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TRAÇOS DO BILINGÜÍSMO NO LÉXICO CATARINENSE: UM ESTUDO PLURIDIMENSIONAL

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Academic year: 2021

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TRAÇOS DO BILINGÜÍSMO NO LÉXICO CATARINENSE: UM ESTUDO PLURIDIMENSIONAL Hilda Gomes VIEIRA (Universidade Federal de Santa Catarina)

ABSTRACT: It was objectified to investigate lexical variants in people who speak Portuguese with three levels of school age, in contact with European immigrants in Santa Catarina. The lexicon of the ALERS in the semantics area, "parties and amusements", it shows traces of a minority bilingüism.

KEYWORDS: lexical variation; bilingual contact; social variation; geographic variation.

0 Introdução Objetivou-se apresentar um estudo no corpus do Projeto ALERS, salientando variantes lexicais, características da fala de informantes em seis cidades do Estado de Santa Catarina. Estudos anteriores (só para citar alguns), KOCH (2000:55-59); ALTENHOFENN (2002:115-14); KOCH, KLASSMAN e ALTENHOFEN (2001); FURLAN (1989); VIEIRA (1998, 2000.b) têm mostrado Santa Catarina como um leque de variantes fonéticas e morfo-sintáticas, colocando o referido Estado como Zona de transição entre os estados do Paraná e Rio Grande do Sul, em região povoada por imigrantes de outras etinias, principalmente: o italiano, o alemão, o açoriano, o polonês, em contato com falantes de um português que se pode chamar brasileiro.

Esta pesquisa vai um pouco mais além por trabalhar as variantes, agora, no plano lexical. Muito embora, MARGOTTI e VIEIRA (2004.a e 2004.b) já tenham apresentado Santa Catarina com uma “arealização” do léxico na Zona Rural, que coincide com as isoglossas das áreas de origem dos povoadores e/ou acompanham as rotas de migração no Estado, desde o século XVII, e, embora também, no plano lexical da pesquisa na Zona Rural anterior, sendo a primeira (2004.a) com os mesmos itens (festas e divertimentos), nossa pesquisa, agora, estuda o léxico de informantes da área urbana, e com três níveis de escolaridade, controladas as variáveis idade dos informantes (entre 28 a 58 anos da pesquisa rural anterior) e a etinia dos mesmos (falantes de português) em comunidades monolingües e comunidades biligues. Pressupõe-se que, na situação em que se encontrava o bilingüismo catarinense no ano da pesquisa, 1991 (quando foram gravadas as entrevitas do ALERS), ainda se consiga obter registros que caracterizem traços do bilinguismo em variantes lexicais da língua portuguesa falada por catarinenses monolingues de português, que até pode se apresentar diferenciado nos três níveis de escolaridade de seus informantes.

Limita-se, o presente estudo, ao Estado de Santa Catarina, cujos dados do Projeto ALERS são, inicialmente, gravados e informatizados em um banco de dados na UFSC, no Departamento de Língua e Literatura Vernáculas do Centro de Comunicação e Expressão. Trata-se, de um estudo pluridimensional no dizer de Thun (2000:190), levando-se em conta os aspectos: dialingual, diatópico, diageracional e diastrático de dimensões limitadas.

Pretendeu-se comparar resultados da pesquisa urbana (variação diastrática), com dados da pesquisa rural (variação diatópica), em comunidades bilíngües e/ou monolingues, de seis municípios catarinenses.

Os resultados das cartas comprovam a hipótese já confirmada em trabalhos anteriores da influência do bilingüismo no Português de Santa Catarina, abrindo caminhos para pesquisas posteriores em Sociolingüística e Dialetologia, ao cumprir a tarefa da Geolingüística, à qual compete, segundo THUN (2000:197) “...dar uma visão sinóptica das grandes linhas e estimular estudos mais pormenorizados”. 1 Fundamentação teórica Algumas reflexões prévias sobre b ilingüismo, fatores de dialetação, variedades geográficas e variedades sociais, caracterização de informantes e a situação dos municípios em alguns aspectos, se fazem necessárias.

1.1 O bilinguismo em Santa Catarina Estudos sobre o biligüismo têm mostrado uma grande preocupação de pesquisadores ao apresentar a matéria como muito complexa, dadas as características das diversas formas em que ele, (o bilingüismo) se apresenta. Segundo HEYE (2003:229), “o bilinguismo como estado de uso de duas línguas precisa ser revisto e complementado por um outro conceito que leve em conta o aspecto dinâmico de uso de duas línguas em diferentes contextos situacionais ao longo do eixo temporal. Conceito esse, segundo o qual HAMERS e BLANC (1989:12-15) partem da situação de bilingüismo para tratar dos “estágios de ¨bilingualidade”. Para estes autores, “um bilinguismo equilibrado” leva à conservação de uso de dois sistemas pelo mesmo falante. Enquanto um “bilingüismo minoritário”, com o tempo, pode ir se “perdendo, por causas várias”, podendo torna-se “um bilingüismo em decadência”, mesmo residual, depois moribumdo, até surgir um “monolinguismo” novamente.

