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Manifestações do pensar através do desenho infantil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

FERNANDA PADILHA KRAMATSCHEK

MANIFESTAÇÕES DO PENSAR ATRAVÉS DO DESENHO INFANTIL

IJUÍ 2012

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1 FERNANDA PADILHA KRAMATSCHEK

MANIFESTAÇÕES DO PENSAR ATRAVÉS DO DESENHO INFANTIL

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Licenciatura do Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Graduado em Pedagogia.

ORIENTADORA: ARMGARD LUTZ

IJUÍ 2012

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2 FERNANDA PADILHA KRAMATSCHEK

Aprovada em ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Profa. Dra. Armgard Lutz

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

_________________________________________________ Nome Completo Instituição _________________________________________________ Nome Completo Instituição CONCEITO FINAL: _____________________

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3 AGRADECIMENTO ESPECIAL

Agradeço ao Senhor meu Deus, que me trouxe até aqui, pelo caminho iluminado durante essa caminhada;

A meus pais Geraldo e Fátima, que pelo amor incondicional, pela sabedoria e a maneira irrepreensível com a qual nortearam minha educação, a formação de meu caráter e valores ensinados, entre os quais a certeza e a busca do conhecimento só farão somar benefícios as nossas vidas. O meu muito obrigado pela força e entusiasmo, quando não estava muito disposta a ir as aulas. Vocês são tudo para mim;

Aos meus irmãos Fernando que mesmo estando longe sei que torceu pelo meu sucesso, ao Régis e Rafaela também pela força e compreensão em fazer silêncio quando precisava estudar. Aos demais familiares que sempre apoiaram minhas conquistas;

A minha colega inesquecível: Cristiane Heck, pela linda e confidencial amizade, pelo apoio durante a nossa longa caminhada, que foi desde a 5ª série do Ensino Fundamental até aqui na Faculdade;

Aos meus queridos e amados alunos da Escola Infantil do HCI, que foram a inspiração desse Trabalho de Conclusão de Curso, através de suas produções lindas no desenho;

As minhas colegas de escola, que não se cansaram em ficar com meus alunos no final do expediente para que eu pudesse então ir às aulas da UNIJUI;

A você Mauro, meu namorado, que neste começo tanto esta me dando seu apoio;

A minha orientadora Profª Armgard Lutz, a quem escolhi para me orientar, por admirar sua sabedoria e delicadeza com que fala de crianças e ensinar.

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4 RESUMO

A presente monografia tem como objetivo mostrar como é a origem do desenho infantil e contextualizar o tema como a manifestação da linguagem infantil, sendo o desenho a primeira forma de expressão antes da linguagem oral, considerando que cada movimento ou rabisco tem significado para o desenvolvimento humano. Volto-me ao desenho infantil, pesquisando, analisando e interpretando através de teóricos da psicologia, da educação e também da arte. Os resultados observados foram de que as manifestações do pensar infantil acontecem quando as crianças se expressam entre tantas maneiras, no papel seus sentimentos, percebi que desta maneira seus desejos estão aliados ao imaginário, pois como já afirmei o desenho é uma forma de representação do pensamento, meio pelo qual a criança pensa o mundo.

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5 SÚMARIO

INTRODUÇÃO...06

PARTE I – O desenho das crianças e sua evolução 1.1. Onde tudo começou...07

1.2. O inicio do desenho e suas fases...09

1.3. O desenho como linguagem...15

PARTE II – O que a criança diz sobre seu desenho 2.1. Metodologia utilizada...19

2.2. Resultados da pesquisa: As falas da família, professores e registros com desenhos...20

2.3. Reflexões sobre a pesquisa...25

2.4. O real e o imaginário no desenho das crianças...31

Conclusões da pesquisa...34

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6 INTRODUÇÃO:

O tema dessa monografia é o desenho infantil, tendo por recorte as “Manifestações do pensar através do desenho infantil”. O objetivo foi descobrir quais os elementos que fundamentam a constituição do desenho infantil considerando os aspectos cognitivos, emocionais e culturais e como as crianças aprendem a desenhar.

A escolha do tema foi em virtude de estar inserida na escola e trabalhar com crianças da educação infantil, por estar acompanhando o crescimento das crianças, e principalmente vendo os resultados nas produções de desenhos delas. O reconhecimento do que fazem e os significados que colocam em cima do que desenham, fui percebendo que ao desenhar a criança expressa seus sentimentos e vontades sobre o mundo em que está inserida, desenhando os fatos que acontecem, os momentos que mais marcam suas vidas.

A metodologia escolhida foi a vivência e observação, com meus alunos que se encontram na faixa etária de 4 a 5 anos, e que são fonte de minha inspiração para a escrita, bem como a pesquisa bibliográfica, teorizando através dos autores, Vygotsky,

Piaget, Moreira, Greig, Cohn, Derdyk entre outros, que falam do desenvolvimento da

criança relacionado ao desenho.

As observações foram desenvolvidas no contexto da Escola Infantil do HCI, em sala de aula, durante o mês de maio com duração de uma semana, na turma do jardim.

A primeira parte tem como título “O desenho das crianças e sua evolução” onde conto como tudo começou, desde as pinturas rupestres, o inicio do desenho e suas fases, contextualizando também o desenho como linguagem.

A segunda parte, intitulada “O que a criança diz sobre o seu desenho”, desenvolve a metodologia utilizada na pesquisa, bem como os resultados mostrando as falas dos pais, professores e os registros das crianças mostrando que o imaginário se mistura com real e os desejos.

A terceira parte segue com as considerações finais, mostrando que a evolução do desenho acompanha o crescimento da criança e que o desenho pode sim ser considerado como linguagem infantil.

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7 PARTE I – O desenho das crianças e sua evolução

1.1 Onde tudo começou

Para começar a falar sobre o desenho infantil, sua origem, seu desenvolvimento, é necessário nos reportarmos mesmo que brevemente, para a história antiga, onde tudo começou, quando os registros eram feitos de modo a comunicar assim como no desenho infantil.

Esse período corresponde aos primatas, que não utilizavam a linguagem verbal para se comunicarem, apenas a de gestos, de sons, ruídos, sinais, entre outras formas.

Considerado um dos períodos mais fascinantes da história humana, a pré-história não foi registrada por nenhum documento escrito, pois é exatamente a época anterior à escrita. Tudo o que sabemos sobre os homens primitivos é o resultado da pesquisa de antropólogos, historiadores e dos estudos da moderna ciência arqueológica, que reconstituíram a cultura do homem através dos desenhos feitos em pedras, dentro de cavernas e em montanhas .

