalidade para estranhos e viajantes era uma prática comum entre a população, com raras exceções, (Gêneses 19:1-3; Êxodo 2:18-20 e Juízes 19:15-21) o que impedia as pessoas de ficarem desprovidas de alimento, vestimenta e teto.

Com o desenvolvimento das cidades, o regime patriarcal começou a enfraquecer e a busca por proteção de patrimônio e família diminuiu a cultura hospitaleira, iniciando os primeiros registros de mendicância e vulnerabilidade nas escrituras hebraicas.

As Leis Mosaicas favoreciam a caridade aos empobrecidos e quando praticadas eliminava as causas da mendicância (Levíticos 19:9, 10; Deuteronômios 15:7-10; 24: 19-21), assim como era utilizada a mendicância como punição aos considerados ímpios. (Salmo 109: 10)

Entre o tempo da volta dos judeus do exílio (537 AC) até Jesus, desenvolveu-se entre os judeus o conceito de que fazer caridade era mérito para salvação. O livro apócrifo de Eclesiástico (3:30) afirma que: “a esmola expia os pecados”.

Com a dominação por potências estrangeiras, o povo judeu viu-se oprimido sem direito sobre as terras de seus ancestrais e sem acesso integral às suas provisões, obrigando-se a abandonar os princípios religiosos que abraçavam em prol da manutenção de seu patrimônio, agindo em conformidade com as novas religiões trazidas pelos conquistadores. (Mateus 23:23; Lucas 10:29-31)

Com o Cristianismo intensificou-se a caridade para com os empobrecidos e os registros de pessoas vulneráveis se multiplicaram na bíblia como Bartimeu (Marcos 10. 4647); Lázaro (Lucas 16: 20-21); Cego (Jó 9.8) e o Mendigo Coxo (Atos dos Apóstolos 3.2).

A beneficência historicamente está ligada à pratica religiosa, que vincula o acesso aos direitos básicos para subsistência à caridade religiosa. Essa pratica serviu de base para o controle social desde a Idade Média, quando através da benemerência, os burgueses mantinham o povo cativo (GABIATTI, 2003 p. 11).

Castelvecchi, mais conhecida como Nenuca, uma religiosa que trabalhou nas ruas de São Paulo, afirma que:

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Nas ruas, ou debaixo dos viadutos, vive-se na sujeira, exposto ao sol, à chuva, ao frio, ao vento. Por causa disso, afloram em nós sentimentos de incapacidade e solidão. É necessário colocar o coração em Deus e dispor-se a enfrentar qualquer tempo, seja em que sentido for. É só quando vamos criando amizades, quando a desconfiança se transforma na descoberta de que “algo diferente” está acontecendo, que nos sentimos melhor. Esse “algo diferente” os pobres associam naturalmente com Deus. Chegam a reconhecer e abençoar a Deus por nossa presença entre eles. (CASTELVECCHI, 1995, P. 142).

Com o pós-guerra foi adotado o Estado do Bem Estar Social implantando medidas que assegurariam patamar mínimo de igualdade social e um padrão mínimo de bem-estar. Começa a delinear no Estado a diferença entre caridade e assistência mínima para o equilíbrio social. (COELHO, 2009. p. 88-99)

Na Constituição Federal de 1988 consolidou-se a defesa do conceito de que todos são iguais, assegurando direitos e deveres aos cidadãos e a assistência mínima do Estado.

Especificamente sobre as pessoas em situação de rua, as manifestações em prol dessa população começaram com o Fórum Nacional de Estudos sobre a População de Rua em 1993 e depois com o grito dos excluídos em 1995, uma iniciativa da igreja católica romana através da Campanha da Fraternidade que teve como tema “A fraternidade e os excluídos”.

No início do século XXI, foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social (Resolução CNAS nº. 145/04) na tentativa de tornar executáveis as diretrizes do LOAS (8.742/93) e atender aos princípios constitucionais.

O principal papel do PNAS foi desfragmentar o atendimento aos vulneráveis, com articulação de todos os setores e ampliação dos assistidos, não apenas os inaptos para o trabalho, mas os subempregados, desempregados e as pessoas em risco social (crianças, idosos, moradores de rua, alienados, etc...)

Através da Lei nº. 11.258/05 o LOAS inclui as pessoas em situação de rua em seu art. 23, § 2º inciso II, entre os atendimentos obrigatórios. Posteriormente, através do Decreto 25/06, foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), com a finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas de politicas públicas de inclusão social aos moradores de rua.