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Em Santa Catarina, nos dados do ALERS, o que se observa, em algumas áreas, é uma tendência para um bilingüismo em decadência na acepção de HAMERS e BLANC (1989:12-15). Mesmo assim, “as línguas minoritárias deixaram traços no léxico” que ainda não se perderam totalmente. É o que se pretende observar com este trabalho cuja preocupação consiste em procurar, na fala de informantes catarinenses, marcas do bilingüismo provenientes do contato entre falantes do português e imigrantes europeus de diversas etinias, principalmente, o italiano, o alemão e o polonês que se instalaram no território catarinense em diversas fases de sua colonização. Mas, antes de se considerar uma região bilíngüe, é necessário que se reflita primeiro sobre o que leva uma língua a variar até constituir os dialetos mais ou menos caracterizados, o que faremos na seção 1.2.

1.2 Fatores de dialetação Segundo BORBA (1932:56-57), são fatores de dialetação, “a tendência natural da linguagem humana para variação, pois as línguas estão em constante movimento. Há, em cada língua, duas forças em constante luta: “a homogeneidade e a heterogeneidade”. A homogeneidade refere-se à “identidade de hábitos articulatórios e reações vocais aos estímulos exteriores entre os falantes”. Ao passo que a heterogeneidade refere-se à “realização particular sui generis que cada um faz da língua”. E completa: “Como os homens nu nca falam de maneira idêntica, a heterogeneidade se manifesta em todos os planos da língua, sendo que a homogeneidade é apenas um ideal nunca alcançado.”

É preciso também que se considere o que bem diz GAMARDI (1983:28), ao distinguir dois tipos de variação: a) variação intralingüística, como a que se manifesta “nos usos e nas estruturas de um mesmo sistema”; b) variação interlingüística “a que existe entre os próprios sistemas”; situação em que a atividade lingüística da comunidade é marcada, não só pela utilização de dois ou mais sistemas, geneticamente aparentados ou não, mas também pelo fato de que cada um dos sistemas em presença, conservando suas próprias possibilidades de variação, permite que os outros se matizem em conseqüência do próprio contacto entre as línguas. A integração destes e outros tipos de variação é o que tem dificultado as tentativas de justificar quando uma variante é do tipo, diatópica, diastrática ou dialingual, etc.

1.3 Variedades geográficas e variedades sociais Segundo MARTINET (1960) apud GAMARD (1983:28), “A diminuição da freqüência e da intimidade dos contactos entre dois segmentos da população arrasta consigo um processo de diferenciação lingüística (Martinet, Eléments, $ 5-14)”. E GAMARD (1960: 28), completa: “adquiriu-se o hábito de distinguir na variação intralingüística, em primeiro lugar, variedades geográficas. É o que inicialmente se chamava os “dialetos de uma língua”. “Para estas variedades, a diminuição dos contactos intergrupos que levou à diferenciação lingüística é considerada como primordialmente ligada ao afastamento no espaço geográfico”. Este autor discute sobre variantes geográficas e variantes sociais, concluindo que: “ Seria, no entanto, simplista acreditar que a distância geográfica e a diferenciação social possam ser fatores de diferenciação lingüística completamente independentes um do outro”. O que se pode observar, então, é que “as relações entre estes fatores são com freqüência muito complexas” (...) “o afastamento de dois ou mais grupos no espaço geográfico pode ter tido causas propriamente sociais; algumas variedades lingüísticas que é preciso considerar como sociais e que são praticadas num único e mesmo ponto do espaço geográfico podem ter tido, na origem, certas variedades geográficas, etc..(...)”. A autora completa que “quer sejam geográficas ou sociais, as variedades lingüísticas definem-se como conjuntos de diferenças situadas simultaneamente aos níveis do léxico, da gramática e da fonologia, ou só a um dos dois destes níveis dentro do sistema”(...), GAMARD (1983: 27-29). Ainda sobre homogeneidade na língua, p. 43-44, esta autora observa “(...) quando se trata de comunicação, não existe comunidade homogênea, exceto no universo simplificado de alguns teóricos e investigadores. Uma sociedade pretensamente simples e homogênea pode ver diferenciarem-se no seu seio duas ou mais variedades lingüísticas (...)” (p..44). O que se pode com neste trabalho é levantar hipóteses de justificativas diversas com base nas variantes em relação à situações em que elas se apresentam no corpus do ALERS.

1.4 Sobre os informantes Tomando-se como base ALTENHOFEN (2000:77-78), ao caracterizar os informantes do ALERS e dizer que “não se pode falar em correspondência entre informante monolíngüe/bilíngüe e ponto de inquérito monolíngüe/bilíngüe”. “O que é preciso enfatizar, na verdade, é a distinção entre: a) português de falantes bilíngües que nasceram e se criaram em uma comunidade de maioria bilíngüe”; “b) português de falantes monolíngües que nasceram e se criaram em uma comunidade de maioria bilíngü”. “c) português de falantes monolíngües sem contato com uma comunidade bilíngüe.” Os informantes das seis cidades do presente estudo estão encaixados em: b) e c). Sem entrar em discussões, não pertinentes neste pequeno espaço, e com base em dados da pesquisa urbana do ALERS, FURLAN, O. A., VIEIRA, H.G. e MARGOTTI, F.W. (1996: 26-35), apresenta-se, de forma simplificada, a situação dos informantes do presente trabalho:

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A Em Chapecó e Criciúma, temos informantes monolíngües de português que nasceram e se criaram na mesma comunidade bilíngüe, onde a população em 60% a 80% é de origem italiana.

