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Os desafios da social corporativa na indústria têxtil e de vestuário cearense

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

BÁRBARA PINHO ALVES

OS DESAFIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE VESTUÁRIO CEARENSE

FORTALEZA

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OS DESAFIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE VESTUÁRIO CEARENSE

Monografia apresentada à Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade como requisito parcial para obtenção do bacharelado em Administração de Empresas.

Orientadora: Profª Drª Mônica Cavalcanti Sá de Abreu

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OS DESAFIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE VESTUÁRIO CEARENSE

Monografia apresentada à Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade como requisito parcial para obtenção do bacharelado em Administração de Empresas.

Aprovado em: 15/02/2016.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Me. Domenico Ceglia

Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará (FAECE)

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AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu por todo o conhecimento compartilhado ao longo da minha trajetória acadêmica. Pela oportunidade de ter sido sua aluna, bolsista de iniciação científica e, finalmente, orientanda de monografia. Sou admiradora do seu trabalho em prol da pesquisa acadêmica e pela sua profunda dedicação ao ensino.

Aos professores participantes da banca examinadora Domenico Ceglia e Raphael Campos pela disponibilidade e pelas enriquecedoras contribuições feitas ao trabalho.

Aos meus colegas do LECoS, do NeO e da Diretoria da FEAAC, que fizeram da minha experiência universitária tão prazerosa e engrandecedora.

Aos meus amigos Anne de Andrade, Heitor Melo, Gislainy Mariano, Namíbia Lima e Renan Gomes, por alegrarem meus dias, me incentivarem e, acima de tudo, por dividirem comigo esse sonho desde o primeiro semestre de faculdade. O que TGA uniu, nada separa.

Aos meus pais e ao meu irmão por me apoiarem desde sempre, não medindo esforços em contribuir para a minha formação. Essa vitória é nossa!

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Atualmente, a indústria têxtil e de vestuário do Brasil enfrenta série crise, decorrente, entre outros fatores, da perda de competitividade perante os concorrentes estrangeiros, principalmente os chineses. Nesse contexto, as práticas de Responsabilidade Social Corporativa surgem como estratégia de diferenciação e agregação de valor ao produto brasileiro, tornando-se uma possível tática de defesa perante a enxurrada de produtos importados. O presente estudo tem como objetivo principal identificar elementos de responsabilidade social corporativa na indústria têxtil e de vestuário brasileira, como força propulsora para a retomada do crescimento no setor. A relevância de tal estudo fundamenta-se na contribuição que os resultados da pesquisa fornecem para a sociedade, pois se trata de um tema bastante atual e que preocupa não só a alta administração, mas também os trabalhadores, que dependem do emprego fornecido pela indústria para sobreviverem. Os resultados mostram a indústria têxtil nacional ainda pouco se preocupa com a ligação entre a empresa e seu ambiente externo. Além disso, os benefícios potenciais em adotar práticas de responsabilidade social corporativa ainda não estão claros para os consumidores.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa, Indústria Têxtil e de Vestuário,

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Currently, the textile and clothing industry in Brazil faces huge crisis, due, among other factors, the loss of competitiveness against foreign competitors, especially the Chinese ones. In this context, Corporate Social Responsibility practices arise as a strategy of differentiation and value adding to the Brazilian product, making it a possible defense tactic before the flood of imported products. This study aims to identify corporate social responsibility elements in the Brazilian textile and clothing industry such as driving force for the resumption of growth in the sector. The relevance of this study is based on the contribution that the search results provide to society, because it is a very current topic and that concerns not only top management but also the workers who depend on jobs provided by the industry for survive. The results show that the domestic textile industry is still just little concerned with the link between the company and its external environment. In addition, the potential benefits of adopting corporate social responsibility practices are still not clear for consumers.

Key words: Corporate Social Responsibility, Textile and Clothing Industry,

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1 INTRODUÇÃO………..………12

2 REFERENCIAL TEÓRICO...15

2.1 Elos da cadeia produtiva têxtil...15

2.2 Evolução do setor têxtil...16

2.3 Retrato da cadeia têxtil no Brasil...18

2.4 Responsabilidade social corporativa (RSC)...21

2.5 Responsabilidade social corporativa no setor têxtil...25

3 METODOLOGIA...27

4 RESULTADOS...30

4.1 Panorama Competitivo do Setor Têxtil Cearense...30

4.2 Condutores para a Responsabilidade Social Corporativa no Setor Têxtil Cearense...46

4.3 Práticas de Responsabilidade Social Corporativas adotadas no Setor Têxtil Cearense...53

4.4 Resultados obtidos através da implementação de práticas de Responsabilidade Social Corporativa no Setor Têxtil Cearense...56

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...59

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1 INTRODUÇÃO

A indústria têxtil e de vestuário brasileira foi fortemente influenciada pela reforma estrutural na economia brasileira, decorrente da adoção do Plano Real. Tal iniciativa motivou a privatização de empresas estatais, além de terem sido intensificadas outras práticas do neoliberalismo, inserindo o país na economia mundial, conforme Abreu (2015).

O Plano Real forneceu base para que o surto inflacionário fosse contido. Dessa forma, ocorreu a liberalização do comércio, que contribuiu para o aumento da produção interna dos bens, já que os preços praticados no Brasil tornaram-se competitivos.

Contudo, o impacto da abertura comercial afetou mais a indústria têxtil do que outros setores, levando a movimentos migratórios e consequências graves na produtividade do trabalho. Tais companhias precisaram de auxílio financeiro do governo brasileiro, através de subsídios ou redução de taxas, e a maioria dela teve que cortar os custos rigorosamente.

Além disso, outro fator que agravou ainda mais a situação do setor foi o fim do Acordo sobre Têxteis e Vestuário (ATV), que teve vigência entre 1995 a 2004. De acordo com Pegado (2014), o objetivo dessa convenção era eliminar de forma gradual o sistema de cotas ao qual os países em desenvolvimento eram submetidos e integralizar a comercialização de produtos têxteis de acordo com as deliberações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Indústrias têxteis brasileiras foram severamente afetadas pela competição crescente, em virtude da chegada de produtos produzidos com baixo custo no mercado brasileiro. Uma parcela significativa dessas empresas não conseguiu fazer frente a tais pressões competitivas externas e, por conseguinte, faliram. (ABREU, 2015)

A necessidade de fazer frente à invasão dos produtos estrangeiros, em grande maioria procedentes da Ásia, contribuiu para que práticas de responsabilidade social corporativa fossem inseridas na rotina de várias organizações, a exemplo da indústria têxtil e de vestuário.

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O cenário de incertezas no qual a indústria têxtil brasileira estava inserida motivou a adoção de planos de reestruturação, a fim de que vantagens competitivas fossem criadas e que o produto têxtil brasileiro voltasse a ter a força no mercado mundial. A crise fomentou o apelo à inovação tecnológica, tanto no produto final quanto em toda a cadeia produtiva. (PEGADO, 2014)

Segundo Vasconcelos e Cyrino (2000), as atribuições do empreendedor não estão apenas interligadas ao processo de inovação radical. Em virtude de modificações na esfera ambiental, são alterados também os meios essenciais que asseguram a permanência e o desempenho econômico superior das organizações. Antecipar-se a essas modificações, gerindo melhor os recursos, assegura às indústrias e demais instituições a chance de obter vantagens competitivas.

Diante desse tema, a questão norteadora do trabalho é: quais os desafios que a indústria têxtil nacional enfrenta para incorporar práticas socialmente responsáveis em sua estrutura organizacional?

