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Os objetivos de desenvolvimento do milênio nos países da América do Sul

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Academic year: 2022

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1 LAURÊNCIO JOÃO KÖRBES

OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO NOS PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Relações Internacionais pela UNB.

Universidade de Brasília - UNB

Orientador: Prof. Carlos Eduardo Vidigal

Brasília, 2011

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2 RESUMO

O objetivo deste trabalho é investigar as origens dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, analisar os resultados alcançados pelos países da América do Sul e compreender a importância e os limites da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD), nos esforços para o alcance das Metas do Milênio. Para atingir os objetivos, o trabalho considera a base estatística dos dados disponibilizados pelas Nações Unidas, sobre as contribuições recebidas pelos países da América do Sul, no período de 1990 a 2010, em relação aos avanços alcançados por estes países, nos indicadores ODM. A monografia deseja comprovar a hipótese de que os recursos da AOD são essenciais para acelerar o alcance dos ODM de caráter emergencial, nos países muito pobres, e que eles se tornam cada vez menos relevantes, na medida em que os países alcançam níveis básicos de desenvolvimento, com relação ao capital humano, infra-estrutura básica.

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3 ABSTRACT

The aim of this study is to investigate the origins of the Millennium Development Goals, review the results achieved by countries in South America and understand the importance and limits of Official Development Assistance (ODA) in efforts to achieve the Goals Millennium. To reach the goals, the paper considers the statistical basis of the data published by the United Nations, on contributions received by the countries of South America, from 1990 to 2010 in relation to the advances achieved by these countries on MDG indicators. The paper wants to prove the hypothesis that ODA resources are essential to accelerate the achievement of the MDGs of an emergency nature, in very poor countries, and they become increasingly less relevant, to the extent that countries achieve basic levels of development in human capital and basic infrastructure.

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4 SUMÁRIO

RESUMO ABSTRACT

INTRODUÇÃO ... 6

1 OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO... 7

1.1 Origens dos Objetivos do Milênio ... 7

1.2 As Conferências Sociais da década de 1990 ... 9

1.3 A Declaração do Milênio e o Sistema ODM ... 14

2 RESULTADOS ALCANÇADOS NO PERÍODO DE 1990 A 2010 ... 20

2.1 Os resultados dos ODM na América do Sul ... 22

2.1.1 Argentina ... 23

2.1.2 Bolívia e Paraguai ... 25

2.1.3 Brasil ... 27

2.1.4 Chile e Uruguai ... 29

2.1.5 Equador e Peru ... 30

2.1.6 Colômbia e Venezuela ... 32

3 UMA PARCERIA GLOBAL PARA OS OBJETIVOS DO MILÊNIO... 34

3.1 A cooperação internacional na Declaração do Milênio ... 35

3.2 Consenso de Monterrey ... 36

3.3 Consenso Europeu ... 38

3.4 A cooperação internacional nos países da América do Sul ... 39

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5 4 A IMPORTÂNCIA E OS LIMITES DA AJUDA OFICIAL PARA O

DESENVOLVIMENTO ... 50

4.1 A ajuda oficial para o desenvolvimento e os ODM... 50

4.2 Controvérsias na AOD ... 52

4.3 AOD – Essenciais ou supérfluas para o alcance das Metas do Milênio nos países da América do Sul? ... 53

CONCLUSÃO... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS ... 62

APÊNDICE ... 66

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6 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é investigar as origens dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, analisar os resultados alcançados pelos países da América do Sul e compreender a importância e os limites da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD), nos esforços para o alcance das Metas do Milênio.

O desenvolvimento do trabalho será feito por meio de quatro objetivos específicos: a) a exposição das conferências internacionais de caráter social, promovidas pelas Nações Unidas, na década de 1990, como fontes próximas das origens dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o conhecimento do Sistema ODM; b) a apresentação dos resultados alcançados pelos dez países da região, no período de 1990 a 2010, com base nos indicadores dos ODM e dados fornecidos pelos organismos das Nações Unidas, especialmente a CEPAL e o Banco Mundial;

c) o conhecimento das diversas fases do comprometimento dos países ricos com as Nações Unidas, para a ajuda aos países em desenvolvimento, e a presença da cooperação internacional nos países da América do Sul d) a investigação sobre a importância e os limites da ajuda oficial para o desenvolvimento (AOD), no cumprimento das Metas do Milênio.

A problemática deste trabalho gira em torno da questão: por que os indicadores dos Objetivos do Milênio reagiram de forma positiva e marcante no conjunto dos países da América do Sul, entre 1990 e 2010, se as ajudas oficiais para o desenvolvimento diminuíram no mesmo período?

A constatação de resultados inversos ao movimento das ajudas oficiais para o desenvolvimento provoca um debate e gera posições acaloradas no ambiente internacional. O presente trabalho busca dar uma breve contribuição para o entendimento do fenômeno, por meio da avaliação do comportamento dos indicadores do ODM em relação ao volume das ajudas para o desenvolvimento, direcionado aos países da América do Sul.

O intuito do estudo não é defender a redução das ajudas para o desenvolvimento, mas compreender os limites do modelo atual, como a melhor forma para a aplicação dos recursos das doações.

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7 CAPÍTULO I

OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

1.1 – Origens dos Objetivos do Milênio

As origens dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são encontradas na própria história das Nações Unidas (ONU) que, em diversas oportunidades, estabeleceram objetivos globais e específicos para os países membros, obtendo sucesso em determinadas propostas, mas também resultados insuficientes em outras tantas iniciativas.

Um dos primeiros grandes êxitos da ONU foi alcançado na questão da descolonização, tema central das Nações Unidas nos anos de 1950 e 1960, que estimulou uma extraordinária onda de libertação e de criação de Estados soberanos na segunda metade do século XX.

Em apenas 20 anos seria dobrado o número de países: enquanto em 1950 unidades soberanas eram apenas 60 (sessenta), em 1970 o número de países já havia aumentado para 127 (cento e vinte e sete), e 40 (quarenta) anos depois já se contam 210 países no mundo. (BANCO MUNDIAL)

O crescimento econômico, a aceleração de objetivos relacionados com o emprego, a industrialização e a ajuda internacional, foram os temas centrais das Nações Unidas, nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Nesse período, diversas conferências internacionais estabeleceram objetivos para promover a melhoria da saúde dos povos, a educação básica, a alfabetização de adultos e os direitos humanos.

Dentre os sucessos alcançados citam-se a erradicação da varíola, a vacinação das crianças, a redução da mortalidade infantil e a eliminação da poliomielite, atingida em 110 países. (NAÇÕES UNIDAS, RDH, 2003:31).

Chamam também atenção os fracassos contabilizados. Foi assim com os objetivos estabelecidos na Declaração de Alma Ata, de 1977, onde os países se

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8 comprometeram com os cuidados da saúde para todas as pessoas até ao final do século XX e, ao contrário do esperado, milhões de pessoas pobres continuavam morrendo de doenças endêmicas e da falta de cuidados básicos de saúde.

O mesmo aconteceu com o objetivo de erradicar a malária que, apesar de ter alcançado êxitos na Ásia e na América Latina, passou ao largo da África, por considerar intratável a doença naquele continente.

O mundo também havia se comprometido com a educação universal primária das crianças e em reduzir para a metade o analfabetismo de adultos, cujos objetivos deveriam ser alcançados até o final do século XX. O resultado foi de pequena expressão e muito aquém dos propósitos estabelecidos.

Quando a comunidade internacional tinha superado os riscos da Guerra Fria, do confronto entre as ideologias do comunismo e do capitalismo, e estava às portas do novo milênio, o cenário mostrou-se particularmente propício à mobilização global, em busca de soluções que pudessem atender às exigências da nova agenda de interesse da humanidade e das relações internacionais.

A ONU tomou a frente e organizou sete conferências internacionais, que abrangeram os mais importantes temas da nova agenda. Temas globais de caráter social e ambiental, que poderiam ser abordados pelas nações, não apenas sob a ótica dos interesses e do poder, mas também pelo consenso racional e da cooperação.

