• Nenhum resultado encontrado

A morosidade do poder judiciário

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A morosidade do poder judiciário"

Copied!
88
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CARLO FELTRIN DELLA GIUSTINA

A MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO:

UMA BREVE ANÁLISE DA ORIGEM, SOLUÇÕES E DAS PRINCIPAIS MEDIDAS IMPLEMENTADAS PELA JUSTIÇA CATARINENSE

Florianópolis 2010

(2)

CARLO FELTRIN DELLA GIUSTINA

A MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO:

UMA BREVE ANÁLISE DA ORIGEM, SOLUÇÕES E DAS PRINCIPAIS MEDIDAS IMPLEMENTADAS PELA JUSTIÇA CATARINENSE

Monografia apresentada ao Curso de graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Msc. Victor José Sebem Ferreira

Florianópolis 2010

(3)

CARLO FELTRIN DELLA GIUSTINA

A MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO:

UMA BREVE ANÁLISE DA ORIGEM, SOLUÇÕES E DAS PRINCIPAIS MEDIDAS IMPLEMENTADAS PELA JUSTIÇA CATARINENSE

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 14 de junho de 2010.

______________________________________________ Prof. e orientador Msc. Victor José Sebem Ferreira

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Prof. Marciel Evangelista Cataulo

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Prof. Vicente Lisboa Capella

(4)

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A MOROSIDADE DO PODER JUDICIÁRIO:

UMA BREVE ANÁLISE DA ORIGEM, SOLUÇÕES E DAS PRINCIPAIS MEDIDAS IMPLEMENTADAS PELA JUSTIÇA CATARINENSE

Declaro, para todos os fins de direitos e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, 14 de junho de 2010.

__________________________________________________

(5)

Dedico este trabalho à minha família e a todos aqueles que, objetivando melhor Justiça, lutam por um Poder Judiciário mais célere, seguro, moderno e eficiente.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente:

À minha família, a qual, principalmente nos momentos de angústia e incerteza, não economizaram incentivo e apoio.

Ao Professor e Desembargador Victor José Sebem Ferreira, digno orientador, pela cordial disposição e judiciosos ensinamentos.

A todos os professores desta conceituada Universidade, que me transmitiram conhecimentos com muita sabedoria, possibilitando esta conquista.

Aos integrantes da banca examinadora, pelo tempo dispendido na leitura e avaliação desta monografia.

Aos verdadeiros amigos, fonte de confiança, respeito e reconhecimento. A todos aqueles que, de qualquer modo, contribuíram para o término desta monografia.

(7)

“Alguns vêem coisas e dizem: Por quê? Mas eu sonho coisas que nunca existiram e digo: Por que não?” (George Bernard Shaw)

(8)

RESUMO

Trabalho monográfico desenvolvido com o objetivo geral de traçar um panorama sobre o Poder Judiciário, especialmente o de Santa Catarina, e sua esfera de atuação como instrumento primordial da garantia da tutela jurisdicional. Os objetivos específicos centram-se em examinar as principais causas da morosidade deste Poder; destacar os fatores precípuos e as consequências da lentidão da justiça; elencar as principais soluções inovadoras para sanar esta problemática, especificamente as consubstanciadas na Emenda Constitucional nº 45 de 08 de dezembro de 2004 e as deflagradas pelo Conselho Nacional de Justiça, ressaltando, ainda, os projetos empreendidos na Justiça Catarinense, que, na prática, contribuem para minimizar esta crise. O método adotado foi o dedutivo, partindo-se da doutrina, leis e ordenamentos jurídicos gerais, para a análise das características particulares acerca do tema.

Palavras-chave: Poder Judiciário. Causas da Morosidade do Judiciário. Reforma da Justiça. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Soluções.

(9)

LISTA DE SIGLAS

ACAFE – Associação Catarinense de Fundações Educacionais ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

CCJ – Comissão de Constituição Justiça e Cidadania CDC – Código de Defesa do Consumidor

CESUSC – Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina CNJ – Conselho Nacional de Justiça

EC – Emenda Constitucional

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MP – Ministério Público

PAC – Posto de Atendimento e Conciliação PGR – Procurador-Geral da República

PROCON – Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor

SCG – Secretaria do Conselho Gestor do Sistema de Juizados Especiais e Programas Alternativos de Solução de Conflitos

STF – Supremo Tribunal Federal STJ – Superior Tribunal Justiça

TJSC – Tribunal de Justiça de Santa Catarina TPI – Tribunal Penal Internacional

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 PODER JUDICIÁRIO E PROCESSO ... 13

2.1 PODER JUDICIÁRIO ... 13 2.1.1 Aspectos históricos ... 13 2.1.2 Conceito e atribuições ... 16 2.1.3 Estrutura ... 20 2.2 DO PROCESSO ... 21 2.2.1 Noções introdutórias ... 21 2.2.2 Efetividade processual ... 22 2.2.3 Morosidade processual ... 24

3 O PODER JUDICIÁRIO: MOROSIDADE X EFETIVIDADE ... 28

3.1 PODER JUDICIÁRIO: CAUSAS DA MOROSIDADE ... 28

3.2 MEDIDAS CAPAZES DE PROPICIAR EFETIVADE À JUSTIÇA BRASILEIRA .. 33

3.2.1 As Convenções internacionais ... 33

3.2.2 Fatos a se combater a fim de se obter celeridade processual ... 34

3.2.3 A Emenda constitucional nº 45 de 08 de dezembro de 2004 ... 36

4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA - MEDIDAS E SOLUÇÕES .... 44

4.1 OS JUIZADOS ESPECIAIS ... 45

4.2 TJSC: MEDIDAS E SOLUÇÕES ... 47

4.2.1 Casas da cidadania e justiça ... 47

4.2.2 Mediação familiar ... 49

4.2.3 Postos de atendimento e conciliação – PACs ... 51

4.2.4 Programa justiça presente ... 52

4.2.5 Unidade judicial avançada – UJA ... 53

4.2.6 Projeto acadêmico conciliador ... 54

4.2.7 Programa de mediação de grandes conflitos sociais ... 55

4.3 METAS DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ... 56

(11)

REFERÊNCIAS ... 60

ANEXOS ... 69

ANEXO A - Coletânea das leis mais importantes correlacionadas à EC 45/2004 ... 70

ANEXO B - A Emenda Constitucional nº 45 de 08 de dezembro de 2004 - Medidas propostas segundo Pedro Lenza ... 73

ANEXO C - Análise do movimento das casas da cidadania ... 79

ANEXO D - Serviço de Mediação Familiar ... 81

ANEXO E - Programa Justiça Presente ... 82

(12)

1 INTRODUÇÃO

A sociedade e o direito evoluem com a passagem do tempo e a história comprova esta constante inovação. Os seres humanos, expectadores máximos deste cenário, acompanham este processo, sempre desvendando caminhos que possam consolidar seus interesses e satisfazer suas necessidades.

Todavia, ao se ponderar de um modo mais específico, constata-se que, sob o ângulo jurídico-legal, muitas lutas e movimentos foram travados; diversas alterações se concretizaram e, com elas, novas diretrizes contra os excessos de poder, até então inexistentes, foram conquistadas.

Com a superveniência do regime democrático e a consolidação da teoria tríplice dos poderes em legislativo, judiciário e executivo, oportunizou-se maior abertura no que tange ao campo assegurador de direitos, garantias e deveres dos cidadãos, bem como se alastraram os horizontes capazes de neutralizar os conflitos existentes.

Porém, centrando a análise no Poder Judiciário, ao qual incumbe mais diretamente a resolução dos feitos e processos, observa-se que há um grave descompasso entre a escala numérica dos ajuizamentos e a resposta legal a eles conferida. Deste modo, pode-se afirmar que surgiu uma distância, cada dia mais alargada, em que os processos avançam vertiginosamente, acarretando ao Judiciário a impossibilidade de solucionar, com rapidez, os crescentes litígios.

