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TEORIA MORAL KANTIANA E A FORMAÇÃO DO HOMEM MORALMENTE BOM

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA. TEORIA MORAL KANTIANA E A FORMAÇÃO DO HOMEM MORALMENTE BOM. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Nilmar Costa Daniel. Santa Maria, RS, Brasil 2015.

(2) TEORIA MORAL KANTIANA E A FORMAÇÃO DO HOMEM MORALMENTE BOM. Nilmar Costa Daniel. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Área de Concentração em Ética Normativa e Metaética, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Filosofia.. Orientador: Prof. Dr. Jair Antônio Krassuski. Santa Maria, RS, Brasil 2015.

(3) © 2015 Todos os direitos autorais reservados a Nilmar Costa Daniel. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte. E-mail: nilmardaniel@yahoo.com.br.

(4) Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Programa de Pós-Graduação em Filosofia. A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado. TEORIA MORAL KANTIANA E A FORMAÇÃO DO HOMEM MORALMENTE BOM elaborada por Nilmar Costa Daniel. como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Filosofia. COMISSÃO EXAMINADORA. Jair Antônio Krassuski, Prof. Dr. (UFSM) Presidente/orientador. Renato Duarte Fonseca, Prof. Dr. (UFSM). Diego Carlos Zanella, Prof. Dr. (UNIFRA). Santa Maria, 23 de abril de 2015..

(5) RESUMO Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Filosofia Universidade Federal de Santa Maria. TEORIA MORAL KANTIANA E A FORMAÇÃO DO HOMEM MORALMENTE BOM AUTOR: NILMAR COSTA DANIEL ORIENTADOR: JAIR ANTONIO KRASSUSKI Data e local: Santa Maria, 23 de abril de 2015.. O presente trabalho aborda o enlace e as relações da proposta de Immanuel Kant (1724-1804) no que tange a alguns temas de sua filosofia prática, a saber, Moralidade, Religião e Educação. Esta tentativa de reconstruir o percurso destes conceitos da filosofia prática kantiana tem por intenção apresentar o processo de desenvolvimento e a contribuição da pedagogia no processo da formação moral. O objetivo é apresentar, de forma articulada, a ideia de progresso e aperfeiçoamento da conduta humana, condizente com o projeto da metafísica da moral e seu desfecho na união de todos os homens de boa ação, ou seja, na forma de uma comunidade ética. Inicialmente apresenta-se a lei moral como condição necessária para uma boa conduta em si, afastando-se de qualquer representação sensível que pretenda ser referência para toda conduta virtuosa. O que se busca explanar aqui é apenas a possibilidade de uma conduta puramente moral, desde que a referência para a formulação da boa conduta esteja ancorada na lei racional. Contudo, o requisito para uma conduta moralmente boa é sua validação a partir da lei pura da razão. Kant atribui a origem do mal ao encontro dos homens. De forma que nosso autor acredita que a solução para o mal está justamente na unificação de um mesmo interesse virtuoso, único capaz de superar ações más por conta da ideia de uma comunidade ética. Por fim, no terceiro capítulo, a estratégia de pesquisa não se restringe apenas a obra Pedagogia, mas a várias obras, procurando sistematizar a proposta de uma educação moral, vista, por Kant, como essencial e indispensável na formação de um sujeito virtuoso, membro de uma esperada comunidade ética.. Palavras-chave: Lei moral. Comunidade ética. Educação Moral..

(6) ABSTRACT Master‟s Dissertation Graduate Program in Philosophy Federal University of Santa Maria, RS, Brazil. KANT’S MORAL THEORY AND THE FORMATION OF MEN OF GOOD WILL. AUTHOR: NILMAR COSTA DANIEL ADVISOR: JAIR ANTONIO KRASSUSKI Date and Place of Defense: Santa Maria, April 23rd 2015.. The present study discusses the union among relations based on the philosophical proposals of Immanuel Kant (1724-1804) focusing on some of his practical philosophy such as Morality, Religion and Education. The aim into attempting to rebuild the course of Kant practical philosophy is to present the development process and the contribution of pedagogy in the process of moral formation. The objective is to present in an articulated manner, the idea of progress and improvements on human conduct along with the project on the metaphysics of moral and its ending of uniting all men of good will, in other words, in an ethical community way. First, the moral law is presented as a necessary condition for a good conduct in oneself, straying from any sensible representation in which it pretends to serve as a reference to every virtuous conduct. The explanation being held in this study is only about the possibility of a purely moral conduct, and only if the reference for the formulation of a good character is based on the rational law. However, the requisite for a good moral character is only valid if in accordance with practical reason law. Concerning the union of men, the consequence of this match is the origin of evil just as the union of some equal virtuous interest is capable of overcoming bad actions due to ideas of an ethic community. Finally, in the third chapter, the research strategy does not apply only to Pedagogy but also to other several masterworks, aiming to systematize the proposal of a moral education, seen by Kant, as essential and indispensable on the formation of a virtuous individual member of a certain ethic community. Key-words: Moral law. Ethic community.Moral Education..

(7) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7 1 METAFÍSICA E A AÇÃO MORAL ................................................................................. 11 1.1 A Base da Vontade Moral ................................................................................................ 15 1.2 Lei Moral e a Determinação da Vontade ....................................................................... 23 1.3 A Problemática da Vontade como Autonomia da Ação ................................................ 37 2 RELIGIÃO E MORAL ....................................................................................................... 43 2.1 Vontade e Religião ............................................................................................................ 46 2.2 Os Mandamentos de Deus e a Instituição Igreja ........................................................... 53 2.3 A Fé e o Fundamento da Igreja ....................................................................................... 55 2.4 As Bases de uma Religião Pura ....................................................................................... 61 2.5 Fé Histórica e a Transição da pura Fé Racional............................................................ 65 2.6 A Fé Moral e a Verdadeira Igreja ................................................................................... 67 3 A FORMAÇÃO MORAL ................................................................................................... 72 3.1 A Pedagogia e o Aspecto Negativo e Positivo da Formação Moral .............................. 76 3.2 O Cultivo e a Fundação do Caráter Moral .................................................................... 83 3.3 A Encruzilhada Pedagógica: Moral e Religião .............................................................. 87 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 96.

