1 UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
HEITOR ROCHA DOS SANTOS JUNIOR
OCORRÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS BOVINAS DECORRENTES DO MANEJO PRÉ-ABATE EM UM FRIGORÍFICO SOB INSPEÇÃO ESTADUAL,
NO MUNICÍPIO DE PEDRAS GRANDES, NO PERÍODO DE 2015 A 2019
Tubarão 2020
2 HEITOR ROCHA DOS SANTOS JUNIOR
OCORRÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS BOVINAS DECORRENTES DO MANEJO PRÉ-ABATE EM UM FRIGORÍFICO SOB INSPEÇÃO ESTADUAL,
NO MUNICÍPIO DE PEDRAS GRANDES, NO PERÍODO DE 2015 A 2019
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de medicina veterinária da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à aprovação na disciplina de trabalho de conclusão de curso II.
Orientador: Carla Jovania Pereira
Tubarão 2020
3 HEITOR ROCHA DOS SANTOS JUNIOR
OCORRÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS BOVINAS DECORRENTES DO MANEJO PRÉ-ABATE EM UM FRIGORÍFICO SOB INSPEÇÃO ESTADUAL,
NO MUNICÍPIO DE PEDRAS GRANDES, NO PERÍODO DE 2015 A 2019
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado, como requisito parcial à aprovação da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Medicina Veterinária da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Tubarão, 9 de novembro de 2020.
__________________________________________________ Profª. e orientadora M. V. Carla Jovania Pereira, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
__________________________________________________ Profª. Fernando Garbelotti Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
__________________________________________________ Profª. M. V. Kamila Alves de Oliveira Durante Esp.
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Ocorrência de lesões em carcaças bovinas decorrentes do
manejo pré-abate em um abatedouro frigorifico da região sul de
SC
Occurrence of lesions in bovine carcasses resulting from the pre-slaughter management of a slaughterhouse in the southern region of SC
HEITOR ROCHA DOS SANTOS JUNIOR¹ CARLA JOVANIA PEREIRA²
¹Discente do curso de Medicina Veterinária Unisul - Campus Tubarão/SC ²Docente do curso de Medicina Veterinária Unisul - Campus Tubarão/SC
RESUMO
Sabendo que durante o manejo pré-abate podem ocorrer erros que poderão causar lesões aos animais, além de prejuízos econômicos pelo descarte das partes afetadas e diminuição da qualidade da carcaça, este trabalho teve o objetivo de avaliar o percentual de lesões em carcaças bovinas, causadas por falhas no manejo pré-abate, em um abatedouro frigorífico localizado no sul de Santa Catarina. Os dados foram coletados dos relatórios de abate de bovinos em um abatedouro frigorifico no período entre 2015 a 2019, no qual foram analisadas as condenações efetuadas por lesões decorrentes de falhas no manejo pré-abate, durante a inspeção post mortem, com base no Regulamento de Inspeção Industrial de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) (BRASIL, 2017). Para isso, foi utilizado o Software Excel do Pacote Office 2013. Do total de 49641 bovinos abatidos, houve uma prevalência de 3,4% de carcaças com aspiração de sangue, e 0,19% com contusões e fraturas, lesões estas decorrentes de sugestivas falhas durante o manejo pré-abate. Mesmo com todos os cuidados para conduzir o manejo pré-abate de maneira correta, acredita-se que muitas falhas ainda ocorrem no dia a dia dos abatedouros, causando sofrimento desnecessário do animal, perda da qualidade da carne e prejuízos ao frigorífico. Desse modo, as práticas de bem-estar animal e o abate humanitário, além de garantirem um abate sem sofrimento, são fundamentais para qualidade final do produto.
5 Abstract
Knowing that errors can occur during the pre-slaughter management that can cause injuries to the animals, in addition to economic losses, by the disposal of the affected parts and decrease in the quality of the carcass, this work aimed to assess the percentage of lesions in bovine carcasses, caused by failures in pre-slaughter handling, in a pre-slaughterhouse located in the south of Santa Catarina. Data was collected from reports of cattle slaughter in a slaughterhouse from 2015 to 2019, in which condemnations for injuries resulting from failures in pre-slaughter management were analyzed during post mortem inspection, based on the Industrial Inspection Regulation for Products of Animal Origin (RIISPOA) (BRASIL, 2017). For this, the Excel Software of the Office 2013 Package was used. Of the total of 49641 cattle slaughtered, there was a prevalence of 3.4% of carcasses with aspiration of blood, and 0.19% with contusions and fractures, injuries resulting from suggestive failures during pre-slaughter management. Even with all the care to conduct the pre-slaughter management in a correct way, it is believed that many failures still occur in the day-by-day of slaughterhouses, causing unnecessary suffering of the animal, loss of meat quality and losses to the slaughterhouse. In this way, animal welfare practices and humane slaughter, besides guaranteeing a slaughter without suffering, are fundamental for the final quality of the product.