Escritores, juristas e intelectuais da era moderna ainda não conseguiram explicar, de modo preciso, as causas reais de tantas ações e postulações. O cotidiano do homem moderno é pontilhado de muitos conflitos, os quais, em grande escala, atingem seu “eu interior”, como as alienações, neuroses, depressões, inseguranças, medos e pânicos. Estes fatores, aliados à instabilidade financeira e incontáveis outras mazelas político-sociais que estão presentes em nosso País, de certa forma, contribuem para o acúmulo de demandas que deságuam no Judiciário. Assim, este Poder, no que pertine ao campo julgador, vem enfrentando críticas e está sendo rotulado como lento e moroso.

Dentre outros aspectos, é sobre essa premissa tão problemática ao Poder Judiciário que esta pesquisa irá focar. Tenta-se, aqui, ao esclarecer as causas da “inaceitável justiça tardia”, bem como ao evidenciar os paradigmas, meios ou

(13)

soluções modernizadoras capazes de minimizar este impasse, resgatar a imagem deste Órgão Julgador, buscando, assim, impingir-lhe o respeito, a dignidade, bem como o verdadeiro significado de que é merecedor, como expoente máximo da expressão da verdade, do direito e da justiça.

No que se refere aos procedimentos metodológicos, utilizar-se-á, para a confecção deste trabalho, a pesquisa exploratória, baseada no levantamento bibliográfico e no estudo da legislação vigente, assim como o método dedutivo, sistema que parte de teorias e leis gerais para a análise de fenômenos particulares. O método de procedimento utilizado, por seu turno, será o monográfico, estudo de um único tema.

Por conseguinte, registra-se que a presente monografia se encontra estruturada em cinco capítulos:

1 Introdução: oportunidade destinada à apresentação do tema, aspectos metodológicos da pesquisa e estrutura do trabalho;

2 Poder Judiciário e Processo: neste capítulo busca-se analisar a estrutura do Poder Judiciário, assim como os conceitos de efetividade e morosidade processual;

3 Poder Judiciário: Morosidade x Efetividade: nesta parte da pesquisa são elencadas as principais causas da morosidade, bem como algumas medidas capazes de dar efetividade à justiça brasileira;

4 Tribunal de Justiça de Santa Catarina – Medidas e Soluções: este capítulo é destinado à análise das principais medidas e soluções implementadas pelo TJSC com o fim de elidir a morosidade processual.

5 Conclusão: aqui se encontra a oportunidade destinada aos comentários finais sobre os resultados da pesquisa.

Ao final, constam 6 anexos, todos contendo complementos valiosos, que são considerados importantes face o tema deste trabalho.

(14)

2 PODER JUDICIÁRIO E PROCESSO

2.1 PODER JUDICIÁRIO

2.1.1 Aspectos históricos

No Brasil colonial, por volta de 1500, sob o reinado de D. Manoel I, Portugal alastrara sua rede de conquista territorial à África, às ilhas do Atlântico (Açores, Cabo Verde e Madeira) e ao próprio Brasil. Neste período, os portugueses que passaram a residir em nosso País, os nativos, os índios e seus descendentes eram considerados “súditos do além-mar”, submetendo-se a um grupo de codificações legais, denominado Ordenações Manoelinas.1

O sistema judiciário brasileiro, naquela época, adotava os parâmetros vigentes em Portugal e a justiça era exercida pelo rei. Quando a Corte se instalou na cidade do Rio de Janeiro, também foram criados os tribunais e demais órgãos judiciais, como, por exemplo, a Casa da Suplicação, o Desembargo do Paço e a Mesa da Consciência e Ordens.2

Mais tarde, sob o domínio espanhol, algumas alterações foram formalizadas no texto legal português, passando a vigorar como “Ordenações Filipinas”, em homenagem ao rei que as criou.3

Em 1504, com o rei D. Manoel, surgiu a idéia de dividir o Brasil em capitanias hereditárias, a primeira a ser criada foi a da Ilha de São João, mais tarde chamada de Fernando de Noronha.4

Muito embora agissem em nome do Rei, aos capitães-donatários era conferido o poder de instituir e aplicar a justiça como melhor quisessem ou pudessem. Pouco depois, houve uma descentralização destes poderes, com a criação do cargo de Ouvidor, que era o mais importante personagem no campo

1

VIEIRA, João Alfredo Medeiros. Notas para a história do poder judiciário em Santa Catarina. 1. ed. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1981. p. 23.

2

VIEIRA, loc. cit. 3

VIEIRA, loc. cit. 4

(15)

jurídico, atuando ao mesmo tempo como juiz de primeiro (nos feitos novos) e segundo grau (se houvessem agravos e apelações), em toda a capitania. “Era, a um só tempo, juiz monocrático e colegiado”.5

Em meados do século XVII criou-se uma nova figura: Ouvidor-Geral do Sul do Brasil, o qual supervisionava as demais Ouvidorias.6

Em 1747, quando o “governo” da Ilha de Santa Catarina já estava separado da Capitania de São Paulo surgiu a necessidade de ser criada, na Ilha, uma Ouvidoria, a qual foi instalada em 20 de novembro de 1749. Este foi um episódio marcante, porque se conferiu autonomia à Comarca. O primeiro Ouvidor-Geral foi o Dr. Manoel José de Faria.7

No século XVIIII, as autoridades judiciárias catarinenses, denominadas “Juízes Ordinários” enfrentaram vastos problemas, seja pelo número excessivo de criminosos e poucos estabelecimentos prisionais, seja pela constante chegada de caravanas de degredados e, ainda, pela corrupção existente na administração político-administrativa.8

Em 29 de julho de 1812 houve nomeação do primeiro Juiz togado, Francisco Lourenço de Almeida. Era português e exerceu suas atividades na Comarca da Vila do Desterro. Como este magistrado agia de forma imparcial, abolindo privilégios e aplicando a lei, foi alvo de muitas intrigas e calúnias. Os entraves mais sérios vincularam-se à concessão das sesmarias, que eram terrenos cedidos aos sesmeiros, para que os transformassem em terras produtivas. As questões em torno das sesmarias geraram sérios conflitos, quer pela escolha dos sesmeiros, quer pela documentação necessária, pois estas terras não possuíam documentos e, muitas delas, estavam ocupadas por posseiros que não plantavam e nada cultivavam, mas que ao mesmo tempo não queriam abandoná-las, tendo, muitas vezes, que ser retirados à força.9

Em 24 de julho de 1816 foi empossado um Juiz brasileiro, natural de Parnaíba, Piauí, Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra. Recebeu o curioso título de “Juiz de Fora do Cível, Crime e Órfãos, Provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, Capelas e Resíduos”.

5

FERNANDES NETO, Tycho Brahe. História do judiciário catarinense. Florianópolis: Ed. Diploma Legal, 2000. p. 53.

