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RECURSOS LINGUÍSTICO-ARGUMENTATIVOS NO GÊNERO EDITORIAL

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Academic year: 2021

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RECURSOS LINGUÍSTICO-ARGUMENTATIVOS NO GÊNERO EDITORIAL

Marco Aurélio Henriques da SILVA (PG- UEL) Sonia ALVES (PG- UEL)

Introdução

Sabemos que os alunos já chegam à escola com sua própria competência discursiva e linguística. O papel do professor então é trabalhar e aprimorar essas competências, contando, para isso, com aportes teóricos e metodológicos propostos na área da educação tanto pelos especialistas, bem como pelos documentos norteadores da educação.

E, a partir desses critérios, deve haver a seleção de textos que privilegiem os gêneros textuais que aparecem com maior frequência em sua realidade social, quais sejam, notícias, editoriais, cartas argumentativas, verbetes enciclopédicos entre outros.

Cabe ao professor e à escola preparar esse aluno para assumir uma postura quanto ao seu amadurecimento discursivo em sua prática cotidiana, permitindo o aperfeiçoamento linguístico, possibilitando-lhe constante letramento.

O presente artigo, partindo do viés interacionista, propõe uma atividade de análise linguística dentro da relação uso – reflexão – uso, uma vez que acreditamos ser essa relação um dos meios de levarmos o educando às reflexões reais do uso da linguagem. A esse respeito, GERALDI (2004, p.74) nos fala que:

“A análise linguística inclui tanto o trabalho sobre as questões tradicionais da gramática quanto questões amplas a propósito do texto, entre as quais vale a pena citar: coesão e coerência internas do texto; adequação do texto aos objetivos pretendidos; análise dos recursos expressivos utilizados; organização e inclusão de informações, etc.”.

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Para isso, analisaremos o gênero Editorial, com breve resumo das suas

características, priorizando os conectores argumentativos, especificamente as conjunções, demonstrando seu papel e importância na construção de um texto.

Em consonância com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa (2008) em seu tópico “Análise Linguística e as Práticas Discursivas”, que enfatiza a reflexão linguística, observando a análise do uso da língua:

“Quando se assume a língua como interação, em sua dimensão linguístico-discursiva, o mais importante é criar oportunidades para o aluno refletir, construir, considerar hipóteses a partir da leitura e da escrita de diferentes textos”. (p.60)

Assim, cabe ao professor de língua portuguesa criar tais oportunidades, levando o alunado à apropriação dos resultados inerentes da interação discursiva e linguística. Dessa forma, ele poderá fazer suas próprias leituras e análises dos diferentes gêneros textuais que o cercam diariamente, sendo capaz inclusive, de se manifestar de forma ativa também por meio deles.

1. A argumentação

O termo argumentação está relacionado intrinsicamente com o texto, que por sua vez relaciona-se com o ato de interação social, no qual o homem se faz sujeito diante da comunicação, podendo ser manipulado, se não estiver atento ou preparado para ler e interpretar, inclusive, as entrelinhas.

Argumentar assim é o ato linguístico fundamental nessa relação. De acordo com KOCH (2002, p.10): “o ato de argumentar é visto como o ato de persuadir, que procura atingir a vontade, envolvendo a subjetividade, os sentidos, a temporalidade, buscando adesão e não buscando certeza”, ou seja, somente por meio da argumentação que se consegue manipular ou convencer o outro, sendo ainda eficaz para o entendimento entre interlocutores. O ato

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de argumentar antes de qualquer coisa é um ato politico, no qual o púlpito do locutor é o texto, verbal ou não.

Partindo do prisma de que “argumentar é levar a crer, é a arte de convencer e persuadir” assim como defende CORDEIRO (2007, p. 36), percebemos a distinção entre os termos persuadir e

convencer, embora ambos façam parte da relação linguística, do jogo discursivo, uma vez que argumentação é ação.

E tal ação só se concretiza na relação com o outro, ou seja, o interlocutor. Conforme esclarece BAKHTIN (1981, p. 113):

“Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede „de‟ alguém como pelo fato de que se dirige „para‟ alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte”.

Pensando no texto como meio e instrumento concreto dessa relação, MELLO afirma que:

“a argumentação é um instrumento eficaz para a leitura e interpretação de textos, capaz de levar o leitor a exercer, conscientemente, o seu sentido crítico e o seu juízo” (2002, p. 451). Ou seja, a argumentação é o meio pelo qual o leitor é manipulado, mas se todos os fatores forem trabalhados de forma a aprimorar seus recursos cognitivos, o leitor este só será convencido, caso deseje.

1.1. Operadores Argumentativos

Os operadores argumentativos são os elementos da gramática responsáveis por não só ligar uma oração à outra, como também dar sentido a ambas. Na visão defendida por CORDEIRO (2007, p. 40):

“Os operadores argumentativos são elementos da gramática de uma língua que indicam a força argumentativa dos enunciados, ou seja, orientam o interlocutor para certos tipos de conclusões, com exclusão de outros”.

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São recursos dos quais o locutor toma posse, no ato comunicativo, a fim de

orientar seu falante, sugerindo ou até mesmo despistando-o, conforme sua intenção; servem ainda para vincular duas unidade de sentido e conferirem um papel argumentativo nesta relação.

1.1.2. Conjunções

Uma definição, segundo a gramática normativa, no que se refere ao termo conjunção é:

“Conjunções são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração. As conjunções que relacionam termos ou orações de idêntica função gramatical têm o nome de coordenativas. [...] Denominam-se subordinativas as conjunções que ligam duas orações, uma das quais determina ou completa o sentido da outra” (CUNHA, 2008, p. 593). A definição gramatical para a conjunção é coerente com a prescrição normativa, porém sabemos que, muitas vezes, será o contexto quem definirá sua função. Concordando com Cunha e os próprios Parâmetros Curriculares, a gramática deve ser analisada de forma contextualizada, ou seja, é só por meio do contexto em que está inserida a oração que ela ganha sentido e, no caso das conjunções, não é diferente.