B Em Blumenau e Joinville, temos informantes monolíngües de português que também nasceram e se criaram na mesma comunidade bilíngüe, onde 60% a 80% da população é de origem alemã.

C Em Lages e Florianópolis, temos uma situação um pouco diferente das anteriores. Todos os informantes são falantes monolíngües de português que nasceram e se criaram na mesma comunidade também monolíngüe de português.

Acredita-se que, entre todos os informantes monolíngües da pesquisa rural, a difusão do bilingüismo em Santa Catarina pode apresentar incidência de variantes no aspecto dialingual do léxico não nas cidades (português -italiano, em Chapecó e Criciúma, ou português -alemão, em Blumenau e Joinville), mas também em cidades monolingues (somente português, em Florianópolis e Lages).

1.5 Situação dos municípios Um resumo da situação de cada município faz-se necessário neste ponto da pesquisa. Com base em FURLAN, VIEIRA E MARGOTTI (1996:34-35), da época das gravações das entrevistas do ALERS em 1990-91, registram-se as seguintes situações nas seis cidades:

A O município de Chapecó, a Oeste do Estado, abrigava na década de 90, uma população de 122.889 habitantes, sendo 70% de italianos (expansão do Rio Grande do Sul) 27% de lusos, e 3% de outras etinias, classificados os informantes em: a) informante de primeiro nível, selecionado no Bairro Efape, onde residem 600 famílias (italianos e lusos) - seus pais são naturais de Campo do Meio e Rio Grande do Sul, doravante RS; b) informante de segundo nível, do bairro Santa Maria, habitada por 20.000 habitantes (lusos) - seus pais são naturais de Chapecó; c) informante de terceiro nível, do bairro Vila Zonta, com 40 famílias de italianos – seus pais são naturais de Carazinho (RS).

B O município de Criciúma, na parte suleste do Estado, com uma população de 146.162 habitantes (60% ital. de colonização européia), 30% lusos e 10% outros, classificados os informantes em: a) informante de primeiro nível, selecionado no bairro Paulo de Fronti (outrora Mina do Mato), população não informada (doravante NI); – seus pais são naturais de NI; b) informante de segundo nível do bairro Mina Brasil, com habitantes lusos - seus pais são naturais de NI; c) informante de terceiro nível, no Centro de Criciúma, informantes italianos e lusos – seus pais são naturais de NI.

C O município de Lages, no centro-sul do Estado, com 151.100 habitantes, (70% lusos, 30% italianos, poloneses e alemães) classificados os informantes em: a) informante de primeiro nível, do Bairro Frei Rogério, com 5.000 hab. lusos – seus pais são naturais de São José do Cerrito e Lages ; b) informante de segundo nível, do bairro Universitário, com 15.000 hab. lusos – seus pais são naturais de Curitibanos, a 80 km; b) informante de terceiro nível, no bairro Coral, com 40.000 hab. lusos - seus pais são naturais de Rio do Su l e Lages.

D O município de Florianópolis, a leste do Estado, com 254.941 habitantes, (70% lusos, 9% açorianos, 30% italianos, alemães, afro, gregos e outros – classificados os informantes em: a) informante de primeiro nível, do Saco dos Limões , com 10.000 hab. lusos – seus pais são naturais de Florianópolis (Córrego Grande) e Alto Biguaçu ; b) informante de segundo nível, do mesmo bairro, Saco dos Limões – seus pais são naturais de Paulo Lopes; c) informante de terceiro nível também do mesmo bairro, Saco dos Limões – seus pais são naturais de Garopaba.

E O município de Blumenau, a leste do Estado, pouco mais ao norte de Florianópolis, com 25.635 habitantes (80% alemães, 20% lusos) classificados os informantes em: a) informante de primeiro nível, Bairro Velha no centro da cidade, com 15.000 hab. alemães - seus pais são naturais de Brusque e Blumenau; b) informante de segundo nível, bairro Ponta Aguda, com 10.000 hab. lusos – seus pais são naturais de Camboriú; c) informante de terceiro nível no bairro Fortaleza, com 6.000 hab. lusos – seus pais são naturais de Gaspar.

F O município de Joinville, ao Norte do Estado, com 346.332 habitantes (60% alemães, 30% lusos e 10% outros como afro., gregos, índios, etc. ) classificados os informantes em: a) informante de primeiro nível do Bairro Guanabara com 20.000 hab. lusos – seus pais são naturais de Joinville e Itajaí; b) informante de segundo nível, do bairro Guanabara, com 15.000 hab. lusos – seus pais são naturais de São Francisco e Joinville; c) o informante de terceiro nível no bairro Boa Vista, com 20.000 hab. lusos – seus pais são naturais de Joinville e Itajaí.

2 Metodologia Os informantes (três em cada localidade), com idade entre 28 a 58 anos, foram selecionados da seguin te forma: a) primeiro nível, semi-alfabetizados ou com estudos até o quarto ano do primeiro Grau; b) segundo nível: com o primeiro Grau completo (8a. série do primeiro Grau); c) terceiro nível com o segundo Grau completo. Todos falantes monolíngües de Port uguês.