Ocorre que sem verba não há como implantar nenhum programa, principalmente os assistenciais e por isso, o MDS editou a Portaria nº. 381/2006, que previa o cofinanciamento dos serviços continuados de acolhimento institucional para as pessoas em situação de rua.

Como o problema dos moradores de rua não recebe atenção devida, a desigualdade social, cultural e econômica agrava a vulnerabilidade e o Poder Público passa a tratar somente

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das consequências, sem contribuir de forma significativa na causa gerando medidas desorganizadas paliativas e de coerção.

Exemplo disso é que até 2009, a mendicância era uma transgressão penal conforme art. 60 da Lei nº. 3688/1941, revogada posteriormente em 2009 pela Lei nº. 11.983, cuja pena era de reclusão. Neste mesmo ano, foi promulgada a Lei nº. 7053 de 23 de dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional para População em Situação de Rua, com a finalidade de delinear um caminho humanizado para solução do problema.

Esta política estabelece diretrizes que possibilitam a integração dos indivíduos em situação de rua na sociedade e em seus lares e foi muito influenciada pelo Movimento Nacional da População de Rua, que mobilizou a sociedade com protestos e cobranças. Ainda no mesmo a Resolução nº. 109/09 foi aprovada para proporcionar serviços específicos para a essa população.

Podemos exemplificar com algumas ações estratégicas estabelecidas pelas diretrizes da política Nacional para inclusão Social da População em situação de rua (BRASIL, 2008), a humanização das polícias e o atendimento adequado quando existe violação de direitos dos vulneráveis; prioridade de acesso a cursos profissionalizantes e para a inserção ao mercado de trabalho; facilitar o acesso a financiamento de moradias populares; manter atualizado o cadastro das pessoas no Cadastro Único para acesso aos programas governamentais e aumentar os Centros de Referência Especializado para População em situação de Rua (Centro POP); incluir na grade curricular a temática sobre as causas e consequências do abrigamento nas ruas, ressaltando a igualdade social, gênero, raça e etnia, além de fornecer meios para que as pessoas em situação de rua tenham acesso á educação, com uniformes, material escolar, alimentação e transporte; estimular o acesso dos moradores de rua aos restaurantes populares para uma nutrição mínima; assegurar o acesso às instituições de saúde, tratamento emergencial, internação e ambulatorial, principalmente para as doenças como AIDS, tuberculose, DSTs, hipertensão arterial e outros problemas dermatológicos e, por fim, garantir acesso a cultura, por meio de estimulo a criação e participação cultural (música, pintura, fotografia, poemas, etc...)

O chamado Centro POP é uma unidade pública de referência da proteção social especial de média complexidade, voltado exclusivamente para os moradores de rua tenham ou não família; sejam jovens, adultos ou idosos, com o objetivo de assegurar e desenvolver o resgate e fortalecimento dos vínculos com os familiares e gradativamente conseguir deixar as ruas. (BRASIL, 2014)

A abordagem social em Itapetininga é realizada pelo SOS sendo que legalmente é atribuição do Centro POP, quando existente no município e apto à constatação de trabalho

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infantil, exploração sexual de crianças e jovens, dependência química, mapeamento do território e outras violações de direitos. (BRASIL, 2014)

No ano seguinte, 2010, o MDS em parceria com a UNESCO apresentou diretrizes para articular e organizar as pessoas em situação de rua, em busca de seus interesses. Em consequência, consolida o MNPR no seu papel de luta pelo direito dos moradores de rua. A Portaria 843/2010 do MDS traz outra inovação que é a criação de um formulário para cadastrar os moradores de rua e a cartilha sobre a inclusão das pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.

O Conselho Nacional de Assistência Social inova no trato com a questão e edita a Resolução nº. 09/2013 para reordenamento dos serviços de acolhimento institucional e para os serviços de acolhimento em república para pessoas em situação de rua.

Destarte, com os avanços significativos que ocorreram, pode-se considerar que a atenção aos moradores de rua é um problema superado, porém, infelizmente a legislação, normas, portarias e resoluções não foram capazes de reduzir a problemática. Existe uma lacuna entre a ordem e a execução e é neste ponto que o trabalho foca.

4.2 Conceito: Moradores de rua

O bicho

Vi ontem um bicho Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem. (Brasil, 2014, p.5 apud Manuel Bandeira, 1947)

Existe uma pluralidade entre a população de rua e para a pesquisa foi utilizada a seleção de um grupo especifico para entrevista, mesmo que outros grupos sejam considerados população em situação de rua e, portanto vulneráveis.

