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REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES DE CRISTÓPOLIS SOBRE A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE COLPOCITOLOGIA

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REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES DE CRISTÓPOLIS SOBRE A IMPORTÂNCIA DO EXAME

DE COLPOCITOLOGIA

RESUMO

Trata-se de uma pesquisa descritiva e qualitativa, a qual objetivou conhecer a importância que as mulheres atribuem ao exame de colpocitologia e as representações vivenciadas por elas na realização deste procedimento. Os dados foram coletados através de um formulário para traçar o perfil socioeconômico dos sujeitos da pesquisa, e de uma entrevista semi-estruturada. Foram entrevistadas doze mulheres, momento este em que houve a saturação dados. Observou-se com a pesquisa que muitas mulheres resistem em comparecer as unidades básicas de saúde para realização do exame colpocitológico, e que sentimentos de vergonha, medo, receio e desinformação contribuem em grande parte para esta ausência. Conclui-se que os profissionais de saúde podem contribuir para mudar esse quadro, através de um atendimento mais humanizado, onde seja preconizado acima de tudo o conforto e o bem estar dessas mulheres, aliado à educação em saúde.

PALAVRAS-CHAVE: Câncer de Colo do Útero; Enfermagem; Exame Colpocitológico.

REPRESENTATIONS OF WOMEN IN CRISTÓPOLIS ON THE IMPORTANCE OF THE SMEAR TEST

ABSTRACT

This a descriptive and qualitative research, which objectified to know the importance that the women attribute to the smear test and the representations lived deeply for them in the accomplishment of this procedure. The data had been collected through a form to trace the social and economic profile of the woman’s research, and a interview. Twelve women had been interviewed, moment this where she had the saturation given. She observed herself with the research that many women resist in appearing the basic units of health for accomplishment of the colpocitologic examination, and that feelings of shame, fear, distrust and disinformation contribute to a large extent for this absence. She concludes yourself more that the health professionals can contribute to change this picture, through a human attendance, where she is praised above all the comfort and the welfare of these women, ally to the education in health..

KEYWORDS: Col cancer of the uterus; Woman’s Health; Smear Test.

março, 2011. 

 

ISSN 2236‐9600   

SEÇÃO: Artigos  TEMA: Enfermagem   

DOI: 10.6008/ESS2236‐9600.2011.001.0002

     

 

Gleycimara Oliveira dos  SANTOS 

http://lattes.cnpq.br/0646787875878441   

Ana Paula STEFFENS 

http://lattes.cnpq.br/6463478374801641   anapaula.steffens@gmail.com   

                 

Recebido: 10/11/2010  Aprovado: 05/03/2011   

                   

Referenciar assim: 

 

SANTOS, G. O.; STEFFENS, A. P.. 

Representações das mulheres de Cristópolis  sobre a importância do exame de  colpocitologia. Scire Salutis, Aquidabã, v.1, 

n.1, p.15‐27, 2011. 

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INTRODUÇÃO

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que para no ano de 2008, surgiram 466.730 mil novos casos de câncer no Brasil, e que aproximadamente 186.80 mil fora, novos casos de câncer de colo do útero. Em algumas regiões geográficas como o nordeste brasileiro, a incidência de câncer de colo do útero é a mais alta do mundo, e, segundo o INCA, foram 4.720 mil novos casos nessa região no ano de 2008. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007) nos diz que esta é a terceira maior causa de morte por câncer em mulheres no Brasil, estimando- se 3.300 óbitos anualmente.

Entretanto, dentre todos os tipos de câncer, o cérvico uterino é o que pode chegar a 100%

de prevenção e cura. É fato bem conhecido que esse índice de mortalidade por este câncer é evitável, uma vez que as ações para seu controle contam com tecnologias para o diagnóstico e tratamento de lesões precursoras (BRASIL, 2007).