Este conjunto de conferências teve relevância fundamental na preparação da comunidade das nações, para o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que aconteceria no ano 2000

As seguintes conferências foram especialmente importantes: Cúpula Mundial sobre a Criança (Nova York - 1990); Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio de Janeiro – 1992); Conferência sobre Direitos Humanos (Viena – 1993); Conferência Internacional sobre a População e o Desenvolvimento (Cairo – 1994); Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Social (Copenhague – 1995); IV Conferência Mundial sobre a Mulher (Pequim – 1995); Conferência sobre os Assentamentos Humanos: Habitat II (Istambul – 1996). (ALVES, 2001:47- 326)

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9 Ao longo dos sete primeiros anos da década de 1990, as conferências sociais geraram uma grande mobilização da comunidade internacional e produziram o conteúdo e o impulso necessários para que, no ano 2000, um universo de 191 países se comprometesse com um novo programa para a humanidade: os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

1.2 – As Conferências Sociais da década de 1990

A primeira conferência da série (Nova York – 1990) foi dedicada à infância e lembraria ao mundo que, apesar de todos os progressos científicos e tecnológicos da civilização, havia muitos problemas das novas gerações a resolver.

Dentre os resultados da cúpula da criança estão os compromissos dos 157 países participantes em reduzir a taxa de mortalidade de menores de cinco anos, em 30% (trinta), até o ano 2000; a educação de todas as crianças até o final do século XX; a proteção das crianças contra a exploração, violência e trabalho infantil; a diminuição do número de crianças subnutridas e a garantia do acesso à água potável.

(ALVES, 2001:53-54)

Em Nova York foi também aprovada a Convenção dos Direitos da Criança (CDC), que assumiu prioridade sobre as legislações nacionais de diversos países. No caso do Brasil, a convenção e as demais recomendações da cúpula tiveram papel relevante na definição dos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado em 1991. O plano de ação dessa conferência deu origem ao 4º Objetivo de Desenvolvimento do Milênio.

Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, a comunidade internacional realizaria a segunda conferência da série, esta sobre meio ambiente e desenvolvimento, e que também se tornaria conhecida como Rio-92 e ECO-92. A cúpula tomou características sociais pelo envolvimento dos movimentos da sociedade civil, cujas posições discordavam de várias tendências do movimento ambientalista, de posições ecocêntricas, mas os movimentos sociais insistiam no antropocentrismo, em cujo

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10 conceito os seres humanos estão no centro das preocupações do desenvolvimento sustentável:

[...] em função da natureza predominantemente econômica e técnica de seu tema, [...] a Rio-92 talvez não viesse a enquadrar-se adequadamente no conjunto das conferências sociais da década de 1990, se não tivesse contado com impulso decisivo da sociedade civil, inclusive de movimento sociais com amplo escopo e ONGs voltadas para os direitos humanos de grupos e categorias específicas de indivíduos. A idéia de que um meio ambiente sadio constitui um dos direitos fundamentais de “terceira geração” vinha sendo reiteradamente repetida, havia anos, em meios jurídicos, acadêmicos e pela maioria das ONGs atuantes em esferas variadas. (ALVES, 2001:65- 66)

A Rio-92 daria continuidade aos esforços anteriores da ONU, sobre a preservação do meio ambiente, iniciados ainda na década de 1960, e cuja primeira expressão internacional aconteceu com a realização da cúpula mundial de Estocolmo, em 1972, numa época dominada por preocupações estratégicas de segurança, em que governos autoritários predominavam em todos os continentes.

O conceito do desenvolvimento sustentável, que seria consagrado na ECO 92, já integrava os documentos preparativos, englobando os sistemas produtivos, os padrões de consumo, a pobreza, o crescimento econômico, a população e a sustentabilidade da vida no planeta.

Em meados de 1980, a ONU havia encomendado ao PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) a formulação de estratégias que fossem além do ano 2000. Dessa demanda originou-se o famoso Relatório Brundtland, que discorria sobre a necessidade de se promover um desenvolvimento sustentável, ou seja, um desenvolvimento que procurasse satisfazer as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas necessidades. (ALVES, 2001:63).

Dentre os documentos mais importantes resultantes da Conferência do Rio, estão a Agenda 21 e a Carta da Terra. Esta, uma espécie de código de ética planetário, semelhante à Declaração Universal dos Direitos Humanos, voltada à sustentabilidade, à paz e à justiça socioeconômica.

A Agenda 21 chama atenção para a importância da cooperação na preservação da natureza e estabelece as formas como cada país pode se comprometer e agir, por meio dos governos, empresas e organizações da sociedade civil para

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11 preservar o meio ambiente, sendo as ações pensadas globalmente, mas adaptadas às necessidades nacionais e locais.

A Agenda 21 estabeleceu um programa de ação, para médio e longo prazos, e assim, praticamente, definiu o modelo para as demais conferências sociais que haveriam de se seguir:

Para se ter uma rápida noção da interligação dos assuntos tratados na Rio- 92 com as demais conferências, basta atentar para os seguintes títulos de capítulos da Agenda 21: “Combate à Pobreza” (seção I, capítulo 3) – um dos três objetivos principais da Cúpula de Copenhague sobre o Desenvolvimento Social; “Dinâmica Demográfica e Sustentabilidade”

(seção I, capítulo 5 – matéria essencial da Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento; “Promoção de uma Modalidade Viável para os Assentamentos Humanos” (seção I, capítulo 7) – tema da Conferência de Istambul “Habitat – II”; “Medidas Mundiais em favor da Mulher para o Alcance de um Desenvolvimento Sustentável e Eqüitativo” (seção III, capítulo 24 – espécie de prelúdio para dois dos três focos da Conferência de Beijing sobre a Mulher: igualdade, desenvolvimento e paz. (ALVES, 2001:71-72)

A Conferência Rio-92 criou as bases para a elaboração do 7º Objetivo do Milênio e contribuiu na formatação do Sistema dos ODM, insistindo na necessidade de indicadores de acompanhamento:

Os métodos de avaliação da interação entre diversos parâmetros setoriais do meio ambiente e o desenvolvimento são imperfeitos ou se aplicam deficientemente. É preciso elaborar indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para adotar decisões em todos os níveis e que contribuam para uma sustentabilidade autorregulada dos sistemas integrados do meio ambiente e o desenvolvimento. (Agenda 21, 1992: Cap. 40).

A conferência seguinte, realizada em Viena, tratou dos direitos humanos. A primeira cúpula sobre esta matéria tinha se realizado no Irã, em 1968, no auge da Guerra Fria, e naquele cenário político, apesar da participação de 84 países, que buscavam aperfeiçoar a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o conflito provocava distorções nas abordagens relativas ao tema.

Enquanto a Conferência de Teerã teve como preocupação principal a normatização dos Direitos Humanos, a de Viena buscou a criação de instrumentos, que pudessem promover os direitos humanos.

Dentre os resultados de Viena destacam-se os avanços conceituais obtidos em cinco áreas de impacto global: a) a universalidade dos direitos humanos; b) a legitimidade do sistema internacional de proteção aos direitos humanos; c) o direito

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12 ao desenvolvimento; d) o direito à autodeterminação; e) e o estabelecimento da inter- relação entre democracia, desenvolvimento e direitos humanos. (ALVES, 2001:107)

No Cairo, em 1994, foi realizada a quarta cúpula mundial que prepararia o mundo para o lançamento dos Objetivos do Milênio, e seu tema foi a população e desenvolvimento. Anteriormente, em Roma (1954), Belgrado (1965), Bucarest (1974) e no México (1984), outras conferências da ONU já havia tratado sobre esta questão.

Coube à Conferência do Cairo trazer novas abordagens, que até então não se viabilizavam em função de diversos fatores decorrentes das rivalidades ideológicas entre comunismo e capitalismo, próprios da Guerra Fria.

