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A coruja e o camelo: a interlocução construída pelos assistentes

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Academic year: 2019

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A coruja e o camelo

:

a interlocução construída pelos assistentes

sociais com as tendências teórico-metodológicas do Serviço Social.

Serviço Social

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo

(2)

A coruja e o camelo

:

a interlocução construída pelos assistentes

sociais com as tendências teórico-metodológicas do Serviço Social

.

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Serviço Social, sob a orientação da Professora Doutora Maria Lúcia Martinelli.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo

(3)

Banca examinadora

(4)

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

(5)

Aos meus pais

Jarbas e Thereza

, que me acolhem

e me ensinam a compartilhar as pequenas

alegrias da vida;

A querida

Dilséa Adeodata Bonetti

, formadora de

várias gerações de pesquisadores, o meu

carinho, meu respeito e a minha admiração.

Você é luz para minha formação;

Ao

Joaquim Francisco

, parceiro da minha vida;

(6)

Para

Profa Dra Maria Lúcia Martinelli

, meu exemplo intelectual,

formadora de uma legião de assistentes sociais compromissados

com o exercício profissional vinculado ao projeto ético - político;

que não mede esforços para compartilhar seus conhecimentos;

que sabe conduzir o processo de orientação de tal modo que os

orientandos se reconhecem como sujeitos pesquisadores;

que é uma pessoa brilhante e sabe reconhecer o valor do outro;

(7)

Finalizar uma tese não é fácil. Precisei da colaboração de várias pessoas, sem as quais - talvez – este trabalho não fosse possível.

Agradeço inicialmente aos

assistentes sociais, sujeitos da pesquisa

por compartilhar suas experiências, por dividir as dúvidas, as certezas e as alegrias do exercício profissional do assistente social. Analisar as narrativas foi para mim um desafio e me aprimorou profissionalmente; ler o registro dos questionários possibilitou a organização da tese e do modo como deveria apresentar os dados da pesquisa.

Abraços carinhosos e fraternos:

-

Assistente social Eduardo Spíndola Gomes

, meu grande amigo, a quem devo muito. Eduardo tem me ensinado que sou capaz de superar meus medos profissionais; é com quem posso dividir dúvidas, ganhar broncas e apaziguar meu coração;

-

Sula

do Conselho Regional de Serviço Social – Escritório Regional de São José dos Campos, que me abriu as portas no momento que precisei adquirir a mala direta do CRESS e foi responsável por etiquetar os envelopes que originou a primeira fase da pesquisa desta tese;

-

Assistente social Maria Aline Rezende

, querida amiga, que me salvou no momento de formatar tabelas, construir gráficos, além de me acalmar quando achei que não ia dar conta;

-

Profa Viviane Dantas

, por sua disponibilidade em decifrar os meandros do conhecimento sobre a fenomenologia. Foram várias tardes de ótimos encontros e grandes aprendizagens.

-

Profa Adriana Davoli Arizono

, que colaborou com sua leitura sobre a análise dos dados da pesquisa; além do que, é uma ótima pessoa, cheia de vivacidade, boa de conversa, com quem tenho aprendido que conhecer nunca é demais.

(8)

renderam pelo menos umas cinco teses, duas voltas ao mundo, segredos e alegrias compartilhadas;

-

Profa Dra Maria AuxiliaDORA Ávila Santos Sá

; estamos construindo uma grande amizade. Nossas diferenças nos aproximam, complementam, além de produzir ótimos e saborosos frutos;

-

Profa Dra Ana Cartaxo

, que realizou a primeira leitura do questionário enviado aos assistentes sociais e é uma referência profissional para os assistentes sociais que se reconhecem como profissionais da prática;

-

Lúcia

,

por me receber sempre com um sorriso cada vez que chego ao Departamento de Serviço Social da Universidade de Taubaté;

-

Paula Torres

, minha irmã – filha querida, que sempre está ao meu lado nos melhores momentos da minha vida, que me proporcionou minha primeira viajem internacional e é o meu orgulho;

-

Rita de Cássia

, minha irmã, com que compartilho os bons momentos da vida e soube entender minha ausência durante a elaboração desta tese;

-

Família Cunha Rodrigues

, pelo carinho, amizade, por desejar me ver feliz e realizada;

-

Grupo “Espantalho”

, de Jacareí, que defende com galhardia a concretização de um Serviço Social articulado ao projeto ético - político;

- Aos professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em especial a

Profa Dra Dilsea Adeodata Bonetti, a Profa Dra Maria

Carmelita Yasbek e a Profa Dra Maria Lúcia Martinelli

,

referências fundamentais para minha formação docente;

(9)
(10)
(11)

Figura página Figura 1: Distribuição dos assistentes sociais por sexo e faixa etária 80 Figura 2: Distribuição dos assistentes sociais por sexo e estado civil 82 Figura 3: Distribuição dos assistentes sociais do sexo feminino por faixa

etária e estado civil 83

Figura 4: Distribuição dos assistentes sociais do sexo masculino por faixa

etária e estado civil 84

Figura 5: Distribuição dos assistentes sociais do sexo feminino por faixa

etária e religião 85

Figura 6: Distribuição dos assistentes sociais do sexo masculino por faixa

etária e religião 86

Figura 7: Distribuição das escolas onde os assistentes sociais concluíram

o curso por unidade da federação 95 Figura 8: Distribuição das unidades escolares onde os assistentes

sociais concluíram o curso por sua natureza pública ou privada 96 Figura 9: Distribuição dos assistentes sociais por realização de cursos de

pós-graduação 97

Figura 10: Distribuição dos assistentes sociais por período de formatura e

sub-região do Cone Leste Paulista onde está trabalhando 123 Figura 11: Distribuição dos assistentes sociais por sub-região do Cone

Leste Paulista e áreas de atuação predominante. 131

Figura 12: Distribuição dos assistentes sociais por motivo de saída do último emprego.

(12)

Quadros Referenciais páginas

Quadro referencial 1: Municípios que compõem o Cone Leste Paulista

distribuídos por sub-região 21

Quadro referencial 2: Distribuição das universidades e escolas onde os assistentes sociais concluíram o curso por nome

e unidade da federação onde estão localizadas. 94

Quadro referencial 3: Distribuição dos assistentes sociais por ano de nascimento e média de idade no ano da

(13)

Tabelas página Tabela 1: Distribuição dos envelopes enviados aos assistentes sociais

por quantidade enviada, quantidade respondida e

quantidade devolvida sem resposta 38

Tabela 2: Distribuição dos envelopes enviados aos assistentes sociais por quantidade enviada, quantidade respondida e quantidade devolvida

sem resposta 39

Tabela 3: Distribuição do campo OUTROS para religião 87

Tabela 4: Distribuição dos assistentes sociais por região onde trabalham

e região de moradia 88

Tabela 5: Distribuição dos assistentes sociais por universidade e escolas

onde concluiu o curso e período de formatura 93

Tabela 6: Distribuição dos cursos de extensão realizados pelos

assistentes sociais 98

Tabela 7: Distribuição dos cursos de especialização realizados

pelos assistentes sociais 99

Tabela 8: Distribuição de outra graduação realizada pelos assistentes

sociais 100

Tabela 9: Distribuição dos cursos de mestrado realizados pelos assistentes

Sociais 101

Tabela 10: Distribuição dos cursos de doutorado realizados pelos assistentes

sociais 101

Tabela 11: Distribuição dos assistentes sociais por faixa etária e período

(14)

124

Tabela 13: Distribuição dos assistentes sociais por natureza de inserção

pública estadual e pública federal e área de atuação 126

Tabela 14: Distribuição dos assistentes sociais por natureza de inserção

em ONG e consultório e área de atuação 127

Tabela 15: Distribuição dos assistentes sociais por natureza de inserção em empresa privada e empresa de caráter misto e área

de atuação 128

Tabela 16: Distribuição dos assistentes sociais por natureza de inserção

em entidades sociais e área de atuação 130

Tabela 17: Distribuição dos assistentes sociais por sub-região do Cone

Leste Paulista onde trabalham e área de atuação 132

Tabela 18: Distribuição dos assistentes sociais por forma de contrato

e natureza da ação 135

Tabela 19: Distribuição do campo OUTROS referente à forma como o

assistente social foi contratado 136

Tabela 20: Distribuição dos assistentes sociais por tempo de atuação como

assistente social e regime de trabalho 137

Tabela 21: Distribuição dos assistentes sociais por nome do cargo exercido 139

Tabela 22: Distribuição do campo OUTROS referente ao regime de

trabalho do assistente social 140

Tabela 23: Distribuição dos elementos por problema a ser trabalhado 143

Tabela 24: Distribuição dos elementos éticos 145

(15)

Tabela 27: Distribuição dos elementos relativos ao espaço organizacional 149

Tabela 28: Distribuição dos elementos relativos ao processo de intervenção 152

Tabela 29: Distribuição dos elementos subjetivos 153

Tabela 30: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais

dirigidas diretamente aos usuários 264

Tabela 31: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais

por sua centralidade nos procedimentos técnico-operativos 277

Tabela 32: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais

de caráter administrativo/ organizacional 287

Tabela 33: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais voltadas à investigação, à produção do conhecimento

e à docência

289

Tabela 34: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes

sociais relacionadas aos movimentos sociais e aos movimentos

de classe 290

Tabela 35: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes

sociais relativas ao planejamento 291

Tabela 36: Distribuição das atividades de caráter subjetivo, realizadas pelos

assistentes sociais 293

Tabela 37: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais

relativas à área de atuação 295 Tabela 38: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais

relacionadas aos Conselhos 296 Tabela 39: Distribuição das atividades realizadas pelos assistentes sociais

(16)

Anexo 1: Mapa do Cone Leste Paulista, dividido por sub - regiões: Vale Histórico, Médio Vale, Serra da Mantiqueira,

Litoral Norte

Anexo 2: carta de apresentação da pesquisa aos profissionais

Anexo 3: questionário enviado aos profissionais

Anexo 4: roteiro de questões para coleta dos depoimentos

dos assistentes sociais

(17)

Introdução 20

Capítulo 1 50

O exercício profissional do assistente social: re-descobrindo o espaço profissional

1. 1 – Aproximações iniciais: o ponto de partida para o entendimento do

exercício profissional 51

1. 1. 1 - O perfil dos profissionais que atuam no Cone Leste Paulista 77 1. 1. 1. 1 - Características gerais dos assistentes sociais que atuam

no Cone Leste Paulista 80 1. 1. 1. 2 - O processo formativo dos assistentes sociais 90

1. 2 – Os elementos constitutivos do exercício profissional identificados

pelos assistentes sociais 105 1. 2. 1 - A inserção profissional do assistente social: assalariamento e

as condições de trabalho 107 1. 2. 2 – As áreas de atuação do assistente social 122 1. 2. 3 – Os elementos levados em consideração pelo assistente social

quando realizam o exercício profissional 142

Capítulo 2: 155

Os conhecimentos mobilizados pelo assistente social em seu exercício profissional 2 . 1 – O conhecimento a respeito do cotidiano 160 2 . 2 – O conhecimento sobre a Lei de Regulamentação da Profissão

e outras leis que incidem sobre o exercício profissional do assistente

social e são por eles identificadas 166 2 . 3 – Os conhecimentos consubstanciados na relação estabelecida

(18)

2 . 3 . 2 – A transposição do conhecimento para a prática como critério

para a qualificação do exercício profissional 184 2 . 3 . 3 – A prática profissional como fundamento para a construção

do conhecimento 189

2. 4 – O conhecimento das habilidades presentes no exercício profissional 221 2 . 5 – O conhecimento da realidade social experienciada pelo usuário

e suas condições objetivas de vida 227 2 . 6 – O conhecimento da gestão das políticas sociais 238

Capítulo 3: 249

As atividades desenvolvidas pelos assistentes sociais e os caminhos

para a construção da interlocução com as tendências teórico-metodológicas presentes no exercício profissional

3 . 1 – O exercício profissional desenvolvido pelo assistente social 253

3 . 1. 1 - A relação assistente social – usuário 255

3 . 1. 2 – As atividades desenvolvidas pelo assistente social no

decorrer do exercício profissional 263

3. 1. 2. 1 – As atividades privativas desenvolvidas pelo assistente social 300

3. 2 – As tendências teórico-metodológicas que fundamentam o

exercício profissional do assistente social: introdução 315

3. 2. 1 – As tendências teórico-metodológicas que fundamentam o exercício profissional do assistente social: coruja e camelo em busca

de caminhos para construção da interlocução 317

3. 3 – As tendências teórico-metodológicas presentes no exercício

(19)

Considerações finais 390

Bibliografia 388

(20)

Introdução

(21)

Esta tese é o produto de uma pesquisa realizada junto aos profissionais assistentes sociais que atuam no Cone Leste Paulista (anexo 1). A região considerada como o Vale do Paraíba Paulista, é composta por 43 (quarenta e três) municípios, abrange o Vale Histórico, o Médio Vale, o Litoral Norte e a Serra da Mantiqueira. Os municípios são agrupados da seguinte forma:

Quadro referencial 01: Municípios que compõem o Cone Leste Paulista distribuídos por sub-região.

Sub-região Municípios

Vale Histórico Aparecida, Arapeí, Areias, Bananal, Cachoeira Paulista, Canas, Cruzeiro, Cunha, Guaratinguetá, Jataí, Lorena, Piquete, Potim, Queluz, Roseira, São José do Barreiro, Silveiras.

Médio Vale Caçapava, Guararema, Jacareí, Jambeiro, Lagoinha, Monteiro Lobato, Natividade da Serra, Paraibuna, Piedade, Pindamonhangaba, Redenção da Serra, Salesópolis, Santa Branca, Santa Isabel, São José dos Campos, São Luiz do Paraitinga, Taubaté, Tremembé.

Litoral Norte Caraguatatuba, Ilha Bela, São Sebastião, Ubatuba.

Serra da

Mantiqueira Campos do Jordão; Santo Antonio do Pinhal, São Bento do Sapucaí.

A região está localizada entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, tem seu desenvolvimento econômico e social marcado por um parque industrial diversificado, que engloba os segmentos aeroespacial, aeronáutico, automobilístico e bélico, o desenvolvimento da tecnologia de ponta nas áreas de sensoriamento remoto, meteorologia, estudos sobre as mudanças climáticas e informática. Associado a isso, a partir da década de 90, prospera o turismo ecológico, de aventura, principalmente nas regiões do Litoral Norte e Serra da Mantiqueira.

(22)

É uma região que progrediu economicamente a partir da agricultura cafeeira e da rizicultura. A duplicação da Via Dutra nos anos 601 foi

um elemento facilitador para a consolidação do desenvolvimento do parque industrial que passou a ser reconhecido nacionalmente por sua diversidade e produção tecnológica de referência internacional. Ao mesmo tempo, suporta as conseqüências adversas decorrentes do direcionamento da política econômica e os percalços do quadro econômico nacional e internacional.

A Serra da Mantiqueira abrigou na década de 20/50 grande contingente de pessoas em busca de um clima favorável ao tratamento da tuberculose e outras doenças das vias respiratórias. A cidade de Campos do Jordão - conhecida como a Suíça Brasileira - por seu clima propício mantinha sanatórios2 onde as pessoas de grande poder aquisitivo buscavam o tratamento e a cura para essas doenças.

Recorrendo à história local, há registro de que em São José dos Campos também existiam sanatórios3 e vilas para atendimento dirigido aos doentes de tuberculose e suas famílias. Em São José dos Campos ficavam as famílias que não tinham condições financeiras para arcar com os custos elevados do tratamento. Em Campos do Jordão ficavam as famílias cujo poder aquisitivo permitia responsabilizar-se com as despesas da manutenção dos doentes nos sanatórios de alto padrão.

Em termos políticos e sociais a região sofreu as conseqüências da ditadura e da militarização – vide a instalação do Centro Tecnológico da Aeronáutica, das indústrias bélicas, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, entre outros. Além disso, São José dos Campos – reconhecida como a Capital do Vale – foi considerada, na década de 60, área de segurança nacional. Uma das conseqüências é a nomeação do prefeito pelas autoridades federais sem

1 A Rodovia Presidente Dutra foi duplicada durante a década de 60 e em 1967, inaugurada com um novo

traçado na pista. Atualmente a rodovia é administrada por uma concessionária denominada Nova Dutra.

2 O primeiro sanatório de Campos do Jordão, chamado Divina Providência, data de 1929.

3 O sanatório mais conhecido é o Hospital Vicentino Aranha, transformado em hospital de retaguarda na

(23)

passar por eleição direta. Em termos sociais4, a região contribuiu para a promulgação do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente5. Isso se deve a

presença maciça de profissionais assistentes sociais e de outras áreas no debate sobre o Estatuto, na formação dos Conselhos de Direito e Tutelar, na implantação e defesa das diretrizes propostas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

“Nós participamos do movimento pró-Constituição, de 88, você lembra disso? Por conta da Constituição nós tivemos em vários municípios, tentando influenciar a melhoria das leis municipais relacionadas com o social” [...] “Nós estávamos nessa luta. Nós fazíamos parte de um movimento chamado Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Nós andamos esse Brasil para conhecer experiências, para entender. Nós trabalhamos muito para a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente.” (fala do sujeito 17)

Na promulgação da LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social6

não foi diferente: novamente os profissionais voltam a se mobilizar a fim de fomentar a discussão junto ao poder local de modo a implementar a política de assistência social como uma política de direitos. Dessa movimentação, um dos ganhos identificados na região está relacionado à ampliação da articulação e participação dos usuários na deliberação dos serviços e ao assento nos conselhos municipais. Esse conjunto de ações tem como direção a necessidade da assistência social ser estabelecida como política pública, superando sua identificação com o assistencialismo e sua vertente compensatória.

4 Em São José dos Campos, na década de 80, foi criada a Frente Nacional de Defesa dos Direitos da

Criança e do Adolescente. Suas principais lutas neste período foram: revisão da legislação, pelo Ministério do Trabalho, no que se relaciona às creches nos ambientes de trabalho e incremento de medidas visando sua implantação efetiva; preservação à aplicação dos princípios contidos na Declaração Universal dos Direitos da Criança; institucionalização de plantões sociais em Juizados de Menores em todo o país; revisão e incremento de política de adoção de crianças e adolescentes e adolescentes infratores.

(24)

“Onze anos antes da LOAS, alguns profissionais começaram a discutir entre eles essas questões, essas lacunas, essas contradições” [...] “Eu sinto que a categoria despertou. Ficou assim, entusiasmada e interessada. E correu atrás, foi à luta para poder estudar, para poder construir uma direção para o trabalho desenvolvido.” (fala do sujeito 17)

Não é a toa que o assistente social é reconhecido como o profissional que operacionaliza programas, projetos e serviços diretamente relacionados às políticas sociais. Por ser um profissional que atua nas organizações públicas de natureza estatal, patrocinadas pelo Estado, é o responsável também por planejar e operacionalizar as ações que serão desenvolvidas – junto aos usuários - através das políticas sociais. A partir da promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social, em 07 de dezembro de 1993, ocorre não somente a redefinição da assistência social como política pública, como também esta redefinição incide sobre o exercício profissional do assistente social. Dito de outra forma, o Serviço Social – a partir do conhecimento sistematizado acerca da assistência social – estimula a concretização dessa redefinição e, ainda, é a profissão que colabora na construção de estratégias para que a assistência social seja concebida como uma política cuja perspectiva é a prestação de serviços de caráter sócio-educativo dirigidos à população, legitimando os serviços prestados no âmbito das organizações, uma vez que evidencia as necessidades, interesses e direitos da classe subalterna.

No Cone Leste Paulista o assistente social se insere em diversas áreas de trabalho e o exercício profissional é majoritariamente desenvolvido junto à população que vive em condição de vulnerabilidade social, mediante a realização de atividades voltadas à inclusão dessa população

“que assegure a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática.” (Código de Ética, 1993, p. 11)

(25)

principalmente ao fato de eu residir e trabalhar no Médio Vale há vinte anos, atuando como assistente social em diversas áreas, conhecendo, assim, o exercício profissional desenvolvido.

Desde a graduação em Serviço Social, realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro na década de 80, tenho estudado de forma recorrente o exercício profissional do assistente social e, principalmente, como os profissionais na execução desse fazer têm como referência as tendências teóricas e metodológicas que o fundamentam. Esse interesse decorre de questões desafiadoras que se instituem no exercício da profissão no plano sócio-organizacional e docente.

Durante as reuniões ocorridas entre profissionais e gestores da área da assistência social é comum identificar perguntas do tipo: dessas famílias que vocês atendem, quantas vão permanecer o resto da vida utilizando-se dos serviços prestados pela assistência social? Quantas famílias vocês analisam que têm condições de – com investimento financeiro e qualificação profissional – sair dessa situação, ou seja, em que famílias vocês consideram que o poder público deve investir para melhorar sua qualidade de vida?

Na outra ponta os alunos perguntam: para repassar recurso é preciso estudar? Qual é a especificidade dessa profissão? Qualquer um pode fazer o que o assistente social faz? Como perceber a visibilidade dessa profissão?

(26)

sociais. A outra direção reforça que os assistentes sociais assumam como do Serviço Social os objetivos da organização que o contrata como profissional assalariado, portanto, as demandas de atendimento, as atividades realizadas estão a serviço da manutenção da organização, cabendo o enquadramento dos usuários às regras e ao assistente social ser o intérprete privilegiado de suas determinações. No mesmo local de trabalho é possível encontrar profissionais atuando nas duas direções, o que provoca - inclusive – conflitos entre os pares. Esses conflitos são interpretados sob perspectivas diferentes: alguns assistentes sociais entendem que prejudicam e comprometem o exercício profissional, alegam que conflitos dessa natureza resvalam para questões de natureza política e partidária ou de natureza política no sentido da tomada de decisão. A outra perspectiva de análise recai sobre a questão da contradição presente no exercício profissional do assistente social, ou seja, cabe ao profissional mesmo nos limites da organização, tornar visível, dar evidência às necessidades apresentadas pela classe subalterna e garantir a defesa dos direitos democráticos e sociais determinados na legislação vigente em nosso país.

Entendo que a direção construída por uma profissão é fruto da sua organização coletiva e está presente no exercício profissional do assistente social; é assimilada de forma heterogênea a partir do modo como os profissionais entendem e avaliam sua importância para a conformação do Serviço Social. A direção configura também a visibilidade, a consistência e a coerência teórica e argumentativa que o assistente social deve demonstrar quando realiza seu exercício profissional.

Uma outra observação importante é que, mesmo regulamentada como profissão de caráter liberal, majoritariamente os assistentes sociais trabalham como profissionais assalariados, prestando serviços em diferentes áreas – saúde, educação, assistência social, habitação, docência, entre outros, o que incide diretamente em sua autonomia e possibilidade de construir respostas profissionais.

(27)

da identificação de seus determinantes, organizados por meio de uma pesquisa realizada com os assistentes sociais que executam políticas sociais e colocam em movimento o seu exercício profissional.

O Serviço Social é uma profissão marcadamente interventiva, exigindo do profissional uma ação competente, com consistência teórica e argumentativa. Porém isso não significa que a intervenção deva ser reduzida à realização de atividades dirigidas aos usuários. Ao contrário, faz-se necessário uma profunda e profícua relação entre o fazer e o saber de modo a garantir a explicitação da ação desenvolvida pelo assistente social.

O que observo é que essa relação não está explícita, não se revela por si só no exercício da profissão. Ela carrega determinações que muitas vezes perpassam pelo modo como o profissional entende a importância da teoria, das tendências teórico-metodológicas como possibilidade de construir e qualificar as respostas profissionais; além de identificar o modo como esses profissionais entendem o projeto ético-político da profissão.

Nesse sentido, o estudo proposto vislumbra esta possibilidade: a dimensão interventiva deve ser construída de forma analítica, fundamentada teoricamente, cuja referência e sustentáculo é a realidade social. Pretendo com esse estudo chamar atenção para essa questão, entendendo que essa é uma das formas de qualificar o exercício profissional. Sob esta direção, não há interesse em realizar prescrições, receitas de “como ser um ótimo assistente social”, mas de analisar o Serviço Social como uma profissão cujo conhecimento e competência teórico – metodológica, técnica e interventiva, contribui para a construção das relações sociais estabelecidas na realidade social.

(28)

compreende a produção do conhecimento, a elaboração de pesquisas e os aspectos analíticos que dão suporte e qualificam a ação interventiva. Ambas – em complementaridade – favorecem a visibilidade do fazer profissional. São essas dimensões que consolidam a coerência, a consistência teórica e argumentativa, e, para além disto, são as formas concretas do agir profissional.

A construção desta pesquisa ocorreu a partir do entendimento de que o conhecimento se dá de modo processual e dialético. O sujeito pesquisador parte do conhecimento já existente buscando compreender analiticamente as lacunas, os vácuos que o seu estudo pode completar. A busca pela produção de conhecimento perpassa então pela “construção que se faz a partir de outros conhecimentos sobre os quais se exercita a apreensão, a crítica e a dúvida” (MINAYO, 2000, p. 89) A partir dessa referência, inicialmente realizei uma pesquisa bibliográfica, visando identificar o que já estava sendo produzido sobre o tema pesquisado. O que me chamou a atenção é não haver produção escrita e publicada sobre o modo como os assistentes sociais constroem interlocuções com as tendências teórico-metodológicas presentes na ação profissional e ainda como essas interlocuções “cruzam” e se “entre cruzam” no exercício dessa profissão.

Clarifico desde o início que interlocução não é categoria de análise, mas, sim, como apresentada aqui, uma possibilidade de diálogo, conversação, construção analítica que deve se fazer presente no exercício profissional. A proposta, portanto, não é discutir a produção do conhecimento em Serviço Social mas, sim, explicitar como os profissionais se apropriam e entendem esse conhecimento e suas interfaces com o exercício profissional.

(29)

múltiplos determinantes que são constitutivos desse exercício. A partir do conhecimento sistematizado por estes autores, percebi a necessidade de buscar o entendimento do exercício profissional do assistente social através das concepções de profissão construídas ao longo da história, entendendo também que essas concepções são construídas partindo da visão que a categoria tem desse exercício profissional. Os autores apontam a premência dos assistentes sociais que atuam nas organizações em conhecer e saber quais as atividades irão desenvolver em seus locais de trabalho. Esta urgência, de certa forma, compromete o momento do reconhecimento do lugar, do espaço onde o trabalho será realizado. Não falo aqui somente da organização, mas, do espaço sócio-organizacional, do trabalho até então realizado, do conhecimento do poder local, fundamental para a construção não somente das atividades, mas, também do reconhecimento do fazer profissional. Esta urgência também favorece que a aproximação e o reconhecimento do espaço sócio-organizacional fique restrito àqueles que estão na imediaticidade do exercício profissional: o conhecimento das diretrizes da organização, dos critérios para admissão dos usuários; da liberação de recursos sócio-assistenciais e do funcionamento administrativo da organização. A maioria dos assistentes sociais - muitas vezes – se restringe a conhecer esta parcela de conhecimentos, o que pode comprometer a viabilidade e a visibilidade do exercício profissional. Esses conhecimentos colaboram também para a construção de respostas profissionais que atendam as demandas postas pelos usuários mas não são suficientes. Há uma tendência à construção de uma análise imediata acerca das possibilidades interventivas e analíticas. Há também uma tendência de que o conhecimento teórico seja entendido muito mais como um complicador do exercício profissional do que como possibilitador da construção de respostas sócio – profissionais consistentes.

(30)

dirigida à constituição do Serviço Social como profissão; à produção do conhecimento no Serviço Social; à discussão da ação profissional em suas múltiplas dimensões; ao processo identitário constituído por esse fazer profissional. Sendo assim, considerei a pertinência do objeto proposto, partindo então para sua problematização.

Recorrendo à bibliografia é facilmente identificado que os autores escrevem sobre os fundamentos teóricos, sobre o exercício profissional do assistente social propriamente dito, analisam a ação sob uma perspectiva teórica, porém pouco se escreveu sobre como se dá o processo de interlocução construído pelos profissionais com as matrizes teórico-metodológicas presentes em sua própria ação. Assim

é essencial que o pesquisador adquira familiaridade com o estado do conhecimento sobre o tema para que possa propor questões significativas e ainda não investigadas. (ALVEZ-MAZZOTTI & GEWANDSNAJDER, 2002, p. 151)

A construção do objeto passou por definições após a leitura prévia da bibliografia identificada, do conhecimento que havia sistematizado e da experiência acumulada como assistente social e como pesquisadora. Fui identificando que a construção desse objeto carecia de consistência e delimitações que se não fossem cuidadas poderiam inviabilizar a construção da pesquisa e de seu produto final.

Com relação à consistência, parti do princípio que um objeto de estudo impreciso pode comprometer todo o processo de estudo. Valendo-me de Minayo (2000), consegui compreender que a apreensão do objeto “se explica pelo fato de que as idéias que fazemos sobre os fatos são sempre mais imprecisas, mais parciais, mais imperfeitas que ele.” (2000, p. 90), havendo portanto, a necessidade de repensá-lo e redefini-lo. Um outro aspecto está relacionado ao modo como o próprio sujeito reconhece o objeto que pretende estudar

(31)

frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos. (MINAYO, 2000, p. 90)

No decorrer do exercício profissional é comum observar que os assistentes sociais – principalmente aqueles que se reconhecem como profissionais da prática – têm dificuldade em explicitar suas atribuições e reconhecer o significado social de sua profissão. Consegui compreender o porquê dessas indefinições, partindo da premissa que essa profissão está organicamente vinculada à realidade social. Essa vinculação é mediada pela percepção que os sujeitos têm dessa relação, da sua inserção no espaço sócio-profissional e do modo como entendem o próprio exercício profissional. Por trabalhar majoritariamente com uma população que se quer “escondida” ou “deixada fora do centro das atenções”, há uma tendência de assumir a profissão também como algo que não precisa ser visto, explicitado,

“A gente fica nos bastidores, a gente fica como pano de fundo.” [...] “o medo de se expor, essa coisa embutida na formação de que você não pode aparecer, não deve se expor” [...] “a coisa da subalternidade mesmo, a coisa de que a gente não aparece, não está aí para aparecer” [...] “eu acho que tem que se mostrar com certeza.” [...] “O se mostrar é ter o que falar, é você ter postura, é você ficar no mesmo nível dos demais.” (fala do sujeito 1)

“a gente está na prática, nossa tanta gente se refere a você, mas às vezes eu não tenho noção de como o trabalho está repercutindo, às vezes você pensa assim estou cansada, e não imagina que mesmo com esse cansaço você se empenha, você quer fazer um trabalho interessante, você quer trabalhar direito.” (fala do sujeito 2)

(32)

aspecto fica explicitado no Código de Ética de 19867, que estabelece ser necessária a

negação da base filosófica tradicional, nitidamente conservadora, que norteava a “ética da neutralidade”, e afirmação de um novo perfil do técnico, não mais um agente subalterno e apenas executivo, mas um profissional competente teórica, técnica e politicamente. (CFESS, 1993, p. 9)

Como perceber se os conhecimentos advindos dessa formação repercutem no exercício profissional do assistente social? Os profissionais percebem se esses conhecimentos qualificam ou não o exercício profissional e ainda colaboram ou não para sua visibilidade?

Com base nessas indagações compreendi a necessidade de estudar o exercício profissional não a partir dele mesmo, ou como um fim em si mesmo, o que seria voltar a uma posição endógena, auto-centrada amplamente combatida no Movimento de Reconceituação. Os autores estudados indicaram-me que, para analisar o exercício profissional do assistente social precisaria estudar também os fundamentos filosóficos que sustentam as tendências teórico-metodológicas que fundamentam a direção e a visibilidade desta profissão. Recorri, então, aos autores que, sob minha óptica, o assistente social precisa conhecer para ter clareza da fundamentação dessas tendências: Nisbet (1987); Durkheim (1999); Comte (1990); Marx (1988, 1993, 2001); Vazquez (1977); Marcuse (1978); Heidegger (2000). Este estudo me permitiu perceber o porquê de o Serviço Social necessitar compartilhar do conhecimento de outras ciências, estudos e pensamentos para fundamentar o seu fazer profissional. Voltando à leitura dos autores do Serviço Social foi possível perceber também como eles entendem o conhecimento filosófico e sua apropriação no Serviço Social.

Ao buscar problematizar essas indagações iniciais, identifico que essas questões interferem não somente na clarificação do papel profissional do

7 O Código de Ética de 1986, sinalizava as primeiras conquistas advindas do diálogo que o Serviço Social

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assistente social, mas, sobretudo, no modo como ele entende e organiza sua ação profissional. Para tornar clara essa questão, foi preciso conhecer como os assistentes sociais identificam as ações que desenvolvem e por onde passa essa identificação.

A princípio posso afirmar que essa identificação perpassa pela construção do próprio exercício profissional; a leitura de realidade realizada pelo assistente social, que se explicita no modo como evidencia sua visão de homem, de mundo e de prática profissional; o conhecimento acerca do usuário dos serviços e das demandas por estes apresentadas, e a análise da questão social – não como pano de fundo e/ ou cenário da ação, mas como lócus e objeto da ação do Serviço Social. As questões levantadas anteriormente estão intimamente relacionadas ao conhecimento que os assistentes sociais têm do papel assumido por essa profissão ao longo da sua história e ao reconhecimento que têm de serem protagonistas do processo de construção desse fazer.

“Nós nascemos no pós-guerra, as mulheres se uniram para cuidar dos mutilados, das pessoas que necessitavam da assistência, que naquela época era um assistencialismo, era o socorrer, era o dar sem reflexão sem nada e nós viemos na caminhada, no decorrer desse tempo esse dar virou o que, como, porque, para que, quer dizer, o assistencialismo virou assistência social, virou política, hoje em lei. Mas nós não somos só isto.” (fala do sujeito 1)

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e/ou redução de postos de trabalho para o assistente social. O alvo desta investigação direcionou-se às condições objetivas da inserção e permanência do profissional no mercado de trabalho. A terceira delimitação está relacionada à relevância social e científica do objeto estudado, ou seja, é preciso identificar, analisar e avaliar a contribuição que um trabalho dessa natureza pode trazer para a consolidação do saber do assistente social, bem como a repercussão na construção e na explicitação do fazer desse profissional.

O enfoque dado ao tema desta tese tem na pesquisa social a chave capaz de desatar nós, de construir caminhos e estabelecer mediações necessárias para o entendimento da questão aqui tratada. Por seu caráter analítico, abarca a necessidade do estudo prévio a respeito do tema pesquisado bem como a necessidade de definir a investigação no decorrer do próprio processo. A pesquisa realizada para fins desta tese é de caráter social e o tratamento dos dados ocorreu por meio de uma abordagem qualitativa. Esse modo de efetuar pesquisa busca superar uma visão tradicionalmente constituída na área das ciências humanas e sociais de que os fenômenos sociais mantêm estabilidade e fixidez inerentes às relações sociais e à ordem social. Essa superação decorre da necessidade de tornar explícita

a complexidade e as condições de fenômenos singulares, a imprevisibilidade e a originalidade criadora das relações interpessoais e sociais” [...] “as pesquisas que valorizam os aspectos qualitativos dos fenômenos, expuseram a complexidade da vida humana e evidenciaram significados ignorados da vida social. (CHIZZOTTI, 1991, p. 78)

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contrário, o conhecimento é parte de um processo que explicita a relação homem e mundo e as condições objetivas em que vive o homem em relação com o mundo. Nesse sentido, o planejamento da pesquisa é um processo, uma vez que se parte da experiência, da vivência que o sujeito pesquisador tem com o tema pesquisado e da experiência, da vivência que o sujeito pesquisado tem com o tema, construindo nexos, relações a partir daí; portanto há uma trajetória que se desenvolve ao longo desse processo.

A pesquisa, portanto, é como um instrumento no qual estará explicitado o processo de construção do conhecimento acerca do objeto estudado, além de valorizar “a contradição dinâmica do fato observado e a atividade criadora do sujeito que observa.” (CHIZZOTTI, 1991, p. 80) Por isso, estabelece com clareza o papel do sujeito que investiga e do sujeito do processo de investigação; ou seja, “o pesquisador é um ativo descobridor do significado das ações e das relações que se ocultam nas estruturas sociais.”

(CHIZZOTTI, 1991, p. 80). Desse modo, o pesquisador busca compreender o significado social do que está sendo pesquisado, não como algo descolado da realidade; ao contrário, é elemento decisivo para entender a construção do conhecimento em suas conexões com os determinantes sociais. Ou seja, a construção das relações entre a complexidade da vida social e o problema a ser pesquisado é de responsabilidade do sujeito pesquisador.

Outro aspecto importante tem a ver com a necessária relação estabelecida entre a particularidade - foco da pesquisa - e a totalidade presente na realidade social. Essa relação se explicita pela mediação, que, por ser uma categoria analítica, atravessa a produção do conhecimento,

a produção de idéias e, portanto, do conhecimento, tem um caráter social: as idéias e o conhecimento são representações da vida do ser humano, num dado momento de sua história [...] o conhecimento reflete o contexto social no qual é produzido. (MOROZ & GIANFALDONI, 2002, p. 09)

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com o qual estarei fundamentando a análise do resultado da pesquisa. Nesse sentido, o método, longe de ser uma algema, é uma referência construída no processo, no decorrer da pesquisa.

Ao procurar entender, com base na fala dos sujeitos, o modo como os assistentes sociais explicitam o seu fazer profissional, deparei-me com uma série de questões diretamente relacionadas com o modus operandi

do exercício profissional, explicitadas a seguir:

1ª. Para agir o assistente social leva em consideração o conhecimento específico de sua área de atuação, o conhecimento das políticas sociais e o conhecimento do espaço organizacional onde está atuando;

2º. O assistente social tende a assumir como objetivos do Serviço Social aqueles da organização com a qual mantém vínculo empregatício.

3º. Para o assistente social a teoria social pouco se relaciona com a prática desenvolvida cotidianamente.

Cabe aqui uma consideração preliminar: por se tratar de uma profissão de caráter interventivo, há também um campo de saberes – não necessariamente científico – que movem o exercício profissional do assistente social. Isso foi estudado quando do contato direto com os sujeitos da pesquisa.

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Regional de Serviço Social – São Paulo, para verificar a possibilidade de aquisição de uma mala - direta contendo nome e endereço dos profissionais para envio de correspondência referente à pesquisa, o que se efetivou em setembro/ 2003. Para perfazer essa aproximação, foi elaborado um questionário (anexo 2) dirigido aos profissionais, cuja resposta, após compilação, é parte fundamental desta tese.

O questionário “é um instrumento de coleta de dados com questões a serem respondidas por escrito sem a intervenção direta do pesquisador.” (MOROZ & GIANFALDONI, 2002, p. 66) A vantagem do seu uso é a possibilidade de abranger um grande número de pessoas ao mesmo tempo e em um menor espaço de tempo. O questionário foi elaborado e dividido em três partes de modo a favorecer que o profissional pudesse pensar sobre sua trajetória e exercício profissional.

A primeira parte, denominada Dados de Identificação e Formação Profissional, enfocou questões sobre: formação profissional e formação continuada, local de moradia, e outras questões relativas à identificação – exceto o nome do profissional. A segunda parte, denominada Dados Relativos ao Exercício Profissional, enfocou desde o município onde os profissionais trabalham, área de atuação, tempo de atuação, regime de trabalho, até participação em conselhos, grupos profissionais e grupos de estudo. A terceira parte constou de três questões abertas, uma tratando das atividades que os profissionais reconheciam como as que caracterizam sua ação profissional; a segunda referiu-se aos elementos que são determinantes na realização do exercício profissional, e a terceira, por meio da qual solicitei que indicassem os últimos livros e textos lidos. O objetivo de incluir questões abertas foi o de evidenciar se as afirmativas inicialmente construídas – de fato - eram procedentes. Acompanhando o questionário, foi colocada uma carta (anexo 3), explicando o objetivo da pesquisa, como foi realizada a postagem, e como o profissional deveria proceder quanto à sua devolutiva.

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conteúdo. No questionário – junto às questões fechadas – foi colocada uma explicitação sobre o modo como as questões deveriam ser respondidas com exemplos ilustrativos que pudessem facilitar a construção e a elaboração da resposta. No tocante às questões dissertativas, a resposta foi de livre escolha dos sujeitos.

Os questionários foram encaminhados inicialmente, no período de outubro – novembro/ 2003, como um teste, para se avaliar se o mesmo estava compreensível ou ainda, se os sujeitos indicavam alguma mudança. Foram encaminhados, nessa etapa, 272 questionários, correspondendo a 24% do universo a ser pesquisado, cuja resposta encontra-se tabulada abaixo:

Tabela 1: Distribuição dos questionários enviados aos assistentes sociais por quantidade enviada, quantidade respondida e quantidade devolvida sem resposta

Informação sobre os questionários Número Total Porcentagem

Total de questionários enviados 272 100 %

Total de questionários respondidos 047 17,2 %

Total de questionários devolvidos pelo correio 002 0,7 %

Total de questionários devolvidos em branco 001 0,3 %

As respostas apresentadas reforçaram a percepção inicial: o questionário estava compreensível, de fácil apreensão por parte dos sujeitos assistentes sociais. No item “dados sobre formação profissional”, foi reforçada a informação sobre desemprego, tendo sido agregado o item – responder somente se estiver desempregado – às questões 10 e 11, uma vez que alguns profissionais, mesmo indicando estarem empregados, responderam as questões acima citadas.

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Tabela 2: Distribuição dos envelopes enviados aos assistentes sociais por quantidade enviada, quantidade respondida e quantidade

devolvida sem resposta

Informação sobre os questionários Número Total Porcentagem

Total de questionários enviados 858 100 %

Total de questionários respondidos 118 13,75 %

Total de questionários devolvidos pelo correio 14 1,6 %

Total de questionários devolvidos em branco 04 0,46 %

Somando-se as duas etapas, foram devolvidos 165 (cento e sessenta e cinco) questionários preenchidos, o que corresponde a 19,23 % do total pesquisado. Para fins de pesquisa, a amostra final é considerada significativa, superando a marca mínima de 10%. Em termos de devolutiva dos questionários preenchidos, ficou aquém da expectativa, principalmente se for levado em consideração que foi colocado envelope selado para resposta, eliminando-se custo financeiro ao sujeito. Como contra partida, ressalta-se a qualidade das respostas, que demonstrou o quanto os sujeitos –de fato – se empenharam em explicitar sua experiência profissional.

Outro aspecto que chamou a atenção foi que, além das respostas ao questionário, os sujeitos enviaram fotos, currículo, mensagem, sugestões, que contribuíram para a construção do perfil e encaminhamento da análise das perguntas abertas. De certa forma, o sentimento de proximidade, de partilha de idéias também possibilitou uma aproximação significativa com os sujeitos.

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de cada recorte proposto.” (Moroz & Gianfaldoni, 2002, p. 76), sem me ater a uma análise estatística acerca dos resultados mas na maioria das vezes, a análise incidiu sobre a freqüência do dado e seu significado para o estudo proposto.

As questões dissertativas também foram organizadas para facilitar a análise das informações. Por se tratar de questões desta natureza, foi preciso tomar algumas decisões que levassem à efetivação da análise. A primeira foi realizar uma leitura geral das respostas de cada uma das questões, o que possibilitou a sua classificação por ordem de proximidade de conteúdo, dando uma visão geral – no sentido de horizontalidade - do conteúdo explicitado nas respostas profissionais. Numa segunda leitura, as respostas foram separadas e re-agrupadas por proximidade analítica e semelhança de conteúdo, o que garantiu o início da análise do conteúdo explicitado - tanto em termos horizontais como em termos verticais – no sentido de perceber a profundidade analítica das respostas. A terceira leitura – dirigida a cada um dos agrupamentos – permitiu a efetivação da análise prospectiva por incidência de respostas, conteúdo explicitado e interlocução com a realidade social – local e nacional. A exposição final dos dados foi realizada através de quadros referenciais. As respostas foram divididas por conteúdo e freqüência. Assim como no perfil, não foi dado tratamento estatístico aos dados mas trabalhei a incidência dos mesmos e sua importância para a visibilidade e a consistência do exercício profissional do assistente social.

A primeira etapa da pesquisa é apresentada no primeiro capítulo da tese, intitulado “O exercício profissional do assistente social: re-descobrindo o espaço profissional”.

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o sujeito pesquisado tem acerca do que está sendo estudado. No roteiro proposto havia uma pergunta - guia: qual (is) o (s) conhecimento (s) que o assistente social utiliza para construir e realizar seu exercício profissional? E, a partir dela, foram desenhadas as outras perguntas.

No projeto para a qualificação a idéia era de que essa etapa seria realizada através de grupos focais envolvendo de 10 a 15 profissionais. A justificativa voltava-se à troca de experiência, ao debate de idéias diante de uma questão tão complexa e que envolve tantos saberes. Ao realizar o convite para participar do grupo, os profissionais responderam que participariam da pesquisa individualmente, mas que não se sentiam à vontade para discutir a questão proposta em grupo. Avalio que o receio da exposição pública sem a garantia do anonimato tenha sido o principal elemento inibidor dessa participação. Outro elemento é o assunto em si: é comum o debate em torno do exercício profissional mas não do conhecimento que lhe é constitutivo. Um dos sujeitos da pesquisa solicitou o envio do roteiro previamente e, ao chegar ao local para coleta do depoimento, percebi que estava nervosa, agitada e ao perguntar o porquê, ela me respondeu

“achei as perguntas assustadoras.” [...] “sabe que é, é que faz tanto tempo que você não lida com uma coisa tão dirigida, tão específica, vamos dizer assim...” [...] “a gente faz sem pensar, sem dar aquela parada, sem analisar” (fala do sujeito 2)

O depoimento demonstrou a pouca familiaridade que o assistente social tem em discutir questões referentes ao conhecimento que precisa ter para exercer a profissão. Essa profissional me ajudou a perceber que o modo de encadeamento das questões não estava deixando os sujeitos à vontade. Esse depoimento foi fundamental para a alteração da formulação das questões e da ordenação no roteiro de questões.

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1. O sujeito pesquisado deveria ser conhecido por outros profissionais como um assistente social cujo trabalho é reconhecido junto à categoria;

2. O sujeito da pesquisa deveria trabalhar como assistente social fora da área da docência;

3. No momento da entrevista o profissional deveria estar trabalhando como assistente social;

4. Os sujeitos indicariam outros, formando uma rede entre os profissionais. Para essa indicação, realizei a seguinte pergunta: Qual profissional você considera como referência e me indicaria para participar desta pesquisa?

Nessa etapa foram apresentados os procedimentos quanto à coleta de dados e à escolha dos sujeitos da pesquisa, bem como foi elaborado um diário de campo, que se tornou elemento facilitador durante o processo de análise dos dados pesquisados. É preciso ressaltar aqui que a minha experiência como pesquisadora, associada à experiência no exercício profissional interventivo do assistente social, foi um facilitador. Acredito que uma pesquisa dessa natureza requer do sujeito/pesquisador experiência profissional, tanto no trato interventivo quanto no trato investigativo, presentes no fazer profissional do assistente social, pois, “ter experiência concreta de situações profissionais” [...] “constrói uma práxis para alimentar seus problemas investigativos.” (GATTI, 2002, p. 60).

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sujeito liberdade na construção de suas respostas. Os depoimentos foram transcritos e devolvidos aos sujeitos para autorização quanto ao uso na tese. Em março/ 2005 foram retomados os depoimentos, com o instrumental já alterado. Os depoimentos foram transcritos e devolvidos aos sujeitos.

Os depoimentos foram coletados no período de dezembro/ 2004 a junho/ 2005, totalizando encontros com 17 sujeitos. A coleta ocorreu em diversos lugares à escolha dos sujeitos pesquisados. Alguns me receberam em suas residências, outros em seus locais de trabalhos, outros em local público. No momento do convite aos profissionais, esta pesquisadora solicitava a autorização (anexo 5) para a gravação do depoimento em fita cassete e utilização do depoimento como parte fundamental da tese. O uso do gravador possibilitou o registro da informação baseada no entendimento do entrevistado, de sua percepção sobre o assunto tratado e não mediante o registro do pesquisador. O gravador permite o registro da informação viva. A informação viva “provém diretamente do informante e de suas motivações específicas.” (QUEIROZ, 1991, p. 74 – 75). Escutar a voz do sujeito me ajudou a relembrar o momento da coleta do seu depoimento, a entonação da voz, as emoções expressas, as pausas e interferências. Mesmo usando um roteiro, as questões foram realizadas de acordo com as informações prestadas pelos sujeitos e, durante esse contato, foram formuladas outras questões, tanto pelo pesquisador, como pelo pesquisado. No momento da coleta de dados, os assistentes sociais indicaram a dificuldade em tratar do tema da pesquisa, mesmo reconhecendo sua importância. Ao mesmo o tempo, a maioria apresentou uma necessidade de aceitação, de ter certeza da qualidade da informação dada, emitida. Desde o momento do convite para participar da pesquisa, falei claramente aos assistentes sociais que o meu interesse estava na experiência vivenciada, e, que não havia respostas prontas ou mesmo reconhecidas como certas ou erradas. Se isso fosse assim, não haveria necessidade da realização deste estudo. Mesmo assim, no trato com sujeitos acredito que há esta interferência: a aceitação do discurso. Minayo (2000) afirma:

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informações dadas pelos sujeitos podem ser profundamente afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador. (2000, p. 114)

A interação entre os sujeitos foi fundamental. Conhecer a experiência do assistente social através do seu exercício profissional fortaleceu e qualificou também o meu exercício profissional tanto como docente – pesquisadora como assistente social. Aprendi muito com os sujeitos, ouso dizer principalmente com os que pensam diferente, uma vez que me auxiliaram a construir argumentos mais consistentes acerca do meu ponto de vista com relação ao exercício profissional do assistente social.

Na medida em que os profissionais não aderiram à proposta do grupo focal, estabeleci que a coleta de depoimentos seria realizada individualmente, de acordo com a disponibilidade dos sujeitos. Ao contatar dois sujeitos para o agendamento do depoimento, estes sugeriram a presença de outros profissionais, o que resultou num debate rico e consistente. Inicialmente, fiquei temerosa: primeiro por não saber se daria conta de entender tudo, ficar atenta ao relato e, por outro lado, receosa com a possibilidade da inibição dos sujeitos com relação às questões propostas. Corri o risco, e o resultado foi formidável: depoimentos ricos, que relatam a história do Serviço Social na região, desafios enfrentados pelos profissionais e perspectivas presentes e futuras.

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profissional, de certa forma reforçando uma idéia equivocada de que a prática é auto-explicativa.

Cada depoimento durou em média 90 minutos, gerando um enorme volume de material transcrito8. Do total de 17 depoimentos, foram

utilizados 14. A escolha foi determinada pela clareza, objetividade e consistência argumentativa demonstrada pelos sujeitos no momento da coleta dos depoimentos, dentro da condição de identificação demonstrada pelo pesquisador.

Após a gravação dos depoimentos, ocorreu a transcrição. A qualidade das gravações foi um facilitador para o entendimento do conteúdo expresso pelo profissional. A transcrição ocorreu em dois momentos: no primeiro, ocorreu a transcrição literal, respeitando-se o estilo da fala do sujeito, registrando-se pausas, silêncios e modulações de voz. Nesse momento realizei um registro preliminar acerca do conteúdo identificado no depoimento, tomando como referência as indagações iniciais já apresentadas nesta introdução. No segundo momento, escutei novamente as fitas, “eliminando” palavras que não interferiam no conteúdo do discurso, como por exemplo, “né”; “tá”; e outras; realizando pequenos acertos na redação sem interferir na narrativa em si. Também neste momento registrei indagações, percepções e constatações provenientes da pesquisa. Aqui também construí as primeiras articulações entre o conhecimento previamente existente sobre o tema pesquisado e as constatações da pesquisa. Para fins da pesquisa:

transcrever significa, assim, uma nova experiência da pesquisa, um novo passo em que todo o processamento dela é retomado, com seus envolvimentos e emoções, o que leva a aprofundar o significado de certos termos utilizados pelo informante, de certas passagens, de certas histórias que em determinado momento foram contadas, de certas mudanças na entonação da voz. (QUEIROZ, 1991, p. 88)

Após diversas leituras dos depoimentos, fui organizando o conteúdo explicitado de acordo com as questões apresentadas no roteiro. Considerei como um elemento facilitador realizar a nucleação do roteiro, a fim

8 Diante da riqueza dos depoimentos, optei por anexá-los ao final da tese. Porém, como o volume escrito é

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de visualizar o conteúdo com vistas à exposição dos dados e a apresentação das constatações da pesquisa. A organização ocorreu da seguinte forma: registros referentes ao exercício profissional; registros referentes às atividades privativas desenvolvidas pelo assistente social; conhecimentos que o assistente social utiliza para colocar em movimento seu exercício profissional; a construção da relação entre a teoria e a prática profissional e a interlocução com as tendências teórico-metodológicas. Essa primeira aproximação ao conjunto das falas dos sujeitos foi determinante para identificar o momento de parar com a coleta de dados. O contato com os sujeitos é tão rico que não dá vontade de interromper. Cada depoimento foi fundamental para a construção dos capítulos, para a articulação do conteúdo a ser apresentado e fundamentalmente, para a escolha do modo de apresentação das falas. Essa aproximação também possibilitou identificar que os sujeitos me indicavam uma direção analítica: a interlocução com as tendências teórico-metodológicas não ocorre de forma tão explícita ou clara, conforme achei inicialmente. Ao contrário, ela também é construção permanente e requer dos profissionais uma teia de conhecimentos anteriores que nem sempre são apropriados no momento da formação profissional. A partir daí, foi elaborado o segundo capítulo, intitulado “Os conhecimentos mobilizados pelo assistente social em seu exercício profissional.”

A terceira etapa foi o momento da análise e da sistematização dos dados coletados. Assim,

tornar os dados inteligíveis significa organizá-los de forma a propor uma explicação adequada àquilo que se quer investigar [...] daí ser importante o momento da análise dos dados, quando se tem a visão real dos resultados obtidos (MOROZ & GIANFALDONI, 2002, p.73)

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linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade social [...] o discurso tem sua regularidade, tem seu funcionamento que é possível apreender se não opomos o social e o histórico, o sistema e a realização, o subjetivo ao objetivo, o processo ao produto. (ORLANDI, 2003, p. 15 - 22).

Procurei entender o discurso construído pelo assistente social e suas implicações para o exercício profissional: sua visibilidade e consistência argumentativa. Procurei entender também o sentido, a direção dada pelo profissional a esse fazer e as determinações implicadas nesse exercício profissional. Entendo que o discurso reflete um modo de pensar, de entender a profissão. O discurso reflete também o modo de pensar e de construir idéias que revela o ponto de vista dos profissionais, sua capacidade de expor pensamentos, sua discursividade, ou seja, sua capacidade analítica. Aqui importa como os assistentes sociais entendem o seu fazer profissional, e que o assistente social é um “sujeito afetado pela história” (ORLANDI, 2003, p. 19). Os assistentes sociais relataram suas dificuldades, limites e limitações decorrentes de sua condição de profissional assalariado, bem como as dificuldades em identificar a importância do conhecimento como um divisor de águas que qualifica e dá consistência ao exercício profissional. Na perspectiva da pesquisa o discurso é

a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso, observa-se o homem falando. [...] procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história. (ORLANDI, 2003, p. 15)

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Os eixos foram construídos com base nas indagações que motivaram este estudo e nas perguntas realizadas durante a realização dos depoimentos.

1º eixo: questões referentes às condições para a realização do exercício profissional do assistente social – exercício profissional / conhecimento que leva em consideração quando se está exercendo a profissão / questões referentes ao espaço organizacional. Neste primeiro eixo trabalhei com as seguintes questões norteadoras: o assistente social tende a assumir os objetivos da organização como se fossem os dele; para agir, o assistente social leva em consideração o conhecimento do espaço organizacional; para agir o assistente social leva em consideração o conhecimento que está mais próximo de sua área de atuação, o conhecimento das políticas sociais, o conhecimento da realidade social vivenciada pelo usuário;

2º eixo: formado pelas questões referentes à construção da relação teoria - prática e à interlocução com as tendências teórico-metodológicas. Neste eixo trabalhei com as seguintes questões norteadoras: para agir, o assistente social não leva em consideração o conhecimento acerca das tendências teórico-metodológicas do Serviço Social; para o assistente social a teoria pouco se relaciona com a prática desenvolvida cotidianamente;

Recortei trechos dos depoimentos que refletiam a opinião do profissional acerca dos eixos construídos e do estudo proposto na tese. A partir dessa sistematização foi possível construir o terceiro capítulo da tese, intitulado “As atividades desenvolvidas pelos assistentes sociais e os caminhos para a construção da interlocução com as tendências teórico-metodológicas presentes no exercício profissional.”

(49)

Para apresentação dos resultados da pesquisa optei por escrevê-la em “linguagem de em dia-de-semana”9, ou seja, uma linguagem acessível,

por meio da qual os profissionais se reconheçam e possam construir interlocuções. Entendo que a linguagem é um dos principais instrumentos de que o assistente social utiliza para se aproximar das demandas quer seja de investigação, quer seja de intervenção. Portanto, deve ser um elemento que reflita, não somente um discurso profissional, mas também a direção e o lugar que a profissão vem assumindo e ocupando na divisão sócio-técnica do trabalho.

O título da tese foi escolhido no momento da qualificação. Precisava-se de um título que enunciasse o conteúdo estudado e as contradições observadas. Veio a minha mente as figuras da coruja e do camelo. A coruja como o animal que representa o conhecimento, o saber. O camelo como aquele animal que trabalha arduamente, sem o qual torna-se quase impossível atravessar o deserto e, mesmo assim, é pouco reconhecido e pouco valorizado. Durante o processo da pesquisa e do meu exercício profissional, encontro vários assistentes sociais que na minha visão, no desempenho de sua ação profissional podem ser considerados como coruja e como camelo. O que me interessou saber é o que têm em comum, que interlocuções conseguem construir e quanto o trabalho de um e de outro fragiliza ou fortalece o exercício profissional do assistente social.

9 João Guimarães Rosa utiliza esta passagem no conto Famigerado, que consta do livro Primeiras Estórias

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Capítulo 1

O exercício profissional do assistente social:

re-descobrindo o

espaço profissional

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1. 1 – Aproximações iniciais: o ponto de partida para o entendimento do exercício profissional do assistente social.

Este capítulo versa sobre o exercício profissional desenvolvido pelos assistentes sociais nos espaços sócio-organizacionais. A análise é construída com base na perspectiva sócio-histórica, matrizada pela teoria social crítica. Tomo como pontos referenciais os elementos constitutivos do exercício profissional, quais sejam: a base histórica da profissão10 e a

concepção de profissão que os assistentes sociais vão estruturando ao longo da história da profissão e as condições sócio-profissionais nas quais o exercício profissional se efetiva.

O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão sócio-técnica do trabalho, regulamentada pela Lei nº 8662/93, de 07 de junho de 1993, com alterações determinadas pelas resoluções CFESS nº 290/94 e nº 293/94, e balizada pelo Código de Ética, aprovado através da resolução CFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993.

A constituição do Serviço Social como profissão é por si só polêmica. Ao examinar o início da profissão no Brasil, os autores a analisam fundamentados em perspectivas que se contrapõem. A partir da leitura dos autores Vieira (1980); Verdes-Leroux (1986); Iamamoto e Carvalho (1983), Netto (1991) e Martinelli (1991), identifico diferentes formas de analisar a constituição da profissão. As diferenças estão associadas ao modo como os autores analisam a história da profissão e ao ponto de vista teórico e filosófico com o qual realizam essa análise.

Significativa parcela dos assistentes sociais que estudam essa questão entende que seu início se articula às relações de ajuda, com enfoque assistencialista e sob forte influência da Igreja Católica. Uma das primeiras autoras a tratar da questão sob esse prisma é Vieira (1980), que afirma

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Figura 1: Distribuição dos assistentes sociais por sexo e faixa etária
Figura 2: Distribuição dos assistentes sociais por sexo e estado civil
Figura 3: Distribuição dos assistentes sociais do sexo feminino por faixa etária  e estado civil  051015202530
Figura 4: Distribuição dos assistentes sociais do sexo masculino por faixa etária e  estado civil  00,511,522,53
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