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Diretrizes urbanísticas e paisagísticas, para uso e ocupação de um trecho da orla do Rio São Francisco na cidade de Propriá-SE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CAMPUS DE LARANJEIRAS

DIRETRIZES URBANÍSTICAS E PROJETO PAISAGÍSTICO DE UM

TRECHO DA ORLA DO RIO SÃO FRANCISCO NA CIDADE DE

PROPRIÁ, SE

ISABELA SANTOS SANTANA

Laranjeiras - SE Maio/2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CAMPUS DE LARANJEIRAS

DIRETRIZES URBANÍSTICAS E PROJETO PAISAGÍSTICO DE UM

TRECHO DA ORLA DO RIO SÃO FRANCISCO NA CIDADE DE

PROPRIÁ, SE

Autora: Isabela Santos Santana

Orientadora: Raquel Kohler

Trabalho de Conclusão, apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Sergipe como requisito obrigatório para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II.

Laranjeiras – SE Maio/2016

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4 AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me guiar em todos os momentos da minha vida, fazendo-me alcançar as suas proposições, sempre no Seu tempo e espaço.

Agradeço à minha orientadora Raquel Kohler, não apenas me orientar de forma acadêmica, mas por não desistir de mim e sempre me fortalecer e acreditar que seria capaz de desenvolver e concluir esse trabalho.

Agradeço à minha família por sempre creditar e contribuir de forma incondicional com a realização dos meios anseios. Em especial ao meu esposo Ricardo e aos meus filhos Rai e Isadora, por aceitarem as minhas ausências, mas sempre incentivar as minhas escolhas.

Agradeço a todos os colegas e professores que colaboraram e facilitaram nas minhas atividades acadêmicas, para que a cada dia novos conhecimentos pudessem ser acrescentados, e serem aplicados e ampliados no desenvolvimento deste trabalho. Em especial à minha amiga Flávia Tauane, pela sua grandiosa disponibilidade em sempre me ajudar nas correções e formatação deste.

E, por fim, agradeço a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram com as informações, indicações e todas as ações, e que fizeram parte dessa etapa decisiva em minha vida.

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5 Vou sempre em busca daquilo em que acredito.

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6 RESUMO

O presente trabalho busca estabelecer diretrizes urbanísticas e paisagísticas para o trecho compreendido entre a Ponte da BR 101 e a DESO, na Orla do Rio São Francisco, na cidade de Propriá, Sergipe. O trecho da orla ribeirinha em questão é uma área pouco utilizada pela maioria da população, pois não apresenta estruturas e equipamentos que estimulem o uso frequente destes espaços, formado por espaços desqualificados, com vazios urbanos, antigas fábricas abandonadas ou subutilizadas, bares, pontos comerciais e institucionais, de forma desorganizada e desintegrada com o rio, comprometendo a paisagem local, e promovendo maior degradação de suas margens. O projeto propõe adequação de suas diretrizes às legislações ambientais, a NORMAN 11, e ao PMSB, onde se utilizem de medidas de baixo impacto aos cursos d’água, como aproveitamento das águas pluviais; sistemas de tratamento de efluentes, a utilização de energias renováveis, além do paisagismo adequado e integrando o rio à cidade, promovendo ocupações mais sustentáveis, qualificando os usos e a paisagem, influenciando diretamente na diminuição dos gastos energéticos e de água estimulando, desta forma, a preservação ambiental.

Palavras-chave: Rio São Francisco; diretrizes urbanísticas e paisagísticas; projeto paisagístico

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7 ABSTRACT

This study aims to establish urban planning and landscape guidelines for the section between the bridge BR 101 and DESO, the Rim of the São Francisco River in the town of Propria, Sergipe. The stretch of riverside area in question is an area little used by most people because it does not present structures and equipment that encourage frequent use of these spaces, formed by unqualified spaces with urban voids, old abandoned or underused factories, bars, shopping points and institutional, unorganized and unintegrated way with the river, affecting the local landscape, and promoting further degradation of its banks. The project proposes adapting its guidelines to environmental legislation, NORMAN 11, and PMSB where use of low-impact watercourses measures such as rainwater harvesting; wastewater treatment systems, the use of renewable energy, in addition to appropriate landscaping and integrating the river to the city, promoting more sustainable occupations, describing the uses and landscape, directly influencing the decrease in energy expenditure and stimulating water in this way, environmental preservation.