Dentre eles, destacaram-se a relação entre população, meio ambiente, crescimento econômico sustentado e desenvolvimento, a capacitação e o fortalecimento (empowerment) da mulher, o envelhecimento da população, a urbanização e migrações internas e as migrações internacionais, a saúde reprodutiva e o planejamento familiar e as parcerias entre governos e organizações não governamentais – ONGs. (ALVES, 2001:169)

Como as anteriores, a Conferência do Cairo também tinha por objetivo a mobilização mundial para reduzir as taxas de crescimento populacional e estabilizá- las em níveis compatíveis com os recursos do planeta. No entanto, influenciada fortemente pelos resultados de Viena, seu programa de ação caracterizou-se por uma ampla declaração de direitos, reafirmando o direito ao desenvolvimento, como uma prerrogativa inalienável:

[...] a diferença fundamental da conferência do Cairo com relação às anteriores se encontra no enfoque adotado. Enquanto as conferências de Bucareste e do México encaravam a população pela ótica dos interesses estratégicos e geopolíticos dos Estados, supervalorizando sua capacidade de controle e atribuindo aos governos o poder de decidir se a população de um país deveria aumentar ou diminuir conforme suas conveniências, a abordagem do Cairo se baseia, acima de tudo, nos direitos humanos.

(ALVES, 2001:168).

A Cúpula Mundial de Copenhague [1995] foi a primeira a abordar o tema do desenvolvimento social, caracterizando-se pela tentativa de superar o estado de descaso da comunidade internacional em relação à problemática do

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13 desenvolvimento. Essa conferência ressaltou o desenvolvimento, não como um fim em si, mas como um meio para o aperfeiçoamento da vida humana.

Seu amplo programa de ação iria influenciar fortemente a Declaração do Milênio, com as resoluções relativas aos compromissos de criar um desenvolvimento econômico e social que promovesse a erradicação da pobreza no mundo, a capacitação das mulheres e dos homens para uma vida sustentável e a formação de sociedades estáveis com base nos direitos humanos

A conferência social sobre a mulher, realizada em Pequim [1995], foi a 4ª cúpula mundial sobre esta questão e tornou-se conhecida como Conferência de Beijing. Reuniu 180 delegações governamentais e mais de 2.500 organizações não- governamentais, que discutiram as mais amplas questões relacionadas à mulher.

Os artigos do plano de ação destacaram o estabelecimento de sistemas de análise da situação das mulheres, a implantação de programas e de políticas públicas de promoção da eqüidade de gênero, e ações afirmativas para o acesso a cargos públicos e de decisão, e a mandatos efetivos nos parlamentos. A conferência teve um significado especial para a Declaração do Milênio, reafirmando o papel central da eqüidade de gênero nos esforços para o alcance dos ODM. (ALVES, 2001:232-236)

A sétima e última grande reunião da agenda social das Nações Unidas aconteceu em Istambul [1996], e tratou dos Assentamentos Humanos: Habitat II. A Habitat I fora realizada em Vancouver, 1976.

Organizada em função da explosão demográfica mundial da segunda metade do século XX, e a conseqüente concentração de bilhões de pessoas nas regiões urbanas, essa conferência tornou-se um referencial. A partir de então, os assentamentos humanos passaram a ser considerados entre os temas prioritários, notadamente, em função da degradação generalizada dos ambientes urbanos.

O plano de ação de Istambul orientou a mobilização para a melhoria das condições de vida nas periferias urbanas existentes e as futuras, sobretudo, relativas às necessidades e contribuições das mulheres e grupos sociais vulneráveis, mas encontrou grandes dificuldades nas negociações oficiais, como relata diplomata Lindgren Alves:

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[...] os países desenvolvidos opunham-se a qualquer menção a “recursos novos” nas partes da Agenda Habitat, relativas ao financiamento de projetos e à cooperação internacional, em matéria de assentamentos humanos, em oposição ao que desejavam os países em desenvolvimento.

Sublinhavam, em lugar da cooperação internacional, a responsabilidade primordial dos governos nacionais, o conceito de enablement e a idéia da parceria como equação suficiente para se proporcionar às comunidades diretamente interessadas os meios para lidar com as respectivas dificuldades. (ALVES, 2001:259).

As resoluções da Habitat II foram importantes para a elaboração dos dois últimos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que tratam da preservação do meio ambiente e da cooperação internacional para o desenvolvimento.

Lindgren (2001) considera que as conferências sociais tiveram um papel relevante na construção da paz mundial ao final da Guerra Fria, realizando o trabalho diplomático que, historicamente, segue às guerras. Afirma que ao final da I Guerra Mundial este papel coube à Conferência de Versalhes, criando a Liga das Nações, e no final da II Guerra Mundial, à Conferência de São Francisco, que estabeleceu a Organização das Nações Unidas. “Se algo minimamente aproximado ocorreu [ao final da Guerra Fria], esse algo foi o conjunto de conferências sobre temas globais da década de 1990”, afirma. (ALVES, 2001:296)

1.3 – A Declaração do Milênio e o Sistema ODM

Quando chegou o século XXI, a comunidade internacional retomou a agenda do desenvolvimento, a partir dos acordos firmados nas conferências sociais, e elaborou a Declaração do Milênio, comprometendo 191 Estados membros das Nações Unidas, na Cúpula do Milênio, a desenvolver uma parceria global para reduzir a pobreza, melhorar a educação, a eqüidade de gênero, a saúde das pessoas e a sustentabilidade ambiental, com o propósito de alcançar o bem estar de todos e a paz mundial.

A partir da Declaração do Milênio [2000] foi elaborado o Sistema ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ou os "Oito Jeitos de Mudar o Mundo", como se tornaria também conhecido no Brasil.

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15 Foram estabelecidos como objetivos: Erradicar a extrema pobreza e a fome;

Atingir o ensino básico universal; Promover a eqüidade de gênero e a autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade na infância; Melhorar a saúde materna; Combater o HIV/Aids, a Malária e outras doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental; e Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

O Sistema ODM, divulgado no ano seguinte, forma um conjunto de propósitos globais, com metas e indicadores, assumidos com o compromisso de promover uma postura internacional, para melhorar as condições de vida da humanidade, e com o intento de alcançá-los até o ano de 2015:

A lista completa dos Objetivos, Metas e Indicadores de Desenvolvimento do Milênio surgiu pela primeira vez em setembro de 2001, no documento da ONU “Roteiro de Metas para a Implementação da Declaração do Milênio das Nações Unidas”. A declaração foi aprovada em setembro de 2001 e os objetivos foram seguidos pelas idéias dispostas na seção

“Desenvolvimento e Erradicação da Pobreza”. (PNUD. Introdução aos ODM: 08)

O primeiro conjunto oficial do Sistema ODM vigorou no período de 2002 a 2007 e compunha-se de 8 (oito) Objetivos, de 18 (dezoito) Metas e de 48 (quarenta e oito) Indicadores. A prática mostrou que seriam necessários aperfeiçoamentos e as primeiras propostas, neste sentido, foram apresentadas na Assembléia Geral das Nações Unidas de 2005.

Um novo conjunto de metas e de indicadores ODM foi aprovado em 2007 [atualmente vigente], e compõe-se de 8 (oito) Objetivos, 21 (vinte e uma) Metas e de 60 (sessenta) Indicadores. (NAÇÕES UNIDAS)

Na ordem de prioridades, o primeiro Objetivo, que propõe a erradicação da pobreza extrema e da fome, é considerado o mais importante de todos. Sua origem mais elaborada localiza-se na Conferência de Copenhague, que tratou do desenvolvimento social.

Considera-se que a falta de acesso a alimentos é uma das manifestações mais graves e urgentes da pobreza extrema, mas não a única. É preciso avaliar também a qualidade da alimentação que, quando é inadequada, afeta não somente aos que vivem em condições de extrema pobreza, mas também aos que integram os grupos humanos que residem em regiões de insegurança alimentar.

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16 As metas estabelecidas, para o alcance do objetivo número um, tratam de ambos os problemas e propõem reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, o percentual de pessoas, cuja renda seja inferior a 1 (um) dólar PPC1 por dia e alcançar o pleno emprego produtivo e trabalho decente para todos, incluindo mulheres e jovens e ainda, reduzir pela metade a proporção da população que sofre de fome.

Com a primeira meta pretende-se superar as privações extremas que afetam a capacidade básica das pessoas para se desenvolverem adequadamente na sociedade.

Esta ocupa um lugar central no conjunto dos objetivos, considerando que a luta contra a pobreza extrema tem uma relação importante com as possibilidades de alcance de, praticamente, todas as demais metas.