Dentre os grupos, pode-se destacar aqueles que permanecem dia e noite nas ruas buscam abrigo em marquises, casas abandonadas, barracões e bancos de praça, andam em pequenos

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grupos, na maioria sem parentesco, não mantêm pertences, somente a roupa do corpo e fazem uso, em geral, de bebida alcoólica (corote) e até entorpecente. Sobrevivem de esmolas, coleta de reciclagens e como guardadores de carros (flanelinha).

Outros são andarilhos, que percorrem cidades sem destino certo. Estes normalmente possuem um numero maior de pertences (roupas, colchões, artigos de cozinha e outros objetos afetivos) e usam os albergues para pernoite, banho e alimentação. Normalmente são solitários. Tem-se ainda aqueles que permanecem nas ruas durante o dia mendigando e praticando pequenos furtos, retornando para seu lar á noite. Estes não têm trabalho, não têm estudo e fazem da esmola seu meio de vida. Têm família, mas, percorrem a cidade desacompanhados.

Outras características que podem ser usadas como classificação dos moradores de rua são, respectivamente a dependência química (álcool e drogas) e o estado psíquico, mas que para o presente trabalho não foram utilizadas como critério de seleção do grupo.

A idade e o sexo, também não foram utilizados como classificação, por serem grupos heterogêneos, agregando indivíduos conforme suas afinidades e não pela idade ou sexo. Porém a pesquisadora teve o cuidado de não incluir os menores de idade e os que aparentavam ter menos de 18 anos.

O foco do trabalho foi o primeiro grupo, aqueles que fixam morada nas ruas, independente de idade, sexo, vinculo familiar ou tipo de dependência química. A seleção foi feita pela moradia, ou seja, a permanência nas ruas. Este grupo foi escolhido porque grande parte dele mantem-se nas ruas por longos períodos possibilitando criar vínculos para a realização da pesquisa.

Este grupo tem percepção clara da discriminação, identificada pela sua condição de vida, falta de higiene, moradia, ociosidade e embriaguês, por isso, o contato demanda tempo para criação de vínculos e abrir possibilidade de conversa amistosa.

Muitas entrevistas somente aconteceram por indicação de indivíduos que atestaram a boa-fé da pesquisadora, sem isso, não seria possível a coleta dos dados. O medo de serem agredidos leva muitos moradores de rua a serem arredios à aproximação de quem não conhecem.

Outro fator de escolha é a possibilidade de reencontro com os entrevistados e retomada de pesquisa, porque o consumo frequente de entorpecente e álcool geram distúrbios e alucinações que impedem uma conversa coerente, além da agressividade.

Algumas entrevistas foram elaboradas em dias diversos, conforme a disponibilidade dos moradores de rua e suas condições psicológicas. Outras foram reeditadas a pedido do

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entrevistado, por considerar importante sua participação e querer registrar com riqueza de detalhes a sua vida.

Outro aspecto sentido na pesquisa foi a marginalização que gera desigualdade em todos os âmbitos: político, econômico, social e cultural e, consequentemente a falta de acesso a direitos básicos e o desestímulo em sair das condições degradantes em que vivem.

4.3 Instituições – governamentais e não governamentais

Quando os justos florescem, o povo se alegra; quando os ímpios governam, o povo geme. O rei que exerce a justiça dá estabilidade ao país, mas o que gosta de subornos o leva à ruína. (Provérbio, 29: 2 - 4)

Ao longo da pesquisa foi possível conhecer diversas entidades e setores governamentais que desenvolvem trabalho com os moradores de rua. E assim como se teve dificuldade de acesso aos moradores de rua, também houve resistência dos órgãos públicos na obtenção de entrevista, principalmente com agentes que trabalham diretamente com as pessoas em situação de rua, ou seja, a partir do terceiro escalão em ordem crescente.

O Centro de Referência Especializado para População (Centro POP) em situação de rua estabelecido pelo Decreto nº. 7053/09 não foi instituído no Município de Itapetininga. O que está disponível para os moradores de rua são Centro de Referencia Especializada de Assistência Social (CREAS); Serviço de Obras Sociais (S.O.S); o Consultório de Rua; Casa Referência Apoio e Inclusão Social (Casa Rais) e os grupos não governamentais, muitos deles ligados com entidades religiosas e de benemerência.

