Profa Dra Vânia Galindo Massabni-
Departamento de Economia, Administração e Sociologia - ESALQ - USP
Contribuições do
Construtivismo para o
Ensino Universitário
Para os professores universitários
investigados, ensinar é:
“dar aulas [...] dando bem a matéria [...]”
Ensinar = explicar bem o conteúdo em uma
exposição (boa oratória), sem atentar para o que é mais importante na “matéria”, nem ao que é
relevante socialmente e profissionalmente.
(Balzan, 1995 apud CUNHA, 1998, p. 10)
“Ensinar é... dar aulas, ensinando bem a matéria.”
Se este professor pensasse no ensino como compromisso de formar sujeitos, sua resposta
seria diferente.
- Em sua resposta haveria preocupação com a aprendizagem: “apresentar bem a matéria” é expor, muitas vezes sem dar oportunidade do
aluno apreender o que é dito – não se dá
oportunidade de interagir com o conhecimento. Ensinar é planejar aulas com estratégias ou metodologias para facilitar a aprendizagem dos
Verbo ensinar – latim insignare
Significa marcar com um sinal, sinal que leva alguém a viver e, para isto, busca seu
conhecimento. (Anastasiou, 2003)
Ensinar é intervir na trajetória de um outro sujeito; é marcá-lo, com sua forma de pensar e com os
conhecimentos que dá oportunidade dele aprender. É oferecer oportunidades (em aulas) em que o
aluno se aproprie de um conhecimento e transforme a si mesmo e sua realidade.
Piaget (1996) critica o ensino tradicional em que as Ciências são desvalorizadas por serem apresentadas como resultado de experiências passadas e por só demonstra ao aluno, não deixá-lo fazer, interagir, experimentar (especialmente no laboratório, só se fazem demonstrações ou repetições de roteiros).
“como se se pudesse aprender a nadar
simplesmente olhando os banhistas”
- Exposição oral pelo professor
- Privilégio da memória e reprodução; ensino centrado no professor (aluno apenas executa/ receptor
passivo - “questionários”). ENSINO TRADICIONAL:
- O conhecimento é tido como “acabado”; os conhecimentos científicos são apresentados prontos, sem os debates e indagações que os geraram, na Ciência. Sem questões duvidosas - Quantidade conhecimento x qualidade aprendizagem. Concepção: o aluno deve acumular informação. Busca a transmissão de conhecimento, não o pensamento crítico-reflexivo, nem a formação do raciocínio.
As áreas científicas possuem um modo de
pensar, que valoriza a indagação e busca de respostas. A pesquisa caracteriza esta forma de pensar. Por que ao ensinar, não valorizamos a indagação e a busca? Por que a tendência é dar “tudo” pronto, sem instigar o aluno a agir? Será que os alunos não aprenderiam mais e se interessariam mais, deste modo?
Até aqui já iniciamos a apresentação do
Construtivismo, apontando como Piaget (um
construtivista) percebe o Ensino
Tradicional.
Jean Piaget (1896 – 1980) Biólogo e epistemólogo (não era educador)Como o ser humano adquire
conhecimento?
PIAGET: Entende que construímos o
conhecimento ao longo da vida, a partir
das ações que realizamos em nosso meio
físico e social.
Piaget (1972)
2 tipos de conhecimento:
- Existem conhecimentos que dependem de apresentação pelo professor – como as regras da ortografia
(elaboradas socialmente). Se ninguém falar, o aluno não “adivinhará”.
(exposição oral do conteúdo é adequada)
- Existem conhecimentos (especialmente na matemática e ciências) que não dependem da apresentação pelo
professor – depende do aluno usar seu raciocínio- todo ser humano é capaz, se saudável. O aluno tem que agir
Piaget
•
Estudou como as crianças
compreendem o mundo e elaboram
explicações para os fenômenos e fatos
que observa.
•
Estuda a criança para saber como vão
evoluindo seus conhecimentos até
chegar ao pensamento racional adulto
(lógico- formal)
É essencialmente a inteligência humana que
vai possibilitar este desenvolvimento dos
conhecimentos
.