6 Introdução
Há tempos o Brasil tornou-se uma potência na pecuária, sendo a bovinocultura de corte uma das principais atividades econômicas realizadas no setor. A produção de carne bovina no país é suficiente para abastecer o mercado interno e ainda assim encabeçar a lista dos maiores exportadores de carne do mundo, devido a qualidade do seu produto. Essa alta produtividade chama a atenção dos consumidores, que por sua vez prezam por produtos com a garantia de que os animais não tenham sofrido nenhum tipo de maus tratos durante o abate, o chamado abate humanitário.
O abate humanitário tem como objetivo garantir o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade até a sangria no frigorífico (MENDONÇA; CAETANO, 2017). De acordo com a Instrução Normativa Nº 3 de 17/01/2000 do MAPA, o abate humanitário é definido como o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque no estabelecimento rural até a operação de sangria na indústria frigorífica (BRASIL, 2000).
Segundo Paranhos da Costa (2002), o conceito de bem-estar animal tem relação direta com a qualidade da carne. Os principais motivos para o consumidor se preocupar com o bem-estar dos animais de produção vem de origem ética, a relação que tem com a produtividade e qualidade dos alimentos, e por fim as conexões entre bem-estar animal e comercialização internacional de seus produtos de origem animal. De tal maneira, o tema bem-estar tem total relevância, porque a produtividade é um dos fatores que justifica a atividade (HÖTZEL; MACHADO FILHO, 2004).
As práticas de bem-estar animal e o abate humanitário, além de garantirem um abate sem sofrimento, são fundamentais para qualidade final do produto. Dessa maneira, o manejo pré-abate conduzido de maneira errônea poderá gerar estresse e lesões ao animal, que por sua vez acarretara em grandes perdas econômicas devido ao descarte parcial ou total da carcaça. Uma forma de avaliar o bem-estar é por meio da monitoração da ocorrência de
7 contusões nas carcaças, que indicam erros no manejo pré-abate e nas práticas de bem-estar animal (PETRONI et al., 2013).
A ocorrência de hematomas, contusões e fraturas são evidencias de um manejo pré-abate inadequado ou instalações mal projetadas, que por consequência causarão desconforto para os animais, pois estarão sofrendo com dores por um longo período. Outro ponto importante é que a ocorrência de lesões nas carcaças gera grandes perdas econômicas, pois dificulta a remoção da parte afetada sem comprometer o restante da região, além de afetar os cortes nobres, que possuem maior valor comercial (LUDTKE, 2012).
Os casos em que se observa sangue nos pulmões são causados por erros no momento da insensibilização, resultando em um quadro de enfisema agônico, aspiração de sangue e conteúdo ruminal para os pulmões (LIMA, 2007). Esta alteração é indicativo de falha no manejo pré-abate e consequentemente nas práticas de bem-estar animal, uma vez que a aspiração de sangue só pode ocorrer quando existe respiração, ou seja, o animal ainda se encontra com vida (MARINO et al, 2016).
Evidenciou-se nos dados coletados a ocorrência de aspiração de sangue, bem como contusões e fraturas em decorrência de falhas no manejo pré-abate de bovinos.
8 Materiais e métodos
Antes de iniciar a coleta de dados, o presente estudo foi submetido ao CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais), sendo aprovado em reunião no dia 05 de outubro de 2020, com o registro Nº 20.028.5.05.IV.
O estudo foi realizado em um abatedouro frigorífico de bovinos sob inspeção estadual (SIE), localizado no município de Pedras Grandes-SC, sob a autorização e consentimento da empresa. Foram utilizados os registros diários de abate referentes ao período de janeiro de 2015 a dezembro de 2019. O trabalho foi primeiramente submetido ao CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais).
A análise de dados foi feita através da leitura das planilhas de uso diário, com o modelo padrão desenvolvido pela CIDASC (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina). As planilhas foram preenchidas pelo Médico Veterinário responsável pela inspeção, que segue os critérios de inspeção post mortem do sistema de inspeção estadual (Decreto N 3.748, de 12 de Julho de 1993).
