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DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS: UMA ANÁLISE DOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS ( )

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Academic year: 2022

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DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS: UMA ANÁLISE DOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS (2010-2019)

Bárbara Tisse da Silva¹; Paulo Roberto Hernandes Júnior²; Patrick de Abreu Cunha Lopes3; Laura Marques Barros4; Tiago Veiga Gomes5; Juliana de Souza Rosa6; Rossy Moreira Bastos

Junior7; Paula Pitta de Resende Côrtes8

¹ Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina.

barbaratissedasilva98@gmail.com

² Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

paulorh.med@gmail.com

3 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

patrick.abreu33@gmail.com

4 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina.

lauramb00@hotmail.com

5 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

tiagoveigamed@gmail.com

6 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmica de Medicina.

srjuliana1@gmail.com

7 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Macaé, Rio de Janeiro, Brasil. Docente/Preceptor de Medicina. dr.rossymbastos@uol.com.br

8 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Docente de Medicina.

paulapitta@yahoo.com.br

Seção: Saúde.

Formato: Artigo Original.

ABSTRACT

The present study aims to characterize the epidemiological profile of victims of venomous animals, focusing on arachnism, scorpionism and snakebites, relating to local biodiversity and the spatial distribution of cases. An epidemiological, cross- sectional and descriptive analysis was carried out on the panorama of accidents by venomous animals in Brazilian regions, using information available in the Notifiable Diseases Information System. Information provided by the system filters in relation to notifications by region, federation units, age group, sex, education, ethnicity, cause of the accident, gender of the animal, time between the bite and the service, severity

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and evolution of cases were included. In the 10 years analyzed, from 2010 to 2019, 1.844.384 confirmed cases of accidents by venomous animals were observed in Brazil, the victims most affected were male (55,7%), brown (43%) and were between 20 and 39 years old (33%). As for the cause of the accident, the scorpion was the animal that generated the most cases (956.282), followed by spiders (297.606) and snakes (283.303). Regarding severity, 80,2% were mild cases and 91,8% were cured. The need for programs aimed at preventive health actions and also educational strategies was concluded, both for professionals and for local communities. The correct identification of the etiologic agent, combined with good patient management, based on the protocols, in addition to incentives for epidemiological research, are ways to prevent possible bad outcomes for victims.

KEYWORDS: Epidemiological report; Venomous animals; Brazil.

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo caracterizar o perfil epidemiológico de vítimas de animais peçonhentos, dando foco no aracneísmo, escorpionismo e ofidismo, relacionando com a biodiversidade local e a distribuição espacial dos casos. Foi realizada uma análise de caráter epidemiológico, transversal e descritivo, sobre o panorama de acidentes por animais peçonhentos nas regiões brasileiras, por meio de informações disponibilizadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Foram incluídas as informações fornecidas pelos filtros do sistema em relação às notificações por região, unidades de federação, faixa etária, sexo, escolaridade, etnia, causa do acidente, gênero do animal, tempo entre a picada e o atendimento, gravidade e evolução dos casos. Nos 10 anos analisados, de 2010 a 2019, foram observados 1.844.384 casos confirmados de acidentes por animais peçonhentos no Brasil, as vítimas mais atingidas eram do sexo masculino (55,7%), pardos (43%) e tinham entre 20 e 39 anos (33%). Quanto a causa do acidente, o escorpião foi o animal que mais gerou casos (956.282), seguido pelas aranhas (297.606) e serpentes (283.303). Em relação à gravidade, 80,2% foram casos leves e 91,8% foram curados. Concluiu-se a necessidade de programas que visem ações preventivas de saúde e também estratégias educacionais, tanto para os profissionais, quanto para as comunidades locais. A correta identificação do agente etiológico, aliado ao bom manejo do paciente, pautado nos protocolos, além de incentivos às pesquisas epidemiológicas, são formas de prevenir possíveis desfechos ruins para as vítimas.

