PA\439013PT.doc PE 303.758
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PARLAMENTO EUROPEU
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2004
Comissão para a Cultura, a Juventude, a Educação, os Meios de Comunicação Social e os Desportos
PRELIMINAR 16 de Maio de 2001
PROJECTO DE PARECER
da Comissão para a Cultura, a Juventude, a Educação, os Meios de Comunicação Social e os Desportos
destinado à Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais
sobre a comunicação da Comissão ao Conselho “Novos mercados de trabalho europeus, abertos a todos, acessíveis a todos”
(COM(2001) 116 – C5-0188/2001 – 2001/2084 (COS)) Relatora de parecer: Maria Martens
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PROCESSO
Na sua reunião de 22 de Março de 2001, a Comissão para a Cultura, a Juventude, a Educação, os Meios de Comunicação Social e os Desportos designou relatora de parecer Maria Martens.
Nas suas reuniões de … e de …, a comissão procedeu à apreciação do projecto de parecer.
Na mesma/última reunião, a comissão aprovou as conclusões que seguidamente se expõem por
… votos a favor, … contra e … abstenção(ções)/por unanimidade.
Encontravam-se presentes no momento da votação … (presidente/presidente em exercício), … (vice-presidente), … (relator(a) de parecer), … (em substituição de …), … (em substituição de …, nos termos do nº 2 do artigo 153º do Regimento), ... e ... .
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ANTECEDENTES
1. A liberdade de circulação dos trabalhadores nacionais dos Estados-Membros, que lhes permite trabalhar em qualquer outro Estado-Membro, foi uma das quatro liberdades garantidas pelo Tratado de Roma. As implicações deste direito decorrente do Tratado foram posteriormente explicadas e alargadas na legislação comunitária (designadamente no regulamento e na directiva sobre esta matéria aprovados em 1968) e na
jurisprudência do Tribunal de Justiça.
2. Apesar da criação do Mercado Único, em 1992, tornou-se evidente que existiam obstáculos à livre circulação da população activa. Em 1996, foi constituído pela Comissão um grupo de peritos de alto nível, presidido por Simone Veil, sobre a livre circulação de pessoas. O relatório do grupo de peritos, de Março de 1997, serviu de base para a comunicação da Comissão relativa ao plano de acção para a livre circulação de trabalhadores.
2. Na presente comunicação, a Comissão anuncia a constituição da task force sobre competências de alto nível e mobilidade, cujo relatório vai servir de base para outro plano de acção que será presente ao Conselho Europeu da Primavera de 2002.
A COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO
2. Na última década, o crescimento económico na Europa foi mais lento do que nos EUA.
As taxas de desemprego na União Europeia são cerca do dobro da taxa de desemprego nos EUA. Mas observa-se que as oportunidades de emprego não estão distribuídas uniformemente: em certas regiões da UE, o desemprego atinge níveis preocupantes, enquanto que noutras regiões há escassez de trabalhadores especializados, que constitui um travão ao crescimento de certos sectores da economia. Segundo a comunicação da Comissão, esta situação é, em parte, o resultado da muito menor mobilidade dos trabalhadores no interior dos Estados-Membros e entre os Estados-Membros em relação ao grau de mobilidade existente nos Estados Unidos, sendo, ainda, a
mobilidade dos trabalhadores não especializados bastante mais reduzida do que a dos especializados.
2. Segundo a Comissão, anualmente, cerca de 1,5 milhões de europeus – menos de 0,4%
dos nacionais dos Estados-Membros – vão residir para outro Estado-Membro: a percentagem dos nacionais da UE residentes noutro Estado-Membro é inferior a 2%.
Em relação à mobilidade, importa sublinhar os três pontos seguintes:
- a mobilidade transnacional é um fenómeno mais comum entre a população com idades compreendidas entre os 16 e os 30 anos: a frequência mais elevada observa-se na classe etária dos 21 aos 25 anos;
- na maioria dos casos, as migrações não são definitivas, mas correspondem quer às deslocações transfronteiriças entre a residência e o emprego (cerca de 600 mil trabalhadores deslocam-se para o trabalho num país onde não mantêm a residência habitual, metade dos quais trabalha num Estado-Membro da UE e a outra metade num país terceiro) quer a migrações a curto e médio prazo (alguns anos);
- a mobilidade dos trabalhadores altamente especializados e dos gestores é muito
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superior à dos trabalhadores não especializados.
