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Palavras-chave. Mikhail Bakhtin; dialogismo; leitor; revista Veja on-line. Keywords. Mikhail Bakhtin; dialogism; reader; Veja online magazine.

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Veja impressa e on-line em perspectiva dialógica: dois universos, dois leitores?

Daniele Cristina Sabadini¹

¹Programa de Pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa, Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, Rod.

Araraquara-Jaú, Km 1, CEP 14800-901, danisabadini@yahoo.com.br

Resumo. Este trabalho tem por objetivo maior caracterizar o leitor de Veja on-line, em comparação ao da revista impressa. O corpus é composto de publicações entre março e junho de 2004 das duas versões de Veja. Busca-se, por meio de uma perspectiva discursiva, lançar um olhar para as diferenças e semelhanças que constituem ambas revistas e para a relação que essas mudanças têm com o lugar preenchido pelo leitor. Fundamenta-se o estudo na obra de Mikhail Bakhtin, uma vez que, nesse contexto de reflexão, o leitor ganha um lugar destacado. No entanto, pelo caráter inicial da pesquisa, faz- se uma breve introdução às características do leitor de Veja e detém-se, mais longamente, nas diferenças e no diálogo travado entre os dois veículos.

Palavras-chave. Mikhail Bakhtin; dialogismo; leitor; revista Veja on-line.

Abstract. This paper aims, as its main goal, to characterize the readers of online Veja, comparing them to the readers of the printed magazine. The corpus is composed of publications between March and June 2004 of the two versions of Veja. It searches, from a discoursive perspective, the differences and similarities that compose both magazines and the relations that these changes have on the reader’s place. For this purpose, the study is based on the works of Bakhtin, since, on his reflections, the reader has an emphatic position. However, as it is a pilot study, it brings a brief introduction of the characteristics of Veja online’s reader and it remarks, in a long way, the differences between the two means and the dialog that they do with each other.

Keywords. Mikhail Bakhtin; dialogism; reader; Veja online magazine.

Introdução

Este artigo pretende, por meio da comparação entre as revistas Veja impressa e on-line, caracterizar e diferenciar esses dois veículos, mostrando a propriedade do pensamento bakhtiniano na reflexão sobre textos, em especial, aqui, os textos on-line.

Entende-se, para isso, o conceito de texto num sentido amplo, ou seja, como objeto de comunicação que se estabelece entre um destinador e um destinatário, podendo ser tanto verbal como não-verbal.

Com tal finalidade, toma-se o pensamento do Círculo de Bakhtin como fundamento, organizado com base no que freqüentemente se apresenta como seu denominador comum: o conceito de dialogismo.

Esse posicionamento teórico leva a estabelecer procedimentos de análise que privilegiam a identificação e caracterização das diferentes vozes por meio das quais os

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textos se constituem e enfatizam o exame do processo de transmissão/representação do discurso do outro.

Não se cogita utilizar, no estudo, pesquisas realizadas com os leitores do semanário on-line, mas sim seguir as marcas discursivas e textuais presentes na própria revista, sempre comparada ao seu respectivo número impresso.

Do nascimento à maturidade

Segundo Moherdaui (2002, p.26), o site de Veja entrou no ar em junho de 1997, mas funcionando apenas como reprodutor e depósito de arquivos das edições semanais da revista. Somente em junho de 2000, o site começou a publicar notícias exclusivas na versão on-line. Mas, ainda assim, a equipe que ali trabalhava era a mesma que produzia reportagens sobre o mundo digital para a revista impressa. Ou seja, não havia profissionais exclusivos para a produção e manutenção do site de Veja.

Em fevereiro de 2000, de acordo com nossas observações, foi a primeira vez que a revista Veja impressa trouxe publicada uma nota, junto à seção “Cartas”, fazendo menção à sua versão digital. Era um pequeno box, no fim da página, chamado “Direto de Veja on-line” e trazia apenas algumas opiniões de internautas que haviam participado do fórum de debates de Veja na Internet.

A partir de então, o semanário impresso começa a investir, cada vez mais, em referências sobre o site da revista, e é em 3 de maio de 2000 que o pequeno box “Direto de Veja on-line” passa a ocupar uma página inteira na revista. Conjugado com isso, a homepage de Veja na Internet, que até pouco tempo era semanal, passa a ter novidades diárias, além de novos conteúdos.