Durante o período avaliado, verificou-se os descartes de partes de carcaças afetadas, lesões decorrentes de sugestivas falhas no manejo pré-abate, sendo contabilizados os casos de aspiração de sangue, bem como os descartes parciais de carcaças decorrentes de contusões e fraturas.
Os dados foram tabulados em planilhas do Excel 2013 pacote Office 2013 para Windows 8.
9 Resultados e Discussão
No presente trabalho, avaliou-se lesões decorrentes de sugestivas falhas durante o manejo pré-abate, contabilizando os casos de aspiração de sangue e contusão/fraturas. No período compreendido entre Janeiro de 2015 e Dezembro de 2019 foram abatidos um total de 49641 bovinos, conforme mostra a tabela 1.
Do total de bovinos abatidos durante o período citado, observou-se uma prevalência de 3,4% de aspiração de sangue para os pulmões, totalizando 1688 casos. Referente a contusões e fraturas a prevalência foi de 0,19%, correspondendo a 98 carcaças que sofreram condenação parcial da região lesada, conforme demonstra a figura 1.
Tabela 1. Percentual de condenações de bovinos por Aspiração de sangue X Contusão/Fraturas de 2015 a 2019.
Fonte: os autores (2020).
Percentual de condenações de bovinos por Aspiração de sangue X Contusão/Fraturas de 2015 a 2019 Ano Número de bovinos abatidos Aspiração de sangue N % Contusão/Fraturas N % 2015 8749 659 7,53% 7 0,08% 2016 8072 385 4,76% 7 0,086% 2017 9264 304 3,28% 8 0,086% 2018 10876 185 1,70% 58 0,53% 2019 12680 155 1,22% 18 0,14% Total 49641 1688 3,4% 98 0,19%
10 Figura 1. Prevalência (%) de carcaças condenadas parcialmente por aspiração de sangue e contusões/fraturas em um abatedouro frigorífico, no município de Pedras Grandes, entre os anos de 2015 a 2019, pelo Serviço de Inspeção Estadual.
Fonte: os autores (2020).
Em um trabalho realizado por Almeida et al., (2018), objetivou-se identificar e quantificar as lesões macroscópicas e causas de condenação de carcaças e vísceras, durante o abate de bovinos em abatedouro público da microrregião de Garanhuns- PE. Dos 833 bovinos abatidos, 247 condenações foram registradas em seu estudo, sendo 2 casos referentes a contusão e fraturas na região do pernil, correspondendo a 0,24% da frequência de condenação no total de abates. O autor ainda registrou um total de 44 casos de aspiração de sangue, correspondendo a 5,28% das condenações.
Braggion e Silva (2004) conduziram um estudo em dois frigoríficos, onde os animais foram inspecionados visualmente na área de descanso assim que chegavam para o abate e os dados foram registrados em uma planilha. Após o abate, as carcaças foram inspecionadas e as causas das lesões foram determinadas por técnicos do Serviço de Inspeção Federal e Estadual. Foram
7,53% 4,76% 3,28 1,70% 1,22% 0,08% 0,086% 0,086% 0,53% 0,14% 2015 2016 2017 2018 2019
Percentual de condenaçoes de bovinos por
Aspiração de sangue
X
Contusão/Fraturas
N. de bovinos
abatidos/ano 8749 8072 9264 10876 12680
11 avaliadas 198 meias-carcaças, com o aparecimento de 67 lesões na porção anterior (35,64%); 34 lesões na porção mediana (18,09%) e 87 lesões na porção posterior (46,28%). As causas das lesões foram variadas, com o transporte sendo responsável por 59 ocorrências (31,38%), e outras causas como chifradas, coices, pisoteios e tombos com 45 ocorrências (23,94%). Seu estudo conclui que o manejo pré-abate inadequado compromete o bem-estar animal e a qualidade das carcaças.
Marino et al., (2016) relatou um total de 146751 bovinos abatidos durante o período de 2001 a 2006, onde 11274 (7,68%) animais apresentaram lesões pulmonares. Desse total, 3.907 (34,6%) apresentaram aspiração de sangue. A aspiração de sangue é classificada como uma lesão operacional não patológica, sem relação com o estado clinico ou sanitário do animal. O seu acontecimento é sugestivo de má insensibilização, ou no momento do abate quando o colaborador responsável pela sangria perfura muito profundamente a região, lesionando a traqueia e consequentemente o animal aspira sangue. De acordo com o RIISPOA art. 136 § 3º, os pulmões devem ser condenados caso seja constatada a presença de lesões patológicas de origem inflamatória, infecciosa, parasitária, traumática ou pré-agônica (BRASIL, 2017).
