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ISSN: VOLUME:1 NÚMERO:2 EDIÇÃO ESPECIAL

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Academic year: 2021

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COMUNICAÇÃO & MERCADO

Revista Internacional de Ciências

Sociais Aplicadas da UNIGRAN

(3)

Solicita-se permuta.

On demande l´échange.

Wir bitten um Austausch.

Si richiede la scambio.

Pídese canje.

We ask for Exchange.

Dourados : UNIGRAN, 2012. Semestral

ISSN 2316-3922I

1. Ciências Sociais. 2. Comunicação – marketing. I. UNIGRAN – Centro Universitário da Grande Dourados.

CDU: 659.3

Editora UNIGRAN

Rua Balbina de Matos, 2121 - Campus UNIGRAN

79.824-900 - Dourados - MS

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PROF. DR. BRUNO AUGUSTO AMADOR BARRETO UNIGRAN – Centro Universitário da Grande Dourados Rua Balbina de Matos, 2121 – Jd. Universitário CEP 79.824-900 – Dourados/MS - BRASIL

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A importância histórica da televisão e do telejornalismo na padronização cultural no interior do Brasil.

Ana Carolina Rocha Pessoa TEMER

O Staroveri: a influência da tecnologia midiática na prática cultural Marcos Pedro da SILVA e Débora Cristina Tavares

Perfil Universitário: um portal de mídia de proximidade? José Milton ROCHA, Mario Luiz Fernandes

Notas sobre a atuação de Paulo Francis no jornal Folha de São Paulo (1975-1990) Alexandre Blankl BATISTA

Morte do jornal de papel e novas tecnologias digitais: desafios e perspectivas Edgard Cesar MELECH

A escravidão na província de Mato Grosso: Um estudo das estratégias de resistências dos escravos através dos jornais (1831 a 1888)

Antutérpio Dias PEREIRA

O jornal e suas representações: Objeto ou fonte da história? Maurilio Dantielly CALONGA

Imagem & mídia: Relações com o ensino

Viviane Scalon FACHIN e Rodrigo Domingues de OLIVEIRA A década de 60 e a reinvenção do jornalismo

Eduarda ROSA e André Giulliano MAZINI

Ensaio acerca do discurso do jornal correio do estado sobre a gestão Pedro Pedrossian e as eleições de 1982 ao governo de Mato Grosso do Sul

Wagner Cordeiro CHAGAS

Retextualização no rádio: a oralidade e a escrita no meio eletrônico Célio Antonio dos SANTOS e Daniela Cristiane OTA

A nova onda do rádio em Três lagoas Sidnei Carlos Santos Bonfim FERREIRA

O debate sobre o “milagre econômico” brasileiro no jornal Folha de Dourados – 1970-1973

Juliana dos Santos PEREIRA e João Carlos de SOUZA

O posicionamento da Folha de S.Paulo na cobertura da crise do poder judiciário brasileiro de 2012: uma análise de conteúdo

Danusa Santana ANDRADE

08 24 34 46 56 65 79 88 101 130 143 156 169 182

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Daniela OTA e Lairtes Chaves Rodrigues FILHO

Som que ecoa: o movimento tropicália e a música “alegria, alegria”. Jéssica Alves TROPALDI

Refletindo sobre as questões de memória através do filme “Como se fosse a primeira vez” Cláudia Gisele MASIERO, Janice Roberta SCHRÖDER, Cristina Ennes da SILVA

Do arquivo à nuvem: resgate e divulgação do acervo da Televisão Brasil Central Givaldo Ferreira, Corcinio JR.

A linguagem audiovisual em mídias portáteis e ubíquas Angeles Treitero García CÔNSOLO

Consumo da telefonia móvel: o papel da comunicação na construção da educação e da identidade do jovem

Denio Dias ARRAIS

A nova mídia, uma possibilidade para grandes e pequenos anunciantes Silvia Maria de Campos FRAGA

A comunicação política nas redes sociais em um contexto histórico social Synesio Cônsolo FILHO

A história da imprensa no contexto da historiografia brasileira André Giulliano MAZINI

As origens da imprensa no brasil e em Mato Grosso Silvia Ramos Bezerra

Estudo sobre a produção própria do site mercosulnews Patrícia Miranda dos SANTOS

A dependência do jornalismo on-line de dourados por releases de instituições de ensino público

Jessica Beatriz da SILVA

Ciberjornalismo como arquivo on-line da memória social Helton COSTA

Futebol nos sites dourados news e dourados agora: análise da cobertura do jogo da final do campeonato estadual sul-matogrossense de futebol 2012

Aline Amaral

O velho e o novo “o rolo”: análise de gêneros jornalísticos e literários do jornal em forma de manuscrito de papiro

Karine Arminda de Fátima SEGATTO

A história entre o jornalismo e a literatura: fronteiras narrativas e metodologias possíveis André Giulliano MAZINI

Análize de Jornais e Revistas: Uma proposta Metodológica Bruno Amador Augusto BARRETO

220 232 242 250 262 271 278 297 305 319 328 336 346 358 373 385

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Pesquisa em História da Mídia no Centro-Oeste do Brasil

Esta edição especial da Revista Comunicação & Mercado traz 31 artigos inscritos nos Grupos Temáticos do 1º Encontro Regional Centro-Oeste de História da Mídia - Alcar CO 2012, organizado pelo Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), em parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar), nos dias 31 de outubro e 1º de novembro de 2012.

Revista e evento são marcos importantes para a Alcar, que desde 2001 promove estudos avançados, de caráter interdisciplinar, sobre os processos históricos da mídia, estimula a realização de encontros científicos, a publicação de livros e periódicos.

A Associação reúne docentes, pesquisadores, estudantes e profissionais e seus eventos são múltiplos e espalhados pelas regiões brasileiras nos anos pares, intercalados por um único e grande encontro nacional nos anos ímpares.

Para completar o mapa do Brasil faltava chegar ao Centro-Oeste!

Ficamos orgulhosos com a receptividade deste Encontro e com a produção que dele resulta. Este conjunto de textos é registro inequívoco que acertamos ao decidir preencher a lacuna geográfica ainda em 2012; demonstra, tam-bém, o trabalho competente e dedicado de nossos anfitriões e, sobretudo, a integração de mais pesquisadores à Alcar.

Merecem destaque os estados do vínculo acadêmico dos autores: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Os três últimos além da região-sede do evento, como que a ratificar característica dos nossos tempos pós-modernos; as fronteiras não são mais tão rígidas, as identidades se fragmentaram, as decisões, muitas vezes, são tomadas em função da relevância e oportunidade, de acessibilidade e/ou relacionamentos.

Parabéns Unigran e participantes!

Prevemos e conclamamos o engajamento dos pesquisadores para empreenderem novos estudos sobre a História da Mídia, fundamentais para a preservação da própria memória brasileira.

Aos leitores deste volume, descobertas prazerosas e estimulantes!

Maria Berenice da Costa Machado*

Presidenta da Alcar Outubro/ 2012

* Professora Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui graduação em Comunicação Social, com habilitação em Publi-cidade e Propaganda e Doutorado em Comunicação Social É organizadora do livro PubliPubli-cidade e Propaganda: 200 anos de

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A importância histórica da televisão e do telejornalismo

na padronização cultural no interior do Brasil.

Palavras-chave: televisão, história, telejornalismo Resumo

Análise histórica do uso das técnicas e tecnologias pela televisão na construção da imagem do Brasil da modernidade, a partir de anotações sobre o uso de equipamentos e os principais programas telejornalísticos apresentados no país. O estudo aponta que o telejornalismo, a partir do vinculo definidor de apresentar a “reali-dade” reforçou a imagem de que a vida moderna – o Brasil desenvolvido – está na cidade, retratando o campo e o interior como espaços secundários.