Cada meta tem seus indicadores econômicos ou sociais, que permitem a mensuração dos resultados alcançados. Assim, por exemplo, a meta número um, tem três indicadores para avaliar os avanços em relação aos ODM, ou seja, a proporção da população que ganha menos de 1(um) dólar por dia2, na paridade do poder de compra (PPC), o índice do hiato de pobreza3 e a participação dos 20% (vinte por cento) mais pobres da população, no consumo nacional.

Para a mensuração dos avanços e resultados dos países em relação à segunda meta, de reduzir pela metade a proporção da população que sofre de fome, estabeleceu-se como indicadores, o percentual de crianças com menos de 5 (cinco) anos, com peso abaixo do normal e a proporção da população que não atinge o nível mínimo de consumo de calorias.

1 Com a finalidade de equalizar o poder de compra das rendas, a moeda local é expressa em termos de sua equivalência em poder aquisitivo, ou seja, a “paridade do poder de compra” (PPC). Em 1991 o Banco Mundial estimou uma linha internacional de pobreza equivalente a 1 dólar PPC por dia, a preços de 1985, cujo parâmetro passou a ser conhecido mundialmente para a determinação da linha de pobreza, inclusive dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. No ano 2000 em novo cálculo, com base nos preços de 1993, a linha da pobreza seria fixada em 1,08 dólares PPC e posteriormente, em com base nos preços de 2005, o Banco Mundial fixaria a linha da pobreza em 1,25 dólares PPC diários. (NAÇÕES UNIDAS, Objetivos de Desarollo Del Milenio, Chile, 2010:25).

2 Neste trabalho será utilizado o parâmetro equivalente a 1 dólar PPC por dia para a definição da linha de pobreza, por facilitar a interpretação dos dados. Esta prática é adotada pelas Nações Unidas em diversos documentos oficiais.

3 Hiato de pobreza é a distância entre a renda per capita e o custo da cesta básica para a satisfação das necessidades essenciais; (CEPAL, Panorama Social da América Latina, 2009:30)

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17 O segundo ODM origina-se da Cúpula Mundial sobre a Criança [1990] e propõe o alcance do ensino básico universal, como garantia para que todas as crianças possam concluir um ciclo completo de educação primária. De acordo com a UNESCO, a educação básica supõe a garantia de um aprendizado vinculado à formação da identidade das pessoas, com uma sólida educação básica em leitura, escrita e aritmética, junto com conhecimentos gerais, ciências naturais, arte e música.

A taxa líquida de matrícula no ensino primário, a proporção dos alunos que iniciam o 1º ano e atingem o 5º ano escolar e a taxa de alfabetização na faixa etária de 15 a 24 anos, são os indicadores estabelecidos para acompanhar e retratar os avanços dos países, e assegurar que meninos e meninas de todo o mundo possam alcançar uma educação de nível básico.

Promover a eqüidade de gênero e a autonomia das mulheres é o terceiro ODM. Considerado um objetivo central, está presente nos planos de ação de diversas conferências sociais, de maneira especial, nas Cúpula do Cairo e de Pequim.

O Ex-Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, em suas mensagens, afirmava:

[...] não há estratégia de desenvolvimento eficaz em que a mulher não desempenhe um papel central. Quando a mulher participa plenamente dos benefícios, percebe-se que as famílias estão alimentadas melhor e se encontram mais saudáveis. Não existe uma política de promoção do desenvolvimento, da saúde e da educação mais eficaz do que o aumento no poder das mulheres e das moças. (NAÇÕES UNIDAS)

A percepção é registrada também no relatório de 2005, sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, publicado pela CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina:

Segundo os dados disponíveis, as mulheres estão representadas sobremaneira entre os pobres e a pobreza tem efeitos diferenciados sobre homens e mulheres e as mulheres contribuem para a diminuição da pobreza, tanto quando obtém renda financeira, como quando assumem a responsabilidade do cuidado das crianças, dos doentes e dos adultos maiores e, em geral, de todas as atividades vinculadas com a reprodução social. (CEPAL, 2005:113)

Eliminar as desigualdades em todos os níveis de ensino, até 2015, é uma das metas estabelecidas para o terceiro objetivo, que identifica na desigualdade de gênero, fator determinante para as situações de pobreza e de fome. Por essa razão, indicadores priorizam as taxas de alfabetização entre mulheres e homens e os

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18 resultados na educação primária, secundária e superior, assim como a presença de mulheres nos parlamentos dos países.

O propósito do quarto Objetivo do Milênio é a redução da mortalidade infantil. Tem relação estreita com os direitos à saúde e aos seus aspetos éticos, sociais. A boa saúde é um fator decisivo para o bem estar das pessoas, das famílias e das comunidades, um fator preponderante para a erradicação da pobreza e da fome.

Por essa razão são vários os objetivos, metas e indicadores do ODM, que se relacionam com a saúde e direcionam esforços especiais para a redução da mortalidade infantil, a melhoria da saúde materna e o controle de enfermidades, como o HIV/Aids, a malária e a tuberculose.

Com relação à saúde materna, a OMS - Organização Mundial de Saúde destaca o alto índice de mortalidade ou graves seqüelas que são resultantes do inadequado controle relacionado à gravidez, da realização insegura de abortos e dos partos não assistidos, bem como a elevada infertilidade e a alta incidência de enfermidades sexualmente transmissíveis.

Para concentrar os esforços na melhoria da saúde materna, a ONU estabeleceu no quinto objetivo, a meta de reduzir a mortalidade de mães, em três quartos, por uma questão de direito à saúde, mas também por se tratar de fator que tem enorme impacto no bem estar das famílias e na redução da pobreza e da fome no mundo.

Dentre as metas e indicadores definidos no sexto objetivo, incluem-se políticas que asseguram níveis mínimos de acesso aos serviços básicos de saúde, que incentivam o uso generalizado de preservativos para conter a disseminação das doenças sexualmente transmissíveis e medidas de prevenção e de vigilância direta, no tratamento do HIV/Aids, da malária e da tuberculose.

O sétimo objetivo do milênio, com origem na Conferência do Rio de Janeiro, tem em vista a mobilização dos países para garantir a sustentabilidade ambiental, com base nos acordos e no plano de ação da conferência global sobre o clima, realizada em 1992. Busca soluções para as crescentes mudanças climáticas, a degradação dos ecosistemas, a preservação da camada de ozônio e da biodiversidade.

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19 As metas do sétimo objetivo direcionam a atenção para a necessidade de mudanças nos padrões de produção e de consumo e a integração dos princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais, para reverter perdas de recursos ambientais, para a melhoria do acesso à água potável, ao saneamento básico e promover a melhoria da qualidade habitacional.

Estes são os Objetivos do Milênio que têm como foco a mobilização das forças internas de cada país. Com base nos sete primeiros objetivos, a ONU convida os governos a implantarem políticas públicas que contribuam para a superação dos problemas sociais e ambientais existentes em seus países.

O último ODM estabelece as metas para uma cooperação internacional, que prevê o apoio dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento. A ONU convoca os países ricos a contribuírem para a superação dos estágios de pobreza, por meio do alívio das dívidas externas, da assistência técnica, do acesso às novas tecnologias de informação e de comunicação e da implantação de um sistema comercial aberto e justo, com regras claras e previsíveis para todos.

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20 CAPÍTULO II

RESULTADOS ALCANÇADOS NO PERÍODO DE 1990 A 2010

Quando chegou a última década do século XX um clima de euforia tomou conta dos países desenvolvidos: após longo período de Guerra Fria, o mundo estava livre dos riscos do enfrentamento entre capitalismo e comunismo e vivia a era da globalização, unificado pela tecnologia. A realidade mostrava-se favorável, para que as barreiras remanescentes fossem vencidas, e parecia viável a busca de soluções conjuntas para os problemas da humanidade.

Esse panorama extremamente otimista ganhava, no entanto, colorações muito distintas quando o olhar se direcionava para determinadas regiões, como a América Latina, cujos países chegaram aos anos 1990, oprimidos por enormes dívidas internacionais e elevadíssimas taxas de inflação [Tabela 41]. Um forte processo de concentração de renda, que lançava milhões de pessoas desprotegidas em situações de pobreza e de miséria.

