Destaque Depec - Bradesco
Ano XIV - Número 174 - 15 de março de 2017
Ariana Stephanie Zerbinatti
Indicadores antecedente e coincidente (média 2010 = 100)
Indicadores antecedentes corroboram cenário de recuperação
gradual da atividade econômica
Os sinais de estabilização e posterior recuperação da economia ganharam peso nas últimas semanas, com alguns dos indicadores divulgados recentemente sugerindo melhora da atividade, ainda que de forma gradual. De
fato, além da flexibilização da política monetária, destacamos os dados da arrecadação de impostos e de tributos da Receita Federal que apresentaram alta real na margem em janeiro, com quedas menores das receitas advindas de impostos relacionados à atividade, como IPI, e o crescimento das importações tanto em janeiro quanto em fevereiro. Ademais, diversos indicadores antecedentes acompanharam o movimento, com a continuidade do avanço da confiança, do consumidor e de diversos setores em fevereiro, e da melhora dos preços de ativos.
Destacamos também o desempenho positivo de outros indicadores antecedentes menos conhecidos neste início de ano, que também trazem informações adicionais sobre a intensidade da retomada da atividade.
Elencamos a seguir alguns desses dados que julgamos ser mais relevantes e que sintetizam nossa visão de recuperação. Vale destacar que, apesar do nome, os indicadores antecedentes se movem simultaneamente às variações dos dados macroeconômicos, como o PIB e os investimentos. Assim, podem ser considerados antecedentes no
sentido de que são divulgados antes dos demais, mas são coincidentes aos dados.
Replicamos os indicadores antecedente e coincidente produzidos pela FGV em parceria com o The Conference Board, usando as nossas estimativas para as variáveis que ainda não foram divulgadas. O primeiro índice é formado
pelas variações dos indicadores de expectativas da indústria, de serviços e dos consumidores, do Ibovespa, dos termos de troca, da produção de bens duráveis, do quantum exportado e das taxas de juros do mercado, com pesos diferentes para cada um dos componentes. De acordo com nossos cálculos, o índice antecedente apresentou melhora expressiva em janeiro, refletindo o desempenho positivo de quase todos os seus itens, seguindo sua trajetória ascendente desde o segundo trimestre de 2016. Já o indicador coincidente, que guarda maior correlação com o PIB, é calculado a partir das variações da produção industrial, das vendas do varejo, do consumo de energia, das vendas de papelão ondulado, da população ocupada e do rendimento médio nominal, também com pesos diferentes para cada item. O indicador, que havia recuado ao longo de 2015 e de 2016, passou a exibir altas na margem a partir de novembro do ano passado, sugerindo crescimento de 0,2% do PIB neste primeiro trimestre, ligeiramente abaixo da nossa expectativa de alta de 0,1%.
100,1 103,4 107,5 111,0 108,1 105,1 82,6 96,7 76,2 104,7 107,1 86,7 92,9 95,8 70 75 80 85 90 95 100 105 110 85 90 95 100 105 110 115 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Coincidente
Antecedente (eixo da direita)
Destaque DEPEC - Bradesco
Fonte: Bradesco
Indicadores antecedente e coincidente e PIB – Variação trimestral Indicador de incerteza e variação interanual de FBCF (eixo invertido) Indicador de Incerteza e FBCF – Variação interanual -15,0 -12,0 -9,0 -6,0 -3,0 0,0 3,0 6,0 9,0 12,0 -5,0 -4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 dez /05 jun/ 06 dez /06 jun/ 07 dez /07 jun/ 08 dez /08 jun/ 09 dez /09 jun/ 10 dez /10 jun/ 11 dez /11 jun/ 12 dez /12 jun/ 13 dez /13 jun/ 14 dez /14 jun/ 15 dez /15 jun/ 16 dez /16 jun/ 17 dez /17
PIB (eixo da esquerda) Coincidente Antecedente
A redução das incertezas no ambiente macroeconômico também aponta para retomada da atividade. Os dois indicadores de incerteza que acompanhamos, ainda que apresentem metodologias distintas, sugerem recuperação gradual do PIB e dos investimentos à frente. O
primeiro deles, que leva em consideração a confiança da indústria, a demanda, produção e emprego industriais da Sondagem da Indústria da FGV, a taxa de câmbio e as expectativas do mercado de inflação e de crescimento do PIB, apresentou queda importante em janeiro e estabilidade em fevereiro. Com isso sinaliza recuo interanual menos intenso da formação bruta de capital fixo (FBCF) no primeiro trimestre.
