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A obra religiosa de Benedito Calixto de Jesus através do mecenato de Dom Duarte Leopoldo e Silva na Igreja de Santa Cecília

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

KARIN PHILIPPOV

A OBRA RELIGIOSA DE BENEDITO CALIXTO DE JESUS ATRAVÉS DO MECENATO DE DOM DUARTE LEOPOLDO E SILVA NA IGREJA DE SANTA CECÍLIA

CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

A Comissão Julgadora dos Trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 14 de outubro de 2016, considerou a candidata Karin Philippov aprovada.

Profª Drª Claudia Valladão de Mattos Avolese

Profª Drª Iara Lis Schiavinatto

Profª Drª Angela Brandão

Prof. Dr. Paulo Mugayar Kühl

Profª Drª Solange Ferraz de Lima

A Ata da Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica da aluna.

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Dedico aos meus pais e a minha irmã e às memórias intelectuais de Dom Duarte Leopoldo e Silva e Benedito Calixto de Jesus.

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A minha querida orientadora, Profª Drª Claudia Valladão de Mattos Avolese, por todo seu empenho na orientação, em nossas várias reuniões e conversas por e-mail e por toda a sua ajuda e confiança durante minha longa trajetória.

Ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas – IFCH-UNICAMP, por ter me aprovado no processo seletivo de doutorado e aos secretários que sempre me atenderam presencialmente, por telefone e por e-mail.

À CAPES por ter me fornecido a bolsa de doutorado, que possibilitou a realização desta pesquisa.

À Biblioteca do IFCH e aos seus funcionários sempre tão gentis, auxiliando-me na busca de livros e no empréstimo interbibliotecas.

Às funcionárias do Setor de Obras Raras da Biblioteca Central César Lattes da UNICAMP, por terem permitido meu acesso a importantes fontes de pesquisa para a realização desta tese. Aos funcionários do Arquivo Edgar Leuenroth por terem me auxiliado no acesso ao acervo. Ao Senhor Jair Mongelli Júnior, Diretor Técnico do Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, também conhecida por Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva, pelas incontáveis tardes de pesquisa nos documentos da Igreja de Santa Cecília, por todo o seu generoso e incansável atendimento e sua enorme ajuda ao decifrar a grafia de Benedito Calixto de Jesus, que por vezes é desafiadora.

Aos estimados Prof. Dr. Robert Wayne Slenes, Prof. Dr. Luiz Marques, Prof. Dr. Marcos Tognon, Prof. Dr. Nelson Aguilar, Profª Dra. Claudia Valladão de Mattos Avolese, Prof. Dr. Luciano Migliaccio, Prof. Dr. Joseph Imorde e Prof. Dr. Ricardo de Azevedo Marques, que ministraram as disciplinas no IFCH e na FAU-USP. Sem suas excelentes aulas, não teria tido a formação que tenho e não chegaria aonde cheguei.

Aos queridos Professores, Prof. Dr. Jens Michael Baumgarten e à Profª Dra. Iara Lis Schiavinatto, que tão generosamente me apontaram caminhos em minha banca de qualificação, realizada em 29 de maio de 2015.

Ao Prof. Dr. Luiz Marques, por ter me auxiliado com o latim.

Ao Prof. Dr. Jens Michael Baumgarten e à Profª Drª Vera Beatriz Siqueira, por suas preciosas contribuições após a apresentação de minha comunicação no XXXIV Colóquio Brasileiro de História da Arte, organizado pelo Comitê Brasileiro de História da Arte – CBHA, realizado na Universidade Federal de Uberlândia, em agosto de 2014.

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À Flavia, do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, por ter me fornecido acesso ao acervo fotográfico do museu.

Ao Prof. Lincoln Etchebehere do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo – IHGSP, por ter me auxiliado com uma bibliografia vital sobre Dom Duarte Leopoldo e Silva.

Às funcionárias da Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos, que tão pronta e gentilmente me receberam e auxiliaram em minha pesquisa. Agradeço muito pelo carinho quando me acompanharam após o término da pesquisa na Pinacoteca, em minha visita ao acervo de obras de Benedito Calixto.

Aos funcionários da Igreja de Santa Cecília, por terem me recebido generosamente em minhas visitas.

Às funcionárias do Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo – AHSP – SMC/PMSP, por terem permitido meu acesso às plantas da Igreja de Santa Cecília e por seus usos em minha tese, através da autorização publicada no Diário Oficial do Município de São Paulo.

Aos meus pais, Nikita e Regina, que sempre se esmeraram na minha criação, sempre me incentivando e mostrando o caminho correto dos estudos e da ótima formação. Sem eles, jamais teria chegado aonde cheguei.

À Ana Paula Nascimento, por suas dicas de pesquisa.

À colega do IFCH, Juliana Guide, por ter me emprestado um livro importante para a tese. A todos que, de alguma maneira, participaram da minha trajetória até aqui.

Finally, I would like to thank Prof. Alexandra Kennedy (Universidad de Cuenca- Ecuador) and Prof. Anna Hudson (York University – Canada) for their precious ideas, when we visited Santa Cecília Church together.

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O bispo Dom Duarte Leopoldo e Silva encomenda a decoração da terceira versão da Igreja de Santa Cecília, localizada na cidade de São Paulo, a Benedito Calixto de Jesus, que trabalha em conjunto com Oscar Pereira da Silva, Carlo De Servi, Conrado Sorgenicht e Gino Catani. Este trabalho visa especificamente discutir e compreender os mecanismos do mecenato religioso na cidade de São Paulo envolvidos nessa encomenda, no início da Primeira República, analisando as condições impostas pela Igreja Romanizadora, sob a luz do conceito de piedade visual, proposto por David Morgan (2005). Salientam-se, igualmente, os aspectos históricos, políticos, sociais, teológicos e artísticos inerentes a essa encomenda. Embora todas as pinturas dentro dessa igreja tenham sido analisadas, o foco recai sobre a produção religiosa de Benedito Calixto na Santa Cecília, por possuir elementos que a tornam ímpar tanto dentro dela, quanto dentro da própria Igreja, enquanto instituição, características essas vinculadas à encomenda de Dom Duarte e suas relações com os demais artistas que produzem obras religiosas para a mesma Igreja, ocupando um arco temporal de dez anos, de 1907 a 1917. Assim, pretende-se contribuir para o aprimoramento dos estudos de arte religiosa brasileira do início do século XX, durante o período da Primeira República.

Palavras-chave: Dom Duarte Leopoldo e Silva; Benedito Calixto de Jesus; arte religiosa;

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Bishop Dom Duarte Leopoldo e Silva commands the decoration of the third version of Santa Cecília Church, located in the city of São Paulo, to Benedito Calixto de Jesus, who works together with Oscar Pereira da Silva, Carlo De Servi, Conrado Sorgenicht and Gino Catani. This dissertation aims specifically at both discussing and understanding the mechanisms of religious patronage in the city of São Paulo related to this order, at the onset of the First Republic, analyzing the conditions imposed by the Romanizing Church, form the perspective of the concept of visual piety, as proposed by David Morgan (2005). It also addresses the historical, political, social, theological and artistic aspects inherent to this order. Although all the paintings belonging to this church were analyzed, this study focuses mainly on Benedito Calixto’s religious works at Santa Cecília, as they hold characteristics that make it stand out both inside this temple and the Church itself, as an institution. Those are related to Dom Duarte’s order and his connections with the other artists producing religious works for the same Church, within a ten-year time frame, from 1907 to 1917. Thus, this study targets at contributing to the development of Brazilian religious Art studies in the beginning of the 20th century, during the First Republic period.

