• Nenhum resultado encontrado

O exercício profissional do assistente social: re-descobrindo o espaço profissional

“outro dia estava conversando com uma assistente social e ela me contou que a usuária tinha pegado uma cesta básica. Passados 15 dias, ela voltou pedindo outra; aí ela disse, eu apertei, apertei, apertei até ela contar que tinha uma reserva de lixo reciclável para vender. Ela falou para usuária: vende, que não dá, não posso dar outra cesta básica. Eu olhei bem para ela e disse: que coisa! Nós fazemos poupança, colocamos dinheiro em banco. As pessoas fazem poupança de lixo, guardam lixo para vender na hora da emergência.” (fala do sujeito 13)

1. 1 – Aproximações iniciais: o ponto de partida para o entendimento do exercício profissional do assistente social.

Este capítulo versa sobre o exercício profissional desenvolvido pelos assistentes sociais nos espaços sócio-organizacionais. A análise é construída com base na perspectiva sócio-histórica, matrizada pela teoria social crítica. Tomo como pontos referenciais os elementos constitutivos do exercício profissional, quais sejam: a base histórica da profissão10 e a

concepção de profissão que os assistentes sociais vão estruturando ao longo da história da profissão e as condições sócio-profissionais nas quais o exercício profissional se efetiva.

O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão sócio-técnica do trabalho, regulamentada pela Lei nº 8662/93, de 07 de junho de 1993, com alterações determinadas pelas resoluções CFESS nº 290/94 e nº 293/94, e balizada pelo Código de Ética, aprovado através da resolução CFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993.

A constituição do Serviço Social como profissão é por si só polêmica. Ao examinar o início da profissão no Brasil, os autores a analisam fundamentados em perspectivas que se contrapõem. A partir da leitura dos autores Vieira (1980); Verdes-Leroux (1986); Iamamoto e Carvalho (1983), Netto (1991) e Martinelli (1991), identifico diferentes formas de analisar a constituição da profissão. As diferenças estão associadas ao modo como os autores analisam a história da profissão e ao ponto de vista teórico e filosófico com o qual realizam essa análise.

Significativa parcela dos assistentes sociais que estudam essa questão entende que seu início se articula às relações de ajuda, com enfoque assistencialista e sob forte influência da Igreja Católica. Uma das primeiras autoras a tratar da questão sob esse prisma é Vieira (1980), que afirma

10

Não é matéria desta tese realizar um estudo aprofundado sobre as bases históricas da profissão, mas por intermédio dessas bases, reconhecer os determinantes e elementos fundamentais para a análise do exercício profissional na perspectiva do trabalho. Para entender o percurso histórico da profissão, vale a pena a leitura da produção dos seguintes autores: AGUIAR (1995); CASTRO (1993); IAMAMOTO & CARVALHO (1983); MARTINELLI (1991); NETTO (1991, 1992), todos listados na bibliografia localizada ao final desta monografia.

o Serviço Social, neste primeiro período apresentava-se com características assistencialistas, centradas nos problemas do ajustamento individual, apoiando-se em valores confessionais e com uma atuação empírica (1980, p. 145)

Articulada a essa visão e/ou perspectiva de análise, está a idéia de ajuda vinculada à caridade, cuja influência predominante remonta à missão da Igreja Católica. Uma das principais características assumidas na constituição do Serviço Social como profissão é que ele é fruto do movimento social de base católica11 sob a perspectiva que indicava a necessidade de a

Igreja retomar sua influência como uma presença mais ativa na vida das pessoas em sociedade, buscando, assim, conter os avanços ideológicos do Estado no que concerne à regulação da vida cotidiana dessas mesmas pessoas.

os referenciais orientadores do pensamento e da ação do emergente Serviço Social tem sua fonte na Doutrina Social da Igreja, no ideário franco-belga de ação social e no pensamento de São Tomás de Aquino [...] É, pois, na relação com a Igreja Católica que o Serviço Social brasileiro vai fundamentar a formulação de seus primeiros objetivos político – sociais, orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador, contrários aos ideários liberal e marxista na busca de recuperação da hegemonia do pensamento social da Igreja diante da questão social. (YASBEK, 2000, p. 22)