Profa. Ana Carolina Rocha Pessoa Temer

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1 Ana Carolina Rocha Pessoa Temer. Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universida-de FeUniversida-deral Universida-de Goiás. Doutora em Comunicação Social pela UniversidaUniversida-de Metodista Universida-de São Paulo, Mestre em Comunicação Social pela UniversidaUniversida-de Metodista Universida-de São Paulo, Especialista

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Introdução

Os livros de História do Brasil para os alunos nos períodos de formação básica normalmente mostram, com gravuras coloridas, que o Brasil foi “descoberto” em 1500 pelos portugueses. O mérito histórico desta afirmativa é relativo, e especialmente para os comunicadores, é mais interessante considerar que o país que conhecemos, o Brasil da modernidade, teve seu marco inaugural em 1969, com a transmissão para “todo o país” do Jornal Nacional. Evidentemente, as duas datas são simbólicas, é claro, mas a criação de um telejornalismo nacional, ou melhor, transmitido nacionalmente1, marca o início da construção de um novo país, se não real, pelo menos

um país imaginado e, depois de exposto pelos largos territórios nacionais, desejado e imitado pelos brasileiros de todas as regiões.

Evidentemente, para usar um termo próprio do jornalismo televisivo, estamos falando em retrospectiva, de uma ação prolongada que foi desenvolvida de forma estratégica por um grande número de atores sociais, cujos interesses nem sempre eram iguais ou absolutos, mas que convergiam em um ponto: faz brotar do Brasil agrícola e sub-desenvolvido, um país moderno e urbano.

Dentre estes atores sociais, dois se destacam: o Governo Militar e os seus receios de fragmentação do terri-tório nacional, e a consequente busca pela unificação territorial e cultural, e a Rede Globo de Televisão, que no decorrer deste processo, tornou-se a maior empresa de comunicação do país e produtora de conteúdos culturais cuja importância é internacionalmente reconhecida.

De fato, enquanto veículo de comunicação e empresa de capital privado, as a Rede Globo fez “... deste país fragmentado que é o Brasil alguma coisa parecida com uma nação civilizada....” (KEHL, 1986, p. 169). Mas ao integrar e consolidar uma “identidade nacional”, reinterpretou essa identidade em termos mercadológicos, formando uma só “identidade”, a de brasileiros unidos em “um só mercado consumidor” (KEHL 1986, p. 103).

Desta forma, cumpre-nos antes de tudo, entender o que é a televisão, ou melhor, essa “coisa” poderosa, capaz de unir um país com tantas contradições e diversidades quanto o Brasil?

A TV é um objeto, produzido em uma fábrica e distribuído fisicamente (através dos meios de transporte) e virtualmente (via propaganda). Neste ponto, ela se metamorfoseia em uma questão de estilo – uma valiosa (ou maldita) peça de decoração (...) A televisão possuí, em síntese, uma existência física, uma história como objeto de produção material e de consumo, além da reputação de ser um local de produção de sentido. (MILLER, 2009, p.10)

E é justamente como algo muito além de um simples eletrodoméstico que a televisão deve ser compreendida, até porque, mais do que objeto de decoração, a televisão vem historicamente cumprindo dois papeis funda-mentais. O primeiro, o mais óbvio, é enriquecer seus controladores. O segundo, ainda mais importante, mas

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igualmente mais complexo, entreter e civilizar os seus receptores. E quando falo em civilizar, significa civilizar para o consumo, integrando a sociedade industrial moderna todos aqueles que tenham as mínimas condições – ou o mínimo de recursos – de consumir; ou seja, todos que tenham qualquer poder de compra.

No Brasil isto significou integrar a nação, integrar as populações que migravam do campo para a cidade, integrar as cidades tradicionais do nordeste e os rincões diferenciados do sul. Neste processo a Rede Globo de Televisão em-preendeu uma proposta ousada e bem sucedida, forjando um caso de amor e respeito entre a televisão e a população brasileira, em um processo que implicou e ainda implicam em mudanças de comportamento, alterações de hábitos de lazer e alimentação, relações políticas e de poder, modos de vestir e até nos tamanho e na dinâmica familiar.

Ainda que nos números das audiências muitas vezes outros gêneros se destaquem, o telejornal chama a atenção como um espaço historicamente presente e de grande destaque nas emissoras de televisão de sinal aberto. Isso ocorre porque o telejornalismo é algo mais do que umtipo de prestação de serviço, é também uma atividade que traz prestígio e importância política para as emissoras (FISKE: 1987, p.281). Desta forma, a pre-sença histórica do telejornalismo na televisão brasileira consolidou as novidades comportamentais e de consumo inseridas ou sugeridas por outros gêneros, tendo portanto, um papel fundamental na consolidação destas mu-danças. Além disso, a evolução do telejornalismo brasileiro pode ser vista também a partir de um paralelo com a própria evolução da própria televisão e com a apropriação e usos dados as tecnologias por profissionais de te-levisão e da imprensa. Nesse sentido, este artigo pretende dá continuidade as reflexões já presentes no artigo 50 anos de imagens: uma retrospectiva das condições de funcionamento do telejornalismo brasileiro, apresentado na Intercom/2009, mas neste ponto buscando entender a relação da evolução da televisão e do telejornalismo na padronização cultural no interior do Brasil.

Os primeiros anos

O primeiro telejornal brasileiro foi veiculado em 19 de setembro, no dia seguinte da inauguração oficial da televisão no Brasil2 (MATTOS: 2000). O Imagens do Dia, patrocinado pela Viação Cometa, não tinha horário

fixo, e era colocado no ar por volta das 21:30. O locutor/apresentador, produtor e redator era Ruy Rezende3,

que usava textos copiados do rádio ou então recortados do jornal (gillete-press)4 e “...uma seqüência de filmes

dos últimos acontecimentos locais” (SAMPAIO: 1971, p.23), em preto e branco sem som, pelos três cinegrafis-tas da emissora. No Rio de Janeiro, o primeiro telejornal da TV Tupi Rio é Telejornal Brahma, com Luiz Jatobá (LORÊDO: 2000).

2 A inauguração oficial foi em 18 de setembro, quando a PRF-3, TV Tupi de São Paulo, coloca no ar o TV na Taba. Duas datas são citadas para a primeira transmissão experimental: 29 de julho de 1950, num especial patrocinado pela indústria Alimentícia Carlos Brito SA (Produtos Peixe), e 10 de setembro, quando foi exibido um filme sobre Getúlio Vargas (MATTOS, 2000).

3 Lorêdo (2000:29) afirma que o locutor era Homero Silva, e cita como cinegrafistas Jorge Kukjian, Afonso Zibas e Paulo Salomão. Anderkrone (2007) cita també Maurícuo Loureiro Gama.

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jornalís-A televisão era então uma novidade acessível apenas para a elite, e seguia os paradigmas de produção usados no rádio (MATTOS: 1990, p.3 e SQUIRRA: 1993, p.104): o telejornal era transmitido ao vivo com a entonação típica do rádio5.

Ainda que a escolha do nome - Imagens do Dia - demonstre a importância da imagem para o novo veículo, poucos eram as filmagens realizadas especificamente para o telejornal e parte do material exibido eram sobras do cinema e de documentários, que formavam um “arquivo informal”: era comum utilizar as cenas de uma en-chente antiga para ilustrar a enen-chente atual, e assim por diante.

Em 1952, o telejornal da TV Tupi/São Paulo ganha um novo formato (20 de duração minutos, mudança para o horário das 21:00), um novo patrocinador, e passa a chamar-se Telenotícias Panair, mas a televisão continua perdendo para o rádio em rapidez e ineditismo.

Ainda que não existam muitos registros, depoimentos6 indicam que as primeiras câmeras de reportagem para

a TV eram da marca Bell & Howell movidas à corda, sem som, conhecidas por serem pequenas e barulhentas. Mais tarde a câmera de filmar portátil com som magnético, que possibilitava a edição de imagens. O custo da manutenção dos equipamentos limitava o seu uso e, principalmente nas afiliadas do interior do país, durante muito tempo perdurou a estratégia de ilustrar o telejornal com slides.

Neste período os telejornais eram vinculados aos seus patrocinadores, como foi o caso do Ultra Notícias e Telejornal Pirelli (Tupi/SP), que consolidaram o horário das 19h45; além de Record em Notícias (Record/São Paulo), e o Mappin Movietone, responsável pelas primeiras apresentadoras de telejornalismo brasileiro7. Mas o

jornal mais importante dessa primeira fase da televisão brasileira é o Repórter Esso.