4.3.1 Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS)

No CREAS o entrevistado foi o coordenador na ocasião (fevereiro 2018), que explicou que o trabalho vem sendo desenvolvido desde 2007 e que o controle de dados dos moradores de rua que está na fase inicial, antes era feita através de prontuários e agora está sendo implantado através de planilhas, dos últimos 5 anos, com um número aproximado de 70 pessoas em situação de rua. O CREAS possui o serviço de abordagem social que é conveniado (S.O.S) e atendimentos sociais dentro do CREAS com a identificação dos moradores de rua.

Durante a gestão do coordenador o trabalho de conscientização para não dar esmolas foi intensificado, com o slogan: Diga não a esmola, para evitar a permanência das pessoas em situação de rua e a inscrição dos moradores de rua no cadastro único passou a ser parte da rotina do Centro. Comentou ainda que o CREAS tem atuação limitada à sua tipificação, não podendo

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inovar com novos programas, mas tentando promover a saída dos moradores das ruas. Os recursos para manutenção dos programas são provenientes do Governo Federal e Estadual, que faz o controle através de relatórios semestrais e anuais enviados ao MDS.

Como o trabalho do entrevistado começou no departamento em 2012, pode afirmar que algum resultado positivo já pode ser sentido com a reinserção de aproximadamente 5 (cinco) atendidos aos lares, ressaltando que esse trabalho não pode ser mensurado dado a sua heterogeneidade. Salienta que já foi feita uma aproximação com as entidades filantrópicas para parceiras na atenção aos moradores de rua, sem exercer controle na atuação das mesmas. A intenção é reorganizar as entidades para o melhor aproveitamento do trabalho delas em prol dos moradores de rua, com um cronograma de atendimentos, evitando se sobrepor. Foram realizados também parcerias para prestação de serviços voluntários na Casa Rais com oficinas, lavanderias e outras atividades.

Aponta ainda a dificuldade de ter uma conversa mais alinhada com as entidades filantrópicas pelo medo que têm do Poder Público aproveitar do seu trabalho para se promover. As reuniões em 2017 eram mensais e acabaram após a inauguração da Casa Rais, quando a equipe (CREAS) precisou dedicar-se a esse projeto. Afirma também que existe o cadastro único das pessoas em situação de rua, elaborado pelo CREAS, mas o sistema integrado desse cadastro único à rede de atendimento no município ainda não está pronto, mas é um projeto em andamento para aprimorar essa rede, mobilizando os órgãos oficiais como saúde, emprego, habitação, assistência social e educação, para minimizar os fatores de risco e controlar quem de fato está recebendo este atendimento, além de ampliar as parcerias.

Para finalizar chama atenção para a corresponsabilidade, como munícipes, cidadãos e profissionais, porque não basta retirar essas pessoas da vista, há necessidade de se organizar como sociedade para diminuir os fatores que levam as pessoas a estarem nas ruas, com parcerias e corresponsabilidade, garantindo o direito dos cidadãos que estão nessas condições.

4.3.2 Consultório de Rua

A entrevista foi realizada com o psicólogo coordenador do consultório de rua, ligado à Secretaria de Saúde do Município de Itapetininga, que faz parte da rede de atenção psicossocial, atendendo o que está na Lei e criado em outubro de 2017, sendo ele funcionário público concursado. Ele aponta que principal dificuldade no Município é a ausência do controle de dados dos moradores de rua por falta de censo demográfico que, teoricamente, deveria ser realizado pelo CREAS. O que se têm são dados aproximados do CREAS, que apontam 70

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pessoas em situação de rua, mas sem ser oficial. O consultório de rua abordou na noite anterior a entrevista 20 pessoas.

Quando iniciou o consultório de rua, o CREAS já atuava em prol dos moradores de rua, devido a violação de seus direitos, com blitz para cadastramento e encaminhamento ao S.O.S.

O consultório na rua é vinculado à atenção básica de saúde, sendo que sua equipe lotada na UBS Genefredo Monteiro, com a logica de redução de danos (sociais e saúde). Trabalha um psicólogo, uma assistente social, uma enfermeira, uma técnica de saúde bucal e algumas vezes uma médica voluntária. Tentam fazer um vinculo, encaminhar para a Unidade Básica de Saúde ou realizar algum procedimento na rua mesmo, curativos, aferir pressão e quando o caso é mais grave aciona o SAMU e um ator da equipe acompanha. Pelo menos durante umas 15 horas semanais é realizado o consultório de rua.