A pintura rupestre é a forma de arte mais antiga realizada pelo homem, era feita nas cavernas e em paredes naturais pelos homens pré-históricos, eles nem sabiam que estavam fazendo arte, utilizavam-se de sangue de animais, retratando cenas, representando a caça e a dança, enfim, o que viam no seu dia-a-dia e o que os amedrontava.

Mas os primitivos desenhavam por quê? Pela necessidade. Assim como nós que criamos as invenções para suprir algo, os primitivos faziam isso essencialmente pela caça e sobrevivência, pois eles desenhavam para planejar o sacrifício dos animais e ao retratar isso, faziam quase que uma cópia fiel da realidade, o que muitos de nós não conseguiria fazer. A base de seus desenhos era muita observação, o dia inteiro, dos animais, no momento em que planejavam seus sacrifícios, pensando nas estratégias.

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Observando a figura 1, podemos verificar que são representações parecidas com búfalo, vacas, são os bizontes que eram desenhados com restos de fogo, uma espécie de carvão ou pedra que ia talhando a parede, é uma das imagens mais antigas, aproximadamente a 40 milhões de anos.

Se analisarmos a questão do homem como primitivo que deixava suas marcas para comunicar, comparando com a criança que desenha, vemos que é assim também na infância, quando a criança ainda não se comunica através da linguagem verbal e nem da escrita usando o desenho para registrar de algum modo o que sente, mesmo sendo em forma de rabiscos. Quando a criança exprime pelo desenho uma ideia um conceito, esta registrando muito mais que a própria imagem.

“Porque o desenho é para a criança uma linguagem como o gesto ou a fala. A criança desenha para falar e para poder registrar a sua fala. Para escrever. O desenho é sua primeira escrita. Para deixar sua marca, antes de aprender a escrever a criança se serve do desenho.” (MOREIRA, 1984, p.20)

Com o passar do tempo, o desenho foi sendo cada vez mais utilizado para representações do homem, quer como suporte técnico ou até mesmo como arte, utilizando-se assim do mesmo para comunicar, planejar, registrar, representar, tornando-se um elemento indispensável na comunicação.

A criança também utiliza o desenho para se comunicar. Através dele, transmite a sua experiência subjetiva e o que está ativo em sua mente, registrando aquilo que é significativo para ela. Todo ser humano “coloca para fora” seus conflitos, suas emoções, entre tantos outros sentimentos, de uma maneira particular. Essas expressões podem ser percebidas através da leitura dos desenhos infantis que, quando analisados sob critérios profissionais, possibilitam a compreensão das relações existentes no contexto infantil, pois suas produções materializam dados reais e subjetivos.

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9 1.2 O inicio do desenho e suas fases

Ao pegar pela primeira vez um lápis ou caneta, a criança experimenta esses materiais como brinquedos, isso gera para a criança um grande prazer, é só depois que começa ser capaz de mostrar suas ideias por meio da representação de símbolos que as identificam, mostrando assim uma diversidade de significados para nós adultos.

A criança inicia seus primeiros desenhos por volta dos dois anos de idade, quando entra em contato com materiais que possibilitam deixar marcas, assim como canetinhas, giz, lápis entre outros. De inicio, interessa-se pelo efeito que o material produz, do que pelo desenho que faz. Desenhando assim com rapidez, trocando várias vezes de mão para segurar o lápis, podendo até mesmo desenhar com as duas mãos ao mesmo tempo. Atualmente, os adultos colocam os materiais á disposição das crianças muito cedo, por isso, antes dos dois anos já estão experimentando e imitando o uso dos materiais e os traçados.

Não tendo uma coordenação motora segura, a criança desenha riscos curtos, linhas simples, e pouco tempo depois já é capaz de fazer em seus desenhos curvas fechadas, espirais e vários círculos, não se importando em definir figuras e sim como já referenciamos, a marca que o material oferecido é capaz de deixar.

É assim que enquanto o olho não segue a mão, a criança não dá início ao procedimento gráfico, ao mesmo tempo em que arrasta um pedaço de galho no chão, deixa no caminho o rastro, marcando o chão. Marca, segundo Greig (2004, p. 21), corresponde bem a esse período de rabiscos primitivos quando a criança gosta de brincar com os objetos e com as matérias, a água, a areia ou a argila, é a idade de se sujar, respingar, rasgar, ou seja de conhecer o que tem a sua volta, os resultados de sua ação sobre determinados materiais.

Após deixar determinadas marcas, a criança começa a dar importância ao que fez, quando percebe o objeto no traçado que realizou. É com frequência que verificamos que as primeiras marcas desses pequenos, são deixadas geralmente em paredes, móveis, aquilo que não seria segundo nós adultos um lugar apropriado para desenhar, falo assim também ao lembrar que os primeiros rabiscos de minha irmã mais nova, foram no roupeiro branco do nosso quarto, na altura de seus olhos. Após fazer

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isso foi muito ralhada por nós. Mas hoje percebo que foi para ela uma descoberta, um despertar. Concordando assim com Greig, quando diz: “Os rabiscos primitivos, os quais a criança costuma chamar de “crabouillis”, estão no centro dessa problemática de um ato que suja, mas que também se socializa, e pode começar a suscitar um certo interesse” (GREIG, 2004, p.22)

Com base no autor Greig, verifica-se que a criança dos 17 aos 18 meses, em seus desenhos nos oferece linhas informes e pontilhadas, mostrando também uma angulação de uma reversão, marcando a passagem do vaivém em fusos. Aos dois anos de idade a criança registra, o que chamamos de rabiscos de base, espirais e riscos contínuos, parecendo serrotes, os quais irão ocupar a maior parte das folhas, aparecendo ai também os primeiros traços verticais e formas circulares fechadas ou não.

É por volta dos dois anos e meio, que os desenhos são embasados pela busca de uma representação, são evidenciados ai os rabiscos compostos. Podemos dizer assim que esses traçados são acompanhados ora de leveza, ora de força. A organização espacial da folha também é notada, quando a criança inicialmente usa do centro e do espaço global da folha.

Concordo com Cohn, quando diz: “o reconhecimento da criança como sujeito social ativo e atuante, produtor mais que receptor de cultura.” (COHN, 2005, p.42), pois identificando símbolos a criança já reconhece um importante papel de ator de sua própria história, mostrando assim o que já viveu.