Há certa confusão na data de estréia do telejornal, em parte porque a Rádio Nacional, que apresentava um noticioso com o mesmo nome, relutou em partilhar o título. Assim, o noticioso estréia em 1º de abril de 1952 com o nome de Telejornal Tupi. Um mês depois, o é rebatizado como Telejornal Esso, e em 17 de junho de 1953, passa a ser o Repórter Esso. (LOREDO, 2000, p.5). Em parte também, essa confusão é resultado da estréia em datas diferentes em São Paulo e no Rio de Janeiro8.

O Repórter Esso era um modelo idealizado a partir do seu homônimo no rádio, por sua vez criado para fazer divulgação da propaganda de guerra dos aliados (SOUZA FILHO, 1997) e trazia como diferencial a pontuali-dade e a credibilipontuali-dade. No Brasil, o noticioso era produzido pela Agência McanErikson – para a qual a TV Tupi teria apelado após perder seus patrocinadores. Apresentado por Kalil Filho em São Paulo, e por Gontijo Teodoro no Rio de Janeiro9, o Repórter Esso10 tinha também edições locais nas nove emissoras do grupo ligado a Assis

Chateaubriand.

5 Apenas depois de críticas do público o telejornalismo assumiu uma linguagem mais coloquial Anderkrone, afirma que a mudança se deveu a Maurício Loureiro Gama, que teria ouvido a reclamação de uma telespectadora que já vira televisão nos Estados Unidos e reclamou das diferenças com o modelo local.

6 Ver SAMPAIO, M. F. História do rádio e da televisão no brasil e no mundo: memórias de um pioneiro. Rio de Janeiro: Ar-chiamé, 1984; e SQUIRRA, S. (org). Telejornalismo – memórias. São Paulo: ECA:USP, 1997.

7 As atrizes Cacilda Lanuza e Branca Ribeiro, que estrearam em 1959.

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A frase de abertura do Repórter Esso - “Amigo ouvinte, aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da

his-tória”11 ficou na memória do telejornalismo nacional, mas o noticioso tinha um formato pobre: além do locutor

ao vivo eram exibidas algumas matérias ilustradas, em geral filmes com texto em off narrados pelo apresentador (FURTADO, 1988), obtidas graças a um acordo com a UPI (United Press International).

O sucesso do noticioso motivou a TV Tupi veicular horário à tarde com o telejornal Edição Extra, que lança o primeiro repórter de vídeo no Brasil: José Carlos de Morais, conhecido como “Tico-Tico”. A novidade foi logo incorporada pelo Repórter Esso, que colocou no ar vários repórteres12. Sobretudo, o Repórter Esso passou a ter

várias versões locais/regionais. De fato, todas as emissoras da Tupi tinham o “seu” Repórter Esso, com apresen-tadores e notícias locais – as nacionais e internacionais eram fornecidas pelas agências norte americanas. Essas versões ficaram no ar até 1970 (LIMA: 2001, p.156).

Em 1960 chega ao Brasil o vídeo-tape. O equipamento, desenvolvido pela Ampex e lançado nos Estados Unidos em 1956, é utilizado oficialmente pela a TV Tupi na gravação das imagens da inauguração de Brasília (PATERNOSTRO: 1999, p.30), que depois foram exibidas em suas afiliadas. Nos primeiros anos o equipamento teve pouco impacto no telejornalismo, mas dá inicio a uma fase de maior disputa pela audiência pelas emissoras. A TV Excelsior passa a investir em modelos inovadores, e, em 1962, o Jornal de Vanguarda13, noticioso criado

pelo jornalista Fernando Barbosa Lima, que tinha uma de equipe de produtores e redatores oriundos jornalismo impresso e cronistas especializados (João Saldanha, Villas-Bôas Correia, Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta). O Jornal de Vanguarda trouxe para a televisão um texto mais enxuto e rico em conteúdo, e tornou-se uma referên-cia no telejornalismo nacional e internacional14. O telejornal também e revolucionou o estilo de locução,

“tem-perando” a objetividade com uma leitura mais emocional, eventualmente com toques de humor, e foi também o primeiro a se preocupar com a estética, que incluia o uso de personagens15 e recursos do cinema de animação:

“O cuidado com a imagem se refletia no visual dinâmico, em que se destacavam as caricaturas de Appe e os bonecos falantes de Borjalo” (REZENDE: 1997, p.114).

Em 1967, além do Jornal de Vanguarda, a Excelsior veiculava também A marcha do Mundo, mas a censura e a péssima relação com o Governo Militar leva a TV Excelsior “a exaustão, a falência e, por fim, ao total desa-parecimento” (MOYA: 2004, p.381). A censura também é a causa indireta do fim do Jornal de Vanguarda, que sai do ar por iniciativa de seus produtores em 1968, após a implantação do Ato Institucional nº516.

11 Não confundir com o slogan utilizado pelo Repórter Esso no rádio: “Amigo telespectador, aqui fala o seu Repórter Esso, o primeiro a dar as últimas”.

12 Como Murillo Neri, Flávio Cavalcanti e Rubens Medina

13 Embora autores como Mattos e Rixa se refiram ao Jornal de Vanguarda, Anderkrone (2007) cita o Jornal da Excelsior, Jornal Cassio Muniz, Show de Notícias e TV de Vanguarda como produtos da mesma equipe, e afirma que o Jornal de Vanguarda apenas assume esse nome quando é exibido pela TV Tupi. Também SOUZA FILHO informa que programa foi repetido em outros canais de televisão. (1997:88).

14 O jornal ganha o prêmio Onda, na Espanha, em 1963 e segundo Barbosa Lima (1985:9) e Lorêdo (2000:66) foi citado por Marshall McLuhan em uma das suas aulas de comunicação.

15 Como, por exemplo, o Sombra, interpretado por Célio Moreira, que dava as notícias confidenciais.

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apre-Na segunda metade da década, em 1967, começam as transmissões à longa distância por meio do sistema de microondas17. Em 1969 o país ganha a estação de rastreamento de Itaboraí, e pode assistir ao vivo (mas

ain-da em preto e branco) a desciain-da do homem a Lua (MATTOS, 2000) e a Copa do Mundo de Futebol no México. O telejornal que vai aproveitar melhor os novos aparatos tecnológicos é o Jornal Nacional, noticioso da Rede Globo de Televisão, transmitido simultaneamente para o Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília e Porto Alegre, que entra no ar em primeiro de setembro de 1969, com o objetivo confesso de unir o país de norte a sul: “Um telejornal para que 56 milhões de brasileiros tenham mais coisa em comum”. (VEJA, 52:68 apud REZENDE, 1997:116). Suas transmissões marcam um Brasil que começa a viver “era da comunicação espacial” (REZENDE: 1997, p.116)

A estréia do Jornal Nacional também coincide com o crescimento da indústria de eletrônicos no país e a implantação do crédito direto ao consumidor, fator essencial para ampliar o número de telespectadores. O noticioso dá início ao um novo modelo de telejornal, com um estilo mais clean, mas entra no ar no rastro do endurecimento do regime autoritário18. No segundo mês do telejornal, a censura é oficialmente instalada.

Tendo como diferencial um amplo aparato técnico, em parte obtido através de um questionável convênio com a empresa norte-americana Time-Life19, o Jornal Nacional foi o primeiro a apresentar reportagens via satélite em

uma estratégia que incluía um caleidoscópio de informações rápidas e descontextualizadas. O modelo é um sucesso junto ao público, mas nem mesmo as boas relações da Globo com o Governo Militar impediu eventuais conflitos com a censura20.

Em termos de equipamento, a Rede Globo utilizava principalmente as câmaras portáteis, ou CPs. No final da década de 1970, elas foram substituídas pelas UPJs, ou Unidades Portáteis de Jornalismo, equipadas com câmeras de VT U-Matic, uma evolução do primeiro equipamento de vídeo-tape21, que com o tempo se tornou

um equipamento padrão.

17 O sistema de microondas foi implantado em 1967, ligando Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. A com-pleta “integração do país” só seria atingida em 1972, ano em que se complementa a ligação do tronco norte/sul via microondas pela Embratel (SOUZA FILHO, 1997).

18 A informação de destaque no primeiro dia do noticioso é a posse da Junta Militar em função de um problema de saúde do presidente Costa e Silva.

19 Em 24 de julho de 1962 o empresário Roberto Marinho, assina um contrato operacional com o grupo americano Time -Life. A TV Globo do Rio de Janeiro entra no ar em abril de 1965. As emissoras rivais questionam a legalidade dos acordos e a repercussão gera o seu cancelamento em 1968.