Evidencia-se aí o caráter doutrinário da Igreja no que se refere à harmonização da vida e à busca pela igualdade por meio da solidariedade humana. Nesse sentido, não há - na base doutrinária - diferenças entre as classes sociais e, sim, concordância e harmonia entre elas. Essa “harmonização” era propagada pela burguesia da época como forma de referendar a ideologia dominante como a diretriz necessária ao fortalecimento do desenvolvimento social. Assim, ao indivíduo cabia a aceitação resignada de sua condição social, elevação espiritual e não somente material, reforçando assim a imprescindível condição do cristão: moral ilibada, disseminação dos costumes cristãos, preservação da ordem e do poder da Igreja. Como poder

11 Para melhor entendimento sobre esta questão, principalmente a influência do neotomismo e do ideário franco-belga, consultar Aguiar (1995) e Martinelli (1991).

centralizador, a Igreja, por meio das encíclicas papais12 propõe o modo como devem ser enfrentados os problemas sociais decorrentes da questão social.

a encíclica Rerum Novarum, de 1891, [...] deixava entrever um colorido conservador, exortando os trabalhadores a observar a prudência e a ética cristã [...] a Quadragésimo Anno [...] debruçou-se sobre a questão da “restauração e aperfeiçoamento da ordem social”, buscando oferecer soluções para o “equilíbrio nas relações entre patrões e empregados”, de forma a torná-las capazes de “implantar um clima de justiça social. (MARTINELLI, 1991, p. 116)

Para a Igreja, nesse período a questão social é vista como uma questão moral e religiosa, portanto passível de doutrinação, ensinamentos e moralização dos costumes.

Nessa perspectiva, o que a Igreja propunha era a reforma social via cristianização dos costumes. Por intermédio da ação católica13, é o laicato

que irá disseminar idéias cristãs na sociedade. Acreditava-se naquele período que a reforma social deveria ocorrer via elite econômica, cujo papel era o de tornar o povo cada vez mais cristão. A Igreja, por meio de seus dogmas, crenças e tradições, conserva o passado, moralizando e normatizando as relações estabelecidas na sociedade.

O Serviço Social, então, incorpora esses princípios, dá suporte analítico, traça estratégias de ação, a partir da “iniciativa de grupos e frações de classes dominantes que se expressam através da Igreja, como um dos desdobramentos do momento do apostolado leigo.” (IAMAMOTO, 1992: 19). Assume o caráter moral dos problemas sociais e implementa ações dirigidas à reconstrução da dignidade e da moral humana, voltadas ao combate dos maus costumes e à moralização do comportamento social. Dito de outra forma, os problemas sociais são reduzidos à dimensão individual e ao modo como o homem transita em seu meio social. Ao mesmo tempo em que os assistentes

12 Para melhor esclarecimento quanto ao significado e importância das encíclicas papais na constituição do Serviço Social ver os estudos de Martinelli (1991), Aguiar (1995) e Netto (1991).

13 A ação católica objetivou a formação do “laicato católico para colaborar na missão sublime da Igreja – salvar as almas pela cristianização dos indivíduos, da família e da sociedade” [...] “a preocupação de formação da ação católica centrar-se-á nas elites. Na medida em que estas estiverem preparadas, serão capazes de influenciar na vida social.” (Aguiar, 1995: 23)

sociais buscam favorecer a integração desses indivíduos ao meio social como forma de preservar a ordem e o equilíbrio social e cultural, eles combatem o posicionamento ideológico que se contraponha ao da Igreja e ao do Estado naquele momento14.

Sob essa perspectiva, a profissão é concebida tendo como fundamento a visão da dignidade humana, do relacionamento profissional construído como base nos processos de ajuda, dirigido às pessoas que enfrentam – de forma temporária ou permanente – dificuldades econômicas, de relacionamento, cabendo ao assistente social trabalhar visando ao fortalecimento do “cliente” como pessoa humana. Ou seja,

uma mudança essencial nas condições econômicas e psicossociais do cliente só se realizará quando ele é ajudado a se ajudar. O cliente será capaz de vencer os seus problemas à medida que se decidir a resolver, por si mesmo, a situação de crise, muito embora o apoio do assistente social seja um fator essencial na sua crescente independência (FRIEDLANDER, 1975, p. 15).