Um estudo realizado por Davim et al. (2005, p.300), na cidade de Natal, RN, mostrou que

“41,7% das mulheres relatam medo da doença ser diagnosticada”, relatando ainda que muitas desconheciam a importância do exame preventivo para o diagnóstico da doença. O não comparecimento aos serviços de saúde demonstrou um aumento sobre as altas taxas de morbimortalidade relacionados ao câncer cérvico uterino. Pelloso et al. (2004, p. 320) ainda ao falar coloca que a cobertura da população em relação à prevenção é um elemento essencial, sendo que “[...] a atual tendência de mortalidade sugere que a cobertura do exame preventivo na população é baixa”.

O estudo sobre o conhecimento das mulheres sobre câncer cérvico uterino nos atenta para várias representações que afastam as clientes para a realização do exame colpocitológico, as quais, segundo Pelloso et al. (2004), relatam sentimentos de vergonha e a impessoalidade do profissional ao realizar o exame, expondo o corpo, causando constrangimento e ansiedade que dificultam a realização do procedimento.

A ideação desta pesquisa se deu através das vivências em saúde pública das autoras, uma enquanto aluna e outra como professora, onde foi observado a grande resistência imposta pelas mulheres à realização do exame colpocitológico.

Muitas delas iam à unidade para realização do procedimento, mas sempre deixando transparecer o seu desconforto em estar ali mesmo na recepção à espera do atendimento. Foi dialogando com estas mulheres que pudemos notar que muitas delas estavam ali por obrigação, para ceder à pressão da agente de saúde, que cobrava o tempo todo a realização do exame, do que pela real sensibilização da importância do exame, das preocupações com seu bem estar e sua saúde.

E foi através dessas observações que sentimos a necessidade de realizar um estudo

baseado na opinião e nas representações que estas mulheres teriam sobre o exame

colpocitológico, visto que é de suma importância que todas as mulheres, não somente de nossa

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região ou mesmo de nosso país, mas do mundo, sejam sensibilizadas sobre a enorme importância desse exame para a descoberta e tratamento do câncer cérvico uterino ainda no início proporcionando sua cura.

Espera-se que esse estudo possa proporcionar a idéia de que é necessária uma mudança radical no atendimento a essas clientes, proporcionando as mesmas um atendimento mais humanizado já que diante do conhecimento dessas experiências dessas poderemos atentar para as falhas mais comuns nesses atendimentos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa realizada é de natureza descritiva, com abordagem qualitativa onde se buscou conhecer as representações atribuídas pelas mulheres sobre a importância do exame de colpocitologia.

Os dados foram coletados junto a uma Unidade de Programa da Família do município de Cristópolis, Bahia, durante o primeiro semestre de 2008. As participantes, 12 mulheres que estavam aguardando para realizarem o exame citopatológico, responderam a uma entrevista semi-estruturada. O tamanho da amostra foi definido por saturação de dados. Conforme a Resolução 196/96, foram respeitados todos os princípios éticos, sendo a pequisa avaliada antes de sua execução pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade São Francisco de Barreiras, e as mulheres assinando Termos de Consentimento Livre e Esclarecido antes das entrevistas. As falas das participantes foram gravadas, posteriormente transcritas e agrupadas por categorias temáticas, as quais foram analisadas a luz da literatura pertinente.

REVISÃO TEÓRICA

Câncer de colo do útero

O câncer cervical ocorre mais em mulheres entre 30 e 45 anos de idade, porém pode

ocorrer tão precocemente quanto com 18 anos de idade. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002,

p.1187). O câncer cérvico-uterino ou câncer de colo do útero é uma neoplasia maligna, que se

apresenta no epitélio da cérvice uterina originando-se de alterações celulares que se apresentam

em atipias progressivamente maiores, que evoluem imperceptivelmente, transformando-se em

carcinoma cervical invasor em um período de 10 a 20 anos (BARROS; MARIN; ABRÃO, 2002,

p.419).

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Baracat e Lima (2005, p.30) nos relatam sobre a propagação do câncer sendo este distinto em invasão direta, quando o carcinoma se manifesta na vagina e no corpo do útero por continuidade,se propagando por diferentes estruturas vizinhas como bexiga e reto, e invasão indireta, quando esta ocorre nos vasos linfáticos ou sanguíneos.