A criança não é um ser isolado. Ela participa e constrói sua história dentro de um contexto social do qual traz valores e crenças que constituem o seu eu, que dentro deste contexto a criança precisa entender o tempo e o espaço para se organizar num cotidiano de constantes transformações. Contudo, fica claro que a criança deve ser educada a partir de suas possibilidades, em atividades onde ela seja ao mesmo tempo criadora e executora, envolvida em todos os aspectos do processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido faz-se necessário ao processo de ensino, um ambiente bem estruturado com sala de aula ampla e arejada, um armário com os materiais necessários e brinquedos diversificados, um ambiente instigante para leitura e escrita, disponibilizando tempo para brincar, cantar e imaginar.

Por volta dos três anos de idade a criança em suas produções começa a utilizar-se muito mais da figura de um circulo, muitas vezes ele possui várias voltas em torno de si, mais tarde começa a representação apurada da figura de um boneco, ao qual

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são acrescentados raios em torno dos círculos, nessa fase a criança já começa a perceber o esquema corporal, desenhando o que é chamado por Greig de “figura-girino”.

Nas “figuras-girinos”, conteúdos ou preenchimentos ainda não mostram um rosto, nessa tentativa de mostrar uma figura humana, segundo o autor os elementos irradiantes não têm correspondência com nossos membros, isso só ocorre por volta dos três anos e meio, quando essa figura vai ganhando precisão nos traços e detalhes. Greig explica que:“Mesclando as figuras de continentes e as irradiantes, introduzindo os dois olhos de forma explícita, e tudo isso com os movimentos habituais e imprevisíveis de avanços e recuos presentes em toda a progressão, essa evolução se mostra muito mais característica.” (GREIG, 2004. p. 36). É assim que começa a nomear seu desenho, sendo uma fase muito importante, pois reconhece o que faz.

É nesse período que em seu desenho da “figura-girino” a criança começa a dar mais formas, colocando dois olhos, que muitas vezes são quase proporcionais ao tamanho do grande círculo, a boca geralmente é representada por um largo risco que chega ultrapassar as bordas do círculo, mostrando também o que seriam as pernas e até mesmo os cabelos. Não há ainda uma separação da cabeça e membros tudo tem sua “raiz” na cabeça. Com base no que diz Greig: “E então, na maioria dos casos bastam algumas semanas para aparecerem boca, nariz ou sobrancelhas, orelhas ou cabelos, pernas e braços, Às vezes com os pés ou com as mãos, e com todos os reagrupamentos familiares.” (GREIG, 2004, p.38)

A figura humana com cabeça e corpo se encontra na fase da criança com três anos e meio, também quando começa a desenhar outras figuras como a noção do quadrado, representando uma casa, é quando as primeiras representações de animais também começam a aparecer, lembrando que seguem sempre o mesmo critério do círculo. Assim para a criança cada representação é diferente e única, com significados.

Nessa fase dos 3 anos é importante o uso da imagem da criança, para a apropriação do esquema corporal, em uma sala de educação infantil o espelho é fundamental no reconhecimento dessa imagem, no momento em que a criança vê o seu corpo refletido, podendo diferenciar e nomear suas partes.

Acompanhando meus alunos desde o ano passado (2011), quando a maioria estava na figura-girino, utilizei bastante a técnica do espelho, fazendo-os se observarem, pois ao desenharem o seu corpo no papel, muitos de meus alunos desenhavam a cabeça seguida de raios representando os braços e pernas, dentro da cabeça que representava

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todo o corpo, os olhos e a boca, só mais tarde o nariz e as orelhas, e os demais detalhes. Aos poucos foram percebendo, através dos meus questionamentos e estímulos, que temos um corpo, que os braços e pernas fazem parte desse corpo, percebendo-se assim,

os alunos começaram a desenhar esses detalhes. De acordo com Derdyk:

“A construção da figura humana, em sua gênese, é um ótimo pretexto para observarmos o mapa da ampliação da consciência, através de um documento gráfico vivo e orgânico; é um convite para flagrarmos o processo de construção da visão de mundo da criança.” (DERDYK, 1990, p.104)

Como vimos, a evolução do desenho acompanha o desenvolvimento da criança. Meu objeto de estudo são as crianças de até 5 anos de idade, faixa etária com a qual convivo diariamente, portanto não me prolongarei nas demais idades que seguem nessa curiosa evolução do desenho.

Dos 4 a 5 anos temos a fase de temas clássicos do desenho infantil, como

paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores, pretendendo certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos e as distribuições dos desenhos no papel obedecem a certa lógica,

do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência a emprestar características

humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.

Falando mais profundamente sobre o desenho, Piaget contribui nos dizendo que o desenho é uma das manifestações semióticas, isto é, uma das formas através das quais a função de atribuição da significação se expressa e se constrói. “Desenvolvendo-se concomitantemente às outras manifestações, entre as quais o brinquedo e a linguagem verbal.” (PIAGET, 1973).

Segundo Piaget, a forma de uma criança conhecer o objeto, passa por significativas transformações em sua evolução, no processo de adaptação ao meio que se dá por sucessivos movimentos de equilibração. Inicialmente, predomina a ação nas relações com o objeto.

Vygotsky por sua vez evidencia outras condições para o desenho, uma delas é o domínio do ato motor, sendo o desenho o registro do gesto constituindo passagem do gesto à imagem. Segundo ele o desenho é o precursor da escrita, a percepção do objeto, no desenho corresponde à atribuição de sentido dada pela criança, constituindo-se realidade conceituada e não material, quando o objeto repreconstituindo-sentado é reconhecido

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após a realização do desenho acompanhado da fala da criança. “Momento fundamental de sua evolução se constitui na antecipação do ato gráfico manifestado pela verbalização, indicando a intenção prévia e o planejamento da ação.” (VYGOTSKY, 1988).

No processo de desenvolvimento da criança, os dois autores têm como foco diferentes aspectos do desenho, quando Piaget caracteriza o sujeito do ponto de vista epistêmico e Vygotsky fala do sujeito do ponto de vista social, no entanto, ambos se aproximam em relação à importância do desenho no processo de desenvolvimento da criança e à característica de que a criança desenha o que a interessa, representando o que sabe de um objeto.

No que diz respeito as etapas de desenvolvimento é importante destacar que todas as crianças passam por essa evolução, no entanto cada uma evolui de maneira diferente, sendo que cada criança possui características que são próprias considerando também o ambiente que as rodeia.

O interesse pelo desenho infantil era limitado até o inicio do século XX, e só era considerado por alguns pais e professores que guardavam produções de desenhos de crianças “excepcionais”. Após isso estudos e pesquisas começaram a ser realizadas sob o ponto de vista psicológico e também da arte moderna, que relacionaram o desenho das crianças com a arte primitiva, considerando assim que a criança também produz arte quando desenha.