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O ano de 1974 marca a chegada da TV em cores no com a implantação do Sistema Pal-M, de origem alemã. A Rede Globo implanta a partir deste ponto o chamado “Padrão Globo de Qualidade”, uma soma de eficiência empresarial, competência técnica e atenção especial com as necessidades subjetivas dos telespectadores com estratégias de marketing para fidelizar a audiência (CARVALHO: 1980, p.5), na qual o Jornal Nacional é parte importante. Consolidada na liderança da audiência, a Rede Globo torna-se a maior beneficiária da expansão e modernização dos serviços de telecomunicação.

Na década de 1970, além do Jornal Nacional, a Rede Globo produz também o Jornal Hoje, veiculado pela primeira vez em 21 de abril de 1971 com a proposta de ser uma revista feminina que não dispensava as notícias da manhã e que permanece no ar até os hoje; e o Telejornal Internacional, apresentado por Heron Domingues, e considerado o mais sério da emissora. De curta duração, Telejornal Internacional foi substituído pela plasticidade do jornal Amanhã, apresentado por Sérgio Chapelin, que mais tarde, em l977, foi igualmente substituído pelo Painel, um telejornal abrir espaço para muitas entrevistas e também teve curta duração. O horário é finalmente ocupado pelo Jornal da Globo, estréia em 2 de abril de 1979 tendo como objetivo conciliar reportagens, análi-ses e entrevistas de estúdio e permanece no ar atualmente de segunda a sexta-feira, no fim da noite.

A veiculação do Jornal da Globo, dois anos após a saída de Walter Clark da emissora, também consolida a resolução da nova direção d da emissora de tornar os noticiários mais dinâmicos e deslocar suas reportagens para a rua. No aspecto técnico, isso significa usar uma nova Unidade Portátil de Jornalismo (BORELLI & PRIOLLI: 2000, p.55) e abrir mais espaço para as entradas ao vivo:

Era a chance de retorno aos programas não submetidos a edição prévia, ou ao completo controle da forma e do conteúdo. A televisão voltou a utilizar, no sentido amplo, a caracte-rística do imediatismo na veiculação da informação. (MARCONDES FILHO: 1985, p.17).

Ainda em 1977, a Rede Globo coloca no ar o Bom Dia São Paulo, cujo sucesso deu origem ao Bom Dia Brasil. Lançado em 1983, com meia hora de duração, o Bom Dia Brasil tinha como proposta ser um noticiário essencialmente político e econômico, transmitido diretamente de Brasília, centro das decisões do País.

A década de 1970 é marcada também pelo distanciamento tecnológico entre a Rede Globo de Televisão e suas afiliadas. Esse distanciamento era tão traumático que em alguns casos a inserção local nos telejornais, e particularmente no Jornal Nacional, era em preto e branco, mesmo depois do telejornal já ser transmitido a cores em rede22. Evidentemente, houve uma pressão da rede pela modernização dos equipamentos, em um processo

que se prolongou até a década de 1980, com ameaças quebra de contratos de afiliação. Apesar disso, a di-ferença técnica não apenas permanece visível na qualidade das imagens, como a própria central de produção de jornalismo da Rede reconhece a falta de adaptação dos recursos humanos ao padrão da emissora. Outros

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aspectos igualmente relevantes, um posicionamento em geral mais neutro das geradoras do Rio, São Paulo e ou-tras grandes capitais em relação a política local, e uma relação de dependência maior nas emissoras regionais. Ainda assim, destaca-se como aspecto importante a capacidade do telejornalismo da Rede Globo neste perí-odo em promover a imagem Brasil como o país do milagre. Trata-se de uma estratégia que ia além da proposta de boa convivência com o Governo Militar. “Servindo ao Regime autoritário...) a Rede Globo servia a si mesma” (LIMA: 2001, p. 169), uma vez era o “agente legitimador” de uma estrutura sócio-econômica da qual a ela mesma era parte interessada.

Nos anos 1970 os números da audiência da Globo eram tão impressionantes que a emissora despertou a desconfiança do próprio Regime Militar. O Governo então abre espaço para novas emissoras, re-distribuindo as concessões que compunham a antiga Rede Tupi23. Esse receio se comprova em 1984 quando a Rede Globo

rompe com o “bloco histórico” que ainda detinha o controle do governo e passa a apoiar outro candidato para a Presidência da República24.

Interligada a questão política, as décadas de 1970 e 1980 são marcadas tanto pela expansão da infra-estru-tura de transmissão de televisão quanto pelo um rígido controle das importações de equipamentos técnicos para televisão pelo Governo Federal. Ambas as ações beneficiavam a Rede Globo, que era a única rede com suporte para superar as limitações financeiras impostas para a importação de equipamentos.

Mais criatividade e menos tecnologia

O virtual monopólio da audiência obtido pela Rede Globo de Televisão dificultava a sobrevivência das emissoras e rede concorrentes que, sem o mesmo suporte financeiro, apelavam para a criatividade. A Rede Bandeirantes, que entra no ar em 1967, tem como principal telejornal o Titulares da Noticia, que abre espaço para a população fazer ao vivo suas reivindicações. A emissora investe também em uma abertura diferenciada do telejornal (figuras humanas passeando pelo do mundo) e chega a colocar no estúdio uma arara, um pombo correio e a dupla caipira Tonico e Tinoco apresentando as novidades do interior.

Em 1972, a emissora lança o Rede de Notícias, transmitido em várias capitais com os locutores em primeiro plano e a redação ao fundo. A proposta não cativa o público e no final da década surge o Jornal Bandeiran-tes, que mais tarde seria rebatizado como Jornal da Band, e apresentado por Joelmir Betting. Também foi uma experiência de curta duração deste período o Perspectiva, da Tupi, que lançou o comentarista Artur da Távola.

Em São Paulo a TV Cultura consegue se diferenciar das demais emissoras com A Hora da Notícia, um tele-jornal sem grandes preocupações com a forma, mas que enfocava assuntos de interesse do telespectador (CAR-VALHO: 1980). Apesar da boa audiência, o telejornal esbarra na violência da censura e acaba desaparecendo, em um episódio que culminou com o assassinato do jornalista Vladmir Herzog pelos órgãos de repressão.

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Em 1978, a TV Tupi lança o Grande Jornal, um projeto que visava integrar as emissoras da rede, mas que tem curta duração em função dos interesses diferenciados dos diversos proprietários das emissoras associadas. O jorna-lismo da Rede Tupi ainda tenta reagir e aproveita o abrandamento da censura para criar o Abertura, um programa semanal de entrevista com presença de ex-exilados políticos e a participação do cineasta Gláuber Rocha. O fim da censura oficial no telejornalismo é efetivado no dia 3 de fevereiro de 1980, mas o programa fica no ar apenas um ano e meio. Logo em seguida, o mesmo produtor do Abertura, Fernando Barbosa Lima, desenvolve um novo programa centrado em entrevistas, desta vez na TV Bandeirantes, o Canal Livre, que fica no ar até 1983.

A década de 1970 termina com o triste fim da TV Tupi, em uma agonia transmitida ao vivo pelos seus fun-cionários. Do espólio da Tupi surgem novas redes: o Sistema Brasileiro de Televisão - SBT, que logo avança para a condição de vice-líder; e a Rede Manchete, que se propõe a conquistar um público de maior poder aquisitivo. Logo em seguida, a Igreja Universal do Reino de Deus compra a Record e forma uma rede de menor porte.

No começo dos anos 1980 a linha de entrevistas continua fazendo sucesso, e a TV Cultura apresenta o Voz Populi, a Rede Bandeirantes o Encontro com a Imprensa e a TV Record o Diário Nacional. Também a Rede Globo investe no formato e cria uma edição semanal do Globo em Revista, mas o programa tem vida curta. Também duram pouco os programas Variety, Etc., Outras Palavras, Bastidores e Nova Mulher, todos da Rede Bandeirantes. A emissora também é responsável pelo Crítica e Autocrítica, que tem uma duração maior.

O SBT estréia pouco depois de obter a concessão, mas atravessa a década com telejornais sem expressivi-dade, como Cidade 4, 24 horas, Noticentro, e Últimas Notícias. Em 1983, a Rede Manchete entra no ar com um telejornalismo audacioso, que ocupava duas horas no horário nobre, destinada aos públicos A e B. O Jornal da Manchete alcança 8 pontos no Ibope e a emissora estréia o programa Conexão Internacional, produzido por uma empresa independente.