O objetivo geral é identificar elementos de responsabilidade social corporativa na indústria têxtil e de vestuário brasileira, como força propulsora para a retomada do crescimento no setor. Os objetivos específicos são: 1) Analisar o panorama competitivo do setor têxtil no Ceará. 2) Identificar quem são os condutores da responsabilidade social corporativa nas indústrias têxteis. 3) Identificar as práticas e os mecanismos utilizados pelas empresas socialmente responsáveis. 4) Elencar os resultados obtidos pela adoção de tais práticas dentro da esfera organizacional.

A relevância de tal estudo fundamenta-se na contribuição que os resultados da pesquisa fornecem para a sociedade, pois se trata de um tema bastante atual e preocupante, já que o Brasil, embora seja um grande produtor e consumidor de têxteis e vestuário, possui participação ínfima no comércio mundial, inferior a 0,5%, permanecendo no 23º lugar dentre o ranking de exportadores. (ABIT, 2015)

Conhecido como um dos maiores referências da indústria têxtil brasileira, o Ceará é responsável por volume expressivo da produção desse segmento na Região Nordeste. Em 2009, segundo estudo do Projeto Nordeste Competitivo, o Nordeste produziu R$1.029 milhão em tecidos, 69% produzido pelo Ceará. (DIÁRIO DO NORDESTE, 2012)

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ano anterior. Apesar de ter enxugado bastante nos últimos anos, as empresa locais ainda se encontram em situação desfavorável, apresentando faturamento cada vez menor.

Por isso, as empresas estão cada vez mais apostando nas estratégias fundamentadas em práticas de responsabilidade social corporativa para recuperar o crescimento com o aumento das exportações e com a substituição de importados na indústria nacional.

O presente trabalho subdivide-se em cinco partes. No primeiro capítulo, é feita a apresentação do problema e dos objetivos, além da justificativa que embasa a importância das seguintes temáticas: indústria têxtil e responsabilidade social corporativa.

Na segunda parte, há o detalhamento da fundamentação teórica, servindo de base para o entendimento mais apurado sobre o assunto abordado. A terceira parte traz a metodologia aplicada à pesquisa, com a qual foi possível explorar a percepção dos gestores entrevistados.

Em seguida, apresentam-se os resultados obtidos após análise das entrevistas realizadas junto aos representantes de empresas têxteis e de vestuário que se localizam no Estado do Ceará, tendo por base o conhecimento teórico evidenciado no segundo capítulo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Elos da cadeia produtiva têxtil

De acordo com Antero (2006), a cadeia produtiva têxtil e de confecções passa pelas seguintes etapas: fio, tecido, beneficiamento, confecção e, por fim, chega ao consumidor final. Desse modo, esse arranjo pode ter início na agropecuária (obtenção de fibras naturais) ou na indústria química (obtenção de fibras sintéticas). Em virtude de existir vasta gama de matérias-primas consumidas, diversidade de técnicas produtivas, concorrência acirrada, constitui-se uma cadeia complexa, na qual a introdução de diretrizes públicas torna-se dificultosa.

Keller (2002) reitera que, dentro da cadeia têxtil-confecção, uma firma tem a possibilidade de constituir uma atividade somente, a exemplo da tecelagem ou fiação, partes que compõem elas próprias um processo produtivo, ou ainda tem a oportunidade de participar de duas ou três atividades, a exemplo dos processos produtivos verticais, dentro da mesma organização.

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Figura 1 - Configuração básica da cadeia produtiva têxtil e de confecções.

Fonte: Antero (2006).

Moreira et al (2012) salienta que o setor têxtil é formado por três linhas, que são vestuário, têxteis destinados a interiores e têxteis voltados para uso em indústrias, conhecidos como têxteis técnicos. Com a queda das barreiras entre os setores técnicos e aqueles ligados à moda, percebe-se gradativamente uma integração entre as linhas a fim de atender nichos específicos do mercado.

2.2 Evolução do setor têxtil

A partir de 1950, os países desenvolvidos tentaram proteger seus mercados e monitorar, através de diversas alianças, o comércio mundial gerado pela indústria têxtil e de vestuário. A partir de 1974, estabeleceu-se o Acordo Multifibras, contemplando diversos países, com o intuito de gerir o comércio internacional por meio de taxas de importação. (MENDONÇA et al, 2013)

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O GATT deu origem, posteriormente, à Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi criada com o intuito de gerir o sistema multilateral de comércio proveniente da Rodada Uruguai, a qual se estendeu de 1986 a 1993. Durante esse encontro, houve a negociação de um código de conduta, além da troca de permissão para acesso a mercados entre os países participantes, por meio da redução das barreiras tarifárias e/ou extinção das barreiras que não possuem relação com tarifas. (RÊGO, 1996)

A cadeia produtiva têxtil vem sendo afetada por muitas mudanças, tanto tecnológicas, as quais possibilitaram consistentes avanços na produtividade, como também fruto do aumento da relevância nas transações entre blocos comerciais, tais como o Nafta, a União Europeia, o Mercosul, entre outros. (GORINI, 2000)

Costa e Rocha (2009) afirmam que, em adição à rapidez com que os mercados globais integraram-se, houve a redução das barreiras tarifárias, entre outras medidas protecionistas internacionais, culminando na queda dos preços dos artigos têxteis e confeccionados, assim como em transformações na estrutura produtiva mundial.

Desse modo, consolidou-se o direcionamento de parte expressiva da produção referente a itens da cadeia têxtil e de confecções, migrando dos países desenvolvidos, como Japão, União Europeia e Estados Unidos, para países em desenvolvimento situados no Leste Europeu, Norte da África, Caribe e Ásia. O impulso primordial para essa mudança foi a busca pela diminuição de custos de produção, especialmente ligados à mão de obra. (COSTA; ROCHA, 2009)

Atualmente, os consumidores ganharam destaque e estão cada vez mais a par das inovações trazidas pela tecnologia. Além do conforto e da funcionalidade que buscam ao adquirirem uma peça de roupa, eles estão mais esclarecidos sobre as inovações vigentes na indústria têxtil. Moreira et al (2012) corrobora que tal enfoque dado pelos clientes obriga as empresas do setor têxtil a fomentarem o desenvolvimento de tecnologias incrementais sobre as matérias-primas, a fim de modernizar as criações e atender melhor as necessidades dos clientes.

De acordo com Costa e Rocha (2009), as organizações originárias em países desenvolvidos buscam direcionar a produção para estágios que agregam maior valor ao processo, a exemplo do marketing, design, entre outros. Ainda, tal direcionamento é fruto de uma tendência dos clientes em procurarem peças de vestuário com determinada marca ou determinada motivação, não atentando apenas para o menor valor monetário.

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2.3 Retrato da cadeia têxtil no Brasil

Coan e Kon (2005) corroboram que a indústria têxtil teve um papel fundamental no desenvolvimento industrial do Brasil, uma vez que sempre foi responsável pela criação de postos de trabalho, ainda em períodos críticos para outras indústrias, que apresentavam déficit na balança comercial. Esse movimento ocorreu em virtude da baixa elasticidade-renda inerente ao produto têxtil, tratando-se de um item que apresenta baixa sensibilidade à diminuição do poder de compra dos indivíduos.

A indústria têxtil brasileira despontou no período colonial, garantindo forte desenvolvimento no início do século XX e estabilizando-se na década de 1940, vista, na época, como um setor dinâmico apesar de situar-se em um país subdesenvolvido. Tão importante era o seu papel que o Brasil alcançou o segundo lugar na produção têxtil mundial no período em que acontecia a Segunda Guerra Mundial, exportando para vários países. (COAN; KON, 2005)

Antero (2006) salienta que o Brasil alcançou o patamar de terceiro maior exportador mundial de algodão até o final da década de 1970, na época em que a indústria têxtil era prioridade dentre as políticas públicas vigentes. Nos anos 1980, ainda obtinha destaque, contudo, no final da referida década, a cotonicultura foi devastada pela praga do bicudo, somando-se ainda o impacto proveniente da abertura comercial.