(8) INTRODUÇÃO. A teoria moral de Immanuel Kant (1724-1804) inaugura na modernidade uma nova forma de construção e avaliação dos princípios e valores da ação moralmente boa. É na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), obra em o autor investiu a finco sua investigação para fixar, de modo formal, as bases de todo princípio moral. Neste sentido a lei moral torna-se o alicerce formal para toda ação bem intencionada, a qual Kant sustenta o estabelecimento de um princípio que sirva de base para toda prática moralmente aceita. Kant pretende apontar, através de uma metafísica dos costumes, para a possibilidade de se agir a partir do puro dever moral. No entanto, a concepção kantiana aponta para o risco das (2009, p. 75) escolhas morais atreladas a vida prática, pois “[...] os costumes eles próprios permanecem sujeitos a toda a sorte de corrupção enquanto faltar aquele fio condutor e norma suprema de seu ajuizamento”. A humanidade é o resultado do esforço racional, ou seja, obra da própria espécie em busca do progresso moral. Kant (2008g, p. 22) reforça esta colocação, afirmando que “[...] no homem (como única criatura racional sobre a terra), as disposições naturais que visam o uso da sua razão devem desenvolver-se integralmente só na espécie, e não no indivíduo”. Neste ponto, nosso autor ressalta que a formação de homens moralmente educados deve, necessariamente, ser precedida pela razão prática pura. Contudo, a educação moral para conduzir a espécie ao progresso constante, deve, inevitavelmente, ser precedida por um princípio incondicionado que sirva de estrutura fundamental para a antropologia moral. Esta estrutura básica da boa conduta anseia por uma vontade racional, tutora de toda ação moralmente boa. Deste modo, Kant atribui à boa vontade a ação moralmente boa, ao agir sem limites de bondade quanto ao seu emprego prático. Com isso, Kant quer mostrar a possibilidade de se pensar um princípio incondicionado da conduta moral (regido pela razão prática) ser puramente bom em todos os casos em que seja empregado. A razão prática deve fornecer, além do mandamento incondicional, que é o dever de todo homem moralmente educado, o resultado em comum de todas as liberdades, enquanto fim das ações bem intencionadas. O progresso humano, promovido pela capacidade de cultivar-se, apresenta a necessidade de um ordenador que julgue e reconheça o conjunto de ações bem intencionadas. Kant (2008g, p. 27) defende que o ser humano “[...] necessita, pois, de um senhor que lhe quebrante a própria vontade e o force a obedecer a uma vontade.

(9) 8. universalmente válida, e possa, no entanto, ser livre”. A ideia de um ser de vontade santa, único capaz de reconhecer um sistema de fins em forma de uma comunidade ética, representa para a teoria moral kantiana uma necessidade da razão, única capaz de consolidar a transformação da espécie humana de acordo com o seu fim em forma de reino. Neste sentido, no primeiro capítulo, apontaremos que, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, o autor debruçou-se sobre a estrutura da moralidade, cujos móbiles derivam de ordem interna, exatamente em oposição ao conceito de heteronomia, que o motivador da ação é outro. Temos aí a justificativa formal da teoria moral kantiana, que concentra o valor da ação na intenção determinada em forma de lei. Tal determinação não está disposta naturalmente, porém, carece de esclarecimento e cultivo racional para que possa, assim, obter motivos fortes para universalizar, incondicionalmente, máximas da boa ação. Embora Kant (2007, p. 16, grifo do autor) conceba “[...] o homem, como efeito, afetado por tantas inclinações, é na verdade capaz de conceber a ideia de uma razão pura prática, mas não é tão facilmente dotado da força necessária para torná-la eficaz in concreto no seu comportamento”. É visto, deste modo, que a posse da faculdade racional não é garantia de soberania na prática da boa conduta, pois o homem é, ao mesmo tempo, um ser desejante e, de certo modo, mais propenso às ações de ordem sensível que as de ordem inteligível. É neste processo de análise da obra kantiana que pretendemos ressaltar os determinantes das ações humanas, cuja vontade pode ser afetada pelo sensível ou pelo inteligível. O conteúdo moral da ação, neste ponto, deve estar obrigado incondicionalmente, por um determinante racional. Podemos afirmar que Kant pretendera com isso, apresentar uma regra da boa ação em forma de mandamento objetivo, ou seja, através da lei moral. A questão é tornar a lei necessariamente universal, para que assim possibilite a ligação do conjunto de todo ser racional, na perspectiva de participação sistemática em um possível Reino dos fins. Procuramos evidenciar que, segundo esta teoria, a condição elementar para a participação como membro de um fim coletivo da moralidade é a autonomia da ação. O determinante da ação deve ser livre, ou seja, a auto-coerção do agente é a causa da vontade racional. Lembramos que, para Kant, a ideia da liberdade como causa da própria ação, só é possível na condição humana de pertencimento a duas ideias de mundo, isto é, o mundo sensível e o mundo inteligível. O primeiro condiz com a participação sensível enquanto condição para ser afetado pelas leis da natureza. Já o mundo inteligível, trata-se da capacidade racional humana de representar a lei a qual deve obedecer livremente..

(10) 9. Em seguida, no segundo capítulo, nos servimos da obra A Religião nos Limites da Simples Razão (1793), para reforçar a proximidade da moral e da religião enquanto viés necessário para justificar a união de homens moralmente bons, ou seja, unidos pela inteligibilidade, em um único e mesmo fim comunitário. É possível afirmar, no entanto, que a moral em nada carece da religião. Tal justificativa decorre do fato da razão prática pura determinar, previamente, qualquer religião a um mesmo fim coletivo enquanto puro efeito da moralidade. Embora Kant apresente a ideia de unificação da religião a um mesmo fim moral, em forma de comunidade, o que torna pertinente pensar, necessariamente, em uma vontade perfeita, legisladora deste Reino da boa conduta. Neste caso, pensar a ideia de Deus é aceitar, concomitantemente, a possibilidade de avanço moral em ordem comunitária, é tornar possível o pertencimento do indivíduo a este fim moral coletivo. Ainda no segundo capítulo, Kant teoriza sobre o mal e sua origem relacionada a máximas más e, indiretamente, em decorrência das relações entre homens. É nesta relação coletiva que o mal se apresenta, seja nos sentimentos de comparação e competição. Nesta medida, uma proposta para a superação do “mal coletivo” está, exatamente, na união fortalecida dos agentes através da ideia de uma comunidade ética em forma de Igreja. Justifica-se, assim, a superação do fim individual pelo fim comum, isto é, a moralidade atinge sua plenitude na comunidade de homens virtuosos, empenhados permanentemente na realização da boa conduta social através da ideia de um “pacto recíproco”. Kant apresenta o conceito de comunidade ética no formato de uma única Igreja Invisível, constituída por “homens de boa vontade”. No entanto, a Igreja Visível representa a instituição responsável pela instrução dos mandamentos sagrados na Terra, isto é, a Igreja Visível desempenha a função pedagógica de instruir o ser humano, na perspectiva de aproximação constante do ideal de comunidade ética, ou seja, da Igreja Invisível. Há deste modo, uma aproximação salutar da representação da Igreja física com a comunidade formada por “homens retos”. No entanto, o autor assevera o papel da Igreja, enquanto instituição histórica, na instrução e estímulo da disposição de ânimo em direção a uma só e verdadeira religião, a racional. Ou seja, o papel pedagógico na Igreja histórica é o de estimular o homem para a boa ação moral, contribuindo na determinação comunitária para a realização da moralidade. O valor da comunidade ética está no progresso da disposição interna de seus membros, o que equivale ao produto da lei moral reconhecida, ao mesmo tempo, como mandamento divino. Neste aspecto, Kant admite a possibilidade da figura de Deus complementar o empenho humano em progredir moralmente, isto é, a influência da força divina desempenha o.