A pesquisa foi realizada com um corpus obtido no banco de dados do projeto ALERS em fase de informatização para disponibilidade ao público, na UFSC, Departamento LLV, Centro de Comunicação e Expressão. Entre as 644 perguntas do questionário semântico-lexical, selecionaram-se as respostas dos

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itens 513 a 556, referentes à área semântica “Festas e divertimentos” já estudadas em parte na pesquisa rural, MARGOTTI e VIEIRA: 2004. a - no prelo).

Depois de devidamente informatizadas no programa de computador (SPDG) idealizado por Hilda Gomes Vieira e apresentado em alguns trabalhos da autora como em VIEIRA (2000.b e 2001). Só então foram impressos os relatórios de 47 cartas lingüísticas dos itens em questão. Algumas cartas foram, posteriormente, sobrepostas ao mapa das zonas de colonização européia do Estado - SEPLAN (1976:77) - devidamente adaptado para este trabalho (vide Carta QSL 513.a bolinha de gude). Cada variante foi então estudada em sua origem, de acordo com os objetivos perseguidos, ou seja: verificar, no léxico dos informantes monolingues de português, traços do bilingüismo em comunidades monolíngües (de português) e comunidades bilíngües (português e italiano, português e alemão), em três níveis de escolaridade de seus informantes, comparando-as com as cartas da pesquisa rural.

Primeiramente foram estudadas as variantes da pesquisa urbana, em relação aos três níveis de escolaridade, em cada cidade e comparadas com a pesquisa rural ao verificar variantes com indícios de influência do bilingüismo no Estado em questão. Trata-se de um estudo preliminar sem preocupação mais aprofundada a se fazer em percentuais de ocorrência das variantes em questão.

3. Análise e discussão dos resultados da pesquisa urbana em comp aração com a rural A cartas da pesquisa urbana, relacionadas, a seguir, mostram ausência total de variantes, tanto nos três níveis de escolaridade (aspecto diastrático), como em todas as seis cidades da pesquisa (aspecto diatópico), como em referência às etinias dos informantes em cada localidade (aspecto dialingual): 1) Carta QSL 0517. a – peteca; 2) Carta QSL 0529. a – jogo de baralho; 3) Carta QSL 0535.a – bola; 4) Carta QSL 0550.a – baile. Começamos pela carta seguinte, que se apresenta, a título de ilustração.

Carta QSL 0517.a - peteca (da pesquisa urbana)

(elaborada no SPDGL, programa apresentado em VIEIRA (2000:24 e 2001: 60, com dados do projeto ALERS)

No item da carta QSL 0517.a – peteca, da pesquisa urbana, ao ser perguntado : “Como se chama o brinquedo feito de couro ou palha com penas espetadas que se joga com a palma da mão?”, o vocábulo peteca, do tupi pe’teka, gerado de pe’teg, “bater” conf. (FERREIRA,1986:1321) ocorreu em todas as 18 entrevistas da pesquisa urbana, nos seis municípios, independente do nível de escolaridade e da situação de influência de outras etinias. Mostrase, na pesquisa urbana, a fala de informantes de um português -brasileiro, de falantes monolingues, conservando traços do tupi no português do Brasil. Este é um tipo de carta com ausência total de variantes nos três aspectos: o diatópico, o dialingual e o diastrático.

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3.2 Agora, comparando-se as respostas desta pesquisa urbana (item 0517 peteca) com as respostas da do mesmo item pesquisa rural (MARGOTI e VIEIRA: 2004.a, no prelo) feita em 80 municípios catarinenses, temos, a seguir:

1) Carta QSL 0517.a - peteca (da pesquisa rural)

(Carta elaborada no SPDGL, programa apresentado em -VIEIRA ,2000:24 e 2001: 60-65)

Exceptuando-se dois casos de resposta prejudicada (RP) e um caso de não perguntado (NP), verificou-se que, enquanto peteca (brasileiro, do tupi , já mencionado) ocorreu em 93,75% dos casos respondidos pelos informantes, a variante penacho, “do italiano, pennacchio, MICHAELIS (1993:568) “Conjunto de penas para adorno de chapéus, capacetes etc;...” FERREIRA (1986:1299) da Carta 0517.a peteca (da pesquisa rural) foi registrada em apenas uma localidade - município de Paulo Lopes, região leste do Estado com uma população de 100% lusos (destes 20% de açorianos).

Procurou-se uma explicação para a ocorrência de penacho (do italiano pennacchio), apenas em um município Paulo Lopes, justamente com um informante monolíngüe de Português, nascido na localidade cuja população é formada de 100% lusos. Levantou-se , então, a hipótese de uma explicação para o fato, ao verificar que os pais do informante são descendentes de imigrantes italianos, naturais de outro município, Nova Trento, na mesma faixa leste, um pouco mais ao norte, município onde se registram 99% de imigração italiana, o que possibilitaria a difusão do vocábulo penacho, em sentido norte/sul (de Nova Trento até Paulo Lopes), registrando-se, assim penacho, como um indicativo de um pequeno traço do bilingüismo apenas na pesquisa rural do ALERS em Santa Catarina. Diz-se pequeno traço, porque, ao aprofundar um pouco os relatórios do SPDGL, verificou-se que o referido informante da zona rural, havia dado duas respostas, a primeira penacho, como já foi visto, e a segunda resposta, simplesmente peteca, já registrada em todas as outras localidades tanto da pesquisa urbana quanto da rural. Fato, este, indicativo de que o informante detém as duas variantes: peteca, de seu local de origem (Paulo Lopes com 100% de lusos) e penacho do lugar de origem de seus pais (Nova Trento com 99% de italianos).