O mesmo cenário caracterizaria os países da América do Sul. Com um passado de períodos de ditadura, os países dessa região haviam deixado a década de 1980 como jovens democracias, tendo enfrentado experiências de instabilidade política, enormes endividamentos externos e desastrosos experimentos econômicos realizados pelos governos locais, que buscavam sem sucesso, a estabilidade de suas moedas. Uma “década perdida”, como seria denominada por muitos estudiosos.

Para as camadas sociais menos favorecidas, a década de 1980 não tinha características apenas de década perdida. Ao contrário, as precárias condições de progresso tinham acentuado fortemente os níveis de pobreza e de miséria, já existentes anteriormente, e a situação havia se deteriorado, sobretudo, em função dos longos períodos de elevadíssimos índices de inflação e das altas taxas de juros praticados pelos mercados, que a uns negava o crédito e de outros tirava o sustento da mesa.

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21 O resultado foi uma maciça exclusão social das camadas mais pobres da população e o distanciamento das oportunidades de educação e de geração de renda, opções que poderiam reverter o quadro.

Foi nesse contexto que as Nações Unidas realizaram as conferências sociais, com o objetivo de discutir amplamente as novas questões da agenda internacional, na busca de caminhos para o desenvolvimento e a projeção de um mundo melhor para todos, em ambiente de paz e de prosperidade no século XXI, que se aproximava.

Na América do Sul, os primeiros alívios viriam em meados da década de 1990, quando a maioria dos governos locais, beneficiados pela estabilidade do ambiente internacional, tinha renegociado as dívidas externas e levado a cabo as reformas que priorizaram a luta contra a inflação, abrindo um horizonte de estabilidade que uma geração inteira não havia conhecido.

Quando, no ano 2000, a comunidade internacional viria a se comprometer com os propósitos da Declaração do Milênio, a pobreza e a proporção de pessoas subnutridas já estava caindo lentamente na América do Sul. Na educação primária verificavam-se progressos e as taxas de mortalidade infantil e materna diminuíam fortemente em todos os países. A eqüidade de gênero e diversos indicadores de saúde continuava sendo um objetivo distante, como demonstram os dados das Nações Unidas. (APÊNDICE, Tabelas: 01, 08, 10, 14, 24).

As taxas da mortalidade infantil e materna, apesar de melhores, permaneciam inaceitavelmente altas na maioria dos países, refletindo a falta de atenção pública às necessidades das mulheres e ao acesso a informações e serviços de saúde sexual e reprodutiva. Milhares de pessoas eram portadoras do HIV/AIDS, registrando constantes aumentos dos índices de infectados. Por outro lado, a parcela da população com acesso à água potável segura e ao saneamento havia melhorado substancialmente em todos os países, exceto na Venezuela. (APÊNDICE, tabelas: 14, 18, 24, 30 e 31).

Para a análise mais detalhada dos avanços sociais e ambientais realizados pelos dez países da região, no período de 1990 a 2010, em relação aos Objetivos do Milênio, foi elaborado um apêndice para este trabalho, cuja formatação contou com os dados disponibilizados pelos diversos organismos das Nações Unidas.

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22 Antes de iniciar a leitura das tabelas do apêndice, que trazem os avanços referentes a 35 indicadores ODM, relativas aos resultados dos países da América do Sul, cabe esclarecer que os indicadores relativos às Metas 6B e 6C do sexto ODM, referentes ao tratamento do HIV/Aids e à redução da incidência da malária e de outras doenças graves, não fazem parte da apresentação, por falta de informações suficientes nas fontes das Nações Unidas.

Da mesma forma, não há disponibilidade regular de dados para os indicadores do sétimo Objetivo, relativos à proporção da população de peixes que vivem em limites biológicos seguros, à proporção do total de recursos hídricos utilizados e à proporção das áreas terrestres e marinhas protegidas.

2.1 – Os resultados dos ODM na América do Sul

Transcorridos dez anos desde a realização da Cúpula do Milênio, a América do Sul contabiliza progressos em todos os países da região, avançando nas metas estabelecidas pela ONU, em direção ao alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Os avanços mais significativos, neste sentido, foram alcançados na década de 2000, principalmente, no período de 2003 a 2008, quando o contexto internacional de dinamismo econômico contribuiu para que os países registrassem, em média, elevados índices de melhoria das condições de vida, favoráveis ao alcance dos ODM.

Os países impulsionaram a economia da região, gerando em conjunto, um elevado PIB [Produto Interno Bruto], que alcançou um crescimento médio anual de 5,95%. Reduziram a taxa de concentração de renda [Coeficiente de GINI] da região em 5,83%, fizeram crescer o PIB Per Capita da região em 77,04%, ampliaram o gasto público social por habitante/ano em 5,34%, e reduziram a taxa de desemprego, nos três últimos anos, em 36,20%. (APÊNDICE, tabelas: 36, 37,38, 39, 40).

A CEPAL relata que, se os países da América do Sul tivessem continuado a apresentar um desempenho semelhante ao da década de 1990, apenas o Chile, a Colômbia e o Uruguai atingiriam as metas de redução da pobreza até o ano de 2015.

O Brasil continuaria a reduzir a incidência de pobreza extrema, mas a um ritmo

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23 muito lento, enquanto a Bolívia, Equador, Paraguai, Peru e a Venezuela aumentariam seus níveis de pobreza extrema, em função da ampliação das desigualdades e da diminuição da renda per capita. (CEPAL, 2003:10).

O citado relatório não se refere à Argentina, que havia encerrado a década de 1990 com índices semelhantes aos do Chile e Uruguai, mas que desde 2001 enfrentava a mais importante crise política e econômica da sua história recente e procurava reafirmar seus compromissos com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, como ilustra o título do informe Los ODM en Argentina: La oportunidad para su reencuentro, publicado em 2003. (ARGENTINA, 2010:10).

2.1.1 – Argentina

Quando em 2009 o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, dirigia-se ao mundo, com a afirmação de que [...] “não podemos permitir que um ambiente econômico desfavorável nos obrigue a anular os compromissos assumidos em 2000”, referindo-se à crise financeira mundial de 2008, e aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, esta frase certamente teve repercussão na Argentina, não por ter sido afetada menos que outros países pela recente crise financeira4, mas pela lembrança do período de 2001 a 2003, quando aquele país enfrentou uma das piores crises econômicas e sociais da sua história e milhares de pessoas passaram a engrossar as fileiras da pobreza e da fome.

A crise de então, impactou fortemente o primeiro indicador dos ODM, que mede o percentual da população que recebe menos de um dólar PPC por dia e afetou de tal forma a população mais pobre do país, que o índice de 8,20%, de 1990, então o segundo melhor da América do Sul, passou para 16,90%, em 2004, duplicando o grau de pobreza extrema e empurrando o país para o quarto lugar no ranking da região, depois do Uruguai, Chile e do Brasil. (APÊNDICE, Tabela: 01).

4 A crise internacional impactou em cheio os mercados emergentes no ano de 2009. Graças ao alcance de sólidos fundamentos macroeconômicos e a uma agressiva estratégia de política econômica que buscou contrapor-se aos efeitos negativos da crise internacional, a economia argentina pode, pela primeira vez em sua historia, minimizar o impacto interno da crise e sair dela fortalecida, com um crescimento que na primeira metade de 2010 alcançou um ritmo semelhante ao de 2003-2008.

(ARGENTINA, Relatório ODM 2010:18).

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24 A Argentina reagiria, no entanto, rapidamente nos anos seguintes e, em quatro anos, já havia superado novamente o Brasil, apesar dos avanços vigorosos dos brasileiros, que diminuíram pela metade seu grau de pobreza, no mesmo período.

Com relação ao segundo Objetivo [ensino básico], os índices demonstram que a Argentina ocupa desde 1990 uma posição de destaque entre todos os países da América do Sul e continua avançando em direção à universalidade do ensino básico.