PALAVRAS-CHAVE: Relatório epidemiológico; Animais peçonhentos; Brasil.

1 INTRODUÇÃO

Os acidentes gerados por animais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e serpentes, são classificados pela Organização Mundial da Saúde como Doenças

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Tropicais Negligenciadas (DTNs). Essa categoria de doenças tem a particularidade de atingir mais indivíduos em vulnerabilidade social, que apresentam precário saneamento básico e pouco acesso ao serviço básico de saúde (MOLYNEUX, 2013).

Animais peçonhentos são capazes de produzir veneno e inoculá-lo em suas presas por meio de estruturas, como dentes e ferrões. Os sinais e sintomas na vítima irão variar da espécie e do gênero do animal, podendo causar efeitos locais ou sistêmicos, entre as manifestações leves, o paciente pode apresentar dor no local. Já em casos moderados, ele poderá apresentar taquicardia, taquipneia e náuseas, já em casos graves, choque e convulsão (CUPO et al., 2003).

Ademais, a distribuição geográfica dos acidentes tem como fatores influenciadores o tipo de clima e vegetação. Cada ecossistema apresenta animais com mecanismos de inoculação de veneno e gravidade que variam dependendo da espécie. Além disso, o grau de ocupação humana e a invasão do hábitat desses animais tendem a causar um desequilíbrio ecológico, gerando maior contato entre humanos e a fauna local, consequentemente, mais acidentes(SOUZA, 2019).

De acordo com as informações divulgadas pelo Ministério da Saúde a partir dos dados do Sistema de Notificação de Agravos, ocorreram, de 2010 a 2019, 1.844.384 acidentes por animais peçonhentos no Brasil. Dessa forma, apesar de ser alto o número de acidentes, ainda há regiões brasileiras que são subnotificadas, demonstrando, portanto, a relevância dos estudos epidemiológicos para a saúde pública nacional.

2 OBJETIVO

Descrever as notificações registradas no sistema de acidentes com animais peçonhentos nos últimos 10 anos, tendo como foco o perfil dos pacientes mais atingidos e a distribuição geográfica dessas notificações. O intuito do estudo é demonstrar a necessidade da criação de mecanismos protocolados que visem diminuir os acidentes, as suas possíveis complicações e desfechos graves, além de melhorar as estratégias de distribuição de soros e treinamento dos profissionais de saúde.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado um estudo epidemiológico (transversal e descritivo) sobre o panorama de acidentes por animais peçonhentos nas regiões brasileiras, por meio de informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, no sistema de consulta de banco de dados do DATASUS TABNET, classificados como Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net, por meio de dados inseridos no grupo de acidentes por animais peçonhentos, sendo quantificados por filtros para inserção de fatores de inclusão e exclusão.

No contexto escolhido, o local de estudo para amostragem foram as 5 regiões brasileiras, em um período de 2010 a 2019. Como critérios de inclusão foi realizada uma análise utilizando os filtros fornecidos pelo sistema em relação às notificações por região, unidades de federação, faixa etária, sexo, escolaridade, etnia, causa do acidente, gênero do animal, tempo entre a picada e o atendimento, gravidade e evolução do caso.

Foram excluídos dados de notificações de outros países ou em um lapso de tempo não correspondente ao período de 10 anos avaliado. Para fundamentação teórica foi realizada uma análise na literatura nacional e internacional em bases de dados do PubMed e Scielo, além de outras fonte de informações disponíveis em sites eletrônicos, artigos e revistas, sem filtragem sistemática, objetivando apenas justificar o tema e trazer discussões relevantes referente ao mesmo.

Por tratar-se de um trabalho realizado com informações disponibilizadas por um banco de dados de domínio público, não foi necessário submissão e aprovação do trabalho pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com Seres Humanos.

