A C O R D O N A JUSTIÇA D O TRABALHO:
JUSTIÇA O U INJUSTIÇA?
GISELA RODRIGUES MAGALHÃES DE ARAÚJO E M O R A E S O
"Si le licenciement et la démission sont les modes les plus classiques d'ex
tinction d u rapport contractuel, ils n e sont pas les seuls. Les parties p e u vent se mettre d'accord, ou la force majuere rompre par elle-même le con
trat: ces deux issues sont c o m m u n e s à tous les contrats civils. S e droit du travail a crée dos m o des autonomes do rupture, telle la retraite" (Jean E m manuel Ray/Paul Henri Monseron).
N ã o h á dúvida que a conciliação, mais vulgarmente denominada Acor
do é u m dos principais institutos do Direito Obreiro, senão o principal, já que seu objetivo é simplificar a solução dos conflitos existentes entre o capital e o trabalho, alcançando, assim, a paz social.
C o m invulgar brilhantismo e propriedade, ao tratar d esse assunto, o insigne Mestre Valenlin Carrion, in Comentários à CLT, 19* edição, define a conciliação c o m o a “declaração da paz n o litígio".
Todavia, esse objetivo maior s ó é atingido na medida e m q u e o acor
d o corresponda à justa solução d o litígio, equivalendo, seu montante, ao q u e seria fixado e estabelecido e m sentença judicial. C a s o contrário, refe
rido instituto torna-se meio d e exploração d e u m a das partes — via de re
gra, a mais frágil — pela outra, gerando, desse modo, a insatisfação e a in
justiça social.
A conciliação é alvo d e artigo específico dentro de nossa legislação trabalhista.
Preceitua o artigo 764, e parágrafos, d a CLT:
" O s dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação d a Justiça do Trabalho serão s e m p r e sujeitos à conciliação.
(•) Juíza Prosidento d a Junta d e Conciliação e Julgamento d o Itanhaér.
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§ 1® Para o s efeitos deste artigo, o s juízes e Tribunais d o Tra
balho e m p re ga rã o s e m p r e os seus bons ofícios e persuasão n o sen
tido d e u m a solução conciliatória dos conflitos.
§ 2 a N ã o h a v e n d o acordo, o juízo conciliatório converter-se-á obrigatoriamente e m arbitrai, proferindo decisão n a forma prescrita neste Título.
§ 3a É lícito às partes celebrar acordo que p onha termo ao pro
cesso, ainda m e s m o depois d e encerrado o juízo conciliatório.”
S u a proposta torna-se obrigatória e m duas ocasiões no feito, sob p e n a d e nulidade: antes d e ofertada a defesa pelo réu (artigo 846) e q ua nd o d o término d a fase instrutória, antes d o julgamento d a lide.
O juiz, nesse importante m o m e n t o processual, deverá agir c o m cuida
d o e intuição a fim de evitar deturpações, procurando, sempre, caso a caso, analisá-lo c o m antecedência e exercitar tal mister c o m bastante prudência.
Ainda citando Valentin Carrion a atuação d o juiz no m o m e n t o d a con
ciliação d ev e revelar s u a maturidade e experiência d e vida e ter a objeti
vidade d o promotor d e negócios; porém, ele não p od e deixar a isenção do juiz e o mut is mo do magistrado a fim de não revelar o seu posicionamen
to quanto a o litígio ("Comentários à Consolidação das Leis d o Trabalho”, 19* edição, pág. 543).
Constatamos, por experiência própria, q u e inescrupulosamente, al
g u n s e m p re ga do re s deixam de cumprir suas obrigações trabalhistas para c o m seus empregados, forçando esses últimos a ajuizarem reclamações p e rante a Justiça d o Trabalho, e sujeitarem-se a o recebimento d e quantias, n ã o raras vezes, b e m inferiores àquelas efetivamente devidas.
M a s pergunta-se: c o m o evitar tal situação, tão presente e corriquei
ra n a vida do magistrado?
Que st ão de difícil resposta, m a s arriscamos algumas soluções. U m a delas é n ã o h o m o l o g a r m o s acordos antecipadamente, antes d a audiência inaugural. Tal prática proporciona-nos a análise da defesa, excluindo-se, por exemplo, d o montante oferecido ao empregado, as verbas incontroversas.
Por outro lado, u m a vez recebido o acordo antecipado, o q u e ocorre na maioria das Juntas, pois isso gera a retirada deste processo da pauta, c e d e n d o lugar a outro, aconselha-se, por cautela, a assinatura não só do re
clamante, m a s t a m b é m de seu patrono (quando constituído) além d o repre
sentante d a empresa, evitando-se, assim, ser o empregado, na maioria das vezes analfabeto, e n g a n a d o e/ou ludibriado e m seus direitos.
É muito grave trairmos a confiança d o povo. Urge, pois, q u e os Juí
zes procurem, por todos os meios ao seu alcance, a conciliação dentro de c ad a processo, m a s d e maneira a propiciar ao e mp regado, recebimento de quantia justa, a fim de se alcançar a verdadeira paz social e u m autên
tico progresso h u m a n o , fazendo desses acordos sinônimo d e justiça, e não d e injustiça.
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