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CORPO, ESPAÇO E EXPRESSÃO GRÁFICA NO GINÁSIO DE GUARULHOS

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Academic year: 2021

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26 a 28 de outubro de 2017

CORPO, ESPAÇO E EXPRESSÃO GRÁFICA NO

GINÁSIO DE GUARULHOS

NEDEL, Miranda Zamberlan

1

mirandanedel@hotmail.com

;

MEDEIROS, Givaldo Luiz

2

givaldo@sc.usp.br;

1 Instituto de Arquitetura e Urbanismo – IAU-USP 2 Instituto de Arquitetura e Urbanismo – IAU-USP

Resumo

O uso de recursos gráficos como instrumental analítico é exposto a partir do estudo da inter-relação entre concepções espaciais e pedagógicas, sob o pressuposto de que a primeira é determinante para a constituição do ambiente educacional (Paideia). Mobiliza-se o dado fenomênico, mediante diagramas, fotografias e desenhos, assumidos como instrumentos para o mapeamento da experiência sensível e afetiva dos alunos ante os meios arquitetônico e educacional. Originalmente associada à pesquisa da importância da arquitetura escolar pública na difusão e consolidação das premissas modernas no estado de São Paulo, a metodologia é ilustrada pela EE Conselheiro Crispiniano, o Ginásio de Guarulhos, obra referencial de Vilanova Artigas e da Escola Paulista. Os meios de expressão gráfica comparecem com visadas distintas, complementares às consolidadas pela historiografia, no anseio de obter uma interpretação mais complexa e íntegra dos objetos de estudo: a escola como espaço onde a pedagogia associa-se à convivência social. A apreensão renova-se via apropriação corporal do espaço, enquanto as possibilidades interpretativas agregam ao edifício consistência sensorial, sinestésica e fenomênica.

Palavras-chave: metodologias gráficas, percepção espacial, experiência corporal, arquitetura escolar pública paulista.

Abstract

The use of graphical resources as analytical tool is presented through the study of the interrelationship between spatial and pedagogical conceptions, under the assumption that the former is a critical element to establish the educational environment (Paideia). The phenomenological data are applied through diagrams, photographs, and drawings, as a means for mapping the students’ sensitive and affective experience before the architectural and educational environments. Originally related to the research about the importance of public school architecture in the spread and consolidation of modern premises in the state of São Paulo, the methodology is illustrated by the EE Conselheiro Crispiniano (Gymnasium of Guarulhos), a referential work of Vilanova Artigas and the São Paulo Architecture School. The

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graphical resources appear in a different approach, complementary to those consolidated by the historiography, in a way to provide a more complete and complex interpretation of the objects of study: the school as a space where pedagogy is associated with social living. The apprehension is renewed through the body appropriation of space, while the interpretative possibilities add sensory, synesthetic and phenomenological consistency to the building.

Keywords: graphical methodologies, spatial perception, body experience, São Paulo's public school buildings.

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Através das escolas: o uso dos recursos gráficos como instrumental

de pesquisa

Intrinsicamente associada à consolidação e difusão das premissas modernas no estado de São Paulo, a arquitetura escolar pública reúne exemplos em que as concepções espaciais promovem a interação social e renovam o imaginário sobre o ambiente construído, qualificando consequentemente as propostas pedagógicas e, por extensão, o próprio processo de formação. Para avaliar a vigência dessa produção, foi realizada a pesquisa “Concepções espaciais e práticas pedagógicas: análise de obras arquitetônicas referenciais no ensino público paulista”,1 que mobilizou a experiência

fenomênica do espaço, vivenciada e interpretada por meio de recursos gráficos vinculados ao campo arquitetônico: diagramas, fotografias e desenhos de observação.

A metodologia adotada qualifica-se como recurso analítico complementar à farta bibliografia disponível sobre o tema, enquanto meio de aproximação ao objeto, por estimar a real inter-relação entre arquitetura e concepções pedagógicas. A abordagem enseja prospecções ao largo dos estudos historiográficos consolidados, bem como da iconografia difundida sobre os edifícios ou das avaliações pedagógicas, com o fim de flagrar aquilo que os transpassa, consoante a percepção cognitiva: a vivência afetiva da escola, as impressões subjetivas perante os estímulos sensoriais, o acolhimento e tensões propiciados pela arquitetura, os percursos possíveis ou prováveis, os lugares que convidam à apropriação e ao uso livre e criativo, prescrito ou imprevisto.