De acordo com o INCA (2006), entre os principais fatores de risco associados ao câncer de colo do útero estão: Baixas condições socioeconômicas; Inicio da atividade sexual precoce;

Multiplicidade de parceiros sexuais; Tabagismo; Higiene íntima inadequada; Uso prolongado de contraceptivos orais; Papilomavírus Humano (HPV).

Dentre todos os tipos de câncer, o de colo uterino é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura. A maior incidência desse câncer situa-se entre mulheres de 40 a 60 anos de idade, e uma pequena porcentagem naquelas com menos de 30 anos (BRASIL, 2007).

Segundo o INCA (2006) o câncer cervical, raramente produz sintomas sendo ainda denominado como fase pré-clinica, em que a detecção das lesões se dá através da realização de exames preventivos.

De acordo com Brunner e Suddarth (2002, p.1188), os sintomas como secreção, sangramento irregular, ou sangramento após a relação sexual, ocorre quando a doença pode já estar em estágio avançado, com isso a secreção torna-se aquosa e, por fim de odor fétido devido à necrose e infecção do tumor. À proporção que o câncer avança o tumor pode se alastrar e invadir glândulas linfáticas e outros locais; Quando a doença progride, ela produz edemas externos e anemia, acompanhada por febre e abscesso na massa ulcerante.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007), ao falar do câncer de colo do útero, nos apresenta as estratégias de prevenção, denominando como sendo a prevenção primaria, a utilização do preservativo durante a relação sexual, apontando o sexo seguro como uma das formas mais eficazes de evitar o contágio pelo HPV, vírus que é descrito com um papel importante no desenvolvimento do câncer cervical. Ainda como prevenção secundária no Brasil temos como estratégia a realização do exame colpocitológico, sendo este realizado nos postos ou unidades de saúde que tenham profissionais capacitados para realizar este procedimento.

O exame citopatológico conhecido também como exame de Papanicolau, é o primeiro exame realizado no rastreamento do CA de colo de útero. O exame citopatológico, é capaz de detectar inflamações, infecções nas regiões da cérvice, vagina e endométrio, e também, lesões pré-malignas e malignas (VERDIANI et al., 2003, p.197).

O diagnóstico pode ser com base nos resultados anormais de esfregaço do exame Papanicolau, seguido por resultados de biopsia que identificam o tipo de displasia. Assim temos as neoplasias intra-cervicais (NIC), “NIC I e II ou displasia branda a moderada, encontradas por colposcopia e biopsia e NIC III, equivalente à displasia grave e carcinoma in situ”. (BRUNNER;

SUDDARTH, 2002, P.1188). O exame especular é importante para o diagnóstico quando detecta

tumor que sangra facilmente. (BARACAT; LIMA, 2005, p.31).

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Os tratamentos mais comuns utilizados no combate ao câncer de colo do útero são; a cirurgia e a radioterapia, podendo ainda ser utilizado em alguns casos a quimioterapia e a terapia biológica. A conduta a ser adotada para a paciente com lesão neoplásica maligna de colo do útero deve basear-se no diagnóstico, estagio, e conhecimento da história natural da doença e fatores prognósticos (BRASIL, 2007).

Deve-se analisar as vantagens e desvantagens específicas de cada método, também a topografia da lesão, a topografia da junção escamo-colunar e, com essas informações decidir qual o melhor método a ser utilizado (BRASIL, 2007).

Taxa média de sobrevida de um ano: 89%,e em cinco anos são de 71% (BRASIL, 2007);

Porém a taxa de sobrevida em 5 anos em casos iniciais é de 100%.Para tumores localizados, essa taxa chega a 90%.Para o tumor invasivo, varia entre 10 e 50%,depende do estágio (BRASIL, 2007).

A Mulher Frente ao Exame Colpocitológico

Pelloso et al (2004, p.320), afirma que a mulher deve ser voluntária na procura aos serviços de saúde para submeter-se ao exame colpocitológico, apontando que essa procura é a estratégia fundamental no controle do câncer de colo do útero, desvelando sua importância não apenas a mulher ou aos profissionais, mas, contudo uma estratégia articulada entre as esferas governamentais, profissionais atuantes e clientela, voltada para a educação em saúde e redução dos agravantes à saúde da mulher.

Segundo Davim et al (2005, p.398) o exame colpocitológico ou como também é conhecido por Papanicolau, é um instrumento adequado, barato e essencial no rastreamento do câncer de colo do útero, o mesmo é conhecido em geral pela população com exame preventivo.

O câncer de colo do útero ocupa lugar de destaque nas taxas de morbimortalidade entre a população feminina, especialmente nos paises em desenvolvimento (PINHO, FRANÇA JUNIOR, 2003, p.96).

Diante disso podemos perceber a pouca importância atribuída pelas mulheres em achar que o exame preventivo é de importância apenas para pacientes sintomáticas e não assintomáticas, esquecendo elas que a prevenção relaciona-se com o cuidado antes do adoecer, e a detecção precoce de qualquer lesão precursora do câncer de colo do útero, pode salvar sua vida.

Segundo Carvalho e Furegato (2001) em pesquisa sobre exame ginecológico das usuárias

de um serviço de saúde citam vários autores que destacam sensações e representações de

desconforto, vergonha, vulnerabilidade e ansiedade vivenciada por mulheres na realização do

exame.

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Observa-se assim que a exposição do íntimo, em geral causa constrangimentos, e o despreparo de muitos profissionais de saúde em reconhecer esses sentimentos torna-se responsável pelo afastamento dessas clientes das unidades de saude após uma primeira experiencia traumática. è necessario que estes profissionais trabalhem com ética não expondo seus clientes ao ridiculo, expondo somente a parte do corpo necessaria a realização do exame, evitando tambem o trânsito desrespeitoso de profissionais na sala de exame e encorajando a mulher, de forma a evitar o medo e a vergonha, tornando esse um atendimento humanizado.

Alguns depoimentos relatados por Pelloso et al (2004, p.321) em relação ao sentimento frente ao exame, muitas mulheres descreveram vergonha pela posição e pelo profissional, evidenciando a insatisfação pelo profissional masculino.

Dessa forma podemos concluir que a exposição ao intimo é a grande responsável pelo constrangimento vivenciado pelas pacientes diante do exame ginecológico, e é então diante disso que se faz de grande importância à capacitação dos profissionais responsáveis pelo exame, para que esses consigam proporcionar um ambiente agradável e um atendimento humanizado as pacientes minimizando este desconforto. Nota-se que em seus relatos elas temiam deixar que esses profissionais vissem o intimo. E que diante disso muitas mulheres até deixam de realizar o exame ginecológico.

Pinho e França Junior, (2003, p.96) ao falarem do exame ginecológico com ou sem coleta do material cérvico-vaginal, demonstrado que sentimentos de desconforto comuns entre os depoimentos de suas pesquisadas se dão aos sentimentos originados de experiências anteriores sofridas durante o procedimento, como, a realização do exame sem explicação do seu significado, a forma fria e descuidada do profissional frente a sua clientela e abordagem, sendo evidenciados ainda maus tratos e humilhação em serviços de saúde em geral.

Pode-se confirmar esta questão através do estudo realizado por Paula e Madeira (2003, p.89), sobre exame colpocitológico sob a ótica da mulher que o vivencia, onde as pesquisadoras observaram o constrangimento das clientes através das suas fisionomias vendo nessas mulheres a contrariedade em se submeterem ao procedimento.

Ainda diante do texto de Paula e Madeira, (2003, p.90), podemos perceber que as

mulheres se achavam sem domínio de seu corpo durante o procedimento, temiam pelos achados

anormais e eventuais doenças a serem detectadas. Elas ainda descreveram que submeter-se ao

exame ginecológico é sentir vergonha, medo, nervosismo, constrangimento, ansiedade, dor, alivio

e tranqüilidade. Foram representações individuais descritas por cada uma das mulheres

pesquisadas de acordo com seus conhecimentos onde elas diziam ainda se sentirem

desprotegidas e incomodadas diante da exposição. Confirmando ainda essa idéia de desconforto,

Cestari et al (2004), notou em seu grupo investigado, as representações de inferioridade feminina

do corpo como vergonhoso. È por isso que muitas vezes perde-se a credibilidade e a confiança

nos serviços de saúde atribuídos aos profissionais que desrespeitam os direitos dos usuários dos

serviços e deixam para trás sentimentos, crenças e valores dessas mulheres que geralmente

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encontram-se psicologicamente e emocionalmente abaladas, mas, no entanto necessitam submeter-se ao exame preventivo.

Portanto diante dos pressupostos sobre o conhecimento do exame e sentimentos das mulheres submetidas à colpocitologia, esperamos que haja mais compreensão por parte dos profissionais e assim se direcione uma nova visão de como assistir e cuidar dessas mulheres fragilizadas pelos sentimentos que seu próprio corpo lhe impõe de forma necessária, respeitando constrangimentos, vergonhas, medos e acima de tudo seu direito de ser mulher.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dentre as doze mulheres que participaram deste estudo, as idades variaram de 19 a 86 anos; Grande parte delas afirmou ter completado o ensino fundamental, outra parte porem afirmou não ter se alfabetizado. A maioria delas disse ser casadas ou viver em união estável. Apenas uma delas era nulípara, outras de dois a três filhos, e outras com até cinco, ou mesmo dez filhos.

No que se refere à ocupação, estas se dividiram entre mulheres que eram aposentadas, outras lavradoras, professora, auxiliar de limpeza ou do lar. A maioria afirmou ter uma renda mensal de até um salário mínimo.

A análise de dados foi realizada a partir das cinco categorias resultantes: a importância da realização do exame colpocitológico, a periodicidade para realização do exame, os sentimentos das mulheres ao serem examinadas, a preferência das mulheres pelo examinador e seus motivos, e a quinta categoria e última procede ao conhecimento das mulheres sobre o exame.

Importância da realização do exame preventivo

Ferreira e Oliveira (2006, p.06), em estudo relatam que a maioria de suas entrevistadas conhece a importância, mas, no entanto se mantêm resistentes a esse conhecimento. Além de ser importante para saúde da mulher na prevenção do câncer uterino, o exame colpocitológico se faz necessário na detecção precoce de lesões pré-invasivas e se torna ainda um fator essencial para a diminuição da mortalidade (PELLLOSO, 2004, p.321).

Nas falas a seguir percebeu-se uma inconsistência em relação à explicação da importância na realização do exame, pois as depoentes sabem que é necessário, no entanto, desconhecem o porquê desta na prevenção do câncer do colo do útero, ou mesmo o associam as várias outras doenças.

“Eu acho que é pra evitar certas doenças [...] a Dr. Me falou que é pra evitar

câncer” (M1).

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“É muito importante pra mostra alguma infecção, inflamação, doença né? [...] por que esse exame mostra a gente por dentro tudo né” (M3).

“É por que ele fala o que você tem e o que você não tem [...] ele alerta né pra você tratar, mais cedo” (M9).

“Eu acho que é importante pra gente vê como é que ta nosso útero né [...] se ta doente” (M11).

Nos discursos dos sujeitos fica explícita a importância que elas atribuem ao cuidar-se, porém é evidente a falta de informação dentre a maioria das entrevistadas. Davim et al. (2005, p.300) revela que as mulheres sabem muitas vezes a finalidade do exame preventivo, porém atribuem o exame, à detecção de afecções ginecológicas e não ao rastreamento do câncer uterino, desconhecem ainda que devam realizar o exame colpocitológico, as mulheres assintomáticas.

Periodicidade para realização do exame

O exame preventivo é priorizado para qualquer mulher com vida sexual ativa. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (BRASIL, 2007), preconiza-se um exame por ano e nos casos de dois exames normais consecutivos, o mesmo deverá ser feito a cada três anos. Em casos de resultados positivos o profissional deverá seguir as normas do Ministério da Saúde.

Segundo expressam as depoentes observamos que a maioria delas realiza o exame anualmente. Essa afirmação confirma-se pelas falas a seguir:

“Eu faço todo ano né, a gente tem que fazer” (M2).

“Sempre to aqui fazendo [...] num falto é todo ano” (M3).

“Todo ano, só faltei uma vez [...] mas já faço há mais de 8 anos todos os anos”

(M6).

“É a primeira vez que eu faço, mas eu vou vir fazer agora toda vez [...] por que é bom pra gente né” (M7).

Porém nota-se que muitas mulheres ainda desconhecem a periodicidade com a qual devem fazer o exame, ou mesmo-o associam a necessidade de realizar o exame sempre que sentirem alguma anormalidade ginecológica:

“É pra fazer todo ano né [...] mais a gente sempre deixa de fazer de vez em quando [...] mais tem ano que eu faço ate duas vezes por ano” (M1).

“É, agora eu vou começar a fazer todo ano [...] você acha que eu posso fazer de quatro em quatro meses?” (M5).

“Eu faço de seis em seis meses, é melhor assim né, ai eu faço assim [...] sempre

que a gente sente assim uma dozinha no pé da barriga ou corrimento” (M8).

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A periodicidade na realização para o exame colpocitológico para Ferreira e Oliveira (2006, p.06) está relacionada a fatores do cotidiano, como afazeres socialmente necessários realizados pelas mulheres como funções de serem mães, donas de casa e trabalhadoras.

Sentimentos ao ser examinada

Para as mulheres o exame Papanicolau é importante e necessário, porem ficou fácil perceber em suas fisionomias gestos e expressões de aversão ao responderem sobre suas experiências em relação ao momento do exame.

Essas sensações são atentadas no trabalho de Carvalho e Furegato (2001) onde as usuárias do serviço de saúde expressam representações de desconforto, vergonha, vulnerabilidade e ansiedade. Assim como várias representações de vergonha, desconforto, nervosismo, aflição e timidez são expressas pelas pesquisadas em nosso estudo.

Além dos sentimentos de vergonha, nervosismo, constrangimento, desconforto, incomodo e dor, Paula e Madeira (2003, p.89) declara que as representações são vistas e descritas de forma ímpar por cada sujeito da pesquisa, de acordo com seu conhecimento, sentindo-se ainda desprotegidas e incomodadas diante da exposição.

“A gente tem que saber mesmo né [...] e num tem outro jeito de num mostrar o corpo da gente e num fica com receio né” (M1).

“(risos) dá um pouquinho de vergonha [...] mas tem que fazer mesmo, é rapidinho né (riso)” (M3).

“A gente sente assim um friozinho, uma vergoinha de mostra assim (risos)” (M5).

Pactuando a idéia de desconforto, Cestari et al (2005), percebe que em seu grupo investigado, a inferioridade feminina do corpo era tido como vergonhoso. Demonstraram ainda a vergonha de expor seu íntimo para o médico ou outro profissional de saúde.

Muitos depoimentos mostram o desconhecimento dessas mulheres por parte dos profissionais de saúde que as atendem em informá-las sobre o procedimento a ser realizado, como acontece, quais os materiais a serem usados.

“Uma friagem na barriga, eu acho na hora que ta tirando o líquido, é né? [...]

aquela friaginha assim tocando na gente, vergonha (risos)” (M4).

“Senti vergonha, sei lá, acho que é medo de mostrar, a gente num sabe o que vai acontecer” (M6).

“Nada não, assim só um medo né (risos) [...] de descobrir uma coisa ruim (risos)”

(M7).

“Não, não, eu num sinto nada só uma gastura, por que mexe com a gente lá

dentro né, e é só (risos)” (M8).