Porém, pode-se dizer que, apenas em fevereiro de 2002, é que as matérias da revista em papel ganham algum conteúdo extra no universo on-line. Disponibiliza-se recursos como trailer de filmes mencionados em Veja impressa, fotos adicionais sobre algum assunto abordado, etc.

Atualmente, todos esses atrativos continuam a ser oferecidos pelo site, mas com a diferença de que, agora, são muito mais numerosos e variados. Praticamente todas as reportagens veiculadas na revista impressa possuem uma nota – no final do texto – chamando a atenção do leitor para as alternativas presentes no universo on-line sobre aquele mesmo assunto. É comum que se encontre enunciados como: “Trailer, fotos e outras informações em www.veja.com.br”, “Leia notícias diárias sobre o governo Lula em www.veja.com.br”.

Além disso, sob o índice da revista, existe um breve apontamento, algo parecido com um resumo das principais atrações on-line da semana.

A quantidade de reportagens que versam sobre o mundo digital também aumentou consideravelmente nos últimos anos. Quase todas as edições trazem matérias relacionadas à hipermídia e novas tecnologias.

Assim, pode-se dizer que a importância dada ao conteúdo on-line está intrinsecamente ligada ao acelerado crescimento da rede mundial de comunicação, ou seja, à Internet. Como bem observou Marcuschi e Xavier (2004, p. 10),

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[...] é importante que se pense em profundidade cada vez maior esse fenômeno mais do que tecnológico que vem gerando um novo momento da história da humanidade. Pois o computador será nos próximos anos uma necessidade tão fundamental como a geladeira, o fogão ou a escova dental.

Bakhtin dá o ar da graça

Considerando-se que a revista Veja impressa “chama”, constantemente, o seu leitor para o site da mesma e que, de forma semelhante, o universo on-line o

“convida” à aquisição de Veja em papel, conclui-se que, para Veja, o universo impresso e o on-line não são dois mundos alheios um ao outro. Eles mantêm um diálogo, no sentido bakhtiniano do termo, entre eles.

Relembrando o que vem a ser essa concepção de diálogo para Bakhtin, recorre- se à Marxismo e Filosofia da Linguagem (1999, p.123), em que se afirma: “[...] pode-se compreender a palavra ‘diálogo’ num sentido amplo, isto é, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja”.

Desse modo, se a Veja impressa mantêm um diálogo com a on-line e vice-versa;

se o leitor da revista impressa é incessantemente levado à versão on-line, pode-se dizer que esse leitor muitas vezes é o mesmo. Mas que, ainda assim, sua postura constitui-se e revela-se de maneira diferenciada em cada universo.

Assim, esse “ping-pong” que Veja realiza com seu leitor, esse diálogo que as revistas travam consigo mesmas abre espaço para interpretações e análises quanto à presença do outro na constituição do enunciado. Ou seja, que tipo de jornalismo cada uma realiza para conseguir capturar o leitor? No que diferem? Como se cria uma fidelidade entre leitor e revista?

Nesse sentido, ao mudarem-se os meios, muda-se também o lugar ocupado pelo novo leitor. O espaço físico diferenciado dos veículos impresso e on-line traz à tona uma nova realidade comunicacional. Segundo observa Machado (apud FARACO, 1999, p.225),

M. Bakhtin concebeu o ato dialógico como um evento que acontece na unidade espaço-tempo da comunicação social interativa, sendo por ela determinado. Com isso, Bakhtin passa a entender tudo o que é dito como determinação rigorosa do lugar de onde se diz.

Portanto, a análise do leitor e de sua posição na mídia on-line comparativamente à impressa leva-nos a adentrar nas características de comunicação particulares a cada meio. Mais ainda, faz-nos perceber a importância do leitor, ainda que de modo diferente, em qualquer processo de comunicação. Pois, “ter um destinatário, dirigir-se a alguém, é uma particularidade constitutiva do enunciado, sem a qual não há, e não poderia haver, enunciado.” (BAKHTIN, 2000, p.325)

Bakhtin (1988) chega a dizer que todo discurso é orientado para uma resposta e, além de a pressentir, baseia-se nela. Assim, as construções das duas revistas são

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diferente, e os leitores que vão até elas também assumem posturas distintas, estão em busca de conhecimentos variados. A resposta a um enunciado impresso não se apresenta da mesma maneira que uma resposta ao on-line e, ao apoiar-se nela, o discurso se constrói de forma diversa.