A fala desse sujeito analisa essa concepção muito difundida no início da profissão

“A própria religião que nos acolheu enquanto profissão, ela espera de nós e nos usa nesse sentido de atendimento, de boazinha, de resolver pequenos problemas e apaziguá-los, acobertá-los”. (fala do sujeito 17)

Inicialmente realizada pela associação das damas de caridade15,

a ajuda caritativa marcou de forma significativa a identidade do assistente social.

“a gente precisa conhecer a história do Serviço Social, para saber como a profissão começou e como ela está hoje” [...] “O Serviço Social começou com as damas de caridade, a

14 Vide a influência da ideologia socialista e sua ascendência na organização da classe operária na luta por melhoria de suas condições de trabalho.

15 Quando realizadas pelas damas de caridade, essas ações não tinham ainda a conotação de profissão: isso só se constitui a partir do princípio organizativo das associações.

filantropia, apoio às famílias que tinham algum problema e eles achavam que precisavam consertar o problema daquela família”.[...] “porque o Serviço Social iniciou com as damas de caridade e a igreja” (fala do sujeito 4).

A idéia de caridade difundida era

muito mais de um ‘serviço aos pobres’, de uma vocação, de um ministério, do que de um ‘trabalho’, que levava uma conotação de obrigação, de ocupação para classes inferiores. (VIEIRA, 1980, p. 141 – 142)

A premissa implícita é a do valor moral, dos comportamentos, das oportunidades, buscando identificar o mérito das pessoas, a capacidade dos usuários de superar seus problemas e fazer escolhas condicionadas às orientações dadas pelos profissionais. Ainda hoje há profissionais que identificam a influência dessa visão em seu exercício profissional.

“porque além dessa visão já do Serviço Social, tem a minha visão espiritual” [...] “eu acho que a gente tem que dar chance para as pessoas” (fala do fala do sujeito 15).

Com o desenvolver da profissão a relação de ajuda foi se distanciando da visão da caridade, assumindo um caráter profissional. A “profissionalização” da ajuda acompanha a complexificação da natureza dos fenômenos e de sua manifestação na realidade sócio-histórica. Esta perspectiva é defendida por Verdes-Leroux (1986), ou seja, a origem da profissão está associada e

apóia-se sobre um corpo de agentes cuja especificidade se manifesta, por exemplo, no fato de que os profissionais substituíram muito amplamente os voluntários (VERDES - LEROUX, 1986, p. 8).

A ajuda passou a ter uma qualificação, o que indica que o profissional precisa ter preparo para lidar com os múltiplos fenômenos sociais de forma interventiva e analítica. Assim, a ajuda de caráter profissional não se

configura como fundamento da boa vontade, uma compreensão ingênua acerca dos fenômenos sociais, mas um processo no qual os sujeitos envolvidos buscam o entendimento, a análise dos conflitos, das demandas de atendimento, da percepção de como os sujeitos experienciam a sua vida. O foco do trabalho é dirigido aos problemas apresentados pelos “clientes ou clientela do Serviço Social”, uma vez que cabe ao assistente social analisar a situação, a partir do seu ponto de vista, muitas vezes assumindo uma posição autoritária, posição esta favorecedora da construção de uma relação de dependência e submissão por parte do “cliente”. Nessa perspectiva o “cliente” é uma parte da população

carente de determinados serviços ou atividades técnico- assistenciais, que lhe permitam readquirir ou conferir maior dignidade como pessoa humana e como membro de sua comunidade. (VIEIRA, 1981, p.32)

A discussão sobre o significado de carência está fundamentada na visão religiosa, ou seja, a carência se relaciona à falta ou privação de alguma coisa que prejudique a sobrevivência ou o provimento das necessidades básicas. É considerada carente também aquela pessoa que tem dificuldades de construir relações interpessoais que favoreçam sua percepção quanto ao lugar social assumido na comunidade onde vive.

“eu percebo assim que as outras pessoas não acreditam naquilo, embora eu esteja falando: olha para ajudar um usuário, para ajudar, eu primeiro tenho que conhecer”.[...] “eu percebo que algumas pessoas acham que eu sou boazinha, é boazinha porque eu não grito com os usuários, não maltrato os usuários” (fala do sujeito 15).