Keywords: São Francisco River; Urban planning and landscape guidelines; Landscape design.

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8 LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Rio Sena em Paris... 17

Figura 02: Rio Danúbio em Budapeste... 17

Figura 03: O Rio Ljubljana... 18

Figura 04: Impactos da urbanização sobre os meios aquáticos... 19

Figura 05: Consequências do Sistema Higienista de Drenagem... 25

Figura 06: Consequências da visão setorista no tratamento dos corpos d’água... 26

Figura 07: Esquema do Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto, LID... 26

Figura 08: Elementos alcançados com o LID... 27

Figura 09: Alguns dispositivos de controle de águas pluviais... 28

Figura 10: Proposta de Projeto do Parque Várzea do Tietê... 28

Figura 11: Parque Naturalístico Mangal das Garças ... 29

Figura 12: Imagens das estruturas em avanço sobre as margens ... 30

Figura 13: Rio Cheonggyecheon em Suel, restaurado... 31

Figura 14: Rio Cheonggyecheon, de Seul: imagens de antes e depois da intervenção... 31

Figura 15: Etapas de tratamento do canal com ênfase na vegetação ripária e no acesso ao rio ... 32

Figura 16: Delimitação de faixas de APP em margens de rios, ribeirões e riachos... 33

Figura 17: Bacia Hidrográfica do São Francisco... 38

Figura 18: Regiões da Bacia do Rio São Francisco... 39

Figura 19: Localização da Região do Baixo São Francisco... 41

Figura 20: Área em erosão na orla de Propriá... 43

Figura 21: Localização de Propriá em Sergipe... 45

Figura 22: Imagem noturna da orla de Propriá... 46

Figura 23: Construção do cais em 1940... 47

Figura 24: Imagens da Praça João Fernandes de Britto em 1940 e Rua Av. Fausto Cardoso... 47

Figura 25: Construção da Ponte Propriá/SE - Porto Real do Colégio/AL, 1970... 48

Figuras 26: Imagens das enchentes ocorridas ao longo dos anos na cidade de Propriá/SE... 49

Figura 27: Pontos ao longo do rio, próximos a Propriá/SE... 49

Figura 28: Foto aérea de Propriá... 50

Figura 29: Vista aérea da Orla de Propriá/SE... 51

(9)

9

Figura 30: Orla do Rio São Francisco na Cidade de Propriá/SE... 51

Figura 31: Trecho A ... 52

Figura 32: Trecho B... 52

Figura 33: Trecho C... 53

Figura 34: Orla de Propriá, com Área de Estudo em destaque... 54

Figura 35: Configuração da paisagem marginal na área de estudo... 54

Figura 36: Ausência de Vegetação nas margens do Rio ... 55

Figura 37: Ocupações irregulares dificultando o acesso à área ... 55

Figura 38: Zoneamento da Área de Estudo ... 55

Figura 39: Vista Frontal da Área, a partir da outra margem ... 56

Figura 40: Acesso à Cidade pela Rodovia SE 200, vista de BR 101 ... 56

Figura 41: Imagens do Trecho A vistas de diferentes pontos ... 57

Figura 42: Imagens locais do Trecho A... 58

Figura 43: Tendências e medidas para conservação da água... 59

Figura 44: Imagem aérea da intervenção no Trecho A... 65

Figura 45: Corte da Travessa do CAIC... 66

Figura 46: Mata ciliar recuperada, com vista do Deck e Centro de Artesanato ao fundo. 66 Figura 47: Estacionamentos na cabeceira da ponte antiga... 67

Figura 48: Deck ao lado da ponte antiga... 67

Figura 49: Via local de acesso à área de artesanato e ao Deck... 67

Figura 50: Rodovia SE-100 reestruturada no trecho da intervenção... 68

Figura 51: Vista da Área de Esporte e Lazer... 69

Figura 52: Anfiteatro e estacionamento... 69

Figura 53: Quadras de esporte... 70

Figura 54: Pista de Skate... 70

Figura 55: Quiosque... 70

Figura 56: Atracadouro... 71

Figura 57: Atracadouro, com vista para a Ponte... 71

Figura 58: Vista das margens do Rio no Trecho A – Recuperação da Mata Ciliar... 72

Figura 59: Área da intervenção – Orla Urbana do Trecho A... 73

Figura 60: Parques infantis... 73

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10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AG – Agência