A mobilidade parece estar muito associada aos estudantes e aos recém-licenciados, que decidem passar pouco mais ou menos um ano no estrangeiro antes de regressar ao seu país para entrar na vida activa. Abstraindo das deslocações transfronteiriças entre a residência e o emprego (inclusive as de periodicidade semanal), só uma pequena percentagem dos migrantes são trabalhadores não especializados, casados ou com idades superiores a 30 anos.
6. Na comunicação, são apontados os seguintes tipos de obstáculos à mobilidade:
Sociais, culturais e linguísticos, como o desconhecimento de línguas estrangeiras, a eventual dificuldade que o outro membro do casal tem em encontrar um emprego adequado ou os problemas inerentes à integração das crianças noutro sistema de ensino.
Obstáculos económicos (pensões e regimes fiscais e de prestações, tranferibilidade dos direitos adquiridos, remunerações), como a ausência de transferibilidade das pensões de um Estado-Membro para outro, que é comum, ou a impossibilidade de operar a
dedução para efeitos fiscais das contribuições para regimes de pensões de outro Estado-Membro, que é uma situação habitual, ou, por vezes, os desincentivos à obtenção de emprego induzidos pelos regimes de prestações de desemprego e a ausência de transferibilidade dos direitos às prestações de saúde adquiridos num Estado-Membro, que normalmente não são transferíveis para outro Estado-Membro, ou o nível de remuneração da mesma actividade, que por vezes varia muito de um Estado-Membro para outro.
Obstáculos ligados às competências e qualificações, decorrentes do insuficiente reconhecimento das qualificações profissionais, académicas e técnicas obtidas noutro Estado-Membro ou no exterior da UE.
Obstáculos ligados à falta de informação sobre as vagas existentes, as possibilidades de formação profissional, os salários, as condições de trabalho e os direitos jurídicos, bem como sobre outros aspectos essenciais independentes do trabalho, como a habitação e os sistemas de ensino.
Obstáculos ligados ao mercado interno, designadamente a fragmentação do mercado interno de serviços.
7. Na comunicação, são também referidas as medidas recentes adoptadas a nível da Comunidade desde 1997 para facilitar e promover a mobilidade, como a constituição do grupo de peritos de alto nível para a melhoria da mobilidade dos investigadores e as medidas destinadas a promover a mobilidade dos investigadores previstas no
programa-quadro para 2002-2006.
8. Muitas destas medidas, como as propostas da Comissão que prevêem que os desempregados possam procurar emprego noutro Estado-Membro sem que tal
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implique a perda do direito às prestações de desemprego no seu próprio Estado- Membro, têm ainda que ser aprovadas pelo Conselho e pelo Parlamento. Na comunicação, a Comissão convida o Conselho e o Parlamento a fazer avançar
rapidamente o processo de apreciação das propostas já apresentadas que contribuiriam para melhorar o perfil de competências da força de trabalho e para o aumento da mobilidade, como a proposta de recomendação do Conselho e do Parlamento relativa à mobilidade dos estudantes, formandos, jovens voluntários, professores e formadores e as propostas que estabelecem direitos comuns de residência e de emprego para os nacionais de países terceiros.
9. Estão em vias de ser apresentadas várias outras medidas emergentes das políticas já existentes. Trata-se:
- das propostas (a apresentar em 2002) relativas à criação de um sistema mais uniforme, transparente e flexível de reconhecimento das qualificações profissionais;
- de um plano de acção sobre a aprendizagem ao longo da vida;
- da promoção do intercâmbio de boas práticas no domínio da educação e dos sistemas de formação profissional nos vários Estados-Membros;
- de uma proposta (a apresentar em 2001) destinada a melhorar a transferibilidade das pensões complementares;
- de uma estratégia (a apresentar em 2001) para a mobilidade dos investigadores;
- de um estudo (a apresentar em 2001) sobre a viabilidade da criação de um “site europeu único sobre mobilidade”, trabalhando em conjunto com a administração nacional e local;
- de uma campanha de informação sobre a mobilidade, utilizando os meios já existentes, como a rede EURES.