O direito da pessoa ao acesso aos serviços e sua inclusão na rede de proteção social devem ser democratizados, cabendo ao assistente social ser o facilitador desse acesso e não tratá-lo como um mal necessário. Se analisados sob essa perspectiva, o direito ao acesso não fica escamoteado pela visão da ajuda caritativa. As respostas profissionais recaem sobre a vida dos usuários e o profissional é reconhecido como

profissional da ajuda, do auxílio, da assistência, desenvolvendo uma ação pedagógica, distribuindo recursos materiais, atestando carências, realizando triagens, conferindo méritos, orientando e esclarecendo a população quanto aos seus direitos, aos serviços, aos benefícios disponíveis, administrando recursos institucionais, numa mediação da relação Estado, instituição e classes subalternas. (YASBEK, 1999, p. 95)

O atendimento social transcende a visão da missão, do encargo, o que dificulta o entendimento da diferença entre o exercício profissional realizado tendo como fundamento o campo empírico e o campo do conhecimento científico. Acredito que a questão da bondade se refira mais a uma imprecisão entre identificar o Serviço Social como uma profissão e a visão de que o Serviço Social é uma missão, um sacerdócio. O acesso ao direito está previsto em lei, portanto, não é prerrogativa de uma determinada profissão. Porém, cabe ao assistente social a defesa e a garantia da efetivação dos direitos sociais e do acesso aos serviços prestados na área social, o que inclui: assistência social, saúde, educação, habitação, trabalho, cultura e lazer, entre outros.

Outra parcela de profissionais entende que a profissão se constrói e/ou decorre do desenvolvimento do modo de produção capitalista, sendo o assistente social considerado como o profissional que realiza a prestação de serviços via operacionalização das políticas sociais. Essa análise fundamenta- se na matriz crítica, que ganha força no Serviço Social na década de 8016 e é defendida por Netto (1992), quando analisa o surgimento do Serviço Social como profissão. Para compreender o Serviço Social como profissão e o modo como se configura, Netto (1992) parte da análise

do conjunto de processos econômicos, sócio-políticos e teórico- culturais [...] que se instaura o espaço histórico-social que possibilite a emergência do Serviço Social como profissão (1992, p. 65),

Entende que uma análise descolada desse contexto reforça uma visão linear, até então dominante entre os profissionais, qual seja, a visão da

16 A década de 80 foi inspiradora e produtiva para o Serviço Social. Nesse período as produções acadêmicas – via mestrado e doutorado – ganharam relevo. São desse período também as primeiras produções com o marco referencial da matriz crítica.

incorporação da filantropia e das “atividades filantrópicas já ‘organizadas’, de parâmetros teórico-científicos e no afinamento de um instrumental operativo de natureza técnica.” (1992, p. 66). Em termos de concepção da profissão Netto (1992) traz para o debate a discussão sobre o que fundamenta e legitima a profissionalidade do Serviço Social. De pronto afirma que essa profissionalidade e legitimidade estão localizadas nos aportes e embasamento teóricos presentes no exercício profissional. Resta saber, diz ele, se

a nosso juízo, constitui o efetivo fundamento profissional do Serviço Social: a criação de um espaço sócio-ocupacional onde o agente técnico se movimenta – mais exatamente, o estabelecimento das condições histórico-sociais que demandas este agente, configuradas na emersão do mercado de trabalho. (NETTO, 1992, p. 66)

Essa análise aponta o Serviço Social como uma profissão que se constitui no processo das relações sociais, vinculada à lógica do mercado, onde o assistente social se inscreve como um profissional assalariado17. Sob

essa perspectiva, não é o Serviço Social que cria um novo espaço de trabalho, mas é “a existência de um espaço na rede sócio-organizacional que leva à constituição da profissional” (NETTO, 1992, p. 69) O autor reconhece que o Serviço Social inscreve-se na divisão sócio-técnica do trabalho, e

tem sua base nas modalidades através das quais o Estado burguês se enfrenta com a “questão social”, tipificadas nas políticas sociais [...] neste âmbito está posto o mercado de trabalho para o assistente social: ele é investido como um dos agentes executores das políticas sociais. (NETTO, 1992, p. 70 – 71)