Acreditamos que o indicador continuará melhorando nos próximos meses, diante das expectativas cadentes de inflação, do menor ajuste do mercado de trabalho e da estabilização cambial. Assim, fizemos uma simulação na qual o índice de incerteza recuaria gradativamente ao longo do ano, atingindo o mesmo patamar médio de 2013 no final deste ano, para analisarmos qual seria a trajetória de FBCF nessas condições. Os resultados encontrados mostram que o comportamento dos investimentos seria bastante semelhante ao contemplado no nosso cenário, no qual a FBCF encerra este ano apresentando elevação interanual de 5,6% (linha pontilhada no gráfico a seguir). 104,6 96,9 98,5 100,2 105,2 101,6 -7,4% 7,2% 13,8% 0,5% -9,7% 29,6% 7,0% -0,7% -7,1% -17,1% -9,1% 2,0% -27,0% -17,0% -7,0% 3,0% 13,0% 23,0% 33,0% 96,0 97,0 98,0 99,0 100,0 101,0 102,0 103,0 104,0 105,0 106,0 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Incerteza
FBCF YoY (eixo invertido)
13,8% 17,2% -9,7% 29,6% -0,7% 7,9% -7,1% -8,4% 2,0% -0,7% 15,4% 7,7% -6,9% -19,7% 4,8% -27,0% -17,0% -7,0% 3,0% 13,0% 23,0% 33,0% 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Efetivo Modelo
O segundo indicador de incerteza, que é calculado pela FGV, também recuou nos primeiros dois meses deste ano. Esse índice é formado, majoritariamente,
pela frequência com que notícias que mencionam incerteza aparecem na imprensa e, em menor medida, pelas dispersões das previsões para a taxa
Destaque DEPEC - Bradesco
Indicador de incerteza FGV Índice de condições financeiras – Brasil Fonte: Bradesco Indicador de Incerteza FGV e PIB – Variação interanualde câmbio e o IPCA e pela volatilidade do mercado financeiro. Por conta dessa composição, o indicador também possui elevada volatilidade. Ao contrário do sugerido por alguns estudos que buscam estimar os investimentos com base em índices de incerteza
construídos de forma semelhante1, os dados
apresentam maior correlação com o PIB agregado. Ao realizarmos simulação semelhante à anterior, também encontramos trajetória próxima à esperada pelo nosso cenário.
1 Como apresentado em Policy Uncertain and Corporate Investment, de Huseyin Gulen e Mihai Ion. Disponível em:
https://academic.oup.com/rfs/article-lookup/doi/10.1093/rfs/hhv050
2 Destaque Depec-Bradesco n°171. Disponível em: http://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/destaque_depec_bradesco_23_02_17_
v3.pdf
O ICF é construído a partir de análise de componentes principais, e leva em consideração cinco subíndices: custo de oportunidade (que inclui CDS e taxa Selic, por exemplo), crédito bancário (como concessão e taxa de inadimplência), agregados monetários (meios de pagamento), mercado de capitais
91,9 111,1 121,9 106,2 84,2 135,6 127,6 109,7 91 145,7 120,8 136,4 118,8 80,0 90,0 100,0 110,0 120,0 130,0 140,0 150,0 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Indicador de incerteza FGV Fonte: FGV, Bradesco 2,2% 6,9% 9,2% -0,5% -2.8% 2,1% 6,4% -4,2% 4,5% -2,5% 5,6% 2,9% -1,5% -1,0% 3,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 Efetivo Modelo Fonte: FGV, Bradesco
Por fim, como já mencionamos anteriormente2,
o indicador de condições financeiras (ICF) continuou cedendo em janeiro e em fevereiro.
A queda foi puxada pela melhora do setor externo
e do mercado de capitais. Além disso, ainda que timidamente, o custo de oportunidade cedeu na margem, diante da redução da taxa Selic e do CDS, que mensura o risco país.
-2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17
Setor externo Mercado de capital Agregados monetários Crédito bancário
Custo de oportunidade Agregado condições financeiras apertadas
condições financeiras mais frouxas
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Dessa forma, esses dados mencionados corroboram nossa expectativa de retomada gradual da atividade econômica. Apesar de os indicadores
antecedentes apresentados sugerirem resultado positivo do PIB já neste primeiro trimestre, com melhora da confiança e dos preços de ativos, corte da taxa de juros e redução da incerteza macroeconômica, é importante aqui fazer duas ressalvas. A primeira delas diz respeito ao desempenho misto dos
indicadores coincidentes neste início de ano. Embora o número de resultados positivos tenha crescido, ainda observamos queda em alguns segmentos da economia. A segunda, assim, está relacionada à alta do PIB estimada para o primeiro trimestre, que deverá ser impulsionada pela safra recorde de grãos. Somando esses dois fatores, esperamos que indústria e serviços mostrem alguma recuperação apenas no segundo trimestre.
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