O pensamento científico é um
pensamento que requer abstrações,
relações, comparações e organizações do próprio pensamento.
Para Piaget:
1.Não gravamos, como cópia,
o que nos é apresentado.
- noções e experiências anteriores formam ideias prévias e concepções pessoais que interagem
com as apresentadas.
2. Para adquirir conhecimento
precisamos da ação.
Ex: Experimentação: ação física. Refletir sobre os resultados
do experimento: ação mental
Classificar, comparar, analisar, compreender são ações necessárias à construção de conhecimentos.
Fase- operatório formal – a partir de 15 anos, em média (adulto)
“Pensar, é por exemplo
classificar, ou ordenar, ou
correlacionar; é reunir, ou
dissociar, etc.”
(PIAGET,
1973, p. 17) – operação ou
ação mental
3.
O
Construtivismo,
segundo Piaget, é:
- uma organização progressiva dos conhecimentos em nossa mente
- assimilação de novos conhecimentos mediante àqueles que já possuímos. Fases.
Às vezes há uma reviravolta: um novo dado da
experiência, uma nova informação, não se “encaixa”: entramos em desequilíbrio e somos forçados a
reorganizar o pensamento para assimilar e acomodar a nova informação. Incorporar a informação do ambiente.
O Construtivismo
• O construtivismo também é uma posição teórica; • Concebe que a aquisição de conhecimento tem uma gênese (origem) e se desenvolve no ser humano - e, por conseqüência, permite um novo modo de ver o mundo. • Não é uma teoria educacionalO que as idéias construtivistas de
Piaget representam para a educação?
- O professor deve criar condições para facilitar o processo de construção de conhecimento
pelo aluno- tarefas e auxílio nas mesmas; - O aluno deve interagir (física e/ou
mentalmente) com o conhecimento, sendo levado a buscar e desenvolver a curiosidade. Preparar aulas com metodologias mais
No ensino superior:
Uma aula de Zoologia ou Botânica, por
exemplo, pode contemplar a ação mental: não se condena a prática de “memorizar”, mas ela não basta.
Observar semelhanças e diferenças entre
espécies, observar fenômenos e analisar, resolver problemas: deixar o aluno tentar descobrir - o
professor deve orientar as “descobertas”, não deve dar “tudo pronto” – o conhecimento
1) Considerar as idéias dos alunos.
- conhecimentos prévios;
- valorizar o ponto de vista dos alunos
2)
O conteúdo deve ser significativo para
os alunos.
- Aplicabilidade; interesses; correlações
3)
Respeitar e conhecer o
desenvolvimento (intelectual) dos
alunos.
- adequar o ensino ao público: sua idade,
capacidade construtiva e interesses;
- as atividades devem ser um desafio
4) Propor atividades que requeiram empenho do aluno:
- resolução de problemas; - busca de informação - trabalho em grupo;
- atividades em que comparar, sintetizar e criar,
entre outras ações, sejam incluídas como parte das aulas e auxiliadas pelos professores
5) O aluno constrói seu próprio
conhecimento. ( o processo de construção é pessoal; o aluno é o centro do processo de ensino e aprendizagem;
deve-se orientar o aluno de modo que ele vá adquirindo autonomia em sua aprendizagem)
6) A apresentação de conhecimentos abstratos e fórmulas prontas dificultam o aprendizado.
(o professor deve mostrar caminhos até
chegar a fórmula e aos conhecimentos
sistematizados)
7) O professor deve estruturar o conhecimento
em torno de grandes conceitos e idéias (evitar que o aluno decore detalhes sem importância, aprender o fundamental = compreensão.)
O professor orienta todo o processo
pedagógico; sua avaliação não é mais a
solicitação da reprodução dos conteúdos
apresentados em aula, avalia todo o processo de aprendizagem, não só o produto.
Papel do professor:
No ensino tradicional : conferencista
No construtivismo (e outras teorias progressistas da aprendizagem): orientador da aprendizagem. Sabe-se
que o aluno não deve ser passivo. Piaget (1996, p. 15) diz “ o que se deseja é que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de se contentar com a transmissão de soluções já prontas.” - A construção, embora dependa da interação com o outro (professor, aluno), é pessoal.