Nos anos 1992 e 1993, com a eliminação das tarifas referentes à importação, a valorização do real e as altas taxas internas de juros proporcionaram a queda brusca das exportações, assim como o considerável decréscimo da produção. (ANTERO, 2006) Além disso, as importações de tecidos planos e filamentos sintéticos também foram responsáveis por expressiva cota do déficit comercial na indústria têxtil, conforme salienta Gorini (2000). Filamentos, tecidos e malhas sintéticas e artificiais foram responsáveis por déficits em torno de US$370 milhões nos anos de 1998 e 1999.

A abertura da economia ocorrida na década de 1990 não firmou meios apropriados de preservar a indústria contra as acessíveis importações, além do dumping

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Segundo Gorini (2000), os efeitos da abertura comercial do Brasil e da elevação da concorrência externa a partir de 1990, aliados à estabilização do real, responsável pela elevação do poder de compra dos indivíduos detentores de renda mais baixa a partir de 1994, conduziram a transformações na estrutura da cadeia têxtil e de confecções, com destaque para as que seguem abaixo:

 Elevada centralização da produção na seção têxtil, porém, não houve o mesmo movimento em relação à confecção, segmento no qual ocorreu a fragmentação da produção;

 Na indústria têxtil, pesados investimentos desencadearam a elevação da relação capital/trabalho, o que não ocorreu no segmento confecção, no qual é predominante o uso de mão-de obra intensiva;

 A reestruturação conduziu à queda da produção em segmentos específicos como, por exemplo, a derrocada da produção de tecidos planos, que foi acompanhada de consequências, tais como o colapso de muitas organizações, com ênfase nos produtores de tecidos sintéticos e artificiais, que foram bastante afetados pelas importações asiáticas, e troca da fabricação de planos pela de malhas provenientes do algodão, produto mais barato, de investimento menor e mais acessível à população;

 Transferência regional para a região Nordeste, entre outras regiões que fornecedores de incentivos, em adição a reduzidos custos de mão-de-obra e constituição de cooperativas trabalhistas;

 Alteração no escopo produtivo das organizações, como reforço na terceirização da produção, diminuição do mix de produtos (fruto do investimento em maquinário com tecnologia inovadora e da elevação da escala de produção), ou ainda atuação em rede com outras empresas, além da incorporação de todo processo produtivo (serviços de “pacote completo”).

No período de 1995 a 2007, a produção têxtil cresceu um pouco mais que 2%, já a de vestuário reduziu em torno de 15%. Levando em consideração o fato de que a indústria de vestuário exige quantidade mais elevada de trabalhadores, torna-se fácil compreender o motivo de ela ter sido mais influenciada pelos concorrentes internacionais, com destaque para os asiáticos. (MENDONÇA et al, 2009)

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negativo nas operações relacionadas a fibras químicas, principalmente aquelas oriundas do poliéster, conforme apresentado no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Comércio exterior por natureza das fibras.

Fonte: Costa e Rocha (2009)

Costa e Rocha (2009) ressaltam que o Brasil configura um país “produtor/consumidor”, uma vez que grande parcela da produção tem como destino abastecer o mercado interno. Os produtos que ocupam lugar de destaque no tocante à exportação são de fibras naturais, em adição ao próprio algodão, como, por exemplo, a linha lar e tecidos planos. Desse modo, os itens mais importados são fios oriundos do poliéster e tecidos planos artificiais.

Sob a ótica de Mendonça et al (2009), os EUA constituíam o destino central das exportações brasileiras de vestuários e têxteis. É provável que essas transações comerciais foram influenciadas pelo fim do ATV, porque, ao mesmo tempo em que os EUA importavam mais, crescia a participação chinesa no mercado ianque. Desse modo, o Brasil foi impelido a fortalecer seus laços com os países latino-americanos.

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nacionalmente. Prova disso é que, em 2000, o país era responsável por apenas 1% da capacidade global nessa linha, conforme Gorini (2000).

Em virtude da pequena participação do Brasil no comércio mundial referente a produtos da indústria têxtil, Bezerra (2014) concluiu que a nação não consegue influenciar os preços estabelecidos no mercado externo. Assim, é preferível que o país atue em segmentos específicos, perante a árdua competição em preço com os produtores indianos e chineses, em sua maioria.

Diante desse cenário desafiador, a indústria têxtil e de vestuário nacional precisou mudar suas práticas para sobreviver e superar os obstáculos. Já que a competição em custo é uma batalha difícil de ser vencida, perante a elevada capacidade produtiva alcançada pelos competidores asiáticos, muitas organizações vêm se especializando na diferenciação de seus produtos, agregando valor e desenvolvendo suas marcas.

Por sua vez, a responsabilidade social corporativa (RSC) surge também como prática diferenciadora entre as empresas, já que contribuições feitas à sociedade são bem vistas. RSC pode ser usada para limitar os riscos de comportamentos inadequados das empresas, suas filiais e fornecedores, podendo afetar diretamente na reputação e desempenho operacional. (ABREU, 2015)

2.4 Responsabilidade social corporativa (RSC)

Cappellin e Giuliani (2004) afirmam que o interesse global em responsabilidade social e ambiental aumentou nos anos 1990 e foi disseminado para diversos países em desenvolvimento através de políticas, processos e organizações por vezes motivadas pelo fenômeno da globalização. Várias nações possuem trajetórias próprias a respeito dessas práticas. O empenho em melhorar a esfera social das empresas brasileiras cresceu de maneira significativa nos anos 1980 e foi motivado por preocupações domésticas, além de ter vários atores e contextos envolvidos.

Um elemento decisivo foi a propagação de alguns valores vinculados à democratização e à religiosidade. A democratização auxiliou também no crescimento de organizações da sociedade civil e a proliferação de iniciativas atentas aos impactos ambientais e sociais causados pelos negócios. (CAPPELLIN; GIULIANI, 2004)

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obrigação de um negócio a maximização de lucros, em conformidade com a lei e restrições éticas mínimas, e aqueles que priorizam uma gama maior de obrigações perante a sociedade.

Archie B. Caroll, referência mundial nos estudos em RSC, propôs que a responsabilidade social dos negócios agrega as perspectivas econômicas, legais, éticas e arbitrárias que a comunidade geral tem a respeito das organizações em algum momento. (CARROLL, 1979)

Em 1991, Carroll revisitou sua concepção sobre RSC e propôs uma pirâmide onde expunha quatro categorias ou domínios de RSC, conforme a Figura 2:

Figura 2 - A pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa, de Carroll (1991).

Fonte: Adaptado de Carroll (1991).

O uso da estrutura referente à pirâmide para representar os domínios de RSC pode ser confuso ou ainda inadequado para algumas circunstâncias, já que, para alguns, esse modelo propõe uma escala hierárquica dos domínios de RSC. Ainda, há o agravante de que a estrutura da pirâmide não consegue captar a sobreposição entre as categorias. Além disso, com esta abordagem, não é possível o desenvolvimento teórico de domínios econômico, legal e ético. O papel da filantropia, por sua vez, é visto como uma parte separada do modelo. (SCHWARTZ, CARROLL; 2003)

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responsabilidade: ética, econômica e legal. Para melhor visualização do novo

framework, Carroll fez uso de um diagrama de Venn, de modo que nenhum dos três domínios se sobrepusesse aos demais, conforme demonstrado na Figura 3:

Figura 3 - O Modelo de Três Domínios para a Responsabilidade Social

Corporativa.

Fonte: Schwartz e Carroll (2003).