Quando se trata de promover a eqüidade de gênero, os argentinos colocam-se na vanguarda da América do Sul, não apenas pela boa posição já ocupada em 1990, mas em função dos avanços realizados nas duas décadas, quando as meninas superaram [em 6%] o número de meninos no ensino básico e médio, e a proporção de mulheres assalariadas no setor urbano aumentou em mais de 20%. (APÊNDICE, Tabelas: 12, 13)

Um reflexo desse avanço é o crescimento ala das mulheres que tomou conta das cadeiras do parlamento nacional: ao passo que em 1990 eram somente 6,3%, em 2009 o número de mulheres na representação nacional alcançava os 42%, o maior índice da América do Sul, até então. (APÊNDICE, Tabela: 14)

Apesar desses avanços, o indicador que registra a taxa da mortalidade materna continua sendo o ponto fraco da Argentina. O país avançou apenas 2,86%

em 18 anos, e o número de mães que ainda morrem em decorrência de complicações de parto, permanecia em 2008, praticamente igual ao de 1990. Neste item o país posiciona-se atrás do Brasil, do Chile, do Uruguai e da Venezuela. (APÊNDICE, Tabela: 18).

No que se refere à sustentabilidade ambiental a Argentina piorou o perfil que mede a emissão de dióxido de carbono e a proporção do território coberto por bosques e florestas. No entanto, reduziu o percentual da população que vive em favelas em 18,32%, no período de 15 anos e melhorou no mesmo ritmo também o acesso à água tratada e à infra-estrutura de saneamento. (APÊNDICE, Tabelas: 25, 26, 30, 31 e 32).

Finalmente, com relação à meta que trata do acesso aos benefícios das novas tecnologias de informação e de comunicação, o país já se posicionava em lugar privilegiado em 1990 e, apesar da revolução tecnológica que ocorreu nesse setor, na

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25 maioria dos países do mundo, a Argentina manteve-se na vanguarda da América do Sul, liderando ao lado do Uruguai, em linhas de telefone fixo e em possibilidades de acesso ao celular. Porém, no número de usuários de internet perdia para o Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Uruguai. (APÊNDICE, Tabelas: 33, 34 e 35).

No relatório de 2010 a Argentina promete reforçar as capacidades públicas para o pleno alcance das Metas do Milênio:

A caminho da meta de 2015, enfrentamos o desafio de sustentar os avanços alcançados e atender as questões pendentes para o cumprimento dos ODM.

Alguns desses desafios se relacionam com a erradicação da pobreza extrema e a fome, com a redução da mortalidade materna e a mortalidade infantil em todo o país, em incluir nas políticas públicas os grupos da população até agora postergados, e garantir a sustentabilidade ambiental.

(ARGENTINA, 2010: 11)

2.1.2 – Bolívia e Paraguai

O Estado Plurinacional da Bolívia, como se denomina oficialmente o país, é considerado o mais pobre da América do Sul, ao lado do Paraguai. Essa realidade aparece claramente nos índices apurados pelos indicadores ODM do período de 1990 a 2010, apesar dos avanços, que ambos os países fizeram nas duas décadas.

Enquanto na Bolívia o número de pessoas que ganhava menos de um dólar PPC por dia representava quase 40% da população, em 1990, no Paraguai o mesmo índice representava então 35%. Dezoito anos depois, pouco havia melhorado nos dois países: na Bolívia a condição de pobreza ainda era de 32,40%, enquanto no Paraguai o percentual era de 30,80%. Por outro lado, a participação dos 20% mais pobres da população boliviana e paraguaia recuperou-se de tal forma, que em 2008 deixavam para trás o Brasil, o Chile, a Colômbia e o Peru, como pode ser observado nas tabelas 01 e 03 do apêndice.

Um dos grandes destaques da Bolívia nos esforços, em direção ao alcance das Metas do Milênio, encontra-se na melhoria da alimentação das crianças com menos de cinco anos de idade. Neste setor o país liderou os avanços em toda a America do Sul, superando em 89,83% a posição de dezoito anos antes. A melhoria explica em parte os progressos alcançados também na diminuição da mortalidade infantil, mas

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26 mesmo assim, o país continua ocupando a pior posição entre os dez da região.

(APÊNDICE, tabelas: 07,16).

Na área da educação, Bolívia e Paraguai lideraram os progressos da América do Sul, na proporção dos alunos que iniciam o 1º ano e atingem o 5º ano escolar, alcançando patamar, próximos dos demais países, como pode ser visto na tabela 10 do apêndice.

Entretanto, o maior destaque da Bolívia ocorreu na área da saúde, na redução da taxa de mortalidade materna. Apesar de ainda ocupar o pior lugar na América do Sul [2008], com 180 mortes maternas, em cada 100.000 nascidos vivos, o país teve um avanço enorme, em relação a 1990, quando este número era de 510 mães, que não sobreviviam ao parto, resultado da falta dos cuidados pré-natais e da assistência insuficiente de profissionais de saúde. (APÊNDICE, Tabela: 18).

Os destaques da Bolívia continuam, e encontram-se ainda na proporção da população com acesso à infra-estrutura de saneamento, ao acesso a uma fonte de água tratada e na redução da população urbana que vive em favelas. Neste último item, o país avançou ao longo das duas décadas e superou em 38,89% a posição de 1990. (APÊNDICE, Tabela: 32).

A Bolívia acredita que a nova visão de desenvolvimento que vem sendo implantada em seu país nos últimos anos, é um processo que contribuirá para avançar mais em direção às Metas do Milênio:

Cremos que o atual momento de mudanças, tanto de orientação, como de estruturação do Estado, são uma oportunidade imemorável para visibilizar e impulsionar o acesso universal aos serviços sociais de qualidade, bem como para o desenvolvimento de uma agenda de vínculo para a união entre todos os bolivianos. (BOLÍVIA, 2010: 01).

O maior progresso do Paraguai, e de longe o melhor entre os dez países, aconteceu na diminuição da população urbana do país, que vive em favelas. Neste setor o Paraguai registrou no período de 15 anos um avanço de 110,23% sobre a posição de 1990, o que também impactou fortemente na melhoria do acesso à água tratada. (APÊNDICE, Tabelas: 30, 32)

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27 2.1.3 – Brasil

O Brasil, como maior e mais populoso país da América do Sul, mantinha no início da década de 1990 posições inferiores à Argentina, Chile, Uruguai e Venezuela em diversos indicadores que definem o ranking dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Ocupava essa posição no indicador que avalia os ganhos menores de um dólar PPC por dia, na proporção da população que não atinge o nível mínimo de consumo de calorias, na taxa de mortalidade infantil, na taxa de mortalidade materna, na proporção de postos ocupados por mulheres no parlamento nacional, na proporção de alunos que iniciam o 1º ano e atingem o 5º ano escolar e também na proporção urbana que vive em favelas, calculada então de 45% da população. (APÊNDICE, tabelas: 01, 08, 10, 16, 18, 30,31 e 32)

Com a Colômbia dividia os lugares mais atrasados na participação dos 20%

mais pobres da população no mercado de consumo nacional, na taxa de matrícula do ensino primário e na baixa alfabetização da faixa etária de 15 a 24 anos. Com a Venezuela registrava as taxas mais altas de homens e de mulheres de 15 a 49 anos que viviam com HIV/Aids. Na área da proteção ao meio ambiente, como em 1990, continua sendo o país que mais afeta a camada de ozônio da atmosfera, pelo consumo de substâncias que lhe são prejudiciais. (APÊNDICE, tabelas: 03, 09, 11, 24 e 27)

Os avanços do Brasil em direção ao cumprimento das Metas do Milênio foram muito significativos e constantes ao longo das duas décadas. Em 2004 o Brasil já havia reduzido o percentual da população que ganha menos de um dólar por dia, de 23,40%, em 1990, para 14,20% e nos quatro anos seguintes reduziria este índice novamente pela metade, registrando, com o Chile, os maiores avanços na diminuição de pobreza da América do Sul.

Outro destaque foi registrado na melhoria da proporção da população que não atinge o nível mínimo de consumo de calorias. O Brasil avançou especialmente a partir de 2003, posicionando-se, já em 2006, no mesmo nível da Argentina, do Chile e do Uruguai. (APÊNDICE, tabelas: 01 e 08)

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28 Com as melhoras promovidas na área da educação, o Brasil alcançou, em 18 anos, um perfil semelhante aos países mais avançados da região. Todos os países da América do Sul avançaram na educação, especialmente, aqueles que tinham uma grande defasagem, no início da década de 1990, como era o caso da Bolívia, do Brasil e do Paraguai.

