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Proteção dos trabalhadores durante o cultivo do abacaxi contra ataque de serpentes peçonhentas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA

MARIA CRISTINA GONZAGA

PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES

DURANTE O CULTIVO DE ABACAXI

CONTRA ATAQUES DE SERPENTES PEÇONHENTAS

CAMPINAS 2017

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PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES

DURANTE O CULTIVO DE ABACAXI

CONTRA ATAQUES DE SERPENTES PEÇONHENTAS

Tese apresentada à Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutora em Engenharia Agrícola na área de concentração em Gestão de Sistemas na Agricultura e Desenvolvimento Rural.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Funes Abrahão Coorientador: Prof. Dr. Mauro José Andrade Tereso

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA CRISTINA GONZAGA E ORIENTADA PELO PROF. DR. ROBERTO FUNES ABRAHÃO E MAURO JOSÉ ANDRADE TERESO

CAMPINAS 2017

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Cristina Gonzaga, aprovada pela Comissão Julgadora em 31 de outubro de 2017, na Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP.

__________________________________________________________________ Dr. Roberto Funes Abrahão – Presidente e Orientador

UNICAMP/Faculdade de Engenharia Agrícola

__________________________________________________________________ Dra. Flora Maria Gomide Vezzá – Membro Titular

SESI/Diretoria de Esporte e Qualidade de Vida

__________________________________________________________________ Dra. Sandra Francisca Bezerra Gemma – Membro Titular

UNICAMP/Faculdade de Ciências Aplicadas

__________________________________________________________________ Dr. Paulo José Adissi – Membro Titular

Colaborador do Programa de Pós Graduação da UFPB

__________________________________________________________________ Dr. José Marçal Jackson Filho – Membro Titular

FUNDACENTRO/ Centro Regional do Paraná

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica da discente.

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Segundo os provérbios populares:

―o que os olhos não veem o coração não sente‖.

―dar visibilidade ao invisível no cultivo de abacaxi é nossa meta.‖

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É difícil elencar os agradecimentos a tantas pessoas e entidades que colaboraram para a concretização desta pesquisa, por isso peço desculpas por possíveis omissões.

Ao poder divino por ter me dado coragem para enfrentar as serpentes.

Aos meus orientadores, os professores doutores Roberto Funes Abrahão e Mauro José Andrade Tereso, pela paciência e disponibilidade durante todo o período de trabalho conjunto. À dra. Leda Leal Ferreira por ter me guiado no caminho rumo ao doutorado, sempre orientando e estimulando a ouvir e respeitar o saber advindo dos trabalhadores.

Ao dr. Paulo José Adissi pelo apoio e incentivo aos estudos vinculados aos trabalhadores rurais.

À minha mãe, Tereza de Jesus Serralheiro Gonzaga, ao meu irmão, Michael Detro Cavalcante, e ao meu marido, Antonio Ferreira dos Santos, por todo o carinho, apoio e paciência nesse período em que me dediquei às atividades inerentes a este trabalho.

À Fundacentro por ter financiado toda a parte de campo da presente pesquisa.

Ao Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais de Guaraçaí, especialmente a seu presidente, José Mendes de Oliveira, por dar acesso aos trabalhos executados no cultivo de abacaxi e aos problemas ocupacionais resultantes, assim viabilizando parte deste estudo. Ao Sindicato dos Produtores Rurais de Frutal, especialmente a seu presidente, Janes Cesar Mateus, por permitir nossa entrada nas propriedades rurais de Frutal e o acesso aos trabalhadores no cultivo de abacaxi, o que viabilizou o término desta pesquisa.

A todos os trabalhadores rurais de Guaraçaí, que pacientemente me apresentaram seu trabalho.

A todos os trabalhadores rurais de Frutal, que testaram calmamente os equipamentos de proteção individual e me apresentaram suas avaliações.

Ao procurador do Trabalho Rafael de Araújo Gomes pelo incentivo e apoio jurídico durante todo o estudo feito em Guaraçaí.

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Oliveira, pela viabilização do cumprimento legal dos trâmites dessa fundação e da realização dos ensaios com serpentes.

À Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg), pela doação dos equipamentos de proteção individual.

A Luis Carlos Faleiros Freitas e Michelle de Aguiar Pimenta do Instituto de Pesquisa Tecnológica de Franca pelas orientações e sugestões sobre o sistema de certificação dos equipamentos de proteção individual no Brasil.

À dra. Kathleen Fernandes Grego e ao dr. Sávio Stefanini Sant’Anna pelo apoio técnico para a realização dos experimentos com serpentes no Instituto Butantan.

A Marcos Antonio Bussacos, chefe da Divisão de Epidemiologia e Estatística da Fundacentro, pela colaboração no levantamento de dados e em sua análise estatística.

A Sandra Donatelli por ter apoiado a realização das pesquisas vinculadas ao Doutorado. À dra. Sophia Piacenza pelo apoio carinhoso durante todo o processo do doutorado, especialmente no trabalho feito junto à Fundação Ezequiel Dias.

Ao dr. Eduardo Garcia Garcia pelas sugestões brilhantes ao longo deste estudo.

A Bianca Alcântara, Delma Francisco Batista e a Karine Aleixo Dias pelo auxílio nas questões administrativas que viabilizaram minhas ações em campo e as burocráticas junto à Fundacentro.

A pelo apoio na finalização desta tese,

A Rita de Cassia Cuesta Ferreira pelo apoio administrativo junto a Feagri.

A André da Silva Souza, Gabriela Karam e Alex de Oliveira Pires por me ajudarem pacientemente na finalização desta tese.

A Thaïs Costa por pacientemente colaborar com a organização das minhas ideias através da escrita, nos desabafos frente às dificuldades e na finalização desta tese, sempre ouvindo e estimulando.

Ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest/Renast) de Ilha Solteira e ao Departamento de Saúde da Prefeitura Municipal de Ilha Solteira (SP) pelo apoio logístico e orçamentário para a execução deste estudo.

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À Emater de Frutal, especialmente a Luis Guilherme Brunhara Postali, pelo inestimável apoio na execução dos trabalhos de campo naquele município.

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A agricultura é um dos setores produtivos mais perigosos sob o ponto de vista do trabalho humano, e o cultivo do abacaxi, em particular, apresenta grandes desafios no tocante à proteção dos trabalhadores rurais.

Estudos anteriores revelam a ineficácia dos equipamentos de proteção individual (EPIs) mais utilizados pelos trabalhadores na proteção contra acidentes com perfurações por folhas pontiagudas de abacaxi e contra ataques de serpentes peçonhentas, notadamente durante a colheita de mudas e frutos.

Este trabalho buscou inicialmente avaliar a eficácia de um conjunto de EPIs usualmente utilizado pelos trabalhadores rurais na proteção contra ataques de serpentes. Para tanto, quatro modelos de calçados, três modelos de luvas de proteção, três tipos de perneiras e um modelo de mangote foram testados em laboratório sofrendo ataques reais de duas espécies de serpentes. Os equipamentos de proteção aprovados nos ensaios de ataque real foram posteriormente avaliados por um grupo de trabalhadores em condições concretas de uso no cultivo do abacaxi segundo critérios qualitativos de conforto e usabilidade.

A avaliação experimental da resistência dos EPIs contra o ataque das serpentes revelou que apenas cinco modelos resistiram a todos os ataques: um modelo de calçado, dois modelos de perneiras e dois modelos de luvas de proteção. Quanto à análise qualitativa dos EPIs aprovados em condições reais de trabalho, parte deles foi considerada desconfortável, ineficaz e obstrutiva na realização das tarefas.

Os resultados permitem concluir que os trabalhadores do processo produtivo do abacaxi não contam com proteção efetiva contra os principais fatores de risco do seu trabalho. Fica patente a necessidade de projetar EPIs segundo as especificidades do trabalho agrícola e com a participação ativa dos trabalhadores no desenvolvimento de tais projetos.

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Agriculture is one of the most dangerous productive sectors regarding human work, and pineapple cultivation, in particular, presents major challenges in the protection of rural workers.

