Direito Processual Penal
Jurisdição e Competência
Prof. Antonio Suxberger – arquivo 6
FESMPDFT
JURISDIÇÃO
Função estatal de aplicar o direito objetivo a um
caso concreto, tem como escopo substituir a
vontade das partes.
Ne procedat iudex ex officio.
Indeclinabilidade.
Indelegabilidade.
Improrrogabilidade (ou aderência).
Juiz natural.
COMPETÊNCIA
É a medida da jurisdição. Pressuposto
processual de validade do processo (CPP
564, I).
São três as espécies:
I. Ratione materiae
II.Ratione personae
III. Ratione loci
I. Juízo competente em razão da
matéria (ratione materiae):
Comum Especial Tribunal do Júri (CF 5.º, XXXVIII, “d”) Federal (CF 109) Estadual (residual) Cf. STJ 38 e 122 Eleitoral (CF 118 a 121) Militar (CF 124): STF 298; STJ 6, 53, 78, 90. Senador Federal: função atípica (jurisdição
Competência da Justiça Militar
O artigo 124 da Constituição da República dispõe que “À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.”
A lei de que trata o dispositivo constitucional supracitado é o Código Penal Militar, que, ao definir os crimes militares, assim
dispõe em seu artigo 9º, com a nova redação dada pela Lei nº 9.299⁄96: Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito a administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) (Revogado pela Lei 9.299⁄96.);
III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão de competência da justiça comum.
Assim, o civil comete crime militar não só
quando realiza ação típica prevista no Código
Penal Militar e definida de modo diverso na lei
penal comum, ou nela não previsto (inciso I do
art. 9.º do CPM), mas também quando pratica
ilícito penal contra as instituições militares, que
compreendem os crimes previstos de igual
maneira na lei penal militar e na lei penal
comum, nos casos do inciso III do art. 9.º do
CPM.
Cf. o inteiro teor do seguinte julgado: STJ, CC 37.893/RJ, Rel.
Ministro HAMILTON CARVALHIDO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09.06.2004, DJ 16.08.2004 p. 131.
Incidente de deslocamento de
competência (EC 45 de 2004)
CF 109, V-A e § 5.º
“Nas hipóteses de grave violação de direitos
humanos, o Procurador-Geral da República,
com a finalidade de assegurar o cumprimento
de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça
Federal”.
II. Grau do órgão jurisdicional
competente (ratione personae)
STF: CF 102, I, “b” e “c”
STJ: CF 105, I, “a”
TRF: CF 108, I, “a”
TJDFT: Lei 11.697/08.
Art. 8° Compete ao Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar originariamente:
a) nos crimes comuns e de responsabilidade, os Governadores
dos Territórios, o Vice-Governador do Distrito Federal e os Secretários dos Governos do Distrito Federal e dos Territórios, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
b) nos crimes comuns, os Deputados Distritais, e nestes e nos
de responsabilidade, os Juízes de Direito do Distrito Federal e dos Territórios, os Juízes de Direito Substitutos do Distrito Federal e dos Territórios, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
Pontos relevantes:
Exigência de licença prévia da Casa Legislativa para
persecução penal do Governador de Estado.
Simetria. Cf. STF, HC 80.511/MG. Acompanhe ADI
4.362 no STF!
Prefeitos: TJ, TRF, TRE. Decreto-lei 201/67.
Art. 1.º : crimes comuns.
Art. 4.º : crimes de responsabilidade.
STF 702: “A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau”.
STF 703. “A extinção do mandato do prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1.º do Decreto-lei 201/1967”.
Ministério Público, Juízes: sempre no Tribunal
Pontos relevantes:
ADI 2.797; RCL 2.138; Pet 3923 QO (tema pendente de manifestação
conclusiva do STF).
Conflito entre competência originária ratione personae (foro por
prerrogativa de função) e competência em razão da matéria: Se a competência estiver prevista em lei ordinária, lei de organização judiciária ou mesmo em Constituição estadual (sem que haja previsão análoga na CF), prevalece a competência constitucional do Tribunal do Júri.
Situação específica dos Deputados Estaduais: prevalência do Tribunal de
Justiça ou Tribunal Federal.
◦ Cf. STF AP 133 (Parlamentar federal); HC 78.168/PB (Procurador estadual: júri); e STJ HC 109.941 e CC 105.227 (Deputado Estadual – TJ: superação do entendimento antigo do STF HC 48.410)
Conexão ou continência entre infrações penais cuja competência seja
delimitada na CF (crime doloso contra a vida e foro por prerrogativa de função): desmembramento.
Possibilidade de as Constituições Estaduais trazerem previsão de foro
por prerrogativa de função.
III. Fixação da competência em razão
do lugar (ratione loci)
CPP 70 (regra geral): teoria do resultado.
No CPP, se ocorre tentativa, teoria da atividade.
Na Lei 9.099 - art. 63: teoria da atividade.
Subsidiariamente: CPP 72 e 73.