O acompanhamento daqueles que tem HIV, sífilis ou hepatite é feito pelo consultório de rua, rastreando para que elas façam o tratamento e entrando em contato com a vigilância epidemiológica da cidade para realizar sua intervenção quando for o caso.

Interessante o relato que anteriormente era exigido comprovante de residência para abertura de ficha nos postos de saúde dos moradores de rua e hoje não é mais necessário. Importante destacar os problemas notados pelo entrevistado que são o preconceito, a violência e a invisibilidade do morador de rua que causa medo de ações violentas, principalmente no pernoite. Fala ainda que nem todos esses moradores fazem uso de drogas.

Quando questionado sobre auxilio financeiro do Estado, o entrevistado afirma que não recebem nenhum recurso, mesmo sabendo que é direito de alguns deles, mas não é da seara dele, mas do CREAS.

O entrevistado aponta que a devolutiva neste projeto é difícil de avaliar, mas pode ser medida pela melhora de um ferimento tratado em uma semana e que denota melhora na semana seguinte. A logica de redução de danos é mais complexa, mas a intenção é cuidar da saúde do vulnerável, sugerindo inclusive o não compartilhamento do “corote”.

Pelo conhecimento que o entrevistado tem as entidades filantrópicas estão restritas a entrega de alimento e a maioria delas ligadas a grupos religiosos. Não que exista parceria, mas o consultório de rua acompanha um trabalho que é realizado na igreja onde um voluntário serve café da manhã, almoço, banho e corte de cabelo aos moradores de rua, mas sem intervenção do Poder Público.

Assinala que existe entre os atendidos certa divisão territorial, que impede a integração dos moradores de rua. Por isso os locais de atendimento do consultório de rua são variados e respeitam um cronograma que respeita essa divisão tácita, para abranger toda a população.

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O consultório de rua não trabalha com a perspectiva de internação, mas tem conhecimento o entrevistado de que alguns grupos trabalham com unidades terapêuticas para internação.

Não existe atendimento prioritário legitimado para os encaminhados pelo consultório de rua, porém existe uma prioridade tácita na rede que facilita o atendimento aos moradores de rua. Ressalta em sua narrativa a iniciativa do Ministério Público (2018) para articular os serviços em prol dos moradores de rua, mais especificamente o consultório de rua e a Casa Rais. Porém aponta também a necessidade de criar um sistema de informações onde todas as instituições públicas tenham acesso.

4.3.3 Serviços de Obras Sociais (S.O.S)

A entrevista foi realizada com a gerente da entidade que funciona há mais de 60 anos, em local cedido, contando com uma equipe técnica, assistente social e coordenadora que é psicóloga. Os atendimentos são realizados 24 horas de segunda a segunda. Primeiro é realizado o atendimento emergencial, comida ou banho e depois solicitação de documentos pessoais caso não possua, ou a entrega de passagem para retorno aos seus lares e outros procedimentos de acolhida temporária.

A gerente afirma que são atendidas aproximadamente 100 pessoas em situação de rua sendo que aproximadamente 45 pessoas frequentam o local, aumentando a frequência no inverno. Nesta entidade as pessoas que trabalham são contratadas. Os recursos para manutenção dos serviços são advindos de convênios com o Município e com o Estado de São Paulo. Lembra a entrevistada que o local também funciona como casa de passagem. A entidade segue um plano de trabalho anual confeccionado em conjunto com o Poder Público para o atendimento aos moradores de rua.

Aponta a entrevistada que existe uma mescla de idade entre os atendidos e que outros fatores como existência de família, local de origem, delitos e uso de sustâncias psicoativas lícitas e ilícitas são anotados em um prontuário local para destinar o melhor atendimento possível aos beneficiários. Sabe que alguns atendidos fazem uso dos programas da prefeitura como CAPS e Casa Rais e conseguem Bolsa Família e outros benefícios.

Afirma também que o município está implantando um cadastro unificado para toda rede pública, conforme conhecimento nas reuniões que a participa semanalmente.

Destaca o suporte que a rede municipal dispensa ao SOS com blitz da Policia Militar ou Guarda Municipal, com exceção do SAMU que tem alguma resistência. Destaca também o

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serviços prestado pela Casa Rais que “é um mini Centro POP” com orientadores de rua para acompanhar os moradores de rua nos atendimentos que demanda locomoção. Destaca por fim que os encaminhados pelo SOS tem sempre prioridade nos atendimentos na Rede Municipal.