Quanto à promoção da eqüidade de gênero, o melhor índice do Brasil encontra-se na razão entre meninas e meninos que freqüentam o ensino básico e médio, onde o número de meninas estudando, supera em 5% o número de meninos, segundo os dados de 2007. Na proporção de postos ocupados por mulheres no parlamento nacional registrou também uma melhora significativa, de 69,81% [2009].

(APÊNDICE, Tabelas: 12, 14).

Políticas públicas implantadas na área da saúde também empurraram os índices para cima. Os dados mostram uma melhora constante nas duas décadas, especialmente na taxa de mortalidade infantil, na vacinação contra o sarampo, na taxa de mortalidade materna, na proporção de partos assistidos, na maternidade entre adolescentes e nos cuidados pré-natais. (APÊNDICE, Tabelas: 16, 17, 18, 19, 21 e 22).

No que se refere à sustentabilidade ambiental, segundo os dados de 2005 e 2006, o país havia piorado, em relação à cobertura da superfície terrestre por bosques e florestas, na emissão de dióxido de carbono e melhorado com relação ao consumo de substâncias que afetam a camada de ozônio. Os dados do mesmo período demonstram ainda uma boa melhoria no que se refere ao acesso à água de boa fonte, ao saneamento e na redução da proporção da população urbana que residente em favelas. (APÊNDICE, tabelas: 25, 26, 27, 30, 31 e 32).

Enormes avanços ocorreram em relação ao acesso aos benefícios das novas tecnologias de informação e de comunicação. O país foi destaque, com o Peru, na ampliação do acesso a linhas de telefone fixo, e no número de usuários de internet, onde colocou-se na vanguarda da América do Sul, com a Colômbia e o Uruguai.

(APÊNDICE, Tabelas: 33, 34 e 35).

As estratégias do Brasil para cumprir os Objetivos do Milênio compreendem um conjunto de políticas públicas estruturadas, e de alcance nacional:

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É o caso do conjunto de ações estruturadas para o combate à fome e à pobreza. Somadas a outros fatores, como o crescimento da economia e a geração de empregos, elas já possibilitaram não apenas eliminar pela metade a proporção da população pobre no país [...], como também cumprir a meta mais ousada, assumida voluntariamente em 2005, de reduzir essa proporção para um quarto da população. (BRASIL, 2010: 12)

2.1.4 – Chile e Uruguai

Apesar de se encontrarem em conjunturas bastante distintas no início da década de 1990, os dois países destacam-se dos demais da região, por ocuparem as melhores posições, na maioria absoluta dos índices relacionados com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A eles junta-se ainda a Argentina, cujos arranjos foram afetados pela crise de 2001, mas que recuperou rapidamente seu perfil, como visto acima.

Estranhamente, o Uruguai mantém números muito elevados no percentual de crianças com menos de cinco anos que tem peso abaixo do normal. Em situação pior, pelos dados de 2003/2008, estaria apenas a Colômbia, o Equador e o Peru. O Chile, por sua vez, tem sua situação pior na proporção de mulheres entre os assalariados do setor urbano, onde apenas o Equador tem posição inferior.

Nos indicadores que se referem à sustentabilidade ambiental, em função das características da própria natureza, os países do pampa e o Chile têm as menores coberturas florestais da região.

Na área da preservação do meio ambiente, o Chile destaca-se pela elevada emissão de dióxido de carbono que, conforme dados de 2006, teria aumentado em 26,30% no período de 16 anos, e no consumo de substâncias que afetam a camada de ozônio, bem superior ao Uruguai e diversos outros países da América do Sul.

(APÊNDICE, Tabelas: 25, 26 e 27).

Com índices excelentes na maioria dos outros indicadores do ODM, os chilenos acreditam que os bons resultados devem-se às estratégias de desenvolvimento definidas e implantadas no país desde a recuperação da democracia:

Desde 1990, os governos da Concertación estabeleceram como seu objetivo central, melhorar a qualidade de vida de toda a população e, em particular,

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superar a pobreza, a desigualdade e as diversas formas de discriminação e de exclusão, na perspectiva de construir uma sociedade democrática aberta e igualitária, que permita a plena realização de direitos de todos os cidadãos. (CHILE, 2008: 06)

Na América do Sul, o Uruguai é o país que possui o maior índice de usuários de internet [2008] e que, ao longo dos últimos 20 anos, apresentou a maior estabilidade em manter bons índices relativos às Metas do Milênio.

O país encontra-se em plena sintonia com os ODM e reconhece neles sua agenda de políticas públicas e uma pauta de intercâmbio para o desenvolvimento sustentável:

Sem dúvida, não se deve esquecer que o alcance dos ODM não é somente uma questão de elevação dos indicadores, mas que é resultado de ações concretas, inseridas em projetos, programas e políticas. [...] as políticas públicas consideradas boas práticas para o alcance dos ODM constituem-se como material de intercâmbio de experiências realizadas em distintos países, contribuindo para o cumprimento dos ODM. (URUGUAI, 2010:

105)

2.1.5 – Equador e Peru

Como países vizinhos e integrantes da Comunidade Andina, o Equador e o Peru cumprem um desempenho bastante semelhante em diversos indicadores que avaliam os progressos em relação aos ODM.

Semelhanças encontram-se nos bons resultados dos indicadores que tratam do combate à pobreza, da melhoria da educação e da saúde. Mais próximos ainda, estão os índices da população que ganha menos de um dólar por dia, da proporção de alunos que iniciam o 1º grau e atingem o 5º ano escolar e da taxa de alfabetização da faixa etária de 15 a 24 anos. (APÊNDICE, Tabelas: 01, 10, 11)

Mas, os mais destacados progressos da parceria estão na área da eqüidade de gênero e na relação dos postos ocupados por mulheres no parlamento, onde ambos aparecem com avanços bem superiores à maioria dos países. Os dois registram ainda os maiores progressos, entre os dez, na diminuição das taxas de mortalidade infantil, na vacinação de crianças e no planejamento familiar. Neste último item foram superados somente pelo Paraguai. (APÊNDICE, Tabelas: 14, 16, 17, 23)

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31 Entretanto, há outros tantos itens dos ODM em que o Equador e o Peru tiveram desempenho diverso, como no índice do hiato de pobreza [incidência em relação ao grau de pobreza], na participação dos 20% mais pobres no consumo nacional e na relação entre emprego e população, no qual o Peru teve a melhor evolução entre os países. (APÊNDICE, Tabelas: 02, 03, 05).

As diferenças aparecem também na redução do percentual de crianças com peso abaixo do normal e na proporção da população ocupada que trabalha por conta, ou em empresa familiar, onde o Peru afirma uma peculiaridade nacional, detendo os melhores índices da América do Sul, desde 1990. (APÊNDICE, Tabelas: 06, 07)

Os dois países compartilham também posições desfavoráveis, e isso acontece na proporção da população que não alcança o nível mínimo de consumo de calorias.

O Peru mostra-se atento ao problema: (APÊNDICE, tabela: 08).

Dos nove programas articulados e idealizados para 2009, o primeiro é o Programa Articulado Nutricional. Este programa estratégico busca como resultado reduzir a crônica desnutrição dos menores de cinco anos de idade.

Para enfrentar esta situação, o programa se propõe a alcançar a redução do número de crianças que nascem abaixo do peso, melhorar a alimentação e a mortalidade por infecções respiratórias. (PERU, 2008: 34)

Individualmente, o Peru registra grandes avanços na taxa líquida de matrícula do ensino básico, ocupando a dianteira da América do Sul, com o Uruguai, e na área da saúde, onde foi o país que obteve a maior diminuição da taxa de mortalidade materna, em relação a 1990, depois da Bolívia. (APÊNDICE, Tabelas: 09,18)

Quanto aos esforços no campo da sustentabilidade ambiental, os números indicam que o Equador tem a menor taxa de cobertura florestal entre os países da América do Sul, localizados em região tropical, e que regrediu neste aspeto no período de 1990 a 2005. O país deseja posicionar-se melhor, mas verifica a necessidade de financiamento: (APÊNDICE, Tabelas: 25)

Utilizando como referência as prioridades das províncias e as políticas públicas setoriais, desenvolveremos uma proposta de relação e de implantação dos ODM para o ano de 2008. Será necessário revisar os planos operativos anuais dos diferentes setores do Estado e projetar sua intervenção para 2008. É importante registrar que as conexões com o eventual financiamento dos ODM irão aparecer. (EQUADOR, 2007: 243)

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32 2.1.6 – Colômbia e Venezuela

Como países vizinhos, que na década de 2000 viveram uma série de conflitos políticos, por razões ideológicas, a Colômbia e a Venezuela diferem também significativamente nos números indicadores dos ODM, que avaliam a erradicação da extrema pobreza e a fome.

