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SATERÉ-MAWÉ E SÁMI: CULTURAS INDÍGENAS ANCESTRAIS SOB O OLHAR DO TURISMO ÉTNICO

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JOELMA MONTEIRO DE CARVALHO

SATERÉ-MAWÉ E SÁMI: CULTURAS INDÍGENAS ANCESTRAIS SOB O OLHAR DO TURISMO ÉTNICO

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2020

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UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria - PPGTH Curso de Doutorado em Turismo e Hotelaria

JOELMA MONTEIRO DE CARVALHO

SATERÉ-MAWÉ E SÁMI: CULTURAS INDÍGENAS ANCESTRAIS SOB O OLHAR DO TURISMO ÉTNICO

Tese apresentada ao colegiado do PPGTH como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Turismo e Hotelaria – área de concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e da Hotelaria – (Linha de Pesquisa:

Planejamento do Destino Turístico).

Orientador: Prof. Dr. Luciano Torres Tricárico.

Coorientadora: Profa. Dra. Solange Pereira do Nascimento.

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC) 2020

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UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria - PPGTH Curso de Doutorado em Turismo e Hotelaria

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO JOELMA MONTEIRO DE CARVALHO

SATERÉ-MAWÉ E SÁMI: CULTURAS INDÍGENAS ANCESTRAIS SOB O OLHAR DO TURISMO ÉTNICO

Tese avaliada e aprovada pela Comissão Examinadora e referendada pelo Colegiado do PPGTH como requisito parcial à obtenção do grau de Doutor em Turismo e Hotelaria.

Balneário de Camboriú, 30 de novembro de 2020.

Membros da Comissão:

Presidente:

Dr. Luciano Torres Tricárico (UNIVALI) Membro Externo

Dra. Solange Pereira do Nascimento (UEA) Membro Externo

Dra. Cláudia Marinho Wanderley (UNICAMP/SP) Membro Interno

Dr. Francisco Antonio dos Anjos (UNIVALI) Membro Interno

Dr. Luiz Carlos da Silva Flores (UNIVALI)

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AGRADECIMENTOS

O poeta João Cabral de Melo Neto, ao escrever o poema “Tecendo Amanhã”, já preconizou que “o galo sozinho não tece o amanhã”, nessa direção, da mesma forma, o homem precisa de outro homem para tecer o amanhã. O percurso desse estudo de doutorado não pode ser resumido apenas a uma trajetória do campo de pesquisa. Ele se constrói por percurso individual, social e espiritual.

Assim, pelos encantamentos da floresta Amazônica e pelos segredos dos fiordes da Noruega, agradeço arduamente, a gratidão por todas as pessoas e instituições que contribuíram para que o resultado que aqui se apresenta fosse plausível. Mesmo correndo o risco de ser injusta, ao não elencar todos os nomes dos que de alguma maneira contribuíram para que eu seguisse nessa empreitada.

A seguir, destacaremos aqueles que diretamente nos deram apoio nesses anos de aprendizagens.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo fomento por consolidar iniciativas de fortalecimento ao DINTER.

Reitor da Universidade do Estado do Amazonas/ UEA, professor Dr. Cleinaldo de Almeida Costa pela coragem e determinação em promover o DINTER, com a Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI, em prol do desenvolvimento profissional, acadêmico e científico para o Estado do Amazonas.

À Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI representada pelos professores de excelência e de inovação, os quais foram responsáveis pelo compartilhamento dos conhecimentos.

À Universidade de Tromsø pelo acolhimento e encaminhamentos acadêmicos (UIT).

À Embaixada da Noruega em Brasília, na pessoa do senhor Kristian Bengtson, coordenador do Programa de Apoio aos Povos Indígenas, pela habilidade de ouvir, trocar as experiências e os devidos encaminhamentos.

Ao Centro de Estudos Sámisk, em Tromsø/Noruega, na pessoa do Dr. Torjer Andreas Olsen (UIT) e toda a sua equipe do Centro Sámi.

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À secretaria de Estado da Educação e Qualidade do Ensino do Amazonas pela sensibilidade em compreender que é necessário fazer ciência para o desenvolvimento da Amazônia.

A Coordenadora dos Cursos de Gastronomia e Turismo e Hotelaria Prof.ª Célia Denise Uller pelo apoio e incentivo, durante o Estágio Doutoral.

Aos coordenadores do DINTER/ Professor Dr. Francisco Antônio dos Anjos (UNIVALI), Professora Dra. Selma Batista e Dra. Edilza Laray de Jesus (UEA) por acreditar na inovação científica para o Estado do Amazonas, num diálogo do Norte com o Sul do Brasil.

Ao professor Dr. Luciano Torres Tricárico, meu grande tuxaua, pelos momentos de orientações, na condução dessa tese.

A minha coorientadora professora Dra. Solange Pereira do Nascimento, a mestra xamã, que nos empoderou para os achados científicos, além de líder do grupo de Pesquisa Mythos (UEA). Obrigada por todos os aconselhamentos.

A professora Dra. Dra. Cláudia Marinho Wanderley e aos professores Dr. Luiz Carlos da Silva Flores e Dr. Francisco Antônio dos Anjos que além de aceitarem o convite para participar da banca, apresentaram valiosas contribuições no exame de qualificação.

A diretora da Escola Superior de Tecnologia/UEA, professora Mestre Ingrid Gadelha, pelo apoio, incentivo e compreensão.

À senhora Wilqui Dias e esposo Egil Lundstedt, pela atenção, explicação e entrevistas cedidas durante a estadia em Tromsø.

A Senhora Unni Lundstedt e família por ceder tão valiosas entrevistas, narrando histórias sagradas do povo Sámi com as vestes Kolt e Gákti. Momentos de muitas emoções.

A senhora Trine Marit e esposo por abrir sua comunidade Sámi e acreditar em nossos estudos participando dos rituais de acolhida regado ao prato típico, bidos de carne de rena, sonorizado pelo yoik.

Ao senhor André Bonotto, fotógrafo e agente de turismo pelas lives em plena pandemia, direto do campo Sámi. À Sra. Vanessa Jensen e a Sra. Susanne Normann em proporcionar momentos dialógicos em Tromsø e Oslo-Noruega. Ao casal Sámi por me receber, uma estrangeira da Amazônia.

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Ao meu xamã esposo Waldemir Lima de Carvalho e aos meus pontos cardeais da base matrimonial: Diego Monteiro de Carvalho, Bruno Monteiro de Carvalho e Agnes Monteiro de Carvalho pelo total apoio, ensinamentos e caminhadas com as respectivas famílias.

Ao casal Diego (filho) e Lilian (nora) pelo presente da minha primeira neta. Ela vai chegar e fazer parte do empoderamento feminino. À Bebel, minha preciosa neta canina, que ama, sente e expressa seus sentimentos, pelos momentos de guarda.

A minha raiz ancestral, inesquecível e eterna professora, minha mãe Maria da Conceição do Carmo Monteiro e pai Jorge Monteiro, in – memoriam. Obrigada pelo dom da vida e pelos ensinamentos tão preciosos.

A minha constelação de irmão Joelson, Joseane, Nagib Jorge, Josué, Júlio, Jadson, Carlos Fabrício, Zenilson e respectivas famílias pelos mimos que supriram meus desejos.

À estimada sogra Benedita Lima de Carvalho, minha Aurora Boreal, aquela que ilumina, pelas infinitas orações intencionadas ao meu trajeto.

Aos sete cunhados, em especial Waldemar Lima de Carvalho e Shirley Lima de Carvalho e família, pelo acolhimento e apoio em Balneário de Camboriú e em Gaspar - Santa Catarina/SC.

Ao casal de amigos, em Balneário, Corina Ramos e família pelo almoço literário, encorajamento e sessão de harmonia plena com Jin Shin Jyutsu.

À minha parceira e amiga das incursões nos territórios étnicos, dona de um coração melancólico e apaziguador, Daniele Marian Araújo, amiga sonhadora com os mesmos ideais.

Obrigada por compartilhar momentos tão especiais.

Ao colega Francisco Irapuã, heroico e persistente, gratidão pelos trocadilhos e momentos filosóficos do café nos corredores da Univali, foram muitas aprendizagens.

À querida aguerrida, Cláudia Menezes Martins pelas degustações gastronômicas desde o peixe tainha até ao sanduiche x-caboquinho, enfim, recheadas de um bom papo e fé.