Estabelecida a competência de foro: livre
distribuição. Não há distribuição: júri, conexão
ou continência, prevenção.
Crime em limites divisionais ou em lugar sem fixação de
limites ou em caso de crime continuado/permanente em mais de uma jurisdição: o critério é o da prevenção (art. 70, § 3.º, e 71).
Desconhecido o lugar e réu que possua mais de um local de
residência: o critério é o da prevenção (art. 72, § 1. º).
Desconhecido o lugar, desconhecido a residência do réu e
caso não seja ele encontrado: prevenção do juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (art. 72, § 2.º).
Critérios de definição (Grinover):
Jurisdição competente: comum ou especial?
Órgão jurisdicional hierarquicamente
competente: há foro por prerrogativa de
função?
Foro territorialmente competente: ratione loci
(lugar do crime ou domicílio do réu).
Juízo competente: qual a vara de acordo com a
natureza da infração penal?
Qual o órgão competente para julgar o
Competência material e competência
funcional
Competência material:
Ratione materiae Ratione personae Ratione loci
Competência funcional:
Fase do processo Objeto do juízo (Ex.: no Júri, Presidente e o Conselho de Sentença)
Competência absoluta e competência
relativa
Competência absoluta:
◦
Imposição de ordem pública.
Ratione materiae
Ratione personae
Competência funcional
Competência relativa:
◦
Fixação em razão do interesse das partes.
Possibilidade de prorrogação.
◦
STJ 33 (doutrina x jurisprudência, cf. STJ CC
37.149/RN)
Atenção:
Inicialmente, o STF entendia que não era
possível a ratificação de atos decisórios
praticados
por
juiz
absolutamente
incompetente, de sorte que os atos seriam
anulados (CPP 567). Porém, a partir do
HC
83.006
, Pleno, Ellen, j. 18/6/2003, a jurisprudência
do Tribunal passou a admitir a possibilidade de
ratificação pelo juízo competente inclusive
quanto aos atos decisórios. Cf. igualmente o
Prorrogação de competência
necessária e voluntária
Prorrogação de competência necessária:
conexão e continência (arts. 76 e 77).
Prorrogação de competência voluntária:
competência territorial não alegada
oportunamente (preclusão): art. 108.
Delegação de competência
Delegação de competência interna: juízes
substitutos e auxiliares.
Delegação de competência externa: cartas
precatória e de ordem.
Desaforamento (CPP 427 e 428).
Proibição de delegação de atos decisórios
nos crimes de competência originária dos
Tribunais. Veja alterações recentes no
Regimento Interno do STF (figura do Juiz
Auxiliar).
Pontos relevantes:
Alteração do território da comarca, por lei, após a instauração da
ação penal. Aplicação do CPC 87 (perpetuatio jurisditionis). Cf. STF, RHC 83.181/RJ, Rel. Joaquim Barbosa, DJ 22/10/2004).
◦ Exceção: Júri (cf. STF, HC 71.810/DF, DJ 25/11/1994 — “julgamento pelos pares”).
Estelionato (cheque sem fundos): STJ 244 e STF 521.
Homicídio e morte produzida em local diverso daquele em que foi
realizada a conduta: o foro competente é o da ação ou omissão, e não o do resultado (conveniência prática, mas contraria
expressamente o art. 70, CPP, teoria do resultado).
Crime de falso testemunho praticado por precatória: competência
do juízo deprecado.
Uso de documento falso: competente o local onde se deu a
Competência pelo domicílio ou
residência do réu
Não sendo conhecido o lugar da infração,
competência do domicílio do réu (art. 72).
Réu com mais de um domicílio: prevenção (art.
72, § 1.º).
Réu sem residência ou de paradeiro ignorado:
competência do juiz que primeiro tomar
conhecimento do fato (art. 72, § 2.º).
Ação penal exclusivamente privada, querelante
pode optar entre o foro do domicílio ou
residência do réu e o foro do local do crime,
ainda que este seja conhecido (art. 73).
Competência pela natureza da infração
Latrocínio: matéria de competência do juízo singular:
Súmula 603 do STF. Idem, extorsão qualificada pelo
resultado morte.
Justiça militar: policiais militares nos crimes assim
definidos em lei; processar e julgar delitos cometidos
em lugares sujeitos à Administração militar; julgar
crimes de favorecimento pessoal quando se imputa ao
favorecido crime militar. Compete à Justiça comum:
abuso de autoridade; lesões corporais ou homicídio
doloso de militar contra civil, crime decorrente de
acidente de trânsito envolvendo viatura militar, salvo se
autor e vítima forem policiais militares em situação de
atividade (Súmula 6 do STJ). Cf: STJ CC 41.057/SP, CC
34.749/RS.
Pontos relevantes
Compete à Justiça militar julgar policial de corporação estadual ainda que o delito tenha
sido praticado em outra unidade federativa (Súmula 78 do STJ).
Compete à justiça comum estadual processar e julgar civil acusado de pratica de
crime contra instituições militares estaduais (Súmula 53 do STJ).