Abaixo segue breve descrição de cada um dos domínios que compõem a nova estrutura proposta por Carroll:

 Domínio ético: refere-se à responsabilidade ética do negócio, como esperada para a comunidade e partes interessadas representativas. Tal segmento é responsável tanto pela ética nacional quanto mundial;

 Domínio econômico: contempla as atividades que são reconhecidas por proporcionarem um impacto positivo direto ou indireto sobre a economia da organização em análise;

 Domínio legal: diz respeito à responsabilidade do negócio da organização para com expectativas legais mandatórias e esperadas pela sociedade na forma de jurisdições ou através de princípios legais como desenvolvido em caso da lei.

Por sua vez, Wood (1991) afirma que a ideia básica de RSC é que os negócios e a sociedade são interligados mais do que entidades diferentes, portanto, a sociedade tem algumas expectativas quanto ao comportamento adequado nos negócios e aos resultados.

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localizadas em todos os negócios por causa dos papéis como instituições econômicas, expectativas localizadas em empresas específicas por causa de quem elas são e o que elas fazem e expectativas localizadas nos gerentes como atores morais dentro da organização. (WOOD, 1991)

Segue o quadro elaborado por Wood (1991), no qual a autora conceitua RSC como o produto de configuração própria da empresa acerca dos princípios da responsabilidade social, processos de capacidade de resposta social, como também os resultados observáveis à medida que eles se interligam ao relacionamento social da firma.

Quadro 1 - O modelo de Performance Social Corporativa. Princípios da responsabilidade social corporativa

Princípio institucional: legitimidade

Princípio organizacional: responsabilidade pública Princípio individual: critério gerencial

Processos de responsabilidade social corporativa Avaliação do ambiente

Gestão dos stakeholders Gestão dos problemas

Resultados do comportamento corporativo Impactos sociais

Programas sociais Políticas sociais Fonte: Wood (1991).

Conforme Garriga e Melé (2004), a maioria das teorias sobre RSC que existem na atualidade enfatizam quatro perspectivas principais: encontrando objetivos que produzem lucros a longo prazo, usando o poder dos negócios de uma forma responsável, constituindo demandas sociais e contribuindo para uma boa sociedade agindo de forma correta. Assim, os autores propuseram uma classificação das teorias mais relevantes em RSC em quatro grupos: teorias instrumentais, políticas, integrativas e éticas.

No grupo de teorias instrumentais, RSC é visto como mecanismo estratégico a fim de atingir propósitos econômicos, como, por exemplo, a geração de renda. O grupo de teorias políticas enfatiza as interações e vínculos entre a sociedade e os negócios e o poder e o posicionamento dos negócios, além da responsabilidade decorrente deste. Dessa forma, o grupo político traz à tona a apreciação e interpretação política na reflexão sobre RSC. (GARRIGA; MELÉ, 2004)

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Melé (2004) reforçam que o grupo de teorias éticas destaca os requisitos éticos os quais servem de base para a construção de ligação entre sociedade e negócios.

Blowfield (2005) destaca que a força decorrente da implementação de práticas de RSC não se encontra em propor um novo padrão para os negócios, e sim em encontrar e mostrar os aspectos morais da estrutura capitalista que repercutem com investidores e clientes e que são possíveis de serem executadas pelos gestores.

A divulgação de balanço social, prática cada vez mais recorrente entre instituições, pode ser vista como uma forma de valorização da RSC pelos gestores das empresas. A criação de parâmetros sociais considera taxas/impostos, a relevância para a comunidade através de incentivos à cidadania e ao cuidado com o meio ambiente. Por meio desses relatórios, evidencia-se a inseparabilidade entre a extensão do aspecto ambiental, social e econômico, que servem de alicerce para o desenvolvimento sustentável. (ABREU et al, 2008)

Outra abordagem válida para a avaliação da estratégia utilizada pelas empresas, englobando as dimensões econômica, social e ambiental, é o modelo ECP-triplo (estrutura-conduta-performance), formulado por Abreu (2001). Tal modelo permite não só refletir sobre questões que envolvem oferta e demanda, mas também sobre a estrutura industrial atentando para aspectos como pressões por responsabilidade social e ambiental. Desse modo, este framework baseia-se na observação de que as firmas atuam em um cenário onde há cooperação e rivalidade. (ABREU et al, 2008)

Abreu et al (2008) corroboram que o meio no qual a empresa está situada é influenciado por ameaças externas e, por isso, tornam-se necessárias atitudes inovadoras. As perturbações são fruto da ação do governo, dos incrementos tecnológicos e das alterações na conduta social por meio da valorização das questões ambientais e sociais.

2.5 Responsabilidade social corporativa no setor têxtil

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Abreu (2015) elaborou um framework que identifica os condutores, os mecanismos para implementar práticas de responsabilidade social corporativa e os resultados. Tal estrutura servirá como base para a análise dos resultados, conforme consta no capítulo 4.

Uma companhia que inicia a execução de práticas socialmente responsáveis deve identificar as diversas forças propulsoras que direcionam ao comportamento sustentável e quais são os resultados almejados. Desse modo, pode-se chegar à conclusão de quais práticas são mais adequadas para serem executadas na companhia. (ABREU, 2015)

A autora divide as práticas que podem ser requeridas na efetivação da responsabilidade social corporativa em quatro grupos: internas, ambiente natural, relacionais e discricionárias. Seguem abaixo ações inerentes a cada uma dessas categorias:

- Discricionárias: Desenvolvimento de atividades filantrópicas, encorajamento de atividades filantrópicas pelos empregados, suporte financeiro para projetos locais comunitários, estabelecimento de recursos financeiros no desenvolvimento de programas sociais, cooperação e parceria com outras instituições e negócios relacionadas com questões de RSC.

- Internas: Políticas relacionadas com cuidados de saúde e benefícios aos empregados, incentivos para o planejamento da carreira e desenvolvimento dos empregados e implementação da ISO 9001, OHSAS 28001 e SA8000, políticas de recursos humanos relacionadas a não-discriminação no local de trabalho, Condições de trabalho justas e proteção aos direitos humanos e Política de saúde e programas de segurança no local de trabalho, Programa para assegurar qualidade em produto e serviço e Uso indicadores para monitorar performance sustentável

- Ambiente Natural: Implementação de sistemas de gestão ambiental: ISO 14001, programas de controle de emissão de gases, programas de conservação da água, programas de conservação da energia, programas de emissão de gases estufa, programas de gestão dos resíduos sólidos, desenvolvimento de inovações ambientais, desenvolvimento de produtos análise do ciclo de vida, desenvolvimento de padrões de proteção ambiental e restrições.

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canal aberto para diálogo, estabelecimento dos requisitos de RSC dentro da cadeia de suprimentos, prevenção do suborno e corrupção, política relacionada à transparência em contratos, negociações e propagandas e relatório usando modelos GRI e/ou assinatura do acordo Global Compact, disponibilidade de informações em produtos e serviços, incluindo obrigações pós-venda

Dentre os resultados alcançados após a incorporação, destacam-se a conformidade moral, a construção de uma imagem responsável, criação de diferencial competitivo, aumento da fatia de mercado dos produtos verdes e ecológicos, além da geração de lucro, conforme roteiro exposto abaixo.

Figura 4 - Roteiro da Responsabilidade Social Corporativa na Indústria Têxtil e de

Vestuário.

Fonte: Adaptada de Abreu (2015).

3 METODOLOGIA

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governamental quanto da iniciativa privada, no intuito de recuperar a competitividade perdida após anos de recessão.

Quanto à abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois a coleta de dados foi feita levando em consideração a subjetividade do sujeito, não sendo possível a tradução em números.

Verificamos que a presente pesquisa se caracteriza como descritiva e exploratória, tendo em vista os objetivos expostos no primeiro capítulo. De acordo com Gil (2002), a pesquisa descritiva visa à descrição de particularidades referentes a populações e fenômenos. O uso de técnicas padronizadas para a realização da coleta de dados, a exemplo de questionários e observações estruturadas, também é característica desse tratamento.

A abordagem da pesquisa também pode ser definida como exploratória, por apresentar a busca pela análise das influências decorrentes de características sociais, ambientais e inovadoras como diferenciadores do produto têxtil brasileiro.

No que se refere aos procedimentos técnicos, o trabalho pode ser classificado como estudo de caso, fundamentando-se no estudo profundo e incessante de um ou poucos escopos, a fim de que torne possível desvendar extenso e pormenorizado conhecimento. (GIL, 2002)

A técnica utilizada para a coleta de informações foi a de entrevistas de profundidade, conduzidas a partir de um roteiro semiestruturado, já que possibilitava adesão a questionamentos gerais levantados na revisão literária e abria espaço para que o entrevistado trouxesse à tona novas temáticas.

Com relação à análise dos dados empíricos coletados, utiliza-se a análise de conteúdo de Bardin. Dyniewicz (2009) explica que se trata de um método utilizado na busca da essência de sentido, pois considera a frequência com que as informações aparecem e a influência dessas informações para o objeto de pesquisa.

A análise dos conteúdos envolve as seguintes etapas: a pré-análise, que consiste na leitura preliminar da pesquisa documental; a escolha e definição das unidades de classificação, nesse trabalho, será utilizada a classificação exposta no artigo de Abreu (2005); o processo de categorização e classificação; a descrição científica e interpretação dos resultados, que consiste na leitura, descrição e interpretação dos dados obtidos para cada tópico da entrevista.

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então, buscou-se localizar empresas que poderiam fornecer informações importantes sobre a temática abordada.

A população pesquisada foi constituída por empresas têxteis e de vestuário que se localizam no Ceará, pertencentes aos setores moda praia, íntima, surfwear, masculina, feminina, fiação, cama, mesa e banho e tecelagem. Desse modo, foram selecionadas dez empresas para integrarem a amostra, tendo como critério a representatividade da organização perante o mercado cearense.

A realização deste estudo contou com o apoio do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral no Estado do Ceará (Sinditêxtil). A Sra. Kelly Whitehurst, membro da Diretoria Executiva durante a gestão 2011-2014, forneceu o contato de alguns gestores das empresas selecionadas, as quais tinham relações com o Sinditêxtil, além de ressaltar, junto a eles, a importância do projeto que seria desenvolvido, facilitando a marcação das entrevistas.

O contato prévio com tais instituições foi realizado por e-mail ou telefone, no intuito de agendar um horário para a realização da entrevista com o gestor que pudesse prover mais informações que ajudassem a elucidar o problema levantado e fornecer

inputs para a pesquisa.

Após a concordância por parte das empresas escolhidas em colaborar com a pesquisa e elaborados o questionários, os dados foram coletados nas sedes ou em filiais, em data e hora previamente acordados, a fim de que não houvesse interferência na rotina da organização.

As entrevistas ocorreram entre os meses de setembro a novembro de 2013. Foram gravadas e transcritas posteriormente, a fim de possibilitar a análise das informações repassadas pelos entrevistados. No total, foram aproximadamente 500 minutos de gravação. Os entrevistados abordados ocupavam cargos de direção ou gerência dentro das organizações, o que possibilitou captar a percepção da alta administração que, na maioria das empresas, já estava há bastante tempo no mercado têxtil.

O roteiro de entrevistas foi elaborado com o objetivo de extrair o máximo de informações possíveis dos entrevistados, sobre os temas responsabilidade social corporativa e inovação presentes no segmento têxtil cearense. Este guia utilizado na condução das entrevistas pode ser acessado na parte dos apêndices, ao final do trabalho.

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Quadro 2 – Caracterização das empresas entrevistadas.

Setor Segmentos Empresas Tempo de

operação Classes atendidas

Confecção

Moda praia E1 20 anos B, C

E2 30 anos B

Surf wear E3 29 anos B, C

Moda masculina e feminina

E4

69 anos C, D

Moda íntima E5 24 anos B, C

E6 33 anos A, B

Moda feminina E7 7 anos B, C

Cama, mesa e banho

E8

134 anos A, B, C, D

Manufatura Fiação E9 27 anos A, B, C, D

Tecelagem E10 52 anos A, B, C, D

Fonte: Elaborada pela autora.

4 RESULTADOS

Neste capítulo, são expostos os dados da pesquisa e os resultados obtidos após análise das entrevistas realizadas com dez empresas que integram a cadeia têxtil e de vestuário cearense.

Partindo de um panorama sobre o retrato da cadeia têxtil no Ceará, no Brasil e no mundo, utilizaremos o roteiro proposto por Abreu (2015), mostrado anteriormente, para separar em categorias as empresas entrevistadas de acordo com as ações de responsabilidade social corporativa desenvolvidas por tais companhias.

4.1 Panorama Competitivo do Setor Têxtil Cearense

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chega a sete ou oito mil peças por mês. Além da fábrica própria, a empresa conta com o auxílio de uma facção, terceirizando parte da produção.

A empresa E1 já chegou a atuar no mercado externo, exportando para a Dinamarca e Portugal, porém, atualmente não funciona mais dessa forma, direcionando toda a produção para o mercado interno. Os motivos que levaram à extinção da participação internacional foram o grande esforço em alterar a modelagem dos biquínis para atender ao gosto do cliente que mora no exterior e também a incapacidade fabril de atender esta demanda.

Além do Ceará e de Pernambuco, a empresa atende, por meio de representantes, os estados do Maranhão, Sergipe e Bahia. Os clientes atendidos nas Regiões Sul e Sudeste do país são pontuais.

A entrevistada da empresa E1 afirma que a concorrência dos produtos asiáticos não afetou as vendas. Alguns produtos adquiridos de fornecedores são provenientes da China. Ela alega que as empresas são brasileiras, mas os tecidos são importados. Contudo, as partes de estamparia e beneficiamento são realizadas internamente: o beneficiamento da estamparia ocorre em São Paulo, os acessórios são adquiridos em Santa Catarina.

A cadeia de fornecedores encontra-se principalmente nas regiões Sul e Sudeste (Santa Catarina e São Paulo), já que, com relação a acessórios, por exemplo, o custo é menor ao adquirir o produto diretamente da indústria. De fornecedor local, a empresa conta com apenas um, que é o fabricante de bojos usados nos biquínis. A entrevistada ressalta que nunca houve mobilização para trazer os fornecedores para mais perto da fábrica.

Na empresa E1, a busca pela inovação fez com que organização encontrasse um fornecedor capaz de produzir tecidos digitais, substituindo os tecidos de cilindro, que gastam mais água e poluem mais.

Contudo, a motivação principal dessa substituição foi a redução de custos proporcionada pela troca de tecidos e a exclusividade adquirida para as estampas produzidas. Além de modelagem e estampas diferenciadas, outro diferencial competitivo dos produtos comercializados pela empresa E1 é a qualidade do tecido utilizado.

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na moda, a fim de incorporar esses elementos em seus artigos, além do processo de personalização dos acessórios, investimento em tecidos de alta durabilidade, produção de estampas digitais exclusivas e variedade de modelagens para os diferentes tipos de corpo.

A outra empresa do segmento moda praia que contribuiu com a pesquisa foi a E2, cujo público-alvo encontra-se majoritariamente na classe B, chegando a atingir, em menor escala, as classes A e C também.

A opinião da gestora da E2 é que o mercado de moda praia no Brasil não sofreu com a enxurrada de produtos asiáticos, principalmente chineses, com a extinção do ATV em 2005. A principal matéria-prima utilizada na produção do biquíni é a Lycra, mas a China não produz esse componente.

Com relação às exportações, a entrevistada alegou que, desde a queda do dólar, o volume exportado é pouco relevante. Uma vez estava bastante difícil de conquistar espaço fora do país, a empresa concentrou esforços em garantir a clientela nacional, já que o mercado interno estava em crescimento acelerado.

Em 2013, o volume de exportação da empresa E2 estava baixo, já que o câmbio não se encontrava favorável para o comerciante brasileiro que desejasse exportar. A empresa decidiu, então, focar suas ações em prospectar mais clientes no mercado interno. A entrevistada alega que os consumidores internacionais atentam basicamente para o preço na hora de decidir qual produto adquirir, comportamento que torna ainda mais difícil a inserção do biquíni brasileiro no cenário mundial.

Atualmente, um dos grandes desafios encontrados pela empresa E2 é a falta de mão de obra qualificada, conforme consta no Quadro 3. Para a gestora da empresa, esse problema impacta diretamente na produção da empresa. Além disso, soma-se o fato de que o preço praticado na venda da Lycra em território nacional e internacional varia muito pouco entre as localidades, ou seja, não é possível economizar nessa aquisição.

Outro entrave ao crescimento da empresa E1 é tributação vigente no país, em especial, no Ceará. O estímulo dado pelo governo estadual para que as companhias realizem compras internamente não funciona para a empresa E1, já que não existe nenhum fabricante de Lycra em território cearense, assim como os produtos acabados vendidos na loja, por exemplo, bolsa, óculos, sandália, entre outros acessórios, a entrevistada só consegue adquirir em outros estados.

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enfatizando a existência de uma estamparia exclusiva. Antes de lançar uma coleção, é realizada pesquisa para conhecer as tendências no mercado de moda praia e para saber quais as preferências do consumidor.

No segmento surf wear, contamos com a participação da empresa E3 na pesquisa, cujo público-alvo é constituído pelas classes B e C, na faixa etária aí dos 16 aos 30 anos, focando o maior volume produtivo na faixa que vai de 18 a 24 anos. Tal organização está presente em todos os estados brasileiros, através de lojas próprias em Fortaleza, Belo Horizonte e Salvador e da presença em lojas multimarcas no restante do país.

Segundo o entrevistado, a empresa E3 já teve algumas experiências em vendas para o exterior, mas, com a valorização do real, essas práticas se tornaram inviáveis, de maneira que a parcela de produtos destinados ao mercado externo atualmente é praticamente zero, perante a fragilidade do preço praticado pelo artigo têxtil brasileiro.

O entrevistado salienta que o volume de importações no Brasil vem crescendo substancialmente de ano a ano, por exemplo, as importações de 2006 para 2012 cresceram 212%, em geral. Ou seja, teve um crescimento de 200% das importações em cinco anos. O fim do ATV, em 2005, não foi o principal motivo para a queda expressiva da indústria brasileira no cenário mundial, já que o problema, segundo o gestor da E3, encontra-se na carga tributária elevada, na legislação trabalhista atrasada e na falta de infraestrutura. A situação tributária no Ceará também é questão delicada, pois influenciou bastante na perda de competitividade para outros estados, com cargas tributárias mais favoráveis, como o Rio de Janeiro.

Como estratégia adotada para se proteger perante essa enxurrada dos produtos estrangeiros, a empresa E3 procurou também investir em importações nos nichos específicos que a empresa não é competitiva, fator presente no Quadro 3. Por outro lado, o entrevistado destaca que os clientes em geral não fazem distinção entre um produto brasileiro e um produto estrangeiro na hora da compra. O consumidor já está ciente que os produtos chineses não são de baixa qualidade, não são feitos com mão de obra escrava. O motivo de importar itens chineses/asiáticos é a competitividade do preço praticado por esses produtores. Para a empresa E3, os chineses constituem fornecedores de tecidos, tintas, aviamentos e também produtos acabados.

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ou em São Paulo ou em Santa Catarina, que possuem mais expressivas e que têm muitas empresas para atender por perto. O Ceará vem perdendo competitividade ao longo desses anos.

A visão da empresa E3 é que a moda não é feita no Brasil, mas sim na Europa, então não é possível existir um diferencial competitivo perante os produtos estrangeiros. Essa diferenciação só pode ser feita em termos de marca, uma vez que cada marca pode criar um diferencial, que gere um desejo de consumo.

Os diferenciais criados para a marca caracterizada pela empresa E3 são o estilo e a identidade idealizada. As estratégias utilizadas no lançamento, na comunicação, no posicionamento auxiliam na construção de um diferencial em relação aos concorrentes, os quais estão segregados por estado ou região, já que poucas marcas trabalham a nível nacional como a E3 atua. Destacam-se a HangLoose e a OKDOK na Região Sudeste, a Mormaii na Região Sul, a Cobra D’agua no Espírito Santo e em alguns estados do Centro-Oeste, a Mahalo na Bahia, em Alagoas e em Sergipe.

No segmento moda feminina e masculina, contamos com a participação da empresa E4 na pesquisa. Em termos de classe social, ela atende o público C e D, só que, com o desenvolvimento de ações mercadológicas, a empresa conseguiu atingir também os públicos A e B, em menor escala. Com relação à faixa etária, a E4 trabalha com vários estilos de vida, comercializando produtos para o recém-nascido, com um mês de vida, e pessoas de idade mais avançada, contemplando toda a sociedade. Com relação aos locais de comercialização, hoje a empresa E3 possui lojas próprias no Brasil inteiro, em todos os estados, tendo como grandes concorrentes a Renner e a C&A.

Como vantagem competitiva em relação aos grandes players do mercado, a entrevistada ressalta a existência de uma fábrica própria que abastece a E4, atribuindo vantagem competitiva em termos de agilidade, caracterizando a produção de fast fashion, e a proximidade com o seu maior fornecedor, garantido maior flexibilidade. Ainda, atualmente não há a pretensão de atuar no mercado fora do país, através do estabelecimento de lojas no exterior, pois a gestora enfatiza que o Brasil ainda tem muito mercado a ser explorado.

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adquiriu produtos importados, inclusive matérias-primas, maquinário, tecidos e botões, atitude que ajuda a tornar o preço final do produto mais competitivo.

A gestora afirma que os preços das peças são estipulados de acordo com o mercado e que a empresa adota a estratégia de focar na profissionalização da equipe responsável pelos diversos estilos que a companhia atende a fim de tornar o produto diferenciado. Ainda, segundo ela, é possível que o consumidor consiga diferenciar o produto da empresa E4 de um produto asiático. Os fornecedores de produtos finais estão distribuídos por vários lugares, como Fortaleza e São Paulo, contudo, o maior se encontra no Rio Grande do Norte.

A empresa E5, participante do segmento moda íntima, já faz parte do mercado cearense há 24 anos. O entrevistado reforça que a empresa tem como público-alvo as classes B e C, embora tenha outros consumidores também. Atua fortemente com vendas efetuadas por meio de representantes comerciais, tendo apenas uma loja de varejo, que serve apenas para regular os preços praticados na revenda, conforme destacada na frase “[...] só tem uma loja funcionando em frente ao Iguatemi que houve um trabalho de pesquisa junto ao cliente final, junto aos revendedores. Junto ao cliente final, a gente constatou que começou a formar uma opinião de que o produto era bom, mas era caro e nós não estávamos vendendo caro, então essa diferença estava exatamente no preço praticado pela revenda. Então a gente colocou essa loja e deu certo, deu uma segurada no preço porque aí a pessoa tem um norte, ela compra por aquele preço quando ela descobre que a loja lá tem um preço x e pode até continuar pela revendedora por um preço mais caro por causa da comodidade. Mas ela tem a ideia de custo.” (E5)

A faixa etária dos clientes que compram da empresa E5 é de 25 a 45 anos. De uma forma mais abrangente, em torno de 65% a 70% dos clientes estão nessa faixa. O gestor afirma que constitui um desafio para a empresa trabalhar com um público-alvo tão jovem, porque a característica do nosso produto é muito conservadora, não tão ousado como os padrões atuais. Dentre os concorrentes, o entrevistado cita Thais Ferreira, Feminize, Robia, Diuncorpo e Diamantes Lingerie.

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A fábrica se localiza em Fortaleza, mas a clientela está espalhada por todo o Brasil, com destaque para os consumidores cearenses, que adquirem 50% do volume produtivo da empresa E5.

Perguntado sobre os desafios encontrados pela empresa após a extinção do ATV, o entrevistado ressaltou que, em momentos de crise, a indústria também cresce, pois os gestores precisam pensar em boas estratégias para lidar com a situação, produzir de uma maneira mais eficiente, agregar mais valor ao produto. Tem também o lado negativo, já que a concorrência tornou-se mais acirrada e tem como agravante o preço praticado pelos produtores estrangeiros, difícil de ser batido pela indústria nacional.

Então, a estratégia adotada pela empresa E5 para posicionar seus produtos no mercado mundial com uma vantagem competitiva é agregar valor ao produto, já que não é possível concorrer em preço. Todo ano, são realizadas pesquisas por meio das quais conclui-se sobre o nível de satisfação do consumidor com relação aos produtos fabricados pela empresa. Os resultados destacam que qualidade e preço nunca foram problemas apontados pelos clientes.

Segundo o entrevistado, a questão da elevada carga tributária não pode ser apontada como fator que dificulta a sobrevivência da indústria têxtil nacional, pois quem paga o tributo, na realidade, é o consumidor. Esse quesito impacta apenas quando é feita uma comparação com o mercado externo, já que tem um peso muito significativo para concorrer com um produto estrangeiro. O fator realmente relevante, que desequilibra a dinâmica das empresas, é a informalidade, a sonegação.

Como forma de se defender perante a enxurrada de produtos estrangeiros, a empresa E5 realizou investimentos na criação de um departamento de planejamento e controle da produção, contratou estilista, a fim de incorporar novas tendências e aperfeiçoar o processo produtivo, o qual se encontra atualmente bastante informatizado.

Ainda, o entrevistado alega que existe influência do regionalismo na definição do desenho da peça, mas na lingerie, é muito difícil agregar elementos do artesanato, porque muitas vezes um artigo com tais detalhes não é funcional, marca na roupa, impossibilitando a utilização no dia a dia.

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No cenário têxtil cearense, encontram-se também empresas familiares, a exemplo da empresa E6, cujo público-alvo é constituído por mulheres pertencentes às classes A e B e presentes na faixa etária de 25 a 50 anos. Assim, o produto da empresa E6 não pode ser considerado indispensável, mas atualmente essa questão é relativa, depende da maneira como o produto é apresentado para o cliente. Dentre as principais concorrentes da E6, destacam-se as marcas Take a Nap, Juji, Fruit de La Passion, Liebe, Sensuality, Linhas e Cores. A fábrica localiza-se em Fortaleza e possui capacidade produtiva de 12 mil peças/mês, contando com 55 funcionários na parte produtiva e 30 nas lojas.

Quando a empresa E6 surgiu, ela era voltada para o atacado e vendia para várias cidades do Brasil. Então começou a perseguição fiscal e começaram a aparecer outros polos de venda de atacado e empresa começou a enveredar pra o varejo. Atualmente as vendas são exclusivamente direcionadas ao varejo e para o mercado interno cearense. Contudo, a entrevistada esboça planos de ampliar a rede de lojas e direcionar as vendas também para as demais capitais do Nordeste, como Recife e Salvador.

Conforme o entrevistado, o fim do ATV não influenciou a dinâmica dos negócios da empresa E6. Na realidade, tal instituição apenas adquire matérias-primas provenientes da China, os insumos como fios, tecidos e alinhamentos. Em quesito de produto acabado, não há concorrência com os asiáticos. 100% do poliéster adquirido pela companhia, por exemplo, é proveniente da China, representando 20 a 25% da matéria-prima em volume. Ressalta ainda que o Ceará é um grande produtor de lingerie. Além disso, a empresa E6 já realizou pesquisa de mercado na China, como participante de uma missão da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), através do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras no Estado do Ceará (SindConfecções). Após tal experiência, os gestores chegaram à conclusão que, para o pequeno empresário, é inviável ainda fazer esse tipo de importação, porque a quantidade mínima requerida é muito grande, além das restrições referentes a tamanho e cor. Adicionalmente, observou-se que algumas fábricas cearenses conseguem produzir a mesma calça jeans que os chineses produzem por um preço quase igual ou um pouco acima do chinês.

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O entrevistado enfatiza que os clientes não se preocupam com a procedência do produto têxtil adquirido. Um atributo diferenciador que eles conseguem notar é se o produto foi fabricado por quem está vendendo-o, característica que transmite confiança e destacada no Quadro 3.

Questionado sobre o trabalho informal, o entrevistado da empresa E6 sente a necessidade do Governo intensificar a fiscalização junto aos concorrentes informais, destacando a existência do comércio desleal na Rua José Avelino, em Fortaleza, no qual várias empresas que não pagam impostos comercializam seus produtos livremente. Outra dificuldade destacada é a falta de mão de obra, pois devido aos programas sociais, parcela da população se acomodou com o auxílio recebido e desistiu de procurar colocação no mercado de trabalho.

Dentre os diferenciais das peças elaboradas pela empresa E6, o principal é o acabamento das peças. O entrevistado atesta que, na China, a produção é em escala e, por isso, normalmente não é muito requintada, nem muito detalhada, além do índice de perda e/ou falha ser bem alto. Inclusive os comerciantes chineses já embutem essa informação no preço ajustado, pois em qualquer negociação que seja feita com eles, já é fornecido um abatimento no valor total da mercadoria em decorrência de defeitos que poderão existir.

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Outra organização que colaborou com a pesquisa foi a empresa E7, destinada ao público feminino, na faixa etária de 18 a 40 anos. Ela possui uma fábrica, na qual há a produção das peças, com destaque para o setor de desenvolvimento de produtos, e posteriormente é realizada a venda para lojas multimarcas. Vale ressaltar que não há loja própria, a comercialização das peças é realizada diretamente por representantes de venda.

A empresa E7 constituiu a sua rede de clientes nas capitais da Região Nordeste e em São Paulo, e tem como foco os consumidores das classes B e C. A fábrica é sediada em Fortaleza, contudo, pequena parcela da produção é destinada ao público cearense, sendo direcionada mais para os outros estados do Nordeste, como Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Maranhão e Piauí. Ainda, não existe a pretensão em intensificar as vendas para a Região Sudeste e para outros países, atuando apenas em lojas multimarcas, lojas de boutiques e centros comerciais.

O foco da empresa E7 não está no mercado externo ou em outras regiões do Brasil, fora a Região Nordeste, pois, segundo o entrevistado, a moda desenvolvida localmente não conseguiria atingir o público de fora. Até mesmo para o Sudeste, a empresa tem dificuldade com relação à moda inverno, porque a produção é muito voltada para o Nordeste e aqui não tem inverno, de modo que a coleção é adaptada ao verão.

O entrevistado da E7 salienta que, dentro do segmento no qual a companhia atua (modinha), o fim do ATV não teve impacto significativo, já que, segundo ele, tal confecção é constituída por produtos que possuem lead time bastante reduzido, então os concorrentes asiáticos, até por questão de logística, não conseguem atender o pedido a tempo. Dessa forma, a estratégia adotada pela instituição para se proteger perante uma possível concorrência chinesa seria focar cada vez mais na chamada “moda rápida”.

Cada coleção desenvolvida pela empresa E7 possui um tema específico e são lançadas de três em três meses, totalizando quatro coleções anuais. Mas dentro de cada coleção, há a produção para estoque. Cada produto permanece dentro do estoque em torno de quinze dias. No decorrer da vigência de cada coleção, são lançados vários modelos novos.

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abastecedores da E7 possuem filiais em território cearense, mas só contemplam o setor comercial. Destaca-se a influência do produto chinês, já que muitos dos fornecedores importam constantemente.

Dentre as empresas que participaram da pesquisa, destaca-se também a E8, que atua no segmento cama, mesa e banho. Nela a maior parcela do faturamento é concentrada na linha banho, que é constituída por toalhas felpudas. Atinge diversas classes sociais, em sua maioria, A, B, C e D, trabalhando com o atendimento para grandes varejistas e redes especializadas. Existem também lojas próprias nas quais são vendidos produtos destinados às classes A, B e C, além de uma loja própria que atende um nicho mais específico, a classe AA. A matriz se localiza na cidade de Blumenau, estado de Santa Catarina, e possui uma filial na Região Nordeste, no estado do Ceará.

A grande parcela do faturamento da empresa E8 está concentrada no Sudeste. Então, o gestor reforça a necessidade de atuar com maior agressividade no Nordeste, além de fortalecer a atuação no mercado externo. Em 2013, quando foram realizadas as entrevistas, a empresa estava com 6 a 7% do seu faturamento destinado à exportação. Há alguns anos, a empresa tinha uma parcela de produção destinada ao mercado externo muito maior, chegava a mais de 50%. Então, a variação cambial e o acirramento da concorrência em função da produção em larga escala e redução de custos fez com que o setor têxtil brasileiro perdesse importância no mercado externo. No mercado interno, a Região Nordeste é aquela na qual a empresa deve intensificar suas ações. Porém, percebe-se que, em algumas linhas, existe grande possibilidade de crescimento, como a linha cama, que apresenta, segundo visão do gestor, a maior perspectiva de incremento, dentro do segmento cama, mesa e banho.

De acordo com o gestor da empresa E8, a indústria têxtil sofreu fortemente depois do fim do ATV, pois, além de ter enfrentado obstáculos em virtude da situação econômica desfavorável vivenciada pelo país, perdeu considerável fatia do mercado externo pela questão cambial e pela enxurrada de produtos estrangeiros. Desse modo, exportar tornou-se tarefa árdua e muitas empresas, como a E8, tiveram que se reestruturar para trabalhar em um novo formato, no qual 90 a 95% do volume produtivo seria voltado para o mercado interno.

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produtiva, incentivar a dedicação das pessoas e gerir todos esses aspectos da melhor forma possível. A redução de custos também constitui atitude importante, além de tentar assegurar o retorno positivo dos produtos lançados no mercado.

O entrevistado reforça que a carga de tributos está tão alta, que muitas empresas não conseguem arcar com mais essa despesa e acabam fechando, por mais que sejam criados alguns subsídios, tendo em vista que a concorrência só aumenta. Então, segundo ele, o governo deveria criar alguns mecanismos de controlar essas entradas desenfreadas de produtos, pensando um pouco mais a longo prazo. Os próprios investidores estão fugindo do Brasil, estão investindo fora, onde a carga tributária é menor e onde eles vão conseguir maiores retornos.

Quando uma instituição migra para o mercado externo, geralmente seus gestores levam a mão de obra especializada do próprio país para fora. O Brasil acaba perdendo mais renda, porque as pessoas especializadas são as principais responsáveis pelo incentivo à inovação e, por conseguinte, pela alavancagem da imagem do país.

Segundo seu gestor, as principais táticas que empresa E8 utiliza para tornar o produto brasileiro mais competitivo e diferenciado perante o comércio internacional são a participação em feiras e a busca pela inovação. Por exemplo, ele destaca que empresa conta com uma equipe de engenharia que realiza análises, estudos a fim de encontrar ideias para criar produtos ainda não existentes no mercado, trazendo um retorno positivo e encantando os clientes. Para ele, as grandes produtoras de inovação são as pessoas, então, para conseguir que uma inovação seja desenvolvida, primeiro é necessário que exista uma pessoa que busque aquele objetivo de alcançar a inovação.

A exemplo dessa inovação, cita que, em 2011, a empresa E8 criou uma toalha de mesa anti-formiga, que logo se tornou um sucesso dentre as donas de casa, pois não utiliza produto químico em sua composição, não sendo prejudicial à saúde, e que realmente consegue repelir os indesejados insetos.

Segundo a perspectiva do gestor da empresa E8, hoje em dia está cada vez mais difícil diferenciar o produto têxtil nacional, porque os produtos asiáticos, principais rivais da indústria brasileira, estão conseguindo desenvolver uma gama de produtos de alta qualidade. A questão da inovação pode ser inserida nessa perspectiva, pois por meio dessa prática, a empresa pode criar algumas marcas que distinguem um produto nacional e um produto importado.

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país, do nordeste e alguns insumos são provenientes do Paquistão, da Índia e da China, como, por exemplo, os tecidos que servem de base para a produção de roupa de cama. A empresa demonstra a preocupação de trazer sua cadeia de fornecedores para perto da fábrica, como evidenciado no Quadro 3.

A pesquisa envolveu empresas de confecção e manufatura. A manufatura atua no início da cadeia. Por exemplo, no caso da empresa E9, ela compra o produto agrícola, que é o algodão, e o transforma em produto manufaturado, o fio de algodão, usado como a matéria-prima para em tecelagem ou malharia. Essa indústria vai entregar também matéria-prima para outra indústria, a de confecção, que depois entrega para a loja, na qual o consumidor final tem acesso ao produto. Segregando em etapas de produção, tem-se a extração do algodão, a constituição do fio, a tecelagem, a confecção e o lojista. A empresa E9 situa-se na segunda fase, transformando o produto agrícola em fio.

Os clientes da empresa E9 estão concentrados, em sua maior parte, no Ceará, em São Paulo e Santa Catarina. Eles prezam bastante pela relação entre preço, qualidade e atendimento no prazo. De acordo com o entrevistado, atualmente as empresas não têm muitos estoques, o trabalho geralmente é feito à medida que são realizados os pedidos, então o custo do capital é muito elevado pra que exista um estoque.

Desse modo, ele alega que a empresa E9 consegue vender toda a sua produção, nem que pra isso tenha que sacrificar ou preço ou prazo. O maior entrave para a constituição de um estoque é o elevado capital de giro, já que, para esta finalidade, é necessário contar com uma área de armazenagem muito grande. Ainda, ressalta que a produção da empresa E9 é de duas mil e trezentas toneladas de fio por mês.

No final da década de 1990, a empresa E9 era a maior exportadora de fio do Brasil. Basicamente, exportava para Portugal, na época o grande produtor de têxteis que abastecia a Europa. Portugal, Estados Unidos e Argentina eram grandes consumidores. Havia exportações também para Peru, Alemanha, Itália, Israel, porém, em menor escala. Ao longo dos anos, houve desvalorizações cambiais, já que, com o Plano Real, o dólar se tornou muito barato e inviabilizou a exportação. Depois houve um processo de

dumping, feito por Portugal, contra os produtos brasileiros, de maneira que tornou bastante difícil o acesso ao mercado local.

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Figura 1 - Configuração básica da cadeia produtiva têxtil e de confecções.
Figura 2 - A pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa, de Carroll (1991).
Figura  3  -  O  Modelo  de  Três  Domínios  para  a  Responsabilidade  Social  Corporativa
Figura 4 - Roteiro da Responsabilidade Social Corporativa na Indústria Têxtil e de  Vestuário

Referências

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