Keywords: Dom Duarte Leopoldo e Silva; Benedito Calixto de Jesus; religious art; religious

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Figura 1 - Plantas baixas e de fachada da Igreja de Santa Cecília. AHSP - Arquivo Histórico

da Cidade de São Paulo - SMC/PMSP. Foto: Karin Philippov...27

Figura 2 - Nave central da Igreja de Santa Cecília...28

Figura 3 - Vista da nave central da Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...30

Figura 4 - Postal da Paróquia de Santa Cecília, em 1913...31

Figura 5 - Foto Panorâmica do bairro de Santa Cecília, 1901-1910, por Guilherme Gaensly...32

Figura 6 - Planta Geral da cidade de São Paulo em 1905...33

Figura 7 - Área Urbanizada 1882-1914. Mapa da Urbanização de São Paulo...33

Figura 8 – Foto da Rua Ana Cintra, 1910, ao meio o cruzamento com a Rua de São João (atual Avenida), ao fundo a Igreja de Santa Cecília. Foto de autoria desconhecida...34

Figura 9 - Casa de Amácio Mazzaropi...35

Figura 10- Palacete Momo...35

Figura 11 - Palacete da Sra. Maria Angélica de Sousa Queirós Barros, construído em 1890. Foto de autoria desconhecida...36

Figura 12 - Pia Batismal da Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...37

Figura 13 - Palácio da Cúria Metropolitana Dom Duarte Leopoldo e Silva...41

Figura 14 - Vista da escada em mármore e vitral sobre a Primeira Missa no Brasil do Palácio da Cúria Metropolitana Dom Duarte Leopoldo e Silva...42

Figura 15 - Henri Bérnard. Retrato de Dom Duarte Leopoldo e Silva, 1913. Museu de Arte Sacra de São Paulo...42

Figura 16 - Planta baixa da Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...60

Figura 17 – Esquema proposto por Gino Cataneo...61

Figura 18 – Planta baixa da Igreja de Santa Cecília e Esquema proposto por Gino Cataneo...62

Figura 19 - Vista da nave central da Igreja de Santa Cecília...63

Figura 20 - Benedito Calixto de Jesus. Santa Symphorosa. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...64

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Figura 22 - Benedito Calixto de Jesus. Pedro Correa Via Damasco. Igreja de

Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...66

Figura 23 - Benedito Calixto de Jesus. O Martírio de Pedro Correa e João de

Souza. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...66

Figura 24 - Benedito Calixto de Jesus. São Tarcísio. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...70

Figura 25 - Benedito Calixto de Jesus. São Tharcisius Martyr, 1918. Capela do

Santíssimo da Igreja de Nossa Senhora da Consolação...70

Figura 26 - Benedito Calixto de Jesus. São Lourenço. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...71

Figura 27 - Benedito Calixto de Jesus. Santo Estêvão. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...72

Figura 28 - Benedito Calixto de Jesus. São Piónio de Esmirna. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...73

Figura 29 - Benedito Calixto de Jesus. Santa Symphorosa. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...74

Figura 30 - Benedito Calixto de Jesus. São Lino. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...74

Figura 31 - Benedito Calixto de Jesus. Santa Thecla. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...75

Figura 32 - Benedito Calixto de Jesus. São Paulo. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...75

Figura 33 – Esquema proposto por Gino Cataneo...78

Figura 34 - Oscar Pereira da Silva. Assumpção de Nossa Senhora. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...78

Figura 35 - Oscar Pereira da Silva. Os Esponsais de São José. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...79

Figura 36 – Retratos de Dom Bernardo Rodrigues Nogueira, Dom Frei Antônio da Madre de Deus Galrão e Dom Frei Manoel da Ressurreição. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...80

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Figura 38 - Retrato de Dom Frei Antônio da Madre de Deus Galrão. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...81

Figura 39 - Retrato de Dom Manuel da Ressurreição, s/d. Acervo Museu de Arte Sacra de São Paulo...81

Figura 40- Retratos de Dom Matheus de Abreu Pereira, Dom Manuel Joaquim Gonsalves de Andrade e Dom Antônio Joaquim de Mello. Igreja de Santa Cecília.

Foto: Karin Philippov...82

Figura 41 - Retrato de Dom Matheus de Abreu Pereira. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...82

Figura 42 – Retrato de Dom Manuel Joaquim Gonsalves de Andrade. Acervo Museu de Arte Sacra de São Paulo...83

Figura 43 - Retrato de Dom Antônio Joaquim de Mello. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...83

Figura 44 - Retratos de Dom Sebastião Pinto do Rêgo, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho e Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...84

Figura 45 – Retrato de Dom Sebastião Pinto do Rêgo. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...84

Figura 46 – Retrato de Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...84

Figura 47 - José Ferraz de Almeida Júnior. Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti. Museu de Arte Sacra de São Paulo...85

Figura 48 - Retratos de Dom Antônio Candido de Alvarenga, Dom José de Camargo Barros e Dom Duarte Leopoldo e Silva. Igreja de Santa Cecília.

Foto: Karin Philippov...86

Figura 49 – Retrato de Dom Antônio Candido de Alvarenga. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...86

Figura 50 – Retrato de Dom José de Camargo Barros. Destino não encontrado. Foto disponível no site da Arquidiocese de São Paulo...86

Figura 51 - Henri Bérnard. Retrato de Dom Duarte Leopoldo e Silva, 1913. Museu de Arte Sacra de São Paulo...87

Figura 52 - Benedito Calixto de Jesus. Pedro Correa Via Damasco, 1910. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...90

(13)

Figura 54 - Benedito Calixto de Jesus. O Martírio de Pedro Corrêa e João de Souza, 1912. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...92

Figura 55 - Câmera Fotográfica de fabricação alemã, do início do século XX, com lentes Bausch & Lomb, pertencente a Benedito Calixto de Jesus. Acervo Pinacoteca Benedicto Calixto. Foto: Karin Philippov...94

Figura 56 - Reprodução do painel "MARTIRIO E MORTE DE PEDRO CORRÊA E SEU COMPANHEIRO". Acervo do Museu Paulista da Universidade de

São Paulo...95

Figura 57 - Victor Meirelles. Moema, 1866. Museu de Arte de São Paulo...96

Figura 58 – Foto do trecho do teto da sacristia da Catedral da Sé

de Salvador, Bahia...97

Figura 59 - Benedito Calixto de Jesus. São Lúcio, São Cornélio e São Zeferino. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...98

Figura 60- Benedito Calixto de Jesus. São Calixto I, São Fabiano e Santo Anthero. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...98

Figura 61 - Benedito Calixto de Jesus. São Ponciano, Santo Urbano I e São Melchiades. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...99

Figura 62 - Benedito Calixto de Jesus. Santo Estevam I, São Xisto II e São Paschoal I. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...99

Figura 63 – Benedito Calixto de Jesus. São Xisto II e Dom Duarte Leopoldo e Silva (detalhes). Igreja de Santa Cecília. Fotos: Karin Philippov...102

Figura 64 - Benedito Calixto de Jesus. O Batismo de Valeriano, 1909. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...104

Figura 65 – repetição da figura 64 em comparação com foto da reconstrução arqueológica do que teria sido a Cripta dei Papi nas Catacumbas de São Callisto, feita por Giovanni Battista de Rossi...105

Figura 66 - Benedito Calixto de Jesus. A Aparição do Anjo do Senhor, 1909. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...106

Figura 67 - Benedito Calixto de Jesus. A Imposição do Véu, 1917. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...107

Figura 68 - Benedito Calixto de Jesus. A Condenação de Santa Cecília, 1917. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...109

(14)

Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...110

Figura 71 - Ary Scheffer. A Tentação de Cristo, 1854. Walker Art Gallery,

Liverpool………...111 Figura 72 - Benedito Calixto de Jesus. O Martírio de Santa Cecília, 1909. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...112

Figura 73 - Benedito Calixto de Jesus. Os Funerais na Catacumba, 1909. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...113

Figura 74 - Benedito Calixto de Jesus – O Martírio de Pedro Corrêa e João de

Souza, 1912. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...114

Figura 75 - Lippo di Andrea. Morte e Apoteose de Santa Cecília, 1402c. Capella

Nerli, Basílica di Santa Maria del Carmine, Florença...115

Figura 76 - Rafaello Sanzio. Santa Cecília, 1516-17. Pinacoteca Nazionale

di Bologna...116

Figura 77 - Conrado Sorgenicht. Porta de entrada da Igreja de Santa Cecília.

Foto: Karin Philippov...117

Figura 78 - Benedito Calixto de Jesus. O Martírio de Santa Cecília (detalhe).

Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...117

Figura 79 - Stefano Maderno. Santa Cecilia, 1600. Chiesa Santa Cecilia

in Trastevere, Roma...118

Figura 80 - Cópia da Santa Cecília de Stefano Maderno, c.1600, Catacumba de São Calixto, Via Appia, Roma...118

Figura 81 - Benedito Calixto de Jesus. O Martírio de Santa Cecília (detalhe). Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...119

Figura 82 - Urna funerária com as relíquias de Santa Donata. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...120

Figura 83 - Francisco de Zurbarán. Agnus Dei, 1635c. Museo

del Prado...124

Figura 84 - Stefano Maderno. Santa Cecilia, 1600. Igreja de Santa Cecilia in Trastevere, Roma...124

Figura 85 - Benedito Calixto de Jesus. O Martírio de Santa Cecília (detalhe). Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...124

(15)

Figura 87 - Benedito Calixto de Jesus. Os Funerais na

Catacumba (detalhe)...125

Figura 88 - Fotografia sem a mesa do altar e patíbulo, tirada em

1929. Autor não informado. Igreja de Santa Cecília...126

Figura 89 - Relíquias de Santa Cecília na Catedral de Albi.

Foto: Jean-Noël Lafargue...127

Figura 90 - Escultura de Santa Cecília do Túmulo da família

Alencar Guimarães. Foto: Conceição Aparecida dos Santos...128

Figura 91- Escultura de Santa Cecília do Túmulo da família Alencar Guimarães. Foto: Conceição Aparecida dos Santos...128

Figura 92 – Comparação de duas obras: Stefano Maderno. Santa Cecilia. 1600. Igreja de Santa Cecilia in Trastevere, Roma; John De Andrea, Linda, 1983. Museu de Arte de Denver, Colorado...129

Figura 93 - Altar em mármore da Igreja de Santa Cecília.

Foto: Karin Philippov...130

Figura 94 - Oscar Pereira da Silva. Assumpção de Nossa Senhora. s/d. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...131

Figura 95 - Pedro Américo de Figueiredo e Mello. A Noite e os Gênios do Estudo e do Amor, 1883, Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro...132

Figura 96 - Benedito Calixto. Dom Bernardo Rodrigues Nogueira, Dom Frei Antônio da Madre de Deus Galrão e Dom Frei Manoel da Ressurreição. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...133

Figura 97 - Benedito Calixto de Jesus. Dom Matheus de Abreu Pereira, Dom Manuel Joaquim Gonsalves de Andrade e Dom Antônio Joaquim de Mello. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...133

Figura 98 - Benedito Calixto de Jesus. Pedro Correa Via Damasco, 1910. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...134

Figura 99 - Oscar Pereira da Silva. Os Esponsais de São José, s/d. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...135

Figura 100 - Benedito Calixto de Jesus. Charitas, Justitia, Fides, Spes , s/d. Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov...137

Figura 101 - Oscar Pereira da Silva. Os Quatro Evangelistas: Marcos, Lucas, João e Mateus, s/d. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...137

(16)

Figura 103 - Benedito Calixto de Jesus. Iustitia, s/d. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...139

Figura 104 – Ilustração de Fasces lictoris...139

Figura 105 - Benedito Calixto de Jesus. Fides, s/d. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...140

Figura 106 - Benedito Calixto de Jesus. Spes, s/d. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...141

Figura 107 - Oscar Pereira da Silva. Os Esponsais de São José (detalhe). Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...142

Figura 108- Cúpula central da Igreja de Santa Cecília.

Foto: Karin Philippov...142

Figura 109 - Oscar Pereira da Silva. São Lucas, s/d. Igreja de Santa Cecilia.

Foto: Karin Philippov...143

Figura 110- Oscar Pereira da Silva. São Matheus, s/d. Igreja de Santa Cecilia.

Foto: Karin Philippov...144

Figura 111 - Oscar Pereira da Silva. São João Evangelista, s/d. Igreja de Santa

Cecilia. Foto: Karin Philippov...145

Figura 112- Oscar Pereira da Silva. São Marcos, s/d. Igreja de Santa Cecilia.

Foto: Karin Philippov...146

Figura 113- Carlo De Servi. Painéis da Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio de Jahu. Hoje, destruídos...148

Figura 114 - Carlo De Servi. Cristo Santíssimo (título atribuído pela autora). s/d. Igreja de Santa Cecilia...149

Figura 115 - Reprodução em preto e branco da pintura de Carlo de Servi erroneamente atribuída a Benedito Calixto de Jesus...150

Figura 116 - Conrado Sorgenicht. Vitral acima da porta de entrada da Igreja de Santa Cecília, s/d. Foto: Karin Philippov...153

Figura 117 - Vista do teto do presbitério. Igreja de Santa Cecilia

Foto: Karin Philippov...154

Figura 118 - Vista parcial dos vitrais da abside da

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Figura 120 - Vista do transepto esquerdo da Basilica Papale di

San Paolo Fuori Le Mura...161

Figura 121 - Detalhe mostrando dois dos afrescos localizados no transepto

da Basilica Papale di San Paolo Fuori le Mura...161

Figura 122- Benedito Calixto de Jesus. São Lúcio, São Cornélio e São Zeferino.

Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...162

Figura 123 - Benedito Calixto de Jesus. São Calixto I, São Fabiano e Santo

Anthero. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...163

Figura 124 - Benedito Calixto de Jesus. São Ponciano, Santo Urbano I e São

Melchiades. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...163

Figura 125 - Benedito Calixto de Jesus. Santo Estevam I, São Xisto II e

São Paschoal I. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...163

Figura 126 - Benedito Calixto de Jesus. A Aparição do Anjo do Senhor, 1909.

Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...164

Figura 127 - Vincenzo Galloppi . L’Annunciazione, 1896-97. Igreja de Santa Maria dell’Avvocata...164 Figura 128 -Vincenzo Calloppi. Visitazione a Santa Elisabetta, 1896-97. Igreja

de Santa Maria dell’Avvocata...166 Figura 129 - Benedito Calixto de Jesus. A Imposição do Véu, 1917. Igreja de

Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov...166

Figura 130 - Francesco Grandi. Sepultura di San Lorenzo. Esboço para a Igreja

de San Lorenzo Fuori le Mura, Accademia di San Lucca...167

Figura 131- Benedito Calixto de Jesus. São Lourenço. Igreja de Santa Cecilia.

Foto: Karin Philippov...168

Figura 132- Jules-Élie Delaunay. Santa Geneviève Acalmando os Parisienses,

Panthéon, Paris...169

Figura 133 – Comparação entre Benedito Calixto de Jesus. A Condenação de

Santa Cecília, 1917. Igreja de Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov; Jules-Élie Delaunay. Santa Geneviève Acalmando os Parisienses, s/d. Panthéon,

Paris...170

Figura 134 - Pierre Puvis de Chavannes. A Degolação de São João Batista, 1869c. The National Gallery of Art, Londres...171

(18)

Figura 136 - Oscar Pereira da Silva. Os Esponsais de São José, s/d. Igreja de

Santa Cecilia. Foto: Karin Philippov………...…....173

Figura 137 - Dante Gabriel Rossetti. Ecce Ancilla Domini, c.1849,

(19)

Introdução...20

Capítulo 1 – História da Igreja de Santa Cecília...25

1.1 – A inserção da Igreja de Santa Cecília no novo bairro de Santa Cecília...32

1.2 – Conexões históricas, políticas e religiosas da Igreja em São Paulo...37

Capítulo 2 – A presença de Dom Duarte Leopoldo e Silva como mecenas e colecionador de obras sacras e religiosas...40

2.1 – As relações encomiásticas e históricas entre Dom Duarte Leopoldo e Silva e Benedito Calixto de Jesus...50

Capítulo 3 – A decoração da Igreja de Santa Cecília: aspectos teológicos, históricos e simbólicos na “piedade visual”...60

3.1 – Benedito Calixto de Jesus e sua decoração na Igreja de Santa Cecília...68

3.1.1 – A Compreensão da Nave da Igreja de Santa Cecília...69

3.1.2 – Os Doze Bispos, Pedro Correa e João de Souza no Transepto da Igreja...77

3.1.3 – O Presbitério através dos doze primeiros Papas Martirizados e o Ciclo de Santa Cecília...97

3.1.4 – O modelo de Santa Cecília e a problematização de sua iconografia: escolhas, transmutações e instauração de um novo paradigma imagético...115

3.2 – Oscar Pereira da Silva e sua decoração na Igreja de Santa Cecília...129

3.2.1 – Os dois paineis laterais de Oscar Pereira da Silva...131

3.2.2 – A cúpula na execução de dois artistas: Benedito Calixto de Jesus e Oscar Pereira da Silva...136