10. Por último, a Comissão anuncia na Comunicação a constituição, em Abril de 2001, de uma task force sobre competências de alto nível e mobilidade destinada a identificar as características principais dos novos mercados de trabalho europeus e os obstáculos ao desenvolvimento destes mercados (designadamente no que se refere às competências e à mobilidade), devendo apresentar o seu relatório à Comissão em Dezembro de 2001.
A Comissão remeteu para o Conselho Europeu da Primavera de 2002 a apresentação de um Plano de Acção em que “irá propor um conjunto complementar de iniciativas de políticas e recomendações, para assegurar que até 2005 os novos mercados de trabalho europeus estejam abertos a todos e acessíveis a todos”.
COMENTÁRIOS
11. A Comissão identifica os enormes obstáculos à mobilidade que subsistem na União Europeia: o reduzido grau de mobilidade é uma consequência perfeitamente
compreensível desses obstáculos. As instituições europeias dão, elas próprias, um mau exemplo nesta matéria. Poder-se-ia pensar que as instituições europeias, mais do que qualquer outra entidade, estariam naturalmente apetrechadas de condições de emprego e de uma política de pessoal propícia à mobilidade transnacional. Todavia, por
exemplo, só uma pequena parte dos direitos à pensão adquiridos noutros empregos
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podem ser transferidos para o regime de pensões do pessoal da UE. Acresce que o estatuto do pessoal da UE dificulta, na prática, o exercício de uma actividade profissional na Bélgica ou no Luxemburgo pelo outro membro do casal.
12. As principais barreiras à mobilidade são de ordem linguística, cultural e social. Os Estados-Membros estão pouco inclinados para introduzir certas mudanças
politicamente sensíveis nos seus sistemas fiscais, de segurança social, de pensões, de prestações de saúde, de direito laboral e de ensino – o domínio da subsidiariedade por excelência – para facilitar uma mobilidade na qual só uma franja muito reduzida da sua população virá eventualmente a participar. Além de que, em certos Estados-Membros, existe, muito simplesmente, a preocupação de que a mobilidade possa no futuro vir a tornar-se excessiva – como é demonstrado pelos períodos de transição pedidos a seguir às próximas adesões, durante os quais a livre circulação de trabalhadores nacionais dos novos Estados-Membros ficará restringida. Será bom que a Comissão tenha presente estes factos e que as acções propostas sejam realistas, proporcionadas e consentâneas com a subsidiariedade.
13. Se, como geralmente se diz, a diversidade cultural e linguística é uma das virtudes da Europa, não fará sentido que os cidadãos europeus prezem as particularidades das suas próprias línguas e sejam avessos a abandoná-las? Mais concretamente, pode talvez existir um compromisso entre, por um lado, a diversidade cultural e linguística e, por outro lado, a mobilidade.
14. No âmbito de competência da Comissão da Cultura, será conveniente desenvolver acções em vários grandes domínios:
- a informação sobre os direitos dos cidadãos em matéria de liberdade de circulação e sobre as possibilidades de emprego que podem ser oferecidas pela mobilidade;
- o conhecimento de outras línguas comunitárias além da língua ou das línguas maternas do cidadão;
- a aprendizagem e a formação profissional ao longo de toda a vida, designadamente no capítulo das tecnologias da informação e comunicação;
- a comparabilidade dos sistemas de ensino;
- o reconhecimento mútuo das qualificações académicas.
15. Refira-se, por último, que a Comissão anuncia a apresentação de um plano de acção ao Conselho Europeu da Primavera de 2002, o qual irá propor “um conjunto
complementar de iniciativas políticas e recomendações”. Tendo em conta, contudo, que, para ajudar os Estados-Membros a actuar em conformidade com as propostas relativas a essas políticas, irão seguramente ser despendidos recursos comunitários, não seria mais conveniente – e mais transparente – apresentar as referidas propostas sob a forma de uma ou mais recomendações?