Previous studies reveal the ineffectivenessof personal protective equipment (PPE) used more often by workers to protect themselves against accidents with punctures by sharp-pointed leaves of pineapple and against attacks of venomous snakes, particularly during the seedling and fruit harvest.

At first, this study aimed at evaluating the effectiveness of a set of PPE commonly used by rural workers to protect themselves against snake attacks. So four models of protective footwear, three models of protective gloves, three models of leggings, and one model of oversleeve were tested in a laboratory where they were subjected to real attacks of two species of snakes. The PPE approved in the real attack experiments were then evaluated by a group of workers in real work conditions during pineapple cultivation, according to qualitative criteria related to comfort and usability.

The experimental evaluation of the PPE resistance against snake attacks showed that only five models resisted all attacks: one model of protective footwear, two leggings, and two models of protective gloves. As for the qualitative analysis of the PPE approved in real work conditions, some of them were considered uncomfortable, ineffective, and obstructive during the usual tasks.

The results allow to conclude that workers involved in the production process of pineapple don’t have effective protection against the main hazard factors in their work. There is a clear need for PPE designed according to the particularities of agricultural work and with workers’ active participation in the development of such projects.

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Figura 1 - Morfologia externa do abacaxi ... 21

Figura 2 - Subgrupos de abacaxi ... 25

Figura 3- Classificação com base no peso das infrutescências ... 26

Figura 4 - Defeitos graves no abacaxi ... 27

Figura 5 - Trabalhador colhendo abacaxi ... 33

Figura 6 - Esquema do plantio de mudas (visto de cima) ... 34

Figura 7 - Processos distintos de adubação química ... 35

Figura 8- Colheita de abacaxi na Paraíba ... 40

Figura 9- Colheita de abacaxi nas Filipinas... 45

Figura 10 - Folhas pontiaguadas de abacaxi ... 49

Figura 11 - Colheita de mudas em ambiente repleto de mato ... 51

Figura 12 - Mão lesionada pela luva de proteção na atividade do corte manual da cana... 52

Figura 13 - Cortadora de cana com luva de tamanho adequado ... 53

Figura 14 - Acidentes de trabalho em Frutal de 2002 a 2012... 63

Figura 15 - Material com uma presa de serpente peçonhenta ... 68

Figura 16 - Adaptações morfológicas na especialização peçonha: áglifa, opistóglifa, proteróglifa e solenóglifa ... 69

Figura 17 – Jararaca ... 72

Figura 18 – Cascavel ... 72

Figura 19- Surucucu-pico-de-jaca ... 73

Figura 20 - Coral-verdadeira ... 73

Figura 21 - Acidentes de trabalho registrados pelo CID X20 ... 78

Figura 22 - Casos registrados no Brasil de picadas de serpentes (2001-2015) ... 79

Figura 23 - Torniquete nos braços ... 95

Figura 24 - Cronograma de execução das pesquisas envolvendo o cultivo de abacaxi ... 101

Figura 25 - Arranjos experimentais utilizados nos testes com as serpentes ... 103

Figura 26 - Delineamento experimental ... 104

Figura 27 - Equipamentos de proteção codificados ... 105

Figura 28 - Roupa fabricada e perneira com material resistente ao ataque de serpentes ... 108

Figura 29 - - Carreta de metal para transporte de mudas de abacaxi... 112

Figura 30 - Máquina para aplicar agentes químicos e podar folhas de abacaxi ... 113

Figura 31 - Trabalhadores descalços ou de meias plantando abacaxis... 114

Figura 32- Abacaxi coberto por saco de papel ... 115

Figura 33 - Carregamento de carga em Frutal ... 116

Figura 34 - Dados biométricos das serpentes ... 118

Figura 35 - Ataque em luva de proteção... 119

Figura 36 - Equipamentos aprovados durantes os ensaios ... 120

Figura 37- Resultados dos ensaios... 121

Figura 38 - Bota perfurada pela presa da jararacuçu quando o zíper estava aberto ... 122

Figura 39- Equipamentos reprovados nos testes com as serpentes ... 124

Figura 40 – Médias de espessura dos materiais testados ... 126

Figura 41 - Dados sobre os trabalhadores entrevistados ... 129

Figura 42 - Luva de pano com tamanho inadequado ... 130

Figura 43 - Botina em couro ... 132

Figura 44 - Perfil dos trabalhadores participantes ... 134

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Figura 48 - Análise qualitativa da luva L3 referente à resistência a perfuração, proteção na manipulação dos frutos, esquentar e adequação do tamanho ... 138 Figura 49- Análise qualitativa da luva L3 referente a peso, se atrapalha a execução das

atividades e avaliação final ... 139 Figura 50 - Perneira P3 ... 140 Figura 51 - Perneira P2 preta/velcro ... 141 Figura 52 - Análise qualitativa da perneira P2 referente a prejudicar os movimentos das pernas e machucar os pés e as pernas ... 142 Figura 53 - Análise qualitativa da perneira P2 referente à sensação de maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico ... 143 Figura 54 - Análise qualitativa da perneira P2 referente a tamanho, peso, se ela deixa a perna transpirar, se permite a execução das tarefas e avaliação final ... 144 Figura 55 - Local do fechamento da perneira em velcro e elástico ... 144 Figura 56 - Perneira marrom (CA 11.410) ... 145 Figura 57 - Análise qualitativa da perneira CA 11.410 quanto a prejudicar os movimentos das pernas e dos pés, e a provocar ferimentos nessas partes do corpo ... 146 Figura 58 - Análise qualitativa da perneira CA 11.410 quanto a maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico ... 146 Figura 59- Análise qualitativa da perneira CA 11.410 relacionada a tamanho, peso,

transpiração da perna, execução das tarefas e avaliação final dos trabalhadores ... 147 Figura 60 - Trabalhador descalço durante plantio de abacaxi ... 148 Figura 61 - Bota em couro ... 149 Figura 62 - Análise qualitativa da bota em couro quanto a movimentação dos pés, a machucar os pés, à sensação de maciez e a provocar coceiras ... 150 Figura 63 - Análise qualitativa da bota em couro quanto à resistência a perfurações, peso, tamanho adequado e transpiração dos pés ... 151 Figura 64 - Análise qualitativa da bota em couro quanto a conforto térmico, a atrapalhar o trabalho e avaliação final ... 152 Figura 65 - Análise qualitativa da roupa protetora de nylon quanto a tamanho, proteção, dificuldade de movimentação e peso ... 153 Figura 66 - Análise qualitativa da roupa protetora de nylon quanto a conforto térmico e avaliação final ... 154 Figura 67- Trabalhador com roupa protetora de nylon limpa ... 155

Lista de tabelas

Tabela 1 - Estabelecimentos com empregados temporários contratados no ano, distribuídos por tarefa - Brasil – 2006 ... 19 Tabela 2 - Produção mundial de abacaxi em 2012, segundo a FAO ... 22 Tabela 3 - Produção brasileira de abacaxi (2013) ... 23 Tabela 4 - Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, para o Brasil e os Estados com maior produção de abacaxi ... 62 Tabela 5 - Casos de intoxicação por serpentes por Unidade Federada, segundo ... 84 Tabela 6- Notificações em 2015 por tipo de serpente segundo região/unidade da Federação . 87

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Apamg - Associação de Produtores de Abacaxi do Munícipio de Guaraçaí

Animaseg - Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho

AET - Análise Ergonômica do Trabalho BM - Banco Mundial

CNAE - Classificação Nacional das Atividades Econômicas

Ceagesp - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo Ceatox - Centro de Assistência e Informação Toxicológica

Cerest - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador Ceua - Comissão de Ética no Uso de Animais

CID - Classificação Internacional de Doenças CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

Concea - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal

Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos EN - European Standard (padrão europeu)

FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação Fiocruz - Fundação Osvaldo Cruz

Fundacentro - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho Funasa - Fundação Nacional de Saúde