Agora, um fato curioso: perguntou-se por quê, na pesquisa rural, o informante de Nova Trento, localidade com 100% de italianos, com pais nascidos na Italia e Nova Trento, não usou a variante penacho, do italiano, preferindo a variante, peteca, do português brasileiro. Buscamos uma explicação para o fato, com um argumento, nem diatópico, nem diastrático, muito menos dialingual, mas um argumento que chamaremos aqui, “histórico/cultural/político”, ao considerar o fato conhecido da restrição pelo uso de línguas estrangeiras no Brasil sofrida pelos imigrantes, na década de 40, confr. VANDRESEN (2002:7) com o presidente Getulio Vargas. Explicou-se, então, o fato estranho da preferência pela forma do português brasileiro peteca em Nova Trento, na pesquisa rural, em detrimento da forma do italiano penacho, por um informante bilíngüe de italiano/português e com descendência italiana em comunidade com 100% de descendentes também de italianos.

O argumento lugar de origem dos pais do informante como fator diageracional tornou-se um instrumento valioso para tentar explicar outras variantes da pesquisa urbana.Neste ínterim, continua-se a análise das cartas sem variantes da pesquisa urbana confrontadas com os mesmos itens da pesquisa rural:

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2) A Carta QSL.0529.a - baralho (Jogo que se joga com rei, valete, az, etc...) apresenta, na pesquisa urbana, o vocábulo baralho, deverbal de baralhar, FERREIRA, (1986:230) em 100% das respostas. Da mesma forma, se considerarmos apenas as seis localidades da pesquisa urbana, também não houve variantes.na rural.

No entanto, nas outras localidades da pesquisa rural, além de baralho, com 66.25% dos casos registram-se as seguintes variantes: a) “truco”, do italiano “trucco” no sentido de “truque, artimanha, fraude engano” (MICHAELIS-1993:321), jogo muito comum nas comunidades de descendência européia de Santa Catarina: “truco”, ocorre em Monte Castelo com 30% da população de origem polonesa e o informante tem pais nascidos em Papanduva, de população formada por 90% ucranianos e poloneses, lusos 5% e italianos 5%; b) carta, em: jogo de carta, provém, possivelmente, de cartão, no italiano cartone, MICHAELIS (1993:63), no alemão Karton,, LANGENSCHEIDT (2001,153), .no português, carta, do grego chártes, pelo latim charta “cada uma das peças de jogo de baralho”, FERREIRA (1986: 359) ocorre em localidades como: Ibirama (60% italianos, pais do informante de São Leopoldo RS); Peritiba (75% alemães, o informante fala alemão, e os pais do informante são alemães do Rio Grande do Sul); Lebon Regis (70% lusos, 10% alemães, 10% italianos e 10% poloneses, seus pais são de Santa Cecília- Lebon Regis, onde convivem descendentes de alemães, italianos e poloneses); Campo Belo do Sul (100% lusos, seus pais da localidade, próximo à divisa com RS); São Bento do Sul (70% alemães, 10% italianos, 10% poloneses), pais do informante de São Bento do Sul / RS, e o informante fala alemão. Em resumo, as variantes, carta e truco da pesquisa rural, em colônias européias, ou com informantes lusos, descendentes de alemães e italianos, em pequeno percentual, aparecem com indícios de se mostrar um bilingüismo em decadência, minoritário, quase residual, talvez moribundo, discutido em HEYE (1979:213-215).

3) A Carta QSL 0535.a – bola. “Como se chama a coisa redonda com que se joga futebol?”, não apresenta variantes, nem na pesquisa urbana, nem mesmo na rural. Esperava-se, pelo menos, a ocorrência da variante pelota, vocábulo muito usado em conversas sobre futebol, no Brasil, muito especialmente no Rio Grande do Sul.

4) A Carta QSL 0550.a – baile não apresenta variantes na pesquisa urbana nem na pesquisa rural, se consideradas apenas as seis cidades onde se realizou também a pesquisa urbana.

Mas, nas outras localidades da pesquisa rural, baile, (deverbal de bailar, do grego pállo, através do latim ballare, FERREIRA (1986:220) ocorre em 88,61% das localidades registradas; com apenas uma, ou duas ocorrências, estão: a) a variante festa, do latim festa , FERREIRA (1986:772), no português; também no italiano festa, MICHAELIS (1993, 125) com ocorrência em Timbé do Sul (85% italianos), sendo que o informante fala português e italiano, seus pais são de Siderópolis, na região de Tubarão, ambos ao sul do litoral catarinense, onde predominou a colonização italiana, SEPLAN: (1986:73); b) a variante matinê, do francês matinée, festa ou espetáculo realizado à tarde, FERREIRA (1986: 1103), ocorre em Água Doce, município com 80% lusos; c) “matebaile” (não registrado no Aurélio) é provável que tenha origem pelo aglutinado de matinê+baile = matebaile, que ocorre em Ponte Cerrada (10% lusos); d) domingueira, brasileiro, reunião festiva, desportiva etc. realizada aos domingos, FERREIRA (1986: 607) ocorre e m São Joaquim, localidade com predominância de lusos (95%).