Em 25 de janeiro de 1984 a TV Cultura faz a cobertura ao vivo do comício a favor das eleições diretas para presidente em São Paulo, e obtém altos índices de audiência. Apesar de melhor equipada que as demais emis-soras, a Rede Globo ignora o movimento. Essa postura só muda “depois de ameaça dos seus profissionais, de pressão dos anunciantes e da inquietação da audiência ...” (SQUIRRA: 1995, p.47).

No comício seguinte, no Rio de Janeiro, a empresa faz uma ampla cobertura e igualmente disponibiliza suas unidades móveis de transmissão na cobertura da derrota da Emenda pelas eleições diretas, e pouco depois, na eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência. As grandes emissoras de televisão brasileira também se preparam para acompanhar ao vivo a posse do novo presidente, e quando ele adoece e o vice José Sarney toma posse, investem em um elaborado sistema de plantões para acompanhar a doença do presidente.

A transmissão ao vivo deixa a ilusão de uma aparente trégua com a censura, mas a auto-censura interna regula o que pode ser colocado no ar (REZENDE: 1997)25 . A censura também retorna na cobertura da proposta

que beneficia o presidente Sarney com a ampliação do seu mandato presidencial para cinco anos.

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incomo-temente também, a mídia não dá destaque à distribuição de um grande número de concessões de radiodifusão, quase todas destinados à políticos ou seus parentes.

Ao contrário da Rede Globo, que tenta adaptar o seu telejornalismo as mudanças no cenário político, a vice -líder de audiência, o SBT, ignora a questão e mantém no ar o telejornal O Povo na TV, uma modelo já presente no rádio, que abusa de um formato popular/sensacionalista, feito de reportagens policiais apressadas, gritaria, desastres e futebol, sempre marcado por uma narração moralista e uma pretensa defesa da cidadania. O modelo faz sucesso entre o público, mas não conquista os anunciantes, que relutam em se vincular ao sensacionalismo.

Para superar esse problema, em 1988 a empresa contrata Boris Casoy, ex-editor da Folha de S. Paulo, para ancorar o novo telejornal da emissora: o TJ Brasil. A reação à audiência é boa e o programa atrai anunciantes. O modelo do “jornal com âncora” logo é “exportado” para outras emissoras: Carlos Nascimento segue o mo-delo no Jornal da Cultura e Marília Gabriela faz uma versão do Jornal Bandeirantes com a mesma proposta.

O final da década é marcado pelas primeiras eleições presidenciais livres após o governo militar, motivo in-direto do conflito entre Armando Nogueira e a direção da Rede Globo26, que se encerra com Alberico de Souza

Cruz assumindo o telejornalismo da emissora e prometendo um jornalismo mais atuante, com maior presença das transmissões ao vivo.

Na década de 1990 o telejornalismo brasileiro passa a ter uma linguagem ainda mais sofisticada: cortes, aproximações de detalhes, planos gerais e closes, zoom-in e zoo-out, passam a ser usados com mais freqüência, enfatizando um estilo próximo ao videoclip, com noticias pequenas e velozes.

Na contramão dessa tendência, em uma proposta de jornalismo “com a cara da emissora”, o SBT põe no ar em maio de 1991 o Aqui e Agora, um telejornal com seqüências visuais mais longas para dar “maior realismo” às cenas (SQUIRRA: 1993), usando um relato visual com planos-seqüências comparáveis ao estilo Glauber Ro-cha. O noticioso rouba uma parte da audiência da Rede Globo e influencia outros telejornais, que aumentam a quantidade de matérias policiais e aumentam as entradas ao vivo (BORELLI & PRIOLLI: 2000), mas o TJ Brasil mantém o mesmo horário e formato, pois conseguia melhor retorno publicitário.

Novas mudanças técnicas surgem em decorrência da liberação das exportações implantada no governo Collor. A Rede Globo e as suas afiliadas aproveitam a situação investir em equipamentos de captação de ima-gens ainda mais leves e, portanto, mais portáteis. Em 1996, a Central Globo de Jornalismo oficializa uma série de mudanças nos seus telejornais e substitui a dupla tradicional de apresentadores do Jornal Nacional (Cid Moreira e Sérgio Chapelin) por Willian Bonner e Lilian Witte Fibe. Outros telejornais também fazem pequenas mudanças de conteúdo e estéticas. Pouco depois a emissora investe em outra mudança técnica, a digitalização, que começa a ser utilizada para a cobertura da Copa na França, em 1998, e logo passa a ser usado em todos os telejornais da Rede.

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introduzindo Marcos Hummel, que passa a apresentar notícias de esporte e policiais. A âncora do telejornal con-tinua sendo Márcia Peltier; Villas Boas Corrêa fala de política e Carlos Chagas entrevista os políticos em Brasília. O Jornalismo da SBT sofre constantes variações. Apresentado antes do TJ Brasil, o SBT Notícias com Leila Cordeiro e Eliakin Araújo, estréia em dezembro de 1995 com um bom desempenho no Ibope, mas em dezembro de 1996, o casal passa a apresentar o Aqui e Agora. Em seguida a emissora estabelece um acordo com a CBS americana, e passa a apresentar o Jornal do SBT-Telenotícias CBS. Em 1998, estréia o Noticidade, um informa-tivo local, levado ao ar antes do Jornal do SBT-Telenotícias CBS.

Aproveitando-se dessa inconstância, a Record faz investimentos no telejornalismo e obtém o crescimento mais significativo da década de 1990, dobrando o público do Cidade Alerta, jornal sensacionalista apresentado por Nei Gonçalves Dias, ao mesmo tempo em que contratar Boris Casoy para ancorar o Jornal da Record.

Outros canais também investem em grandes nomes, como é o caso de Paulo Henrique Amorin, que vai para a Bandeirantes em janeiro de 1997. Fora de cena, problemas financeiros ameaçam a Rede Manchete. Vendida, ela volta para os antigos donos e novamente é passada adiante, em uma trama judicial chega a termo no final de 1999, com formação da Rede TV.

No final da década, em 1996 o aparelho de controle remoto para televisão já está nas mãos de 88% dos telespectadores brasileiros e cresce individualização do hábito de ver TV, o que coincide também com o aumento do número de aparelhos por domicílio (BORELLI & PRIOLLI: 2000). Também o equipamento de videocassete doméstico, surgido em 1975, já é realidade nas residências da classe média nacional.

A nova realidade afeta todas as emissoras e faz o Jornal Nacional amargar 32 pontos de audiência em ja-neiro (FOLHA DE S. PAULO: 1997). A Rede Globo enfrenta a crise abrindo espaço para o noticiário policial e investe em reportagens-denúncia, muitas vezes utilizando o recurso eticamente questionável das câmeras ocultas. As outras emissoras, financeiramente mais frágeis, apelaram para uma programação ainda mais popularesca. Em julho de 1998, estavam no ar programas como Ratinho Livre (então na Rede Record), Márcia, Fórum Popular (SBT), Magdalena Manchete Verdade (Rede Manchete), H na Lavanderia (Rede Bandeirantes) Cidade Alerta e 190 Urgente. Nesse conjunto, o destaque é o Ratinho Livre, cuja audiência chega a bater a Rede Globo.

Novos concorrentes e novos caminhos

Em 15 de outubro de 1996, a Rede Globo dá início as transmissões da Globo News, um canal exclusivo com 24 horas de notícias. A nova empresa entra no ar reapresentando os programas jornalísticos da TV Globo _ Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal Nacional e Jornal da Globo – além do Fantástico e do Globo Repórter. O novo canal marca também uma nova visão do telejornalismo que, junto com a televisão brasileira, aproveita as brechas na legislação da TV a cabo para abrir espaço para investimentos e parcerias financeiras com as grandes redes internacionais. No fechamento do século, em março de 2001, o processo se consolida com a entrada no ar da BANDNEWS, uma proposta que une um formato inovador a televisão de acesso digitalizado (visualizado

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através de canais segmentados ou pela Internet).