Funed - Fundação Ezequiel Dias

HRUECG - Hospital Regional de Urgência e Emergência de Campina Grande IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - índice de desenvolvimento humano IEA - International Ergonomics Association

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ISO - International Organization for Standardization

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MS - Ministério da Saúde

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico PIB - produto interno bruto

OIT - Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial de Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

Renast - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador SAT - Seguro de Acidente do Trabalho

SELF - Société d´ergonomie de langue française SIH - Sistema de Informações Hospitalares SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade

Sinan - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

Sinitox - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas SUS - Sistema Único de Saúde

SVS - Secretaria de Vigilância Sanitária UEPB - Universidade Estadual da Paraíba

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1. INTRODUÇÃO ... 14

2. OBJETIVO GERAL ... 17

2.1 Objetivos específicos 17 3. CONTINGENTE DE TRABALHADORES E DIMENSÃO DO SETOR QUE PRODUZ ABACAXI ... 18

5.1 O trabalho agrícola e o cultivo de abacaxi em Guaraçaí (SP) 31 5.2 O trabalho na colheita de abacaxi no município de Santa Rita (PB) 38 5.3 O trabalho no cultivo de abacaxi nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica 42 6. ERGONOMIA E O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL47 7. ACIDENTES DE TRABALHO ... 60

8. AS SERPENTES E O MUNDO DO TRABALHO ... 65

8.1 Serpentes peçonhentas 68 8.2 Acidente ofídico 71 8.2.1 Acidentes botróficos ... 74

8.2.2 Acidentes crotálicos ... 76

8.2.3 Os acidentes de trabalho com serpentes peçonhentas... 77

8.3 Tratamentos de acidentes ofídicos 91 9.1 Referencial legal para trabalhar com animais 97 9.2.1 Análise ergonômica do trabalho como referencial ... 98

9.2.2 Análise qualitativa ... 99

10. MATERIAL E MÉTODOS ... 101

10.1 Estudo comparativo entre os processos produtivos no cultivo de abacaxi 101 10.2 Método para testes de perfuração de EPI por serpentes peçonhentas 101 10.3 Método para analisar a qualidade dos EPIs aprovados nos ensaios com ataques reais de serpentes em Frutal ... 105

11. RESULTADOS ... 110

11.1 Análise do processo produtivo em Frutal 110 11.2 Resultados dos ensaios com as serpentes peçonhentas 117 11.3 Resultados da análise qualitativa dos EPIs 127 11.3.1 Análise qualitativa dos EPIs de uso cotidiano ... 128

11.3.2 Análise qualitativa dos EPIs submetidos aos ensaios com serpentes ... 133

11.3.3 Análise qualitativa das luvas de proteção ... 135

11.3.4 Análise das perneiras de segurança ... 140

12. CONCLUSÕES ... 157

12.1 Sobre as condições de trabalho no cultivo de abacaxi 157 12.2 Sobre a resistência dos EPIS a ataques de serpentes peçonhentas 158 12.3 Sobre aspectos de conforto e usabilidade dos EPIs 158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 160

APÊNDICE 2. ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO DA DEMANDA ... 181

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DIAS ... 194 ANEXO 2. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DO INSTITUTO BUTANTAN .. 195 ANEXO 3. MATERIAL (TECIDO SINTÉTICO) TESTADO PELA FUNED ... 196 ANEXO 4. MATERIAL (PERNEIRA DE PROTEÇÃO CA 11.410) TESTADO PELA FUNED ... 197

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1. INTRODUÇÃO

Conforme o International Labour Office - ILO (2004), a agricultura é um dos setores produtivos mais perigosos sob o ponto de vista do trabalho humano.

Devido às características inerentes ao trabalho agrícola, sobretudo a sinergia entre os fatores de risco presentes nas atividades exercidas nos diversos processos produtivos no meio rural, acidentes danosos à saúde dos trabalhadores ocorrem com grande frequência.

Essas constatações justificam o estudo dos fatores de riscos e da seleção ou projeto de equipamentos de proteção individual (EPIs) eficazes e minimamente confortáveis.

No ano de 2009, atendendo à solicitação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guaraçaí, o Serviço de Ergonomia da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho (Fundacentro), organização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sediada na cidade de São Paulo, iniciou estudos sobre as condições de trabalho no cultivo de abacaxi, em parceria com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Ilha Solteira e com a Universidade Federal da Paraíba.

Durante o ano de 2010 foram feitas as tratativas com o sindicato rural envolvido, para que o início das pesquisas de campo ocorresse em 2011. Nessa primeira fase da pesquisa utilizou-se a Análise Coletiva do Trabalho (ACT), método também escolhido por Adissi e Almeida (2002) para a identificação dos riscos associados ao processo produtivo da cultura de abacaxi, quando foram apontados fatores de risco em todas as fases desse processo.

Segundo Ferreira (1993), a Análise Coletiva do Trabalho consiste na análise do trabalho feita pelos próprios trabalhadores que, baseados na memória da labuta, devem descrever um dia de sua jornada laboral. Vale salientar que tal atividade precede qualquer ida dos pesquisadores ao campo. Portanto, a descrição do trabalho precisa ser detalhada e minuciosa.

Para a situação que se apresentava, observaram-se as recomendações de Ferreira (2011), incluindo participação voluntária, garantia de anonimato, trabalhar com demanda real formulada pelo sindicato dos trabalhadores, trabalhar em grupo e organizar reuniões fora do horário e do ambiente de trabalho.

Assim, houve três reuniões na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guaraçaí, com duração de 2,5 horas cada, com a participação de 8 homens e 3 mulheres.

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Ao término, ficou evidente a fragilidade nas relações trabalhistas que se refletia nas condições precárias de trabalho, o que está em conformidade com Ferreira (2015a) nas reuniões de ACT, nas quais se fala tanto da atividade como do emprego ou da relação entre ambos. E mostra-se que são sempre estes dois lados do trabalho, o da atividade e o do emprego, que afetam os trabalhadores para o bem e para o mal, para a saúde ou para a doença. Não é só a atividade. Não é só o emprego. São os dois conjuntamente.

Durante o ano de 2013 as pesquisas em campo continuaram, contando com a participação dos empregadores, representados pelo Sindicato Rural de Guaraçaí e da Associação de Produtores de Abacaxi do Munícipio de Guaraçaí (Apamg), juntamente com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Ilha Solteira.

Desta vez, o método da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) foi utilizado parcialmente, em especial com observação sistemática do trabalho real e das estratégias ocupacionais desenvolvidas pelos trabalhadores para se protegerem, sempre com a premissa de que os riscos ocupacionais se fazem presentes em todas as tarefas exercidas durante o processo produtivo: manuseio da muda/do fruto na carreta e no solo (cortar, virar, arremessar e descarregar no caminhão); plantar; cobertura dos frutos com papel; capina; colheita; controle da qualidade; e organização dos frutos no eito e no caminhão.

As observações do trabalho por tarefa seguiram o seguinte cronograma de execução:

1. Em abril de 2013 foram observadas as seguintes tarefas: colheita de abacaxi, colheita de mudas de abacaxi e aplicação de adubo químico com carriola;

2. Em setembro de 2013 observou-se em campo a aplicação de adubo químico com sacolas e baldes;

3. Em novembro de 2013 foram observadas as tarefas de plantio e colheita de frutos; a única tarefa não observada foi a colocação de saquinhos nos abacaxis visando sua proteção contra os raios solares.

Durante o trabalho de campo confirmou-se a precariedade das relações de trabalho, notando-se ainda que muitos atuavam sem vínculo formalizado, ou seja, sem registro na carteira de trabalho.

Tal quadro é preocupante visto que os trabalhadores informais não têm sequer um direito garantido, incluindo o fornecimento dos EPIs. Esses, quando disponibilizados, eram

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inadequados. Por exemplo: para todas as atividades a luva para aplicação de adubo químico era confeccionada com fios de algodão e poliéster, o que permitia que o adubo penetrasse nas mãos, como mostra o relato abaixo:

Usar essa luva é trabalhar com a mão impregnada de adubo químico granulado, além de dificultar a colocação do adubo no local correto; gosto de jogar o adubo com a mão limpa, pois facilita a colocação do adubo no local certo; com a luva ele espalha; trabalhar sem a luva é melhor, pois atinge melhor o alvo. (GONZAGA et al., 2014, p. 26).

Os trabalhadores salientaram a falta de proteção contra acidentes com serpentes peçonhentas. É importante ressaltar que não há ensaios no Brasil que garantam a eficácia dos EPIs contra ataques desses animais. A Portaria n.º 452, que estabelece as normas técnicas de ensaios e os requisitos obrigatórios aplicáveis aos Equipamentos de Proteção Individual - EPIs, de 20 de novembro de 2014, não prevê ensaio para esse tipo de risco, já que a força de ataque imprevisível desses seres vivos dificulta alcançar o nível de controle exigido em laboratórios para tal finalidade.

Face ao exposto, este estudo se propôs a analisar a eficácia de um conjunto de EPIs na proteção dos trabalhadores contra ataques de serpentes peçonhentas durante o cultivo de abacaxi, e avaliar até que ponto tais EPIs interferiam na execução das operações, assim como seu uso e conforto.

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2. OBJETIVO GERAL

Avaliar a efetividade do uso de um conjunto de EPIs nas atividades laborais durante o processo produtivo do abacaxi.

2.1 Objetivos específicos

1. Avaliar experimentalmente a proteção oferecida por luvas, botas, mangotes e perneiras contra perfurações causadas pelo ataque de serpentes peçonhentas;

2. Analisar o processo produtivo do abacaxi no município de Frutal (MG) sob uma visão ergonômica, salientando as diferenças observadas a partir de estudos anteriores realizados nos municípios de Guaraçaí (SP) e Santa Rita (PB), e de referências bibliográficas sobre o tema nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica.

3. Analisar qualitativamente o uso dos EPIs considerados efetivos contra ataques de serpentes peçonhentas segundo critérios subjetivos de conforto e facilitação do trabalho.

4. Propor um conjunto de EPIs adequados segundo os fatores de riscos identificados e critérios de usabilidade.

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3. CONTINGENTE DE TRABALHADORES E DIMENSÃO DO SETOR QUE PRODUZ ABACAXI

A agricultura é a segunda fonte de emprego no mundo, sendo que na África e Ásia é uma ocupação importante para mulheres. Em 2013, a agricultura representava 31% do emprego global, segundo informações da International Labour Organization – ILO (2014).

Entre 1999 e 2008 a taxa de emprego nesse setor na África Subsaariana diminuiu de 62,4% para 59%, no Sudeste da Ásia e do Pacífico teve queda de 49,3% para 44,3%, enquanto na América Latina caiu de 21,5% para 16,3% (OIT, 2009).

O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (BRASIL, 2010) calculou que em 2010 a população urbana representava 84,36% e a rural 15,64% do total de habitantes no país.

O Anuário Estatístico do Brasil desenvolvido pelo IBGE (BRASIL, 2011) apresenta informações por grupamento de atividades de trabalho. Em 2008, 92.395.000 pessoas trabalhavam no país, sendo 16.100.000 no setor agrícola. Na região Norte eram 6.863.000 pessoas, das quais 1.296.000 trabalhavam no setor agrícola. Na região Nordeste havia 24.549.000 pessoas, sendo que 7.567.000 atuavam no setor agrícola. Na região Sudeste havia 39.397.000, das quais 3.500.000 trabalhavam no setor agrícola, e na região Sul havia 14.675.000, das quais 2.700.000 atuavam no setor agrícola.

As informações do Censo Agropecuário do IBGE (BRASIL, 2006) permitem quantificar os trabalhadores temporários por tarefa. Na tabela 1 são apresentados dados nacionais, assim como os referentes a São Paulo e Minas Gerais, já que as atividades deste estudo se concentram nesses Estados.

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Tabela 1 - Estabelecimentos com empregados temporários contratados no ano, distribuídos por tarefa - Brasil – 2006

Brasil/ Unidades Federativas Total Preparo do solo, capina, trato cultural, limpeza de pasto Plantio ou semeadura

Colheita Outras tarefas

Brasil 841.520 577.578 312.049 405.229 241.382 Minas Gerais 105.125 69.159 31.483 52.612 29.783 Pará 25.078 18.634 5.277 8.028 7.549 Paraíba 34.065 27.517 17.308 15.621 11.126 Rio de Janeiro 9.249 6.955 3.151 3.625 2.459 Rio Grande do Norte 14.933 10.676 7.116 8.254 5.391 São Paulo 32.455 16.205 8.644 16.111 9.737

Fonte: Censo 2006 do IBGE

Os dados da tabela 1 demonstram que para todas as tarefas observadas no Estado de Minas Gerais o número de trabalhadores rurais temporários é bem maior do que nos outros Estados apresentados. Os Estados citados na tabela 1 são os maiores produtores de abacaxi no Brasil (BRASIL, 2013).

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese (2014), entre os 4 milhões de empregados rurais ocupados (ou assalariados), a maioria (59,4% ou 2,4 milhões) estava empregada sem carteira de trabalho assinada. Em suma, a maior parte dos trabalhadores assalariados rurais no Brasil está em situação de trabalho ilegal (ou informal), ou seja, sem quaisquer das proteções garantidas pelo vínculo formal, a exemplo do registro dos acidentes de trabalho pela CAT.

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Segundo informações da OIT (2013, p. 275), no período de 2004 a 2009 a taxa de formalidade das relações de trabalho no Brasil para a população de 16 a 64 anos cresceu de 46,7% para 52,6%. A taxa na área urbana em 2004 era de 53,1% e em 2009 passou a ser de 58,1%; e na área rural, subiu de 17,9% em 2004 para 23,8% em 2009. O Estado do Piauí tinha a menor taxa de formalidade do Brasil em 2009 -- 23,7% --, e o Estado de São Paulo, a maior -- 67,8%.

Os dados acima indicam que a informalidade predomina no trabalho rural, o que significa que os trabalhadores têm apenas obrigações, porém não têm garantidos os direitos prescritos na Norma Regulamentadora nº 31 (NR31) do MTE (2005), dentre eles o fornecimento gratuito dos EPIs adequados.

Este trabalho teve por base estudos prévios feitos no município de Guaraçaí (SP), onde ficou demonstrado que no cultivo de abacaxi os trabalhadores não tinham vínculo formal de trabalho, conforme o seguinte relato: “... é muito difícil ter registro aqui, eles dizem que dá

muito trabalho, que tem que pagar isto, pagar aquilo, por isso eles preferem manter a gente sem registro…” (GONZAGA et al., 2014, p. 22).

O trabalho no cultivo de abacaxi é árduo devido à morfologia extremamente agressiva desse fruto (figura 1) que, conforme o Censo Agropecuário do IBGE (BRASIL, 2006), é sempre colhido manualmente no país. Tal fato é agravado pela condição de informalidade vivida pelos trabalhadores.

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Figura 1 - Morfologia externa do abacaxi

Fonte: Portal São Francisco

O abacaxi (Ananas comosus) é uma planta de clima tropical, monocotiledônea, herbácea e perene da família Bromeliácea e seus frutos podem ser consumidos frescos ou processados. Seu crescimento requer temperaturas entre 22 e 26º C, o melhor pH para essa cultura é de 4,5 a 6,5. O período do plantio à colheita da planta é de 1 a 2 anos. Cada planta tem caule (talo) curto e grosso, ao redor do qual crescem folhas estreitas, compridas e resistentes, quase sempre margeadas por espinhos e dispostas em rosetas. Nas variedades comerciais, a planta adulta tem de 1 a 1,20 m de altura e 1 a 1,5 m de diâmetro. No caule insere-se o pedúnculo que sustenta a inflorescência e depois o fruto, sendo que cada planta produz um único fruto. A topografia é outro fator importante na escolha da área. Terrenos planos ou de pouca declividade (até 5% de declive) são mais favoráveis porque, além de facilitar a mecanização e os tratos culturais, têm menos suscetibilidade a erosão. A maior parte da produção brasileira de abacaxi é destinada ao mercado interno de frutas frescas; menos de 1% do total produzido é exportado (BRASIL, 2000).

Dentre as diferentes variedades de abacaxi, as mais cultivadas comercialmente e consumidas no mundo são as espécies Ananas comosus (Pérola) e Smooth Cayenne (Caiena

lisa), mais conhecida como Havaí e perfazendo cerca de 70% da produção mundial.

No Brasil, o abacaxi do tipo Havaí é mais cultivado nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, e seu fruto chega a pesar entre 1,5 e 2,5 kg. Há, porém, predominância do abacaxi Pérola originário do Brasil, cujo fruto pode pesar de 1,0 a 1,5 kg (CUNHA, 2003).

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Segundo informações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO (2012), a produção mundial de abacaxi em 2012 foi de 23.333.886 toneladas distribuindo-se por países da seguinte forma:

Tabela 2 - Produção mundial de abacaxi em 2012, segundo a FAO

País Produção em tonelada Tailândia 2.650.000 Costa Rica 2.484.729 Brasil 2.478.178 Filipinas 2.397.628 Indonésia 1.780.889 Fonte: FAO (2013)

Conforme informações da FAO (2012), o Brasil foi o terceiro produtor mundial de abacaxi em 2012, com um total de 2.478.178 toneladas.

Por sua vez, o IBGE (BRASIL, 2013), que adota a medida ―mil frutos‖, informou que a produção de abacaxi no Brasil em 2013 se distribuiu pelos Estados conforme mostrado na tabela 3. Os maiores produtores foram Pará, Paraíba, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.

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Tabela 3 - Produção brasileira de abacaxi (2013)

Estados Área Colhida (ha) Produção (mil frutos) Rendimento (frutos/ha)

Pará 10.777 320.478 29.737

Paraíba 9.564 285.715 29.874

Minas Gerais 7.896 239.565 30.340

Rio de Janeiro 4.121 120.682 29.285

Rio Grande do Norte 2.986 112.896 37.808

Bahia 5.280 104.741 19.837 Amazonas 3.842 78.447 20.418 São Paulo 2.807 76.277 27.174 Goiás 2.623 56.177 21.417 Espírito Santo 2.287 50.431 22.051 Tocantins 2.080 41.503 21.147 Mato Grosso 1.830 41.175 22.500 Maranhão 1.381 26.638 19.289 Sergipe 772 19.890 24.716 Pernambuco 708 13.067 18.456 Paraná 446 11.371 25.496 Ceará 330 11.247 34.082 Alagoas 471 9.716 20.628 Rondônia 452 8.730 19.314 Amapá 1.280 7.250 5.734 Acre 519 7.050 13.584

Mato Grosso do Sul 249 5.240 21.044

Roraima 231 4.367 18.909

Rio Grande do Sul 303 3.823 12.617

Santa Catarina 6 162 27.000

Distrito Federal 3 58 19.333

Piauí - - -

Brasil 63.204 1.655.887 26.199

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O Censo Agropecuário do IBGE (BRASIL, 2006) contabilizou 40.663 estabelecimentos no país que produzem abacaxi, com uma produção de 574.658 frutos em uma área de 51.242 ha. Esses produtores estavam distribuídos por região da seguinte forma: Norte, 11.636; Nordeste, 9.310; Sudeste, 9.075; Sul, 5.599; e Centro-Oeste, 5.043. A relação deles com as terras era a seguinte: 30.571 eram proprietários; 3.548, assentados sem titulação definitiva; 1.147, arrendatários; 757, parceiros; e 1.389, produtores sem-terra.

Segundo o IBGE (BRASIL, 2013), Monte Alegre é o município de Minas Gerais que mais produz abacaxi (60.000 frutos), seguido de Canápolis (51.000 frutos) e Frutal (48.000 frutos).

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (2016) informa que atualmente o município de Frutal é responsável por 80% da produção da fruta, com 300 produtores. Salienta ainda que Frutal tornou-se o maior produtor de abacaxi de Minas Gerais. Na safra de 2015, a produção no município chegou a 82,8 mil toneladas.

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4. NORMATIZAÇÃO PARA A COMERCIALIZAÇÃO DE ABACAXI NO BRASIL

O Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAPA) é o órgão responsável pela classificação do abacaxi estando a cargo da organização normativa, da supervisão técnica e da fiscalização.

Entende-se por classificação o ato de determinar as qualidades intrínsecas e extrínsecas de um produto vegetal, com base em padrões oficiais, físicos ou descritos. Com base nos padrões oficiais estipulados em sua Instrução Normativa/SARC nº 001 de 01 de fevereiro de 2002 (Brasil, 2002), o MAPA estabelece o Regulamento Técnico de Identidade e de Qualidade para a Classificação do Abacaxi, que visa definir as características de identidade e qualidade para fins de classificação do abacaxi "in natura". Essa instrução também estabelece os requisitos para a classificação por peso, para a embalagem, rotulagem, os parâmetros de amostragem e os defeitos graves e leves.

A cor da polpa divide os abacaxis em dois grupos: polpa amarela (Smooth Cayenne, ou Havaí) e polpa branca (Pérola e Jupi).

A coloração externa da infrutescência os divide em quatro subgrupos mostrados na figura 2: verde ou verdoso (casca completamente verde), pintado (centro dos frutilhos amarelos), colorido (até 50% dos frutilhos amarelos) e amarelo (mais de 50% dos frutilhos amarelos).

Figura 2 - Subgrupos de abacaxi

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Em função do peso do fruto, o abacaxi é classificado em seis classes, conforme a figura 3 abaixo. Admite-se uma mistura de até 10% (dez por cento) das classes inferiores ou superiores.

Figura 3- Classificação com base no peso das infrutescências

Clas se Pes o (kg)

1 Maior ou igual a 0,900 até 1,200

2 Maior que 1,200 até 1,500

3 Maior que 1,500 até 1,800

4 Maior que 1,800 até 2,100

5 Maior que 2,100 até 2,400

6 Maior que 2,400

Fonte: Instrução Normativa/SARC nº 001 de 1º de fevereiro de 2002 (Brasil, 2002)

Todas as alterações causadas por fatores de natureza fisiológica, mecânica ou por agentes diversos, que venham a comprometer a qualidade e a apresentação do abacaxi, são consideradas defeitos.

Os defeitos graves são aqueles cuja incidência sobre a infrutescência compromete sua aparência, conservação e qualidade, restringindo ou inviabilizando o uso do abacaxi, conforme mostra a figura 4.

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Figura 4 - Defeitos graves no abacaxi

Fonte: Centro de Qualidade em Horticultura do Ceagesp Os seguintes defeitos são considerados graves:

 Lesão: qualquer dano de origem mecânica, patológica ou entomológica que exponha a polpa;

 Podridão: dano patológico ou fisiológico que implique qualquer grau de decomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos;

 Sem coroa: infrutescência que se apresenta sem a coroa;

 Fasciação: deformação resultante do achatamento do ápice da infrutescência pela emissão de rebentos em forma de leque;

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 Queimado de sol: infrutescência que apresenta área descolorida ou necrosada, provocada pela ação do sol;

 Imaturo: infrutescência colhida antes de atingir o teor mínimo de sólidos solúveis, de 12º Brix;

 Passado: infrutescência que apresenta estágio avançado de maturação caracterizado pela perda de firmeza;

 Amassado: deformação ou amolecimento da infrutescência devido a ação mecânica;

 Exsudado: deformação ou amolecimento da infrutescência causado por ação mecânica;

 Mole: infrutescência sem firmeza da casca causada por fatores diversos;

 Chocolate: polpa escurecida caracterizada pela cor marrom, de origem fisiológica;

 Injúria por frio: polpa escurecida causada por geada ou armazenagem a baixa temperatura.

Os defeitos considerados leves são: coroa múltipla (a infrutescência apresenta mais de uma coroa, sem que isso a deforme); coroa danificada: dano parcial da coroa da infrutescência; coroa torta: coroa com desvio acentuado em relação à infrutescência; deformado: qualquer desvio da forma da infrutescência, que não seja característico da cultivar.

O lote de abacaxi que apresentar uma ou mais das características indicadas a seguir será desclassificado, sendo proibida sua comercialização para a alimentação humana: mau estado de conservação; aspecto generalizado de mofo ou fermentação; resíduos de agrotóxicos, outros contaminantes e substâncias nocivas à saúde acima do limite estabelecido por legislação específica vigente; e odor estranho de qualquer natureza, impróprio ao produto.

Alguns estudos feitos pelo Centro de Qualidade em Horticultura da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – Ceagesp (2006) mostram bem a importância do sabor. O abacaxi Havaí, por exemplo, vem perdendo espaço para o abacaxi Pérola, pois este tem menos acidez e menor teor de sólidos solúveis.

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A colheita do abacaxi Havaí verde ou seu plantio fora da melhor época de produção lhe trouxe a fama de ácido, o que leva à sua rejeição mesmo no auge da temporada de produção.

O sabor final do fruto está vinculado a vários fatores, desde a região de plantio à variedade, à época de produção, à adubação, ao sistema de poda, ao vigor da planta-mãe e a outras técnicas de produção determinantes para tal. Segundo o Centro de Qualidade em Horticultura do Ceagesp (2006), esse conjunto irá interferir na presença de substâncias, como açúcares, ácidos e substâncias voláteis, cuja combinação influenciará o sabor.

As transformações pós-colheita tornam esses frutos mais coloridos e mais macios, mas não aumentam sua doçura, já que é frequente a utilização do regulador de crescimento Ethrel para acelerar o amadurecimento. No entanto, como esse dado não é de amplo conhecimento público, a coloração da casca da fruta continua sendo uma das características mais observadas pelo consumidor na hora de escolher o produto.

Já que os requisitos do MAPA estabelecem regras para o cultivo de abacaxi, a fim de manter a qualidade dos frutos, há prioridades em todas as etapas de produção, como irá se observar nos resultados.

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5. O TRABALHO AGRÍCOLA E O CULTIVO DE ABACAXI

Esse capítulo apresenta detalhes do sistema produtivo de abacaxi observado a partir do trabalho real no município brasileiro de Guaraçaí (SP) e de referências bibliográficas sobre o tema em Santa Rita (PB) e nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica.

As variedades Smooth Cayenne (Havaí) e Ananas Comosus (Pérola) eram as mais cultivadas nos locais estudados, assim como nas Filipinas e na Tailândia.

A cultura do abacaxi no Brasil tem características no manejo que se mantêm independentemente da região, embora existam alterações em termos de espaçamento, nomenclatura (trilhinha, ruinha etc.) e técnicas que serão discutidas a seguir.

O cultivo de abacaxi nas diversas regiões pesquisadas envolve o trabalho manual em todas as tarefas, desde o plantio das mudas até a colheita dos frutos, passando pela organização dos frutos em caminhões para comercialização, além do controle de sua qualidade. Segundo Miguel et al. (2007), os compradores de abacaxi são muito exigentes com relação a aparência, cor, defeitos, firmeza e tamanho.

Todos os estudos realizados por ora demonstraram que as relações de trabalho nesta cultura são permeadas por irregularidades, as quais se refletem na precariedade das condições de trabalho, já que raramente há proteção social advinda de relação formal de trabalho e proteção física advinda de equipamentos de proteção apropriados. Esse quadro resulta em permissão ou não para os trabalhadores se organizarem em sindicatos; diferentes formas de pagamento e salário; diferentes jornadas de trabalho; diferentes formas de controle de qualidade; diferentes formas de fornecimento de água potável e abrigo para descanso; diferentes formas de tratar doenças e acidentes de trabalho; e fornecimento ou não de equipamentos de proteção.

O saldo final são trabalhadores sofridos, com corpos expostos a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, sem nenhum tipo de tratamento adequado.

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5.1 O trabalho agrícola e o cultivo de abacaxi em Guaraçaí (SP)

O município de Guaraçaí se localiza na microrregião de Andradina e mesorregião de Araçatuba, no Estado de São Paulo. Em 2010 tinha população de 8.435, sendo 6.654 pessoas na área urbana (78,89%) e 1.781 na área rural (21,11%), de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2010).

Na época da realização da pesquisa (2012 a 2014), pequenas empresas familiares de Guaraçaí eram responsáveis por 38% da produção de abacaxi do Estado de São Paulo, o que equivaleu a 25.500 frutos em 2011, conforme levantamento da produção agrícola municipal feito pelo IBGE (2012).

Em Guaraçaí observamos as seguintes características nas plantações de abacaxi: A plantação de abacaxi é dividida em linhas duplas plantadas paralelas entre si a uma distância de 80 cm. Os espaçamentos entre as linhas formam as ruas, cujas dimensões dependem da declividade da área, do tipo de solo e da variedade de abacaxi; a plantação é rodeada por ruas mais largas por onde circulam os tratores que transportam o abacaxi colhido; estas ruas têm aproximadamente 2 metros de largura e são chamadas de carreadores. Os carreadores separam os talhões. (GONZAGA et al., 2014, p. 20).

Havia relações de trabalho diversificadas para o grupo de trabalhadores que participou das pesquisas: alguns trabalhadores tinham vínculos formais, com carteira de trabalho assinada. Sua remuneração é com salário fixo de R$ 630, garantido pela Convenção Coletiva; para as atividades de colher, tirar muda e plantar verificamos duas formas de pagamento: recebem o salário e R$ 15 a mais por hora trabalhada ou recebem por diárias fixadas no dia, as quais variam entre R$ 30, R$ 35 e R$ 40.

Já os informais recebem por produção na colheita e no plantio. Quando o pagamento é feito mediante diária, esta é maior para os informais, conforme esse relato de um trabalhador registrado: se for trabalhador fixo, ganha quarenta reais por dia... se o camarada

trabalhar de empreita, ele ganha cem reais por dia durante o plantio; o patrão prefere não registrar para gastar menos (GONZAGA, 2012, p. 25). Neste caso, fica evidente o quanto as

obrigações sociais são desrespeitadas.

Durante o plantio, os trabalhadores com registro são transportados na caminhonete do patrão, ao passo que aqueles sem registro são levados em cima das mudas na caçamba do caminhão.

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A jornada dos trabalhadores nesse município depende da atividade a ser exercida: Durante a colheita de mudas, o descarregamento e o carregamento das mudas no local do plantio, a jornada se inicia às seis horas e não tem hora para terminar, o mesmo acontece durante a colheita de frutos. O horário da saída vai depender da lonjura da roça, pois às vezes a gente tem que estar no ponto entre cinco horas e cinco e meia quando a roça é longe. Quando a roça é perto, a gente tem que estar no ponto às seis e meia. (GONZAGA et al., 2014, p. 37)

Em Guaraçaí ocorre o seguinte em relação à proteção física representada pelos equipamentos de proteção individual (EPIs): alguns empregadores que registram os trabalhadores fornecem calça de lona, bota de borracha, luva de algodão e mangote. Os trabalhadores sem registro têm de comprar os EPIs: eu compro sapatão, calça de lona, luvas e

óculos.

Segundo Santos (1985), no município de Sapé, Paraíba, no período de 1980-83 os

trabalhadores que cultivavam abacaxi compraram botas, luvas e perneiras para se proteger. O cultivo de abacaxi envolve as seguintes tarefas manuais: colher as mudas do

fruto, tratá-las com inseticidas, transportá-las para o local do plantio, plantá-las e cobri-las com saquinhos de papel; capinar ervas daninhas que competem com o cultivo principal; preparar caldas com agentes químicos, abastecer os tanques e adubar ou aplicar herbicidas e fungicidas; colher os frutos (vide figura 5), organizá-los e carregá-los na carreta do trator e depois no caminhão, onde a carga colhida deve ser organizada em montes. As posturas adotadas nessas tarefas são: em pé, inclinada e agachada.

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Figura 5 - Trabalhador colhendo abacaxi

A colheita de mudas implica outras tarefas: controlar a qualidade das mudas a serem colhidas; separar as que estão com manchas e buracos advindos de pragas para descartá-las ou tratá-las com agentes químicos e, em seguida, bater as mãos nelas para que se soltem e virar a base para secar ao sol.

O transporte das mudas para o local do plantio é feito em um caminhão, o que requer a tarefa de arremessar as mudas para a carroceria e, posteriormente, descarregar o caminhão arremessando as mudas para o chão.

O plantio de mudas deve ser feito na linha aberta pelo trator. Elas devem ser plantadas com 30 cm de espaçamento entre si e com cerca de 8 cm de profundidade, o que provoca um grande adensamento de frutos.

O plantio se dá da seguinte forma: dois trabalhadores que estão no interior da carreta atrelada ao trator jogam as mudas de abacaxi ao chão. O trabalhador que está atrás joga as mudas nas três primeiras ruas, e o que está na frente joga as mudas nas duas últimas ruas. Dois trabalhadores vão executando o plantio no solo.

As mudas são plantadas no solo em uma profundidade de 10 cm, a uma distância aproximada de 30 cm em linha reta ou intercaladas em zigue-zague (figura 6), podendo ser feito o plantio de 1 muda por vez ou 2 simultâneas. (Gonzaga et al ., 2014, p 21).

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Figura 6 - Esquema do plantio de mudas (visto de cima)

Durante a fase de amadurecimento, os frutos plantados são cobertos com saquinhos de jornal feitos por mulheres residentes em Guaraçaí, a fim de evitar que sejam queimados pelos raios solares.

Conforme Gonzaga et al. (2012), no plantio o pagamento é feito por milheiro de muda plantada, cabendo R$ 17,50 a cada trabalhador por essa medida. Os trabalhadores comentaram que chegam a plantar entre 7.000 e 9.000 mudas por dia.

O adubo pode ser acondicionado em carriola, baldes ou sacolas (figura 7) e depois é aplicado manualmente. A adubação é de sulfato de amônia e nitrogênio, fósforo e potássio, com a formulação NPK–20–0–20. Geralmente, na safra de 12 a 15 meses, são feitas de 4 a 5 adubações, dependendo da incidência de chuva e do desenvolvimento da planta.

A figura 7 ilustra diferentes processos de adubação química. Mudas

intercaladas (em zigue-zague) Mudas na mesma

direção (em linha reta)

diredireção

Solo Muda de abacaxi

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Figura 7 - Processos distintos de adubação química

O plantio do abacaxi em leira não permite o uso de carriola, pois isso aumenta o esforço físico. A carriola, porém, é apropriada para o plantio fora da leira.

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O adubo é colocado na sacola pelo responsável por essa tarefa, o trabalhador é que define o quanto será colocado, depois o trabalhador vai adubar o fruto com a sacola pendurada no pescoço: com a mão direita segura o cano e direciona ao local da aplicação e com a mão esquerda apoia e segura a sacola junto ao corpo. (GONZAGA et al., 2014, p. 15).

A eliminação das plantas invasoras pode ser feita com enxada ou herbicidas. Quando é feita com herbicida, requer o preparo da calda e o enchimento dos tanques de aplicação. Na aplicação do herbicida, é necessário direcionar manualmente as mangueiras que saem do trator até as ervas daninhas.

Durante a etapa de colocação de saquinhos para proteger o fruto contra o sol, é comum os trabalhadores terem contato com indutores florais de crescimento, conforme essas declarações (GONZAGA et al., 2014, p. 30):

A aplicação do Ethrel é feita um ou dois dias antes das flores caírem. Em seguida, a gente põe o saquinho, pois o frutinho tem que estar bem pequenininho e nesse caso o Ethrel é usado para acelerar a maturação do fruto.

Quando a gente está colocando saquinhos, os aplicadores de inseticida ficam trabalhando ao lado e a gente tem que ficar sentindo aquele cheiro forte o tempo todo, o que incomoda muito.

Os trabalhadores transportam em média 500 saquinhos em uma sacola pendurada no pescoço; na empreita eles levam cerca de 1.000 saquinhos para ganhar mais. A colocação dos saquinhos no abacaxi é feita em um lado da rua do eito.

Os frutos são colhidos segundo um controle de qualidade, que implica uma seleção conforme o tamanho, o grau de maturidade e a presença de manchas e furos. A seguir, o fruto é segurado manualmente, torcido para se soltar e organizado na segunda rua do eito e, por fim, em montes no carreador.

O abacaxi não pode ser jogado da quarta rua para a primeira rua do eito para não estragar, já que essa distância é de aproximadamente 2 metros. Os montes devem ficar organizados na primeira rua, onde passa o trator com a carreta que transportará os frutos colhidos para o caminhão.

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Após a colheita, os frutos são arremessados para um trabalhador em cima do caminhão, que organiza a carga a ser enviada à Associação dos Produtores de Abacaxi do Município de Guaraçaí (Apamg). Parte dos frutos é transferida para outro caminhão, onde será embalada em caixas para comercialização.

Os caminhões transportam cargas de 15 mil a 23 mil quilos: tem dia que nós

colhemos frutos para encher dois caminhões. Quando feito em caixas, o transporte varia de

12 mil a 13 mil quilos de abacaxi, sendo a carga em caixas menor do que a granel, pois elas ocupam mais espaço nos caminhões.

Fica evidente, portanto, que as tarefas do cultivo de abacaxi são diversificadas e envolvem uma série de riscos para os trabalhadores:

Riscos químicos (inseticidas, herbicidas, maturadores, fungicidas e adubos químicos e poeira), físicos (calor, frio, umidade, radiação solar), mecânicos (folhas e espinhos de abacaxi, equipamentos de proteção individual inadequados), biológicos (bactérias, fungos, vírus), organizacionais (turno, jornada, pausa, normas de produção, falta de vínculo empregatício, pagamento por produção), operacionais (postura, força, movimento repetitivo e carregamento de pesos) e acidentários (quedas de caminhão, carretas e trator, queda no abacaxizal e animais peçonhentos). (GONZAGA et al., 2012, p. 49).

Ribeiro (2005) salienta que o cultivo de abacaxi implica riscos biológicos geradores de doenças ocupacionais, tais como vírus, bactérias, fungos e parasitas. Além disso, os trabalhadores ficam expostos a animais peçonhentos e a higienização corporal precária, o que também acarreta riscos biológicos.

A Portaria nº 25 (Brasil, 1994) do MTE, que aprova a Norma Regulamentadora nº 9, classifica os riscos ocupacionais conforme sua natureza:

 Grupo 1 (riscos físicos): ruídos, vibrações, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, frio, calor, pressões anormais e umidade;

 Grupo 2 (riscos químicos): poeiras, fumos, névoas, gases, vapores e substâncias compostas ou produtos químicos em geral;

 Grupo 3 (riscos biológicos): vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas e bacilos;

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 Grupo 4 (riscos ergonômicos): esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornada de trabalho prolongada, monotonia, repetitividade e outras situações causadoras de estresse físico e ou psíquico;

 Grupo 5 (riscos de acidentes): arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada, armazenamento inadequado, animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes.

Os sofrimentos causados por acidentes durante a execução das tarefas levam os trabalhadores a comprarem os EPIs (GONZAGA et al., 2012, 2014), fato que contraria a Consolidação das Leis do Trabalho (1977) e a Norma Regulamentadora nº 31 do MTE que dita a obrigatoriedade do fornecimento gratuito de EPIs que devem ser adequados ao trabalho.

5.2 O trabalho na colheita de abacaxi no município de Santa Rita (PB)

Como a Paraíba é um dos maiores produtores de abacaxi do Brasil e, por conseguinte, tem importância econômica no cenário nacional e mundial, há uma clara necessidade de aprofundar estudos nessa área de pesquisa.

