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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 19.508 - SC (2005/0003208-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : N L DE F RECORRENTE : C L DE F

ADVOGADO : NIVAL LINHARES DE FARIAS

T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA IMPETRADO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA COMISSÃO ESTADUAL

JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO - CEJA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA EMENTA

PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ADOÇÃO. COMPROVAÇÃO DE

VANTAGENS PARA O ADOTANDO. AVALIAÇÃO DOS

ADOTANTES E ADOTANDOS. NECESSIDADE. ATO JUDICIAL. DIREITO DO ADOTANDO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

- O Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 29 e 43 da Lei n.° 8.069/90) exige a comprovação de vantagens reais para a criança ou adolescente como condição ao deferimento da adoção. Essa comprovação se faz através da avaliação psicossocial dos adotantes e adotandos.

- Ato judicial que determina a submissão dos adotantes à avaliação psicossocial não fere direito líquido e certo dos adotantes.

- O direito de adoção não é dos pais biológicos, nem dos pais adotivos, mas do adotando.

- A adoção é uma medida de proteção aos direitos da criança e do adolescente e não um mecanismo der satisfação de interesses dos adultos.

Recurso conhecido, porém, desprovido. ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário. Os Srs. Ministros Castro Filho e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros.

Brasília (DF), 07 de junho de 2005 (data do julgamento).

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 19.508 - SC (2005/0003208-3) RECORRENTE : N L DE F

RECORRENTE : C L DE F

ADVOGADO : NIVAL LINHARES DE FARIAS

T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA IMPETRADO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA COMISSÃO ESTADUAL

JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO - CEJA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RELATÓRIO

Recurso ordinário em mandado de segurança interposto por N L DE F e C L DE F contra acórdão emanado pelo TJSC.

Mandado de segurança: impetrado contra ato supostamente ilegal

praticado pelo Exmo. Desembargador Presidente da Comissão Estadual Judiciária de Adoção - CEJA, que, em procedimento no qual desrespeitada a ampla defesa, acatou parecer elaborado por assistente social no sentido de ser recomendado ao juízo da comarca de Campo Erê (Estado de Santa Catarina) maior atenção aos processos adotivos das crianças que atualmente vivem em companhia dos ora recorrentes, em adoções "à brasileira".

Informações: a autoridade apontada como coatora informou que a

atividade praticada pelo CEJA é meramente opinativa, e que o laudo técnico foi enviado ao juízo para que este apreciasse "(...) a conveniência e oportunidade para o acolhimento das sugestões formuladas" (fls. 81). Esclarece, ainda, que o cônjuge varão compareceu e prestou depoimento no órgão, durante o trâmite do procedimento.

Acórdão: denegou a segurança, com a seguinte ementa:

"MANDADO DE SEGURANÇA - ADOÇÃO - PARECER DE ASSISTENTE SOCIAL - DIFICULDADE DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO - CONCLUSÃO - PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS JUNTO À COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO (CEJA) - CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO - PROCEDIMENTO

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LEGAL - EXEGESE DO ART. 5º, LXIX, DA CF/88 - AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO - SEGURANÇA DENEGADA.

Para deferir a segurança em favor do impetrante é necessária a comprovação do direito líquido e certo, frente ao disposto na Lei 1.533/51 e art. 5º, LXIX, da CF.

'Quando a lei alude a direito líquido e certo, está exigindo que esse direito se apresente com todos os requisitos para seu reconhecimento e exercício no momento da impetração. Em última análise, direito líquido e certo é direito comprovado de plano. Se depender de comprovação posterior, não é líquido nem certo, para fins de segurança' (Meireles, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. Pág. 35/36).

Na interpretação da lei que permite a adoção, levar-se-ão em conta os interesses das crianças e adolescentes, devendo estes prevalecerem sobre qualquer bem ou interesse juridicamente tutelado, quando seus destinos estiverem em discussão. Em epítome, deve sobrelevar a proteção dos adotandos sobre as pretensões dos adotantes " (fls. 276).

Recurso ordinário: alegam os recorrentes que a decisão proferida

determinou "(...) não fosse autorizado nenhum novo pedido de guarda ou adoção formulado pelo casal (...) e foi tomada sem que fosse observada a norma constitucional" do devido processo legal (fls. 288).

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 19.508 - SC (2005/0003208-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : N L DE F RECORRENTE : C L DE F

ADVOGADO : NIVAL LINHARES DE FARIAS

T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA IMPETRADO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA COMISSÃO ESTADUAL

JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO - CEJA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI

VOTO

Limitou-se a autoridade apontada como coatora a encaminhar o estudo realizado pela assistente social da CEJA ao juízo, para que este, se entendesse necessário, tomasse maiores cautelas a respeito da possibilidade de deferimento de novas adoções ao casal - que já conta com 21 filhos, dentre os quais apenas 2 são biológicos.

Nesse sentido, convém trazer a lembrança o disposto no artigo 43 da Lei n.° 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente): "a adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos ".

A esse respeito, o magistrado paulista Carlos Eduardo Pachi faz as seguintes observações, ao comentar o artigo em questão:

“Na diretriz estabelecida pela Lei 8.069/90, deve-se consignar que a adoção deve ser encarada sob uma nova ótica.

O Código Civil/2002 repete a regra em seu art. 1.625. A adoção deixou de ser vista como um ato de caridade, passando a ser uma forma de se ter filhos por método não biológico .

Não raro afirmar-se, quando alguém realiza uma adoção, que tal pessoa é dotada de grande espírito humanitário e está fazendo um bem a um 'menino de rua' em potencial. E, se a adoção ocorre com criança de característica racial diversa, maior é o desprendimento do adotante.