Em resumo, as cartas desta seção, mostram ausência total de variação tanto nas seis cidades da pesquisa urbana (aspecto diatópico) tanto nos três níveis de escolaridade dos informantes (aspecto diastrático), como em referência à sua etinia (aspecto dialingual). As outras variantes aparecem somente nas outras localidades da pesquisa rural que não foram atingidas pela pesquisa urbana.

3.2 Para a seção seguinte foram selecionadas seis cartas da pesquisa urbana que apresentam um pouco mais de variantes lexicais: 1) Carta QSL 0539.a – rinha de galo, com 2 variantes; 2) Carta QSL 0515.a – papagaio (de papel) - com 3 variantes; 3) Carta QSL 0513.a – (bolinha de gude, com 5 variantes; 4) Carta QSL 0521. a – ferrolho, com 6 variantes; (5) Carta QSL 0514.a – estilingue, com 7 variantes; 6) Carta QSL 0522.a - chicote queimado (ovo choco), com 9 variantes, que foram assim analisadas:. Estas cartas apresentam algumas variantes nos três níveis em algumas localidades, fato que se vai tentar uma explicação com o argumento diageracional, etinia dos pais do informante:

1) Na Carta 0539.a - rinha,. Perguntado: Quando se colocam dois galos numa roda e se faz com que eles se ataquem, isso é uma...?, as respostas foram as seguintes : a) rinha ( do espanhol platino, AURELIO: 1986:1510) ocorre no oeste ( área onde ocorreu também na pesquisa rural), em Chapecó nos três níveis, área ocupada por imigrantes italianos que se deslocaram do Rio Grande do Sul. Ocorre também em Lages I e Florianópolis, I e III. b) briga, do gótico brikan, FERREIRA (1986:28), que ocorreu nos demais pontos de influência européia, Joinville e Blumenau (alemães), Criciúma (italianos) nos três níveis, Lages I e III, talvez possam ser explicados pelo argumento da etinia dos pais discutidos anteriormente, como por exemplo: em Florianópolis II os pais do informantes são de Crisciúma, com

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60% de imigrantes italianos; Lages III, pais de Curitibanos, com 35% italianos e Lages II, pais de Curitibanos, embora com pequena percentagem de europeus (apenas 2%).

Em resumo, pode-se observar, nos dados estudados, na pesquisa urbana que a escolha do léxico pelos informantes tem aparentado a) por um lado, falta de variação diastrática, onde há coincidência de variantes nos três níveis de escolaridade; b) por outro lado, mostra estar sendo influenciada: ora pelo fator diatópico, onde há coincidência de variantes nas mesmas localidades da pesquisa rural e urbana; ora pelo fator dialingual, onde há coincidência das variantes selecionadas pelo informante com o léxico próprio das línguas de contato; ora pela etinia dos informantes e/ou seus ancestrais; ora sem explicação aparente, requerendo estudos mais aprofundados.

2) Na Carta 0515.a – papagaio (de papel). Quando perguntado: Como se chama o brinquedo feito de varetas cobertas de papel que se empina ao vento por meio de uma linha?” Os dados coletados das respostas apresentaram as seguintes variantes: a) pandorga, do espanhol, segundo FERREIRA (1986:1256), que ocorre em áreas de colonização italiana com influência de RS, como Chapecó I, II, III, e Criciúma I, II, III; Lages III, e Florianópolis III (pais Garopaba do Sul- italianos vindos do Sul); e por alemães em Joinville II, III (pais de Itajaí, lusos, italianos e alemães); b) pipa, brasileiro, registrado como brinquedo, papagaio, em SCOTINI (1999:353) - dicionário publicado em Blumenau - ocorre em Blumenau I, II, III – FERREIRA (1986:1334) registra com esta acepção de brinquedo, papagaio, mas também, como vasilha bojuda de madeira para armazenar vinho, muito usado por alemães em Blumenau); pipa ocorre também em Lages I (lusos) e Florianópolis I, II (lusos); c) enquanto papagaio, bras. com apenas uma ocorrência registra-se em Lages II, cidade de colonização lusa.

3) Em 0514. a – estilingue. Quando perguntado: “Como se chama o brinquedo feito de uma forquilha e duas tiras de borracha?” As respostas foram: a) funda, do latim funda, FERREIRA (1986: 820) ocorre nos três níveis das cidades do leste: Criciúma (italianos), Florianópolis (açorianos) e Blumenau (alemães); b) bodoque, do grego poticon através do árabe bunduq, FERREIRA (1986:212)” ocorreu, Chapecó I, II, com a variante “badoque em Chapecó III, respectivamente, localidades com forte influência de italianos de RS). Outros casos de uma só ocorrência, foram: c) xilóide”, do grego xyloeidés, FERREIRA (1986:1798), “relativo ou semelhante à madeira” (lembrando a forquilha feita de galho de árvore, onde se prende a borracha para atirar bolinhas de barro), com respectiva variante “silósi “, ocorreu em Joinville II e I respectivamente; d) enquanto setra, alteração de seta, do latim saggita, pelo arcaico, saeta, seeta (FERREIRA, 1986:1579) ocorreu em Joinville I; e) estilingue, do inglês, com t epentético, brasileiro, FERREIRA (1986: 721) ocorre em Lages II (lusos).