Tendo como base a matriz crítica configurada no Serviço Social a partir do Movimento de Reconceituação, Iamamoto e Carvalho (1983) também se debruçam no estudo sobre as concepções de profissão presentes no Serviço Social. Afirmam que o Serviço Social

17 As implicações do assalariamento do assistente social serão trabalhadas no item 1.2.1, ainda neste capítulo.

se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processo esses aqui apreendidos sob o ângulo das novas classes sociais emergentes [...] Afirma-se como um tipo de especialização do trabalho coletivo, ao ser expressão de necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais no ato de produzir e reproduzir os meios de vida e de trabalho de forma socialmente determinada. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1983, p. 77)

Compartilho da perspectiva de análise construída por Iamamoto e Carvalho (1983), porque entendo que o Serviço Social é introduzido no Brasil na década de 30 sob os auspícios da burguesia emergente, como uma estratégia da classe dominante para disciplinar e atenuar os males sociais advindos da expansão capitalista18.

o conteúdo e o caráter social do trabalho do Serviço Social historicamente estiveram associados às exigências de controle e disciplinamento das condições de reprodução social da força de trabalho no Brasil, alicerçadas sobre relações de desigualdade e processo de exclusão social. Assim, foi sobre o campo das refrações da questão social que o assistente social foi chamado a se profissionalizar e a construir os horizontes do seu próprio trabalho. (CARDOSO, GRADERMANN, BEHRING, ALMEIDA, 1997, p. 29)

Baseado nos estudos de Iamamoto (1992), é possível dizer que a origem do Serviço Social é marcadamente histórica, e sua inserção na divisão sócio-técnica do trabalho depende fundamentalmente do grau de maturação e das formas assumidas pelos embates da classe social subalterna com o bloco do poder no enfrentamento da questão social19. A autora entende que esta inserção

dependem ainda do caráter das políticas do Estado, que articuladas ao contexto internacional, vão atribuindo especificidades à configuração do Serviço Social na divisão social do trabalho (IAMAMOTO, 1992, p. 87)

18 Esta questão será trabalhada no capítulo 3 desta tese quando apresento as tendências teórico- metodológicas que fundamentam o exercício profissional do assistente social.

19 As implicações da questão social para a consolidação da profissão são trabalhadas ao longo de toda a tese.

Sob esta perspectiva, o Serviço Social se consolida como profissão na e a partir da divisão do trabalho; “supõe inseri-la no conjunto das condições e relações sociais que lhe atribuem um sentido histórico e nas quais se torna possível e necessária” (IAMAMOTO, 1992, p. 88) Ou seja, para compreender e reconhecer o Serviço Social como profissão, necessariamente é preciso analisá-la sob sua vinculação a divisão do trabalho, sob a influência da Igreja católica e sob as contradições identificadas na realidade social.

Historicamente, essa profissão “recebe” a marca da ajuda, da solidariedade e do caráter filantrópico que permeiam as ações voltadas ao controle social e à erradicação da pobreza, principalmente e/ou especialmente aquelas que são visíveis aos olhos da classe dominante. Aqui não se coloca em questão a exploração do capital, a venda da força de trabalho e a formação de uma sociedade tão desigual. Clarifica-se aí que o Serviço Social assume parcela do trabalho que visa a reforma social e portanto, a necessidade de efetivar ações na esfera psicossocial. Assim, os limites estabelecidos nessa ação decorrem daqueles que mantém a sociedade capitalista e a ordem social vigente. Nesta perspectiva Iamamoto afirma:

as bases da organização social são tidas como dadas e não são questionadas em suas raízes, a solução entrevista limita-se à reforma do homem dentro da sociedade, para o que deve contribuir o Serviço Social (IAMAMOTO, 1992, p.29)

Esta afirmativa fortalece a visão de que o Serviço Social colaborou substantivamente para reforçar o controle e a coerção20 exercidos pela classe dominante diante do crescimento acelerado da pobreza e a generalização da miséria. O controle era decorrente da ameaça à ordem social imposta pela classe dominante à classe trabalhadora e os chamados “sobrantes” do processo produtivo. Além disso, buscava-se naquele momento uma base comum de conhecimento que pudesse dar sustentação ao exercício profissional desenvolvido pelos assistentes sociais que compartilhavam dessa

Documentos relacionados