Em relação a ocorrência de aspiração de sangue (imagem 1), o presente estudo evidencia que houve diminuição gradativa no número de casos durante o período observado. No ano de 2015 foram registradas 659 (7,53%) condenações de pares de pulmões, número superior aos 155 (1,22%) registrados em 2019. Essa queda é explicada pelo processo de tecnificação, com estruturas como o box de insensibilização (imagem 2) que tem a função de imobilizar os bovinos com o auxílio de dispositivos pneumáticos para facilitar o atordoamento, além de treinamentos e capacitação dos colaboradores responsáveis pela insensibilização e sangria.
12 Imagem 1. Pulmão bovino com aspiração de sangue.
Fonte: Os autores (2020).
Imagem 2. Box de insensibilização. (A) Vista lateral (B) Visão dos bovinos antes de entrar no box (C) vista frontal do box.
13 Neto et al., (2015) avaliou em seu estudo as perdas econômicas decorrentes de lesões de transporte e manejo pré-abate em carcaças de bovinos. De um total de 1.021 animais avaliados identificou-se que 433(42,4%) apresentavam carcaças com lesões relacionadas ao transporte e manejo pré-abate. Ainda em sua pesquisa, identificou que o tempo de transporte influencia a ocorrência de lesões, sendo que os animais que percorreram maior tempo de transporte apresentam maior quantidade de lesões em sua carcaça. O referido estudo ainda conclui que o tempo de transporte acima de 2 horas aumenta o percentual de carcaças lesionadas, e que as perdas por descarte das áreas afetadas por erros durante o transporte e manejo pré-abate em um matadouro-frigorífico de porte médio pode superar 200 mil reais/ano.
O presente estudo apresenta 0,19% de animais com algum tipo de contusão ou fratura (imagem 3), número bastante inferior comparado ao trabalho citado anteriormente. Isso acontece, pois, os animais abatidos no abatedouro-frigorifico são oriundos de regiões próximas ao local, consequentemente percorrendo menores distancias até o destino final.
Imagem 3. Contusões observadas em carcaças bovinas durante a linha de inspeção.
14 Sabendo que o manejo dos animais no período pré-abate tem efeito significativo qualidade da carcaça, Braggion e Silva (2004) apresentam em seu estudo algumas recomendações para que ocorra redução do número das lesões durante o manejo pré-abate, como a manutenção das instalações de forma adequada ao manejo dos animais a fim de evitar extremidades pontiagudas que possam provocar lesões, minimizar o uso de choques elétricos ou bastões na hora de conduzi-los, transportar um número apropriado de bovinos e evitar a mistura de bovinos de tamanhos, idades e sexo diferentes antes do embarque ou no curral de espera do frigorífico.
As contusões nas carcaças equivalem as principais perdas para o frigorifico, uma vez que removidas na linha de abate, ocasionam quedas de rendimento de carcaça, danos a cortes e por consequência diminuição da qualidade da carcaça. O manejo incorreto pode ser o principal causador de contusões de carcaças em bovinos, influenciando negativamente na cadeia de produção da carne bovina e interferindo diretamente no aproveitamento da agroindústria (MENDONÇA et al., 2016).
Conclusão
O manejo do animal no abatedouro-frigorífico é extremamente importante para a segurança dos operadores, a qualidade da carne e o bem-estar do animal. Os problemas de bem-estar animal no processo de abate estão relacionados com instalações, equipamentos e manejo inadequados, falta de manutenção dos equipamentos, deficiência nos treinamentos, mal assimilados ou por falta de sensibilidade dos funcionários. Mesmo com a baixa ocorrência de contusões e fraturas, um número expressamente maior apresentou-se para a alteração provocada pela aspiração de sangue, indicativa de estresse agônico no animal abatido. Com isso, conclui-se que a ocorrência de falhas no manejo pré-abate de bovinos causa sofrimento desnecessário do animal, perda da qualidade da carne e prejuízos ao frigorífico. Um tratamento humanitário nas etapas de pré-abate garante a valorização do produto, satisfação do mercado e prática da ética e moral no abate do animal.
15 Referências
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