Outros estudiosos falam sobre o desenho infantil como sendo importante no desenvolvimento, como Read (1977) que, focalizando o papel das imagens visuais para o desenvolvimento do pensamento, propondo que é no desenho que existe uma ligação entre a percepção e a imaginação, possibilitando assim a integração da criança de forma concreta no mundo simbólico, sendo passível de várias modificações. Ao mesmo tempo em que Lowenfeld (1977) é outro autor que ressalta a importância do desenho para o desenvolvimento da criança, aponta o desenho como veículo de auto-expressão ou como de desenvolvimento da capacidade criativa e da representação.

Derdyk (1989) fala do poder de evocação e interpretação da imagem visual, pois o desenho como forma de pensamento, indica a oportunidade de que o mundo interior se confronte com o exterior, a observação do real se depare com a imaginação e o desejo de significar. Assim, memória, imaginação e observação se encontram, passado e futuro mostrando o registro da ação no presente. Como

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pensamento visual, o desenho é estímulo para exploração do universo imaginário, é também, instrumento de generalização, de abstração e de classificação. A autora ressalta ainda que o desenhar envolve diferentes operações mentais, selecionar e relacionar estímulos, simbolizar e representar, favorecendo a formação de conceitos.

Pesquisando sobre o importante papel do desenho na construção de conhecimento, Pillar (1996, p. 51) afirma que “... ao desenhar, a criança está inter-relacionando seu conhecimento objetivo e seu conhecimento imaginativo”. E, simultaneamente, “...está aprimorando esse sistema de representação gráfica”. Comparando diferentes procedimentos de desenhar, a autora ressalta a importância do desenho espontâneo para a compreensão das ideias de crianças.

Lowenfeld (1977, p. 51) afirma que: “(...) através da compreensão da forma, como o jovem desenha, e dos métodos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar em seu comportamento e desenvolver a apreciação dos vários complexos modos como ele cresce e se desenvolve”. Afirmando assim que o desenho é a linguagem pela qual a criança expressa seus sentimentos, ações, ideias, enfim, um modo de retratar seu mundo.

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15 1.3. O desenho como linguagem

Diante do contexto de que a criança utiliza-se do desenho para comunicar-se, é imprescindível comentar que um de meus alunos quando ficou sabendo da noticia de que sua mãe estava grávida, começou a representar isso nos seus desenhos, fazendo a mãe e o filho na barriga, registrando o momento em que estava vivendo, a espera de um irmão. O mesmo aluno se desenhava com uma capa de super-herói, sendo apaixonado pelo filme “Super cão”, bem como representava suas preferências e gostos, brincadeiras mostrando isso também em suas brincadeiras.

O desenho para a criança além de ser um brinquedo, também é uma linguagem como o gesto ou a fala porque ,desenhando, pode registrar a sua fala. “O desenho é a sua primeira escrita” (MOREIRA, 1984, p. 20)

Em um estudo desenvolvido por Freeman (1980), verificou-se se as crianças pequenas estão desenhando sob o ponto de vista do que elas conhecem ou o que elas veem, observando como elas planejam, sequenciam e realizam seus desenhos de um mundo real em três dimensões para o papel. Com esse estudo mais detalhado por Willatts e Cox , procurou-se também saber como as crianças desenham objetos colocados atrás ou dentro de outros objetos, eles usaram tarefas da realidade cotidiana e narrativas familiares as das crianças durante as investigações.

Sob o ponto de vista de que as crianças tem capacidade de expressar-se através do que estão vendo, evidencio que as crianças podem reproduzir a partir de figuras expositivas, uma releitura de imagens, pois segundo Whitbread e Leeder (2003) os adultos podem introduzir as crianças em um percurso sequencial de atividades, onde são disponibilizados figuras para que elas reproduzam gradualmente. Mas em outro momento questões são levantadas no que diz respeito sobre até que ponto a intervenção do adulto é apropriada.

Ao citar a vivência de meu aluno, quando desenhava o que estava vendo, no caso, a sua mãe grávida, observou-se uma perspectiva no desenho, o aluno desenhava em transparência o bebê na barriga da mãe, querendo mostrar isso aos demais. O desenho ali representado por ele deixou escrito um momento que estava vivendo e queria deixar registrado, ao mesmo tempo em que seus colegas também queriam desenhar suas mães com bebês na barriga, mostrando que o desenho é entendido assim

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como objeto de desejo. A criança também desenha sob uma perspectiva de algo que pode acontecer e que deseja muito.

Concordando com Anning e Ring, que diz:

“Da perspectiva do desenvolvimento “natural”, está claro que as crianças usam os desenhos como um instrumento para entender e representar importantes aspectos de suas próprias experiências pessoais e daquelas vividas pelas pessoas, dos lugares e das coisas” (ANNING e RING, 2009, p.42)

Isso nos remete ao desenho primitivo, do quanto são importantes as narrativas visuais nas comunicações, do que era deixado nas paredes e rochas documentados como acontecimentos e o que ainda poderia acontecer.

Na visão de Edwards, Gandini e Forman tendo como referência as abordagens de Rinaldi (1991), as crianças de 3 a 4 anos de idade ainda não conseguem representar as observações e pensamentos por escrito, podendo assim falar sobre os mesmos para que alguém possa registrar escrevendo essas falas. Para os autores, as linguagens gráficas das crianças servem para registrar ideias, observações, recordações, sentimentos e outros mais, nos revelando assim como as linguagens gráficas são usadas para explorar os sentimentos e conhecimentos, construindo algo que já conheceram e ao mesmo tempo buscando novos conhecimentos.

No desenho das crianças os registros das falas, assumem um papel muito importante para valorizar e informar:

“... os desenhos significam relativamente pouco sem a documentação feita pelos professores daquilo que as crianças disseram sobre o que observaram e viveram. Gravados, os comentários e discussões das crianças ofereceram aos professores um conhecimento sobre seus níveis de entendimento e seus enganos de percepção sobre fenômenos cotidianos.” (EDWARDS, GANDINI, FORMAN, 1999, p.39)

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Acompanhando as falas de alguns de meus alunos enquanto desenhavam, sobre a história que haviam escutado “A gotinha d’água”, ao fazer algumas indagações observei que ao falar sobre o desenho eles colocam muito significado no que estão fazendo, utilizando - se do imaginário, fazendo relações, explicando suas produções:

“- O sol tem boca e olhos.” ( fala de P) Porque (fala da Profe Fê)

“- Por que ele tem que assoprar a nuvem.”