Crescem também os números da televisão segmentada, o que modifica o perfil do receptor de televisão de sinal aberto. Para atingir um público com menor poder aquisitivo, pela primeira vez depois do êxito da inte-gração nacional via televisão (que roubou espaço do telejornalismo local) a Rede Globo de Televisão reforça seus telejornais locais – genericamente conhecidos dentro da rede como “praça” TV - e cria a sua versão de “jornalismo comunitário”, abrindo espaço para um maior número de entrevistas e matérias de serviço voltadas para o interesse das comunidades.

De forma estratégica, a emissora atende a demanda do público por mais espaço para o telejornalismo27,

distri-buindo durante a programação informativos regionais de curta duração. Os telejornais vão pouco a pouco abrindo mais espaço para as questões de polícia e a violência e, principalmente, de denúncias e escândalos de corrupção. Todas essas mudanças estão ligadas diretamente à redução do preço e do tamanho do vídeo-cassete e da câmara de captação de imagens domésticas ou amadoras28, em um processo que permitiu o desenvolvimento do

ao sistema conhecido VHS e posteriormente o S-VHS, ou Super VHS, que chegou a ser usado profissionalmente. Pouco depois surge também o VT portátil da microcâmera, que passa a ser utilizado reportagens-denúncia. Os novos equipamentos já com um processo de intercomunicação com outros sistemas, abrem caminho para o equipamento Betacam do tipo camcorder, um sistema digitalizado de gravação.

Como vem fazendo historicamente, a Rede Globo de Televisão tem mantido em alta seus investimentos em tecnologia de última geração, mas, ao contrário das décadas anteriores, suas concorrentes estão igualmente audaciosas. O melhor exemplo desse perfil é a Rede Record que colocou no ar em setembro de 2007, a Record News, o primeiro exclusivamente de informação em televisão de sinal aberto no Brasil (canal 42 - UHF) com grandes investimentos em jornalistas e equipamentos. Outras novidades já se anunciam com a chegada da TV de alta definição, que traz embutida a promessa de multiplicação de canais e a fragmentação da audiência.

Antes da televisão o país do passado, após a TV, o pais do futuro29.

A afirmação inicial deste texto, de que o Brasil da modernidade teve seu marco inaugural com o surgimento do Jornal Nacional é, antes de tudo, uma figura de linguagem e não uma hipótese a ser comprovada. De fato, a modernidade é o resultado de um complexo entrelaçamento de fatores, externos e internos, cuja análise e de-finição exigiria uma elaboração teoria maior do que é possível em um artigo científico.

Para os brasileiros a televisão significa modernidade – um conceito muito caro a um país repetidamente

clas-27 Segundo Sousa Filho, entre 1987 e 1992 a elevação do interesse pelo material informativo foi de 31%, passando de 39% para 50%. (In MATTOS, 1997, p.40).

28 De fato, uma das grandes viradas em relação à queda na audiência na Rede Globo de Televisão ocorre em abril de 1997, com uma reportagem-denúncia baseada no vídeo de um cinegrafista amador sobre a truculência policial na Favela Naval, em Diadema, São Paulo.

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sificado como subdesenvolvido ou atrasado. No entanto, essa afirmativa surge na construção da imagem de um Brasil moderno, voltado para o futuro e para o desenvolvimento industrial, em oposição a um Brasil histórico, agrícola e apegado a tradições (apresentadas como supertições, crendices e hábitos resultantes da ignorância e da falta de acesso a educação e aos recursos da modernidade

Nesta relação a cidade desponta como o espaço “onde tudo acontece”, e o campo, e particularmente o ho-mem do campo, aquele que deve se adaptar as novas demandas urbanas e “modernas” da vida contemporânea. O interior – seja o campo/espaço de produção agrícola; sejam as pequenas cidades – não foram esquecidos nesta representação, embora ocupem um papel secundário, condizente com o papel que deveriam assumir nesta modernidade. No entanto, a representação é de um campo que pode ser modernizado se assim o desejarem os produtores, e de pequenas cidades que servem como ponto de partida para que se busque uma vida – ou um crescimento pessoal e profissional – em cidades maiores.

A riqueza do campo só se justifica como apoio a vida nas grandes cidades, e seus problemas e crises só ge-ram material jornalístico quando trazem consequências para a vida na cidade.

A partir deste ponto podemos concluir que no Brasil a televisão que foi fundamental para a construção da identidade nacional, atuando como elemento básico para a formação de um laço social30, mas o fez a partir de

um ideal de modernidade no qual a vida no campo, ou pior ainda, no interior, é algo menor, um estágio antes de se buscar as grandes cidades, ou uma espécie de purgatório tedioso do qual alguns não conseguem sair.

De uma forma geral, o brasileiro vê o que está na televisão como uma espécie de continuidade de sua pró-pria vida, uma oportunidade de sentir-se parte do contexto maior, um espaço no qual as coisas efetivamente importantes da vida (de sua vida) efetivamente acontece. De fato, Bucci (1997) aponta que “a vida dos brasi-leiros é determinada pelos limites da televisão”. A televisão unifica o Brasil no plano imaginário o país real das desigualdades sociais, geográficas e culturais. E como a televisão e o telejornalismo mostram prioritariamente os espaços do sudeste e as grandes cidades, é lá que a vida acontece.

Desta forma, seria ingenuidade afirmar que as transmissões via satélite - as vozes vindas do céu – foram fundamentais para unificar o país. Ao contrário, as imagens mostradas de forma sedutora ao público que vê a muito fascínio e pouca crítica de muitas maneiras acentuam as diferenças e criam a imagem de que o Brasil que não pertence ao sudeste é ainda um “outro” país.

Nesta equação, o uso da tecnologia - equipes móveis, replays – foi fundamental, pois eles atuam como indi-cadores de exclusividade, prestação de serviço, de avanço tecnológico, de qualidade da produção. A competên-cia técnica é, ou pelo menos é para uma parte significativa de receptores brasileiros, sinônimo de competêncompetên-cia social, de sucesso, de modernidade.

No entanto, houve sim uma união, uma padronização, mas essa veio do consumo, da busca, em qualquer

30 A expressão explora um slogan do Governo Militar brasileiro, mas também é facilmente explicável se considerarmos que o governo militar brasileiro quando se dispôs a usar a televisão como instrumento de unificação do país, teve primeiramente que

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lugar do Brasil, pelas mesmas marcas, pelos mesmos símbolos de modernidade, como o caro esporte que não pode circular nas estradas rurais ou as máquinas de lavar informatizados, dez programas diferentes e nenhum eficiente para atender as demandas de quem trabalha com a produção rural.

Evidentemente, a televisão da qual estamos falando é também uma televisão do passado. A televisão de sinal aberto atual enfrenta a pulverização da audiência decorrente dos novos comportamentos do consumidor (que passou a dividir o seu tempo livre entre várias opções de lazer, que incluía games interativos, Internet e até mesmo opções mais tradicionais, como teatros e shows, cujos preços se tornaram mais acessíveis – em um fenômeno que aconteceu em vários países do mundo). Reinventando-se a cada dia, a televisão brasileira vem mantendo o seu prestígio junto ao público e os anunciantes, e consequentemente, vem mantendo o seu papel fundamental nos jogos políticos que envolvem as decisões sobre o comando e as ações do Estado brasileiro. Parte deste processo passa pela revisão das relações entre as emissoras locais – as emissoras afiliadas – e as emissoras que coman-dam o processo produtivo. Ou, melhor dizendo, entre o centro e o interior.

O que nos espera, portanto, são novas histórias. Muitas histórias, nas quais os profissionais de comunicação e as imagens que eles construírem dessa relação, terão papel fundamental.

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O STAROVERI: A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA

MIDI-ÁTICA NA PRMIDI-ÁTICA CULTURAL

1

Palavras-chave: : : Cultura Popular; Mediação Cultural; Religião; Mídia; Cultura; Cultura Russa. Resumo

Este trabalho pretende analisar as transformações ocorridas na prática cultural da Colônia Russa em Prima-vera do Leste-Mato Grosso, aos olhos da comunicação e mediações culturais. Acredita-se que as mudanças são ressignificações da tradição cultural e da religiosidade e está diretamente ligada aos novos recursos decorrentes das tecnologias midiáticas que vem sendo inserida em seu cotidiano e dando novos significados.