A referência que mede os ganhos financeiros da população mais pobre, aponta para uma disparidade bem grande no grau de pobreza da população dos dois países, ao longo das duas décadas. Enquanto a população colombiana, que ganhava menos de um dólar PPC por dia, havia melhorado 13,97% [de 26,10% em 1990 para 22,90% em 2008], na Venezuela os progressos foram de 45,45% no mesmo período, o que diminuiu a extrema pobreza para 9,90%. (APÊNDICE, Tabela: 01)

Os indicadores dos ODM indicam que na Venezuela havia ocorrido um grande empobrecimento da população na década de 1990, e que melhorias significativas foram alcançadas no período de 2004 a 2008, quando o índice da parte da população que ganha menos de um dólar PPC por dia, foi reduzido de 22,7%, para 9,9%. (APÊNDICE, Tabelas: 01, 02, 03, 06, 07).

Na área da educação a Colômbia foi melhor, e registrou os progressos mais significativos da América do Sul, na taxa líquida de matrícula do ensino primário e na taxa de alfabetização das pessoas com faixa etária entre 15 e 24 anos, deixando para trás a posição de 1990, quando ocupava o pior lugar entre os países da região, ao lado da Bolívia. (APÊNDICE, Tabelas: 09, 11)

Quando se tratou de melhorar a eqüidade de gênero, ambos os países mostraram bom desempenho nas duas décadas. Apenas a Colômbia teve um retrocesso no número de cadeiras ocupadas por mulheres no parlamento nacional.

(APÊNDICE, tabela: 14).

Na área da saúde verifica-se uma disparidade entre os dois países. A Venezuela tem um patamar de índices melhores nos indicadores relativos à mortalidade infantil e de mortalidade materna. Mas, a Colômbia supera em muito o país vizinho na vacinação contra o sarampo e obteve bons resultados quando a questão foi reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna, e também em atender

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33 melhor a população nas necessidades relativas ao planejamento familiar.

(APÊNDICE, Tabelas: 16, 17, 18).

Na preservação do meio ambiente a Venezuela se equipara à Colômbia em cobertura vegetal, mas é a maior fonte de emissão de dióxido de carbono de toda a América do Sul, conforme dados de 2006. A Colômbia, por sua vez, continua com grande consumo de substâncias que afetam a camada de ozônio. Um aspeto negativo aparece para a Venezuela, e é relativo ao acesso a fontes de água tratada e à infra- estrutura de saneamento. Os dados das Nações Unidas demonstram que o país regrediu nestes dois indicadores. (APÊNDICE, tabelas: 26, 27, 30, 31).

Colômbia vê na avaliação dos dados relativos ao alcance dos ODM, tanto para o Governo, como para as agências de cooperação que atuam no país, uma oportunidade para fortalecer as políticas públicas e melhorar a vida de milhões de pessoas:

É um chamado para pensar e atuar mais no local com o objetivo de reduzir as enormes diferenças que se observam entre as regiões do país, que impedem que se alcance o desenvolvimento verdadeiramente equitativo.

[...] é um convite para trabalhar pelo país e mobilizar todas as forças necessárias para alcançar as metas propostas no tempo que falta até 2015.

(COLÔMBIA, 2010: 15)

A Venezuela ressalta os avanços alcançados na luta contra a pobreza, nutrição e mortalidade infantil, com a clara convicção de que o conjunto das estratégias do Governo alcançará as Metas do Milênio, dentro do prazo estabelecido:

Os progressos alcançados na instrumentalização da política social, avaliada constantemente por meio do exercício da realização efetiva, permitem visualizar nossa realidade à luz das Metas do Milênio, adequando sempre os programas e projetos às demandas emergentes no marco das necessidades reais da população. (VENEZUELA, 2010: 10)

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34 CAPÍTULO III

UMA PARCERIA GLOBAL PARA OS OBJETIVOS DO MILÊNIO

No oitavo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio a ONU faz o chamado para a formação de uma parceria global, com o propósito de promover o desenvolvimento de todos os povos, de maneira conjunta e coordenada, e superar a pobreza no mundo.

Rodrigo de Rato y Figadero, ex-Diretor Geral do FMI, [2004 a 2007], cobrava a responsabilidade dos países desenvolvidos para que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio não ficassem no projeto. Referindo-se à necessidade de melhorar a qualidade de ajuda aos países pobres, afirmava:

Se vamos realizar os Objetivos do Milênio, a maior carga de responsabilidade inevitavelmente deve recair sobre as economias avançadas, que têm uma tarefa dupla. Primeiramente, devem cumprir com seu compromisso de fornecer níveis mais elevados de ajuda e [...] em segundo lugar, os países desenvolvidos devem melhorar o acesso a seus mercados para exportações dos países em desenvolvimento e retirar subsídios que distorçam o comércio. (NAÇÕES UNIDAS. Projeto do Milênio, 2005:44).

Quando a ONU elaborou o conjunto dos Objetivos do Milênio, formulando o Sistema ODM com objetivos, metas e indicadores, deu grande importância à cooperação internacional e distribuiu as responsabilidades.

Ao passo em que dedicou os sete primeiros objetivos a metas específicas e recomendações e a serem seguidas e perseguidas pelos países em desenvolvimento, no âmbito interno de suas economias, reservou o oitavo objetivo para orientar e incentivar a prática da cooperação internacional, e estabelecer uma parceria mundial, que contribuísse de maneira focada para o progresso dos países menos desenvolvidos e assim, para a sustentabilidade e a erradicação da pobreza, no âmbito global.

Ana Toni (2010) explica, em seu texto sobre a trajetória da cooperação internacional, tratar-se de uma prática de muitos anos e que, no período da Guerra Fria, foi direcionada aos países menos desenvolvidos, especialmente por interesses ideológicos.

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35 No Brasil teria prestado serviços relevantes ao ajudar a manter e fortalecer as organizações democráticas na década de 1970, em resistência ao regime militar e, a partir da década de 1980, a articular o movimento negro, o movimento das mulheres, o MST [Movimento Sem Terra], os povos indígenas, as organizações sindicais, partidos políticos e outros. Em função da nova Constituição e por ter sediado a conferência sobre o clima, o apoio seria ainda maior na década seguinte:

[...] foi nos anos 1990 que o Brasil atingiu o seu auge no mundo restrito da cooperação internacional. Com a Eco 92 e uma Constituição sólida e inovadora, recentemente aprovada, os holofotes da cooperação internacional se voltaram para o Brasil. A cooperação internacional queria aprender com o Brasil e, como conseqüência, houve grande ampliação das fontes internacionais de apoio e recursos para a sociedade civil brasileira.

(TONI, 2010:2)

3.1 – A cooperação internacional na Declaração do Milênio

Na Declaração do Milênio a comunidade internacional reconheceu, como seu principal desafio, a implantação de um sistema em que a globalização viesse a ser uma força positiva para todos os povos do mundo e que seus benefícios, assim como os custos, não fossem distribuídos de forma tão desigual, como vinha ocorrendo.

O princípio adotado na Cúpula do Milênio reitera que [...] “os esforços devem incluir a adoção de políticas e de medidas, em nível mundial, que correspondam às necessidades dos países em desenvolvimento e das economias em transição, e que sejam formuladas e aplicadas com a sua participação efetiva”. (NAÇÕES UNIDAS, Declaração do Milênio, 2000:5)

O Sistema ODM deu objetividade aos propósitos da Declaração do Milênio, estabelecendo também metas para o engajamento mundial: a primeira meta do oitavo objetivo propõe o desenvolvimento de um sistema comercial e financeiro aberto, com base em normas previsíveis e sem discriminação; a segunda determina o atendimento das necessidades dos países menos desenvolvidos, com acesso a tarifas e cotas especiais na área do comércio e uma assistência oficial para promover a redução da pobreza.

Referências

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