4.3.4 Casa Referência Apoio e Inclusão Social (Casa Rais)

A responsável pela entrevista foi a coordenadora da Casa que foi inaugurada em junho de 2017, contando com funcionários contratados e voluntários que atendem em média de 25 a 30 pessoas e seus recursos são oriundos da Secretaria da Promoção Social. A instituição é ligada ao SOS e foi estruturada para atender a grande demanda de moradores de rua, para que eles possam permanecer realizando atividades e consigam orientações na rede de atenção psicossocial. Neste local eles podem fazer sua higiene pessoal, com banho e lavagem de roupas, assistir filmes, utilizar a cozinha para alimentação e outros serviços prestados pelos voluntários. As abordagens de rua são feitas pela entidade, que conta com 4 pessoas que orientam sobre o projeto Casa Rais para que haja maior adesão dos moradores de rua. Para a entidade são aproximadamente 100 pessoas nessas condições.

São oferecidos todos os atendimentos psicossociais em parceria com toda a rede (Secretaria de Saúde, Esporte, Cultural e Emprego) na tentativa de diminuir o tempo desses indivíduos na rua.

A entidade só trabalha com público adulto, que não tem contato com família, todos do Munícipio de Itapetininga e que fazem uso de substancias psicoativas, por isso a parceria com o CAPS para encaminhamento no caso do beneficiário solicitar atendimento para deixar o vício.

O cadastro único exigido por lei está em fase de implantação, mas a Casa Rais mantém um prontuário de atendimento de todos eles e trabalham integrados com o Poder Público, frisando principalmente o Judiciário, com reuniões mensais com o Promotor de Justiça lotado na cidade.

Para encaminhar os usuários para os serviços públicos da rede é primeiro feita uma triagem e depois feito o encaminhamento, em alguns casos é realizado o acompanhamento do indivíduo até os locais, ressaltando que o atendimento encaminhado pela Casa é feito com prioridade.

4.3.5 Polícia Militar

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O Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo lotado no município de Itapetininga foi o responsável pela entrevista e afirmou que há crescente aumento no numero de moradores de rua e há contato direto da corporação com os mesmos. Aponta que a manutenção dessas pessoas nas ruas aumenta as ocorrências policias e as áreas de permanência das mesmas passam a ser de interesse para o policiamento.

Quanto a números afirma que não dispõe de estatística, mas notou um aumento significativo nos últimos 5 anos, sendo hoje aproximadamente 70 pessoas, ao que entende, pela desagregação familiar, uso de substancia psicoativas licitas e ilícitas e pela situação econômica do país.

A PMESP não possui equipe especializada no atendimento aos moradores de rua, mas mantem um trabalho semanal de blitz junto ao CREAS, sendo que em casos de ocorrência, o padrão de abordagem segue os padrões operacionais da polícia, porém com orientações adicionais desde verbalização e condução, dada as circunstancias, como doenças contagiosas, transtornos psíquicos, falta de higiene, etc. Ressalta o entrevistado que propôs um prontuário único e integrado entre todos os órgãos públicos envolvidos no trabalho com os moradores de rua, com um histórico de ocorrências que possa facilitar a integração e o trabalho de todos.

4.3.6 Guarda Municipal

A inspetora da Guarda Municipal de Itapetininga aponta que, desde o inicio da instituição, seus integrantes realizam o contato com essas pessoas e dão apoio às entidades como CRAS e CREAS nesse atendimento, principalmente quando demonstram alguma

agressividade.

Afirma que a situação das pessoas em situação de rua pode atrair traficantes e, inclusive, provocar lesões entre si, após o uso de substancias de álcool ou drogas, podendo causar desconforto e insegurança para as pessoas que frequentam praças e estação rodoviária. No verão, a Guarda Municipal verifica que aumenta o número de moradores de rua, por considerar que muitos têm residência, mas preferem ficar nas ruas, não sabendo informar o numero aproximado desses moradores. Todas as equipes da Guarda Municipal são aptas a fazer o atendimento aos moradores de rua, tanto no acompanhamento dos órgãos públicos como na abordagem com suspeita criminal, sempre respeitando o protocolo de atendimento geral, só intervindo nos casos especiais.

As caraterísticas mais comuns são falta de higiene, bagagem com material cortante, e acumulo de lixo onde ficam. Afirma também que o CREAS é o responsável pelo cadastro dos moradores

Referências

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