Marcos Pedro da SILVA

2

e Débora Cristina TAVARES

3

1 Trabalho apresentado no 1 Encontro Centro-Oeste de História da Mídia – Alcar CO 2012, 31/10 e 01/11 2012, Unigrm/ Dourados/ MS.

2 Mestrando em Estudo de Cultura Contemporânea – ECCO - UFMT, email: marcospedro.ecco@gmail.com

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Introdução

Quando se fala da manifestação cultural da Colônia Russa em Primavera do Leste, MT é necessário primeira-mente contextualizar ao longo de sua história todos os acontecimentos que marcaram e ressignificaram esta cultura. Essa busca será analisada desde sua saída da Rússia e sua chegada ao Estado de Mato Grosso. Fatos esses que vem entrelaçados e englobados através do processo imigratório gerado pelo conflito religioso e político em seu local de origem. Tentar responder quais os fatores que motivaram a sua vinda para esse novo mundo, assim consi-derado por eles, é uma questão bastante delicada. O que se tem de concreto sobre a Comunidade Russa no Brasil são poucos registros de fatos históricos ou relatos deixados pelos primeiros imigrantes ao se estabelecerem no Brasil e principalmente em Mato Grosso, os poucos recortes de jornais, sites e revistas são esses postulados que trazem informações importantes para melhor compreensão sobre o seu contexto sócio-cultural de sua chegada.

Para situar o que caracteriza esses fatos culturais, se faz necessário um breve relato histórico. Segundo Lucena Filho (2007, p.151) “não é possível analisar uma manifestação cultural sem considerar sua historicidade e as

variáveis sociais, econômicas, políticas e culturais do lugar onde o fato ocorre”.

Esta pesquisa trata da influência da tecnologia midiática na prática cultural da Colônia Russa em Primavera do Leste - MT. Em síntese, é procurar descrever como esse processo manifestou e/ou manifesta com a chegada da tecnologia midiática, quais as alterações em sua prática religiosa, e, principalmente, o seu modo de vida, pois geram muitos questionamentos e problemas a serem respondidos.

A ideia para produção deste artigo foi inspirada na observação feita aos logos de 2008 até os dias atuais e leitura do texto “Imigração Russa no Brasil: aos olhos da comunicação” percorre um contexto amplo de possibili-dades. Baseadas na teoria dos meios, às mediações, mundialização e cultura encontram parâmetros para serem analisadas as interações entre a prática cultural e a mídia no contexto local, como os meios estão vinculados à prática cotidiana desse grupo. Essa nova configuração cultural é potencializada pela influência dos meios de comunicação de massa: a internet, o celular e a televisão, entre outros elementos midiáticos na contemporanei-dade, principalmente analisando como esses aspectos de mudanças se dão em relação com a mídia.

Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a fim de trazer mais informações a respeito da história da cultura russa e dos meios de comunicação e das teorias de Cultura de massa e cibercultura bem como a re-alização de pesquisa documental que possibilitasse as análises e exemplificação do objeto de estudo.

Os Staroveri em Mato Grosso

Diferentes dos imigrantes que fixaram suas moradias ao sul e sudeste do Brasil, os russos que vieram para região centro-oeste pertencia a um movimento religioso, denominado os Staroveri ou “velhos crentes”. Surgido a partir de 26 de Outubro de 1917, com a implantação do marxismo-leninismo na Rússia, aboliu todas as pro-priedades privadas e a religião pertencente a essa comunidade rural, das quais muitos deixaram o seu local de

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Os russos tradicionais ou camponeses como são chamados, despojados de suas propriedades agrícolas foram impedidos de exercer a sua fé, resistiram aproximadamente durante dois anos às perseguições de que fo-ram vítimas na Rússia. Durante esta perseguição sofrefo-ram ao longo das estepes siberianas4 , das quais os russos

fundamentalistas tiveram de cumprir um demorado périplo para a fuga, que consumiu quase uma geração. Ini-cialmente muitos foram para outros países como China, Mandchúria e Mongólia, nações onde nasceram alguns imigrantes que reside em Mato Grosso e varias regiões do Brasil. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial e outras revoluções acabaram por expulsá-los, de cidade em cidade, de país em país. Já entediado de tantas perseguições buscaram uma nova pátria em outros países, dentre esses o Brasil. Um numeroso grupo decidiu dar um basta ao exílio e buscar novos caminhos, onde pudessem encontrar tranquilidade, segurança e viver em paz e praticar principalmente, os rituais do cristianismo primitivo de suas crenças.

Essa cidade caracterizada na linguagem Bíblica a Canaã, o especialista em cultura russa Zabolotsky (2007, p.74) explica que foi encontrada no início da década de sessenta, as primeiras famílias que se estabeleceram no município de Primavera do Leste, no cerrado matogrossense, a uma distância de trezentos quilômetros da capital. O pioneiro desta expedição foi senhor Wassily Killy, que enfrentou a dura vida do serrado, construindo cabanas impro-visadas, espalhadas pelas futuras fazendas. Nelas foram estabelecidas regras de conduta dos velhos crentes, como a divisão de tarefas entre homens, mulheres, meninos e meninas. Com o sucesso do plantio e a fartura das colhei-tas, novas famílias de imigrantes russos brancos vieram para esta região, juntando-se aos pioneiros. Transformaram a mata virgem em fervilhante concentração de tratores, semeadores, colhedeiras, caminhões e veículos novos.

Mesmo estando em uma região aparentemente isolada, o modo de vida permanece ainda completamente diferente do homem urbano. O uso da tecnologia industrial aplicada no plantio sempre esteve presente, com grandes máquinas que contribuíram na plantação do milho, soja, arroz. Surgiram também, casas, hortas e jar-dins, moinho doméstico e fábricas de rações. Transformando-o no celeiro da região. As residências denotam um estilo particular, que são erguidas pelo grupo seguindo um estilo camponês russo, têm variações brasileiras para se adaptar ao clima de muito sol e chuva, em vez de neve e gelo. As paredes das casas são, na maioria, de madeira ou às vezes de alvenaria. Dispõe ainda de equipamentos domésticos rústicos, para garantir certa auto-suficiência para as famílias. O forno de barro e o fogão a lenha são indispensáveis.

Nesta comunidade as mulheres têm por costumes usarem vestidos longos e cumpridos, lenços e tranças no cabelo, tecem e bordam, costuram as roupas de toda família. Além dos afazeres domésticos. Tudo é aprovei-tado, nem que seja para fabricar vodka fina, a brashkva, feita de arroz fermentado ou de frutas especialmente preparado para as ocasiões festivas, entretanto, é considerado um excelente refresco. Para eles a ociosidade é um pecado no seio da comunidade.

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Esse modelo incomum, aos nossos olhos, das práticas culturais da comunidade russa, agrega-se desde muito cedo a formação educacional das crianças, sendo até certo ponto rígida, embora não apresenta certa severida-de. São introduzidas na infância nas práticas e ministério do cristianismo ortodoxo.

Além do catecismo convencional, aprendem a ler textos antigos, em russo e grego helênico, que servirá de aju-da na leitura aju-da Bíblia cristã primitiva e para os cânticos religiosos. Com paciência e obstinação, os pais ensinam os filhos pequenos a falar e ler em russo. Além da propedêutica dos caminhos da virtude cristã do catolicismo orto-doxo, não se descuidam em colocá-lo em escola pública para aprender o português e cursar o ensino fundamental e médio. Embora algumas famílias não permitissem que as adolescentes ou jovens terminassem o ensino médio, o papel da mulher nessa comunidade é cumprir com as obrigações do lar, como uma boa dona de casa, princípios esses que são estabelecidos por considerarem uma família extremamente patriarcal.

Apesar do tempo em que vive nesta região, ainda são visto com certa estranheza. Isso certamente em virtude de seus trajes, hábitos, costumes e, principalmente, por causa da língua, a escrita em cirílico (alfabeto eslavo) e a religião onde moram. O que também gera um distanciamento entre a comunidade urbana, é o fato de serem auto-suficiente em tudo faz, rarefazendo os contatos com a vizinhança e com as pessoas da cidade. Mas de modo algum se isolam em sua comunidade por completo, nem formam grupos fechados na integra. O contato que se tem está ligado diretamente com as relações comerciais. Mesmo com esse contato urbano, os próprios integrantes dessa comunidade procuram ou mantém certo distanciamento dos hábitos e práticas desse homem urbano, procu-ra cumprir os padrões e regprocu-ras que são estabelecidas e ensinadas desde muito cedo e que devem ser cumpridas e preservadas por cada um. Além de estimularem numerosa prole, as crianças são nascidas por uma parteira à moda antiga, e são batizados pelo Padre Gabryl Kosnitchov, o líder em Mato Grosso.