Aos demais colegas do DINTER, pelos momentos de aprendizagens, divertimentos, apoio, incentivo e solidariedade durante o período do doutoramento.

À estimada professora Dra. Francisca Moraes pelo apoio e compreensão desde o início dessa fase, promulgando sábias palavras guiadoras.

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Ao amigo querido William Sandes, nosso Thor, por se dispor em viajar, do Rio de Janeiro até Balneário de Camboriú para momentos memoráveis e aventureiros.

À imensa generosidade do casal amigo Francisco Máximo Gomes e Eliana de Almeida Monteiro pelo olhar acadêmico nos dias do café literário.

Aos colegas de trabalho da UEA/ EST, na pessoa da professora Mestra Rejane Gomes Ferreira, coordenadora do curso de Engenharia de Produção, pelos livros e parcerias nos projetos.

À querida amiga professora Mestra Nadja Polyana Cabete pelos momentos de diálogos sobre ciência na Amazônia.

A minha amiga professora Mestra Margarida Liliane de Sá Brito pelas vibrações e trocas de saberes na trajetória profissional.

Aos professores Mestre Rodrigo Teixeira e Francisco Gomes pela confiança no compartilhamento dos acervos bibliográficos.

Ao povo Sateré representados pelo tuxaua Pedro Ramãw, esposa Yrá Ticuna e família da comunidade Inhãa-bé, pelos saberes compartilhados nas rodadas do sakpo.

À tuxaua Midian Silva, ao pajé Sahu, ao professor João e toda sua esquipe da Comunidade Sahu-Apé, pelos momentos de conhecimentos e de cura espiritual na kunã.

Ao Trovão (Huru-huru’é) Rucian da Silva Vilácio, e Regina Vilácio da Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé – AMISM, pelos projetos idealizados em prol da nação.

À queridíssima Vanessa Damasceno minha designe gráfica e companheira de projetos em prol dos Sateré-Mawé e Sámi.

Aos artistas e ex-aluno do curso de Licenciatura Plena em Computação Hector Lucas Cavalcante de Souza Rocha (EST/UEA), Eliandro Tavares, Josinaldo Matos (Artistas parintinenses) e ao professor Bruno Eduardo Rosas Marcílio pelas generosas traduções.

Aos espíritos da floresta pela calmaria, saúde e perseverança na condução dessa ritualística, plainando sob as profundas bençãos de tupana. Obrigada por permitir acesso ao xamanismo urbano.

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Aos profissionais de saúde que foram incansáveis no combate à pandemia, representados pelos médicos Dr. Diego Monteiro de Carvalho, Dr. Bruno Monteiro de Carvalho e Dra. Paula de Carvalho. Que Deus possa dar-lhes muita saúde e sabedoria na profissão.

A Deus, por tudo isso, nessa fase limiar da minha vida acadêmica, tão árdua e sonhada.

Obrigada por manter acessa a minha fé. Por nos livrar da COVID-19, que assolou o mundo, dando-nos esperança a não desistir. E assim, com a permissão dos deuses, continuo tecendo o Amanhã...

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EPÍGRAFE

Artigo I. “Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira”.

(Thiago de Mello)

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RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar os signos identitários da cultura dos povos indígenas Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil) e do povo Sámi (Tromsø – Noruega), a partir da complexa relação simbólica que os une, nas práticas ritualísticas, como possíveis contribuições para o turismo étnico. Esses elementos da ritualização são manifestados no mito, nas formas e modos de organização dentro do contexto histórico e cultural desses povos. A pesquisa levantou os traços simbólicos empregados nessas duas culturas, como forma de comunicação com seus espíritos e seus antepassados. Saber quais os meios que mantém viva a cultura, como tradição cultural para ambos os povos. Como são realizadas as cerimônias, a organização política, social e cultural, dentro das comunidades indígenas e não indígenas. O estudo atende a uma perspectiva metodológica e teórica de cunho descritivo, exploratório tendo por base a dialógica, sugerida por Edgar Morin, que nos permitiu tecer uma rede de conversa com outros saberes, de abordagem etnográfica, a partir de estudos de caso. Pretendemos analisar os signos que são atrativos para o turismo étnico, bem como o convívio social em contextos contemporâneos. A coleta dos dados se deu em duas fases. Na primeira fase foi realizada uma pesquisa bibliográfica, nas plataformas de Bases de dados Ebsco host, Scielo, dentre outras, para respaldo do embasamento teórico. A segunda fase, o lócus da pesquisa se deu nas comunidades I’nhãa-bé e Sahu-Apé, com 15 participantes, na faixa etária de 18 a 80 anos e com 15 pessoas do povo Sámi, localizados em área metropolitana da cidade de Manaus e de Tromsø/ Noruega, respectivamente. Buscamos saber sobre os signos identitários entre os dois povos, as características históricas-culturais e suas representações simbólicas à luz da etnografia, da semiótica, como indutores para o turismo étnico, enquanto forma de fortalecimentos da cultura e da sobrevivência, em contextos contemporâneos. O material coletado foi interpretado a partir do marco teórico adotado, em que utilizamos a análise de conteúdo. Utilizamos também, narrativas do mito de origem, fotos, cantos, danças, rituais e comemorações para a compreensão dos povos participantes. Assim, a comparação desvelou a diversidade das práticas culturais que existe entre os povos Sateré-Mawé (Amazonas- Brasil) e o povo Sámi (Noruega - Europa), e as possibilidades de atração para o desenvolvimento do turismo étnico. Logo, os principais resultados poderão desvelar para a possibilidade do turismo étnico, que possibilitará a melhoria de vida para os que vivem em áreas metropolitanas de Manaus e Tromsø. Desta forma, destacamos que os signos indenitários descritos, são potencializadores para um turismo étnico, com foco do desenvolvimento sustentável; acenam que a cosmologia indígena está ancorada no ambiente natural da floresta, como meios de sobrevivência. Nessa direção, sugerimos para a necessidade para salvaguardar o patrimônio material e imaterial dos indígenas das regiões em estudo.

Palavras- Chave: Turismo étnico; semiótica; ritualização; indígenas; metropolitana

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ABSTRACT

This study aims to analyse the identity signs of the culture of the indigenous peoples Sateré- Mawé (Amazonas - Brazil) and Sámi (Tromsø - Norway), based on the complex symbolic relationship that unites them in ritualistic practices, as possible contributions to ethnic. These elements of ritualization are manifested in myth, in the forms and modes of organization within the historical and cultural context of these peoples. The research raised the symbolic traits used in these two cultures, as a way of communication with their spirits and their ancestors. We seek to identify which means keep the culture alive as a cultural tradition for both peoples and how ceremonies, political, social and cultural organization are carried out within indigenous and non-indigenous communities. The study serves a methodological and theoretical perspective of a descriptive and exploratory nature, based on the dialogic, suggested by Edgar Morin, which allowed us to weave a network of conversation with other knowledge of ethnographic approach, through case studies. We analyse the signs that are attractive for ethnic tourism, as well as social interaction in contemporary contexts. The data collection was performed in two phases. In the first, we conducted a bibliographic search on Business Source Complete (EBSCOhost) and Scielo platforms, among the others, in order to support the theoretical basis. The second phase consisted of field research in two communities in the metropolitan area of the city of Manaus, I'nhãa-bé, Sahu-Apé, with 15 participants, aged 18 to 80 years, and in the city of Tromsø, Norway, where 15 natives of the Sámi people participated, respectively We seek to analyse the identity signs between two peoples, the historical-cultural characteristics and their symbolic representations in the light of ethnography, semiotics, as inducers for ethnic tourism, as a way of strengthening culture and survival in contemporary contexts. The material collected was interpreted from the theoretical framework adopted, for which we used Content Analysis. We also used the narratives of the myth of origin, photos, songs, dances, rituals and celebrations to understand the participating peoples. Thus, the comparison revealed the diversity of cultural practices existing between the Sateré-Mawé peoples (Amazonas - Brazil) and the Sámi people (Norway - Europe), as well as the possibilities of attraction for the development of ethnic tourism. Therefore, the main results point to the ability of ethnic tourism to make life better for those who live in the metropolitan areas of Manaus and Tromsø. Hence, we conclude that the signs described are enhancers of ethnic tourism with a focus on sustainable development; they point out that indigenous cosmology is anchored in the natural environment of the forest, as a means of survival. In this sense, we highlight the need to safeguard the material and immaterial heritage of the indigenous people in the regions under study.