A maioria da cultura de abacaxi na região do Baixo Paraíba, em especial no município de Santa Rita, está a cargo de pequenos produtores.

Cada turma de 14 pessoas é subdivida conforme a função que desempenha na colheita, havendo 4 catadores, 6 balaieiros, 2 arrumadores e 2 contadores. Para a observação do processo produtivo da colheita, a amostra foi composta por quatro turmas que trabalhavam no município de Santa Rita (PB).

As atividades desenvolvidas na fase da colheita, como retirada, carregamento e arrumação dos produtos colhidos, envolvem essencialmente trabalho manual que exige árduos esforços físicos e posturas inadequadas às condições humanas.

Diante desse quadro, o estudo conduzido em Santa Rita buscou responder ao seguinte questionamento: a que riscos ergonômicos estão expostos os trabalhadores rurais que

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colhem abacaxi? Portanto, foi feita análise qualitativa e quantitativa do trabalho nesse cultivo visando descrever o processo laboral.

Segundo Ribeiro (2005), a jornada de trabalho se distribui da seguinte forma: os trabalhadores costumam despertar às 4h para chegar ao campo entre 6h e 7h, e são transportados em caminhões até as propriedades. O trabalho propriamente dito começa aproximadamente às 8h, sendo finalizado ao término do carregamento do caminhão, conforme o pedido do cliente. Geralmente tudo é concluído por volta das 16h.

Além disso, o término da jornada depende do próprio ritmo de trabalho imposto pela turma. Em geral, o ritmo é intenso, uma vez que a maioria dos trabalhadores prefere que não haja pausa, exceto aquela para almoço, para que a jornada seja concluída o mais rapidamente possível.

Quanto à reposição hídrica durante a jornada de trabalho, eles relatam que ingerem aproximadamente até 5 litros de água em dias quentes.

Na época de safra os trabalhadores chegam a realizar até quatro carregamentos por semana, sendo remunerados por cada caminhão carregado. Vale dizer que um carregamento geralmente equivale a um dia de trabalho

O arrumador e o contador são os trabalhadores mais bem remunerados recebendo R$ 40 por caminhão, ao passo que o balaieiro e o catador recebem R$ 25 por dia de trabalho.

O trabalho do balaieiro (vide figura 8) durante a colheita se dá da seguinte forma: O trabalho entre os catadores e balaieiros é realizado de forma conjunta e essa relação balaieiro-catador no município de Santa Rita acontece em 1:2 trabalhadores respectivamente, sendo que em alguns momentos essa relação pode aumentar para 1:3 ou diminuir para 1:1, a depender da geometria do terreno e da concentração dos frutos requerida pela colheita no interior da lavoura. (RIBEIRO, 2005, p. 107).

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Figura 8- Colheita de abacaxi na Paraíba

Fonte: Sânzia Bezerra Ribeiro (2005)

Com ajuda de instrumento cortante, os catadores primeiramente retiram o fruto das plantas, segundo a especificação desejada para a qualidade dos frutos que são classificados em cinco faixas de peso. O catador também deve dispensar os frutos que apresentem defeitos causados por doenças ou malformação. A catação pode ser realizada com a quebra manual dos frutos ou cortando-os com facão juntamente com as filiações, a fim de protegê-los na arrumação das cargas.

Em seguida, os catadores colocam os frutos selecionados no balaio sobre a cabeça do balaieiro, o qual acompanha o catador por toda a área plantada.

A atividade do balaieiro abrange quatro fases: o deslocamento com o balaio vazio do caminhão ao talhão; o enchimento do balaio; o deslocamento com o balaio cheio; e o descarregamento do balaio.

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Ribeiro (2005) cita os seguintes cálculos: um balaio vazio pesa em média 6 kg; cada abacaxi do tipo A colhido pelos catadores pesa entre 1,5 kg e 1,8 kg; e 49,55 é a média de frutos recebidos. A partir da multiplicação do peso do fruto pelo número de frutos no balaio somado ao peso do balaio vazio, na colheita do tipo A o peso médio do balaio cheio foi de 80,3 kg. Após o deslocamento dos frutos pelo balaieiro, os contadores descarregam o balaio e os arrumadores ajeitam os frutos no caminhão.

Ao retirar os frutos do balaio, os contadores fazem uma segunda seleção eliminando frutos incompatíveis com as especificações e, em seguida, repassam os frutos saudáveis aos arrumadores da carga sobre o caminhão.

As condições de trabalho são precárias desde o transporte até o final da jornada. Além da extensa jornada de trabalho, salientamos a exposição desses trabalhadores a diferentes condições climáticas, contatos com animais peçonhentos, grandes distâncias percorridas em transportes irregulares e inadequados, bem como o grande esforço físico demandado por essa atividade. Todos os trabalhadores entrevistados relataram que consideram as atividades da colheita repetitivas e que sentem grande cansaço físico ao final de cada jornada.

A carroceria do caminhão eventualmente serve como ponto de apoio para as refeições e reposição hídrica dos trabalhadores, pois geralmente não há edificações para esses fins perto das áreas de plantio.

Com relação aos equipamentos de proteção individual, a falta de fornecimento e a improvisação são constantes:

Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), os trabalhadores utilizam-se da improvisação, pois não recebem nenhum incentivo financeiro para aquisição dos mesmos. Camisas de mangas compridas gastas, calças jeans rasgadas, aventais feitos de resto de tecido grosso, botas furadas e luvas rasgadas, espumas que protegem a cabeça do balaieiro do contato direto com o balaio; esses são os EPIs utilizados por esses trabalhadores para sua proteção contra os agentes físicos, biológicos, químicos e mecânicos existentes nesse processo produtivo. (RIBEIRO, 2005, p. 112).

Podemos citar ainda como agentes de risco mecânico ou de acidente as folhas serrilhadas das plantas, que podem atingir partes descobertas do corpo do trabalhador. Mesmo com a utilização das roupas de proteção, persiste a possibilidade de haver cortes na pele devido ao contato com as folhas do abacaxizeiro. Esse é o risco mais percebido e evitado

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pelos trabalhadores, porém os riscos químicos, por ser imperceptíveis, dificilmente são evitados.

Quanto aos riscos químicos, o tratamento com o maturador químico Ethrel e o fungicida Benlate é uma prática nociva à saúde dos trabalhadores e dos consumidores. A pulverização pode ser feita quando os frutos ainda estão no balaio sobre a cabeça do balaieiro, atingindo além dele os demais que estão no caminhão ou estão em suas imediações.

Os trabalhadores da colheita de abacaxi estão constantemente expostos à radiação solar. Fazendo uso de vestimentas que visam principalmente a proteção contra espinhos, mas que acumulam sujeira e não facilitam a transpiração, eles sofrem um desconforto térmico notório.

Na fase da colheita de abacaxi, podemos citar também a exposição dos trabalhadores a animais peçonhentos e sua precária higienização corporal como situações que induzem a riscos biológicos.

Ribeiro (2005) destaca que tais trabalhadores ficam expostos a muitos riscos ergonômicos, como posturas inadequadas por longos períodos, manuseio e transporte das cargas em balaios, um ritmo intenso, repetitividade dos movimentos de corte e de contagem dos frutos pelos catadores.

O problema de saúde mais citado durante este estudo foi dor nas costas, principalmente por parte dos balaieiros.

Os efeitos dos riscos biomecânicos devidos à manutenção de posturas inadequadas e ao transporte de cargas elevadas são sentidos ao final da jornada diária, quando todos os trabalhadores relataram sentir profundo cansaço físico.

5.3 O trabalho no cultivo de abacaxi nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica

O International Labor Rights Forum (ILRF), ou Fórum Internacional de Direitos do Trabalho, é uma organização mundial que atua pelos direitos humanos e fez um relatório intitulado ―The Sour Taste of Pineapple: How an Expanding Export Industry Undermines Workers and Their Communities‖. Divulgado em outubro de 2008, esse relatório aponta a precariedade das relações e das condições de trabalho no cultivo de abacaxi em países da Ásia e da América Central.

Referências

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