“– Amarelo é o sol junto com cor de laranja.” (fala de N) Você não vai fazer as nuvens?

“- Não eu só gosto de sol.” (fala de R)

Em suas falas as crianças carregam-se de sabedoria e fantasia, nos mostram como enxergam o mundo, seria então a leitura de mundo que Paulo Freire tanto nos fala, propondo que a leitura de mundo, seria ler as coisas, mas não a palavra escrita e sim o que esta vendo, lendo os signos, as coisas, os objetos, os sinais antes mesmo da criança ser alfabetizada. Por isso Freire destaca que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra.” (FREIRE, 2000) .Podemos assim aprender muito sobre seu modo de pensar e agir.

Moreira, diz quanto a isso que:

“O que é preciso considerar diante de uma criança que desenha é aquilo que ela pretende fazer: contar-nos uma história e nada menos que uma história, mas devemos também reconhecer, nesta intenção, os múltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos outros a marca de seus desejos, de seus conflitos e receios.” (MOREIRA, 2008, p. 20)

Sendo assim o desenho como expressão, a criança desenha para se comunicar, e deve ser encarado como forma de entender o desenvolvimento da criança.

De acordo com minha experiência em sala de aula, posso dizer que o desenvolvimento da linguagem passa também pelo desenvolvimento da expressão do desenho, pois tenho dois alunos que com quase cinco anos completos, ainda estão desenvolvendo a sua fala. Comparando seus registros com os produzidos pelos colegas da turma ambos estão quase saindo da fase da garatuja, já conseguem fazer círculos fechados, e até mesmo a figura humana. Um deles, o aluno G, já faz a figura humana no entanto, de uma forma diferente, conseguindo desenhar de ponta cabeça. No inicio do ano ele fazia seu registro com um círculo e dois riscos, representando assim a figura

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humana. O outro, o aluno M, faz muitos rabiscos, mas, consegue representar uma figura humana, dizendo aos poucos o que esta fazendo, este possui o diagnóstico de Síndrome de Donw, e é bastante cuidadoso em suas representações, preenchendo toda a folha quando desenha.

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PARTE II – O que a criança diz sobre seu desenho

2.1. Metodologia utilizada

A pesquisa de campo foi realizada na Escola de Educação Infantil do Hospital de Caridade de Ijuí, com sujeitos com quem convivo diariamente, meus alunos da turma do Jardim, que se encontram na faixa etária de 4 a 5 anos de idade.

São sujeitos que participam com grande entusiasmo das atividades propostas e com mais intensidade quando estas se referem ao ouvir histórias, cantar, brincar e principalmente, desenhar. É comum ouvi-los perguntar “Profe vamos fazer atividade

hoje?”, atividade para eles é encarada como coisa séria, como forma de registrar a

presença na aula, eles perguntam então: “profe eu vou fazer também a atividade? Quero

mostrar meu desenho pra minha mãe quando ela chegar!”

Em nossas aulas as crianças brincam com as histórias e poesias, fazendo

interpretações e indagações, cantam, fazem versos, enquanto desenham riem e falam

muito, no desenho representam tudo o que a imaginação deixa vazar. Assim reproduzem seus pensamentos e desejos: “O ato de desenhar exige poder de decisão. O desenho é possessão, é revelação. Ao desenhar nos apropriamos do objeto desenhado revelando-o. O desenho responde a toda forma de estagnação criativa.” (DERDYK, 1994, p.46)

O momento do desenho, é bastante esperado por esses alunos, sendo que assim eles interagem trocando ideias, brincando, imitando personagens, colocando muita criatividade ao desenhar, mostrando a linguagem do lúdico.

A pesquisa de campo foi realizada com os alunos que fizeram alguns desenhos e falaram sobre os mesmos. Foram solicitados para desenhar o retrato da família em uma folha, em uma segunda folha, como a criança gostaria que fosse sua família. Tendo como ponto de partida o que os desenhos infantis revelam sobre o mundo do real e o outro desenho, sobre o mundo do imaginário.

Após, outros sujeitos envolvidos também deixaram suas opiniões sobre o tema em questão: Qual o sentido do desenho na Educação Infantil? Será a vez dos pais e professoras dessa instituição, os quais responderam dentro da experiência ou não quanto ao assunto, sabendo que as educadoras e pais contemplam opiniões diferentes, em níveis diferentes.

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20 2.2 . Resultados da pesquisa: As falas da família, professores e registros comentados dos alunos.

Foram registrados os depoimentos dos pais e professoras, aos quais expressaram por escrito seu pensamento partindo do que sabem a respeito quanto ao que foi solicitado.

Quanto aos depoimentos dos sujeitos envolvidos, acredita-se que são falas carregadas de grande significado, pois é o que dá sustentabilidade ao processo de pesquisa, considerando que a fala dos mesmos é carregada de histórias, de vivências e desejos. Sendo assim a linguagem é um ponto muito importante nesse processo, concordando com Merleau – Ponty quando diz: “Com sua linguagem global a criança se faz compreender pelo outro, que mergulha em sua consciência e apreende através da ordem racial de suas palavras a totalidade dos fenômenos.” (MERLEAU – PONTY, 1990, p. 61)

Em uma pesquisa o que se espera é a participação de todos, no entanto, nessa pesquisa revelou-se a pouca participação do corpo docente da instituição em que trabalho, entre pais e professores, os pais foram os que mais participaram enviando novamente para a escola suas respostas. A isto ficou a indagação do porque as educadoras não retornaram com suas respostas, pois é algo que esta no dia-a-dia de nossas práticas, talvez por falta de tempo ou por não saberem o que escrever no papel. Aos pais se esperava bem menos a participação, o que me surpreendeu, no retorno e em seus discursos fantásticos.

Os discursos dos pais e professores revelam a autenticidade do pensar, as falas dos professores embasadas nas experiências e os pais no que observam e sabem a respeito do tema.

Considerando os resultados da pesquisa, observou-se um novo olhar para o desenho infantil, refletindo nas leituras já realizadas sobre o tema em questão, assim demonstradas a seguir.

As entrevistas com as respostas da interrogação: Qual o sentido do desenho na Educação Infantil? Ressalto que para assinalar e identificar as falas, tendo como sigilo os nomes dos sujeitos, será utilizado os seguintes símbolos:

P – Professor, seguido do número correspondente. F – Familiar seguido do número correspondente.

