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AS FRONTEIRAS DO DIREITO: A PERMEABILIDADE DAS FONTES NORMATIVAS INTERNACIONAIS NA ESFERA LOCAL

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Academic year: 2021

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AS FRONTEIRAS DO DIREITO: A PERMEABILIDADE DAS FONTES NORMATIVAS INTERNACIONAIS NA ESFERA LOCAL

Direitos Humanos e Justiça Coordenador da atividade: Ademar Pozzatti JÚNIOR1 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Autores: Luiza Witzel FARIAS2

Resumo: O Programa de extensão “As fronteiras do direito: a permeabilidade das fontes normativas internacionais na esfera local”, do NPPDI – Núcleo de Pesquisa e Práticas em Direito Internacional (CNPq/UFSM) parte da problemática de que a consciência popular do direito internacional e das relações internacionais apresenta sérias deficiências. Assim, inspirado pela perspectiva emancipatória da educação popular, e para estimular a percepção das consequências locais do direito internacional, ele está pautado em quatro ações extensionistas interligadas e simultâneas: cine direitos humanos, oficinas de direitos humanos, ciclos de debates sobre o direito internacional e ateliê de pesquisa em direito internacional. Nesse contexto é buscada uma dupla fertilização: dos estudantes com quem o conhecimento produzido na Universidade é semeado, e dos estudantes que a partir das problemáticas e demandas concretas dos primeiros, passam a pensar suas pesquisas também em termos da sua função social real.

Palavra-chave: direito internacional; direitos humanos; educação popular. Introdução

A formulação do Programa de Extensão “As fronteiras do direito: a permeabilidade das fontes normativas internacionais na esfera local”, do NPPDI - Núcleo de Pesquisa e Práticas em Direito Internacional (CNPq/UFSM), parte da problemática de que a consciência popular do direito internacional e das relações internacionais apresenta sérias deficiências. O Programa está pautado em quatro ações extensionistas interligadas e simultâneas: cine direitos humanos, oficinas de direitos humanos, ciclos de debates sobre o direito internacional e ateliê de pesquisa em direito internacional. Destas, o Cine Direitos Humanos representa a ação em que a relação entre os estudantes da Universidade e os demais membros

1 Ademar Pozzatti Junior é professor de Direito Internacional do Programa de Pós-Graduação em Direito

(PPGD) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/Brasil), onde coordena o NPPDI - Núcleo de Pesquisa e Práticas em Direito Internacional (CNPq/UFSM). Possui Mestrado e Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/Brasil), com estágio de pesquisa junto à École de Droit do Institut d´Estudes Politiques de Paris (Sciences Po/França).

2 Luiza Witzel Farias é estudante do Curso de Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal

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da comunidade municipal é mais densa. Enquanto, as Oficinas de Direitos Humanos, o Ciclo de Debates em Direito Internacional, e o Ateliê de Pesquisa em Direito Internacional, representam a construção efetiva e constante dessa ação, e da sua correlação com o restante do tripé universitário, leia-se o ensino e a pesquisa.

Observa-se que mesmo na universidade, a instrução de caráter meramente descritivo e de transmissão de conteúdo é espelho das mazelas que o egresso confronta no cotidiano da atividade profissional, não conseguindo vislumbrar na realidade aquilo que lhe foi ensinado na academia por longos anos. Da mesma forma, a consciência popular do direito e das relações internacionais está frequentemente vinculada aos privilégios das elites globais, que transitam entre diferentes línguas e culturas, não tendo nenhuma relação com a sua realidade “local”. Assim, baseado na ideia de educação popular, que destaca a necessária troca de saberes e experiências entre os vários atores envolvidos, todos considerados sujeitos do processo (FREIRE, 1977), no Cine Direitos Humanos, o abismo entre o fato e a ficção é repensado, por meio de novas concepções de popularização dos temas globais.

Metodologia

De maneira geral, os procedimentos nas ações de extensão são muito semelhantes: nelas, o debate entre os participantes tem como fundamento primeiro o relato da situação-problema, devidamente fundamentada, que necessite de pesquisa e aprofundamento. A condução dos trabalhos é realizada pelos responsáveis, sejam eles estudantes, professores, membros da sociedade civil organizada ou não, entre outros, privilegiando o debate horizontal entre os participantes.

No caso das Oficinas, caracterizadas por encontros mais curtos e esparsos, cada encontro conta com um especialista, que ministra palestra sobre um tema específico de direitos humanos, e um debatedor familiarizado com a práxis em questão. No caso do Ciclo, são discutidos livros que impactam o desenvolvimento do direito internacional, propondo uma reflexão crítica da disciplina através de debates sobre o Direito Internacional do Desenvolvimento, Direito Internacional do Reconhecimento e o Direito Internacional da Decolonialidade, que compõe os enfoques do NPPDI. Enquanto no Ateliê, a discussão gira em torno de (a) pesquisas em andamento por outros pesquisadores e grupos de pesquisa “referência” na área; (b) referenciais teóricos atualizados e (c) parâmetros metodológicos inovadores, que tem tido impacto no desenvolvimento cientifico da área.

