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Horiz. antropol. vol.7 número16

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Academic year: 2018

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Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 4, n. 8, p. 182 - 198, junho de 1998 312

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 7, n. 16, p. 312-313, dezembro de 2001

VIANNA, Letícia C. R. Bezerra da Silva: produto do morro: trajetória e obra de

um sambista que não é santo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. 165 p.

Marilda Batista*

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil

A partir de uma trajetória exemplar, a do sambista Bezerra da Silva, Letícia Vianna nos faz percorrer um universo particular de redes e signifi-cados ao mesmo tempo em que propõe pistas, para além dos limites dos morros cariocas, visando a compreensão das relações entre cultura popular e comunicação de massa.

Quase sem querer, mas tendo em vista realizar um doutorado, a autora “descobre”, de acordo com suas próprias palavras, seu objeto de pesquisa num encontro fortuito em Copacabana com a esposa do sambista popular, proprietária de um salão de beleza posteriormente transformado em pensão. Depois de determinar as circunstâncias de seu encontro com Bezerra da Silva e de caracterizar o contexto familiar do compositor, a autora traça em linhas gerais a trajetória de vida, apontando os inúmeros aspectos da perso-nalidade do artista, tanto ligados a sua história pessoal quanto a sua condi-ção social, e que enriquecem as temáticas em seu universo musical.

Ao mencionar referências teóricas concernentes ao trabalho da memó-ria nos relatos autobiográficos, Letícia Vianna ressalta a construção deste personagem por ele mesmo. Ao mesmo tempo em que destaca a especifici-dade do percurso do “porta-voz do morro”, a autora opta por compará-lo a Luiz Gonzaga, conhecido artista representativo do meio rural nordestino. Com uma linguagem clara e precisa, de leitura fácil, o livro compre-ende nos dois primeiros capítulos as trajetórias singulares de Bezerra da Silva e de Luiz Gonzaga, para em seguida tratar da especificidade de cada uma em relação ao campo de possibilidades em que se inscrevem (p. 47). Ao comparar a trajetória e a obra dos dois artistas populares, ambos migrantes nordestinos que obtiveram sucesso no Rio de Janeiro, a autora busca refletir sobre a questão da identidade e sobre os mecanismos de

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inserção no universo da cultura musical brasileira.

Nos capítulos 3, 4 e 5 do livro, a autora coloca em evidência os ele-mentos autobiográficos no repertório de Bezerra da Silva, que o caracteri-zam como um “puro produto do morro” e as diferentes vozes sociais que o autorizam a se autoproclamar o “embaixador da favela”. Citando uma con-tribuição de Alba Zaluar que diz respeito aos dois tipos de socialização presentes na favela, ou seja, o trabalhador e o bandido, que ela apresenta sob o título de “a máquina e a revolta”, Letícia Vianna aborda os temas relativos à oposição entre pretos e brancos, e as representações simbólicas da malandragem, do bandido, do mané e do trabalhador presentes nas can-ções de Bezerra da Silva.

O último capítulo de Bezerra da Silva: Produto do Morro é dedicado a uma análise comparativa entre o “sambandido” e o “sambalanço”, dois tipos de pagode, tendo como base o estudo das representações das relações de gênero contidas no repertório musical de diferentes grupos.

Os amadores do samba de partido alto terão certamente muito prazer em ler esta obra que, ao trazer aspectos da vida de Bezerra da Silva pouco conhecidos do público em geral (ressaltando seu período de mendicidade, sua conversão religiosa à umbanda e suas dificuldades de relacionamento com as mulheres), desvenda processos mais amplos que envolvem relações familiares e sociais, bem como diferentes redes de sociabilidade, represen-tações e imaginários, revelando as estratégias de existência.

O livro de Letícia Vianna contribui para o entendimento do samba enquanto expressão cultural e suas complexas relações com o mercado pro-fissional da música, na contramão da tendência, na cultura de massa, da desvalorização da velhice, banalização e despolitização das formas artísticas (p. 156). Por fim, torna-se possível também compreender a fascinação exercida pelo sambista, transformado em objeto de estudo pela autora.

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