6

VIEIRA, 1981, p. 27-28. 7

FERNANDES NETO, op. cit., p. 77-78. 8

VIEIRA, op. cit., p. 29. 9

(16)

Desempenhou suas atividades também na Comarca de Desterro e, como seu antecessor, que retornou a Portugal, enfrentou sérios conflitos, em especial os oriundos das “manobras altistas”, praticadas por grupo de mercadores que, objetivando a alta dos produtos, burlavam a distribuição de carne, farinha e aguardente para a população.10

Em 22 de novembro de 1823 o Imperador D. Pedro I, após dissolver a Constituinte, convocou uma nova Assembléia e iniciou a redação de um projeto de lei mais liberal que, em 25 de março de 1824, transformou-se na Constituição Imperial do Brasil. No texto deste documento o Poder Judiciário foi idealizado com mais eficácia e tornou-se mais independente.11

Pouco depois, em 15 de outubro de 1827, foram criados os cargos de Juiz de Paz, os quais eram leigos, mas muito se destacaram na função conciliatória.12

Os anos que se sucederam a este período foram marcados pelo advento de muitas codificações, como o Código Criminal de 1830 e o Código de Processo Criminal, em 1832.13

Merece ser destacada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, que transformou o Império em República Federativa, com regime representativo, enfatizando os poderes Executivo e Judiciário.14

Especificamente sobre a história do Poder Judiciário Catarinense, transcreve-se o seguinte:

Com a implantação da República em 1889, e a instituição do federalismo pela Carta Magna de 1891, desapareceu a organização de justiça única e introduziu-se em substituição o sistema dual - Justiça Federal e Justiça dos Estados. Cada unidade da federação passaria a reger-se pelas constituições e leis que adotasse, respeitados os princípios constitucionais da União.

Em consonância com essa diretriz, a Constituição Catarinense de 1891, no caput do artigo 49, explicitou que os três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - seriam independentes e harmônicos entre si, e instituiu o denominado Superior Tribunal de Justiça como órgão de segunda instância, “com as atribuições que a lei confere aos tribunais desta categoria”.

10

VIEIRA, 1981, p. 36. 11

JUNIOR, Osvaldo Agripino de Castro. Democratização do poder judiciário. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1998. p. 73 e 78.

12

VIEIRA, op. cit., p. 47. 13

Ibid., p. 50. 14

BRASIL. Constituição de 1891. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao91.htm>. Acesso em: 22 abr. 2010.

(17)

A instalação do Tribunal de Justiça em Santa Catarina deu-se em 1º de outubro de 1891, na Casa da Câmara, e foi um acontecimento político-administrativo marcante para a História deste Estado.15

Quanto à organização judiciária propriamente dita e à origem do título de “Desembargador”, no mesmo texto, temos:

O Decreto 104, de 19 de agosto de 1891, do Vice-Governador Gustavo Richard, organizou a Justiça do Estado e conferiu aos membros do tribunal estadual, no artigo 10, o título de Desembargador, também usado no Império e na Colônia. O título de desembargador confirmado na legislação republicana tem origem remota, provinda dos tempos dos reis de Portugal, e significa aquele que julga e retira os embargos, em linguagem comum os impedimentos, dos feitos. Ao julgar quaisquer feitos, sejam agravos, apelações ou embargos, o desembargador os desembarga.16

No que se refere às denominações conferidas ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, destaca-se:

A Constituição outorgada em 07 de julho de 1892 alterou a denominação desta Corte para Tribunal da Relação, tendo retornado à denominação anterior com a Carta Estadual de 26 de janeiro de 1895. As Constituições Estaduais de 1935, 1945 e 1947 alteraram as denominações do Tribunal para Corte de Apelação, Tribunal de Apelação e Tribunal de Justiça, respectivamente, sendo que esta última permanece até os dias atuais.17

Esses apontamentos reproduzem, em síntese, um retrospecto do histórico sobre o Poder Judiciário.

2.1.2 Conceito e atribuições

A doutrina brasileira consagra o Judiciário como um Poder essencial, porque é considerado o guardião das leis e instrumento indispensável no desfecho dos conflitos, bem como porque não se pode considerar um verdadeiro Estado

15

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Histórico do poder judiciário de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/institucional/museu/historico.htm>. Acesso em: 22 abr. 2010.

16 Ibid. 17

(18)

democrático sem a preservação e o respeito aos princípios da legalidade/igualdade, ou seja, dos direitos e garantias judiciais.18

Consoante Luis Alberto David de Araújo o Poder Judiciário pode ser definido como o conjunto de órgãos públicos ao qual foi deferida, com exclusividade, a função jurisdicional. A jurisdição, neste patamar, entende-se como aquela vinculada aos casos concretos, com o fim de aplicar a lei às questões controversas. Deste modo, com a instituição de um processo regular, ao final, obtém-se a “coisa julgada” e o entendimento das partes envolvidas é substituído pelas diretrizes ínsitas na sentença que for proferida.19

Manoel Gonçalves Ferreira Filho, citando Pedro Lessa, leciona que no Estado Moderno, porém, fazer justiça se confunde com aplicar a lei, daí a conceituação tradicional segundo a qual o judiciário tem por missão aplicar contenciosamente a lei a casos particulares.20

Kildare Gonçalves Carvalho conceitua o Poder Judiciário sob a égide da função jurisdicional. Ele ressalta que o Poder Judiciário declara o Direito, defendendo a Constituição. Além disto, cabe a este Poder controlar os demais poderes do Estado, tendo como parâmetro a Carta Magna. Dentro deste contexto, entende este autor, citando Gilmar Ferreira Mendes, que:

O Poder Judiciário acha-se também vinculado aos direitos fundamentais, e dessa vinculação resulta-lhe „não só o dever de guardar estrita obediência aos chamados direitos fundamentais de caráter judicial, mas também o de assegurar a efetiva aplicação do direito, em especial dos direitos fundamentais, seja nas relações entre os particulares e o Poder Público, seja nas relações tecidas exclusivamente entre particulares. Da vinculação do Judiciário aos direitos fundamentais decorre, ainda, a necessidade de se aferir a legitimidade das decisões judiciais, tendo em vista sobretudo a correta aplicação desses direitos aos casos concretos.‟21

Rodrigo Cesar Rebello Pinho, discorrendo sobre o Judiciário, observa que este Poder tem por objetivo máximo solucionar os conflitos de interesses em cada caso concreto. Para este autor, o significado do Poder Judiciário mescla-se com a

18

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 446-447. 19

ARAÚJO, Luiz Alberto David; JUNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 380.

20

LESSA, Pedro, [s/d] apud FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 247.

21

MENDES, Gilmar Ferreira. Direito constitucional: teoria do estado e da constituição. Direito constitucional positivo.. 16. ed. Belo Horizonte:Del Rey, 2010. p. 1315.

(19)

função jurisdicional ou simplesmente jurisdição, a qual se realiza por meio da atividade estatal.

Ou seja:

Dentro do sistema de separação de Poderes compete ao Poder Judiciário a função jurisdicional do Estado, ou seja, de distribuição de justiça de resolver litígios, ou seja, de aplicação da lei em caso de conflito de interesses. A atividade jurisdicional, no Estado moderno, é monopólio da Administração Pública, não mais se admitindo a vingança privada, a justiça eclesiástica e a justiça dos Senhores Feudais.22

Concernente às atribuições, pela grande responsabilidade, o Poder Judiciário, no Estado Democrático, é considerado o defensor das liberdades, dos direitos individuais e sociais, sendo que esta incumbência é respaldada pela Constituição Federal, em seus arts. 92 a 126.

Esta característica de que o acesso à prestação jurisdicional deve ser vista como um direito fundamental é corroborada por muitos processualistas pátrios, que lhe conferem muita ênfase. Porque, segundo eles, descuidar desta incumbência do Judiciário seria colocar em perigo a eficácia real dos Direitos Fundamentais.

Neste sentido, afirma Leonardo Greco:

No Estado Democrático Contemporâneo, a eficácia concreta dos direitos constitucional e legalmente assegurados depende da garantia da tutela jurisdicional efetiva, porque sem ela o titular do direito não dispõe da proteção necessária do Estado ao seu pleno gozo.