No caso do Cine, o uso pedagógico do cinema é instrumento lançado na empreitada de tornar a visão limitada do leigo em construção de conhecimento crítico e reflexivo. Dessa

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forma, essa ação pretende promover sessões públicas de cinema seguidas de debates sobre direitos humanos, para estimular a percepção das consequências locais do direito internacional.

No primeiro momento são realizados encontros preparatórios com os alunos envolvidos com o intuito de formar quadros aptos a educação popular através da arte. No segundo momento são realizadas as sessões públicas e gratuitas de filmes relacionados a temática de direitos humanos, acompanhadas de um debate sobre a temática abordada. Por fim, no terceiro momento, são realizados encontros de reflexão entre os alunos envolvidos, afim de ressaltar os aspectos positivos e negativos das atividades, avaliando a sua capacidade ou não em atingir os objetivos propostos.

No seu primeiro ano o projeto era realizado principalmente na CESMA (Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria), e possuía um público-alvo mais amplo, como estudantes de diversos níveis, e a sociedade civil, organizada ou não. Já no seu segundo ano, em 2017, esse público se torna mais direcionado, abrangendo principalmente os estudantes de escolas públicas da cidade de Santa Maria, ocorrendo dentro dessas instituições. Nesse novo contexto, e ao perceber a incipiente produção científica que sirva de base e orientação sobre o tratamento dos temas globais com jovens de regiões periféricas – o trabalho de Mastellaro et al (2011) é aqui tomado como forte inspiração. Os extensionistas tem buscado uma maior especialização e produção de conhecimento na temática, dessa forma, além das sessões de cinema, e da escolha cada vez mais estratégica de diferentes gêneros cinematográficos – Zanella e Neves Júnior (2017) destacam a importância destes no ensino de Relações Internacionais –, os debates tem sido permeados por diferentes tipos de dinâmicas, pensadas caso a caso, junto da Escola parceira.

Entre as dinâmicas já desenvolvidas pode-se citar os debates guiados por reportagens recentes, por quadros com perguntas específicas respondidas conjuntamente, e também o uso de questionários visando a compreensão do alcance e dos limites das atividades para posterior evolução.

Desenvolvimento e processos avaliativos

Dentre os objetivos da Programa estão, de maneira geral, impulsionar, fomentar e articular ensino, pesquisa e práticas extensionistas, e com isso contribuir para a tomada de consciência do potencial do direito internacional em prol da efetivação dos direitos humanos e de estimular entre os alunos o aprendizado crítico dessa disciplina. E, de maneira específica são objetivos do Programa, entre outros: 1. Estimular a disseminação e a prática da extensão

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universitária entre os estudantes da UFSM, notadamente entre os estudantes de graduação do curso de Relações Internacionais, por meio de uma maior aproximação dos estudantes com as comunidades e demandas populares; 2. Constituir, capacitar e consolidar um grupo interdisciplinar de estudantes de graduação para atuar em comunidades de baixa renda, na perspectiva da construção de práticas de caráter emancipatório, referenciadas, entre outras, pela educação popular e pela assessoria jurídica popular; 3. Fortalecer a prática de um direito internacional crítico comprometido com as demandas postas pela realidade social de comunidades, com o incentivo ao protagonismo comunitário e à democratização do acesso à justiça; e 4. Incentivar a troca entre os saberes acadêmico e popular, com o objetivo de construir e democratizar o conhecimento produzido na universidade a partir da efetiva participação da comunidade e da percepção crítica da realidade social.

Dentro do contexto escolar, as temáticas abordadas em cada edição do Cine têm sido pensadas junto do corpo docente, visando abordar temas concatenados com suas principais demandas em termos de discussão sobre direitos humanos. Da mesma forma, têm-se buscado aproximar cada vez mais essas temáticas das pesquisas em curso no NPPDI, visando a vulgarização do conhecimento produzido na Universidade, bem como a fertilização destas pesquisas pelo contato com as demandas locais. Dessa forma, os conhecimentos, discussões e práticas, produzidos no âmbito das outras três ações de extensão do Programa – o Ciclo, o Ateliê, e as Oficinas – têm servido tanto de subsídio para as pesquisas dos membros, quanto para a preparação do Cine.

Ainda, o fortalecimento da relação existente no tripé da Universidade, o ensino, a pesquisa, e a extensão, é considerado um objetivo prioritário. Visto que a própria abordagem de um direito internacional que se pretenda eficaz na contemporaneidade, tem se mostrado dependente das estruturas e políticas locais (SLAUGHTER; BURKE-WHITE, 2006), de maneira que a relação entre as demandas locais e as pesquisas nesta área tem de se tornar mais densa, se intentam a não obsolescência. E, ainda, que é dever dos estudantes cuja Universidade é financiada de maneira pública, encontrar formas de fazer com que o conhecimento produzido destro desta estrutura institucional, circule e seja compreendido pela sociedade que a mantém. E para além desses dois deveres, encontra-se um mais sensível, fortemente ligado ao público-alvo do Cine e descoberto quando do contato com estes: o de aumentar as expectativas dos estudantes quanto ao seu próprio desenvolvimento intelectual e formação acadêmica, evidenciando políticas vigentes de efetivação do seu direito à educação.