O leitor virtual de Veja, por exemplo, é chamado a participar da construção do hipertexto, podendo montar sua própria revista quando escolhe o caminho que irá percorrer, os links que irá visitar. Tudo isso, é claro, com uma limitação imposta pela própria organização da revista, já que é ela que arquiteta o hipertexto pelo qual o leitor navega. Há também a possibilidade de o enunciatário interagir com os jornalistas e dar sua opinião referente à algumas pesquisas, além de participar de discussões via-rede com especialistas dos temas expostos.

Assim, a escolha dos caminhos a navegar permite ao ciberleitor criar uma nova leitura a cada conexão. Inaugurando novos “caminhos virtuais”, o leitor torna-se, então, um co-criador do hiperdocumento. “A escrita e a leitura trocam seus papéis [...] Com o hipertexto, toda leitura é uma escrita potencial.” (LÉVY, 1999, p. 61).

Isso não quer dizer que a revista Veja impressa desconsidere o seu leitor na construção dos textos, mas sim que o destinatário se torna muito mais evidente e presente no universo on-line. Aí, consegue-se observar de forma maximizada a importância do leitor na constituição dos discursos, a participação do ciberleitor pode ser vista de maneira concreta, quase palpável.

Vale lembrar que o leitor, visto como um sujeito passivo no processo de comunicação, é contrário às idéias de Bakhtin. Pois, como ele enfatizou, autor e leitor – ou locutor e ouvinte – possuem pesos iguais na constituição de uma mensagem. Tanto um quanto outro participam ativamente do processo comunicacional.

A volatilidade da relação entre autor e leitor é, então, um ponto a ser destacado, pois, ainda segundo Mikhail Bakhtin, o leitor é um co-enunciador da mensagem e igualmente responsável pelo processo de comunicação.

É importante destacar que a volatilidade digital faz-se presente pela oportunidade dada ao ciberleitor de montar a sua própria revista, de acordo com seus gostos e preferências temáticas. Conforme observa Roger Chartier (2002, p.25):

O texto eletrônico, tal qual o conhecemos, é um texto móvel, maleável, aberto. O leitor pode intervir em seu próprio conteúdo e não somente nos espaços deixados em branco pela composição tipográfica. Pode deslocar, recortar, estender, recompor as unidades textuais das quais se apodera.

Possenti (2002, p.219) também tece comentários sobre a questão da autoria on- line. Para ele,

[...] o hipertexto acabaria atribuindo ao leitor um papel similar ao do autor, na medida em que caberia em grande parte ao leitor organizar a seqüência do que vai ler (clicando ou não palavras-chave, por

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exemplo, ou seja, indo ou não a um outro espaço, e tendo ido, decidir se volta ou não [...]

Contudo, deve-se considerar que não é por causa desse novo espaço que

“velhas” funções serão extintas. No caso de Veja on-line, é valido destacar que seu leitor não se apresenta como “concorrente” àquele da revista impressa. Muitas vezes, como foi dito anteriormente, o próprio impresso leva o leitor ao site da revista para buscar outras informações.

É necessário dizer ainda que apenas aqueles que assinam Veja impressa podem aventurar-se por todo o portal. Há momentos em que o código de assinante é solicitado ao internauta e, caso este não o tenha, fica impossibilitado de continuar a percorrer os caminhos seguintes. Isto é, algumas reportagens completas só podem ser vistas por quem assina o semanário impresso. Daí provém o constante convite ao ciberleitor para que “Assine VEJA” e ao leitor da revista impressa para que visite o site.

Recentemente, em 23 de junho de 2004, a revista impressa trouxe – juntamente com o resumo das principais atrações on-line na semana – um código de acesso para leitores de banca que haviam adquirido a revista, válido até a edição seguinte. Assim, os leitores eventuais de Veja também começam a ter passagem livre no site. Por uma semana, é claro.