A tutela jurisdicional efetiva é, portanto, não apenas uma garantia, mas, ela própria, também um direito fundamental, cuja eficácia irrestrita é preciso assegurar, em respeito à própria dignidade humana.23

Antônio de Pádua Ribeiro aduz que o Judiciário é o baluarte das garantias consignadas no magno texto, devendo resgatá-las e protegê-las, expressando-se nos seguintes moldes:

Em termos de garantias jurisdicionais dos cidadãos, relativamente à administração da justiça, a vigente Constituição brasileira adota como postulado constitucional fundamental o “devido processo legal”, expressão oriunda da inglesa “due process of law”, ao dizer: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (art. 5º, LIV). 22

PINHO, Rodrigo Cesar Rebello. Da organização do estado, dos poderes e histórico das constituições. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 18. p. 136.

23

GRECO, Leonardo. Garantias fundamentais do processo: o processo justo. Revista Jurídica: órgão nacional de doutrina, jurisprudência, legislação e crítica judiciária, Porto Alegre, Ano 51, n. 305, mar. 2003. p. 61.

(20)

Adota, ainda, o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, ao estatuir que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV). Consagra o princípio da isonomia: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”; “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” (art. 5º, caput e inciso I). Estabelece, ainda, o princípio do juiz ou promotor natural, ao dizer que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”, e que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (art. 5º, XXXVII e LIII). Estatui o princípio do contraditório: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5º, LV). Prevê o princípio da proibição da prova ilícita: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos” (art. 5º, LVI); o princípio da publicidade dos atos processuais: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos” (art. 93, IX), acrescentando que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem” (art. 5º, LX); e o princípio da motivação das decisões judiciais sob pena de nulidade (art. 93, IX).24

José Afonso da Silva, discorrendo sobre o Poder Judiciário, frisa que:

Chegamos aqui ao terceiro Poder do Estado atribuído à União no Estado Federal brasileiro – o Poder Judiciário – que a Constituição organiza nos arts. 92 a 126. De passagem, já dissemos que os órgãos do Poder Judiciário têm por função compor os conflitos de interesses em cada caso concreto. Isso é o que se chama de função jurisdicional ou simplesmente

jurisdição, que se realiza por meio de um processo judicial, dito, por isso

mesmo, sistema de composição de conflitos de interesses ou sistema de composição de lides.25

Os conceitos do Poder Judiciário, acima delineados, inclinam a considerar que ele sofreu séria renovação em seus objetivos e postulados. Ou seja, de que não se destina apenas para solucionar conflitos jurídico-legais, mas sim, que, revestindo-se de um novo caráter, resguarda a prevalência e o império da lei, em prol do bem comum.

24

RIBEIRO, Antonio de Pádua. O judiciário como poder político no século XXI. Revista da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Brasília, Ano I, v. 15, p. 29-45, jan./jun. 2000. p. 34-35.

25

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 33. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010. p. 553.

(21)

2.1.3 Estrutura

Em atenção aos objetivos específicos desta monografia, cumpre ressaltar a estrutura do Poder Judiciário em Santa Catarina. O art. 18 da Lei Complementar Estadual nº 339 de 08 de março de 2006 elenca seus órgãos:

Art. 18. São órgãos do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina: I - Tribunal de Justiça;

II - Juízes de Direito; III - Juízes Substitutos; IV - Tribunal do Júri;

V - Juizados Especiais e Turmas de Recursos; VI - Justiça Militar;

VII - Juízes de Paz; e

VIII - outros órgãos instituídos por lei.26

A competência do Tribunal de Justiça vem explícita no art. 83 da Constituição do Estado de Santa Catarina de 05 de outubro de 1989. Analisando-se este dispositivo, pode-se afirmar que a competência é exercida na esfera administrativa, organizacional e judiciária, merecendo ênfase o campo jurisdicional, assim expresso:

Art. 83 Compete privativamente ao Tribunal de Justiça: [...]

XI - processar e julgar, originariamente:

a) nos crimes comuns, o Vice-Governador do Estado, os Deputados e o Procurador-Geral de Justiça;

b) nos crimes comuns e de responsabilidade, os Secretários de Estado, salvo a hipótese prevista no art. 75, os juízes e os membros do Ministério Público, os Prefeitos, bem como os titulares de Fundações, Autarquias e Empresas Públicas, nos crimes de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

c) os mandados de segurança e de injunção e os habeas-data contra atos e omissões do Governador do Estado, da Mesa e da Presidência da Assembleia Legislativa, do próprio Tribunal ou de algum de seus órgãos, dos Secretários de Estado, do Presidente do Tribunal de Contas, do Procurador-Geral de Justiça e dos juízes de primeiro grau;

d) os habeas-corpus quando o coator ou paciente for autoridade diretamente sujeita a sua jurisdição;

e) as ações rescisórias e as revisões criminais de seus julgados;

f) as ações diretas de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais e municipais contestados em face desta Constituição;

26

SANTA CATARINA. Lei complementar n. 339, de 08 de março de 2006. Dispõe sobre a Divisão e Organização Judiciárias do Estado de Santa Catarina e estabelece outras providências. In: SANTA CATARINA. Código de divisão e organização judiciárias do Estado de Santa Catarina. atual até dez. 2009. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/institucional/normas/cdoj/CDOJSC.rtf>. Acesso em: 23 abr. 2010.

(22)

g) as representações para intervenção em municípios;

h) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; i) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;

j) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade; XII - julgar, em grau de recurso, as causas decididas em primeira instância, bem como a validade de lei local contestada em face de lei estadual ou desta Constituição;

XIII - exercer as demais funções que lhe forem atribuídas por lei.27

O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina tem sua sede central em Florianópolis e sua jurisdição se alastra em todo o território catarinense. É composto por 50 desembargadores.28

A nomeação obedece aos parâmetros do artigo 8229 da Constituição Estadual, ou seja, processa-se dentre os magistrados de carreira, advogados previamente indicados pela Ordem dos Advogados e, ainda, por membros do Ministério Público (MP), estes em atendimento ao teor do artigo 94 da vigente Carta Magna.30

Essas são as características e aspectos integrantes da estrutura e competência do Poder Judiciário a nível estadual.

2.2 DO PROCESSO

2.2.1 Noções introdutórias

Para melhor entendimento da efetividade e da morosidade judiciais, inicialmente, faz-se mister trazer à colação o significado da palavra “processo”.

27

SANTA CATARINA. Constituição, 1989. Constituição do Estado de Santa Catarina. ed. atual. com 49 Emendas Constitucionais. Florianópolis: Assembléia Legislativa, 2009. Disponível em:

<http://www.alesc.sc.gov.br/portal/legislacao/docs/constituicaoEstadual/CESC_16_11_2009.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2010.

28

Id., Código de divisão e organização judiciárias do Estado de Santa Catarina. atual até dez. 2009. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/institucional/normas/cdoj/CDOJSC.rtf>. Acesso em: 23 abr. 2010.

29

Id., 1989. Acesso em: 23 abr. 2010. 30

Id., Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Estrutura judiciária. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/jur/estruturajudiciaria.htm>. Acesso em: 22 abr. 2010.

(23)

Para José da Silva Pacheco, “processo é o instrumento para a realização do Direito pela jurisdição, mediante ação dos interessados”.31

Da lição de Humberto Theodoro Junior, observa-se:

Para exercer a função jurisdicional, o Estado cria órgãos especializados. Mas estes órgãos encarregados da jurisdição não podem atuar discricionária ou livremente, dada a própria natureza da atividade que lhes compete. Subordinam-se, por isso mesmo, a um método ou sistema de atuação que vem a ser o processo.32

Da acepção de Benedito Hespanha, colhe-se: “O processo, enquanto criação humana, é um instrumento técnico e formal do Direito e da ordem jurídica”.33

Segundo Ovídio Araujo Baptista da Silva:

Processo (processus, do verbo procedere) significa avançar, caminhar em direção a um fim. Todo processo, portanto, envolve a idéia de temporalidade, de um desenvolver-se temporalmente, a partir de um ponto inicial até atingir o fim desejado.34

Por sua vez, José Roberto dos Santos Bedaque assinala que “processo é o método estatal de solução das crises verificadas no plano do direito material”.35

2.2.2 Efetividade processual

A Constituição Brasileira de 1988 consagra em seu texto, além de muitos outros, o princípio assecuratório da garantia da prestação jurídica pelo Poder Estatal, ou a obrigatoriedade da proteção judiciária, a todos os seus jurisdicionados.