4 DESENVOLVIMENTO 4.1 RESULTADOS

Foi observado um total de 1.844.384 casos de acidentes por animais peçonhentos no Brasil, no período de 2010 a 2019. Vale ressaltar que houve uma variação significativa entre os anos, tendo o máximo ocorrido em 2019 (n = 276.346) e o mínimo, em 2010 (n = 124.871). Em média, houve 184.438 acidentes por

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animais peçonhentos por ano, sendo que o mês de janeiro foi o que apresentou maior número de casos (181.417), seguido de março (174.008) e dezembro (173.769) – Gráfico 1.

Gráfico 1. Notificações segundo mês do acidente por animais peçonhentos no Brasil (2010 a 2019).

Fonte: Dados extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), enquadradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Referente ao território de notificação, o Sudeste foi a região que apresentou mais notificações (670.480), sendo que em relação aos meses de acidentes, dezembro apresentou o valor máximo (n = 67.283) e o mínimo ocorreu em junho (n

= 44.019). Ainda em relação às regiões, o Centro-Oeste apresentou o menor número de casos relatados (101.450). Outrossim, os estados com mais notificações foram Minas Gerais (331.208), São Paulo (273.768) e Bahia (172.215) – Gráfico 2.

Gráfico 2. Casos confirmados nas Unidades da Federação de acidentes por animais peçonhentos no Brasil (2010 a 2019).

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Fonte: Dados extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), enquadradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Já em relação à etnia, houve mais casos entre pardos (793.868), correspondendo a média de 79.387 acidentes por ano. Seguido de brancos (660.009), pretos (101.036), indígenas (17.568) e menos casos entre os amarelos (13.413), ademais, 258.490 tiveram essa variável ignorada (14%). Quando analisado as regiões de forma individual, Norte, Nordeste e Centro-Oeste mantiveram o padrão de predomínio da cor parda, já o Sul e Sudeste houve predominância da cor branca.

Quanto à faixa etária, do total de casos, em 294 casos notificados essa variável foi ignorada. Houve um aumento proporcional dos acidentes conforme o aumento da idade, com pico em indivíduos entre 20 e 39 anos (605.188). A partir de 40 anos

331,208 273,768

172,215 150,562 133,493 89,704

87,259 75,439 56,204 56,170 51,596 50,213 42,943 41,654 29,644 28,795 26,106 24,430 23,678 22,854 15,817 15,522 12,029 10,430 9,426 7,344 6,815

- 50,000 100,000 150,000 200,000 250,000 300,000 350,000 Minas Gerais

São Paulo Bahia Paraná Pernambuco Santa Catarina Alagoas Pará Rio Grande do Sul Rio Grande do Norte Ceará Espírito Santo Goiás Paraíba Tocantins Maranhão Piauí Amazonas Mato Grosso do Sul Mato Grosso Rio de Janeiro Sergipe Distrito Federal Rondônia Acre Amapá Roraima

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houve um declínio que se manteve gradual até atingir o menor valor em pacientes com 80 anos ou mais (24.601) – Gráfico 3.

Gráfico 3. Número de casos confirmados por sexo segundo a faixa etária nos acidentes por animais peçonhentos no Brasil (2010 a 2019).

Fonte: Dados extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), enquadradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Referente ao sexo, nos 10 anos analisados houve predominância de casos nos homens, com um total de 1.021.375 notificações. Quanto às mulheres, houve registro de 811.702 casos, sendo o Nordeste a única região com predomínio feminino no número de casos (309.401). Além disso, 405 indivíduos tiveram essa variável ignorada. Em um recorte da população feminina, houve um total de 15.774 acidentes em gestantes. Desse total, 3.931 ocorreram no primeiro trimestre, 5.460 no segundo e 3.928 no terceiro, em 2.455 a idade gestacional foi ignorada.