(11) 10. papel de suprir somente o que estiver aquém da capacidade humana em fundar uma comunidade ética. Por fim, o terceiro capítulo, objetiva-se a consolidar a argumentação kantiana ao papel da pedagogia em conectar a moral da “boa máxima”, que é individual, a “vontade de Deus”, que é a realização do fim comunitário de todos os homens moralmente bons. Esta conexão do progresso moral entre o indivíduo e o social deve ser fortalecida pelo processo educacional. É visto que o reforço da moralidade decorre de um aprimoramento da boa ação que, embora corresponda a uma sucessão de empenho das próximas gerações, contribui para o resultado de uma associação moral como fim alcançado pela inteligência humana. A possibilidade de se pensar uma direção para a educação moral, é sustentar o desdobramento do individual para a formação cosmopolita, ou seja, educar para o interesse do gênero humano. O homem é naturalmente propenso à realização pessoal, antes da social. Kant propõe a inversão desta ordem através da superação do interesse prático pela vontade inteligível. A formação moral, neste sentido, contribui para este aprimoramento, pois o ser humano é moralmente ignorante e carece de um processo pedagógico que o oriente na superação da rudeza pela ação inteligível. Este é o problema que Kant defende: o aperfeiçoamento não ocorre no indivíduo, mas na própria espécie humana. Atribui-se a este processo de qualificação moral do gênero a contribuição da educação para o melhoramento individual e, em consequência, comunitário. Temos aí o papel fundamental da arte de educar, que pode ser entendido como cultivo para um estado melhor, o qual avança através da superação e aprimoramento contínuo das gerações. Seguir o rastro proposto pelo autor é atrelar ao desenvolvimento moral humano a tarefa de cultivar a humanidade ao propósito comunitário. Neste ponto, a formação moralreligiosa deve desenvolver o caráter virtuoso desde a mais tenra idade, associando os rituais e cultos ao estímulo para cumprimento do dever moral. Ou seja, toda orientação de ordem religiosa deve ser precedida por princípios da boa ação moral, de modo que a razão esclarecida prevaleça na intenção de cada agente, como membro integrante da comunidade de Deus na Terra..

(12) 1 METAFÍSICA E A AÇÃO MORAL. É na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)1 que Kant desenvolve a base formal do princípio moral e fixa o princípio supremo da moralidade. Para Sullivan, (1994, p. 28, tradução nossa), Kant, nesta obra, pretende “[...] definir a norma moral final e defender a capacidade de nos obrigarmos a ela”. No prefácio da obra, Kant faz o comparativo teórico, a fim de sustentar a possibilidade de a boa conduta ter o rigor necessário das leis da natureza. Para isto, ele diferencia conceitualmente dois tipos de lei que são correspondentes à ideia de uma dupla metafísica, a saber, a Metafísica da natureza e a Metafísica dos Costumes. A primeira, a lei natural, consiste na regularidade de fenômenos particulares que são objeto do conhecimento, por exemplo, nas áreas da física, da química e entre outros campos das ciências naturais, em que, a lei universal, é válida em decorrência da regularidade e necessidade causal dos fenômenos. Esta regularidade permite deduções a partir de princípios que necessitam de comprovação empírica para sua validação. Segundo Kant (2009, p.65), diferentes ciências da natureza, como a biologia e a química possuem em comum a aplicação prática, por exemplo: “[...] a física terá, portanto, a sua parte empírica, mas também uma parte racional”. A característica das ciências naturais, apreciadas racionalmente a priori em forma de lei, Kant as designa Metafísica da Natureza. O segundo tipo de lei é a da Metafísica dos Costumes, representada pela Ética. Esta se divide entre a parte empírica e a racional, isto é, entre Antropologia prática e a Moral. As leis da vontade humana, de acordo com Kant (ibid. p. 14), são “[...] leis segundo as quais tudo deve acontecer, mas também levando em conta as condições sob as quais muitas vezes não acontece”. Esta não regularidade da ética se deve ao conflito interno do agente. Sullivan (1994, p. 28, tradução nossa) comenta que “[...] esta luta tem sua contraparte dentro de cada indivíduo, em nossa experiência do conflito moral interno entre a nossa razão e nossos desejos”. Uma metafísica dos costumes necessita, indispensavelmente, de uma base a partir de princípios a priori que anteceda uma antropologia moral. No comentário de Kant (2009, p. 17), “[...] a lei moral, em sua pureza e autenticidade (e é o que mais importa no domínio prático), não se dever buscada em nenhum outro lugar senão em uma filosofia pura. Portanto, esta (Metafísica) deve vir em primeiro lugar, e sem ela não pode de todo haver uma filosofia moral”. Na Fundamentação, Kant (Ibid., p. 175) utiliza o termo “moral aplicada” ao referir-se. 1. A partir daqui, a Fundamentação da Metafísica dos Costumes será tratada por Fundamentação..

(13) 12. a aplicação de uma metafísica dos costumes à natureza humana, quer dizer, extrai de fonte racional “esta lição a priori” (Ibid., p. 69, grifo do autor). É na introdução a outra importante obra da filosofia prática kantiana, A Metafísica dos Costumes (1797), que a antropologia moral (que neste contexto equivale à moral aplicada) é descrita como parte da filosofia prática, necessária à metafísica moral. Neste sentido, a antropologia moral não deve preceder uma filosofia prática pura. A antropologia moral, a qual, entretanto, trataria apenas das condições subjetivas na natureza humana que obstam ou auxiliam as pessoas a cumprir as leis de uma metafísica dos costumes; ela se ocuparia do desenvolvimento, difusão e fortalecimento dos princípios morais (na educação escolar e na instrução popular), e de outros ensinamentos e preceitos similares baseados na experiência. É indispensável, mas não deve preceder uma metafísica dos costumes ou ser a esta mesclada (KANT, 2008a, p. 59).. Kant enaltece a importância da antropologia moral, porém desde que esta esteja submetida à razão prática. A boa conduta moral corresponde à ação que esteja de acordo com a lei moral. Com efeito, sustentar uma Metafísica dos Costumes, é investigar as bases de uma vontade pura enquanto princípio da ação, quer dizer, suas fontes primeiras enquanto condição humana do querer. Com isso, pensar em uma metafísica dos costumes é tomar o conceito de moralidade pela análise formal de um princípio livre relacionado à ideia de boa ação em si. O método que Kant utiliza na Fundamentação, consiste em partir da análise (primeira e segunda seções) do conhecimento racional vulgar no arranjo e determinação do princípio supremo da moralidade – Imperativo Categórico. Na terceira seção, a validação do princípio supremo e sua aplicação sinteticamente, como possibilidade de aplicabilidade deste princípio autônomo no conhecimento vulgar. O que Kant refuta, neste ponto, é a despreocupação de muitos autores de teorias morais considerarem apenas o confronto de diferenças práticas, suficiente para a elaboração de leis da ação. A crítica de Kant (2009, p. 79, grifo do autor) a estes autores é a de que eles “[...] não distinguem os motivos que, enquanto tais, são apresentados pela mera razão de maneira plenamente a priori e que são propriamente morais dos motivos empíricos que o entendimento eleva a conceitos universais pela mera comparação das experiências”. Toda antropologia moral para desempenhar sua tarefa de ensino e instrução da boa ação, necessita de referências. Para Kant, a ideia pura de uma ação boa, enquanto referência teórica da boa conduta depende de uma metafísica da moral, isto é, os motivos e princípios que determinam uma ação moral são dados pela razão. Portanto, possibilitar a formulação de regra universal.