CONCLUSÕES
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A Comissão para a Cultura, a Juventude, a Educação, os Meios de Comunicação Social e os Desportos insta a Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais, competente quanto à matéria de fundo, a incorporar os seguintes elementos na proposta de resolução que aprovar:
A. Considerando que existe falta de conhecimento e de informação sobre os direitos e as possibilidades associadas à livre circulação,
B. Considerando que a melhoria do conhecimento de outras línguas comunitárias além da língua ou línguas maternas do cidadão é um passo essencial para criar um mercado de trabalho europeu mais integrado,
C. Considerando que, atendendo ao envelhecimento da população europeia, a mobilidade deve englobar todas as classes etárias,
D. Considerando que, para que a Europa se torne no “espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo baseado no conhecimento e capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social”, é preciso que um maior número de europeus se tornem competentes em matéria das novas tecnologias da informação e comunicação,
E. Considerando que a partilha das boas práticas contribuiria para melhorar a qualidade dos sistemas de ensino e de formação profissional dos Estados-Membros,
F. Considerando que existem lacunas na legislação comunitária relativa ao
reconhecimento de diplomas, de certificados e de outros documentos comprovativos de qualificações formais; que o não reconhecimento dessas qualificações se traduz, na prática, pela discriminação dos trabalhadores migrantes,
G. Considerando que, como é visível em muitas das petições recebidas pelo Parlamento, certos obstáculos à livre circulação de trabalhadores advêm das deficiências existentes ao nível da aplicação da legislação comunitária pelos Estados-Membros,
H. Considerando que as instituições europeias deveriam dar, elas próprias, um bom exemplo quanto à eliminação dos obstáculos à mobilidade transnacional,
1. Convida a Comissão a elaborar resumos da legislação comunitária em vigor em matéria de livre circulação, de direito de residência e de reconhecimento mútuo de qualificações profissionais, académicas e técnicas e a assegurar, por meio da sua campanha de
informação, uma ampla difusão dos mesmos;
2. Congratula-se com a proposta da Comissão relativa à remodelação da rede do serviço europeu de emprego (EURES) e solicita aos Estados-Membros que os serviços de aconselhamento profissional que apoiam sejam capazes de aconselhar os seus clientes sobre as oportunidades de emprego noutros Estados-Membros;
3. Reafirma a sua convicção de que os Estados-Membros deveriam estabelecer como seu objectivo a longo prazo que todos os finalistas saídos das escolas possuam uma elevada competência em duas línguas comunitárias além da sua língua ou línguas maternas;
como primeiro passo para atingir este objectivo, deve ser exigido, como condição de
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admissão à universidade para todos os estudantes, um elevado grau de competência em uma língua comunitária além da língua ou línguas maternas;
4. Congratula-se com o compromisso assumido pela Comissão relativo à apresentação de um plano de acção em matéria de aprendizagem e formação profissional ao longo da vida;
5. Congratula-se com o plano de acção da Comissão em matéria de e-Aprendizagem, que visa ajudar as escolas e as instituições educativas europeias a adaptar-se às novas tecnologias da informação e da comunicação e promover o alargamento do acesso a estas tecnologias;
6. Congratula-se com a aprovação pelo Conselho do relatório da Comissão sobre os objectivos concretos dos sistemas educativos no futuro e com o interesse manifestado pelos Estados-Membros no intercâmbio, através do método de coordenação aberta, das boas práticas em matéria da reforma dos sistemas de ensino;
7. Convida a Comissão a ser mais rigorosa em relação ao cumprimento da legislação comunitária já existente em matéria do reconhecimento mútuo de qualificações
remetendo mais rapidamente para o Tribunal de Primeira Instância e para o Tribunal de Justiça os casos de violações persistentes da referida legislação pelas autoridades públicas dos Estados-Membros;
8. Congratula-se com a intenção manifestada pela Comissão de apresentar propostas destinadas a criar um sistema mais transparente em matéria do reconhecimento mútuo das qualificações profissionais, académicas e técnicas;
9. Convida a Comissão a dar um bom exemplo reformando as condições de emprego e de remuneração dos funcionários e outros agentes das Instituições Europeias tendo em vista facilitar, por exemplo, a transferência dos direitos à pensão adquiridos a título dos empregos anteriores para o regime de pensões da Comunidade;
10. Convida a Comissão a apresentar as suas propostas de “iniciativas políticas e
recomendações [complementares]” sob a forma de uma proposta de recomendação ou de um conjunto de recomendações e não sob a forma de um plano de acção.