Quanto à escolaridade, 36,9% do total foram ignorados, o maior valor esteve entre indivíduos com a 5ª a 8ª série incompleta do Ensino Fundamental (206.698), seguido da 1ª a 4ª série incompleta (203.293), Ensino Médio completo (194.022), Ensino Médio incompleto (102.717), 4ª série completa (98.841), Ensino Fundamental completo (93.191), Analfabetos (40.716), Educação Superior completa (38.340), Educação Superior incompleta (21.063) e em 156.990 essa variável não pôde ser aplicada.

Quando analisado a causa do acidente, o Escorpião foi o animal peçonhento que mais gerou casos notificados (956.282), seguido pelas aranhas (297.606), serpentes (283.303), abelhas (137.668), outros animais não especificados (76.971),

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lagartas (43.220) e 38.432 casos tiveram o agente gerador do acidente ignorado. Na região Norte houve mais acidentes com serpentes, Nordeste, Sudeste e Centro- Oeste tiveram predomínio do escorpião, já o Sul apresentou mais casos de acidentes por aranhas – Gráfico 4.

Gráfico 4. Número de internações segundo o tipo do acidente no Brasil (2010 a 2019).

Fonte: Dados extraídos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), enquadradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Do total de animais peçonhentos, 43.709 eram aranhas do gênero Phoneutria, 79.278 eram aranhas Loxosceles e 1.255 eram aranhas Latrodectus. Já em relação ao gênero das serpentes, 201.985 eram Bothrops, 22.455 Crotalus, 2.440 Micrurus, 7.504 Lachesis. Os escorpiões, apesar de serem os animais peçonhentos mais prevalentes no país, não houve dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, também não houve registro dos gêneros de abelhas e lagartas.

Referente ao tempo entre a picada e o atendimento pela equipe de saúde, 813.116 indivíduos foram atendidos em até 1 hora, 434.443 foram atendidos de 1 a 3 horas, 150.261 de 3 a 6 horas, 69.741 de 6 a 12 horas, 74.431 de 12 a 24 horas e 120.697 pacientes foram atendidos após 24 horas da picada. Desses, 1.481.852

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foram classificados como acidentes leves, 236.107 como moderados e 33.308 graves, em 82.215 a classificação por gravidade foi ignorada.

Em relação à evolução do acidente pelos animais peçonhentos, 1.684.912 casos evoluíram para cura, 2.699 óbitos pelo agravo notificado, 327 óbitos por outra causa e 145.544 tiveram sua evolução não registrada.

4.2 DISCUSSÃO

Milhões de pessoas são vítimas de envenenamento por animais peçonhentos a cada ano. Devido a isso, o Ministério da Saúde implantou o Programa Nacional de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos (PCAAP), com o objetivo de garantir assistência aos acidentados. No Brasil, os escorpiões, serpentes e aranhas são os principais agentes de acidentes, eles são capazes de inocular o veneno em suas presas, gerando transtornos transitórios, incapacidades ou até mesmo a morte.

Para o tratamento específico desses acidentes foram desenvolvidos os antídotos que são baseados em anticorpos policlonais derivados do plasma de animais hiperimunizados(LAUSTSEN, et al., 2020; PUCCA et al., 2019).

O Brasil é um país tropical e apresenta enorme biodiversidade em toda a sua extensão, fatores estes que favorecem o aumento da incidência de acidentes com animais adaptados a essas condições (SOUZA, 2019). Ademais, houve mais notificações em dezembro, janeiro e março, o que poderia ser justificado pelas características da estação do verão, normalmente quente e chuvoso, o que pode favorecer a presença desses animais. Outrossim, são os meses que, no geral, as pessoas estão de férias e atividades, como viagens, permitiriam maior contato entre a população e os animais peçonhentos.