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S – Sujeito, ou seja, a criança, seguido do número correspondente.

(P1) “Eu acredito que o desenho na educação infantil tem como sentido, fazer com que a criança expresse seus sentimentos. E eu pude perceber isso na prática mesmo, pois trabalho a oito anos com a educação infantil. E principalmente essas crianças pequenas, que não conseguem dizer o que pensam, enfim o que sentem, a educadora deve ter um olhar especial para os desenhos, pois ali, como os grandes artistas, eles demonstram isso.”

(P2) “Através do desenho que a criança expressa seus sentimentos, emoções... A criança pega um lápis e logo começa a desenhar, risca e rabisca dando forma e colorido aos seus desenhos. Nós educadoras temos que valorizar as produções sempre incentivando para que as crianças falem sobre o que desenharam. Fazer atividades ou técnicas que despertem a curiosidade e o interesse de cada criança, ex: ir para frente do espelho para reconhecer as partes do corpo, depois deste exercício fica mais fácil a criança representar seu esquema corporal.

Respeitar as etapas do desenho, a criança deve ter a livre expressão, estar sempre atenta e também mostrar gravuras e outros desenhos para que as crianças percebam as cores, detalhes, formas. Não devemos dizer para criança isto está errado não é assim, cada criança tem seu jeito de se expressar e nós professoras temos que entender cada uma delas, trabalhar com a Educação Infantil é realizar-se como educadora, pois cada dia é uma surpresa.”

(P3) “Permite expor seus sentimentos e desejos que cada um consegue de maneira diferenciada, fazer seus próprios registros, também auxilia a criança no desenvolvimento da escrita.”

(P4) “O ato de desenhar proporciona a criança aproximação do real com o imaginário ou vice-versa, expressando no papel, chão, madeira ou outros materiais sua compreensão do observado. A criança na ação dos seus traços expressa sentimentos, alegrias, tristeza, afetividade, medo, convivência familiar, escolar e social. Muitas crianças desejam a presença da figura materna nos seus desenhos, para eles somente tem sentido, significado a existência da mesma.

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No momento em que a criança desenha, interage com ela mesma, elabora sua história, reconhece-se como sujeito participante, forma de libertar-se, expressar suas ideias e reflexões.

A criança é reconhecida como cidadão desde os seus desenhos iniciais, explorando, ouvindo, relatando fatos do dia a dia, representando, interpretando, demonstrando, observação detalhada nos seus traços.

O desenho da criança precisa ser olhado de forma respeitosa, valorizada para que sua criatividade não seja estereotipada. Dessa forma, nós educadores e pais precisamos ter presente no dia a dia livros, jornais, poesias, filmes, brincadeiras, estimulando a curiosidade e a imaginação das crianças.”

(P5)”Para mim o sentido do desenho na EI é de que a criança manifeste seu pensamento, reproduza sua maneira de dar significado as coisas que imagina, que pensa, que sente e o modo como vê a si e ao mundo a sua volta.

Através do desenho que tem papel importantíssimo na iniciação escolar a criança pode descobrir o fantasiar e o inventar, com ele a aprendizagem se torna muito mais divertida e satisfatória.

Assim como o desenho em si é de muito valor nos primeiros anos de vida, o papel das educadoras também se torna fundamental na hora de instigar e de orientar. De caráter não menos significativo vem o fato de não fazer cópias dos modelos ‘adultos’ existentes e criar com toda sua personalidade e seu aprender.”

(F1)“É através do desenho que a criança expressa seus pensamentos, suas emoções. A criança usa de símbolos e imagens para ter uma ‘comunicação’ como adulto, manifestando o que sentem. Trabalhar com essa linguagem de comunicação através do desenho é muito importante, pois estimula a imaginação da criança.”

(F2)”Para mim, eu penso que tem a ver com a criança soltar a imaginação, desenvolvem a criatividade e expressar os sentimentos.”

(F3)”Para mim o desenho na educação da criança é muito importante, porque é através do desenho que muitas vezes elas expressam seus sentimentos e desejos, expressam suas vontades, ou a sua realidade, o dia-a-dia delas.”

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(F4)”Para mim o sentido do desenho na educação infantil é muito importante, pois é a forma que a criança usa para expressar o que sente e como vê as coisas ao seu redor, aprende a usar os espaços e no seu ritmo vai desenhando cada vez melhor.”

(F5)”Eu vejo o desenho do meu filho como uma forma de expressão, o desenho faz com que ele imagine um mundo que seja só dele, assim ele viaja na imaginação. Ele desenvolve a criatividade e o conhecimento.”

(F6)”Para nós pais o desenho é de grande importância pois acreditamos que através dele que entendemos melhor nosso filho. Pelo desenho, formas e cores temos a percepção do seu desenvolvimento e também as suas manifestações emocionais.”

(F7)”É através do desenho que a criança solta sua imaginação e desenvolve sua criatividade. O desenho é o primeiro passo para um aprendizado futuro, pois é a partir dele que a criança aprende as cores, os números, as letras...”

(F8)”Acho muito importante! O desenho trabalha vários aspectos, como: coordenação motora, criatividade, noção de espaço, noção do corpo, de paisagens, aguça a imaginação, enfim... tenho certeza que conseguimos acompanhar o desenvolvimento de nossos filhos através de seus desenhos. É muito gratificante quando vemos aqueles ‘rabiscos’, pegando forma, agora aqueles ‘rabiscos’, se tornam: flores, nuvens, casas, pessoas, animais, e tudo mais que a imaginação permite e que é expressa através do desenho.”

(F9)”Através do desenho a criança mostra como ela vê o mundo, as pessoas, ela mesma. Pequenos traços, que a medida do desenvolvimento da criança toma forma e apresentam detalhes. O desenho é uma representação das fases vividas pela criança, por isso acredito importante ser respeitado e valorizado. No momento que a criança apresenta um desenho é como se ela se mostrasse, caso alguém diga não estar bom ou que não é assim, a criança sente como se estas palavras fossem para ela ou ‘dela’, e não somente um comentário sobre o desenho. É como se o desenho fosse uma continuação dela mesma, durante a educação infantil o desenho se apresenta como uma das mais

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importantes manifestações da criança, uma vez que ainda não esta plenamente capaz de expressar suas vivencias, desejos e medos pela fala ou escrita.”