Sobre o casamento, é um momento muito festivo, chega a durar aproximadamente três a cinco dias de come-moração. Zabolotsky (2007) comenta:

Os jovens casam cedo. O noivo oferta uma flor da grinalda que a noiva usa durante o noivado. Escolhem os acompanhantes para os preparativos do casamento. As vizinhas e parentas costuram, bordam e, principalmente, trocam segredos do matrimônio com a futura esposa. Quanto o rapaz, neste período, dedica-se às despedidas de solteiro, com os amigos e muita braskhva. Enquanto isso, seus parentes lhe preparam o enxoval, resumindo em vá-rias rubaskas, (camisas) alguns pares de trussi (calças) e os indispensáveis paissocos (cintos tecidos e bordados em casa) dos blusões (ZOBOLOTSKY, 2007, p.75).

Nesse contexto da citação acima, percebe-se nessa manifestação casamenteira uma tradição arcaica que ainda hoje são realizadas e cumpridas. O casamento na colônia é feita a moda antiga, onde as famílias presam pela escolha noivo ou noiva para o filho ou filha. Podendo ainda nessas escolhas os pretendentes pertencer a uma dessas comunidades russas existente no Brasil ou no exterior, desde que mantenha os mesmos ritos religio-sos, padrões e regras, e, principalmente que professa a religião ortodoxa. Já houve caso na comunidade, de brasileiro que se converteu ao catolicismo ortodoxo e todas as suas práticas, e conseguiu o consentimento dos

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Além de todos esses elementos importantes para o pertencimento nessa comunidade, existem ainda inúmeras colônias em várias regiões do Brasil como: Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Rio Grande do Sul e no exterior Bo-lívia, Argentina, Chile, Estado Unidos e Canadá. A semelhança entre elas são suas práticas ritualísticas da religião ortodoxa, com suas características primitivas de cultuar. Ordeiros, disciplinados e devotados ao trabalho, demons-tram através de sua fé que ainda mantêm a solidez da comunidade contra desagregações e tentações da socieda-de globalizada e permissiva, principalmente ao uso das tecnologias midiáticas que, embora em menor impacto, também os tem alcançado.

Com essas mudanças, algumas comunidades deixaram de preservar a sua tradição, principalmente as vesti-mentas como era de praxe, incorporaram um novo modelo, agregou-se também em sua prática o uso da tecno-logia midiática ao modo de vida. Com a virada do século e entrar no terceiro milênio cristão, pretendia continuar vestindo e vivendo como viviam seus velhos ancestrais da velha Rússia czarista. Embora ainda hoje exista comunida-de que preserva os molcomunida-des comunida-de seus antepassados, como é o caso da colônia russa em Primavera do Leste. Mesmo assim as mudanças e alterações só ocorreram através desse contato com as novas tecnologias.

Panorama da Religião Ortodoxa

Sobre a Religião Ortodoxa é importantes compreender todo o processo histórico como a história se escreveu ao longo do tempo, começando a divisão do mundo romano em Império do Ocidente (ano 395). De um lado o latino, que abrange todo o Ocidente, de outro, famílias de ritos que constituem as chamadas Igrejas Orientais, encarna-ções da vida cristã em diversas culturas milenares do Oriente, como a grega, egípcia, russa, romena cristianismo sérvio, búlgaro, georgiano e outras.

A Igreja Ortodoxa professa a Doutrina autêntica do Cristo, tal e qual como foram reveladas dos seus próprios lábios e exercidas pelos Apóstolos no primeiro século da era cristã, então na Palestina e cidades de Jerusalém, Da-masco e Antioquia, transmitida pelos Apóstolos aos seus próprios sucessores e aos fiéis, e preservada zelosamente em sua pureza cristalina através dos séculos.

É considerada a doutrina certa e justa, compreendida sem subtração e sem acréscimo nas Sagradas Escrituras, na Tradição e nos Sete Concílios Ecumênicos. Chama-se Ortodoxia a doutrina que observa os ensinamentos do Nosso Senhor Jesus Cristo, reverenciados e propagados pela Igreja Ortodoxa, para glorificar a Deus e salvar as almas.

A Cristandade ficou dividida entre duas igrejas: Católica Romana, e Católica Ortodoxa (orto: reto; doxo: fé). A religião Ortodoxa atingiu o apogeu com Igreja Russa criada 988, pelo Príncipe Vladimir.

As Igrejas Católicas Romanas e Católicas Ortodoxa são uma só, fundada por Jesus Cristo e estabelecida pelos Santos Apóstolos. Apresentam mínimas diferenças no dogma, algumas na liturgia e na hierarquia eclesiástica.

A fé na Ortodoxia, cuja crença contribuiu e ajudaram os colonos a suportar as dificuldades encontradas ao longo da vida e dos sofrimentos com a chegada ao Brasil, sem dúvida foi o elo integrador e de união entre eles, bem como a resistência e preservação da própria cultura.

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Sendo denominado como Católico Ortodoxo ou Ortodoxo. Os russos descendentes professam de maneira inquestionável a sua fé, freqüenta as liturgias estabelecendo vinculo com o ofício religioso expressada na prática do seu cotidiano, tudo esta associado a religiosidade que é o fator primordial. Começando pelo calendário fes-tivo da comunidade. Segue e observa o calendário Juliano que divergem do romano, a única diferença de um para outro que um tem treze dias a mais.

Esta religiosidade com o passar dos anos percebe-se uma nítida diferença da geração anterior e a atual. Enquanto a geração anterior externa uma religiosidade mais íntima, mais compenetrada por ocasião dos ofícios litúrgicos. A geração atual participa mais descontraída dos atos litúrgicos e sua religiosidade aparenta ser mais superficial. Isso se observa através da comparação dos comportamentos dessas gerações.

Além da religião, segundo Jacinto Zobolotsky (2007):

Os imigrantes e descendentes, principalmente os mais idosos, preservam, ainda hoje, alguns usos e costumes, transmitidos de geração em geração. As mulheres mais velhas cos-tumam usar lenços na cabeça e vestidos com estampas coloridas. Os noivos por ocasião do casamento, após a Liturgia, são recebidos pelos pais, com um ícone, em geral da Virgem Maria. Ele é colocado em um lugar de honra em seu novo lar, para as orações. Simbolizando a vida, força, trabalho, hospitalidade e abundância fazem-se a partilha do pão e sal, para que nunca falte aos noivos o pão e sal. É também usado para dar boas vindas na recepção a visitantes ilustres (ZOBOLOTSKY, 2007, p. 156).

Em algumas casas, ainda hoje se preservam o “ângulo belo”, iluminado pela lampatka, um ângulo na entra-da onde são colocados os ícones. A preferência é por um lugar alto, para elevar o olhar ao Altíssimo, que signi-fica a presença de Deus na casa. Quem conhece a tradição, ao entrar na casa, após saudar o dono, inclina-se, faz o sinal da cruz.

Quando um cristão ortodoxo morre, coloca-se envolto de sua cabeça, uma espécie de faixa com inscrições em russo ventchik5, significando que o finado cumpriu em vida com honra, seus compromissos religiosos e sua

missão aqui na terra, sendo como um passaporte da Terra para o Céu.

Novos Desafios da Cultura Russa

As condições vividas pelos antepassados influenciaram na formação dos imigrantes russos e se seus descen-dentes: embora sendo tímidos, pacatos, retraídos, desconfiado, mais são tementes a Deus e às leis dos homens. Até então com sua chegada era taxados de comunistas, por causa da revolução 1923, I e II guerras mundiais, ditadura de Vargas e a ditadura militar que cortaram as relações com a pátria mãe. Neste contexto conturbado Zobolotsky (2007) comenta:

as casas dos imigrantes eram revistadas e livros levados para o Quartel. Muitos docu-mentos foram queimados, livros, ícones e relíquias (ZOBOLOTSKY, 2007, p.178).

Referências

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