◦ Quando se cuidar de crime praticado contra instituições militares federais: competência da Justiça
Federal militar.
◦ O conceito de “instituições militares” do inciso III do art. 9.º do CPM não abrange Polícia Militar e
Corpo de Bombeiros Militar (compreensão estrita de Forças Armadas: veja CF 142; PM e CBM são órgãos de segurança pública – CF 144). Cf. STF HC 70.604 e STJ CC 19.047,
Súmula 147 do STJ: Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Súmula 140 do STJ: compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vitima.
Justiça comum o crime contra sociedade de economia mista (Súmula 42 do STJ). Ex.:
Banco do Brasil.
Compete à Justiça comum estadual processar e julgar crime de falsa anotação de carteira
de trabalho e Previdência Social atribuído a empresa privada (Súmula 62 do STJ).
Súmula 48 do STJ: compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e
julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
Contravenção penal: sempre é da competência da Justiça comum estadual. Justiça Federal: falsificação de título de eleitor e de carteira da OAB.
Justiça Federal: crime contra a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Justiça Federal: ações criminais que apurem supostos desvios de verbas da educação,
mesmo que essas verbas não tenham aporte da União (a política de educação é nacional e há evidente interesse da União na correta aplicação dos recursos). CF. STF 100.772.
Pontos relevantes
Justiça Estadual: crime contra loja lotérica (a loteria é organizada e
mantida pela União por meio da Caixa Econômica Federal). “O delito de roubo cometido contra casa lotérica, pessoa jurídica de direito privado permissionária de serviço público, atingido apenas o seu patrimônio, não tem o condão de atrair a competência da Justiça Federal para o processo e julgamento da respectiva ação penal, por não lesar bens, serviços ou interesse da União” (STJ CC 40.771/SP).
Crime contra a organização do trabalho: somente se atingir a
organização do trabalho como um todo será da Justiça Federal.
Contrabando e descaminho: Justiça Federal. Súmula 151 do STJ: a
competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
Súmula 122 do STJ: compete à justiça federal o processo e
julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal.
Competência por conexão
Conexão: nexo existente de dependência recíproca que os fatos
guardam entre sim. Duas ou mais infrações entrelaçadas por um liame que aconselha a junção dos processos.
Efeitos da conexão: reunião dos processos e prorrogação da
competência.
Espécies de conexão
◦ a) Intersubjetiva:
- Por simultaneidade: duas ou mais infrações praticadas ao mesmo tempo.
- Por concurso: várias pessoas em concurso, ainda que em circunstâncias diversas de tempo e lugar.
- Por reciprocidade: diversas pessoas umas contra as outras.
◦ b) Objetiva, lógica ou material:
- Teleológica: infração é cometida para facilitar a execução de outra.
- Conseqüencial: para garantir vantagem ou impunidade de outra.
◦ c) Instrumental ou probatória: prova de uma infração influir na prova da outra.
Competência por continência
Uma causa está contida na outra.
Hipóteses:
concurso de agentes (art. 77, I);
concurso formal (art. 70),
aberratio ictus (erro de execução, art. 73) e
aberratio delicti (resultado diverso do pretendido,
art. 74).
Conexão e continência: visam à unidade e
à economia processual, bem como
determinam decisão única.
Foro prevalente
Art. 78. Na determinação da competência por conexão
ou continência, serão observadas as seguintes regras:
◦ I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;
◦ II - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número
de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
◦ III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;
◦ IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.
Separação de processos
Reunião de processos e foro privilegiado: permite-se o
desmembramento, mas deve ser ele autorizado pelo Tribunal Superior.
Concurso entre jurisdição comum e militar. Súmula 90 do STJ:
compete à justiça estadual militar processar e julgar o policial militar pela pratica do crime militar, e à comum pela prática do crime comum simultâneo aquele.
Corréus e sobrevém doença mental a um deles: separam-se os
processos, para que seja suspenso o processo do enfermo.
Separação é facultativa: art. 80: “Será facultativa a separação dos
processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação”.
O STF tem admitido a incidência do CPP 80 mesmo nos casos em que ainda não há processo-crime instaurado. Cf. STF, Pet-QO 2020, DJ 31/8/2001.
Competência por prevenção
Ocorre quando o juiz toma conhecimento da
prática de uma infração penal antes de qualquer
outro igualmente competente. É necessário que
determine alguma medida ou pratique algum
ato no processo ou inquérito.
Não provocam prevenção: pedido de habeas
corpus, decisão do tribunal que anula o processo
etc.
Nulidade decorrente da não observância da
prevenção é relativa, mas pode ser reconhecida
de ofício pelo magistrado.
Perpetuatio jurisditionis
Conexão ou continência e perpetuatio jurisditionis: o
juiz continua competente ainda que absolva o réu
do crime que ensejou a reunião dos feitos.
CPP 81. No júri: CPP 74, § 3.º; 492, § 2.º.
Se há desclassificação no Tribunal do Júri, a
competência passa a ser do Juiz Presidente.
Cf. STJ HC 34.338/RJ.