(F10) “Para mim é muito interessante ver meu filho desenhar, ele cuida os detalhes ao desenhar, por exemplo, ele me desenhou abaixo, desenhou meus cabelos pretos e com os cabelos caídos nos olhos, quando questionei ele o porque, ele disse que quando olhou pra mim meus cabelos estavam no olho. Adoro ver ele desenhar, como ele usa os desenhos para contar histórias do que aconteceu no dia por exemplo. O desenho na educação infantil tem sim um papel muito importante na educação do aluno, pois estimula a imaginação da criança nos dando à oportunidade de conhecer e entender o mundo que eles ‘vivem’, um mundinho fascinante cheio de deliciosas aventuras.” (F11) “Penso que o desenho na infância proporciona a criança fazer uma leitura de sua imaginação. Como se fosse o alfabeto, já que a este ele não tem acesso, desenhar para a criança é leva-la a um mundo de sonhos que só ele percebe que só ele conhece.”

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25 2.3 – Reflexões sobre a pesquisa -

Analisando os resultados observa-se que com base no que já foi estudado as falas nos oferecem várias contribuições, uma vez que são conhecimentos a partir de vivencias tanto de educadoras como as dos pais observando seus filhos.

Em todos os depoimentos é evidente que o desenho é visto como forma de que a criança demonstra seus sentimentos, uma vez que algumas crianças ainda não sabem se expressar verbalmente, os pais se sentem maravilhados ao verem os primeiros registros dos seus filhos tomarem forma de signos compreensíveis. Por isso, o desenho não deve ser entendido somente como representação artística, mas sim como forma de entender o desenvolvimento da criança, visando seu crescimento como um ser social. Isso porque o desenho é para acriança uma linguagem e como linguagem, expressa o pensar da criança, de acordo com Moreira:

“Para melhor conhecermos a criança, é preciso aprender a vê-la. Observa-la enquanto brinca: o brilho nos olhos, a mudança de expressão do rosto, a movimentação do corpo. Estar atento à maneira como desenha o seu espaço, aprender a ler a maneira como escreve a sua história.” (MOREIRA, 2008, p.20)

Destaca-se também a importância de valorizar o que a criança diz sobre suas produções, anotando sobre o que desenhou, isso como forma de deixar registrado no tempo, pois quando a linguagem escrita e o desenho ao serem aproximadas tornam-se um rico documento histórico ao qual podemos recorrer ao necessitarmos saber mais e melhor acerca de seu mundo vivido, segundo o olhar da criança.

De acordo com Goobi, quando diz:

“A perspectiva de que os desenhos infantis também podem ser considerados documentos deve-se ao peso que adquirem como informantes que são sobre determinados momentos históricos e sobre a infância existente nestes contextos.” (GOOBI, 2002, p. 73)

As etapas do desenho segundo os pais e professoras devem ser respeitadas como forma de valorizar os registros feitos por elas, nunca se colocando contra o que foi por ela produzido, jamais dizendo que o que ela produziu esta errado, pois isso pode bloquear a criança, e mais tarde ser considerado como um trauma.

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Apesar de percorrer o mesmo caminho para desenhar devemos entender que, o desenvolvimento do desenho não é igual para todos, pois depende das experiências vividas, das oportunidades de investigação e experimentação de diferentes materiais, da forma de pensar e agir de cada criança.

O desenho é a aproximação do real com o imaginário, quando a criança desenha viaja em um mundo que é só dela, e registra o que sente no papel, sendo assim compreendido como cidadão que participa.

Derdyk (1989) salienta o poder de evocação - e interpretação – da imagem visual. O desenho, forma de pensamento, propicia oportunidade de que o mundo interior se confronte com o exterior, a observação do real se depare com a imaginação e o desejo de significar. Assim, memória, imaginação e observação se encontram, passado e futuro convergindo para o registro da ação no presente.

Partindo da ideia de que o desenho é um instrumento da cultura, proponho dizer que suas produções também dependem muito do contexto familiar em que estão inseridos, partindo do exemplo da instituição pesquisada, do ponto de vista de que seus pais, em grande maioria, são sujeitos com uma formação acadêmica ou curso técnico é que há um incentivo também em casa, quando os familiares oferecem instrumentos para que essas crianças desenvolvam-se em seus desenhos, há também uma valorizam maior sobre o que as crianças fazem. Pode-se ver isso na qualidade das respostas na pesquisa.

Uma das familiares que participou da pesquisa, pediu para que seu filho a desenha-se, o resultado descrito por ela: “ele me desenhou abaixo, desenhou meus

cabelos pretos e com os cabelos caídos nos olhos, quando questionei ele o porque, ele disse que quando olhou pra mim meus cabelos estavam no olho.”

Essa fala nos revela o quanto são fantásticas as relações que a criança faz do real com a representação, desenhando o que vê, e a relação da criança com a mãe quando ela pede para que seu filho a desenhe, ele provavelmente estava sentado e a mãe em pé a sua frente com os cabelos no rosto.

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 Desenhos das crianças e suas falas:

Figura 2

Figura 3

(S1) 1ª ilustração: “Meu pai, minha mãe, ta olhando TV, eu dormindo e um monte de

cachorrinhos. Tava escuro.”

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Figura 4

Figura 5

(S2) 1ª Ilustração: “Minha mãe, meu pai e eu.”

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Figura 6

Figura 7

(S3) 1ª Ilustração: “Meu pai e minha mãe, eu fiquei dormindo, depois eu sai com a

mana.”

2ª Ilustração: “Umas bolas de neve, era frio, o meu pai abraçando minha mãe, eu e a

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Figura 8

Figura 9

(S4) 1ª Ilustração: “Eu desenhei meu vô, minha vó, minha mãe e eu”

2ª Ilustração: “Eu queria que meu pai morasse com minha mãe junto do meu vô e

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31 2.4. O real e o imaginário no desenho das crianças –

O desenho das crianças envolvidas na pesquisa foi realizado em momentos da sala de aula, foram escolhidas quatro crianças, que com canetinha esferográfica e giz de cera desenharam sobre a folha A4 de desenho, fizeram a ilustração de acordo com o pedido, a família que tenho e a família que gostaria de ter, registrando-os em duas folhas, em seguida foi realizada a escuta das falas e registro das mesmas sobre as ilustrações.

Analisando os desenhos pude perceber que elas têm desejos que são reais retratados em seus registros, ilustrando no papel a família que mora em casa e em um segundo momento fazendo a ilustração das pessoas que gostariam que estivessem sempre junto na mesma casa, elas vão muito além do que é solicitado, colocando situações que um dia já viveram.