31

PACHECO, José da Silva. Curso de teoria geral do processo. 1. ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1985. p. 127.

32

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 41.

33

HESPANHA, Benedito. Tratado de teoria do processo. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 66. 34

SILVA, Ovídio Araujo Baptista da. Curso de processo civil: processo de conhecimento. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. v. 1. p. 13.

35

BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Efetividade do processo e técnica processual. 2. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2007. p. 72.

(24)

Este primado está insculpido no artigo 5º, inciso XXXV, com a seguinte redação: “[...] a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.36

Sobre a efetividade processual, significativa é a lição de Sylvio Clemente da Motta Filho: “A Constituição não aconselha, determina, impõe, comanda. É missão do operador do Direito, ao aplicar suas normas, fazê-lo com a interpretação que mais eficácia lhes confira”.37

Antonio Cláudio da Costa Machado, utilizando as palavras de José Carlos Barbosa Moreira, enfatiza que este autor enumera cinco pontos que, se alcançados, transformariam o processo em um instrumento inquestionavelmente efetivo:

Primeiro, o processo deve dispor de instrumentos de tutela adequada a todos os direitos; segundo, tais instrumentos devem se revelar praticamente utilizáveis por quem quer que se apresente como suposto titular desses direitos, mesmo quando seja indeterminado ou indeterminável o círculo dos sujeitos; terceiro, é necessário que se assegurem condições propícias à exata e completa reconstituição dos fatos relevantes a fim de que o convencimento do juiz corresponda, tanto quanto possível à realidade; quarto, o resultado do processo deve ser tal que permita ao vencedor o pleno gozo da utilidade específica assegurada pelo ordenamento; quinto, tais resultados devem ser atingidos com um mínimo dispêndio de tempo e de energia processual.38

Acerca do assunto, viceja o entendimento de que a eficiência do Poder Judiciário deve ser alvo de atenção não apenas daqueles que integram a comunidade jurídica, mas também daqueles que participam da sociedade. Todos devem ficar vigilantes, a fim de que os órgãos judiciais apreciem com efetividade e igualdade de condições os litígios de todos os indivíduos, mesmo de quem não possui maior capacidade de lutar na defesa de seus interesses.39

Merece ser destacado o conteúdo do texto abaixo transcrito:

Todo processo deve dar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente

aquilo que ele tem o direito de obter. Essa máxima de nobre linhagem

doutrinária constitui verdadeiro slogan dos modernos movimentos em prol da efetividade do processo e deve servir de alerta contra tomadas de

36

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 03 mar. 2010.

37

MOTTA FILHO, Sylvio Clemente da. Direito constitucional: teoria, jurisprudência e questões. 21. ed. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2009. p. 38.

38

MOREIRA, Jose Carlos Barbosa, [s/d] apud COSTA MACHADO, Antonio Cláudio. Tutela antecipada. 3. ed. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveiras, 1999. p. 36.

39

(25)

posição que tornem acanhadas ou mesmo inúteis as medidas judiciais, deixando resíduos de injustiça.40

A efetividade processual caracteriza-se como um dos primordiais encargos do Poder Judiciário, no sentido de tornar viável e material o próprio Direito. Tanto assim é que Gregório Assagra de Almeida, em irretocável artigo, deixa transparecer:

O direito à jurisdição apresenta-se em três fases que se encadeiam e se completam, a saber: a) o acesso ao poder estatal prestador da jurisdição; b) a eficiência e prontidão da resposta estatal à demanda de jurisdição; e c) a eficácia da decisão jurisdita. A dicção, mesmo que constitucional, do direito à jurisdição não basta para que o cidadão tenha a segurança de ver assumido e solucionado pelo Estado o conflito que, eventualmente, surja na aplicação do direito. Entretanto, não se aspira, neste final de século, um direito fundamental virtualizado em norma e esvaziado em práticas inoperantes e insatisfatórias. Quer-se um direito vivo, o direito das praças públicas, não um direito acomodado, direito das prateleiras das bibliotecas fechadas. Por isso, é insuficiente que o Estado positive a jurisdição como direito, enunciando-o na fórmula principiológica da inafastabilidade do controle judicial, mas não viabilize as condições para que este direito seja exercido pelos seus titulares de modo eficiente e eficaz.41

Assim, num universo onde o ritmo dos acontecimentos, das atividades humanas, das mudanças político-sociais e tecnológicas se torna cada vez mais vertiginoso, assume considerável importância a efetividade processual, como medida que impõe urgência na solução dos pleitos e de combate à lentidão e atrasos da prestação jurisdicional.

2.2.3 Morosidade processual

É inegável que a justiça tardia acarreta sérios percalços, não somente às partes envolvidas no processo, mas também para o Poder Judiciário como um todo.

40

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 22. ed. rev. e atual. de acordo com a EC 45, de 8.12.2004 e com a Lei 11.232, de 22.12.2005. São Paulo: Malheiros Editores, 2006. p. 41.

41

TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo, [s/d] apud ALMEIDA, Gregório Assagra de. O poder judiciário brasileiro como instituição de transformação positiva da realidade social. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, São Paulo, n. 15, 2001. Disponível em: <http://trt15.gov.br/escola_da_magistratura/Rev15Art8.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2010.

(26)

Entretanto, esta mazela não é fruto de nossos tempos, pelo contrário, retroage ao passado.

Tanto assim é que Agostinho Toffoli Tavolaro narra que Gilberto de Ulhôa Canto tinha em seu ambiente de trabalho uma caricatura, acompanhada dos seguintes dizeres:

O Advogado: O processo está andando, o processo está andando.

O Cliente: Doutor, há quatro anos o senhor me diz a mesma coisa. Se continuar a andar por mais tempo, não terei sapatos para acompanhá-lo.42

E comenta Tavolaro:

A caricatura do grande Daumier, que Gilberto de Ulhôa Canto tinha na parede de seu escritório, lembrava ao grande jurisconsulto e lembra a todos nós uma nota crítica do funcionamento da máquina judiciária.

Se há quase dois séculos ela já se mostrava pejorativa, é com tristeza, pesar e preocupação que vemos o mal se agravar, não obstante a modernização dos meios de comunicação, do progresso da ciência do Direito e o avanço da tecnologia.43

É preciso esclarecer que a morosidade e suas conseqüências vinculam-se literalmente à idéia de processo. E, neste ponto, faz-vinculam-se mister trazer à luz que o processo envolve, basicamente, três aspectos: a) o da jurisdição, que se vincula à atividade estatal, destinada a solucionar os conflitos de interesses, baseada na importante tarefa de assegurar a existência da sociedade pacífica e organizada. Esta função é exercida, quase que exclusivamente, pelo Poder Judiciário; b) o da ação, entendida como um direito de qualquer cidadão exigir do serviço público o deslinde dos litígios; e c) do processo, como encerramento da questão nele apreciada, tendo como fim principal a decisão que findará o conflito.44

Renomados juristas e doutrinadores expressam as consequências nefastas da justiça tardia.