Keywords: ethnic tourism, semiotics, ritualization, indigenous, metropolitan.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de localização dos Sateré-Mawé migrantes para Manaus – Amazonas ... 57

Figura 2: Imagem do mapa de localização da Comunidade I’nhãa-Bé... 60

Figura 3: Croqui da Comunidade I’nhãa-Bé ... 61

Figura 4: Formação política e social da comunidade I'nhãa-Bé ... 63

Figura 5: Mapa da localização da comunidade Sahu-Apé ... 64

Figura 6: Croqui dos espaços da Comunidade Sahu-Apé ... 65

Figura 7: Família Sahu-Apé ... 68

Figura 8: Mapa da localização da Capital da Noruega e a cidade de Tromsø ... 76

Figura 9: Calendário anual: estações do ano ... 77

Figura 10: Embarcação Sámi ... 78

Figura 11: Buzina - objeto musical ... 103

Figura 12: Mosaico toco da árvore envireira e luva com Tucandeiras ... 109

Figura 13: Signo Sateré-Mawé: patawi ... 115

Figura 14: Waraná (guaraná)... 116

Figura 15: Modelo de tambor com elementos rúnicos ... 119

Figura 16: Tambor Sámi Norte ... 120

Figura 17: Signos em vestuários ... 126

Figura 18: Artesanatos identitários ... 127

Figura 19: Mosaico do preparo da formiga Tucandeira antes do Ritual ... 132

Figura 20: Artesanato preparados para o turismo ... 133

Figura 21: Objetos nativos: Sámi e Sateré ... 134

Figura 22: Etnoespaço: organização política na grande maloca do Ritual ... 142

Figura 23: Fortalecimento da Tradição ... 143

Figura 24: Mosaico de signos identitários Sateré-Mawé ... 158

Figura 25: Aurora boreal e Aplicativo forecast3d ... 160

Figura 26: Lavvu (externo e interno) ... 162

Figura 27: Turista alimentando renas ... 164

Figura 28: Marcador da cultura em banheiro de Shopping ... 165

Figura 29: Desenho de uma criança Sámi ... 166

Figura 30: Bandeira Sámi ... 167

Figura 31: Elementos intersectivos entre os povos Sateré-Mawé e Sámi ... 176

Figura 32: Patawi elemento de união entre os povos ... 180

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Relação triádica ... 83

Quadro 2: Literatura internacional: outros termos relacionados aos temas ritual indígena e turismo étnico. ... 90

Quadro 3: Etnocircuito do ritual no turismo criativo na comunidade Sahu-Apé... 151

Quadro 4: Etnocircuito do ritual no turismo criativo na comunidade I’nhãa-Bé... 152

Quadro 5: Etnocircuito do ritual o turismo criativo do povo Sámi ... 154

Quadro 6: Indutor turístico – Sateré-Mawé ... 156

Quadro 7: Investimentos no turismo de experiência em Tromsø ... 159

Quadro 8: Interpretação das narrativas ... 169

Quadro 9: Análise dos signos em Sámi ... 171

Quadro 10-Análise dos signos em Sateré-Mawé. ... 172

Quadro 11: Interconexão para os dois povos para o turismo étnico ... 177

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TABELAS

Tabela 1: Literatura internacional sobre ritual indígena, turismo étnico, do povo Sámi e povo

Sateré-Mawé ... 89

Tabela 2: Estações do ano e fenômenos atrativos ... 147

Tabela 3: Classificação dos equipamentos turísticos ... 173

Tabela 4: Classificação das Instalações ... 174

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LISTA DE ABREVIATURAS AMISM- Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé APIB-Articulação dos Povos Indígenas do Brasil

CGTSM Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEP- Comitê de Ética em Pesquisa

CONEP- Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DSEI- Distritos Sanitários Especiais Indígenas

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FEPI- Fundação Estadual dos Povos Indígenas

FAPEAM- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas FEI- Fundação Estadual do índio

FUNAI - Fundação Nacional do Índio

IFHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IG - Indicação Geográfica

INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial ISA- Instituto Sócio Ambiental

Kr- Coroa Norueguesa

MEC- Ministério da Educação

ODS- Objetivos do Desenvolvimento Sustentável OMS- Organização Mundial da Saúde

OMT- Organização Mundial do Turismo

OIT- Organização Internacional do Trabalho é uma agência multilateral da Organização das Nações Unidas

PPGTH- Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria

SEDUC- Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas SEBRAE- Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SIASI-Sistema de Informação da Saúde Indígena SESAI -Secretaria Especial de Saúde Indígena SPC - Conselho Parlamento Sámi

SPI- Serviço de Proteção ao índio

TCLE- Termo de Consentimento Livre Esclarecido

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TI- Terra Indígena

UEA- Universidade do Estado do Amazonas UNICAMP- Universidade Estadual de Campinas

UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNIVALI- Universidade Vale do Itajaí

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MINHAS ENTRÂNCIAS VIVIDAS NA AMAZÔNIA PROFUNDA

As reminiscências me encontram no ponto que marca a trajetória desta pesquisa.

Momentos que revelam minha história de vida como um caldeirão de narrativas em que transbordam os tempos passados. Minha viagem de memórias começa numa embarcação que segue entre os rios Amazonas e Tapajós, margeados por terras caídas. Em 1967, em frente à cidade de Santarém, no Estado do Pará, nascia esta pesquisadora, pelas mãos de uma parteira e sobre os verdes águas que banham minha terra natal.

Neta de indígena paterna pertencente ao povo Tapuia, cresci vivenciando as narrativas e hábitos ancestrais de meus avós e de meus pais, Jorge Monteiro e Maria da Conceição do Carmo Monteiro, in memoriam, aos quais devo todas as conquistas e aprendizados adquiridos ao longo da minha trajetória de vida.

Primogênita de nove irmãos, filha de pai pescador, juticultor, semianalfabeto, fui alfabetizada e letrada por minha mãe, professora primária de uma escola da área rural. Morei e estudei até aos 8 anos de idade na área rural, em uma pequena vila de moradores chamada Cacoal Grande, Monte Alegre (PA), área de pesquisa da EMBRAPA, onde meus pais trabalhavam.

Morávamos em área de várzea cuja moradia era uma cabana de assoalho em madeira, preparada para as enchentes amazônicas. Foram tempos de felicidade, de paz e de harmonia, porém superação, uma vez que meus tinham que enfrentar inúmeros obstáculos para alimentar e educar a mim e aos meus irmãos.

A cabana aconchegante, bem organizada, abrigava os nove filhos e possuía duas divisórias: uma para nossos pais e outra para nós. Os alimentos, como o açaí, o muruci, o tucumã, o jenipapo e o tarubá eram sempre retirados da natureza, dos lagos, dos rios e da terra.

Os cuidados e a atenção básica com a saúde chegavam por via fluvial, às margens dos barrancos de terras caídas do rio Amazonas, pela corveta da Marinha do Brasil.

Na comunidade de Cacoal Grande, a vida religiosa era forte, movida pelo catolicismo.

Aos domingos, íamos à pequena capela onde fui batizada, tendo como padrinhos o amável casal Bianor Romildo de Souza Pessoa e Maria do Perpétuo Socorro Araújo Pessoa, in memoriam.

As famílias se reuniam e, entre as orações em latim ensinadas pelos missionários, louvava-se a Deus. Todos os ritos do catolicismo eram seguidos e levados às famílias em procissões e em orações pela única ruela do vilarejo.

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Aos nove anos de idade, mudei-me para o município de Santarém, a fim de cursar a segunda série do ensino primário. Lá, iniciei a nova etapa de estudos na Escola Estadual Madre Imaculada e permaneci nessa instituição até concluir o ensino fundamental. Já na área urbana, morei na casa de parentes e de meu padrinho. Nesse meio tempo, realizei trabalhos domésticos até os 11 anos de idade, para garantir os estudos.

Aos 15 anos, nas asas dos meus pais, cursei o magistério no Colégio Estadual Professor Álvaro Adolfo da Silveira. Em 1993, ingressei no curso de Licenciatura Plena em Letras – Língua Portuguesa –, da Universidade Federal do Pará (UFPA), tendo como Trabalho de Conclusão de Curso a monografia: “A mulher indígena na obra Iracema de José de Alencar e a mulher indígena da atualidade”, pesquisa realizada em Parintins com as mulheres indígenas Sateré-Mawé.