No que CUNHA (2008, p. 604) enfatiza sobre as conjunções subordinativas:

“Algumas conjunções subordinativas (que, como, porque, se, etc.) podem pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor está condicionado ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de ambiguidade, pois que há circunstâncias fronteiriças: a condição de concessão, o fim da consequência, etc.” (grifo nosso)

As conjunções são responsáveis não só por ligar dois termos da oração, mas também dar sentido, enfatizar, dar pistas, criar dúvidas no leitor, esclarecer, convencer, persuadir, etc. Em consonância com BRÉAL:

“[...] As conjunções que marcam os diferentes membros do meu raciocínio referem-se à parte subjetiva. Elas evocam o entendimento, elas

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o tomam como testemunhas da verdade e do encadeamento dos

fatos. Elas nãosão então, da mesma ordem que as palavras que me servem para expor os fatos por si só” (1921, p. 237).

Sendo assim, tais elementos “corroboram a significação plena do texto” (CORDEIRO, 2007, p. 43).

2.0 Editorial

O Gênero Editorial é geralmente vinculado às revistas, aos jornais e traz um resumo do assunto principal do qual tratará o veiculo em determinada edição. Aponta a opinião de forma implícita ao leitor e, justamente por circular de forma abrangente e constante na sociedade como um todo, ou seja, em diferentes camadas sociais, o tomamos como exemplo para comprovar a importância da ação do uso dos conectivos e, neste caso, especificamente das conjunções na construção do texto. Nesse trabalho, analisamos o editorial da Revista VEJA, edição 2315, de 03 de abril de 2013, cujo tema principal trata da PEC das domésticas, ou seja, da criação de um pacote com novas leis trabalhistas que envolvem diretamente a vida dos trabalhadores domésticos, conforme texto a seguir.

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Figura 1 – Carta ao leitor - Revista VEJA “Preparem os aventais”

No texto, o autor faz uso das conjunções de maneira constante. Tendo o texto 60 linhas, identificamos pelo menos trinta conjunções, sendo quinze aditivas (“e”), as quais foram utilizadas ora para apontar falhas em outros projetos de leis já implantados pelos governos, ora para emitir sua opinião de maneira implícita e irônica sobre elas.

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Como na linha 02 do primeiro parágrafo onde “nem” é usado como conjunção aditiva e precede uma explicação do autor, que de maneira implícita, fala de vários outros projetos antes criados e que, não resolveram os problemas sociais como moradia e saúde. Também na linha 15 do mesmo parágrafo, o autor se utiliza de duas conjunções adversativas “mas” e “apesar de” para enfatizar a inutilidade dos tantos arrimos legais já implantados no Brasil em nome do progresso.

O texto, extremamente coeso, precisa de um “segundo olhar” para que o leitor perceba a mensagem crítica em relação à criação do pacote. Só entenderá a intenção política presente no editorial, o leitor que tiver competência para ir além dos vocábulos, e este é o leitor que precisa ser formado por nós, professores. O que ele fará com a informação que obtiver, será questão individual, mas ao menos ele conseguirá optar por leituras e interpretações diversas e só se deixará persuadir, se realmente for sua vontade.

Considerações finais

Em vista do que foi exposto, podemos concluir que o trabalho com os gêneros, juntamente com os conectores argumentativos, contribui de forma efetiva para o amadurecimento cognitivo dos nossos alunos, levando-os a não mais lerem apenas o texto como código, ou apenas as entrelinhas, que como vimos, já seria um grande avanço por parte de todos, mas também levar o aluno a dialogar com os textos, que perpassam seu cotidiano, tendo voz ativa, sabendo usar do poder da linguagem, do poder da argumentação.

No dizer de MARCUSCHI:

“Pode-se admitir, ainda, que a língua é uma atividade cognitiva. Pois ela não é simplesmente um instrumento para produzir ou representar ideias [...]. A língua é também muito mais do que um veiculo de informações. A função mais importante da língua não é a informacional e sim a de inserir os indivíduos em contextos socio-históricos e permitir que se entendam.” (2008, p. 67)

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Assim, reafirmamos a importância de se ensinar a língua portuguesa de acordo com as propostas curriculares norteadoras e de maneira que leve nosso alunado a perceber as diferentes formas de uso da linguagem, seja na oralidade ou na escrita, a fim de prepará-los para uma realidade em que eles possam ler e escrever, de fato participando do mundo, de maneira concreta e não mais como expectadores apenas.

Referências

Bakhtin, Mikhaill. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Trad. Michel Laud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo, Hucitec, 1981.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, 3º e 4º ciclos. Brasília, MEC/SEF, 1998.

_________. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, MEC/SEF, 2006. (Orientações Curriculares para o ensino médio; vol.1)

BRÉAL, Michel. Essai de Sémantique: science des Significations. 5ª ed., Paris, Hachette, 1921. CORDEIRO, Isabel Cristina. Argumentação e leitura: uma relação de complementaridade. Tese de Doutorado. UEL, Londrina/PR, 2007.

CUNHA, Celso. CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro, Lexikon, 2008.

GERALDI, João W. O texto na sala de aula. São Paulo, Ática, 2004.

KOCH, Ingedore. Desvendando os segredos do texto. São Paulo, Cortez, 2003.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo, Parábola Editorial, 2008.

Referências

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