Desta forma, a revista impressa acaba funcionando como uma “propaganda” do site e vice-versa. Por quê? Porque praticamente todas as matérias veiculadas na Veja impressa têm algo mais a oferecer na on-line. Por isso, se uma pessoa interessou-se, por exemplo, por uma notícia sobre novas descobertas em reposição hormonal – que na revista em papel ocupa só uma página – ela pode dirigir-se até o site e acessar um link exclusivo sobre saúde.

Percebe-se que, muito provavelmente, o convite ao on-line nasça do espaço restrito da revista impressa. No universo digital, ao contrário, esse espaço é ilimitado.

No entanto, o que importa disso tudo é o diálogo que as revistas realizam uma com a outra, com o(s) seu(s) leitor(es) e com os discursos proferidos anteriormente à sua publicação semanal. Numa revista como a Veja, os discursos antecedentes são reafirmados, textos são (re)interpretados, pois muitos dos fatos ali expostos já foram abordados por outros veículos durante a semana, entre eles os jornais diários. Assim, a revista responde (no sentido bakhtiniano do termo) a diálogos que já foram construídos e, ao mesmo tempo, cria condições para que surjam novas respostas.

A aposta na informação adicional, diferenciada é, dessa forma, um trunfo da revista que, ao que parece, a traz mais explicitada no correspondente on-line, pois é aí que as fronteiras informativas ganham dimensões e formas ilimitadas. Um texto, e também o(s) discurso(s) por ele manifestado(s), leva a outro, que leva a outro, que leva a outro... e as formas de expressão desses discursos podem ser muito variadas, pois os recursos audiovisuais as permitem.

Nesse contexto, a diferença mais evidente entre os dois veículos está, sem dúvida, no suporte; entendido, aqui, tanto no sentido do material físico em que ambos são apresentados (papel e tela) quanto no sentido de organização do espaço material.

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Nesse aspecto, a forma de apresentação dos textos em janelas e não páginas é a mudança mais marcante.

E assim, com o conhecimento dessas diferenças, o contrato veridictório que se constrói entre revista e leitor apóia-se nessas particularidades. O conhecimento partilhado, ou melhor, compartilhado entre eles dependerá do grau de “intimidade”

existente entre ambos. Quanto mais íntimo um do outro, menor a necessidade de explicitação de elementos no texto, sendo fácil ao receptor suprir qualquer lacuna deixada pelo produtor.

Desse modo, o diálogo vai se estabelecendo com base na informação “nova” e

“já sabida”, independente do veículo – impresso ou digital. No entanto, a liberdade com que o leitor escolhe o que deseja aprender de novo e o que vai descartar, porque já conhece, se faz de forma mais simples e desimpedida no contexto on-line. Pois, neste universo, as possibilidades são inúmeras e as escolhas só dependem de quem o acessa.

Pode-se dizer, para concluir, que as revistas dialogam entre si e que elas se utilizam de várias estratégias para capturar o leitor. Talvez eles sejam o mesmo leitor, talvez sejam leitores diferentes, mas sempre assumem posturas distintas dependendo do veículo.

Referência bibliográfica

BAKHTIN, M. (V. N. VOLOCHÍNOV). Marxismo e Filosofia da Linguagem.

Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1999.

BAKHTIN, M. Questões de Literatura e de Estética: a teoria do romance. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini et al. São Paulo: Hucitec, 1988.

_____. Estética da Criação Verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo:

Martins Fontes, 2000.

CHARTIER, R. Os desafios da escrita. Tradução de Fulvia M. L. Moretto. São Paulo:

Ed. Unesp, 2002.

FARACO, C. A. e outros. Diálogos com Bakhtin.. Curitiba: UFPR, 1999.

LÉVY, P. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.

MARCUSCHI, L. A. e XAVIER, A. C. (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

MOHERDAUI, L. Guia de estilo Web: produção e edição de notícias on-line. São Paulo: Editora SENAC, 2002.

POSSENTI, S. Notas um pouco céticas sobre hipertexto e construção de sentido. In: Os limites do discurso. Curitiba: Criar Edições Ltda, 2002. p.205-225.

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