Humberto Theodoro Júnior alerta:

A crítica, em todos os quadrantes, é a mesma: a lentidão da resposta da Justiça, que quase sempre a torna inadequada para realizar a composição

justa da controvérsia. Mesmo saindo vitoriosa no pleito judicial, a parte se

42

DAUMIER, 1846 apud TAVOLARO, Agostinho Toffoli. Justiça morosa ou injustiça. Revista Jurídica Consulex, Brasília, Ano VII, n. 167, p. 16-21, 31 dez. 2003. p. 16.

43

TAVOLARO, loc. cit. 44

(27)

sente, em grande número de vezes, injustiçada, porque justiça tardia não é justiça e, sim, denegação de justiça.45

Sob o mesmo prisma, Antonio Carlos de Araújo Cintra preleciona:

Pois tudo toma tempo e o tempo é inimigo da efetividade da função pacificadora. A permanência de situações indefinidas constitui, como já foi dito, fator de angústia e infelicidade pessoal.

O ideal seria a pronta solução dos conflitos, tão logo apresentados ao juiz. Mas como isso não é possível, eis aí a demora na solução dos conflitos como causa de enfraquecimento do sistema.46

No início do ano vigente, comentando sobre Poder Judiciário, o Ministro do STF Joaquim Barbosa alertou acerca da sensação de impunidade reinante em nosso País, tecendo duras críticas a este Poder, nestes termos:

Essa sensação decorre em grande parte de fatores estruturais, mas também é reforçada pela atuação do Poder Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas interpretações lenientes e muitas vezes condescendentes com atos de corrupção e, sobretudo, com sua falta de transparência no processo de tomada de decisões. [...] Para ser minimamente eficaz, o Poder Judiciário brasileiro precisaria ser reinventado.47

Na esfera penal, a morosidade acarreta consequências ainda mais severas, pois além de comprometer a efetividade dos feitos, gera prejuízos irreparáveis às partes.

A este respeito, o Supremo Tribunal Federal assim se manifestou:

O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório casualmente atribuído ao réu – traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF 5º LXXVIII) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a de não sofrer o arbítrio da coerção estatal

45

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Celeridade e efetividade da prestação jurisdicional. Insuficiência da reforma das leis processuais. Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, Porto Alegre, v. 1, n. 36, p.19-37, jul./ago. 2005, p. 27.

46

CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 32. 47

BARBOSA, Joaquim, [s/d] apud RAMOS, Sergio da Costa. Fundar um novo. Diário Catarinense, Florianópolis, 4 jan. 2010. Blogs, p. 29.

(28)

representado pela privação cautelar da liberdade por tempo irrazoável ou superior àquele estabelecido em lei.48

Em essência, os autores identificados nos textos transcritos expressam as implicações entre o processo e a morosidade processual ou jurídica, cujas causas e soluções serão abordadas no próximo capítulo.

48

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 85237/DF – Distrito Federal. Habeas Corpus. Relator(a): Min. Celso de Mello. Julgamento: 17/03/2005. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=(85237 .NUME. OU 85237 .ACMS.)&base=baseAcordaos>. Acesso em 10 abr. 2010.

(29)

3 O PODER JUDICIÁRIO: MOROSIDADE X EFETIVIDADE

3.1 PODER JUDICIÁRIO: CAUSAS DA MOROSIDADE

Alencar Frederico, em extensa pesquisa, descortinou um panorama sinótico, no qual condensa as mais expressivas causas da justiça tardia.

Segundo ele, a doutrina processual separa em três grupos as possíveis causas que concorrem para a morosidade da prestação jurisdicional49:

Os fatores sociais que englobam:

a) a questionável formação dos lidadores do Direito ou da mentalidade litigante;

b) o espantoso crescimento das demandas; c) o aumento populacional;

d) a conscientização dos direitos por partes dos indivíduos;

e) o inconformismo das pessoas, do próprio Estado e dos demais entes de Direito Público.

Os fatores burocráticos que podem ser resumidos em: a) o excessivo apego ao formalismo;

b) as deficiências de materiais, estruturais e organizacionais; c) inadequação do espaço físico;

d) número reduzido de Juízes, de auxiliares da Justiça e pessoal de apoio.

Os fatores legislativos que simbolizam: a) a inflação legislativa;

b) a ineficiência do legislativo, que tem como exemplo o tempo dispensado à aprovação do Novo Código Civil de 2002 - quase 30 anos, e da Emenda Constitucional nº 45/2004 - 13 anos;

c) a baixa contribuição dos órgãos representativos; d) a falta de tecnicidade das leis processuais;

49

FREDERICO, Alencar. O direito constitucional à celeridade do processo e a ineficácia da lei n. 11.187/2005 para protegê-lo. Piracicaba, 2008. Disponível em:

(30)

e) a complexidade do sistema recursal.

A priori, estes motivos geradores da morosidade processual e do Judiciário, em si mesmos, parecem ser singelos. Contudo, eles também são reconhecidos e apontados por insignes juristas e doutrinadores, bem como por aqueles que militam nas searas do Direito, sob outras facetas, mas que, em essência, exprimem o mesmo entendimento.

Relativamente às causas da lentidão da Justiça, inicialmente, da erudição de Mariza do Nascimento Silva Pimenta-Bueno, extrai-se:

Inadequação das leis processuais:

Não há como se negar que a lentidão da justiça deriva, em larga medida, da inadequação das leis processuais vigentes – inclusive do sistema de recursos excessivamente generoso que as mesmas encerram – à dinâmica das relações sociais contemporâneas e às demandas de massa; da inflação legislativa e da má-técnica legislativa revelada na elaboração de tantas e tantas leis, bem como na proliferação do uso de conceitos abertos e indeterminados na formulação das leis, o que, como já foi observado, em muito dificulta a atividade do julgador.50

Humberto Theodoro Junior reitera alguns dos fatores supra-apontados, considerando entravantes à celeridade processual, dentre muitos outros, os seguintes:

Inexistência de racionalidade administrativa

Não há o mínimo de racionalidade administrativa, já que inexistem órgãos de planejamento e desenvolvimento dos serviços forenses, e nem mesmo estatística útil se organiza para verificar onde e porque se entrava a marcha dos processos.51

Excessiva burocratização do Poder Judiciário

O Poder Judiciário, é lamentável reconhecer, é o mais burocratizado dos Poderes estatais, é o mais ineficiente na produção de efeitos práticos, é o mais refratário à modernização, é o mais ritualista; daí sua impotência para

50

PIMENTA-BUENO, Mariza do Nascimento Silva. Considerações acerca das condições de

possibilidade do acesso efetivo à Justiça: obstáculos a serem transpostos e propostas tentativas para o seu enfrentamento, no âmbito dos Juizados Especiais Federais. In: CUNHA, José Ricardo (Org.). Direitos humanos e poder judiciário no Brasil: federalização, lei Maria da Penha e juizados especiais federais. 1. ed. Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, Centro de Justiça e Sociedade, 2009. p. 95.

