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Depressão na adolescência: a saída para um destino anunciado?

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Academic year: 2021

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CLÍNICA: PRÁTICAS CLÍNICAS NAS INSTITUIÇÕES

VANDRIANE TEDESCHI

DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA: A SAÍDA PARA UM DESTINO

ANUNCIADO?

Ijuí/RS 2018

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VANDRIANE TEDESCHI

DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA: A SAÍDA PARA UM DESTINO

ANUNCIADO?

Artigo apresentado como requisito para obtenção do título de Especialista, pelo Curso de em Psicologia Clínica: práticas clínicas nas instituições, da Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

Orientadora Prof.ª. Ms. Janete Teresinha de A. Goulart

Ijuí/RS 2018

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VANDRIANE TEDESCHI

DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA: A SAÍDA PARA UM DESTINO ANUNCIADO?

Artigo apresentado como requisito para obtenção do título de Especialista, pelo Curso de em Psicologia Clínica: práticas clínicas nas instituições, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

COMISSÃO JULGADORA

Prof.ª Ms Tania Maria de Souza

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI Mestre em Educação nas Ciências - na área de Psicologia, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia

______________________________________________________________________ Prof.ª. Ms Janete de Aquino Goulart

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI Especialista em Psicologia Escolar pela PUC/RS.

Mestre em Educação nas Ciências - na área de Psicologia, pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Psicóloga Clínica.

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Depressão na adolescência: a saída para um destino anunciado?

Vandriane Tedeschi¹1 RESUMO: O presente artigo tem como finalidade abordar o tema da depressão na adolescência, entre meninas que residem no meio rural, e o uso de medicamentos. Tal diagnóstico pode ser uma saída para as jovens renunciarem o desejo de seus pais, de que as mesmas permaneçam no campo. O uso de medicação em substituição a uma abordagem mais interdisciplinar pode trazer consequências não apenas para seus corpos em constituição, mas para sua condição de sujeitos. A diferenciação entre crise adolescente e episódio depressivo por vezes não acontece, precipitando-se um diagnóstico e influenciando a subjetividade do sujeito adolescente.

PALAVRAS-CHAVES: Adolescência; depressão; medicação; renúncia.

ABSTRACT: The purpose of this article is to address the issue of teenage depression among girls living in rural areas and the use of medication. Such diagnose may be a way for young women to renouce their parent's desire for them to remain in the field. The use of medication instead of more interdisciplinary approach can have consequences not only for their bodies but also for their condition as subjects. The differentiation between an adolescent crisis and a depressive episode sometimes does not happen, precipitating a diagnose and influencing the subjetictivity of the adolescent subject.

KEYWORDS: Teenage; depression; medication; renouce.

Introdução

O trabalho da psicologia no campo da educação pode revelar-se desafiador principalmente quando se depara com situações até comuns na clínica, mas desafiadoras quando se apresenta em outros campos, no caso, na Educação.

O recorte da temática desse artigo vem de um trabalho com a Orientação Educacional em uma escola de Ensino Médio, localizada na zona rural no interior do

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Psicóloga, pós-graduanda em Psicologia Clinica: Práticas Clínicas nas Instituições, pela UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

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Rio Grande do Sul, cujo regime é de internato. O sistema de funcionamento dessa escola é de rotação de alunos do primeiro, segundo e terceiros anos. A cada quinze dias um novo grupo de alunos chega até a escola para passar a semana toda (em regime de internato), intercalando aulas teóricas e práticas. O objetivo central do educandário era a permanência dos jovens no campo e a sucessão rural na pequena propriedade familiar. Os pais demonstravam-se satisfeitos diante da possibilidade de seus filhos permanecerem no meio rural, incluindo as meninas. No entanto, nesse contexto surge um fato que desperta a atenção: várias meninas adolescentes eram trazidas pelos seus pais com o diagnóstico de depressão e medicadas.

A observação da situação conduz à algumas interrogações e inferências. Dentre essas de que a depressão poderia ser uma reação ou forma de enfrentamento do prescrito para suas vidas. O que conduz a uma interrogação: Do que fala esses diagnósticos?

Essa escuta não pode ser totalmente resignificada, porque se deu empiricamente e não clinicamente, em virtude do desligamento de trabalho da autora com a escola. Assim, não foi possível uma conversa com os pais e também com as referidas meninas, para desta forma dar embase a hipóteses mais teóricas ao tema em questão.

Não muito longe do nosso tempo, o destino da mulher no interior era casar, cuidar da casa e dos filhos. Atualmente, não é este o destino que as mulheres querem para si, e sim, cada vez mais conquistando sua independência e liberdade de escolha. Mas como conduzir-se à isso diante de uma expectativa familiar de permanência?

Logo, para as jovens adolescentes o diagnóstico de depressão poderia ser uma “saída” desse “destino forçado” pelos pais. Não necessariamente essa vivencia supunha alguma reflexão e facilmente o mal estar fica encoberto pela idéia de cumprimento de um ideal paterno.

Adolescência e depressão

A psicanálise entende a adolescência como um tempo subjetivo de constituição psíquica, e não um tempo cronológico. Segundo Rassial (1999), a adolescência é onde há uma passagem do infantil para o ser adulto.

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Efetuar essa passagem não é nada simples, pois envolve mudanças físicas e psíquicas. Nas mudanças físicas, o olhar do outro sempre está ao redor, vislumbrando o desenvolvimento corporal do jovem. Mas no que confere ao psiquismo, as mudanças não são visíveis e são complexas. E por isso, na maioria das vezes, não são compreendidas.

A depressão é um mal-estar do século XXI e é um sintoma social porque afeta a ordem social e também atinge as pessoas as quais o depressivo convive. Sua tristeza é o agravante principal para que o desprestigio social apareça. Para Kehl (2009), o depressivo é mal visto na sociedade e corre o risco de ser discriminado como se tivesse uma doença contagiosa e como um “portador da má notícia da qual ninguém quer saber.”

Maria Rita Kehl (2009), ao referenciar Freud, escreve que a posição depressiva faz parte das “escolhas das neuroses”, que se dá no segundo tempo do Édipo, onde o pai imaginário é posto como rival da criança. O depressivo então, não rivaliza com o pai pela disputa do falo por medo de perder para ele, e se recusa buscando a proteção materna.

Para falar em depressão, pode-se dizer que ela é um dos sintomas sociais contemporâneos, assim como as toxicomanias. Tem por pano de fundo uma solidão e um recolhimento que por não produzir “barulho” é um incômodo aos olhos dos outros. Isso porque o ideal é que o sujeito esteja sempre feliz e se movimentando o tempo todo, e quando ele se recolhe em casa de certa forma é “esquecido” pela sociedade.

Pensar a depressão na adolescência é estar atualizado com o que acontece em nossa sociedade, pois ao mesmo tempo em que os jovens são vistos como “barulhentos”, também estão sendo vistos como “quietos”, fechados em si mesmos. E este fato, muitas vezes, leva ao prévio diagnóstico depressivo.

A falta de empatia que encontramos em nossa cultura pelos depressivos costuma ter, entre os adolescentes, efeitos catastróficos: não é incomum que meninos e meninas de catorze ou quinze anos se precipitem em tentativas de suicídio (por vezes fatais) não tanto em função da gravidade de seu quadro depressivo – que poderia muito bem ser um episódio passageiro, característico da chamada crise

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adolescente -, mas por não suportarem a imensa perda de auto-estima, os sentimentos de incompreensão e de isolamento provocados pelo estigma da depressão, que afasta amigos e os torna alvo de chacotas e de sérios preconceitos. A depressão entre os adolescentes é a mais inconveniente expressão do mal-estar psíquico. Ela “desafina o coro dos contentes”: nisso consiste seu caráter de sintoma social. (KEHL, 2009, p.23)

O psiquiatra Mark Olfson, do Instituto Psiquiátrico de Nova York, sugere que antes de pensar em medicar seus filhos, os pais deveriam aprender a lidar com seus ataques de raiva e suas crises de desânimo, antes de “estabilizar o humor” das crianças à base de medicamentos. Por vezes, esta é a saída mais “fácil” para contornar as crises desse período da vida, pois vale a equação “humor estabilizado = adolescente comportado” (e dopado).

Outra questão sobre a depressão na adolescência tem a ver com o corporal, pois a apropriação de uma nova imagem corporal pelo adolescente pode ser uma das causas da depressão, porque ele precisa encarar as modificações que ocorreram em seu corpo. Este novo corpo agora é visto pelos outros com um olhar mais sexualizado (erotizado). Como dar conta de um “novo corpo” que ainda não está subjetivado pelo adolescente? Como responder a partir dessa imagem?

Tais questões podem ser entendidas pelo jovem como cobranças da parte do adulto em relação à construção de seu mundo. E como resposta, o adolescente pode se fechar em seu quarto ou produzir barulhos como forma de não deixar o adulto ouvir sua voz, apenas gritos.

Em busca de outro destino

Esta escola no meio rural é bem vista pelos pais de adolescentes, porque assim os filhos estudam e permanecem em casa, sendo uma semana na escola e duas na propriedade deles, colocando em prática os aprendizados adquiridos no educandário.

Para as meninas, permanecer no interior, reflete ao modelo mãe e mulher, onde a mulher fica “escondida” na figura da mãe, como a dona de casa e cuidadora dos filhos e

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marido, onde sua sexualidade e feminilidade são deixadas de lado. Geralmente, era este o destino das mulheres e em alguns casos, continua sendo.

Muitas mulheres já conseguiram alterar esse movimento de saída do meio rural, mulheres que conquistaram sua independência financeira, intelectual e social e se conduzir em outras escolhas. Mas a realidade social também se impõe e, neste caso,estudar nessa escola, por vezes não seria o objetivo de tais meninas, mas de seus pais. Para fugir disso, até o diagnóstico depressivo pode ser uma saída eficaz, porque dessa forma precisam de um constante acompanhamento psiquiátrico e psicológico, necessitando de várias idas à cidade. E nesse percurso até a cidade, outros objetivos podem estar associados: compras, paqueras, etc.

“A adolescência é o momento de ruptura com a posição, própria da infância, de ser uma possessão dos pais” (CORSO, 1999, p 83). Logo, fazer suas próprias escolhas é poder se libertar desse “cordão umbilical” que liga o adolescente a seus pais. Escolher qual destino quer para si, renunciando ao destino previamente traçado por seus pais, isto é, repetindo a mesma cena que estes viveram e vivem até hoje: a zona rural.

Podemos pensar nesse diagnóstico depressivo também na saída de suas casas para o internato da escola, como uma ruptura do seio familiar, onde o estranhamento do ambiente, da rotina e das pessoas, podem aflorar nesse diagnóstico, sendo que o diferente sempre causa medo ao ser humano. E isso associado ao estranhamento de seus corpos, em constantes modificações, levam a precipitação de uma depressão.

Medicar ou tamponar?

A sociedade contemporânea apresenta inúmeras ofertas de satisfação de prazer, momentâneas. Isso porque o ciclo do consumismo precisa se refazer a todo instante. Precisamos consumir e consumir para sermos felizes, ou pelo menos aparentar. E isso reflete primeiramente no jovem, objeto alvo do consumismo exagerado.

Podemos falar em uma patologização generalizada da vida subjetiva, onde as dores não deveriam ser sentidas, sendo eliminadas por meio da medicação, como forma de viver melhor e plenamente. As dores deixariam de fazer parte de nossas vidas e teríamos a ilusão de uma vida feliz. E dopada.

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Segundo INFANTE (2001), a psiquiatria, através dos medicamentos, permite que o sujeito tenha uma ilusão de controle sobre seus mal-estares, se privando das dores que acometem o dia-a-dia. A medicação como alívio temporário, controlando a vida dos sujeitos sem deixá-los sentir o desprazer dos dias vividos, bem como as frustrações que acabam por deprimí-los. Assim, o indivíduo tolera condições sociais que não suportaria sem antidepressivos.

Para os pais do adolescente, ter que conviver com a situação de medicação dos filhos, poderia ser uma maneira de ter controle sobre suas vidas, sobre o que entra em seus corpos. Isto porque, neste período da vida existem muitas experimentações das quais os pais não são cogitados a fazer parte.

Considerações finais

Problema social, ignorância, repetição, são várias as possibilidades de problematizar esse recorte sobre um tema tão pouco explorado: a infância, a adolescência na zona rural, a negligência da própria comunidade científica sobre esse campo.

A psicologia pouco produziu acerca dessa realidade. Os pais que hoje desejam que seus filhos lhe sucedam não sabem muito bem como lidar com a situação e acabam recorrendo à medicina sem entender o que já se sabe sobre a adolescência.

Um período da vida marcado por mudanças físicas e psicológicas, por aceitações e negações, é a adolescência. As escolhas se fazem necessárias ao desenvolvimento do adolescente, e por vezes diferem daquilo que os pais escolhem para seus filhos. Este fato foi retratado neste artigo, no qual meninas adolescentes do primeiro ano do Ensino Médio estavam diagnosticadas com depressão.

O diagnóstico depressivo pode ser entendido como uma saída para as adolescentes não aceitarem um futuro traçado por seus pais: sucessão rural, onde as mulheres são vistas como donas de casa e mães. Mas, hoje, não é o que toda menina almeja, e sim, conquistar seu lugar perante a sociedade, não apenas como as figuras da mãe e esposa dedicadas.

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Dessa maneira, estudar em uma escola rural é obedecer a seus pais, mas ao serem diagnosticadas como depressivas, dizem não a essa “escolha forçada”. E com o uso dos medicamentos, controladas ainda por eles. Quando medicadas, são tranqüilas e dopados, sem aquela alegria e euforia de experimentar tudo que a vida lhes permitir, vivendo “dependentes” de cápsulas que prometem livrá-las das dores e angústias no percurso de vida. Seriam essas dores, causadas por uma negação do desejo de seus pais? E uma “não aceitação” de seu próprio desejo?

Isso demonstra que o ideal paterno não é aceito totalmente,sendo questionado e “negado” pelos filhos adolescentes, mesmo que para isso precisem pagar um preço: medicações e prévios diagnósticos. Somente assim, podem escolher outro destino para si, diferente da realidade da mulher rural.

O tema provoca uma leitura ainda a ser trabalhada por profissionais de várias áreas, de modo que o tamponamento de algo que se manifesta como depressão possa não ter apenas a medicação como alternativa para enfrentamento dessa realidade.

Referências bibliográficas

CORSO, Mário e Diana L. Corso. Game Over- o adolescente enquanto unheimlich para os pais. In: Adolescência: entre o passado e o futuro. JERUSALINSKY, Alfredo et al (org). Porto Alegre: Artes e Oficios, 1999. 325 p.

FREUD. Sigmund. O mal-estar na civilização (1929), In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, volume XXI. Rio de Janeiro: Imago, 2009.

INFANTE, Domingos Paulo. Psiquiatria para que e para quem? In: JERUSALINSKY, Alfredo e FENDRIK, Silvia (org.). O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo: Via Lettera, 2011. 284 p.

KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009. 304 p.

SOLOMON, Andrew. O demônio do meio-dia: a atualidade das depressões. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. 584 p.

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