Para expor a metodologia elaborada, o texto aborda inicialmente a trajetória da arquitetura escolar pública em São Paulo, realçando o papel dos espaços coletivos e de convívio na constituição do ambiente educacional, para a formação plena de uma

Paideia (NOSELLA, 2002, p. 13). Esse quadro contextualiza a aplicação dos meios

gráficos como instrumental de captura dos aspectos vivenciais, conforme apresentado logo a seguir, segundo um estudo de caso exemplar, o Ginásio de Guarulhos, atual Escola Estadual Conselheiro Crispiniano, obra seminal de Vilanova Artigas.

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Espaços e vivências na arquitetura escolar paulista

Com o objetivo de avaliar o papel da arquitetura escolar na formação dos indivíduos e cidadãos, desenvolveu-se um estudo historiográfico da relação entre arquitetura e educação, voltado ao exame de exemplos emblemáticos da produção pública paulista, que abrangeu o Convênio Escolar (1949-59), o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP, 1959-66), o Fundo Estadual de Construções Escolares (FECE, 1960-76), a Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo (CONESP, 1976-87) e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE, 1987-).

Na análise das transformações e recorrências dos projetos arquitetônicos ao longo do período, a fim de identificar os elementos de maior influência e repercussão no campo pedagógico, realizaram-se estudos gráficos sobre os desenhos técnicos das escolas. A pesquisa pretendeu evidenciar o caráter formativo do espaço, para o qual os locais de sociabilização e as circulações revelam-se fundamentais, conforme verificado pelas explorações gráficas. Buscou-se, em paralelo, desenvolver a ideia de uma genealogia da arquitetura no âmbito escolar, ou seja, reconhecer o processo contínuo de proposição, síntese e revisão de posturas. Tal noção exemplifica-se nos diagramas a seguir, em que os recreios cobertos e os espaços livres são destacados, relacionando obras representativas da temática e do recorte temporal, sobretudo do Convênio Escolar, IPESP e FDE. (Figuras 1 e 2).

Em uma etapa subsequente, explorou-se a percepção fenomênica das obras edificadas. A experiência do sujeito no espaço e a valoração da fruição em movimento multiplicaram as camadas de leitura sobre os ambientes de ensino. Diversa por natureza, a apreensão do espaço físico também engendra espaços, agrega atributos ao suporte construído e integra uma constelação de olhares de improvável captura, cujas expressões apenas constituem uma pequena amostra da conformação social de um espaço particular. No entanto, cada visada envolve uma medida do universal, um ensaio para si do olhar do outro. O registro desses pontos de vista ocultos – a troca de olhares –, por ínfimo que seja em relação à amplitude da comunidade escolar, flagra em parte o que permeia as atividades pedagógicas. As experiências de captura da relação entre o corpo e o espaço nos ambientes de ensino assumem deste modo um duplo sentido de reconhecimento: a compreensão integral da obra construída, a partir de múltiplas visadas e percepções seriais (CULLEN, 2008) e da cartografia dos usos, apropriações e vivência concretos do(s) sujeito(s) no espaço escolar; enquanto ato de autodescobrimento, do corpo no ambiente e suas implicações decorrentes, como a possibilidade de criar, constituir-se no e com o espaço.

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Figuras 1 e 2: Diagramas comparativos dos pátios, espaços livres e recreios cobertos.

Fonte: Nedel, 2016.

Nesse sentido, os meios de experimentação gráfica são em si também formas de experimentação espacial, pois agregam visadas subjetivas diversas frente ao meio vivenciado, as quais, por sua vez, contribuem para a alteração da experiência corpórea e social neste mesmo ambiente. Assim, as interpretações gráficas afirmam-se como recurso privilegiado de investigação arquitetônica e conhecimento espacial,

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para pesquisadores e usuários, enquanto metodologia de percepção e interpretação das experiências corporais: “O conhecimento não se deixa apreender pela perspectiva reducionista da intelecção, emergindo dos processos corporais. (...) As significações que surgem (...) são, em última instância, significações vividas e não da ordem do eu penso”. (NÓBREGA, 2008, p. 147).