(14) 13. pela razão prática, corresponde à condição da antropologia moral ser precedida de uma metafísica, ou seja, de uma filosofia moral pura enquanto fonte da universalidade da lei moral. Nas Lições de Ética (1790), Kant (2002, p. 50, tradução nossa) afirma que “[...] toda moralidade não seria senão um costume, um hábito desde que julgamos todas as ações conforme regras inculcadas pela educação ou conforme a lei ditada pela autoridade competente”. A ideia de formação moral determinada pelo hábito, ou a este mesclada, deve ser evitada. Embora Kant considere a antropologia moral insuficiente para fundamentar a moralidade, devido a influências sensíveis, cuja fonte não é suficientemente confiável para definir um conceito puro de bondade, a formação moral é indispensável, porém, ele considera válida esta formação desde que precedida de uma fundamentação racional pura da boa conduta. A fundamentação da ação moral, a partir da metafísica dos costumes, requer a análise da vontade e seus princípios, isto é, a vontade pura enquanto determinante da conduta boa em si. A ideia de uma vontade pura é o fundamento racional da boa conduta, e esta tem por causa própria o conceito espontâneo que não pertence ao sensível, embora sua finalidade seja a própria prática moral. De acordo com Wood (2002, 154, tradução nossa), “[...] a moralidade foi muitas vezes concebida como obediência à vontade de Deus, era totalmente natural para um filósofo tratar princípios morais como uma espécie de lei ou imperativo [...]”. Com efeito, Kant defende a ideia de que a vontade humana não é determinada pela vontade divina ou seus princípios moventes. Observa Wood: Kant (Ibid. 154, tradução nossa) “[...] considera a nossa própria vontade racional de ser a autora dos mandamentos de moralidade”. O princípio da vontade tem o seu valor moral no princípio a priori, isto é, no motivo da ação em si, e não na finalidade da ação realizada. Para Kant (2009, p. 127) “[...] a vontade está bem no meio entre seu princípio a priori, que é formal e sua moral propulsora a posteriori, que é material, por assim dizer numa bifurcação”. É importante ressaltar que, em outras palavras, a vontade repousa sobre as faculdades moventes do desejar (Wunsch) e do querer (Wollen). A primeira, a faculdade do desejar, está condicionada a vontade que tem o resultado da ação o seu princípio movente. Isso quer dizer que, no instante em que o ser humano deseja a utilidade prática, este está inclinado, enquanto vontade movente, a finalidade útil da ação. Contudo, Kant (Ibid., p. 125) comenta que a vontade a posteriori “[...] que possamos ter por ocasião de (nossas) ações, e os seus efeitos, enquanto fins e molas propulsoras da vontade, não possam conferir às ações qualquer valor incondicionado e moral. [...]”..

(15) 14. O valor moral da ação reside, de acordo com Kant (ibid, p. 127), no próprio princípio da vontade, “[...] abstração feita dos fins que possam ser efetuados por uma tal ação [...]”. Com efeito, a faculdade do querer é o que move a vontade a priori, segundo a necessidade de um princípio movente incondicionado. A vontade é determinada, por sua vez, pelo querer enquanto valor moral. Com isso, a vontade objetiva da boa ação visa à universalização da lei moral, determinada subjetivamente pelo querer (wollen) que é o fundamento prático da lei. Não obstante, o interesse moral comum de todo membro pertencente ao conjunto de seres racionais finitos, deverá ter como motivação da ação moral em cada agente, a obrigação da conduta boa através da regra imposta pela razão. De acordo com Sullivan (1994, p. 01, tradução nossa), a proposta ética de Kant corresponde a “[...] estrutura conceitual básica para a vida em comunidade que pode ser compartilhada por todos”. Neste sentido, é indispensável uma investigação a priori sobre os motivadores de uma moral dos costumes. Esta intenção básica tem por objetivo estabelecer um fio condutor confiável para o ensino e aplicação prática da moral, esclarecendo ao ser racional humano a visão segura de uma metafísica dos costumes. É interessante notar que, para uma conduta moral, há a necessidade maior de esclarecer do que ensinar conceitos da razão prática. Com isso, Kant (2009, p. 113), observa que “[...] a cultura da razão, que se exige para a primeira incondicionada intenção, restringe de muitas maneiras, pelo menos nesta vida, a realização da segunda, que é sempre condicionada, a saber, (a realização) da felicidade [...]”. Contudo, é a partir de um olhar metafísico que o trabalho de investigação da fundamentação moral se desenvolve no campo analítico, e a razão prática se submete a análise da razão pura, que está incumbida de validar o conceito moral e sua universalização. Para Höffe (2005, p. 188), “[...] a razão prática [...] significa a capacidade de escolher sua ação independentemente de fundamentos determinantes sensíveis, os impulsos, as carências e paixões, as sensações do agradável e desagradável”. Em outras palavras, a razão prática pura possibilita a análise formal da conduta boa, que deve ser livre e depende, unicamente, da vontade do próprio agente que assume o compromisso perante a regra moral. A ideia básica de Kant é a de que [...] devemos dirigir a nossa própria vida de acordo com o nosso próprio melhor juízo racional, e consequentemente repensado o princípio da própria moralidade como um princípio de autonomia racional (WOOD, 2002, 159, tradução nossa).. O caminho trilhado por Kant estabelece um divisor daquilo que o próprio filósofo destaca como “conhecimento vulgar” e o método analítico e, consequentemente, deve se.

(16) 15. desdobrar em caminho inverso, ou seja, do sintético ao vulgar. Para isso, Höffe (2005, 187) atribui à educação, a conexão entre a antropologia e a metafísica moral, ou seja, é na “[...] preleção sobre Pedagogia, na qual Kant interpreta o processo educacional como uma espécie de ponte entre natureza e moral, entre o caráter empírico e o caráter inteligível do homem”. Neste processo, porém, cabe esclarecer o fundamento determinante de uma vontade boa em si mesma e as possibilidades de representação desta vontade moral.. 1.1 A Base da Vontade Moral. É na abertura da primeira seção da Fundamentação que a definição de um conceito de vontade, a saber, ilimitadamente boa aparece. O que, de fato, corresponde à tarefa básica de Kant mostrar o princípio supremo da moralidade. Este princípio supremo exige uma boa vontade. Kant (2009, p. 101, grifo do autor) afirma que “[...] não há nada em lugar algum, no mundo e até mesmo fora dele, que se possa pensar como sendo irrestritamente bom, a não ser tão-somente uma boa vontade”. Deste modo, somente uma boa vontade pode ser representada como propriedade da moralidade. Para Wood (2009, p. 02), “[...] o que Kant quer dizer é que, considerada em si mesma, a boa vontade é inteiramente boa, não sendo má com respeito a nada”. Em outras palavras, a ação moral, como ideal de perfeição da ação humana, deve se equiparar a vontade irrestritamente boa, ausente de vantagens por interesse particular ou de grupo. Kant reconhece que, além da boa vontade, existem qualidades boas em outras coisas. No entanto, as qualidades como talentos de espírito (capacidade de julgar, argúcia de espírito) e do temperamento (coragem, decisão) podem ser boas também, embora sejam limitadas. O que o autor alega é que somente uma boa vontade pode representar a bondade ilimitadamente boa, sem alteração da qualidade moral se combinada com outras coisas. As demais qualidades que também são dignas de apreço, combinadas a outras coisas, porém podem ser corrompidas e se tornar imorais pelo seu mau uso. Nas palavras de Wood (Ibid., p. 02), Kant “[...] explica [...] que a boa vontade é a única coisa boa cuja bondade não é diminuída por sua combinação com qualquer outra coisa – mesmo com todas as coisas más que possam ser encontradas em conjunção com ela”. As qualidades de moderação e autocontrole das paixões e equilíbrio das emoções podem ser dignas de apreço, mas são limitadas. Ao contrário da boa vontade que, por sua vez,.