3.3 – Carlo De Servi e a Capela do Santíssimo...147

3.4 – Algumas Considerações Acerca dos Vitrais de Conrado Sorgenicht...151

Capítulo 4 – Diálogos Europeus: Itália, França e Inglaterra...156

4.1 - Modelos italianos e franceses: cotejo a Benedito Calixto de Jesus...159

4.2 – Modelos ingleses: Oscar Pereira da Silva e o Pré-Rafaelismo...173

Conclusões...176

Referências... 180

(20)

INTRODUÇÃO1

O ‘passado’ não existe como tal. Ou melhor, existe somente como é encarnado e reencarnado em memórias, textos, objetos e em nossa atividade coletiva contínua de reconstrução. Tampouco é o passado que é encorpado em um objeto, uma qualidade fixa. (...) A significância histórica de um objeto pode ela própria ser

reconstituída historicamente.2

A compreensão da arte religiosa em São Paulo na virada do século XIX para o XX permite suscitar uma enorme discussão acerca da importância do patrimônio artístico religioso das igrejas erigidas durante a Primeira República na cidade de São Paulo, uma vez que a quase absoluta inexistência de pesquisas acerca do tema da arte religiosa entre finais do século XIX e início do XX faz com que o tema aqui proposto seja de total relevância para a História da Arte. Aqui, em especial a pesquisa se refere à Igreja de Santa Cecília, localizada no Largo de Santa Cecília, em São Paulo, igreja esta construída sob o comando eclesiástico do bispo Dom Duarte Leopoldo e Silva, a partir de 1894.

Para se compreender a construção e decoração da referida igreja, torna-se necessário apropriar-se dos conceitos de piedade visual 3 e de cultura visual religiosa 4 definidos pelo historiador norte-americano David Morgan (2005), que trata das diversas manifestações religiosas através da arte religiosa não somente católica. Por piedade visual 5 entende-se lançar um olhar cultural e historicamente construído sobre o patrimônio artístico e arquitetônico, pois ver religiosamente uma obra religiosa dentro de um contexto religioso inserido em um espaço urbano requer, segundo o autor, estudar “as imagens, mas também as práticas e os hábitos que dependem das imagens, assim como as atitudes e pré-conceitos que

informam a visão como ato cultural” 6

. Como, portanto, se pode estudar e analisar as imagens religiosas dentro de um contexto histórico-cultural, uma vez que o olhar para a obra religiosa

1 Salvo quando sinalizado em contrário, todas as traduções de textos de fontes em línguas estrangeiras presentes nesta tese são.

2

“The “past” does not exist as such. Rather, it exists only as it is incarnated and reincarnated in memories, texts, objects, and our ongoing collective activity of reconstruction. Nor is the past that is embodied in an object a fixed quality. (…) the historical significance of an object may itself be reconstituted historically”. (DAVIS, 1997 apud MORGAN, 2005, p. 127).

3 Visual Piety. (Cf. MORGAN, op.cit.)

4 Religious Visual Culture. (Cf. MORGAN, op.cit.) 5

Idem.

6 “...of images, but also the practices and habits that rely on images as well as the attitudes and preconceptions that inform vision as a cultural act”. (Cf. MORGAN, op.cit.)

(21)

é condicionado tanto pelo contexto religioso interno à Igreja e externo oriundo da cidade que abriga tal Igreja? Morgan propõe que:

um olhar consiste em várias partes: um observador, nos observadores companheiros, no assunto de sua observação, no contexto ou localização do assunto e nas regras que governam o específico relacionamento entre observadores e assunto 7.

Percebe-se, então, uma abordagem fenomenológica acerca do objeto religioso inserido em um espaço coletivo, no qual o observador-fiel encontra-se dentro de um espaço urbano organizado e estruturado de maneira histórico-social, e que enquanto indivíduo interage com outros indivíduos na absorção da imagem, colocada como forma de regulação social, englobando ainda tanto o tempo no qual este indivíduo se insere, quanto o tempo da imagem observada; por exemplo, na Igreja de Santa Cecília, há representações realizadas nos primeiros anos do século XX de santos oriundos dos primórdios do Cristianismo, o que requer uma adaptação do fiel à imagem antiga e vice-versa, através de um diálogo historicizado e ajustado aos ditames da própria Igreja.

Assim, o envolvimento do observador-fiel dentro do espaço religioso, ou seja, da Igreja pressupõe a apreensão e o entendimento do discurso promovido pela imagem ali presente e levando-se em consideração que a imagem integra a cultura visual religiosa 8 proposta por Morgan, ver uma imagem religiosa requer observar e interagir com a mesma seguindo padrões impostos não somente pela própria Igreja e seus ditames, como também pela sociedade, pela economia e pela História. Desse modo, a presença do fiel na Igreja se torna uma experiência na qual os poderes temporal e atemporal se chocam e se entrecruzam a fim de produzir um novo sentido ressignificado conforme cada indivíduo e cada sistema político-social. Ou seja, conforme Morgan, “as religiões e suas culturas visuais configuram relações sociais” 9.

Porém, neste processo descrito acima cabe propor que haja um iconoclasmo primeiro que ocorre dentro das convicções do fiel e que igualmente, imposto pela Igreja instauradora de novos paradigmas na Primeira República, faz nascer um novo tipo de fiel adaptado às

7 “A gaze consists of several parts: a viewer, fellow viewers, the subject of their viewing, the context or setting of the subject, and the rules that govern the particular relationship between viewers and subject”. (Cf. MORGAN, op.cit., p. 3).

8 MORGAN, Op.cit.

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premissas da Igreja e do Estado republicano laico, posto que haja um processo abrupto de substituição de sistemas visuais 10, no qual o modelo antigo é substituído pelo novo, seguindo os preceitos da Igreja Romanizadora, que prega novos cultos, substituição de santos populares não reconhecidos pela Santa Sé, por santos cultuados a partir do Cristianismo primitivo, além da defesa do fim do Barroco como linguagem artística, arquitetônica, escultural e até mesmo, teológica.

Assim, se até finais do século XIX, a cidade de São Paulo possuía Igrejas feitas em taipa e com arquitetura e decoração barrocas, com a chegada de Dom Duarte Leopoldo e Silva ao bispado de São Paulo, a Igreja se transforma por completo. Enquanto muitos templos são demolidos ou reformados, outros são construídos em tijolos, com arquitetura revivalista e recebem nova decoração, condizente aos preceitos Romanizadores, incluindo cultos a santos desconhecidos que entram em substituição a santos não reconhecidos pela Santa Sé, além de novos ritos e cultos que surgem a partir do Concílio Vaticano I. Dessa maneira, ocorre um iconoclasmo promovido pela própria Igreja. Quais os sentidos desse iconoclasmo dentro da cultura paulista e da Primeira República? Como lidar com a iconoclastia geradora de novos paradigmas religiosos e culturais? Como Dom Duarte Leopoldo e Silva utiliza a iconoclastia dentro de seu discurso Romanizador? Como interpretar e analisar a produção artística religiosa de Benedito Calixto de Jesus, de Oscar Pereira da Silva e de Carlo De Servi dentro desse universo iconoclástico e fundador de uma nova linguagem dentro da Igreja Romanizadora e da Primeira República? Estes são alguns dos questionamentos desenvolvidos dentro da pesquisa de doutorado.

O primeiro capítulo do primeiro volume apresenta a História da Igreja de Santa Cecília e discute criticamente sua inserção dentro do espaço urbano e territorial, entendendo o entorno da edificação religiosa como espaço de conexões históricas, políticas e religiosas da Igreja Romanizadora. Aqui, pretende-se pensar a Igreja de Santa Cecília como um templo religioso político, no qual a imagem religiosa suscita ao mesmo tempo empatia 11 do fiel para com os santos representados e piedade visual, através de um discurso ao mesmo tempo histórico e político, que situa a Igreja como espaço de memória coletiva12, no qual a religião se afirma dentro de uma sociedade republicana laica e coloca seus valores de fé calcada nos preceitos da Primeira República controlada pelos ricos cultivadores de café, em uma cidade

10

Conceito formulado pelo Historiador da Arte e Prof. Dr. Jens Michael Baumgarten. 11 “Empathy” (Cf. MORGAN, 1998, p. 59).

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que vive não só o auge da presença do imigrante, como também defende seu passado glorioso, através da figura do bandeirante, conforme se verá mais adiante.

Já o segundo capítulo versa acerca da presença do décimo segundo bispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, que além de chefe religioso de São Paulo, também atua no mecenato religioso, através da encomenda de obras religiosas para a Igreja de Santa Cecília. Aqui, a pesquisa analisa seu papel dentro da Igreja e sua relação com Benedito Calixto de Jesus, artista amigo de Dom Duarte e que lidera o programa iconográfico da referida Igreja.

No terceiro capítulo, o leitor poderá encontrar um estudo mais específico sobre Benedito Calixto de Jesus e seu extenso programa iconográfico realizado a partir de uma profunda pesquisa histórica e arqueológica em torno da vida de Santa Cecília, aqui apresentada não como padroeira da música, mas como mártir cristã. Desse modo, partindo da escultura célebre de Stefano Maderno, presente à Igreja de Santa Cecilia in Trastevere, localizada em Roma, Calixto copia a escultura em óleo sobre tela, transmutando não apenas a figura da santa, mas transformando a réplica da santa maderniana em uma relíquia, uma vez que a Igreja de Santa Cecília não possui relíquias de Santa Cecília. Além disso, a Igreja de São Paulo ainda possui uma ampla decoração que inclui os doze primeiros papas martirizados, cujos restos mortais se encontravam na Catacumba de São Callisto, local original de inumação de Santa Cecília. Ainda na mesma Igreja, encontram-se os doze primeiros bispos de São Paulo e dois paineis curiosos representando dois episódios da vida do ex-escravizador de índios, Pedro Correa e mais oito paineis instalados na nave, contendo santos martirizados, dentre os quais, santos desconhecidos da população paulista. Assim, Calixto atua na instauração de novos paradigmas imagéticos que englobam a piedade visual da nova imagem religiosa na São Paulo da Primeira República.

O terceiro capítulo se refere igualmente à Oscar Pereira da Silva, artista fluminense que atua em conjunto a Benedito Calixto de Jesus executando algumas das obras da Igreja e apesar de poucas, não são menores em importância e nem em qualidade. O artista executa dois paineis em pintura mural, localizados nas extremidades dos braços do transepto, representando a Assunção de Nossa Senhora, do lado esquerdo e Os Esponsais de São José, do lado oposto. Além disso, nas bordas da cúpula, o pintor fluminense executa os quatro Santos Evangelistas.

A Igreja de Santa Cecília possui, ainda, uma única pintura do artista italiano Carlo De Servi, que faz o Cristo Santíssimo para o teto da Capela do Santíssimo e Conrado Sorgenicht

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se encarrega dos vitrais da Igreja, feitos para integrar e harmonizar a decoração da Igreja, tarefa esta também atribuída ao decorador Gino Catani.

O quarto e último capítulo trata dos diálogos europeus, sobretudo italianos, franceses e ingleses na produção de Benedito Calixto de Jesus e de Oscar Pereira da Silva, a fim de estabelecer conexões entre os artistas brasileiros e a produção europeia religiosa a eles contemporânea.

O catálogo localizado após as referências bibliográficas traz as localizações precisas das imagens dentro da Igreja de Santa Cecília, bem como informações detalhadas acerca de cada uma das imagens estudadas nesta tese.

(25)

CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTA CECÍLIA

A Igreja de Santa Cecília, tal como pode ser vista hoje, está em sua terceira versão. A primeira versão, segundo Clóvis de Athayde Jorge (2006, p. 67) 13 data de 1860 e foi executada em madeira e “desprovido de arquitetura e solidez”.14 Continha simplesmente um “altar-mor, duas pequenas imagens dos padroeiros e dois pequenos corredores ao lado da

capela-mor, que serviam de sacristia”. 15 Sabe-se, conforme a documentação existente 16, que

sua edificação não se deu onde a atual Igreja está, mas “ereta no bairro do Arouche da

Freguesia de Santa Ifigênia de cuja matriz é filial” 17

. Além disso, um requerimento assinado por vinte e um moradores da Freguesia de Santa Ifigênia aponta a localização exata da primeira ermida, em “um terreno sito no largo além do tanque do Arouche entre a Rua

América e a Estrada de Campinas” (...) “a fim de nele construírem o mencionado templo”. 18

Sabe-se igualmente que a imagem original de Santa Cecília 19 é oriunda da Igreja dos Remédios e que é trazida em procissão a fim de ser instalada na nova ermida. Hoje, a imagem original não parece estar na atual Igreja de Santa Cecília. Talvez, tenha retornado à igreja de origem. Com o tempo, a frágil construção em madeira se deteriora e uma reconstrução torna-se necessária.

Assim, em 1882, uma segunda igreja é construída, talvez em taipa de pilão, seguindo o padrão construtivo de até então. Jorge20 aponta que Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho dá o aval para nova construção. Segundo o autor, quem faz o projeto da nova igreja é o engenheiro Luís Pucci. Entretanto, sabe-se que o referido engenheiro responsável pela construção da Santa Casa de Misericórdia, não faria uma igreja em taipa, posto que tenha feito a Santa Casa em tijolos. O que parece apropriado salientar é que tal igreja também foi demolida, para ceder lugar à atual. O motivo da demolição da segunda edificação parece se dever à questões arquitetônicas, urbanísticas, artísticas e, sobretudo, religiosas e políticas. Tal demolição parece estar atrelada principalmente à Romanização, movimento religioso que prega a volta às origens da Igreja Católica Apostólica Romana, conforme se verá mais adiante. 13 JORGE, 2006, p. 67. 14 2006, p. 67. 15

JORGE, op. cit., p. 67.

16 “Requerimento redigido a 13 de abril de 1869”. p. 67. 17 p. 67.

18

(Atas XLVI, 188) 27 de setembro de 1860 , p. 52. 19 p. 67.

(26)

Dessa maneira, se a primeira construção está atrelada à Freguesia de Santa Ifigênia, a segunda passa para a subscrição da Igreja da Consolação, a partir de 25 de abril de 1870 21, talvez devido ao desenvolvimento da cidade de São Paulo naquele momento. Segundo Assis Moura 22,

A nova capela, posto que pequena, tinha bonito e elegante aspecto, quer interno, quer externo, sendo construída com todas as regras de arte. O altar-mor, todo de estuque fingindo mármore tinha um pequeno trono, sacrários e dois nichos com os padroeiros – São José e Santa Cecília – e que seria benta, em 1885, pelo cônego Eugênio Leite, pároco da Freguesia da Consolação.

Embora imagens referentes às duas primeiras versões da Igreja de Santa Cecília não tenham sido encontradas, pode-se propor que tal igreja tenha sido feita e decorada conforme os preceitos barrocos, devido à decoração do altar-mor possuir estuque em trompe-l’oeil de mármore. Imagina-se, então, uma igreja talvez em taipa, talvez em tijolos, porém com linhas arquitetônicas coloniais, tal como era a arquitetura religiosa de então. Quiçá a Igreja tivesse sido erigida mesclando taipa e tijolos. O que se sabe, de fato, é que a segunda igreja é demolida a partir do momento em que a paróquia é desmembrada da Freguesia da Consolação23, para que a terceira começasse a ser construída no novo local, no Largo de Santa Cecília.

Jorge 24 revela, ainda, os trâmites para a autorização e aprovação da nova Igreja de Santa Cecília, a partir de seu desmembramento paroquial. Porém, antes do decreto oficiado junto à Câmara, no qual os dois projetos foram apresentados e carimbados e assinados por J. E. Oliveira, funcionário público que acolhe e registra as plantas, muitos fatos ocorreram dentro da própria Igreja até a construção e decoração da atual Igreja de Santa Cecília. O autor ainda menciona a data da inauguração da pedra fundamental, que se dá em 19 de março de 1897.

21 p. 67. 22

ASSIS MOURA, op.cit, p. 68. 23 Op.cit, p.68

(27)

Figura 1 - Plantas baixas e de fachada da Igreja de Santa Cecília. AHSP - Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo - SMC/PMSP Foto: Karin Philippov

A escolha das plantas definitivas se deveu, muito provavelmente, a questões financeiras, uma vez que a opção escolhida é bem mais simples, porém, não menos bela que a primeira. Jorge 25 aponta que o ainda Padre Duarte Leopoldo e Silva inicia uma grande campanha de donativos entre os féis e moradores do bairro para a construção da nova igreja. Aqui, propõe-se igualmente a participação de cafeicultores abastados 26 vizinhos que contribuem amplamente para a construção e decoração do novo templo, uma vez que estes

25 p.69.

(28)

participam ativamente da reconstrução da cidade de São Paulo, através da substituição da cidade arcaica e de arquitetura colonial feita em taipa pela nova cidade europeia, de tijolos. Aliás, o capital necessário à construção e decoração da Igreja de Santa Cecília vem de uma conta bancária aberta pela comunidade paroquial, 27 na qual a comunidade contribui através de doações e de capital obtido através de festas e rifas, além de doações vultosas provenientes dos cafeicultores.

Outro fator que faz com que Igreja de Santa Cecília seja inovadora concerne à questão da luz elétrica 28, o que muda completamente sua característica de Igreja, trazendo arrojo e conforto dentro da nova cidade de São Paulo que é construída paulatinamente. No mês de agosto de 1899, a empresa The São Paulo Tramway Light and Power Company Limited passa a fornecer luz elétrica para a região central da cidade, incluindo o novo bairro de Santa Cecília, permitindo acesso não só a iluminação, quanto ao bonde elétrico. Com isso, desde o início, a nova Igreja de Santa Cecília recebe energia elétrica feita através de “fios de pano”, ou seja, fios de cobre envoltos em tiras de tecidos, conforme se pode observar na imagem a seguir, que traz a nave central da Igreja, em uma fotografia de 1929 29.

Figura 2 – Nave central da Igreja de Santa Cecília

27

DANTAS, 1974, p. 21. 28 p. 91.

(29)

Voltando alguns anos no tempo, para o ano de 1894, o bispo de São Paulo, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti 30 chama o ainda jovem Padre Duarte Leopoldo e Silva para lhe mostrar a planta do que seria a futura Igreja de Santa Cecília, agora elevada à paróquia por Dom Arcoverde 31, um vasto templo artístico e de fé a ser erigido, na crescente cidade de São Paulo e Assis32 não revela qual das duas versões é mostrada ao Padre Duarte. A escolha do então bispo se deveu a vasta cultura que o jovem padre possuía e demonstrava em seus escritos acerca da Igreja e da Bíblia. Ao ter sua opinião perguntada, Duarte demonstra espanto por não ser arquiteto e nem entender sobre construções; porém, responde: “É simplesmente formoso, maravilhoso e magnífico no seu admirável conjunto,

Excelência! É um encanto!” 33

. Ao ouvir estas palavras de elogio, Dom Arcoverde imediatamente determina: “Pois bem, meu caro padre, êste (sic) é o projeto da matriz de uma

paróquia que vou criar para você. Será o fundador e o primeiro vigário de Santa Cecília” 34

. Sendo assim, o jovem padre assume a construção da nova paróquia, ainda no mesmo ano. No dia seguinte após assumir a referida paróquia, o ainda Padre Duarte35 visita o local da construção da futura edificação e se depara com uma cena de profunda desolação, pois:

Por aquelle tempo, logo após o Largo do Arouche, a cidade de São Paulo entrava na zona do Rocio. Caminhos poeirentos e gramados. Velhos muros de taipas e cêrcas, dividindo numerosos terrenos baldios. Poucas construcções novas, um ou outro casarão antigo e casinholas arrumadas que se iam espaçando mais e mais, pela velha estrada de Sorocaba (sic) que começava na hoje Rua das Palmeiras. Emfim, a opulenta Santa Cecília, em 1904, pouco mais era que uma tapéra mal habitada.

Percebe-se pelas palavras acima, então, o quão desprovido de infraestrutura era a região e o quanto a nova Igreja suscita melhorias no entorno, através de um projeto inovador para a época, em um projeto de bairro que é criado aos poucos e que se origina do nada, conforme se compreende a partir do autor. Tal fato é corroborado pela coluna Chronica Religiosa

30 ASSIS, 1967, p. 32.

31 “Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti”. Disponível em: < http://www.arquisp.org.br/historia/dos-bispos-e-arcebispos/bispos-diocesanos/dom-joaquim-arcoverde-de-albuquerque-cavalcanti.> Acesso em: 10 ago. 2016.

32 ASSIS, op.cit., p. 32. 33

p.32. 34 p.32.

(30)

publicada pelo Jornal Correio Paulistano36, na qual se lê: “Via que muito tinha a fazer e, pondo mãos a obra tratou de transformar a pequena capella de São José e Santa Cecília na magestosa (sic) matriz que é hoje um embellezamento de nossa capital”.

Assim, embora haja divergências no que concerne a data do encontro entre Dom Arcoverde e o Padre Duarte, - ou seja, segundo o livro A Igreja nos Quatro Séculos de São

Paulo 37 e o autor Arruda Dantas 38 -, a Paróquia de Santa Cecília é criada em vinte e um de

novembro de 1895 39 tendo seu projeto de arquitetura românica40 e planta em cruz latina, realizados pelo grande arquiteto florentino, Giulio Micheli 41, que “cuidou com um sentido de coerência, também toda a ornamentação, compreendendo nisso, os móveis, os altares, as

pinturas” 42

e em relação às pinturas, refere-se ao decorador Gino Catani 43, pintor decorador responsável pela ornamentação das paredes da Igreja de Santa Cecília.

Figura 3 - Vista da nave central da Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov

36 Chronica Religiosa. In: Correio Paulistano. Terça-feira, 30 de outubro de 1912, p. 5. Disponível em: < http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/>. Acesso em: 10 ago. 2016.

37 A Igreja nos Quatro Séculos de São Paulo. 1955, p. 433. 38 DANTAS, op.cit., 1974, p. 16.

39

Segundo a coluna Chronica Religiosa do Jornal Correio Paulistano, a Igreja de Santa Cecília é criada por decreto em 24/03/1895. Disponível em: < http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/ > . Acesso em: 10 ago. 2016. 40 O artigo se refere à planta da Igreja de Santa Cecília como românica.

41 VANZO, 2010, p. 61. 42

SALMONI, Anita & DEBENEDETTI, Emma. 2007, p.107.

43 Mugnaini. Disponível em:< http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24213/mugnaini. > Acesso em: 01 ago. 2016.

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De qualquer maneira, o jovem padre recebe a enorme incumbência de levar as obras adiante e contratar artistas para a decoração da igreja fazendo da mesma, monumento de arte e fé, na Primeira República. A necessidade de se construir a terceira versão da mesma se refere ao esforço de abrigar mais féis dentro do templo localizado em um bairro de população crescente. Além disso, a construção da terceira versão da igreja serve como afirmação do poder eclesiástico representado pela figura de Dom Duarte Leopoldo e Silva, que por sua vez, atua não apenas como digno representante do Papa, mas igualmente como executor dos ditames da Igreja Católica em tempos de Romanização, ou seja, em um momento de reforma dos cultos, práticas religiosas, crenças e de controle rígido da população católica paulistana.

Figura 4 - Postal da Paróquia de Santa Cecília, em 1913.

< https://sampahistorica.wordpress.com/2014/12/12/igreja-de-santa-cecilia/ >. Acesso em 20 jul. 2016.

A construção da Igreja de Santa Cecília leva anos para ser concluída e decorada, seguindo os preceitos construtivos da época, preceitos estes voltados para a Romanização, pois a igreja deve ser lugar de culto e de maravilhamento do fiel, dentro de uma sociedade fortemente comandada pela elite cafeeira. Aqui, pode-se propor que a Romanização tem por objetivo principal arrebanhar féis perdidos para o Protestantismo crescente com a imigração alemã, além de controlar a população da cidade e “consertar” a devoção dos féis, dirigindo o

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foco de adoração para os santos reconhecidos pela Igreja Católica Apostólica Romana. Assim, a nova paróquia deveria ser projetada para ecoar os ditames romanizadores da Santa Sé, empregando o culto correto dentro de um templo com planta e decoração adequadas aos preceitos papais.

1.1 – A inserção da Igreja de Santa Cecília no novo bairro de Santa Cecília

Figura 5 - Guilherme Gaensly (1843-1928). Foto Panorâmica do bairro de Santa Cecília, 1901-1910. Foto número 64. A seta azul mostra a torre da Igreja de Santa Cecília. Disponível em: <http://www.hagopgaragem.com/imagens_antigas_fotografo3.html.> Acesso em: 20 jul. 2016.

O novo bairro de Santa Cecília surge a partir da Chácara das Palmeiras de propriedade da Sra. Maria Angélica de Sousa Queirós Barros44, cujo loteamento em arruamentos ocorre dentro de um processo de expansão a oeste do antigo centro de São Paulo. Com a criação do novo bairro a partir de 1880, Jorge 45 revela o perímetro formado pelo novo bairro que se forma, compreendido pelas Ruas das Palmeiras, Conselheiro Brotero, Martinho Prado e Itatiaia.

44 JORGE, op.cit, p. 61. 45 p. 60.

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Figura 6 - COCOCI, Mariano & COSTA, Luiz Fructuoso F. Planta Geral da cidade de São Paulo em 1905. [S.l.: s.n.] 1 mapa, color. Escala 1: 20000. Disponível em: < http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1900.php.> Acesso em: 11 jul. 2016.

Figura 7 - Área Urbanizada 1882-1914. Mapa da Urbanização de São Paulo. [S.l.: s.n.] I mapa, color. Disponível em: < http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/urb-1890-1900.jpg.>. Acesso em: 11 jul. 2016.

Assim, observando os dois mapas acima colocados, percebe-se o quanto o novo bairro de Santa Cecília surge e se desenvolve no período entre os anos de 1882 e 1914, arco temporal que inclui a construção total e a decoração parcial da atual Igreja de Santa Cecília. A cidade de São Paulo que começa a partir do núcleo central em torno da região da Sé, passa por

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uma ampliação, na qual novos bairros vão surgindo em todas as direções, embora o crescimento seja discreto, comparado com os dias atuais. A velha cidade de taipa vai sendo demolida, em prol de uma reconstrução que atenda aos anseios dos abastados cafeicultores, dos políticos, da população local e da Igreja.

Partindo, então de uma nova Igreja de Santa Cecília, pode-se pensá-la como norteadora do espaço urbano, uma vez que sua altura ultrapassa e muito as novas construções residenciais que são feitas em seu entorno. Desse modo, deve-se pensar a função da Igreja como norteadora e organizadora do espaço urbano. Nesse sentido, a Igreja de Santa Cecília sendo construída exatamente no ponto inicial do antigo caminho que levava a Campinas, cidade localizada no interior paulista, funciona como ponto de saída e de chegada de viajantes, além de servir de local que abriga os féis e os ensina a viver dentro da nova configuração citadina, que se forma na virada do século XIX para o subsequente.

Figura 8 – Foto da Rua Ana Cintra, 1910, ao meio o cruzamento com a Rua de São João (atual Avenida), ao fundo a Igreja de Santa Cecília46. Foto de autoria desconhecida.

No abrigar dos féis de todas as classes sociais, a Igreja de Santa Cecília ainda desempenha um papel fulcral nas vidas de seus habitantes ao encaminhá-los para uma nova Igreja Romanizadora, reformada segundo os preceitos da Santa Sé. O bairro de Santa Cecília nos dias de hoje ainda abriga várias construções dos primeiros anos do século XX e que resistem em meio às incorporações e edifícios que foram e estão sendo construídos ao longo

46 Fotografia gentilmente cedida pelo Sr. Gilberto Calixto Rios, fotógrafo e bisneto do artista Benedito Calixto de Jesus.

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do século XX e XXI. Não obstante, ainda é possível encontrar alguns vestígios das famílias que viveram no bairro quando a atual Igreja de Santa Cecília foi erigida e decorada. Dessa maneira, é possível saber quem são as famílias que possivelmente frequentavam a Igreja e quiçá, contribuíam financeiramente para as obras da mesma, incluindo a sua rica decoração. Sabe-se que além da fundadora do bairro Sra. Maria Angélica 47 e de Dona Veridiana da Silva Prado 48, grande contribuidora e financiadora da construção da Igreja, diversos imigrantes italianos estavam entre os habitantes locais, como por exemplo, o ator, comediante e cineasta Amácio Mazzaropi 49, que nasceu em 1912 e viveu seus primeiros anos de vida na Rua Vitorino Carmilo, nº 61. Entretanto, além do renomado ator, muitos outros imigrantes atuando no comércio por lá viveram, como um certo Ettore Momo 50, que construiu seu próprio palacete e que parecia viver do comércio, no mesmo logradouro do ator supracitado.

Figura 9 - Casa de Amácio Mazzaropi. <http://www.saopauloantiga.com.br/aqui-nasceu-mazzaropi/>. Acesso em 20 jul. 2016.

Figura 10 - Palacete Momo. <http://www.saopauloantiga.com.br/palacete-momo/>. Acesso em 20 jul. 2016.

47 JORGE, op. cit, p.61. 48

“Particularidades Históricas e Artísticas da Matriz de Santa Cecília”. In: Gazeta-Magazine. 11 de maio de 1941, p. 8. Jornal consultado no Arquivo da Fundação Benedito Calixto, em Santos-SP, em 18 de fevereiro de 2016.

49 Aqui nasceu Mazzaropi. Disponível em: <http://www.saopauloantiga.com.br/aqui-nasceu-mazzaropi/.> Acesso em: 20 jul. 2016.

50 Palacete Momo. Disponível em: <http://www.saopauloantiga.com.br/palacete-momo/. > Acesso em: 20 jul. 2016.

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Figura 11 - Palacete da Sra. Maria Angélica de Sousa Queirós Barros, construído em 1890. Foto de autoria desconhecida.

Assim, em meio a tantos imóveis ainda existentes, pode-se pensar o bairro de Santa Cecília como agregador tanto de famílias abastadas, como a da Sra. Maria Angélica, cujo palacete hoje demolido, localizava-se na esquina da atual Avenida Angélica com a Alameda Barros, antiga estrada de Campinas, como as de classe média, famílias essas que frequentavam a novíssima Igreja de Santa Cecília. Propõe-se, assim, a presença das famílias cafeicultoras abastadas corroborando na propagação da fé católica Romanizada e participando ativamente da política na Primeira República. A participação dessas famílias atreladas aos comandantes da Igreja Romanizada, através da figura de Dom Duarte Leopoldo e Silva, parece estar diretamente vinculada à decoração política da Igreja de Santa Cecília. Entretanto, a documentação existente no Arquivo da Cúria Metropolitana Dom Duarte Leopoldo e Silva não apresenta efetivamente os nomes dos patrocinadores da construção e decoração da Igreja, apesar de Dona Veridiana da Silva Prado constar como financiadora da construção da Igreja

51

. O que se pode somente encontrar é constituído somente de documentos solicitantes de batizados, missas e casamentos. Talvez, a única menção mais efetiva diga respeito a Sra.

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Olívia Guedes Penteado52, que teria patrocinado a construção da pia batismal em mármore da Igreja de Santa Cecília, muito embora não conste o nome do escultor e nem dados sobre onde teria sido feita.

Figura 12 - Pia Batismal da Igreja de Santa Cecília. Foto: Karin Philippov

1.2 - Conexões históricas, políticas e religiosas da Igreja em São Paulo

Sabe-se que São Paulo é neste momento uma cidade pequena, um arrabalde provinciano sem vida cultural estabelecida, salvo alguns poucos endereços de entretenimento vistos com maus olhos pela população e ainda mais pela Igreja. Não há vida noturna, a luz elétrica chega devagar iluminando as ruas centrais primeiramente, o que inclui a Igreja de Santa Cecília. O transporte público é feito em lombo de animais e charretes, as ruas são de terra e estreitas em sua maioria. As casas e igrejas são coloniais. Esta era a São Paulo até o final do século XIX, conforme Júlio Lucchesi Moraes53.

Na virada do século XIX para o XX a Igreja de São Paulo passa por profundas reformulações em seus paradigmas. Aqui, elencam-se questões políticas, históricas, econômicas, religiosas e artísticas, por exemplo. Estando nos primeiros anos da conhecida Primeira República, a cidade de São Paulo passa por uma profunda alteração política,

52

Livro de Tombo da Igreja de Santa Cecília. Arquivo da Cúria Metropolitana Dom Duarte Leopoldo e Silva (AMDDLS).

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patrocinada em larga escala pela economia cafeeira, 54 que articula a circulação de ideias, de capitais geradores e propagadores da cultura pelo país e pela cidade de São Paulo, sobretudo. A partir dessa circulação de ideias, a cidade de São Paulo vai crescendo e sendo recriada e remoldada segundo os padrões de gosto dos barões do café, que aqui vivem. Padrões estes calcados na linguagem arquitetônica europeia, sobretudo referente ao que se chama de ecletismo, ou seja, uma linguagem pautada pelo revivalismo de estilos arquitetônicos históricos, como por exemplo, o neogótico, o neorromânico e o neobizantino, que podiam vir misturados em uma única edificação. Assim, os estilos historicistas em voga na Europa chegam ao Brasil e se instalam nas mais variadas construções, enquanto o passado caipira55 e colonial das construções de taipa vai sendo apagado paulatinamente.

Ao mesmo tempo, a Igreja também passa por uma profunda reformulação em sua estrutura religiosa, através de seu processo de Romanização, i.e., movimento que visa corrigir o culto católico e a devoção de seus féis em um momento no qual o Estado brasileiro se torna laico, através da Constituição de 1891. A partir da Romanização, a Igreja procura se afirmar regulando o culto, com normas precisas e adequadas à Santa Sé, combatendo o avanço do Protestantismo, do Espiritismo e do Ateísmo crescentes em São Paulo, devido à forte imigração europeia e a laicização do Estado.

Assim, o culto devocional aos santos passa a ser determinado pela Igreja e santos populares deixam de ser aceitos, ao mesmo tempo em que novos santos são colocados no lugar. Festas populares são rejeitadas em prol de festas oficiais, pois a intenção da Igreja é regular e controlar o fiel pertencente à nova cidade criada na Primeira República. Com intuitos claramente políticos e estando independente, porém, ao lado do Estado, a Igreja procura assumir um viés determinante na vida das pessoas, sobretudo das mulheres, uma vez que elas são o lastro católico das famílias, por disporem de mais tempo para frequentarem as igrejas, rezarem e educarem seus filhos, conforme os ditames da Igreja Católica e da Constituição laica. Aqui, não se propõe a exclusão da figura masculina como controladora da educação dos filhos, mas por trabalharem fora para prover o sustento de seus lares, a regulação dos padrões educacionais e religiosos prepondera nas mãos maternas. Aliás, a questão do feminino na Igreja de Santa Cecília se faz presente na decoração, conforme se verá mais adiante.

A partir do momento em que a cidade passa a ser demolida, para apagar o passado caipira e colonial, a nova urbe começa a se instaurar com muitas obras laicas e religiosas que

54 FAUSTO, 2006, p. 273. 55 MARTINS, 2011, p.72-73.

(39)

são realizadas ao mesmo tempo, seguindo linguagens importadas diretamente da Europa. Enfim, segundo José de Souza Martins 56, “a expansão do centro da cidade tinha um amplo significado social e político, pois representava o início da revolução urbana em São Paulo, a efetiva ruptura com a São Paulo colonial e suas estreitezas”. Tal revolução urbana se torna evidente na grande quantidade de edifícios que irrompem na paisagem paulista graças ao capital gerado pelo café e sua elite, trazendo novos padrões arquitetônicos e urbanísticos que se impõem na paisagem como forma de recriação da cidade de São Paulo e em meio a esse conjunto de reformas, surgem as novas Igrejas paulistas, edificadas por ordem de Dom Duarte Leopoldo e Silva, bispo e posteriormente, Primeiro Arcebispo do Brasil.

Ao mesmo tempo em que a cidade de São Paulo cresce e se reinventa segundo os padrões arquitetônicos, artísticos e religiosos europeus, padrões esses trazidos e defendidos pelos barões do café, a imigração italiana, sobretudo, avança para a cidade. O mercado industrial começa a ser desenhado na ainda pequena urbe e movimentos sindicais iniciam em busca de melhores salários e condições de trabalho. Assim, nos anos de 1906, 1907 e 1917 57 ocorrem três grandes greves de operários duramente reprimidas pela força policial. A primeira greve iniciada pelos ferroviários da Companhia Paulista, em Jundiaí se espalha para a capital. Já a segunda greve ocorre pela mudança da jornada de trabalho e a terceira, parte dos trabalhadores do Cotonifício Crespi e atinge outros setores, como o das bebidas e dos móveis

58

. Assim, pode-se compreender a situação da cidade de São Paulo nesse momento em que a recém-construída Igreja de Santa Cecília está sendo decorada, momento de afirmação do baronato cafeeiro que rege a política oligárquica e a cultura, além de influir na própria Igreja, através das relações de poder que um estabelece com o outro.

Igualmente, deve-se destacar o papel da Primeira Guerra Mundial59 ocorrida entre os anos de 1914 e 1918, anos em que o Brasil enfrenta uma crise cafeeira, devido à queda nas exportações, fator que corrobora as dificuldades financeiras da Igreja em se manter e continuar suas obras de construção reforma e decoração.

56

MARTINS, op.cit, p. 10. 57

ROMANO, Cristina de Toledo. Santa Cecília: uma paróquia na confluência dos interesses da elite paulista e da Igreja Católica entre 1895 e 1920. Tese (Doutorado em História Social). 2007. 261 p. Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. SP: Universidade de São Paulo, p. 33.

58 HALL apud PORTA, 2004, p. 271-272. 59 SOUZA, 2004, p. 414.

(40)

CAPÍTULO 2 – A PRESENÇA DE DOM DUARTE LEOPOLDO E SILVA COMO MECENAS E COLECIONADOR DE OBRAS SACRAS E RELIGIOSAS

Dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938) desempenha um papel fundamental não somente como padre, bispo de São Paulo e arcebispo do Brasil, mas também como mecenas para as encomendas de obras religiosas nas Igrejas que construiu e ajudou a construir na São Paulo da virada do século XX.

Como colecionador de obras sacras e religiosas oriundas das inúmeras Igrejas barrocas por ele demolidas, em prol da construção de novas, Dom Duarte decide organizar o “Museu Histórico da Mitra” 60 que seria o principal Museu de Arte Sacra do país, museu que abre suas portas no Mosteiro da Luz, a partir de 1970 61 e cuja coleção começa a se formar a partir de 1907, através do colecionismo de obras sacras e religiosas extraídas de igrejas e capelas sistematicamente demolidas, em prol da construção de novas 62. Assim, Altino Arantes 63 define seu colecionismo ao propor que Dom Duarte o faz “recolhendo para os seus ordenados mostruários as alfaias, as pratarias, os móveis, as joias e toda uma preciosa e multiforme infinidade de relíquias e objetos, a que se prendem fatos e reminiscências do nosso Passado” e a coleção por ele amealhada primeiramente, fica provavelmente armazenada em um prédio anexo ao antigo Palácio São Luís da Cúria Metropolitana de São Paulo 64, localizado na região da Praça da Sé, na antiga Rua Santa Thereza e demolido em 1972 65, para a construção da linha norte sul do Metrô de São Paulo.

60 ARANTES, 1929, p. 28. Exemplar gentilmente obtido junto ao Prof. Lincoln Etchebehere do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - IHGSP, a quem agradeço. Altino Arantes foi o décimo governador do Estado de São Paulo, entre os anos de 1916 e 1920.

61 COUTINHO, 2014. 62

Museu de Arte Sacra de São Paulo. Disponível em: < http://www.museuartesacra.org.br/pt/museu/museu-da-arte-sacra. > Acesso em: 10 ago. 2016.

63 ARANTES, op.cit., p.28.

64 DOM Duarte Leopoldo e Silva. Disponível em:< http://www.arquisp.org.br/historia/dos-bispos-e-arcebispos/bispos-diocesanos/dom-duarte-leopoldo-e-silva. > Acesso em: 07 ago. 2016.

65 NASCIMENTO, Douglas. Cúria Metropolitana de São Paulo. Disponível em: < http://www.saopauloantiga.com.br/predio-da-curia/. > Acesso em: 07 ago. 2016.

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