Concordo com Anning e Ring:

“Da perspectiva do desenvolvimento “natural”, esta claro que as crianças usam os desenhos como um instrumento para entender e representar importantes aspectos de suas próprias experiências pessoais e daquelas vividas das pessoas, dos lugares e das coisas.” (ANNING e RING, 2009, p.42)

O primeiro registro do sujeito 1, nos mostra a família, o pai, a mãe e ele (a criança) estão olhando televisão, uma situação retratada como sendo uma atividade diária da família, e é o que acontece geralmente a família reunida para assistir aos programas televisivos. No segundo momento o sujeito, desenhou sua família já antes descrita, mas com um componente a mais, o irmão por parte de pai, expressando assim o desejo de ter o irmão mais próximo de si, contando ainda uma situação que talvez um dia já foi vivenciado por ele: ‘Meu pai surrou meu mano’.

Segundo Anning e Ring (2009, p.22) um espaço compartilhado importante para as famílias é em volta da televisão, citando em seu texto Mash (2002) indica que os textos da mídia, da televisão, os vídeos e jogos de computador proporcionam recursos compartilhados dos quais pais e filhos podem construir significados. Em volta da televisão é que a família se encontra.

Em seu registro ele utilizou várias cores, mostrando assim a riqueza em seus registros é um aluno que se detém bastante nos detalhes de suas ilustrações.

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É importante ressaltar que as histórias de vida dessas crianças, são por mim muito bem conhecidas, pelo fato de ser o segundo ano que acompanho essa turma de crianças. E nos desenhos da pesquisa, as histórias se confirmam. Também através dos desenhos é possível falar um pouco da personalidade de cada sujeito envolvido, isso é claro tendo conhecimento de suas histórias.

O segundo sujeito, desenhou os três componentes de sua casa, a mãe, o pai e ele, no primeiro registro, já no segundo “Eu desenhei meu pai, a vovó Lair, o tio Lovi e

eu queria um maninho.”, acrescentou a vó e um tio que moram em outra cidade e vem

visitar a família de vez em quando, e no final de sua fala o desejo de ter um maninho para lhe fazer companhia.

Observe que na ilustração desse sujeito não utilizou muitas cores e a simetria dos desenhos é a mesmo nos dois momentos, é um aluno bastante agitado no dia a dia, faz seus registros sempre com muita rapidez para brincar e conversar com os demais colegas.

O terceiro sujeito ocultou componentes da família, mas depois em sua fala, explicou: “Meu pai e minha mãe, eu fiquei dormindo, depois eu sai com a mana.” Essa menina tem uma irmã gêmea as duas são minhas alunas estão sempre juntas, possuem uma família muito unida, o pai tem um filho de um outro casamento, eles viajam uma vez por mês para visitar esse filho, elas são muito ligadas á ele. O desejo de ter o mano mais próximo é descrito quando diz: “Umas bolas de neve, era frio, o meu pai

abraçando minha mãe, eu e a mana tava dormindo, o mano estava brincando com a vó.” Observe que no segundo momento ela também não a desenhou junto com a irmã e

os demais componentes, isso aparece somente na sua fala. Essa aluna também adora desenhar, e adicionar detalhes as suas produções, imaginou em seu desenho a neve e o frio.

Já o quarto sujeito ilustrou o vô, a vó, a mãe e ele, esse sujeito é filho de pais separados e mora com a mãe os avós maternos, vê o pai de fim de semana. Às vezes no dia a dia da sala de aula, apresenta situações de choro e chama pelo pai, é visível a falta da figura paterna por ele. Em seu segundo registro desenhou seu desejo, de que o pai morasse com ele na sua casa:“Eu queria que meu pai morasse com minha

mãe junto do meu vô e minha vó e eu”. Esse sujeito é uma criança que gosta de fazer

ilustrações com detalhes e cores, no entanto no seu segundo registro utilizou apenas a cor azul.

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Analisando todas as ilustrações, observamos que essas crianças já possuem um esquema corporal bem desenvolvido fazendo os seguimentos cabeça, corpo e membros, atribuindo seus detalhes, apenas o segundo sujeito, que faz a cabeça seguido de pernas e braços.

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34 Conclusões da pesquisa:

Após levantadas questões da pesquisa sobre o tema escolhido, percebemos que existe uma estreita relação entre as fases do desenho infantil e as etapas evolutivas do desenvolvimento humano, pois de acordo como vai se desenvolvendo, o desenho vai tomando novas formas de representação.

O desenho infantil esta também relacionado aos registros primitivos, que foram entendidos como primeira linguagem do homem, podendo fazer a relação com a criança que tem como linguagem o desenho que precede a escrita.

Buscando respostas, ao analisar os vários autores citados, verifica-se que há uma relação nas abordagens das pesquisas realizadas, não existindo divergências profundas entre esses pensadores.

Dessa forma, é importante mencionar a importância do conhecimento das fazes do desenho infantil, sendo um recurso que o educador pode utilizar para melhor compreender as crianças e seus desenhos. Sendo que o desenho infantil comunica, assim como a fala, o jogo e a escrita, observar o desenvolvimento no desenho é valorizar a criança como ser social.

A pesquisa com o corpo docente da escola infantil, juntamente com os pais forneceu elementos para refletir a importância do trabalho com o desenho infantil, mostrando nas falas que há um grande incentivo e valorização por ambos, nesta forma de linguagem.

Conclui também que a evolução é um processo inerente ao homem, sofre transformações de acordo com o meio em que vive, as crianças são assim também de acordo com seu crescimento vai também transformando seus desenhos.

Foi possível identificar as manifestações do pensar infantil através do desenho das crianças, e perceber que seus desejos estão aliados ao imaginário, pois como já afirmei o desenho é uma forma de representação do pensamento, por isso por meio da grafia a criança pode apresentar a forma como pensa o mundo.

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35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005

DERDYK, Edith. O desenho da figura humana. Série Pensamento e Ação no Magistério. São Paulo, Editora: Scipione, 1990.

DERDYK, E. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1989.

EDWARDS, Carolyn; FORMAN George; GANDINI Lella. As Cem linguagens da

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Batista – Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda, 1999.

FIGURA I - http://retorikos.files.wordpress.com/2011/03/1altamira_1.jpg

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 28 ed., São Paulo: Paz e Terra, 2000. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

______; INHELDER, B. A psicologia da çriança. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1973.

READ, H. La educación por el arte. Buenos Aires: Paidós, 1977.

LOWENFELD, V. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestra Jou, 1977.

MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: A educação do educador. Coleção Espaço, 9ª Edição, São Paulo, Editora: Loyola, 2002

PILLAR, A. D. P. Desenho e construção de conhecimento na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

VIGOSTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

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