Quando analisadas as regiões, o escorpião foi o animal peçonhento que mais gerou casos (956.282), com predomínio no estado de Minas Gerais e São Paulo. O escorpionismo, por ter ampla distribuição geográfica e alta letalidade, é de grande relevância para a saúde pública (LISBOA et al., 2020). No Brasil, os gêneros que tendem a causar mais acidentes são Tityus serrulatuse, Tityus bahiensis e Tityus stigmurus. O mecanismo de ação do veneno, além de causar dor local, também atua nos canais de sódio, ocasionando despolarização das terminações nervosas pós-

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ganglionares, com liberação de catecolaminas e acetilcolina, tendo posteriormente manifestações orgânicas(BRASIL, 2019).

A inoculação do veneno em acidentes escorpiônicos podem afetar todos os órgãos do ser humano, tais como sinais e sintomas respiratórios, cardiovasculares e neurológicos. Essas manifestações podem variar de gravidade, sendo que, de forma leve, o paciente apenas apresentará dor local e parestesia, em casos moderados, pode haver vômitos taquicardia e hipertensão leve. Em casos graves, o óbito decorre de complicações relacionadas ao choque e edema pulmonar. Nesses pacientes com gravidade moderada e grave, o tratamento específico se faz necessário e é realizado com a administração de soro antiescorpiônico ou antiaracnídico(BRASIL, 2019).

O aracneísmo causou 297.606 casos nos últimos 10 anos, sendo o Sul a região com mais registros de casos. Phoneutrias (conhecida como aranhas armadeiras), Loxosceles (aranhas-marrons) e Latrodectus (viúvas-negras) são os gêneros de aranhas de maior importância médica no país. O paciente acidentado pode apresentar dor local, eritema, úlcera, sudorese, agitação, hipertonia, entre outros sinais e sintomas, porém, normalmente tem evolução benigna. Assim, em casos leves é feito o tratamento de suporte, com a utilização de analgésicos, já a soroterapia é indicada nos casos com manifestações sistêmicas (BRASIL, 2019;

PORRAS-VIMAMIL et al., 2020).

O ofidismo refere-se ao acidente causado por serpentes e, no período analisado, houve 283.303 casos no Brasil, com predomínio da região Norte. Em relação ao gênero, os principais são Bathrops, Crotalus e Lachesis. O acidente botrópico é o tipo de maior relevância no país, pois corresponde a cerca de 90% dos acidentes. De forma geral, o veneno das serpentes têm ação proteolítica, coagulante, hemorrágica, neurotóxica e miotóxica, podendo causar complicações severas, como síndrome compartimental, necrose, insuficiência renal aguda e choque. O tratamento específico irá variar entre os gêneros da serpente, podendo ser feito com soro antibotrópico, soro anticrotálico e soro antilaquético (BRASIL, 2019; CHIPPAUX, 1998; NASCIMENTO DA COSTA et al., 2020).

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Um ponto a ser analisado é o tempo entre a picada e o atendimento pelos profissionais de saúde. Muitos dos acidentes com animais peçonhentos ocorrem em áreas rurais, onde as vítimas estão distantes da assistência hospitalar. Isso se prova verdadeiro pela demora no atendimento da vítima, sendo que em 120.697 casos, o atendimento só ocorreu após 24 horas da picada. Caso o atendimento não ocorrer precocemente, o paciente pode apresentar complicações ou morrer, como ocorreu com 2.699 pacientes que foram a óbito pelo agravo notificado, podendo ser um número mais elevado, já que há subnotificação em todo o país (SANTANA et al., 2020).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica evidenciado, portanto, a necessidade de programas de prevenção em saúde, assim como estratégias educacionais em primeiros socorros para a população em geral, principalmente nas localidades mais acometidas. A educação continuada entre os profissionais de saúde também se faz necessária, com o intuito de serem treinados quanto à identificação dos agentes etiológicos, triagem correta dos pacientes e uso adequado dos soros. Outrossim, pesquisas epidemiológicas abrangentes devem ser incentivadas como forma de evitar a falta ou a baixa qualidade das notificações para servirem como orientação de políticas públicas nacionais.

6 REFERÊNCIAS

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