51

(31)

superar a morosidade de seus serviços e o esclerosamento de suas rotinas operacionais.52

Ausência de conscientização e modernidade dos órgãos e

auxiliares judiciais

Urge, pois, além de conscientizar o judiciário e os órgãos auxiliares da necessidade de modernização, impor-lhes normas destinadas a romper a rotina, a ineficiência, o anacronismo, a lerdeza e a injustiça, que a tanto equivale a justiça tardia.53

Inércia dos auxiliares ou agentes judiciais

O que retarda intoleravelmente a solução dos processos são as etapas

mortas, isto é, o tempo consumido pelos agentes do Judiciário para resolver

a praticar os atos que lhes competem. O processo demora é pela inércia e não pela exigência legal de longas diligências.54

Demasiada valoração do direito cívico de recorrer à justiça

Após a implantação da democracia ampla com a valorização do direito cívico de todos serem ouvidos em juízo, o volume dos processos, em todos os segmentos da jurisdição, tornou-se explosivo. Seu crescimento é incessante. Reconhece–se estar ocorrendo, em toda parte, uma verdadeira euforia no ânimo de demandar.55

João Otávio de Noronha, Ministro do STJ, também desperta a atenção para alguns pontos que atrasam a dinâmica do Judiciário. São eles:

O desprestígio das sentenças proferidas em 1º e 2º graus

É preciso prestigiar os tribunais de primeiro e segundo grau. Esses juízes não podem ser apenas uma passagem para os tribunais superiores. A esses juízes cabe fazer a justiça, examinando as provas. [...] No Brasil, pegou-se o hábito de recorrer. Todos esperam contar com um tempinho, quando não com uma surpresa: contar com a perda de prazo por alguém e ganhar a demanda não no direito, mas no processo.56

52

THEODORO JÚNIOR, 2005, p. 30. 53

PACHECO, José da Silva, [s/d] apud THEODORO JÚNIOR, loc. cit. 54

THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 31. 55

Ibid., p. 33. 56

ASSEF, Andrea; FELIX, Jorge. Tribunais superiores devem ser para poucos. Entrevista com João Otávio de Noronha. Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial – ETCO, Ano 03, n. 05, p. 16-19, set. 2006. Disponível em: <http://www.etco.org.br/user_file/revista/etco_05.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2010.

(32)

Carência de conscientização ética da advocacia para impedir a

proliferação de recursos

Não se deve deixar de entender que tudo que se exerce exige o mínimo de razoabilidade e de conduta ética. Nós precisamos olhar esse comportamento à luz destes parâmetros: é razoável lançar mão de recursos com teses sabidamente irrelevantes ou sem nenhuma chance de prosperar? Isso ocorre em larga escala no Brasil. Não se avalia o êxito.57

Zélio Maia da Rocha aponta como fator básico da morosidade judicial a imprecisão ou lacuna do legislador constituinte. No entender deste autor, o indefinir da expressão “prazo razoável” constante no artigo 5º, inciso LXXVIII do Magno Texto é preocupante. Ele pondera: “Outro problema diz respeito à definição de prazo razoável. O que se pode definir como prazo razoável? A complexidade de tal indagação merece reflexão”.58

Antonio Cesar Bochenek caracteriza como responsável pela lentidão do Judiciário o nascimento de novas espécies de conflitos. Defende esta alegação, aduzindo que da análise da doutrina e da bibliografia inerente a esta problemática, observa-se que muitas são as causas que acarretam a demora processual. Contudo, lato sensu, há uma concordância no mundo jurídico de que, nos últimos anos, a litigação sofreu um vertiginoso acréscimo. Este incremento processual relaciona-se com as mudanças sociais decorrentes da globalização e de uma sociedade cada vez mais industrializada e tecnizada, que tende a desrespeitar direitos e garantias.59

Assim, novas espécies de problemas têm surgido, sendo que as questões envolvem matérias complexas, como a eutanásia, a bioética, a genética, a globalização, células-tronco, homo-afetividade, a computação e seus liames virtuais, a cessão e transplantes de órgãos, tráfico internacional de drogas, a nanotecnologia, a pedofilia, violência excessiva, etc.60

Nestas ações, é exigido do julgador ciência, saber, pesquisa e, consequentemente, tempo.

57

ASSEF; FELIX, 2006, p. 16-17. Acesso em: 23 abr. 2010. 58

ROCHA, Zélio Maia da. A reforma do judiciário: uma avaliação jurídica e política. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 20.

59

BOCHENEK, Antonio Cesar. Poder judiciário no século XXI - democratização da administração da justiça. [s/d]. Revista Online. Instituto Brasileiro de Administração do Sistema Judiciário – IBRAJUS. Disponível em: <http://www.ibrajus.org.br/revista/artigo.asp?idArtigo=95>. Acesso em: 15 abr. 2010.

60 Ibid.

(33)

José Renato Nalini, mestre em Direito Constitucional, acentua que se destaca como fator preponderante de inércia deste poder a sofisticação e custos do processo. Sobre o fator, comenta:

O processo brasileiro ainda é sofisticado demais, considerada a heterogeneidade da sociedade nacional e, principalmente, a situação de penúria da grande maioria da população.

Verdade que convivem no Brasil realidades múltiplas e díspares. O processo vem se pautando por um nível superior, como se a imensa maioria dos destinatários não fosse a legião dos despossuídos.61

Dentre as razões da morosidade da justiça, Domingos Franciulli Netto frisa que um dos motivos mais sérios da ineficaz prestação jurisdicional é a busca do ideal idealíssimo de Justiça. Ele adverte:

O processo civil existente nos países que perfilham o sistema continental europeu, dentre os quais se inclui o Brasil, está assentado numa acendrada volúpia de intensa e incansável busca do ideal idealíssimo de justiça. [...].

Tudo parece lastrear-se não só a uma irrefreável procura de uma justiça imaginária, como também na pilastra de que a verdade raramente existe nas primeiras decisões judiciais. O lema é o de esgotar-se todos os recursos possíveis e impossíveis. As instâncias devem ser, uma a uma, todas vencidas. Para tudo busca-se sempre o pronunciamento dos Tribunais Superiores.62

Por sua vez, José Rogério Cruz e Tucci menciona como inibidores da rapidez judicial os vetores de ordem política, econômica e social. Aduz que outrora, quanto à morosidade da justiça, ganharam destaques os pontos vinculados à natureza do problema. Todavia, não foi frisado que a questão pode estar correlacionada a vetores de ordem política, econômica e cultural. Ressalta o jurista que grande parte do panorama hoje existente no Judiciário é consequência do quadro econômico e político do País.63

61

NALINI, José Renato. Morosidade do judiciário: causas normativas, conjunturais e culturais:

proposta de enfrentamento. Revista Forense, São Paulo, Ano 104, v. 399, p. 129-144, set./out. 2008. p. 131.

62

FRANCIULLI NETTO, Domingos. O ideal idealíssimo, o ideal realizável e o processo de resultados. 2003. Disponível em:

<http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/1973/O_Ideal_Idealissimo_o_Ideal.pdf?sequence= 1>. Acesso em: 15 abr. 2010.

63

CRUZ E TUCCI, Jose Rogério. Garantia da prestação jurisdicional sem dilações indevidas como corolário do devido processo legal. Revista de Processo, São Paulo, RT, v. 17, n. 66, p. 72-78, abr./jun. 1992. p. 66-73.

(34)

O Ministro Luiz Fux aponta duas causas como responsáveis pela lentidão judiciária:

Dissonância entre a lei e os anseios sociais

A crise hoje vivenciada tem dupla ratio essendi: a “dissintonia entre a lei e os anseios sociais” e a “ineficiência da realização da justiça”.

A lei, como regra de conduta, no seu amplo espectro de regulação das atividades humanas, tem-se revelado afastada das expectativas da comunidade.

A justiça, por sua vez, se apresenta ineficiente e incapaz de cumprir o sumo postulado enunciado pelos jurisconsultos romanos de perpetua voluntas unicuique suum triibuendi (a vontade perpétua de dar a cada um o que é seu), quer pelas desigualdades que encerra, quer pela tardança da prestação jurisdicional, quer pela qualidade da resposta judicial.64

Crise da lei e dos paradigmas

A crise da lei representa a “crise dos paradigmas”. O modelo de legalidade liberal individualista revela-se ineficaz aos olhos da nova sociedade de massa. Magnífica transformação sofreu a concepção dos direitos desde a sua percepção jusnaturalista, fruto dos fecundos debates da Idade Média, transpassando o racionalismo decorrente da primazia do individualismo pregado pela Revolução Francesa e pela humanização das encíclicas papais contra os rigores do capitalismo, até desembocar na nova “Era dos Direitos” não mais individuais senão “coletivos ou supra-individuais”.65

Foram elencadas, de modo prático, as principais causas que atravancam o Judiciário, resultando no acúmulo de demandas judiciais. A seguir, destacam-se algumas das atitudes tomadas pela Justiça visando remediar a situação.