4) Em 0522..a chicote queimado (ovo-choco), quando perguntado: “Como se chama a um jogo em que as crianças ficam em círculo, com as mãos para trás, para receber um objeto com o qual perseguem seu vizinho de roda, percorrendo todo o círculo?”. As respostas foram: a) chicote-queimado, não ocorreu b) ovo-choco, em Joinville II, III, Blumenau II, III, Lages II, Chapecó III; b) ovo podre, em Joinville I e Florianópolis I; enquanto mais 7 casos de ocorrência única: pata cega, em Blumenau I, roda, em Florianópolis II, galinha choca em Florianópolis III, galinha bota ovo em Lages I, gato e rato em Lages III e esconde –esconde, Criciúma II. Houve 11 % de não conhecem (NC) em Criciúma I e Chapecó II; um caso de resposta prejudicada (RP) em Criciúma III. Estudos posteriores poderão explorar a preferência por uma ou outra variante em cada localidade / e ou níveis de escolaridade

5) Na carta 0521: quando perguntado: “Como se chama um ponto combinado em um jogo em que uma criança corre atrás das outras para tocar numa delas antes que alcance este ponto combinado?” As respostas foram: a) ferrolho, não ocorreu; b) barra , do latim vulgar barra, na acepção de jogo infantil, de pegar, FERREIRA (1986: 234) ocorreu em Lages, I, II e III, e Criciúma II e III, sendo que informante I não conhece, assim como em Chapecó, os informantes I e III também não conhecem; c) bandeira, “do gótico bandwa, sinal, estandarte + eira. 8. antigo: Na legislação militar portuguesa consolidada por D. Sebastião (1554-1578), “unidade militar comandada por um capitão e correspondente a companhia”, FERREIRA (1986:228) ocorre em Florianópolis, I, II,III; c) traia , possivelmente de tralha, que, segundo FERREIRA (1986:1698) do latim “trágula, 3. cabo cosido em uma bandeira, insígnia, etc. e por meio da qual esta é presa à adriça que permite içá -la num mastro, verga etc.; e 5. brasileiro: fio de arremate das redes de pesca, etc. para reforça-la” que ocorre em Blumenau III, com possíveis variantes também em comunidades alemães da seguinte forma: d) fraio, Blumenau I, II; e) traz em Joinville III; f) fraise, Joinville II, sendo Joinville I com resposta prejudicada.

6) Por último: perguntado, na carta 0513.a - bolinha de gude : Como se chama para as coisinhas redondas de vidro com que os meninos gostam de brincar?, as respostas assim se apresentaram: a) bolita, do espanhol. platino, brasileiro do Rio Grande do Sul (doravante RS) que ocorre em Chapecó nos t~es níveis e Lages (II), municípios que receberam forte influência de RS. Vide Carta QSL 0513.a – bolinha de gude (da pesquisa urbana); b) (bolinha de) gude, de. “gode, províncianismo minhoto –Portugal”, (FERREIRA: 1986: 513) ocorre no litoral, zona de imigrantes açorianos como Florianópolis II e III,

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Criciúma, II e III, e em Lages I e III, zona de influência de lusos de São Paulo; d) bolinha de vidro, com 16,67%, ocorreu apenas no nível I das cidades de Criciúma, Florianópolis e Joinville; enquanto “clica”, não dicionarizado, possivelmente de clique (clicar) com 16,67 %, em alemão klicken, LANGENSCHEIDT(2001:172) ocorre em Blumenau (colonização alemã) no níveis I, II e III, e “peca” não dicionarizado, vocábulo muito comum na cidade de Joinville onde ocorreu em II e III.

Carta QSL 0513.a – bolinha de gude ( da pesquisa urbana)

( Fonte do mapa de fundo: SEPLAN: 1986:77 “ Zonas de colonização européia no Estado de Santa Catarina”., modificado para este trabalho com tonalidades de cinza, numeração e traçado em preto limitando as zonas – autorizada a publicação- por seus autores, à página 2: “Permitida a reprodução em todo ou em parte desde que citada a fonte”)

Considerando dados inicias da pesquisa, onde se regis traram casos sem variação diastrática na pesquisa urbana, procurou-se uma explicação para diferenças no nível II em Lages, e no nível I em Joinville, Florianópolis e Blumenau.

Em vista dos resultados da análise das cartas anteriores, agora também considerando o argumento da naturalidade dos respectivos pais dos informantes, sugerimos a seguinte análise, para as variantes nos níveis de escolaridade, apresentadas nesta carta bolinha de gude. Exceptuando-se o caso do nível I Criciúma, onde, por um lapso da pesquisa, não houve informação, a respeito do lugar de origem dos pais do informante); também o caso de bolita, em Lages II, com possível influência de italianos de RS como ocorre em Chapecó nos três níveis, tentou-se uma hipótese de explicação com base no argumento diageracional, etinia dos pais do informante para a variante bolinha de vidro : a) em Florianópolis I, pais do Alto Biguaçú, com 70% de açorianos; b) em Joinville I, pais de São Francisco do Sul, com 90% lusos., dos quais 40% açorianos; que podem muito bem justificar a variante formada de vocábulo muito simples, até corriqueiro entre o luso-açoriano dominante nestes pontos, boinha de vidro.

Consideradas esta explicação do argumento da naturalidade dos pais, em 513, bolinha de gude se apresentaria com ausência de variante diastrática, mas sim dialingual ( origem dos pais do informante) a exemplo do que apresentou , peteca em 513.

Em resumo, pode-se observar, nos dados estudados, na pesquisa urbana que a escolha do léxico pelos informantes tem aparentado a) por um lado, falta de variação diastrática, três níveis de escolaridade na pesquisa urbana; b) por outro lado, mostra estar sendo influenciada: ora pelo fator diatópico, onde há coincidência de variantes nas mesmas localidades da pesquisa urbana; ora pelo fator dialingual, onde há coincidência das variantes selecionadas pelo informante com o léxico próprio das línguas de contato; ora pela etinia dos informantes e/ou seus ancestrais; ora sem explicação aparente.

Como as mudanças ocorrem lentamente, em diferentes momentos, é possível se descrever apenas parcialmente o ocorrido a cada vez que nos propomos a investigar o problema. Acredita-se que uma verificação estatística posterior destes dados poderão definir mais detalhadamente qual o fator, diatópico, ou diastrático, ou dialingual, ou diageracional de maior influência na caracterização de um bilingüismo no

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eEstado em questão. Por enquanto nos limitamos a apresentar os dados sem análises mais profundas que o caso requer.

4 Conclusão Objetivou-se pesquisar traços de bilingüismo no léxico catarinense em falantes de três níveis de escolaridade da pesquisa urbana do ALERS. Os informantes são todos falantes monolíngües do português, em seis cidades do Estado de Santa Catarina assim distribuídas: a) comunidades bilíngües (português/ italiano e português/ alemão) e b) comunidades monolíngües de português.

Procurou-se descobrir até que ponto a situação de bilingüismo no Brasil proveniente do contado com o português no território catarinense, em várias épocas de sua colonização, povoado por imigrantes europeus teria deixado suas marcas no léxico de falantes monolíngües de português em comunidades bilíngües (variantes diatópicas), nos três níveis de escolaridades dos informantes (variantes sociais), hipotetizando-se, também, a difusão deste léxico em comunidades monolíngües.

Os resultados da pesquisa com registro da fala em 1991, mais de uma década passada, apresentam indícios de um bilingüismo minoritário na acepção de Heye e Blanc (1989: 12-15), em decadência, quase se perdendo com alguns registro também em comunidades monolingues.

Pode-se concordar também com GAMARDI (1983:28), quando discute que “as relações entre os fatores, variedades geográficas, variedades sociais, “são com freqüência muito complexas”: O afastamento de dois ou mais grupos no espaço geográfico pode ter tido causas propriamente sociais; algumas variedades lingüísticas que é preciso considerar como sociais e que são praticadas num único e mesmo ponto do espaço geográfico podem ter tido, na origem, certas variedades geográficas, etc...” Resume -se alguns resultados pertinentes aos objetivos da pesquisa:

A Alguns dados mostram casos de variantes diatópicas, caracterizadas, por influência européia, por um lado, mais especificamente em comunidades bilíngües: Na Carta 0521 ferrolho, a ocorrência de fraio, “fraise”, trais, traia, como variante de ferrolho, em Joinville e Blumenau. Na Carta 05 bolinha de gude, ocorrência de “clica” e “peca”, em Joinville e Blumenau, ao lado de bolita , em Chapecó, como variantes de bolinha de gude. Carta 0515, ocorrência de pandorga em Chapecó ao lado de pipa em Blumenau; Carta 539 ocorrência de briga em Joinville e Blumenau ao lado de rinha em Chapecó.

B.Outros poucos dados mostram que indícios de interferência nos níveis de escolaridade podem mais bem justificados por influência dialingual.

C Outros dados ainda mostram indícios de difusão lexical em comunidades monolíngües, na pesquisa rural, através de falantes monolíngües, cujos pais nasceram em uma comunidade bilíngüe. Carta 517 peteca, com a única variante penacho, no município de Paulo Lopes da pesquisa..

D Em Santa Catarina, nos dados do ALERS, o que se observa, em algumas áreas, é uma tendência para um bilingüismo em decadência na acepção de HAMERS E BLANC (1989:12-15). Mesmo assim, as línguas minoritárias deixaram traços no léxico que ainda não se perderam totalmente.

E Esta pesquisa apenas exploratória, sem preocupação quantitativa, obteve subsídios para indicação de estudos mais pormenorizados sobre o léxico, e sua difusão, a ser feito, num segundo momento, com informantes bilíngües, valendo-se dos mesmos questionários do ALERS, a considerar também informações a respeito da filiação dos informantes.

RESUMO: Objetivou-se investigar variantes lexicais em falantes de português com três níveis de escolaridade, em contato com imigrantes europeus em Santa Catarina. O léxico do ALERS, na área semântica “festas e divertimentos”, mostra traços de um bilingüismo minoritário.

PALAVRAS-CHAVE: variação lexical; contacto bilíngüe; variação social ; variação geográfica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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