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necessidade, cada vez mais, de se criar, no País, uma cultura de adoção. A regra, assim, é que deve-se conseguir uma família para a criança e não o inverso , pois, como dito em tópico anterior, a Lei 8.069/90 garante o direito à convivência familiar.

Daí a razão de estabelecer o art. 43 que a adoção só será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos .

Frise-se: reais vantagens para o adotando. Não se fale, assim, em qualquer benefício ao adotante , salvo o de ter filhos. ” (Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais, coordenador Munir Cury, 6.ª ed. rev. e atual. pelo novo Código Civil, São Paulo: Malheiros, 2003, p. 165) - grifado e destacado.

Em complementação ao comentário acima, a assistente social Maria Josefina Becker observa ainda que:

“Reportamo-nos, aqui, ao art. 29, que veda a colocação em família incompatível com a natureza da medida.

O fundamental é que a adoção é uma medida de proteção aos direitos da criança e do adolescente, e não um mecanismo der satisfação de interesses dos adultos. Trata-se, sempre, de encontrar uma família adequada a uma determinada criança, e não de buscar uma criança para quem aqueles que querem adotar .” (ibidem, p. 166) - grifado e destacado.

Portanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente exige a comprovação de vantagens reais para a criança ou adolescente como conditio sine qua non ao deferimento da adoção, bem como a fundamentação em motivos legítimos. Tal determinação demonstra a função social da adoção, objetivando a constituição de um lar para o adotado, além de possibilitar ao julgador decidir sobre a oportunidade e conveniência para o deferimento do pedido de adoção. Essa comprovação se faz através da avaliação psicossocial dos adotantes e adotandos.

Assim, na esfera da adoção, incumbe à equipe técnica proceder a seleção/avaliação dos aspectos de aptidão com a função materna/paterna, inseridos aí os condicionantes psicológicos, sociais e a capacitação física e econômica de lidar

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com a criança ou adolescente, sem se descurar da adequação do ambiente familiar. É também o momento para indagar cautelosamente acerca dos motivos legítimos que levaram ao pleito de adoção.

Tal investigação prévia ao convívio da criança com os pretendentes, nada mais é do que o respeito aos artigos 29 e 43, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Muitas vezes, quem está adotando sente-se fazendo um bem tão grande, que não concorda em ter de participar das avaliações psicológicas ou ser entrevistado por assistentes sociais. Todavia, não se pode perder de vista que o interesse da criança deve prevalecer sobre qualquer outro interesse, quando seu destino estiver em discussão. As regras da adoção visam a prevalência dos interesses, direitos e reais necessidades do adotando em relação aos de quem lhe adota.

Ademais, considerando-se que a adoção só se defere “quando apresentar reais vantagens para o adotado e fundar-se em motivos legítimos ” (artigo 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente), é bem de ver que, em última análise, o maior interessado, senão o único, em questionar a validade do ato do Exmo. Desembargador Presidente da Comissão Estadual Judiciária de Adoção - CEJA, seria apenas o adotando, ou quem pudesse representá-lo se menor impúbere e, portanto, absolutamente incapaz.

Assim, o direito de adoção não é dos pais biológicos, nem dos pais adotivos, mas da criança adotanda.

Resta indemonstrada, dessa forma, a existência de direito líquido e certo dos ora recorrentes. O ato apontado como ilegal não feriu direito incontestável destes em verem viabilizadas as adoções que pleiteiam, porquanto nessa matéria tal direito não é de ser conferido a eles: são os interesses dos menores que têm prevalência, nos

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termos do Estatuto da Criança e do Adolescente, que no seu art. 43 determina que a medida só é de ser deferida quando representar reais vantagens ao adotando.

Ademais, o direito líquido e certo, acaso existente, deve ser provado de plano, pela via documental, de modo a deixar patente mesmo a uma primeira análise a violação de um direito. Na presente demanda, a discussão cinge-se justamente à análise das reais condições dos ora recorrentes para a devida assistência a prole tão numerosa, havendo pareceres tanto favoráveis como em sentido contrário a tal pretensão.

Por fim, não há que se confundir a mera recomendação no sentido de se adotar uma análise mais detalhada da conveniência de novas adoções pelo casal com a vedação ao direito de adotar, como pretendem os recorrentes.

Quanto ao alegado cerceamento do direito de defesa dos recorrentes, porquanto estes não teriam sido ouvidos durante o curso do procedimento realizado pela CEJA, nota-se que, a fls. 237/238 dos autos, consta cópia do Termo de Declarações que o cônjuge varão prestou na referida Comissão, dando conta da exata ciência dos motivos que levaram à instauração do procedimento, bem assim dos esclarecimentos que este reputou necessários ao deslinde da questão.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2005/0003208-3 RMS 19508 / SC Número Origem: 30207708 PAUTA: 07/06/2005 JULGADO: 07/06/2005 Relatora

Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidenta da Sessão

Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. BENEDITO IZIDRO DA SILVA Secretário

Bel. MARCELO FREITAS DIAS

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : N L DE F

RECORRENTE : C L DE F

ADVOGADO : NIVAL LINHARES DE FARIAS

T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

IMPETRADO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA

DE ADOÇÃO - CEJA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA

RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA

ASSUNTO: Civil - Família - Menor - Guarda

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário. Os Srs. Ministros Castro Filho e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros.

Brasília, 07 de junho de 2005

MARCELO FREITAS DIAS Secretário

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