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“Só uma friage, uma gastura na hora que ta raspando o útero da gente lá dentro [...] mais não faz vergonha não” (M9).

Através destes depoimentos enfatizamos a humanização como uma prática eficiente, porém inoperante nas unidades de saúde, pois sensações como as descritas aqui podem ser aliviadas com a pratica de um atendimento mais individualizado, no qual se possa dar mais atenção e informações corretas, como a apresentação do material a ser utilizado e etapas do procedimento, e principalmente acima de tudo reservar a paciente de uma exposição desnecessária, eliminando o desconforto que muitas sentem, procurando deixa-las mais relaxadas de uma forma que facilite ate mesmo a realização do exame.

Conforme menciona Pinho e França Júnior (2003, p.110) ao reportarem o exame ginecológico com ou sem coleta do material cérvico-vaginal, demonstrando que as representações de algumas de suas pesquisadas se dão aos sentimentos originados de experiências anteriores sofridas durante o procedimento como realização do exame sem explicação do seu significado. A forma fria e descuidada do profissional na abordagem frente sua clientela, sendo evidenciado ainda maus-tratos.

Preferência pelo examinador e motivos

Para garantir a adesão das mulheres nos programas de saúde da mulher, o profissional de saúde deverá propor-se a desenvolver um clima de confiança e segurança para essas mulheres, garantindo um atendimento humanizado, preparo técnico e sensibilidade para contribuir na qualidade do atendimento (FERREIRA; OLIVEIRA, 2006, p.07).

Segundo Cestari et al (2005) a enfermagem por ser em sua maioria composta por mulheres passa a ter um papel importante e lugar de destaque nas equipes de saúde.

Fica evidente através dos dados, que as mulheres sentem-se inferiorizadas, principalmente quando necessitam expor-se ao profissional masculino. Em nossas entrevistas, as representações podem ser associadas ao profissional que realiza o procedimento, ou mesmo evidencia a preferência pelo mesmo.

“Eu gosto de mulher né, que mulher é tudo igual mesmo, tem nada olhar a gente não” (M2).

“Com mulher eu fico melhor, assim [...] a menina trata a gente melhor (risos)” (M4).

“É melhor quando é mulher (risos), [...] eu já fiz com homem, mais é melhor com mulher” (M7).

“É melhor que seja mulher né, por que assim, a gente já tem vergonha, com homem então nem se fala (risos)” (M9).

“Prefiro mulher, que eu fico mais a vontade” (M11).

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Os depoimentos relatados por Pelloso (2004, p.321) confirmam os dados descritos pelas mulheres por eles pesquisadas que descreveram dificuldades pela posição e pelo profissional, evidenciando a insatisfação pelo profissional masculino. Muitas deixam de realizar o exame de colpocitologia devido aos fatores supracitados.

Conhecimento sobre o exame

As pesquisadas em geral demonstram importância na realização do exame Papanicolau, preocupando-se com o adoecer e com o bem estar. Porém ocorre falha quando desvelamos a falta de compromisso dos profissionais atuantes nas Unidades Básicas de Saúde-UBS.

“É pra ver inflamação, ferida né?” (M1).

“É negocio de inflamação, o que aparecer no exame mostra né, eu num sei...”

(M4).

“O câncer? É pra descobrir o câncer né? [...] mais eu acho que descobre outras doenças também [...] que foi no preventivo que eu descobri que meu útero tava inchado” (M7).

“Ai eu num sei não, uma vez quando eu fiz deu “infecção na urina”, mas da outras coisas também né “(M9).

“Mostra a gente por dentro, as doença do útero, da vagina da gente, se tem corrimento, coceira né?” (M10).

Contudo buscamos ressaltar o desconhecimento da maioria das pesquisadas sobre a doença detectável e prevenida através do exame e a incerteza de outras mulheres em suas verbalizações.