Como a indígena guerreira de José de Alencar, fui em busca de novos desafios. Mudei para o município de Parintins (Amazonas) em 1994, já casada e com dois filhos: Diego Monteiro de Carvalho e Bruno Monteiro de Carvalho, atualmente formados em medicina.

Naquele período, procurei emprego e qualificação profissional, conseguindo com esforço iniciar minha carreira como professora na Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas (SEDUC – AM) e na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), como servidora pública estatutária. Em 2001, nasceu a minha filha, Agnes Monteiro de Carvalho, a pequena dos lábios de mel. No ano de 2009, retornei para Manaus, onde estabeleci residência e vivo até hoje.

Em 2012, fui selecionada em edital específico da Universidade Federal São Joao Del Rei, para cursar a segunda Pós-graduação em extensão universitária, junto a outros 32 professores de universidades comunitárias, municipais, estaduais e federais. Os resultados foram apresentados no dia 23 de agosto, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Belo Horizonte (MG). O projeto foi um dos contemplados pelo Programa de Apoio à Participação em Eventos Científicos e Tecnológicos (Pape), iniciativa do Governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

Em 2013, ingressei no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes da Universidade do Estado do Amazonas, na Escola Superior de Artes e Turismo (ESAT), com o intuito de conhecer outras culturas e aprofundar conhecimentos para futuras pesquisas. Nesse mesmo ano, participei do Congreso Extensión y Sociedad, realizado na Universidade de La

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República de Montevidéu (Uruguai), no qual tive a oportunidade de apresentar um estudo intitulado “Extensão Universitária da Universidade do Estado do Amazonas: um panorama no período de 2011 a 2013, desafios e conquistas dos municípios de Parintins e Tabatinga”. Na ocasião, pude conhecer o Museu de Arte Pré-colombiana e Indígena (MAPI), e tive contato com a cultura, as crenças, a tecnologia e os costumes dos povos que já habitaram o Uruguai e outras regiões ao redor, inclusive brasileiras.

Em 2013 e 2017 participei, do Congresso Internacional sobre Culturas: Interfaces da Lusofonia, realizado na Universidade do Minho, Portugal, cidade de Braga. Levantamo- nos breve estudo sobre a diversidade cultural da humanidade no museu da cidade e na biblioteca da Universidade de Coimbra. Nesses espaços, foi possível compreender a intencionalidade dos navegantes cronistas no Brasil e na Amazônia.

No mestrado, atuei na linha de pesquisa Linguística e etnolinguística, abordando a temática Ritual Indígena da etnia Sateré-Mawé: língua, memória e tradição cultural. Nesse curso, publiquei artigos em eventos nacionais e internacionais, e em revistas, como: a

“Amazonas Faz Ciência” (dezembro de 2014/2015) e na revista Thule (na Itália, em 2015/2016), dentre outras publicações.

Ainda na Itália, em 2015, ao participar do Congresso Internacional de Americanística, a convite do professor Dr. Paride Bollettin, participei de mesa redonda sobre povos da Amazônia. Durante minha estada, conheci o Museu Arqueológico Nacional da Úmbria, na cidade de Perúgia, destinado a preservar um rico acervo de arte e arqueologia da região, datado desde a pré-história até a era romana. O local abriga artefatos das civilizações umbros e dos etruscos, de acordo com o perfil topográfico-cronológico, evidenciando o fecundo intercâmbio entre as duas civilizações.

Outro ano marcante foi 2019, pois publiquei um livro, em formato e-book, intitulado

“Ritual de Passagem, das Terras Indígenas às áreas urbanas dos Sateré-Mawé”, pela editora universitária da UEA. Na práxis docente, enquanto servidora da Seduc e da UEA, priorizei a voz do estudante a partir de um olhar etnográfico e etnolinguístico, pois sempre trabalhei com discentes advindos das áreas rurais: pescadores ribeirinhos, indígenas, dentre outros. Nesse período, atuei nos municípios de Parintins, Barreirinha, Maués, Itacoatiara, Maraã, Nova Olinda do Norte, Uarini, Japurá, Presidente Figueiredo, Manacapuru, Iranduba, Manicoré, Novo Aripuanã, Itacoatiara, Autazes e Careiro, todos no estado do Amazonas.

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No ambiente familiar, encontrei meu suporte para navegar pelos afluentes da pesquisa.

Sou vista pelo meu esposo e filhos como uma pessoa que veio de uma família humilde e que, pelos estudos, busca incessantemente o crescimento profissional e, sobretudo, humano.

Nas linhas escritas pelo meu filho Bruno Monteiro de Carvalho (31), encontro minha descrição: “Joia dos ourives Jorge Monteiro e Maria da Conceição. Do vermelho sangue amazônico, sobre a madeira de Itaúba do pequeno Vera Cruz, nasceste acalentada pelos braços azuis do Tapajós, em um pequeno barco, na imensidão do verde. Já chegaste desbravando o mundo, calmamente avançando correntes, banzeiros e rebojos. Cercada por essa força de Gaia, nunca te vi esmorecer, nem perder a fé. Tua fé é uma tocha inextinguível que ergues à tua frente, espanta o escuro e aquece o coração. Abaixo dessa luz, nossa vida se enche de graça. E é por toda essa graça que hoje agradecemos, por tua vida, teu amor e força”.

E assim, como a pororoca, fenômeno inquietador do rio Amazonas, continuo navegando pelos braços dos rios e da floresta, levando comigo ervas de proteção e impulso aventureiro singular, à procura das vivências do mundo, seja nos barrancos das terras caídas do rio Amazonas, seja pelas encantadas terras geladas, cercadas pelos misteriosos fiordes do Polo Ártico. Viajo, então, pelo temeroso calor Amazônico até as misteriosas placas de gelos do outro lado do mundo. Nesse cenário, desemboco na mágica pesquisa em um universo multifacetado.

Após diversas experiências acadêmicas e pessoais com os povos indígenas, senti o desejo de ingressar no doutorado e ampliar ainda mais esse horizonte que sempre me cercou.

Assim, em novembro de 2017, meu desejo se realizou por meio Programa de Doutorado Institucional (DINTER), destacando a integração entre a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), atendendo a Lei n.º 3.656 de 01 de setembro de 2011, nos termos do artigo 34, item I, aliado às diretrizes do plano de formação docente da UEA. No certame de seleção, apresentei o projeto de pesquisa e, após um curto intervalo de tempo, veio a tão esperada aprovação para participar do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria (PPGTH) da Univali. Era a oportunidade de sistematizar toda a praxeologia acumulada ao longo dos anos de vivências, na vida pessoal e acadêmica; era o momento de alçar novos voos até a tese.

Destaco que, na Amazônia, a falta de incentivo ao desenvolvimento de pesquisas acadêmicas ainda é uma realidade, a escassez de oferta de cursos de Pós-Graduação strito sensu persiste e se evidencia em muitas áreas. Por essa razão, muitos pesquisadores aguardam

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novas ofertas por longo período ou até buscam seus estudos em outros estados do Brasil ou no exterior. Atualmente, algumas parcerias vêm sendo feitas para diminuir essa lacuna, como as realizadas entre as Instituições de Ensino Superior e o DINTER.

No tocante ao meu ingresso no curso de doutorado e no processo de desenvolvimento de minha pesquisa, destaco primeiramente a disciplina Abordagens Epistemológicas para Estudos no Turismo. Essa, por sua vez, me permitiu pensar além das ditas “caixinhas”, pois a cada aula era possível refletir não somente sobre o espaço geográfico de atuação, mas também sobre a forma global, universal.

Outras duas disciplinas possibilitaram o aprimoramento do objeto de estudo da pesquisa. Foram elas: Marketing turístico, ministrada pelo professor Dr. Luiz Carlos Flores, e Patrimônio cultural e turismo, conduzida pelo professor Dr. Luciano Torres Tricárico. Essas fortaleceram a ideia de investigar os signos em rituais indígenas como atrativos para os turistas entre os dois povos indígenas.

No campo do estágio docente, exigência do Ministério da Educação (MEC) e da Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para os cursos em formato de DINTER, reafirmamos o objeto da pesquisa. Nesse caso, a disciplina História e Patrimônio na Gastronomia, ministrada pelos professores Dr. Marcel Oliveira e Claudia Poffo, contribuiu de maneira grandiosa para isso. Toda essa compreensão nos exigiu paciência para entender o que precisaria ser feito com as abordagens epistemológicas que deveríamos trilhar. Os papeis do orientador (Dr. Luciano Torres Tricário) e da coorientadora (Dra. Solange Pereira do Nascimento) foram essenciais para visualizar o que ainda estava obscuro e precisava ser fortalecido.

Durante a disciplina Seminário de Tese, consegui a definitiva e necessária organização do projeto de pesquisa acompanhado do orientador da Univali e da coorientadora da UEA, os quais oportunizaram as sugestões que precisavam ser desveladas. Já na disciplina Seminário de Grupo de Pesquisa II conclui a metodologia, como cumprimento do projeto de tese, um momento tenso para todos os doutorandos em foi possível, no fim, cumprir as orientações dos professores e dos orientadores.

Minha pesquisa aborda um tema emergente e complexo, voltado às questões indígenas.

Isso envolve uma teia de saberes que perpassam a cultura, o turismo, a literatura, a história, a antropologia e a sociologia. Inicialmente, tracei o projeto a partir das abordagens do método

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fenomenológico, com estratégias etnográficas e semióticas pelas quais tive a oportunidade de realizar muitas leituras sobre a percepção dos saberes indígenas, no fortalecimento e na proteção dos signos identitários importantes para os povos da floresta e sua contribuição para o turismo étnico.

Entre a etapa de cumprimento das disciplinas e a aplicação das técnicas de coleta de dados (2019), fomos premiados com o segundo lugar na etapa estadual da 1ª Edição da Educação Empreendedora, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Em 2020, com participação no Fórum Internacional de Turismo e Hotelaria, outra premiação, também em 2º lugar, na categoria melhor Relato de Experiência. Nessa ocasião, o trabalho selecionado foi intitulado: “Saberes e enfrentamentos em tempos da covid-19: relato de experiência extensionista na associação de mulheres indígenas (Amism – Manaus – Am)”, fruto de uma pesquisa que contou com os acadêmicos indígenas Sateré-Mawé, Rucian da Silva Vilácio e Vanessa Damasceno, bem como a professora Ma. Rejane Gomes Ferreira (UEA).

Com o amadurecimento nos estudos e no processo de pesquisa, entendi que o pesquisador deve inicialmente trilhar o caminho a partir da cultura de um povo, para compreender o gênero humano. Nesse viés, corroboramos as ideias de Morin (2007) ao enfatizarmos que os temas emergentes passam pela identidade do homem, num diálogo permanente, sem aniquilar a humanidade. Acenamos, assim, para a preocupação mundial difundida nas ideias do Papa Francisco (2019), cujas estratégias futuristas apresentam preocupação de caráter global (BOFF, 2016). Nesse sentido, tecemos um diálogo do Amazonas com a Noruega, apresentando a tese “Sateré-Mawé e Sámi: culturas indígenas ancestrais sob o olhar do turismo étnico”.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 24 METODOLOGIA ... 39 CAPÍTULO 1 – UM ESTUDO PELO UNIVERSO INDÍGENA SATERÉ-MAWÉ E SÁMI ... 53

1.1. O Povo Sateré-Mawé no tempo e espaço da história amazônica ... 53 1.2. O povo Sámi e sua construção histórica como povo indígena do Ártico ... 71 1.3. Sateré-Mawé e Sámi: um universo comparativo em construção ... 79 CAPÍTULO 2 – RELIGANDO SABERES AO TURISMO ÉTNICO INDÍGENA SATERÉ-MAWÉ E SÁMI ... 82

2.1. A interface da semiótica com o turismo: signos e símbolos ... 82 2.2. Turismo étnico e suas interfaces ... 88 2.3. Turismo de experiência: uma experiência para além do turismo ... 96 2.4. Ritualística indígena e xamanismo ... 105 CAPÍTULO 3 – DA MITOLOGIA DE ORIGEM SATERÉ-MAWÉ À MITOLOGIA SÁMI: SÍMBOLOS E SIGNOS DE UM POVO PARA O TURISMO ÉTNICO ... 108

3.1. A cosmovisão do povo Sateré-Mawé ... 108 3.2. O universo xamânico do povo Sámi ... 117 3.3. Signos e símbolos: expressões de identidade dos Sámi e dos Sateré-Mawé ... 123 CAPÍTULO 4 – O SAGRADO E O PROFANO: DIÁLOGOS PARA O TURISMO ÉTNICO ... 135

4.1. Turimo étnico: ressignificado ou perda de identidade ... 135 4.2. O turismo criativo entre os Sateré-Mawé e Sámi ... 144 4.2.1. Modelo empírico de desenvolvimento do turismo étnico Sateré-Mawé e Sámi ... 150 4.3. Experiências memoráveis entre os povos indígenas Sateré-Mawé e Sámi ... 155 4.3.1. Rena e o ato de pastorear: a essência Sámi ... 163 4.4. O impacto do turismo como atividade econômica para os dois povos em estudo ... 175 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 182 REFERÊNCIAS ... 191 ETNOGLOSSÁRIO ... 206 APÊNDICES ... 214 ANEXOS ... 218

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INTRODUÇÃO

Artigo II. “Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo”.

(Thiago de Mello, 2009).

Os versos da epígrafe acima são um recorte da obra “Os Estatutos do Homem”, do escritor amazonense Thiago de Mello (2009). O poeta da floresta canta os desejos mais simples da vida diária, dando valor simbólico a cada elemento da natureza. Em cada verso do poema, está presente o sentimento de preservação aos povos e à natureza, numa visão global e emergente para a humanidade, conforme preconiza Morin (2002). É essa, pois, a perspectiva que destacamos ao longo deste trabalho, com a propositura do título Sateré-Mawé e Sámi:

culturas indígenas ancestrais sob o olhar do Turismo Étnico, bem como a definição de nosso caminho metodológico.

Como um barco de velas erguidas em alto mar, passamos a desbravar o enigmático campo do eldorado Amazônico, da trajetória histórica e atual dos Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil). Tecemos ainda um diálogo com a altivez do povo Sámi (Tromsø – Noruega), desvelando os signos identitários narrados desde o período mitológico até os dias atuais para o turismo étnico. Assim, como garras do altaneiro gavião real e do falcão, descortinamos a temática central, perpassando pela etnocultura de cada povo, com os elementos simbólicos marcados pela memória, num jogo de identidade que passa pela trajetória da ancestralidade indígena.

No Brasil, os Sateré-Mawé constituem uma população de, aproximadamente, 17.200 indígenas, segundo dados de 2019 do Sistema de Informação da Saúde Indígena (SIASI/SESAI), Ministério da Saúde. Estão espalhados em um território de 790 hectares, situados nas bacias dos rios Uaicurapá, Andirá e Marau, distribuídos em 91 comunidades, conhecidas como comunidades (SENA; TEIXEIRA, 2006). Atualmente, residem tanto em áreas urbanas como também em áreas demarcadas ou denominadas Terras Indígenas (TI). É um povo que, mesmo em espaços urbanos e metropolitanos, carrega a garra e a determinação para manter os rituais e seus elementos sígnicos como meio de renda familiar, vivendo de artesanatos e da prospecção da tradição cultural.

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No processo histórico dos Mawé, observamos que no fim da década de 1970 houve migração de famílias para áreas urbana e metropolitana de Manaus1 , sinalizado por Sousa (2013) e para outras cidades do Estado do Amazonas. Ao migrarem para o município de Manaus, organizaram-se em espaços constituindo uma população de aproximadamente 600 pessoas, conforme dados de 2018 do Instituto Socioambiental (ISA).

No que se refere ao Sámi, povo nórdico da Noruega, esses vivem nos quatro países denominados de Sa'pmi: Rússia, Finlândia, Suécia e Noruega. Nesse último, vivem cerca de 35 mil, os quais desenvolvem um turismo que é exemplo para muitos. Em Tromsø, cidade norueguesa onde realizamos parte da pesquisa, existem 842 pessoas dessa etnia, segundo dados do Parlamento Sámi (TODAL, 2018).

Quanto aos dados étnicos no país norueguês, conforme base de dados da Central de Intelligence Agency (2018, s/p), correspondem um percentual de 83,2%, o que inclui cerca de 60.000 (sessenta mil) Sámi. Dentre os outros europeus, o percentual chega a 8,3%, e outros, além de 8,5% (2017 est.), Os Sámi são considerados habitantes nômades que vivem nos cinco condados mais ao norte do país, acima do Círculo Polar Ártico. Sua trajetória histórica é marcada pela tradição cultural que se mantém por meio de variados signos identitários, dentre eles o pastorear das renas, os artesanatos e as canções entoadas em rituais. Os Sámi, enquanto povo com direitos, deveres e princípios, obtiveram marcas identitárias por meio de símbolos necessários ao reconhecimento da cultura num contexto contemporâneo.

Dorsch (2017, p. 47) reafirma que “os Sámi são representados na Assembleia Parlamentar na Noruega, na Finlândia e na Suécia e embora percebidos como órgãos que governam a autonomia Sámi”, no que tange às políticas sobre educação, cultura, língua e ao estatuto indígena. O envolvimento nas causas políticas em prol do povo, tem superado conflitos e o rompimento com o estigma social imperado ao longo da história.

A partir da década de 1980 a retomada das tradições cresceu apoiada pelo governo norueguês, conforme preconiza a Organização Internacional do Trabalho – OIT, na Convenção 169, em seu Art. 2.º: “Os governos terão a responsabilidade de desenvolver, com a participação dos povos interessados, uma ação coordenada e sistemática para proteger seus direitos e garantir respeito à sua integridade”. Nesse contexto, o povo Sámi constantemente dialoga com as autoridades em prol da melhoria da etnia.

1 Criada em 30 de maio de 2007 pela Lei Nº. 52/2007 a Região/área Metropolitana de Manaus constituiu-se por uma vontade política, organizado pelo Estado.

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O desassossego durante o percurso ritualístico, no processo de construção dessa pesquisa e da escrita, foi desafiador. Buscamos estabelecer conexão entre os dois povos: de um lado, os Sámi, denominados povo do Ártico; do outro, o povo Sateré-Mawé. Nessa viagem, buscamos analisar as semelhanças e diferenças, bem como a integração entre as tradições dos dois povos por meio da etnicidade.

Adotamos uma metodologia que nos levou a considerar os aspectos qualitativo, apoiado no pensamento complexo e multidimensional (MORIN, 2006), com estratégias etnográficas e semióticas do tipo descritiva e exploratória, a partir de estudos de caso comparativos (YIN, 2015). Quanto a narrativa dos participantes foi imprescindível para a remorização da trajetória histórica até o espaço vivido e desenvolvido no turismo em áreas metropolitanas da cidade de Manaus, Amazonas-Brasil e Tromsø -Noruega. Foram realizadas entrevistas abertas com quinze participante Sateré-Mawé e quinze Sámi, além da observação direta nas comunidades dos respectivos povos em estudo.

Com a propositura do tema: “Sateré-Mawé e Sámi: Culturas ancestrais sob o olhar do turismo étnico”, fomos instigados a mergulhar pelos universos étnicos dos povos de nossa pesquisa. O primeiro, advindo do baixo Amazonas, Brasil; o segundo, ao Norte da Noruega.

No entanto, do ponto de vista da trajetória histórica geral, ambos são povos marcados pela ancestralidade que rege a tradição cultural na contemporaneidade.

Desse modo, os povos Sateré-Mawé e Sámi se unem para além das fronteiras étnicas e geográficas, a partir dos signos ritualísticos e pelas vertentes da mitologia e da natureza empregadas nos adornos de tais práticas. Nesse espaço lacunar, a polifonia no ecoar que vem da floresta Amazônica e das tundras e Taiga do Círculo Polar Ártico refletem a identidade por meio de manifestações culturais, formas ritualísticas e seus respectivos signos (DIAS, 2013).

Assim, mostram-se nos cantos ancestrais, artesanatos, grafismos e nas expressões linguísticas, entre outras que resistem ao tempo.

Percebemos que essas questões simbólicas se intercruzam pelo elo da natureza, de onde se alimentam e vivem para realização de práticas turísticas, conforme narrativa do tuxaua Ramãw “é da natureza que tiramos nosso alimento e dela nossa matéria prima para o artesanato e ritual, por isso continuamos plantando sem derrubar a floresta da comunidade”. Acerca de narrativas memoráveis que este estudo nos fez trilhar por caminhos de belas histórias míticas e seculares de paisagens que são a âncora de resistência física e cultural.

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A delimitação do tema se baliza na cultura dos povos Sateré-Mawé e Sámi: culturas indígenas ancestrais sob o olhar do turismo étnico. O recorte do estudo está no minucioso levantamento dos signos usados em práticas ritualísticas dos dois povos, e que tem acordado para o potencial econômico, social e cultural, como partes agregadoras ao turístico.

De tal modo, ao fazer a imersão nos estudos sobre estes povos, nos deparamos com vários elementos identitários de representações empregados nos rituais. Isso não significa dizer que sejam apenas os elementos de ligação que os unem, mas também os processos de descontinuidades de lacunas, os quais surgem quando nos propomos a realizar estudos comparativos, como evidenciou Durkheim (1985). Sendo assim, os registros encontrados durante a imersão são contribuições para a garantia dos Sámi e dos Sateré (BOFF, 2016). Outra contribuição é sinalizar o turismo étnico em áreas metropolitanas, para um turismo sustentável no contexto social, ambiental e cultural com a finalidade de permanência da tradição cultural.

A diversificação do patrimônio cultural é construída por sentimentos simbólicos na tradição cultural e, para que os saberes não se percam, eles merecem registros que visem à preservação, contribuindo para um futuro processo de salvaguarda. No âmbito do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), preconiza-se a garantia dos ofícios (o modo de preparo das bebidas, realização de ritual, formas de grafismos e preparo de artesanatos).

A definição oficial de patrimônio cultural imaterial é definida pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 2003, p. 34), como: aquilo que

“se transmite de geração em geração, que é constantemente recriado pelas comunidades e grupos de sua interação com a natureza e sua história”. No âmbito da pesquisa realizada na Noruega, os signos fortalecem os atos que o Parlamento Sámi já sinaliza dentro da organização;

já no domínio dos Mawé, garante a permanência e a valorização da cultura.

Peirce (2017, p. 49), ao classificar as categorias do signo, definiu que a “relação triádica de comparação são as que fazem parte da natureza lógica de desempenho e estão relacionadas às naturezas dos fatos; e de pensamento ligadas à natureza das leis. Estas relações triádicas são divisíveis em outros três modos correlatos”. O signo, a cada momento se divide em dez classes, derivadas das tricotomias. De modo geral, no campo semântico, a relação triádica do signo

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defendida pelo autor se relaciona com o signo, com o objeto e com o interpretante. Diante dessa classificação, será utilizada a décima2 classe, a qual Peirce denominou de símbolo e argumento.

A relação do signo no turismo étnico, para onde se encaminha este objeto, é vista nas atividades indígenas que servem de atrativo. Elas promovem no indivíduo a curiosidade em conhecer o estilo de vida diferente do estabelecido nos padrões capitalistas. Nesse sentido, conhecer o cotidiano e as atrações de um grupo, bem como a forma que se projetam no tempo e no espaço, conforme Santos (2014), é uma experiência incomum. É nesse contexto que se evidencia o desafio de reconhecer a semiótica, os signos e imagens como linguagem do turismo (MELLO, 2019).

É bem verdade que a cultura está integrada em todo processo étnico, no qual os elementos culturais singulares são as partes constitutivas que compõe a tradição cultural (MALINOWSKI, 1953). Para estudar um povo, devemos compreender a sua totalidade pretendida na unidade, na diversidade, na solidariedade dos saberes sob a marca da transdisciplinaridade (BANDEIRA e COSTA, 2015).

À luz de Ricoeur (1989), compreender esse mundo diversificado de vida, a partir dos elementos sígnicos presentes nos rituais dos Sateré-Mawé e do povo Sámi, requer desvelar a essência e o sentido do “fenômeno desses povos, nas representações, investidos de significados simbólicos”, conforme Langer (2015, p. 12). Além disso, promove a compreensão da forma de comunicação e de resistência empregadas em rituais. Sobre isso, refletimos sob duas observações relativas à pesquisa sobre rituais: a primeira é que devemos estar inseridos no campo da cultura para entendermos o contexto sociocultural, adentrando no universo mítico relacionado ao mundo espiritual desses povos. A outra observação é perceber a relação dos signos verbais e não verbais presentes em cerimônias carregadas de simbologia.

No que diz respeito à semiótica aplicada ao turismo, Mello (2019) destaca que os signos tratam de uma “coisa que pode representar outra”, de sentido polissêmico; o objeto, no caso.

Dialogando com Peirce (2017), numa relação mútua entre o signo, o objeto e o interpretante, nos deteremos ao símbolo. Nessa abordagem, o Turismo apresenta uma variedade de símbolos com significados que estão ancorados na paisagem, nas viagens, nos museus, nas pessoas, nos

2Dez classes do signo (I) Qualisigno, icônico, Remático, II Sinsigno, icônico, Remático, III Sinsigno, indicial, Remático (IV) Sinsigno Dicente, (V) Legisigno, icônico, Remático, (VI) Legisigno, indicial, Remático, (VII) Legisigno, indicial, Dicente, (VIII) Legisigno, Símbolo, Remático (IX) Legisigno, Símbolo, Dicente (X) Legisigno, Símbolo, Argumento (PEIRCE, 2017, p. 55-57).

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sentimentos, os quais formam elementos sígnicos (MELLO, 2019). O imaginário do turista acontece involuntariamente a partir da tríade proposta por Peirce, como veremos ao longo da tese.

Os estudos sobre povos indígenas nos permitiram uma visão crítica sobre os construtores de identidade e de empatia. Nesse estudo, buscamos a alteridade, contrastando as relações de semelhanças e as diferenças na construção, com o intuito de incluir os povos indígenas nas práticas do turismo étnico, como construção de empoderamento. Diante disso, pretendemos sair da visão romântica de que o indígena não pode prosperar no modelo contemporâneo de sociedade.

Sendo um tema emergente no atual cenário do século XXI, as atividades turísticas são estratégias para alavancar o potencial nas administrações dos governos como atividade econômica. De tal modo, podemos perceber que a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2017) aponta essas atividades como a terceira mais importante do mundo.

Abordar o turismo que trata da etnicidade, em especial aquele voltado para a cosmovisão indígena em espaços organizados pelo próprio indígena, é um tema pouco discutido na academia. Nesse sentido, é preciso estimular as etnias que vivem em espaços fora das Terras indígenas a compartilhar os saberes para um público que apresenta interesse em fazer a imersão e viver momentos autênticos, protagonizados pelos indígenas, denominado de turismo étnico.

Além de fortalecer a etnicidade, de acordo com Azanha (2002, p. 31) um “desafio permanente e consiste em se reproduzirem como sociedades etnicamente”.

Nesse sentido, foi durante a imersão nas comunidades que percebemos a participação de turistas nas atividades desenvolvidas pelos comunitários. Não se trata de turismo de massa, mas sim, um tipo de turismo em que o interessado se apresenta como responsável social, com forte tendência a contemplar uma cultura diferenciada, voltada para a ecologia e planejada pelos próprios indígenas, em equilíbrio com a natureza (BOFF, 2016). Nesse âmbito, consideramos que os conhecimentos de tradição étnica têm um grande valor tanto para o povo Sateré-Mawé quanto para o povo Sámi.

Assim, empreendemos esforços para abordar um tema sobre culturas indígenas no turismo, que ainda é pouco discutido no mundo, mas que tem sido apreciado pelos que praticam o turismo étnico. Esse fato aos poucos tem sido observado no contexto da Amazônia, sobretudo em Manaus, dentro das comunidades indígenas. O mesmo ocorre na Noruega, cidade de Tromsø, onde o turismo tem contribuído sobremaneira com as comunidades indígenas.

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No âmbito da investigação em turismo, uma das principais áreas de interesse está associada ao planejamento dos destinos turísticos. MacCannell (1999) enfatiza que o turista estabelece contatos antes de conhecer o lugar, mas aprimora a viagem pelos aspectos simbólicos do lugar almejado. Essas características específicas justificam uma análise particular pelo que esses lugares apresentam, no sentido de significativa investigação teórica e aplicada no destino turístico. Logo, esses territórios focalizam no desenvolvimento do turístico étnico indígena, como nova política de investidores (SANTOS, 2015).

Para Pettersson (2001), o poder de atração no Sámi tradicional tem crescido no mercado turístico, atualmente, por meio da cultura com foco no pastoreio de renas e estilo de vida nômade. Muitos estudos consideram que o desejo do turista em adentrar os espaços indígenas pode se dar por várias razões, dentre as quais destacamos os signos da tradição cultural, que são usados em rituais e por isso constituem potencial na área dessa investigação.

Nesse sentido, nossa pesquisa se construiu a partir do pressuposto de que a atividade turística indígena se desenvolve progressivamente como potencial cultural e econômico nas cidades. Trata-se de um campo de investigação promissor que pode contribuir com a garantia da tradição dos povos indígenas. Estamos assim perante uma investigação inserida no âmbito das Ciências Sociais e enquadrada na esfera do desenvolvimento direcionado ao planejamento do turismo étnico indígena. Visamos aos signos da ritualização: a natureza, a cosmovisão e o xamanismo, como produtos estratégicos de atrativos turísticos, como marcadores identitários de Manaus (AM) e Tromsø (NOR). Tais marcadores fazem parte do imaginário do indígena e do não indígena e estão intimamente ligados à cultura, pois se afirmam como resultado do contexto histórico e da tradição cultural, conforme Gastal (2005).

Como ponto de partida, analisamos as especificidades dos elementos sígnicos dos territórios Mawé e Sámi e tecemos os princípios para o desenvolvimento turístico sustentável, desde a matéria prima até a finalização das ações como serviço etnocultural para o turista.

Partindo desse estudo, sugerimos, dentro do planeamento do turismo étnico, uma abordagem holística do setor do turismo e procuramos chegar a uma proposta de referenciação, a fim de assegurar os signos/símbolos como garantia da sobrevivência dos povos deste estudo, como fortes marcadores de identidade e da memória.

O interesse em pesquisar questões relacionadas aos povos indígenas, a exemplo do povo Sateré-Mawé, surgiu aproximadamente há 24 anos, momento em que tive contato com alunos indígenas, da região do baixo Amazonas, especificamente das cidades de Parintins, Barreirinha,

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Boa Vista do Ramos e Maués, quando professora do ensino médio pela SEDUC e UEA. Nesse período, ministrei aulas nos cursos da Pedagogia Intercultural Indígena, História e Letras, com o componente curricular de Linguística e Cultura Amazônica.

Durante as aulas, era comum o aluno indígena fazer referência às práticas culturais, como o ato de narrar os mitos, falar da pesca e da caça, dos conhecimentos do pajé, entre outras situações. Conforme a líder Andreza da Silva (36), “ao longo do tempo, a cultura se perdeu por medo dos parentes, que não sabem enfrentar o governo e deixam de se reafirmar, “temos que enfrentar o branco”. A partir desse relato, percebemos a intenção da indígena, o zelo para com a sua nação, com a finalidade de garantir às futuras gerações as práticas e a identidade cultural do seu povo.

No exercício da docência, sempre procurei desenvolver atividades voltadas para os temas relacionados à cultura, à língua e às políticas públicas indígenas, especialmente para a educação diferenciada. Em uma das aulas, os acadêmicos levaram para a sala de aula o tuxaua da comunidade e, assim, a cada dia era reafirmada a etnicidade do grupo.

Dessa maneira, este trabalho pode ser considerado como um desdobramento do meu interesse pelas línguas e culturas ameríndias e Escandinávia. Comungo com Merleau-Ponty (1999, p. 2), “tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo, sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada”. Por isso, sinto-me incomodada.

Agora, no programa de Pós-Graduação em Turismo e hotelaria (PPGTH) da Universidade Vale do Itajaí, uma questão surgiu para aprimorar a pesquisa: a possibilidade de investigar a cultura Sateré-Mawé e a Cultura Sámi. Por meio de vivências e pesquisas, no campo antropológico e semiótico, percebemos uma possível relação entre esses dois povos e daí o interesse em aprofundar este tema.