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No ano de 2017 a temática do Cine foram os direitos LGBT+, e a sua preparação contou com a participação de membros do Coletivo Voe, que possui trajetória consolidada nas lutas em favor destes direitos, além dos estudantes que possuíam pesquisas em desenvolvimento no NPPDI, dentro desta temática. No ano de 2018 as temáticas foram educação, meio ambiente, e saúde, cujo tratamento pela legislação internacional também é tema de pesquisas em desenvolvimento no NPPDI, e nesta ocasião pode ser discutido, e os resultados das pesquisas divulgados. Foi também nesta última edição que se iniciou o uso de questionários aplicados tanto aos estudantes quanto aos professores da Escola.

Como era esperado, esse contexto apresenta uma dupla fertilização: dos estudantes com quem o conhecimento produzido na Universidade é semeado, e que passam a se perceber também, parte do mundo; e dos estudantes que a partir das problemáticas e demandas concretas dos primeiros, passam a pensar suas pesquisas também em termos da sua função social real. Mesmo assim, o emprego de questionários tem possibilitado ao segundo grupos de estudantes, pensar novas estratégias que aprofundem essa fertilização cada vez mais, visando ultrapassar os contatos e fertilizações iniciais, para alcançar níveis mais satisfatórios de compreensão crítica, que se pretenda e que seja potencialmente transformadora do direito internacional, pelos dois grupos.

Considerações Finais

Boa parte dos resultados produzidos pelo Programa de Extensão, podem, para além da produção cientifica dos membros do NPPDI, também serem visualizados na concretização do Cine Direitos Humanos. Nesse contexto, a transformação do Cine em um projeto voltado a estudantes de escolas públicas tem gerado diversos questionamentos, bem como ganhos. Sobre os primeiros têm se evidenciado principalmente questões sobre quais são os instrumentos mais efetivos para aproximar o debate entre os estudantes da Escola e os da Universidade, bem como, quais dinâmicas aprofundam este debate. Sobre os segundos, os ganhos, tanto a observação dos extensionistas quanto os questionários aplicados tem evidenciado um aumento da consciência crítica e da curiosidade entre os estudantes participantes, tanto sobre os direitos humanos quanto sobre a própria Universidade. Ainda pode-se afirmar que o Cine proveu o primeiro contato de muitos deles com essas temáticas.

No caso dos ganhos para os extensionistas, há, primeiro, contatos iniciais com a experiência de ensino, suas dificuldades e a tentativa de superação destas; e segundo, há fertilização daqueles com pesquisas em desenvolvimento ou futuras, pelas problemáticas concretas e demandas locais.

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Ainda, se é verdade que se vive, no mundo de hoje, uma dissolução das referências através das quais os indivíduos percebiam a si mesmos, culminando numa dessimbolização das relações sociais, o direito internacional não escapa a tal premissa. As crises institucionais, econômicas e sociais contemporâneas tem abalado as pretensas certezas sedimentadas ao longo da modernidade e, se por um lado revelaram a debilidade dos discursos calcados na segurança e na liberdade exclusivamente individual, por outro apontam para a possibilidade de uma realocação da ética no âmbito do discurso das ciências. Dessa forma, há que se evidenciar a pretensão de que, com maiores experiências e mais algum tempo de desenvolvimento, os conhecimentos produzidos até então no âmbito do Programa de Extensão, e de maneira mais específica, do Cine Direitos Humanos, sejam reunidos em forma de produção cientifica divulgável, que possa ajudar extensionistas de outros lugares a pensar ações de extensão universitária na área de relações internacionais e direito internacional, que sejam efetivas no objetivo de produzir conhecimento crítico e autônomo sobre as temáticas propostas nesta seara.

Referências

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.

MASTELLARO, C.; BRAGA, R.; OTERO, G.; FIRBIDA, T.; SANTOS, T. Extensão em relações internacionais: por uma nova práxis. Revista Direito e Sensibilidade, Brasília, p. 29 - 40, 2011.

SLAUGHTER, Anne-Marie; BURKE-WHITE, William. The Future of International Law is Domestic (or, The European Way of Law). Harvard International Law Journal, Cambridge, v. 47, n. 2, jun. 2006.

ZANELLA, C. K.; NEVES JÚNIOR, E. J. O ensino de Relações Internacionais e o cinema: reflexões sobre o uso de filmes como uma ferramenta pedagógica. Meridiano 47, Brasília, v. 18, p. 1-20, 2017

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