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Cartografia da EE Conselheiro Crispiniano

A identificação do período de atuação do IPESP como momento de síntese no quadro da difusão da arquitetura moderna brasileira e a importância da respectiva produção de edifícios para a consolidação da Escola Paulista corroboram o reconhecimento, entre as escolas do período, de um elenco de projetos que tiveram ressonância na cultura arquitetônica, configurando um conjunto modelar: as escolas de Vilanova Artigas. A proposição do pátio central como polo nuclear do ensino e da comunidade, espaço público por excelência, tanto quanto a franca permeabilidade entre interior e exterior, junto com a técnica construtiva moderna denotam os anseios de Artigas por uma sociedade democrática, libertária e revolucionária. Tais questões motivaram a seleção da Conselheiro Crispiniano (1960) como objeto de estudo, por evidenciar a relação entre as concepções pedagógica e arquitetônica segundo a abordagem em pauta: a fruição arquitetônica e o registro da percepção e apropriação dos usuários por meio da utilização de diagramas, fotografias e desenhos de observação.

Figuras 3 e 4: Espaços e condições de apropriação; Acessos e circulações.

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Figura 5: Mapa comportamental.

Fonte: Nedel, 2016.

Com o objetivo de analisar as potenciais interações entre o espaço arquitetônico e os aspectos pedagógicos e sociais, os diagramas exploram os meios gráficos como instrumental analítico. As inter-relações entre modos de apropriação e características de cada ambiente formam uma cartografia corpo-espacial. (Figuras 3, 4 e 5). Nesse conjunto de diagramas, a interpretação e representação da experiência sensorial é assumida como recorte espaço-temporal da percepção concreta do fruidor e constitui um filtro para qualificar como o espaço é assimilado.

A fotografia enquanto instrumento de análise comparece não somente como meio de registro do inerte, mas no estudo da apropriação espacial, pelo qual a captura do movimento corporal humano frente à arquitetura adquire também dinamicidade. Observou-se a relação visual e física entre os níveis da escola – corredor das salas de aula e do pátio –, tanto quanto o movimento de subir e descer pelo banco, que faz às vezes de arquibancada no dia a dia, assim como o agrupamento e sociabilização em torno deste elemento, que, ademais, demarca a diferença entre os pisos (Figura 6). Percebeu-se também a correspondência entre as apropriações espaciais do pátio enquanto ambiente de liberdade, os comportamentos dos usuários e as significações retratadas no mural de Mário Gruber (Figura 7). Outra questão analisada por meio das fotografias envolve a relação entre a forma de determinados elementos arquitetônicos, como os pilares, que potencializam as relações de contato e proximidade do corpo com o elemento construído (Figura 8).

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Figuras 6, 7 e 8: O corpo no espaço.

Fonte: Nedel, 2016.

Em relação ao desenho, este é empregado não apenas como registro analítico do espaço, a partir do olhar estrangeiro do pesquisador, mas com olhos, mãos e corpos de quem percorre e estabelece vínculos com o lugar. Realizou-se uma atividade com desenhos de observação dos alunos, visando apreender a percepção deles sobre os estares, os percursos e a vivência cotidiana, segundo suas impressões e experiências pessoais. A atividade potencializou a reconquista da expressão gráfica como meio de comunicação, em face de sua disseminação no universo infanto-juvenil e escolar, no intuito de questionar as práticas didáticas institucionalizadas, que frequentemente cerceiam a potencialidade interpretativa e simbólica inerente ao desenho. Expressões espontâneas quanto mais vinculadas à infância, diluídas no processo de alfabetização, que analogamente “alfabetiza” o desenho livre, imaginativo e criativo.

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Trabalhadas de modo distinto, com uma turma do terceiro ano do ensino médio e três turmas do sexto ano do ensino fundamental, as dinâmicas desenvolveram-se a partir de uma orientação comum sobre a atividade e seu objetivo: mapear e analisar as impressões e as formas subjetivas e diversas de representação espacial do ambiente escolar. A proposta para o ensino médio envolveu a seleção dos cinco lugares mais significativos. Notou-se, logo na escolha dos ambientes, a importância dos espaços de sociabilidade, recreio e atividades extraclasse, como a praça, o pátio, o auditório e as quadras. Nos locais de predileção pessoal, os alunos foram provocados a discorrer sobre suas características, enfatizando o espaço físico e as sensações suscitadas. A seguir, foram convidados a desenhá-los.

Figura 9: Desenho de aluna do terceiro ano do ensino médio (2016), que associa a palavra “liberdade” à abertura da escola, à possibilidade de percepção das condições climáticas em

seu interior e ao contato do edifício com a natureza.

Figura 10: Desenho de aluno do terceiro ano do ensino médio (2016). Vista perspectivada do pátio, que ressalta o ritmo dos pilares, os bancos e sua variação cromática.

Fonte: Nedel, 2016.

Os alunos do ensino fundamental foram distribuídos pelo pátio central: uma turma junto ao mural, no lado das salas de aula (Figura 11); outra próxima aos bancos que servem de anteparo ao desnível (Figura 12); a última no nível superior, na circulação entre o pátio do jardim interno (Figura 13). Solicitou-se que desenhassem o ambiente onde estavam, sob seu ponto de vista. Essa representação gráfica da escola por quem a frequenta diariamente permitiu estimar como a arquitetura é percebida: a diferença de nível entre as salas de aula e o espaço de liberdade e recreio; as formas ritmadas, seriadas e anguladas da estrutura; as diferenciações cromáticas; a assimilação dos níveis topográficos por meio da recorrente representação das escadas e planos que se interligam; a continuidade visual e de percurso entre o jardim interno e o pátio; a importância do mural; a permeabilidade visual entre o interior e o exterior; a relevância dos elementos da natureza que circundam o edifício, na praça adjacente.

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Figuras 11, 12 e 13: Divisão e disposição dos alunos durante a atividade de desenho.

Fonte: Nedel, 2016.

Figuras 14, 15 e 16: Desenhos de alunos do sexto ano do ensino fundamental (2016). Em meio às faixas superpostas de pisos, banco e paredes, o ritmo dos pilares e das portas. O olhar

retém a horizontalidade e os objetos que demarcam os planos de forma ritmada.

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A atividade ampliou a própria compreensão do projeto de Artigas, enriquecendo as leituras historiográficas consolidadas no meio acadêmico. A simplicidade e a clareza estrutural do edifício – marcado por planos (níveis, pilares, cobertura, esquadrias e elementos vazados) e pela diferenciação cromática dos componentes arquitetônicos – ressoam nos desenhos infantis, sintomaticamente bidimensionais, em planos ritmados e coloridos, sobrepostos, com faixas que representam níveis e elementos distintos. (Figuras, 14, 15 e 16). O grau de abstração desses desenhos faculta uma revelação. O intuito de Artigas de obter uma arquitetura pautada por princípios neoplasticistas (presentes nas cores do edifício), bem como seu diálogo com os artistas concretos de São Paulo, manifesta-se nas crianças segundo uma expressão formal comum às obras de Alfredo Volpi, ensejando o ansiado vínculo concretista entre a arte abstrata, a cultura popular e os fundamentos perceptivos inerentes à fisiologia da percepção (MEDEIROS, 2004).

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Reflexões metodológicas

Por meio dos recursos gráficos empregados, explorou-se, simultaneamente, a relação entre arte e arquitetura, evocada sobretudo com o mural de Mário Gruber. De inegável importância na qualificação da ambiência peculiar do pátio, atestando a dinamicidade de suas apropriações espaciais, o mural retrata, igualmente, a relação da arquitetura com os usuários. A representação onírica de crianças a brincar reforça seu caráter atemporal quando confrontada com os registros fotográficos e desenhos dos alunos.

A discussão remete à Estética da Recepção, de Hans Robert Jauss (1967), cuja teoria é transposta a outro “texto”: as artes do espaço. Em analogia à sétima tese de Jauss (1994), que aborda a função social da criação literária segundo a relação entre literatura e vida, considera-se que o estudo e a experimentação dos recursos gráficos estimulam a experiência estética, ao associar a apreensão cotidiana com a percepção criativa: “A função social somente se manifesta na plenitude de suas possibilidades quando a experiência literária do leitor adentra o horizonte de expectativas de sua vida prática”. (JAUSS, 1994, p. 50). Se a experiência estética por si tem caráter social, argumenta-se que a expressão gráfica contribui para a formação escolar e que nela a arquitetura assume papel fundamental. Nesse sentido, as metodologias de expressão gráfica agregam o prazer estético à percepção do ambiente, potencializando, portanto, a transformação dos modos de pensar e agir dos usuários efetivos da escola.

Ressaltam-se, por conseguinte, os recursos gráficos não somente como meios de representação, mas como parâmetros para a compreensão e interpretação do espaço construído em relação às dinâmicas sociais: “Piaget disse-o muito bem: na criança o desenho exprime menos o modelo que a atividade perceptiva do sujeito; o desenho é

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não leitura, mas ação. ” (FRANCASTEL, 1973, p. 143). Os meios de expressão gráfica desempenham, portanto, um papel ativo na percepção e apreensão espacial, como bem enunciado por Vittorio Gregotti:

O meio de representação, seja simbólico ou geométrico, já o afirmamos, não é nem objetivo nem indiferente; não se institui somente como representação, mas também como controle do real, indica e faz parte da intenção projetual inclusive em suas formas de aparente neutralidade comunicativa. (GREGOTTI, 2010, p. 33). Nesse sentido, aborda-se a arquitetura como fazer histórico, consoante o dualismo entre arte e técnica descrito por Artigas, que opõe ao domínio da natureza pela última “as relações entre os homens, a história como iniciativa humana. ” (ARTIGAS, 2004, p. 109). Afora a inquestionável importância para a atividade projetual, a experimentação gráfica revelou-se um recurso adequado à pesquisa arquitetônica, por conjugar arte e técnica, enquanto instrumento de percepção e apreensão do espaço construído; por atuar como meio de reelaboração das vivências nele inscritas.

Os desenhos dos alunos condensam os gestos de um saber subjetivo e empírico, de um conhecimento espacial e social em processo de formação, como sugerido por Álvaro Siza: “Todos os gestos – também o gesto de desenhar – estão carregados de história, de inconsciente memória, de incalculável, anônima sabedoria. É preciso não descurar o exercício, para que os gestos não se crispem, e com eles o resto. ” (SIZA, 2009, p. 38). A integração dos recursos gráficos à pesquisa fornece índices para estimar o processo de apreensão do espaço e mapear a espacialização das relações sociais nos ambientes de ensino.

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Conclusão

O estudo de caso permitiu a aplicação complementar dos recursos gráficos no âmbito educacional: enquanto metodologia de pesquisa analítica e prospectiva na arquitetura; enquanto meio de percepção espacial, histórica e social para os alunos, passível de utilização como recurso pedagógico no ensino médio e fundamental; enquanto veículo voltado ao diálogo transdisciplinar e entre os sujeitos, atuando na formação humana, intuito que é a finalidade mesma da educação.

No Ginásio de Guarulhos, o uso da metodologia gráfica, baseada na apropriação corporal do espaço, renovou sua análise e imprimiu consistência sensorial, sinestésica e fenomênica ao edifício. À iconografia difundida pela historiografia contrapôs-se a experiência espacial real, mediada pelos percursos e vivências proporcionados pelas atividades de campo. Com a utilização dos recursos gráficos, renova-se igualmente o caráter formativo imputado à arquitetura escolar. A produção de outras representações da obra, calcadas no olhar e apropriação corporal de quem a vivencia cotidianamente,

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amplia as possibilidades de pesquisa e interpretação crítica, ecoando o assinalado por Artigas sobre o desenho: o fato de que este “traz consigo um conteúdo semântico extraordinário. ” (ARTIGAS, 2004, p.109).

A pesquisa propiciou, com as atividades de campo, a oportunidade de questionar e ressignificar o papel dos recursos gráficos e sua aplicação na arquitetura, ao enfocar o aspecto experimental mais do que o documental e confrontar o olhar do pesquisador acerca de sua própria percepção espacial e corporal do objeto de estudo com o olhar dos usuários rotineiros da escola. Ao longo do processo, os diversos suportes gráficos constituíram os instrumentos e ao mesmo tempo os objetos analisados, realçando o caráter laboratorial da metodologia de pesquisa desenvolvida.

Referências

ARTIGAS, Vilanova. O desenho. Caminhos da arquitetura. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 108-118.

CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70, 2008.

FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa: elementos estruturais de sociologia da arte. São Paulo: Perspectiva, 1982.

GREGOTTI, Vittorio. Território da arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2010.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática, 1994.

MEDEIROS, Givaldo. Artepaisagem: a partir de Waldemar Cordeiro. São Paulo: FAU-USP, 2004. Tese de Doutorado.

NEDEL, Miranda. Concepções espaciais e práticas pedagógicas: análise de obras arquitetônicas referenciais no ensino público paulista. São Paulo: FAPESP, 2016. Relatório Final de Iniciação Científica.

NÓBREGA, Terezinha Petrucia da. Corpo, percepção e conhecimento em Merleau-Ponty. Estudos de Psicologia, 2008, 13 (2), p. 141-148. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v13n2/06.pdf>. Acesso em 23 de maio de 2016.

NOSELLA, Paolo. Ao leitor. In: BUFFA, Ester; PINTO, Gelson de Almeida. Arquitetura e educação: organização do espaço e propostas pedagógicas dos Grupos Escolares Paulistas, 1893-1971. São Carlos / Brasília: EdUFSCar / INEP, 2002. SIZA, Álvaro. A importância de desenhar. Textos 01. Porto: Civilização, 2009.

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