3.2 MEDIDAS CAPAZES DE PROPICIAR EFETIVADE À JUSTIÇA BRASILEIRA

3.2.1 As Convenções internacionais

A busca da efetividade da justiça alastra suas fronteiras na história, é antiga e universal. Tanto assim é que, em 04 de novembro de 1950, os ministros de

64

FUX, Luiz. O que se espera do direito no terceiro milênio, frente às crises das leis, da justiça e do ensino jurídico. 1998. p. 02. Disponível em:

<http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/8659/O_que_se_Espera_do_Direito_no_Terceiro. pdf?sequence=3>. Acesso em: 10 abr. 2010.

65 Ibid.

(35)

quinze países europeus, reunidos em Roma, firmaram a Convenção Européia para a Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, a qual em seu artigo 6º, 1, determina:

Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada, equitativa e publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e imparcial, estabelecido pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação dos seus direitos e obrigações de carácter civil, quer sobre o fundamento de qualquer acusação em matéria penal dirigida contra ela. [...].66

Em 22 de novembro de 1969 foi assinada a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), a qual assegura em seu artigo 8º, 1 o seguinte:

Artigo 8º - Garantias judiciais

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.67

Esta Convenção passou a ter eficácia internacional em 18 de julho de 1978, sendo adotada em nosso País em 25 de setembro de 1992 e promulgada pelo Decreto nº 678, de 06 de novembro de 1992.

3.2.2 Fatos a se combater a fim de se obter celeridade processual

No Brasil, Mariza do Nascimento Silva Pimenta-Bueno ressalta que para aprimorar a eficiência do Judiciário é necessário, dentre muitos outros fatores, impedir a “explosão de litigiosidade”, combatendo:

a litigiosidade especulativa, mediante a qual a parte autora visa resgatar por meio do Judiciário a dívida social que entende existir em seu desfavor, 66

CONVENÇÃO EUROPÉIA DOS DIREITOS DO HOMEM. Convenção para a protecção dos direitos do homem e das liberdades fundamentais. 1950. Disponível em:

<http://www.cidadevirtual.pt/cpr/asilo1/cesdh.html>. Acesso em: 20 mar. 2010. 67

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS. Pacto de San José. 1969. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/oea/oeasjose.htm.>. Acesso em: 20 mar. 2010.

(36)

mediante a formulação de um pedido tão genérico quanto possível, de modo a cobrir todo e qualquer direito a que porventura possa fazer jus, ou, alternativamente, mediante a formulação de uma multiplicidade de pedidos, em uma mesma ação ou em uma gama de ações, “atirando em todas as direções”, visando o reconhecimento de algum direito que eventualmente possua.

[...].

a litigiosidade provocada é a que decorre da prática tantas vezes adotada pelos agentes administrativos de autarquias e empresas públicas, bem como daqueles que atuam na esfera privada, de negar ao jurisdicionado um direito que é de fato seu, forçando-o a dirigir-se ao Poder Judiciário para lograr obter o reconhecimento e a concretização efetiva do direito em questão.68

É conveniente salientar que, na Justiça do Trabalho, a grande maioria dos litígios tem nestas premissas suas origens e fundamentos. Continua a mesma autora:

a litigiosidade simulada, a parte autora, ainda que sabedora de que não faz jus ao direito que postula em juízo, busca o Poder Judiciário, para, valendo-se das regras processuais e da propalada morosidade da Justiça, postergar o cumprimento de suas obrigações para com a parte ré. Isto ocorre, com freqüência, no processo de execução, sobretudo quando a parte ré, vencida na ação de conhecimento, embarga a execução, verificando que pode obter uma rentabilidade maior para o capital que terá que desembolsar para pagar a parte vencedora dos que os juros moratórios que lhe poderão vir a ser impostos e dos honorários de sucumbência a que eventualmente possa vir a ser condenada nos Embargos à Execução.69

No pensar de Joaquim Falcão, Diretor da Fundação Getúlio Vargas, três medidas deveriam ser operacionalizadas para atacar a morosidade da justiça: “a produção de estatísticas sobre o funcionamento do Judiciário brasileiro; a formação dos juízes e a reforma gerencial”.70

Quanto à primeira causa, denota-se, pois, que o Judiciário Brasileiro precisa se conscientizar da necessidade de elaborar dados estatísticos para aumentar o conhecimento de si mesmo, a fim de que seja possível apontar seus pontos sensíveis e de maior fragilidade.

Dissertando sobre as outras duas, frisa Joaquim Falcão:

No que tange à formação dos juízes, começa a crescer entre nós – a meu ver, acertadamente, já que, em nosso país, optamos por um Judiciário onde a máquina judicial é administrada pelos próprios juízes, ao invés de por técnicos especializados – a percepção de que é necessário que a formação 68

PIMENTA-BUENO, 2009, p. 101. 69

Ibid., p. 101-102. 70

(37)

dos juízes passe a incluir, além de conhecimentos jurídicos, conhecimentos de administração e gerência, já que estes serão requeridos na gestão das serventias judiciais.71

Constata-se, portanto, que as pesquisas empreendidas por Mariza do Nascimento Silva Pimenta-Bueno encontram apoio em outros estudiosos, que concordam, principalmente, sobre a necessidade de dados estatísticos e a formação complementar dos Juízes, objetivando eficácia e celeridade judiciais.

3.2.3 A Emenda constitucional nº 45 de 08 de dezembro de 2004

No Brasil, um dos passos mais significativos para agilizar a justiça foi a aprovação da Emenda Constitucional nº 45 de 08 de dezembro de 2004. Após anos de tramitação, ficou conhecida como “Reforma do Judiciário” e, em seu texto, foram materializadas um contingente de inovações positivas, tudo na esperança de se conferir maior presteza, agilidade e eficácia ao Poder Judiciário Brasileiro.

Correlacionada direta e especificamente à problemática da morosidade do Judiciário, como já foi dito, a aludida EC 045/2004 inovou em alguns aspectos a vigente Carta Magna, alterando, também, a redação textual de alguns de seus artigos.

Em atenção aos objetivos desta monografia, sobre a referida EC, analisam-se, a seguir, as principais modificações que incidiram ou contribuíram mais especificamente para a dinamicidade do Judiciário.

1 Ponderando sobre os alicerces das correntes jurídico-doutrinárias modernas, que propagam que o acesso à justiça não significa apenas cientificar ao Judiciário as ameaças e violações dos direitos e garantias invioláveis dos cidadãos que desfrutam politicamente do regime democrático, o legislador incluiu no artigo 5º do Magno Texto um novo inciso, nos seguintes termos: “LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.72

71

FALCÃO, Joaquim, [s/d] apud PIMENTA-BUENO, 2009, p. 85. 72

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Texto original. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/22/Consti.htm>. Acesso em: 03 mar. 2010.

Referências

Documentos relacionados

Notamos, portanto, que desde cedo Eça de Queirós já desenvolvia suas aptidões jornalísticas (apenas com 21 anos, no Distrito de Évora). Em maio de 1870 iniciou a

Os principais objetivos deste projeto são o aumento da rentabilidade da unidade de Vilela, através da imputação de parte dos custos fixos aos produtos

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

The challenges of aging societies and the need to create strong and effective bonds of solidarity between generations lead us to develop an intergenerational

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

E, quando se trata de saúde, a falta de informação, a informação incompleta e, em especial, a informação falsa (fake news) pode gerar danos irreparáveis. A informação é

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados