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Palavras-chave: Inquérito das Fake News; Liberdade de Expressão; Supremo Tribunal Federal; Democracia.

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Academic year: 2021

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INQUÉRITO DAS FAKE NEWS: UMA AMEAÇA À LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SUA EXTENSÃO

FAKE NEWS SURVEY: A THREAT TO FREEDOM OF EXPRESSION AND ITS EXTENSION

GONÇALVES, Isabela Fontoura1 LOBO, Maria Eduarda de Medeiros2 SANTOS, Maria Vitória Bedim Moreira dos3

VIEIRA, Thamires da Silva4 SILVA, Tatiana Mareto5

RESUMO

O presente artigo empenhou-se em dissertar acerca das implicações sofridas pela sociedade no que concerne aos seus direitos fundamentais, com foco na liberdade de expressão e suas vertentes – previstos na Carta Maior de 1988 – com a instauração do chamado “Inquérito das Fake News”, pelo ministro José Antônio Dias Tófoli, ex- presidente do Supremo Tribunal Federal. Com a instauração do referido inquérito, a sociedade brasileira teve o seu direito da liberdade de expressão oprimido e censurado, considerando que sua exteriorização, caso contrária ao posionamento adotado pela Suprema Corte, era julgada como errônea e equivocada. Nesse ínterim, o Supremo Tribunal Federal, por meio dos canais de comunicação midiáticos, reprimiram, reprovaram e puniram as ideologias políticas contrárias a sua inteligência, reputando qualquer manifestação diversa como ameaça, desacato ou, como costumam intitular, “fake news”. Nessa visada, a ora pesquisa buscou demonstrar, através de pesquisas científicas, que os atos praticados pelo Olímpo do Judiciário foram antidemocráticos, haja vista a nítida violação e repressão da exteriorização da liberdade de expressão, em especial a maculação da imprensa visto que visaram manipular as informações disseminadas nos meios de comunicação exponenciais. À vista disso, buscou-se evidenciar que as ações praticadas pelo Guardião da Constituição Federal influenciavam, sobretudo, nas disparidades já existentes na relação entre a Sociedade e o suposto Estado Democrático de Direito. Destarte, a aludida pesquisa exploratória, fundamentada e concreta se atentou em demonstrar os atos antidemocráticos praticados pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal, em gozo de seus poderes políticos, com a instauração do Inquérito das Fake News.

Palavras-chave: Inquérito das Fake News; Liberdade de Expressão; Supremo Tribunal Federal; Democracia.

ABSTRACT

This article endeavored to discuss the implications suffered by society with regard to its fundamental rights, with a focus on freedom of expression and its aspects provided in the Constitution of 1988 - with the establishment of the so-called "Inquiry of Fake News", by minister José Antônio Dias Tófoli, former president of the Federal Supreme ________________________

1Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES - isabelagfontoura@gmail.com.

2Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES - mmedeiroslobo@gmail.com.

3Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES – mvbedim@gmail.com.

4Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário São Camilo-ES – thamiresdsvieira@gmail.com

5Professora orientadora. Doutora em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Mestre em Políticas Públicas e Processo pela Faculdade de Direito de Campos (UNIFLU/FDC), Pós- graduada em Processo Civil pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV). Professora do Curso de Direito do

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Centro Universitário São Camilo - ES – tatianamareto@saocamilo-es.br.

Court. With the opening of the aforementioned inquiry, Brazilian society had its right to freedom of expression oppressed and censored, considering that its externalization, if contrary to the position adopted by the Supreme Court, was judged as erroneous and mistaken. In the meantime, the Supreme Court, through media communication channels, repressed, reproached and punished political ideologies contrary to its intelligence, considering any different manifestation as a threat, contempt or, as they usually call it, “fake news”. In this regard, the present research sought to demonstrate, through scientific research, that the acts practiced by the Olympus of the Judiciary were undemocratic, given the clear violation and repression of the externalization of freedom of expression, in particular the taint of the press as they aimed to manipulate the information disseminated in the exponential media. In view of this, we sought to show that the actions taken by the Guardian of the Federal Constitution influenced, above all, the existing disparities in the relationship between Society and the supposed Democratic State of Law. Thus, the aforementioned exploratory, grounded and concrete research sought to demonstrate the undemocratic acts practiced by the Justices of the Supreme Court, in enjoyment of their political powers, with the establishment of the Fake News Inquiry.

Keywords: Fake News Survey; Freedom of Expression; Supreme Court; Democracy.

INTRODUÇÃO

A instauração do chamado Inquérito das Fake News, interposto pelo atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Antônio José Dias Tóffoli Goma, no qual foi presidente entre os anos de 2018 – 2020, busca averiguar a divulgação e propagação de notícias fraudulentas e caluniosas, falsas comunicações, ameaças e demais infrações que atingem a honorabilidade e a segurança da Suprema Corte e seus ministros. A instauração de inquérito desencadeou diversas implicações aos direitos fundamentais da sociedade, em especial acerca da liberdade de expressão e sua extensão.

Antes das investigações, o compartilhamento de informações, pensamentos e críticas nos meios midiáticos de comunicação, eram considerados como exteriorização da liberdade de expressão e, além disso, serviam como base para formação do juízo de convencimento político ou não do indivíduo “lato sensu”.

Destarte, a problemática dessa pesquisa é: Houve violação do direito à liberdade de expressão e sua extensão por parte do Supremo Tribunal Federal com a propositura do inquérito das Fake News?

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Nesse ínterim, como pressuposto teórico, é permissível pressupor que a instauração das investigações do inquérito das “Fakes News” violou alguns dos direitos fundamentais do ser humano, principalmente no que diz respeito à liberdade de expressão, uma vez que a finalidade das investigações era penalizar aqueles que compartilhavam “supostas” informações caluniosas e fraudulentas através das mídias sociais a respeito do Supremo.

Tecidas tais informações, a justificativa da pesquisa consiste em proporcionar ao caro cidadão leitor a possibilidade de refletir quanto as ações que vem sendo adotadas pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal no gozo de suas atribuições e os riscos que tais condutas podem acarretar para o Estado Democrático de Direito.

Nesse ínterim, o objetivo geral do presente artigo é dissertar sobre às violações sofridas ao direito à liberdade de expressão e sua extensão, em especial a liberdade de imprensa, pelos atos antidemocráticos praticados pela Corte Suprema com a instauração do aludido inquérito, que, por consequência, maculou os direitos garantidos pela Carta Maior de 1988.

Conforme a Constituição Federal de 1988, art. 220, §2°, é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. Ou seja, a violação à liberdade de expressão por parte do Estado implica em consequências negativas para sociedade, isso porque fomenta o autoritarismo do Estado para agir da forma que

“entender adequada”, não observando a lei e ignorando a democracia.

Os órgãos Estatais, sobretudo a Suprema Corte – suposta defensora da Constituição do Brasil – deve resguardar os direitos garantidos na Carta Magna e não os reprimir. Nesse ínterim, ao decorrer da pesquisa, as violações ao direito de liberdade de expressão pelo órgão máximo da jurisdição serão evidenciadas.

METODOLOGIA

O estudo deste trabalho foi realizado no período de março a maio de 2021, objetivando realizar a Atividade Interdisciplinar na elaboração de um Artigo Acadêmico. Para almejar isso, foi utilizado o método de pesquisa exploratória com a finalidade de analisar a suposta violação da liberdade de expressão e sua extensão no Inquérito das Fake News, partindo de revisão bibliográfica composta pelos

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principais autores da área constitucional e outras relacionadas, a legislação, em especial a Constituição Federal e a jurisprudência.

A finalidade é traçar um denominador comum que possa ser utilizado como objeto de estudos posteriores através da infração dos direitos essenciais advindos do presente Inquérito. Para isso, a pesquisa será baseada em estudos de autores, como por exemplo, Flávio Martins, Pedro Lenza, Gilmar Mendes, André de Carvalho, bem como entrevistas, artigos, entre outros pensadores que elaboraram trabalhos pertinentes ao assunto.

Partindo dos conceitos apresentados pelos autores constitucionais, o trabalho analisará o perfil do direito a liberdade de expressão, compreendendo toda a importância que possui na construção da vida dos brasileiros, assim como o valor que a Suprema Corte detém na proteção desse direito fundamental e como ocorreu a sua violação pelo Supremo Tribunal Federal por meio de um inquérito que visa punir atos antidemocráticos.

DISCUSSÃO

1. A Liberdade de Expressão como um Direito Fundamental

A locução “liberdade de expressão” consiste na faculdade da pessoa se manifestar de forma livre, expor suas ideias, opiniões, crenças, juízos de valor, por meio da palavra oral e escrita, da imagem ou de qualquer outro meio de propagação, assim como na faculdade de se comunicar ou receber informações sem embaraços, nem discriminações (FARIAS, 2004). A liberdade de expressão se subdivide em diversas lib

erdades, como a de comunicação, de imprensa, de informação, de opinião e de manifestação e religiosa.

Esse direito fundamental compreende a “dimensão subjetiva (garantia da autonomia pessoal) e institucional (garantia da formação da opinião pública, do pluralismo político e do bom funcionamento da democracia) assegurado a todo cidadão” (FARIAS, 2004, p. 49). Desse modo, a liberdade de expressão é imprescindível para a existência de um Estado Democrático de Direito, o qual é o caso do Estado brasileiro.

No âmbito do caminho trilhado pelo direito constitucional estrangeiro, a liberdade de expressão encontrou amparo já na primeira onda do constitucionalismo moderno – a qual restou configurada pela proteção dos direitos e garantias fundamentais, limitação do poder político estatal, bem como a elaboração de

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constituições escritas (TAVARES, 2012). A positivação jurídica da liberdade de expressão se iniciou com a Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia de 1776, a qual passou a reconhecer a liberdade de expressão como um direito inerente ao indivíduo (FERREIRA,1997). Frisa-se que o documento histórico não remete de maneira específica à liberdade de expressão, mas sim à liberdade de imprensa, como se observa no disposto em seu artigo 12, o qual revela “que a liberdade de imprensa é um dos grandes baluartes da liberdade, não podendo ser restringida jamais, a não ser por governos despóticos”.

Na trajetória do direito constitucional brasileiro, a liberdade de expressão estabeleceu-se desde a Carta Imperial de 1824 e, desde então, tem vivenciado períodos de maior ou menor limitação, como ocorreu no contexto da chamada Ditadura do Estado Novo, cuja Constituição de 1937 estabelecia fortes limitações ao exercício da liberdade de expressão, da mesma forma no período da Ditadura Militar de 1964- 1985, a qual censurava manifestações artísticas e a imprensa.

É mister salientar que, com a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948, a liberdade de expressão foi elevada ao patamar universal de um direito humano positivado que, de acordo com o artigo 19 da Declaração:

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão. (ONU, 1948) Em consonância, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 1966, ratificado pelo Brasil, mediante sua incorporação ao direito interno em 1992, explana no seu artigo 19 que:

1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. 2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua escolha. (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, 1966)

Por derradeiro, cita-se a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) – igualmente ratificada pelo Brasil no mesmo período –, a qual em seu artigo 13.1 expõe que toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e

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difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem limitação de fronteira e de qualquer forma, seja verbal ou por escrito.

Nessa perspectiva, Gilmar Mendes (2019, p. 394) leciona que “A liberdade de expressão é um dos mais relevantes e preciosos direitos fundamentais, correspondendo a uma das mais antigas reivindicações dos homens de todos os tempos”. Dito isso, é notório que a liberdade de expressão guarda uma relação íntima com a dimensão social e política do país, considerando as condições e a garantia da democracia e do pluralismo político ao assegurar um ‘livre mercado de ideias’ e, consequentemente, assumir a qualidade de um direito político, já que a liberdade de expressão e seus respectivos limites operam essencialmente na esfera das relações de indivíduos e entre o indivíduo e o poder público. Na atual Carta Magna Brasileira, esse direito se encontra consagrado em diversos artigos, tais como no art 5º, IV, VI, IX, XIV, arts. 206, 215 e 220.

Nessa esteira, no ano de 2019, a liberdade de expressão e sua extensão foram colocadas em pauta mais uma vez, haja vista a instauração do chamado Inquérito das Fake News. Nessa linha, à luz do direito à liberdade de expressão, far-se-á uma breve análise do impacto das Fake News na sociedade atual, a qual vive uma nova era – a Era Tecnológica, que proporcionou o aumento do ‘livre mercado de ideias’.

2. As Fake News e o Impacto Social

Devido o alcance exponencial das informações publicadas na internet, ativistas políticos começaram a utilizar deste meio para propagar seus ideias e realizar críticas aos poderes do estado, sendo eles, no Brasil, o poder executivo, legislativo e judiciário. Por conseguinte, foi possível perceber uma maior participação do povo na política do país e a instauração de um diálogo direto entre os representantes e os representados.

O governo brasileiro é regido pelo regime democrático semidireto ou participativo, que consiste na união do sistema direto e indireto, haja vista que ocorre o efetivo exercício da cidadania por meio dos representantes eleitos e, não obstante, a Lei Maior de 1988 permite que o povo decida o rumo do país por meio de plebiscitos, referendos e iniciativa popular (NUNES JR., 2019, p. 1448). Esse regime está consagrado no art. 1º da lei supracitada, onde pondera que “todo o poder

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emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

A opinião pública constitui, portanto, fundamento essencial do regime democrático. Para que essa formação de senso crítico ocorra, torna-se necessário que as informações do Poder Público estejam ao alcance do povo, para que assim possam assegurar que o seu poder soberano permanece devidamente respeitado e, quando houver violação dos seus direitos, possam expressar as suas críticas. Isto posto, de acordo com Coderch (1993, p. 40), conforme citado por Mendes e Branco (2019, p. 395), “a liberdade de criticar os governantes é um meio indispensável de controle de uma atividade [a política] que é tão interesseira e egoísta como a de qualquer outro agente social”.

Nessa esteira, a revolução tecnológica concedeu ao cidadão uma expansão de seus pensamentos ao permitir que suas ideias chegassem até os três poderes, e o colocou diante dos olhos dos seus governantes. Revela-se, desse modo, clarividente que as transformações nos meios de comunicação impactaram, de forma positiva, no plano democrático, pois contribuíram para o fortalecimento do diálogo entre o povo e o Poder Público, bem como a viabilização do acesso às informações, o que possibilitou maior controle dos passos do governo em relação aos anseios do povo.

Todavia, é sabido que, devido o amplo alcance global das notícias compartilhadas em redes sociais, ocasionalmente, há a possibilidade de as informações serem adulteradas em seu percurso, ou até mesmo criadas notícias fraudulentas, as famosas fake news. Notícias falsas são extremamente comuns no meio digital, tendo em vista que, devido a rapidez que uma informação é compartilhada, as pessoas estão cada vez mais cômodas e não verificam a origem das informações, logo, o que era uma mentira, poderá se tornar uma “verdade”.

O combate às fake news sempre foi realizado pela própria imprensa, ou seja, verificada a mensagem falsa, a imprensa reportava as informações verídicas, de forma a inibir a desinformação. Diante disso, nas célebres palavras do Imperador Dom Pedro II “imprensa se combate com imprensa” (M.R. TERCI, 2020). Logo, para o imperador do Brasil, a liberdade de imprensa é fundamental para contrapor falsas informações e garantir que a mensagem seja entregue ao destinatário em sua forma original, sem adulterações.

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No entanto, no ano de 2019 ocorreu um marco histórico na internet brasileira.

Foi instaurado o inquérito 4.781 pelo Ministro Dias Toffoli no dia 14 de março, conhecido como “Inquérito das Fake News”. Esse procedimento administrativo se iniciou para averiguar ameaças e ofensas aos ministros da Corte Suprema, inclusive, a seus familiares, disseminadas nas redes sociais por ativistas políticos, assim como jornalistas. Nesse sentido, foi determinado pelo STF o bloqueio e a exclusão de diversas contas que, supostamente, estavam promovendo ataques às instituições democráticas.

Isto posto, foi levantado intenso debate em torno dos limites do exercício da liberdade de expressão em uma democracia, face a notória censura sofrida pelos cidadãos que utilizavam dos meios de comunicação para expressar suas opiniões e críticas ante as decisões proferidas pelos membros da corte. Diante do exposto, faz- se necessário explicitar o papel desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal na proteção da Lei maior e a sua importância para a garantia da ordem democrática, bem como os limites enfrentados pela liberdade de expressão.

3. A Proteção à Liberdade de Expressão pela Suprema Corte e suas Restrições A Suprema Corte – também conhecida como “A Corte Constitucional” – desempenha a função principal de protetor da Carta Magna, ou seja, cabe ao STF fiscalizar os atos praticados pelo poder executivo e legislativo, assim como pelo próprio poder judiciário em instâncias inferiores, a fim de garantir que atuem de acordo com as normas constitucionais. Por este ângulo, preconiza o atual Min.

Gilmar Mendes em sua doutrina que:

Ao Supremo Tribunal Federal, como guardião das liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição, cabe adotar soluções que, traduzindo as especificidades de cada caso concreto, visem reparar as ilegalidades perpetradas por decisões que, em estrito respeito a normas processuais, acabem criando estados de desvalor constitucional. (MENDES, BRANCO, 2020, p. 668/9)

Dentre esses direitos humanos consagrados na Constituição Federal e protegidos pela Suprema Corte situa-se o direito à liberdade de expressão, que para o STF engloba a livre manifestação de pensamento (inclui a liberdade de opinião), a exposição de fatos atuais ou históricos e a crítica (HC 83.125, rel. Min. Marco Aurélio, j. 16-9-2003, 1ª T, DJ de 7-11-2003). Nessa linha, verifica-se a abrangência da liberdade de expressão, que permeia por diversos nichos, como as citadas acima e, ainda, a liberdade artística, a liberdade religiosa, a liberdade de comunicação e de informação –

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também chamada de liberdade de imprensa –, assim como a liberdade de ensino e pesquisa.

Apesar dos direitos fundamentais serem cláusulas pétreas (art. 60, §4º, da CF), ou seja, não podem ser suprimidos pelo poder reformador, apenas ampliados, fora adotado na doutrina e na jurisprudência brasileira a teoria relativa dos direitos, a qual sustenta que não há direito absoluto, sendo a sua implementação analisada de acordo com o caso concreto. Importante mencionar que tal teoria não permite a supressão total do direito, haja vista a existência de um núcleo essencial que não pode ser violado (NUNES JR., 2020). Nesse sentido, Lenza explica que:

O legislador, ao regulamentar os direitos, deve respeitar o seu núcleo essencial, dando as condições para a implementação dos direitos constitucionalmente assegurados. E o Judiciário deve corrigir eventual distorção para se assegurar a preservação do núcleo básico que qualifica o mínimo existencial. (LENZA, 2018, p. 1251)

Diante do exposto, é crível a aplicações de restrições ao direito à liberdade de expressão, desde que observado a necessidade, adequação e proporcionalidade no caso concreto “quando imprescindíveis, para salvaguardar outros direitos fundamentais ou bens comunitários constitucionalmente protegidos.” (FARIAS, 2004, p. 242). Contudo, no interior da liberdade de expressão situa-se um núcleo essencial que não pode ser abolido, pois a sua eliminação resultaria em substancial violação do direito fundamental consagrado no ordenamento jurídico brasileiro. De igual forma, Nunes Jr. esclarece que:

No tocante aos direitos individuais (vida, liberdade, propriedade, honra etc.), o Estado não poderá restringir excessivamente esses direitos, a ponto de ferir seu núcleo essencial (proibição do excesso ubermassberbot), mas também não pode deixar de agir, omitindo-se a ponto de não tutelar o direito fundamental (proibição da proibição insuficiente – untermassverbot), os dois aspectos do princípio da proporcionalidade, de acordo com a jurisprudência do Tribunal Constitucional alemão (NUNES JR., 2020 p. 585)

No Brasil há diversas limitações impostas à liberdade de expressão pela Constituição Federal de 1988, sendo elas: 1) proibir o anonimato - art. 5º, IV; 2) direito de resposta – art. 5º, V; 3) indenização ao dano material, moral ou à imagem

– art. 5º, V; 4) classificação indicativa – art. 21, XVI; 6) restrição legal à publicidade de bebidas alcoólicas, tabaco, medicamentos e terapias - art. 220, § 4º; 7) produção

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e a programação das emissoras de rádio e televisão, devendo estas respeitarem os valores éticos e sociais da pessoa e da família - 220, § 3º, inciso II.

Para mais, a restrição poderá ocorrer de forma implícita, quando houver a prevalência de outros direitos em detrimento da liberdade de expressão, como o direito à privacidade ou, no caso da disseminação de ideias racistas, o direito à igualdade.

Entretanto, a liberdade de expressão jamais poderá ser excluída do contexto por completo, de modo a deixar de existir, uma vez que restaria plenamente caracterizado a censura. Nesse diapasão, entende a Min. Cármen Lúcia que a censura é definida como:

Forma de controle da informação. Alguém, que não o autor do pensamento e do que quer se expressar, impede a produção, a circulação ou a divulgação do pensamento ou, se obra artística, do sentimento. Enfim, controla-se a palavra ou a forma de expressão do outro. Pode-se afirmar que se controla o outro. (STF, ADI 4.815, rel.

Min. Cármen Lúcia, j. 10- 6-2015, DJe de 1º-2-2016 voto da Ministra,

§ 29).

A censura traduz-se em um ato estatal que visa direcionar ou vedar a expressão do indivíduo ou da imprensa, o que é proibido pela Constituição – “é verdade toda censura de natureza política, ideológica e artística” (art. 220, §2º, da CF). Para o STF,

“não cabe ao Estado, por qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas” (ADI 4.451-REF- MC, rel. Min.

Ayres Britto, j. 2-9-2010, Plenário, DJe de 1º-7-2011.

Ante o exposto, resta verificar se houve a devida violação do direito à liberdade de expressão e sua extensão, em especial a liberdade de imprensa, nos moldes explicitados com a instauração do Inquérito das Fake News, como verá a diante.

4. Inquérito das Fake News e a Liberdade de Expressão

4.1. O Inquérito das Fake News e o cerceamento à Liberdade de Expressão O sistema orgânico judiciário brasileiro, apesar de positivado e instruído por uma lei maior, desde o retorno prematuro da democracia é protagonizado por magistrados e seus atos, ora de vontade, ora de conhecimento. Para dar sustentação ao corpo jurídico, a hermenêutica se faz inerente ao aplicador máximo do direito, uma vez que é necessário não só estabelecer entraves a criatividade, mas também estimular a produção de interpretações que alcançassem um ideal de justiça. Não obstante, observa-se que alguns julgados hodiernos da Suprema Corte

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brasileira, “ilustram claramente os problemas trazidos pela interpretação dos textos normativos que enunciam princípios ou valores e trazem em si conceitos indeterminados.” (NETO, 2019, p. 63).

O inquérito aberto pelo ministro presidente do Supremo Tribunal Federal à época dos fatos objetivou cassar e punir disseminadores de notícias fraudulentas que ameaçavam as instituições democráticas do Estado, como o próprio STF. Para Dias Toffoli, em entrevista ao site Conjur (2021), “o maior fator do inquérito foi inibir aquilo que era uma geração de instabilidade institucional no início de 2019”, em Plenário ele evidenciou que a veiculação de informativos de conteúdo duvidoso, antagonismo político, declarações e movimentos com a finalidade de fechar o STF e o Congresso Nacional, só importariam em caos, visto que seriam “métodos corrosivos da democracia”, objetivando a preparação para a reinstalação de um sistema totalitário e autoritário.

O procedimento administrativo em questão ascendeu ao mundo jurídico desguarnecido de objeto, ou seja, fato concreto e definido que embasasse sua origem.

Nota-se, porém, que a despeito de ulterior decisão favorável ao reconhecimento da legalidade, o Tribunal Pleno julgou improcedente a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 572, oportunidade em que delineou as ocorrências a serem apuradas:

Limite o objeto do inquérito a manifestações que, denotando risco efetivo à independência do Poder Judiciário (CRFB, art. 2º), pela via da ameaça aos membros do Supremo Tribunal Federal e a seus familiares, atentam contra os Poderes instituídos, contra o Estado de

Direito e contra a Democracia;

(ADPF 572, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 18/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-271 DIVULG 12-11- 2020 PUBLIC 13-11-2020).

De acordo com Bachega (2021), para John Stuart Mill, em sua obra A Liberdade de 1859, ainda que as ideias sejam falsas ou verdadeiras, deve ser garantido o direito à livre expressão e propiciada a dialética das afirmações. Para a jovem democracia nacional, a supressão de opiniões relativas ao Estado e suas instituições, não deveria habitar o imaginário popular, isso porque pertence a este a função de proteger a liberdade abarcada pelo princípio da dignidade da pessoa humana, todavia impedindo e punindo aquelas que configurem ilícitos contra honra na forma da codificação penal vigente. Em decorrência disso, no ano de 2020 (dois mil e vinte), a pesquisa protagonizada pelo instituto sueco V-Dem (Variações da

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Democracia), concluiu que o Brasil é o quarto país que mais se distanciou dos ideais democratas, alcançando a marca de 0,51 pontos, que representaria um meio termo entre ditaduras e regimes democráticos.

A Suprema Corte brasileira, embora intitulada Guardiã da Constituição, inobservou que a fundação de investigação que apura por vezes artigos de opinião, notícias veiculadas pela imprensa e postagens críticas em redes sociais, soaria para àqueles que integram o Estado Democrático de Direito, como um cerceamento da voz popular e/ou censura aos meios de comunicação. Algumas publicações anexadas ao inquérito e citadas pelo relator, o ministro Alexandre de Moraes, revelam a intenção de questionar a postura do governo e dos integrantes do STF, informalmente em seus perfis privados, como extraiu-se da decisão:

Depois do silêncio da imprensa em relação a TODOS os protestos que aconteceram HOJE, fica claro que Maia, Alcolumbre e STF estão preparando uma desidratação SEM LIMITES do governo Bolsonaro.

Se isso acontecer, o povo vai ficar calado? (@allantercalivre, 18 de abril de 2020).

Eu não tenho a menor dúvida que a cabeça da serpente do establishment brasileiro é o Gilmar Mendes e tudo é feito a partir da anuência dele. Não tem sujeito mais perigoso no Brasil que ele. O caso dele é julgamento por tribunal militar sob a acusação de traição a pátria (@Leitadas_Loen, 19 de abril de 2020).

Eu expliquei que ESTE tipo de interferência jurídica no Governo Federal iria ocorrer por causa da ação midiáticopolítica de Sérgio Moro, que ganhou força mediante a decisão monocrática de Alexandre de Moraes para suspender a nomeação do diretor da PF. Isto só vai aumentar. (@bernardopkuster, 1 de maio de 2020)

O STF hoje é o maior fator de instabilidade e insegurança jurídica no país. Está claramente a serviço da bandidagem e ignora a Constituição ao inventar interpretação contra a lei. Primeiro criou um crime sem lei e agora inventa teses para anular sentenças da Lavajato (Perfil BiaKicis, 5 de maio de 2020)

Os atuais poderes do congresso e STF conferem ares ditatoriais do pior tipo; onde não há concentração em uma só figura a ser combatida.

É uma massa disforme burocrática e difícil de enfrentar. No final estamos democraticamente escolhendo qual ditadura preferimos (Perfil @Lets_Dex, 19 de abril de 2020).

A reprovabilidade externada pela sociedade quanto à conduta dos membros do Supremo Tribunal Federal e a qualquer outra entidade pública governamental, não pode ser confundida com atos de incitação ao ódio, ofensas, denunciação caluniosa, ou ainda, ameaça ao regime democrático, mas sim como uma consequência deste.

Ora, se a própria Corte conhece da garantia à liberdade de

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opinião e crítica, como extensão do direito à livre manifestação do pensamento, sob a ótica da Constituição de 1988 - “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.” resta configurado a exclusão total do núcleo essencial do direito fundamental em comento, pelo Inquérito das Fake News.

Deriva-se da Lei Fundamental Alemã de 1949, a primazia constante no art.

19.2, ao tratar sobre as restrições de direitos fundamentais, no sentido de rechaçar qualquer possibilidade de violação destes. Mendes e Branco (2020, p.274) suscitam que “o princípio da proteção do núcleo essencial destina-se a evitar o esvaziamento do conteúdo do direito fundamental decorrente de restrições descabidas, desmesuradas ou desproporcionais.”. No entanto, a Magna Carta Brasileira de 1988, não possui norma que verse sobre o princípio, para isto, adotou-se o posicionamento doutrinário no sentido de que, sua aplicação tanto no poder legislativo, quanto no judiciário, deveria obedecer a teoria relativa. Ou seja, para a jurisdição nacional, o proveito da cláusula em questão fica consignado ao caso concreto, momento em que se verificará a exclusão ou violação.

Sabe-se que a delimitação da liberdade de expressão se concentra no abuso do direito, o que reclama a aplicação da teoria da relatividade e o critério da proporcionalidade, ao tempo que a ocorrência for conhecida pelo julgador. Não obstante, há de se reconhecer que o legislador ao formular normas em lato senso, em uma tentativa de abarcar as mais variadas hipóteses de colisão de preceitos fundamentais, frustrou-se, pois, é impossível prever aquilo que estará sempre a largos passos do direito, qual seja a evolução das relações sociais. Diante disso, preconiza o doutrinador Ingo Wolfgang Sarlet, em sua obra “A Eficácia dos Direitos Fundamentais”, ao dissertar sobre a temática:

A solução desse impasse, como é corrente, não poderá dar-se com recurso à ideia de uma ordem hierárquica abstrata dos valores constitucionais, não sendo lícito, por outro lado, sacrificar pura e simplesmente um desses valores ou bens em favor do outro. Com efeito, a solução amplamente preconizada afirma a necessidade de se respeitar a proteção constitucional dos diferentes direitos no quadro da unidade da Constituição, buscando harmonizar preceitos que apontam para resultados diferentes, muitas vezes contraditórios.

(SARLET, 2012, p. 597).

Entende-se por violação de direito, a inaplicabilidade ou erro quanto a uso de normas, leis, jurisprudências e princípios. Ao revés, está a exclusão destes que importa em segregação e afastamento do postulado componente do ordenamento

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jurídico. A vista disso, a portaria e o inquérito emanado do órgão mais influente do poder judiciário, abriram margem para a censura de opiniões públicas, que versavam sobre pessoas públicas, convertendo-se insegurança jurídica. Sob a mesma ótica, decidiu o ministro relator da Edson Fachin, ao reconhecer a presença de declarações que não constituíam ilícitos passíveis de investigação:

Observe a proteção da liberdade de expressão e de imprensa nos termos da Constituição, excluindo do escopo do inquérito matérias jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes sociais. (ADPF 572, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 18/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-271 DIVULG 12-11- 2020 PUBLIC 13-11-2020).

4.2. O tratamento dispensado à Liberdade de Imprensa no Inquérito das Fakes News.

O ministro Alexandre de Moraes, a pedido de Toffoli, no dia 15 de abril de 2019, determinou que o site ‘O Antagonista’ e a revista ‘Crusoé’ retirassem do ar a reportagem que associava o então presidente do STF, a Marcelo Odebrecht, condenado e colaborador da Lava Jato. De acordo com o site G1 (2021), a decisão de Moraes se baseou no pronunciamento da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, que negou a ciência do documento que esclarecia a expressão “amigo do amigo do meu pai”, utilizada como manchete pela Edição nº 50 da revista Crusoé, ligando-a diretamente a Dias Toffoli. Exposto isso, o relator evidenciou que o conteúdo da reportagem era abusivo e qualificou-a como noticia falsa, penalizando os jornais com multa. Em nota a revista Crusoé manteve seu posicionamento e criticou a decisão, sob o crivo de que o documento era verídico, o que mais tarde foi confirmado pela TV Globo.

Em 1964 a imprensa brasileira vivia o auge da restrição dos meios de comunicação, haja vista que o governo militar impunha rédeas de ferro para controlar a veiculação de informações e de artigos de opinião, mediante órgãos censores. Em 1988, com o retorno da democracia como cláusula pétrea, a imprensa pode se desvencilhar das máscaras de oxigênio, impostas pela ditadura, e respirar sozinha.

Em consideração, o Capítulo V da CRFB/1988, traz a seguinte edição:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

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§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

A Liberdade de Imprensa está escorreitamente ligada ao princípio fundamental da Liberdade de Expressão, visto que o deveres originários de noticiar e esclarecer fatos pertencem as mídias informacionais. Em entrevista a TV Senado, a data de 26 de abril de 2019, o jornalista Ricardo Pereira exclamou que “a liberdade de imprensa é do cidadão, já a liberdade de expressão pertence a cidadania”, de fato os jornais e revistas são grandes formadores opinião, uma vez que cabe a eles transparecer o que envolve os entes federativos, a atuação dos três poderes e as demais instituições governamentais.

O Pleno da Suprema Corte, declarou inconstitucional a Lei nº 5.250/67, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 130, sobretudo merece destaque o voto do ministro Celso de Mello que elucidou que “a censura governamental, emanada de qualquer um dos três Poderes, é a expressão odiosa da face autoritária do poder público” (STF - ADPF: 130 DF, Relator: Min.

CARLOS BRITTO, Data de Julgamento: 30/04/2009, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-208 DIVULG 05- 11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381- 01 PP-00001).

O molde da censura atual fomenta-se em estreitar o rol de pessoas públicas as quais os veículos de informações podem citar. Ela é praticada por indivíduos que se frustram com a exposição que os circundam e recorrem a via judicial, para que seja extinta a publicação, em exemplo, têm-se partidos políticos, os próprios políticos, os ministros dos tribunais superiores, dentre outros. Malgrado decisão supracitada pela liberdade de imprensa, a propositura do Inquérito das Fake News, bem como a decisão pela sua legalidade, denota um déficit insanável na democracia brasileira, a saber, a ignorância quanto à verdadeira âncora do Estado Democrático de Direito, a liberdade de expressão.

O Brasil é um país de dimensões continentais, portanto, torna-se impossível que seus cidadãos pensem de forma igualitária. O diamante da república é a democracia, porque ela carrega consigo o direito à pluralidade de ideais políticos e até seus respectivos posicionamentos acerca do melhor modelo de Estado. O

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momento em que a nação se volta às redes sociais ou aos jornais para expressar sua opinião deve ser vislumbrado como o sucesso do Estado Democrático, e não a sua ruína, como por vezes parece pretender o Inquérito nº 4.781. Além disso, não é recomendável ao magistrado no exercício de suas funções, fundir-se com o ser humano sentimental que habita dentro de si, isso porque suas próprias convicções, por vezes podem se misturar aos fatos, gerando uma visão intangível e muito distante da realidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado o exposto, chega-se ao denominador comum: é impreterível que o Estado Democrático de Direito seja o pilar de qualquer decisão judicial ou política, para que possa garantir a sobrevivência dos direitos e garantias fundamentais, haja vista que estes possuem uma carga protetiva máxima – caracterizados como cláusulas pétreas (Art.60, §4º, da Carta Magna).

Ora, em um país que priorize esse Estado, a liberdade de expressão e a formação da opinião pública circulam livremente por todo o território nacional, pois, de certo modo, são considerados canais comunicativos que efetivamente viabilizam a expressão e declaração de divergentes pontos, ideias e pensamentos de vários setores da sociedade, inclusive das minorias.

Partindo dessa premissa, é notório que o Inquérito das Fake News, ao apurar a divulgação e propagação de notícias fraudulentas e caluniosas que atingem a honorabilidade e a segurança do STF e aos seus ministros, feriu a liberdade de expressão e sua extensão, em especial a liberdade de imprensa, prevista pela Constituição Federal, ao limitar o pensamento e impor a retirada das postagens ameaçadoras, o que é incabível. Isso porque, as manifestações em redes sociais são resultado da liberdade de expressão em sentido amplo, exprimida por seus titulares, que não se submetem ao prévio controle estatal.

Em outro giro, no que concerne as Fake News, todos nós estamos propícios a cair. Em um mundo abarcado pela tecnologia, as opiniões e notícias se espalham com facilidade e rapidez, além disso, com a vida ativa e ágil que os brasileiros levam, as mensagens com possíveis teores suspeitos passam despercebidos e até que se possa parar para averiguar a segurança e a veracidade daquela informação compartilhada, resta-se um intervalo mínimo de tempo. Por isso, é importante que se reconheça a falha no alfabetismo digital e com isso, surja incentivo para que os

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indivíduos possam, em vez de apenas lerem a manchete de uma determinada noticia, adentrar na matéria e averiguar os fatos em sua fonte primária, de forma que deem vida a máxima “Imprensa se combate com Imprensa” e não a regularização estatal.

Dessa maneira, o papel do Supremo Tribunal Federal em instaurar um inquérito que apure possíveis ameaças à Corte, prejudica a verdadeira discussão democrática e desvia o foco da perseguição virtual – que deveria ser as organizações criminosas buscando acesso ao poder por meios fraudulentos. Isso porque, ao presidir esse inquérito, o Supremo transforma-se em um poderoso mecanismo de censura, perseguindo quem "ofende" o tribunal e legitimando futuras e mais perigosas perseguições políticas.

Em suma, é preciso união e articulação entre os governos, autoridades e sociedade civil, além de que batalhem para promover a conscientização e a liberdade de pensamento da sociedade. Com esse elo, estará garantido: a pluralidade dos meios de comunicação; os parâmetros de ponderação com os demais direitos fundamentais; o direito de resposta; a efetivação dos princípios constitucionais pertinentes à produção e programação das emissoras de rádio e televisão e o livre fluxo de informações pela internet.

Assim, é dever dos brasileiros exigir que o Estado garanta a livre manifestação de ideias, opiniões, crenças, juízos de valor, por meio da palavra oral e escrita, da imagem ou de qualquer outro meio de propagação, assim como na faculdade de se comunicar ou receber informações sem embaraços, nem discriminações. Só assim, o Brasil tornar-se-á um país livre de censura e comprometido com a saúde da democracia e da liberdade de expressão da população.

REFERÊNCIA:

• Anais

NAPOLITANO, Carlo. Limites à Liberdade de Expressão do Pensamento:

Diversas Perspectivas. Disponível em:

<https://portalintercom.org.br/anais/nacional2017/resumos/R12-0111-1.pdf>. Acesso em: 11 mai. 2021.

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• Artigos

HARANDA, Kiyoshi. Possíveis desdobramentos do inquérito das Fakes News.

Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/328207/possiveis- desdobramentos-do-inquerito-das-fake-news>. Acesso em: 26 de maio de 2021.

• Entrevistas

CONJUR. TV ConJur entrevista o Presidente do STF, Dias Toffoli. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8KoZTRoml9w>. Acesso em: 12 mai. 2021.

TV SENADO. Qual a importância da liberdade de imprensa para a democracia?

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kFbqNbZ0H2U&t=1203s>.

Acesso em: 12 mai. 2021.

• Julgados

STF. ADI 4.451-REF-MC, rel. Min. Ayres Britto, j. 2-9-2010, Plenário, DJe de 1º-7- 2011. Disponível em:

<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=2613221>.

Acesso em: 15 mai. 2021.

STF. Inquérito nº 4.781 Distrito Federal. rel. Min. Alexandre de Moraes. DJe de 26-5-2020. Disponível em:

<https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/mandado27maio.p>

Acesso em: 18 mai. 2021.

STF. ADPF 572, rel. Min. Edson Fachin, j. 18-6-2020, Plenário, DJe de 13-11- 2020. Disponível em:

<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754371407>

Acesso em: 17 mai. 2021

STF. ADPF 130 DF, rel. Min. CARLOS BRITTO, j. 30-4-2009, DJe de 6-11-2009.

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Acesso em: 20 mai. 2021

STJ. HC 83.125, rel. Min. Marco Aurélio, j. 16-9-2003, 1ª T, DJ de 7-11-2003.

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• Legislação

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• Livros

BRANCO, P. G. G.; MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 14. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

BRANCO, P.G.; MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 15. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

FERREIRA, Aluízio. Direito à informação, direito à comunicação: direitos fundamentais na Constituição Brasileira. São Paulo: Celso Bastos Editor: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1997.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 22. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

NETO, Nagibe de Melo Jorge. Uma Teoria da Decisão Judicial: Fundamentação, Legitimidade e Justiça. 2. ed. rev. e atual. – Salvador: Ed. Juspodivm, 2019.

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de direito constitucional. 3. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 11. ed. rev. atual. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.

TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 10.ed. São Paulo:

Saraiva, 2012.

• Reportagem

BACHEGA, Leandro. A liberdade e seus limites: John Stuart Mill e Isaiah Berlin - Estado da Arte. Disponível em: <https://estadodaarte.estadao.com.br/a-liberdade- limites-mill-berlin/>. Acesso em: 13 mai 2021.

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Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/15/stf-censura-sites-e- e-manda-retirar-materia-que-liga-toffoli-a-odebrecht.ghtml>. Acesso em: 17 mai.

2021

M.R. TERCI. O Brasil Império e a liberdade de imprensa. Disponível em:

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• Revistas

FARIAS, Edilsom Pereira de. Liberdade de expressão e comunicação: teoria e proteção constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

REALE JÚNIOR, Miguel. Limites à liberdade de expressão. Florianópolis: Revista Espaço Jurídico, 2010.

Referências

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