Nesse sentido, durante as experiências e percepções nos espaços indígenas, buscamos compreender a complexa relação dos signos, usados em rituais entre os dois povos Sámi e Sateré-Mawé, à luz da semiótica dos signos para o turismo étnico. Esses são os elementos simbólicos que surgem como eixo central desta tese. O elo sustentável que aproxima esses dois povos está ancorado na etnicidade.

De tal modo, a temática dos signos em rituais Sateré-Mawé e Sámi no âmbito do turismo étnico não se evidenciou nas pesquisas que realizamos nas plataformas científicas. Os estudos

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sobre a abordagem semiótica no Turismo apresentam pouca aplicabilidade, por isso um adensamento desse tema, certamente, poderá fortalecer futuros estudos. Desse modo, consideramos um estudo alvissareiro, com potencial inovador no campo científico das Ciências Sociais. Nessa direção, navegamos pela canoa da transformação, singrando por espaços ainda não navegáveis, que poderão direcionar novas rotas no manancial da ciência.

Ao navegar pelo dorso verde da serpente do mundo, a Amazônia, é impossível não se encantar por sua pujança. É a partir dela que inicio minha navegação pelas letras, fazendo dessa metáfora as entrâncias deste estudo que não se esgota nos belos rios da Amazônia. Igualmente, para navegar e chegar às margens dos rios amazônicos e dos mares Sámi, os percursos metodológicos me ajudaram a encontrar o caminho adequado para desvelar o objeto que gerou esta tese.

Nessa direção, a pesquisa realizada é de cunho qualitativo, descritivo e exploratório, imbuída de questões que provocaram conexões com outras ciências, no rebojo da interdisciplinaridade, na perspectiva de Morin (2007). A técnica de coleta de dados utilizada foi a observação participante, junto a 30 sujeitos, sendo quinze Sámi e quinze Sateré-Mawé, moradores de áreas metropolitanas (CRESWELL, 2010). Nesse percurso, procedemos com a aplicação de entrevistas abertas com os líderes das comunidades, acendendo “as memórias vivas no tempo da narrativa histórica e poética” (RICOEUR, 2010, p. 113).

A partir da Análise de Conteúdo de Bardin (2016), a categorização das narrativas proporcionou organizar e compreender os achados, com o intuito de revelar informações sobre os signos dos dois povos estudados. Partindo dessa assertiva, a primeira parte da pesquisa foi compreender a tradição histórica e cultural das populações, mediante os estudos científicos seguidos da imersão no campo.

Na habitabilidade dos Sateré-Mawé até o desaguar nos oceanos, atravessando mares para chegar ao povo Sámi da Noruega, nos permitimos mergulhar mais profundamente nos encantos dos fiordes, numa vegetação que interage com o homem do Ártico. Um diálogo que acreditamos ir para além das fronteiras geográficas, um diálogo para além do previsível, uma abertura para o mundo científico, alargando a interculturalidade num debate interétnico.

Dialogando com Barros (2019), uma investigação rica e diversa no universo incógnito para a compreensão e construção de um mundo melhor.

A Amazônia, cenário vivo da biodiversidade no sentido mais amplo do termo, se destaca pela natureza, pelos barrancos e encantos dos rios e dos igarapés. Ela agrega novas formas para

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o “desenvolvimento sustentável, com ênfase na biotecnologia, piscicultura, ecoturismo e outras atividades inovadoras” (BENCHIMOL, 2009, p. 511). Por aqui vagueiam vidas que cantam e encantam, trazendo à mente imagens multifacetadas de uma ambiência convidativa para sair de suas imagens e adentrar por seus meios ainda ocultos e ocultados do mundo que se adaptou aos padrões estabelecidos e não aos desvios saudáveis de nossa percepção (DEULEUZE;

GUATTARI, 2007).

Destarte, convém ratificar que Mário de Andrade ao realizar uma viagem pelo Amazonas (1927), indo até o Peru, retratou na obra “O Turista Aprendiz” o pluralismo cultural vivenciado por ele, na condição de turista e navegador das terras brasileiras do norte ao sul, sinalizando as paisagens, os encantos do rio e a bravura dos indígenas. Nessa obra, o autor demonstra o encantamento diante da cultura indígena, sobretudo no que diz respeito à literatura, à poesia, à música, à etnografia, ao folclore, à arquitetura, às artes plásticas, à fotografia e às políticas culturais adotadas pelos povos em contato. Enfim, um universo descrito por múltiplas culturas carregadas de significações (ANDRADE, 2015).

É certo que, durante milênios, o homem trabalhou com rituais que marcam tradições, carregados de símbolos que seriam o alicerce de valores éticos, históricos e religiosos, associados à prática social cotidiana (ELIADE, 2010). Ademais, seguindo o mesmo ideal, o ser humano da atualidade, continua a marcar seu tempo na história, por meio das práticas ritualísticas empregadas no dia a dia da vida. Essas práticas são marcadas continuamente por signos que integram outras culturas diferentes pelo mundo.

A vida diária de cada indivíduo, no seio da sociedade na qual ele se insere, é marcada pela presença de ritos entendidos por Van Gennep (2018) como um conjunto de cerimônias, de formalidades praticadas nos campos da religião, da jurisdição, da política, dentre outros. Em um sentido analógico, também entendemos por rituais toda uma série de procedimentos invariáveis na realização de determinadas coisas (HOUAISS, 2009), conhecidas como costumes e hábitos.

Desse modo, os rituais estão presentes desde as primeiras horas do dia: quando iniciamos um planejamento ou quando estabelecemos tarefas a serem cumpridas em conformidade com suas normas. Vemos isso no âmbito do trabalho, quando preestabelecemos horários e tarefas para serem executadas. Também estão presentes na esfera do lar, quando preparamos refeições, ou ainda nas ruas, no tocante às normas de comportamentos no trânsito, por exemplo.

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Todos esses rituais promovem o equilíbrio social em qualquer ambiente da vida diária, numa conexão com o ato de comunicação (LEACH, 1989). Nós os realizamos muitas vezes de forma espontânea, sem refletirmos sobre sua relevância. Leach (1989) sugere ainda que os rituais podem ajudar na construção e criação do tempo, mas também geram cortes nas rotinas sociais. No entanto, todos esses elementos compõem um conjunto de informações que trazem uma carga semântica, numa conexão com a linguagem, com a língua, com a linguística e com a semiótica. Nesse sentido, “os rituais seriam instrumentos que permitem maior clareza às mensagens sociais” (DA MATA, 1997, p. 83). Nele é possível garantir, ao longo da história, os processos da tradição cultural do povo, expressando os valores sociais e políticos.

Dialogando com o campo do turismo, todos esses comportamentos permitem ao indivíduo transpor do campo “A” para o campo “B”, nas escolhas dos destinos turísticos. Essa linha divisória, segundo Learch (1989), é a liminaridade que vai de um ponto a outro da passagem. Em outras palavras, um novo tipo de turista – empolgado em mergulhar nas experiências distintas daquelas oferecidas pelo turismo tradicional –, tem demonstrado comportamentos e desejo de experimentar novos desafios.

Para Urry (2001, p. 30), o “turismo envolve, necessariamente, o devaneio e a expectativa de novas e diferentes experiências”, ou seja, a cada vivência, o participante é instigado a novos sentidos. Nessa direção, MacCannell (1978) considera que o turismo é carregado de um sistema semiótico em que cada objeto apresenta um símbolo de modo interpretativo para aquele que aprecia ou vivencia qualquer momento.

Dentro das sociedades indígenas, os signos são também elementos de comunicação.

Nesse sentido, pretendemos analisar, a partir da cultura dos povos indígenas Sateré-Mawé (Amazonas – Brasil) e do povo Sámi (Tromsø – Noruega), a complexa relação simbólica que os une, destacando as práticas ritualísticas e suas contribuições para o turismo étnico.

Dito isso, a combinação dos vários saberes científicos das teorias, procedimentos, conceitos de signos e de turismo étnico vislumbram elementos para fortalecer o planejamento e o destino turístico com temas emergentes no seio das comunidades indígenas Sámi e Sateré- Mawé. Mesmo separados geograficamente, é possível visualizar os diálogos com os mesmos ideais, visto que necessitam de recursos naturais para a permanência dos rituais na garantia de acesso à inclusão social.

À vista disso, os pressupostos dessa tese buscam responder aos questionamentos norteadores relativos aos aspectos simbólicos presentes na tradição de ambos os povos: qual a

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