O desconhecimento torna-se um problema lamentável na falha da consulta ginecológica de enfermagem, nos programas desenvolvidos pelas unidades e nas ações educativas. Problema este que pode acarretar dúvidas em muitas mulheres sobre a necessidade da prevenção do câncer-uterino, bem como a pouca procura da comunidade pela assistência prestada nas UBS.

Contudo Pelloso (2004, p.321), em estudo com relação ao conhecimento das mulheres sobre o câncer cérvico-uterino, afirmam que a mulher deve ser voluntária na procura aos serviços de saúde para submeter-se ao exame colpocitológico. Apontam que essa procura é a estratégia fundamental no controle do câncer do colo do útero, demonstrando a importância nessa realização não apenas a mulher ou aos profissionais, mas uma estratégia articulada entre as esferas governamentais, profissionais atuantes e clientela, voltada para educação em saúde e redução dos agravos à saúde da mulher.

No estudo apenas uma pesquisada reportou desconhecer qualquer tipo de informação

quando questionada sobre as doenças que o exame preventivo mostra.

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“Num sei não, pra falar a verdade não sei” (M11).

De acordo com o estudo percebemos a importância dos profissionais que através da educação em saúde orientam a comunidade com responsabilidade e competência. Oliveira et al.

(2006, p.177) demonstraram que as mulheres desconhecem a importância do exame colpocitológico como responsável para detecção do câncer do colo do útero assim também sua possibilidade de cura, estas foram as que menos procuram as unidades de saúde para realizar o procedimento.

CONCLUSÕES

Pretendeu-se com esta pesquisa mostrar a importância da realização do exame colpocitologico, já que o mesmo pode proporcionar uma grande queda nos altos índices de mortalidade por câncer de colo uterino, visto que este possibilita a descoberta do câncer ainda no inicio, aumentando suas chances de cura.

Buscamos ainda, saber por quais motivos, as mulheres se dirigem até as unidades de saúde para realização deste exame, ou mesmo expor os motivos mais freqüentes que resultam no não comparecimento destas para realização deste procedimento.

Muitas das experiências aqui citadas contribuíram para mostrar o quanto essas mulheres sentem-se incomodadas, ou mesmo traumatizadas com a realização deste exame; nota-se que a maioria delas deixam transparecer o constrangimento que sentem durante o procedimento, explicitando sempre, que a realização do mesmo é apenas por uma obrigação, já que, como se pode notar nos depoimentos transcritos, grande parte dessas mulheres se quer souberam responder pra que serve esse exame.

Devemos ressaltar que informações corretas sobre o que é o exame, sua importância, como é realizado e quais são os instrumentos utilizados durante o procedimento, podem minimizar o constrangimento vivenciado por estas pacientes no consultório.

Diante do que foi exposto, podemos notar que muitas mulheres superam a si mesmas,quando decidem buscar por esse tipo de assistência, deixando de lado medos e receios, adquiridos através de informações incorretas ou mesmo de experiências de atendimentos anteriores, na busca de sua saúde.

Através deste, podemos concluir que há uma grande necessidade em se realizar uma verdadeira mudança no atendimento à mulher nas unidades de saúde. Deve se investir na capacitação dos profissionais de saúde para que estes possam realizar uma abordagem mais humanizada, proporcionando a estas mulheres um ambiente mais confortável e seguro.

As unidades de saúde devem investir ainda na divulgação maciça, sobre a importância

desse exame na prevenção do câncer de colo do útero, realizando um trabalho de

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conscientização, para que haja um aumento significativo do comparecimento destas mulheres, às unidades de saúde, para realização do exame.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARACAT, E. C.; LIMA, G. R.. Guia de Medicina ambulatorial e hospitalar de Ginecologia. Barueri:

Manole, 2005.

BARROS, S. M. O.; MARIN, H. F.; ABRÃO, A. C. F.. Enfermagem obstétrica e Ginecologia: guia para a prática assistencial. São Paulo: Roca, 2002.

BRASIL, Ministério da Saúde. Câncer do colo do útero. Distrito Federal: INCA, 2007. Disponível em:

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Referências

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