(17) 16. corresponde ao que é ilimitadamente bom em si, sem restrição de bondade. A felicidade, por sua vez, e suas qualidades práticas (como as de riqueza, honra e poder) não podem ser comparadas à boa vontade como algo sem limites. Em outras palavras, a felicidade não deve servir de princípio da conduta moral, pois, seu elemento empírico corrompe o motivo da vontade com vistas ao fim prático desejado. Visto deste modo, o homem, enquanto ser de vontade imperfeita, não dispõe de julgamento seguro para atribuir à perfeita ideia de felicidade, a qualidade de algo irrestritamente bom. Kant (2009, p. 103) afirma que “[...] a boa vontade parece constituir a condição indispensável até mesmo da dignidade de ser feliz [...]“, restando ao ser humano, à esperança na felicidade enquanto possível consequência da ação moral. A lei moral não deve ser determinada diretamente pelo seu conteúdo prático, mas a partir da forma do querer, sendo esta válida para todo ser racional. O que Kant quer evitar é que o ser humano seja o único possível racionalmente. Kant (2009, p. 71) aponta que “[...] todo o mundo tem de admitir: que uma lei, se ela deve valer moralmente, isto é, como razão de uma obrigação, tem de trazer consigo necessidade absoluta [...]”. Para isso, a lei moral deve estar fundada no princípio da obrigação, que é a priori. A regra prática, no entanto, é insuficiente por conter motivos empíricos, como no exemplo da felicidade, em que até são dignos de reconhecimento, porém não devem servir de princípio da moral. Com isso, o princípio que deve mover uma boa vontade, repousa unicamente no querer incondicionado. Neste caso, a ação moralmente boa depende do princípio que move a vontade, e este princípio não deve ser buscado no resultado ou na consequência da ação, mas no próprio querer em si. Kant (Ibid, p. 105) coloca que “[...] a boa vontade é boa, não pelo que efetua ou consegue obter, não por sua aptidão para alcançar qualquer fim que nos tenhamos proposto, mas tão-somente pelo querer”. Os motivos que fundamentam uma boa vontade têm sua origem no próprio querer, e independe de qualquer outra fonte que não a fundada na própria intenção moral. Nas palavras de Wood (2009, p.19, tradução nossa), “[...] o querer é o exercício de nossa capacidade para dar a nós mesmos princípios racionais”. Isto quer dizer que, a moral kantiana depende do princípio do querer, que é à base de uma boa vontade, e condição indispensável do agir moral. A razão não está amparada em nenhuma outra intenção que não o próprio querer, resultado da faculdade racional de dar a si mesmo a intenção que resultará em sua escolha moral. No caso da razão ser dada naturalmente, Kant supõe que a lei da natureza teria que guiar a razão assim como o instinto é conduzido, impulsivamente, da única maneira possível que poderia ser. A ação, deste modo, seria determinada pela lei da natureza a escolhas que,.

(18) 17. possivelmente, conduziriam a um fim já planejado, no caso, a própria felicidade como finalidade prática. Para Kant (2009, p. 109) “[...] a natureza teria tão somente se encarregado da escolha dos fins, mas também dos próprios meios, e, com sábia providência, teria confiado um e outro ao instinto tão-somente”. A razão humana pertenceria, neste caso, ao conjunto de leis naturais, em que a disposição para agir bem estaria claramente condicionada à realização da essência humana enquanto fim prático. A razão nos foi proporcionada como razão prática, isto é, como algo que deve ter influência sobre a vontade, então a verdadeira destinação da mesma tem de a de produzir uma vontade boa, não certamente enquanto meio em vista de outra coisa, mas, sim em si mesma - para o que a razão era absolutamente necessária, se é verdade que a natureza operou sempre em conformidade com fins na distribuições naturais (KANT, 2009, p. 113).. A razão faz parte da natureza como faculdade que pode determinar a vontade em suas escolhas práticas, pois o homem (enquanto espécie racional) é capaz de desenvolver suas disposições cognitivas de forma equivalente à finalidade da natureza. Deste modo, Kant (Ibid., p. 113) afirma que “[...] essa vontade não pode ser, é verdade, o único e todo o bem, mas tem de ser o sumo bem e a condição para todo outro, até mesmo para todo anseio de felicidade [...]” e, neste caso, o propósito racional humano é desenvolver vontade moralmente boa. A felicidade, contrariamente, é condicionada e sua fonte está assentada na prática, o que se conclui que é uma necessidade não somente subjetiva, mas também, um anseio comum, compartilhado por membros de uma sociedade. Com isso, é uma intenção condicionada pelo resultado ou pelas consequências da escolha intencionalmente planejada. Contudo, o valor da ação motivada pela felicidade, ou satisfação pelo cumprimento do dever, pode até ser digna de reconhecimento valoroso, embora mesclada com os valores sensíveis, não serve para fundamentar a verdadeira boa intenção. Segundo Sullivan (1994, p. 31, tradução nossa), “[...] isto significa que [...] se nossos desejos nos motivam a fazer o que é moralmente correto, isso não indica que temos um bom caráter moral”. Com isso, Kant define a boa vontade, a condição para o bem comunitário2, sendo este o fim (ou destino prático) a ser atingido em consequência do conjunto de vontades moralmente boas. A sabedoria da natureza, neste caso, proporciona a razão, as condições para o cultivo da boa vontade, que ocorre a partir da necessidade racional de esclarecer o conceito 2. A ideia de uma comunidade constituída por membros moralmente bons é o reconhecimento do esforço de cada ser humano em esclarecer-se, assumindo uma nova postura condizente com sua capacidade racional em desenvolver-se para o melhoramento da espécie. O conceito de comunidade terá maior dedicação no próximo capítulo..

(19) 18. de bem soberano que a ela própria (a razão) determina como fim a ser atingido. Em outras palavras, Kant não nega a possibilidade de um fim a ser atingido enquanto consequência do conjunto de vontades bem intencionadas. Ele defende que a intenção da ação deve ser determinada pela razão prática pura, esta que, por sua vez, deve desenvolver sua potencialidade enquanto faculdade natural através do esclarecimento e cultivo do dever moral. E neste caso é perfeitamente compatível com a sabedoria da natureza o fato de observarmos que a cultura da razão, que é necessária para a primeira e incondicionada intenção, restringe de muitas maneiras, pelo menos nesta vida, a realização da segunda, que é sempre condicionada, quer saber a realização da felicidade, e pode mesmo reduzir essa intenção ela própria a menos de nada, sem que a razão proceda aí contrariamente a seus fins, porque a razão que reconhece sua mais alta destinação prática na fundação de uma boa vontade, ao realizar essa intenção, só é capaz de um contentamento à maneira, a saber, resultando do cumprimento de um fim que, uma vez mais só a razão determina, ainda que isso possa estar ligado à coerência de alguma derrogação aos fins da inclinação (KANT, 2009, p. 114).. O cultivo da razão é, neste caso, a influência na vontade humana e o desenvolvimento incondicional das intenções práticas da ação. Isto implica, de certo modo, a suspensão da vontade desejante, que é condicionada, na definição do que corresponde o bem supremo. Kant justifica sua posição a partir de uma ordem natural (sabedoria natural), a qual proporcionou ao ser humano a faculdade racional, ou seja, a condição de desenvolver sua potencialidade a partir do uso pleno da própria razão. Este uso, defendido pelo autor, necessita, indispensavelmente, ser cultivado. No comentário de Krassuski (2005, p. 195), “[...] Kant sabe que o homem, do mais simples ao erudito, precisa ser educado, para poder, pela aprendizagem, distinguir as máximas de suas ações e poder reconhecer nelas o que há de impuro”. E, para isso, cabe à razão prática atribuir o valor da ação que esteja alinhado ao valor incondicionado da vontade boa. Mas, para desenvolver o conceito de uma boa vontade altamente estimável em si mesma e boa sem (qualquer) intenção ulterior, tal como já se encontra no são entendimento natural e não precisa tanto ser ensinado quanto, antes pelo contrário, esclarecido, conceito que está sempre por cima da estimativa do valor inteiro de nossas ações constitui a condição de todo o restante, vamos tomar para exame o conceito do dever, que contém em si o de boa vontade, muito embora sob certas restrições e obstáculos subjetivos, os quais, porém, longe de ocultá-lo e torna-lo irreconhecível, antes, pelo contrário, fazem com que se destaque por contraste e se mostre numa luz tanto mais clara (KANT, 2009, p. 115)..

(20) 19. A conduta moralmente boa tem seu valor na ação realizada por dever. O que Kant pretende mostrar é o valor do caráter moral na própria determinação da máxima3, e não na finalidade da ação. O valor moral depende do princípio do querer, que é formal, isto é, a priori, e não determinado pelo querer prático. Para Wood (2009, p. 18, tradução nossa) “[...] isso significa que a boa vontade é o querer dela [vontade]. Ter uma boa vontade é ser uma pessoa com disposições próprias, a saber, com uma disposição para o querer de uma determinada maneira”. A determinação formal da vontade pelo princípio do querer corresponde, por sua vez, a abstração de móbiles externos, que são a posteriori, na prática da ação por dever. É necessário que o ser racional humano, enquanto ser de vontade imperfeita, ou seja, de uma vontade que se encontra entre o princípio formal (no caso a lei) e o princípio material (empírico), represente a vontade a partir da lei que deve obedecer. Kant ao apontar a necessidade da representação da vontade a partir da norma a priori, ressalta que a vontade humana também é motivada por interesse egoísta ou regra natural. O homem moralmente bom procura obedecer a lei moral como tal [...]. Se ele obedecê-la apenas na medida em que ele passa a desejar algumas das ações que ordena, ele não é um homem moralmente bom. Igualmente, se ele reconhece que a lei moral é vinculativa para todos os agentes racionais e ainda procura fazer exceções em seu próprio favor, ele não é um homem moralmente bom (PATON, 1971, p. 71, tradução nossa).. A vontade humana não é vontade pura, ou seja, a determinação da ação não é somente racional. Neste caso, se o ser humano fosse senhor das suas escolhas, dominaria racionalmente sua vontade. Com isso, sua vontade seria uma vontade perfeita, ou seja, santa. O fato de agir moralmente bem está associado a estímulos racionais da vontade. Isto ocorre pela necessidade do ser humano buscar um princípio da moralidade que sirva não somente para o agente moral, mas válido para todo ser racional. De fato, como vimos, a vontade humana é imperfeita na determinação de suas escolhas morais e o ser racional humano deve empenhar-se no desenvolvimento pleno de sua faculdade racional na ação por dever moral. De acordo com Wood, a ação por dever deriva do constrangimento interno e da necessidade do valor moral. Moralidade, deste modo, corresponde à ação que é realizada por dever, em que o valor moral concentra-se na própria intenção. Porém, agir coagido por lei externa ou por escolhas valorosas socialmente, corresponde à legalidade e não a moralidade.. 3. Máxima, para Kant, é o princípio subjetivo da vontade de um ser racional imperfeito, que restringe seu valor moral ao cumprimento da lei prática. A lei prática, representada pela máxima da ação, consiste no emprego do querer ao princípio subjetivo da ação e válido apenas para o próprio agente da ação.O valor da máxima encontra-se na própria causa da vontade e não em sua consequência. Deste modo, máxima é o mandamento que vale objetivamente como cumprimento do dever..

(21) 20 Kant usa o termo “dever” para se referir a ações que acontecem por “necessidade” ou coerção (por respeito a lei moral). As ações estão „conformes ao dever‟ [pflichtmässig], se elas estão conformes aos princípios racionais em relação aos quais devemos nos coagir a seguir (quer essas ações de fato ocorram ou não por meio da coação). Mas elas são realizadas „por dever‟ [ausPflitch], se elas forem de fato realizadas por meio de um constrangimento interno (WOOD, 2009, p. 12, tradução nossa).. O cumprimento do dever em conformidade com a lei, de acordo com Kant (2009, p. 119), pode ser “[...] digno de honra, merece louvor e incentivo, mas não alta estima; pois à máxima falta o teor moral, a saber, fazer semelhantes ações não por inclinação, mas, sim, por dever”. Contudo, por mais honroso que pareça a ação em conformidade com o dever, esta carece de conteúdo moral, pois seu valor não reside na intenção, mas na obrigação do cumprimento da norma legal. A legalidade da ação corresponde à motivação externa para cumprimento do dever, ou seja, a verdadeira intenção da ação, neste caso, se identifica com o acatamento da lei ou no temor de não cumpri-la. As ações deste tipo são motivadas por coação heterônoma, que é impulsionada pelos resultados que se deseja alcançar. Conforme Wood (2009, p. 07), Kant defende a ideia de que agir por dever corresponde à moralidade, isto é, a possibilidade da razão em fundamentar a autocoerção a partir do respeito que fundamenta a lei moral. De acordo com o próprio Kant (2009, p. 127) “[...] o dever é a necessidade de uma ação com respeito à lei”. Desta maneira, ter respeito à lei prática é agir por dever. A lei prática, que é o princípio da ação moral, é tão somente o objeto que o respeito pode afetar, isto é, o respeito deve afetar a vontade do agente enquanto causa da ação e nunca na perspectiva de sua consequência. [...] respeito [...] é um sentimento autoproduzido através de um conceito da razão e, por isso, especialmente distinto de todos os sentimentos da primeira espécie, que podem se reduzidos à inclinação ou ao medo. A determinação imediata da vontade pela lei e a consciência da mesma chama-se respeito, de tal sorte que este é considerado como efeito da lei sobre o sujeito e não a sua causa da mesma (KANT, 2009, p. 131, grifo do autor).. O respeito é uma exigência moral em seres racionais imperfeitos, pois confere um sentimento elevado de estima por aquilo que é moralmente bom. Sullivan (1994) enfatiza que a ideia de respeito não deve ser entendida como desejo de satisfazer nossas necessidades, mas respeito é o sentimento de estar disposto a frustrar o desejo que se manifestar contra o princípio moral. Com isso, o respeito é a mola impulsora da lei prática, isto é, da ação bem intencionada. A ação por dever é, consequentemente, estar motivado subjetivamente por respeito à lei que o próprio agente aplica. O valor moral, neste caso, encontra-se limitado a intenção.

(22) 21. subjetiva do agente. Kant (Ibid., p. 133, grifo do autor) afirma que “[...] todo o chamado interesse moral consiste unicamente no respeito pela lei”. Isto significa que o próprio agente representa a lei moralmente boa pela necessidade de formalização da ação de acordo com imperativo4. Para Paton (1971, p. 71, tradução nossa) “[...] Kant sustentou que a máxima do homem moralmente bom deve ser formal - ou seja, não é uma máxima ou princípio de produzir certos resultados”. O formalismo de Kant concentra seu valor moral nos motivos da ação, e não em seu efeito. O homem moralmente bom, que age por dever, é aquele que se encontra coagido pelo próprio mandamento, em forma de imperativo. O imperativo é o resultado do formalismo moral kantiano, em que cada ser humano deve agir no empenho de sua máxima, e que esta esteja em conformidade com a lei universal. Nas palavras de Kant (2009, p. 133, grifo do autor) “[...] devo proceder de outra maneira senão de tal sorte que eu possa também querer que a minha máxima se torne uma lei universal”. É interessante notar que Kant aponta para o conflito de interesses, que podem existir no fundamento mais profundo dos princípios da vontade, isto é, ser moralmente bom é, muitas vezes, negar as próprias paixões em defesa do bem querer coletivo. Neste sentido, a vontade pura, que corresponde ao empenho do querer em si, serve de princípio da boa ação que representa o interesse de universalização da máxima a partir do imperativo. A lei geral corresponde ao princípio universal comum a todo ser racional, em que cada agente delibera racionalmente se sua máxima pode ou não ser válida universalmente. Ao aplicar o teste de universalização da máxima, se verifica que esta escolha trará benefícios ao próprio sujeito e, da mesma forma, prejuízos aos demais agentes. Neste caso, tal máxima deve ser rejeitada. Porém, somente a máxima que é convertida em lei universal servirá de princípio para esta legislação. Para Kant (2009, p. 137) antes de aplicar a universalização da máxima, deve-se fazer o teste a partir da pergunta que o agente propõe a si mesmo: “[...] será que ficaria contente se minha máxima (livrar-me de um embaraço por meio de uma promessa falsa) valesse como uma lei universal (tanto para mim como para os outros)?” Este questionamento auto-imposto constitui o teste de validação de máximas morais. A promessa mentirosa transformada em lei trará alívio às dificuldades de forma imediata ao agente, mesmo que este esteja ciente da impossibilidade de cumprimento da 4. Na Fundamentação, em uma citação de rodapé, Kant define o sentido do conceito interesse e o toma em dois sentidos: Por interesse, quando o motivo determinante da vontade é Direcionado por meio de objeto do desejo ou impulsionado por um sentimento individual, isto é, a ação por interesse é mediata por uma intervenção de um objeto com vistas a um fim prático. O segundo sentido, que é o tomar por interesse, pesa sobre sua característica o imediatismo racional pela máxima da ação, ou seja, a suficiência em determinar a ação de maneira incondicional do puro interesse da vontade..

(23) 22. palavra. A escolha feita pelo agente ignora a prudência e legitima o interesse próprio como resultado da ação. Porventura, esta decisão de fazer uma promessa mentirosa, isto é, agir conforme o dever proporcionará benefícios imediatos, porém, em longo prazo os prejuízos poderão ser maiores. Se fosse aplicado o teste de universalização da máxima da mentira, por exemplo, falar a verdade perderia todo seu valor pelo simples fato de generalizar a mentira como regra geral. Deste modo, é possível que cada um minta para aliviar situações de apuros? Assim, logo me darei conta de que posso, é verdade, querer a mentira, mas de modo algum uma lei universal de mentir; pois, segundo semelhante lei, não haveria propriamente promessa alguma, porque seria vão alegar minha vontade com respeito a minhas ações futuras a outros que não dão crédito a essa alegação ou que, se precipitadamente o fizessem, me pagariam na mesma moeda (e) por conseguinte, (porque) a minha máxima se destruiria a si mesma tão logo se tornasse uma lei universal (KANT, 2009, p. 137, grifo do autor).. A ação realizada por dever é a chave para uma boa vontade. O agente saberá se estará agindo moralmente ao perguntar-se: é possível que minha máxima se transforme em lei geral? O agente moral transforma sua máxima em lei universal e permite, de igual maneira, que todo ser racional tenha direito igual a ela. No caso de compatibilidade do princípio subjetivo ao querer geral, isto é, o querer individual convertido em princípio objetivo, a ação é moralmente boa. A incompatibilidade de conversão do princípio subjetivo em lei geral ocorre no exemplo do mentiroso, pois tenta ele aliviar sua situação de apuros com uma falsa promessa. No entanto, o ato de mentir com tal justificativa mostra que tal ação, por exemplo, carece de conteúdo moral. A máxima poderá ser convertida em lei moral somente se a ação for praticada por dever. Contudo, a ideia de uma boa vontade legitima a ação por dever como estrutura indispensável da moralidade. Wood (2009, p. 27) comenta que “[...] para Kant, o que é o mais essencial para o autogoverno racional é a capacidade de adotar princípios normativos por meio dos quais regulamos nossa conduta”. Com isso, o conceito de moralidade deve derivar da razão, que estabelece a priori a fundamentação necessária para avaliar se algo é bom ou não e se deve ser adotado como princípio moral universal. A intenção de Kant em depurar do pensamento vulgar os pré-julgamentos da filosofia prática, consiste em mostrar as contradições dos falsos princípios da ação gerados por distorções empíricas. Desta maneira, Kant questiona sobre o que seria mais valoroso para o humano senso comum: garantir a permanência no cômodo debate prático das regras ou, a partir da filosofia, instigá-lo a investigação do princípio moral e de seu ensino?.

(24) 23 É no campo de uma filosofia prática que a razão humana vulgar irá receber [...] informação e clara orientação quanto a fonte do seu princípio e à correta verdadeira determinação em oposição às máximas que se estribam na necessidade e na inclinação (KANT, 2009, p. 147).. O desenvolvimento da razão é indispensável para a determinação da vontade moral. Isto quer dizer que, a vontade humana, em termos de conduta moral, é imperfeita por natureza e necessita ser determinada por princípios do dever. A determinação da vontade consiste em representar o conteúdo moral a partir da razão prática e não por influência da razão vulgar. É a partir do esclarecimento racional do princípio da boa ação, que a instrução contribuirá para o aprimoramento racional não somente do agente moral, mas de toda espécie humana.. 1.2 Lei Moral e a Determinação da Vontade. Para Kant, a ação realizada por dever corresponde à moralidade e o seu móbil é o respeito. Em contrapartida, a legalidade corresponde à conformidade da ação as normas do código civil, isto é, o agente é determinado a cumprir a lei, coagido por motivo externo. A razão prática vulgar, deste modo, define o princípio da boa ação a partir da representação empírica de modelos de conduta. Esta, porém, é a referência que não serve a uma boa conduta, pois lhe falta a garantia do conteúdo puramente moral. O método adotado por Kant na primeira seção da Fundamentação é o analítico, que parte do desenvolvimento da razão humana vulgar ao campo da filosofia prática. A transição da razão prática vulgar ao conhecimento filosófico ocorre pelo cultivo do esclarecimento e instrução de princípios morais, originados da razão prática pura. Para que a transição de um julgamento moral ingênuo (que tem nos exemplos práticos o guia imediato para felicidade humana) para o julgamento da razão prática pura se efetive, a transição deve ocorrer pela necessidade humana de estimular e conduzir a boa ação perante a luz confiável da razão. Isto significa que a própria razão humana deve obrigar-se a sair do círculo de suas certezas e avançar na área de domínio da filosofia prática, através da crítica da própria razão. Com perfeita consciência de que, se não estivermos de posse desta, seria em vão, não vou dizer, determinar de maneira exata para o juízo especulativo o elemento moral do dever em tudo o que é conforme ao dever, mas até que será impossível no (que concerne ao) mero uso comum e prático, em particular na instrução moral, fundar os costumes sobre os seus princípios genuínos, produzindo assim atitudes morais puras e implantando-as nos ânimos para o bem supremo do mundo (KANT, 2009, p. 181)..

(25) 24. O conhecimento vulgar, com o auxílio da razão prática, deve estabelecer qual é o princípio moral da boa conduta, que seja livre da determinação de qualquer inclinação sensível. Para isso, o valor moral não deve concentrar-se nos atos, mas na própria intenção do agente. Kant exige o mínimo de moralidade, concentrando o valor moral no princípio da ação, o que servirá de orientador das ações realizadas por dever em oposição às escolhas amparadas na prática. Deste modo, a ação por dever, que já possui em seu conceito o valor da boa vontade, é válida se a intenção da ação puder ser convertida universalmente em forma de lei. O princípio de universalização do dever é a validade da lei moral para todo ser racional. Com isso, a universalidade da lei moral é, portanto, condição essencial para a moralidade. Walker (1999, p. 31) comenta que Kant “[...] está interessado não diretamente na ação, mas na máxima do agente: o princípio segundo o qual o agente atua”. Desta maneira, a máxima do agente corresponde ao princípio subjetivo que impulsiona o querer na realização do conteúdo da ação. O conteúdo da máxima subjetiva é determinado pelo interesse particular do agente em atender as suas necessidades práticas, mesmo que a justificativa da máxima seja por uma boa causa. Por exemplo, a máxima de fazer caridade é digna de respeito, mas se a ação for motivada pelo resultado desejado, o conteúdo da ação será prático e não moral. Em outras palavras, a máxima da caridade se afetada pela inclinação empírica, representa a satisfação em fazer caridade, em ajudar àqueles que necessitam de auxílio, resumindo, muitas vezes, na realização pessoal que se estampa na felicidade própria. Estes modelos práticos são apenas manifestações em forma de ação, no entanto, não se pode afirmar através da observação ou na finalidade da ação se esta foi realizada ou não por dever. Com esta análise, cabe salientar que Kant (2009, p. 169) critica os modelos práticos de conduta, considerados referência para o comportamento moral, pois, alega que “[...] não poderíamos também prestar pior ajuda à moralidade do que se quiséssemos extraí-la de exemplos”. Os exemplos contraditórios quanto ao mal uso de máximas, sejam estas a da caridade ou da falsa promessa, possuem em comum a utilidade da ação, seja para se livrar de dívidas ou para a realização pessoal em nome da própria realização em ser feliz. Neste último, a intenção prática, motivado pela inclinação felicidade, ao se aplicar à máxima na pretensão de torná-la universal, torna-se contraditória. Por sua vez, Kant eleva sua investigação acerca do uso de máximas que estejam em acordo com a ação por dever. Para isso, não basta que a máxima seja transformada apenas em lei universal, importa necessariamente que o motivo da máxima seja incondicional. A universalização da máxima pressupõe inevitavelmente ao teste de validade e se esta pode ser transformada em máxima válida para todo ser racional, isto é, em lei. Para a determinação da.

(26) 25. vontade como aplicação da lei moral, se faz necessário o esclarecimento dos conceitos de lei e imperativo. Nas Lições de Ética (1790), Kant (2002, p. 55, tradução nossa) afirma que “[...] a bondade moral é, portanto, o governo de nossa vontade mediante regras, graças às quais todas as ações de livre arbítrio exigem validade universal”. A lei é o motivo que o homem moralmente bom deve necessariamente obedecer. Uma vontade moral, de acordo com o autor, é digna de valor se for válida para todo ser racional. A universalidade da lei, neste caso, é condição necessária para a moralidade. A partir da formalização da ação moral, Kant pretende mostrar que, toda a ação em forma de lei, pode tornar-se compatível, em termos de eficácia, com as leis da natureza. Pelo fato das leis naturais serem necessárias, seu princípio é condição para a causa de todos os eventos naturais, sem exceção. Vimos que, pelo fato da razão não ser soberana sobre a faculdade de desejar, a máxima como princípio objetivo careceria da lei em forma de obrigação moral. Kant pretende defender não aquilo “que é”, em termos de ação, mas sim, conforme Caygill (2000), o que “deve ser” e que esteja de acordo com a causalidade da lei da liberdade, como “necessidade absoluta”. Sullivan (1994, p. 32, tradução nossa) declara que “[...] como não é uma regra para satisfazer nossos desejos, (a lei moral) deve ser uma regra para satisfazer apenas os requisitos de nossa razão”. A lei é a regra formal e se caracteriza pelo propósito objetivo de ajustar a prática ao que “deve ser” e, neste caso, Kant quer propor uma forma necessária de ação moral que contemple não somente a humanidade em âmbito universal, mas “os seres racionais em geral”. Nesse sentido, máxima e lei se complementam, pois a máxima é o princípio subjetivo do agir que deve, obrigatoriamente, submeter sua regra prática subjetiva a lei como fórmula de validade objetiva. Investigar a possibilidade da realização da moralidade é condicionar a esta, a existência da norma moral objetiva válida para todo ser humano racional finito, independente de qualquer interesse ou desejo de ordem particular. Sullivan (1987) defende a existência de duas funções distintas para a lei moral: a função de obediência à norma e a função de testar possíveis máximas. Há de se defender que Kant quer tornar necessária a representação da vontade, através da objetividade da lei moral que o agente toma para si e que seja válida para todo ser racional em geral. Com efeito, todo agente racional humano é portador de uma vontade imperfeita e, por este motivo, deve ele obrigatoriamente reconhecer a moralidade enquanto vontade puramente racional, o que deve contrariar a influência sensível na razão prática. O sujeito, potencialmente, pode muito bem, conforme sua vontade, decidir agir moral ou imoralmente. De forma distinta, a vontade divina.

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