AJB – Águas Juridiscionais Brasileiras APP – Área de Preservação Permanente

BR 101 – Rodovia Federal Governador Mário Covas

CAIC – Centro de Atenção Integrada à Criança e ao Adolescente

CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco CP – Capitania

DAEE/SP – Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo DESO – Companhia de Saneamento de Sergipe

DIP – Distrito Industrial de Propriá DL – Delegacia

IMP - Integrated Management Practices (Práticas de Manejo Integrado)

LID – Low Impact Development (Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto) MB – Marinha do Brasil

NORMAM 11/ DPC – Normas de Autoridade Marítima para Obras, Dragagens, Pesquisa e Lavras Minerais sob, sobre e às margens das Águas Juridicionais Brasileiras

OM – Organização Militar

PMSB – Plano Municipal de Saneamento Básico

SE 200 – Rodovia do Estado de Sergipe que liga a cidade de Canindé de São Francisco até o Povoado Betume, em Neópolis.

VARIG – Viação Aérea Rio Grandense S.A

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11 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ... i EPÍGRAFE ... ii RESUMO ... iii ABSTRATC ... iv LISTA DE FIGURAS ... v

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... vii

1. INTRODUÇÃO ... 13

2. RELAÇÃO RIO X CIDADE ... 16

2.1. A IMPORTÂNCIA DOS RIOS E OS IMPACTOS DA OCUPAÇÃO URBANA NOS CURSOS D’ÁGUA ... 16

a. MEDIDAS DE BAIXO IMPACTO PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO – LID ... 24

b. EXEMPLOS DE INTERVENÇÕES EM CURSOS D’ÁGUA ... 28

c. LEGISLAÇÃO PERTINENTE A ÁREA DE ESTUDO ... 32

i. Código Florestal Brasileiro ... 32

ii. NORMAN – 11/DPC (2003) ... 35

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 36

4. ÁREA DE ESTUDO ... 38

4.1 – IMPORTÂNCIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO ... 38

4.2 – REGIÃO DO BAIXO SÃO FRANCISCO ... 41

4.3 – MATAS CILIARES E A VEGETAÇÃO MARGINAL DO BAIXO SÃO FRANCISCO ... 42

4.4 – PROPRIÁ E O RIO SÃO FRANCISCO ... 45

5. CARACTERIZAÇÃO DA ORLA DE PROPRIÁ ... 51

5.1 – DIAGNÓSTICO ... 51

5.2 – PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO ... 58

6. PROPROSTA ... 60

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12

6.2 – DIRETRIZES ESPECÍFICAS POR TRECHOS ... 61

6.3 – PROPOSTA NO TRECHO A ... 64

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75

8. REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICAS ... 76

APÊNDICE 01 ... 79

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13 1. INTRODUÇÃO

A cidade de Propriá, localizada no Estado de Sergipe, na Região Nordeste, Brasil, fica às margens do Rio São Francisco e também às margens da BR 101. Diante da privilegiada localização às margens do Rio São Francisco, que antigamente proporcionava um rápido progresso, Propriá chegou a ser a segunda economia do Estado de Sergipe (a primeira era Aracaju, a capital) e liderava o comércio atacadista do Baixo São Francisco (Sergipe e Alagoas). Mas a economia de Propriá sofre uma decadência desde a década de 1970, por causa de más administrações, queda de atividade industrial e da importância do Rio São Francisco para a economia, que, com a construção da ponte, perdeu sua função de transbordo. Portanto, Propriá, hoje, é apenas a 22ª cidade mais rica de Sergipe.

O objetivo geral deste trabalho foi estabelecer não somente diretrizes urbanísticas e paisagísticas para a Orla do Rio São Francisco na cidade de Propriá- SE, mas também um projeto paisagístico para um trecho escolhido dessa orla, no qual procurou-se adotar medidas de baixo impacto ambiental, em conformidade com as legislações vigentes e promovendo maior conexão e atratividade.

O trecho da orla ribeirinha em cujo está o foco desse trabalho, está compreendido entre a cabeceira da ponte na BR 101 e a DESO, pouco utilizado pela maioria da população, uma vez que não apresenta estruturas e equipamentos que estimulem o uso frequente destes espaços. Ao longo de sua extensão são encontrados espaços vazios, são antigas fábricas, ou abandonadas, ou com usos variados, como bares e pontos comerciais e institucionais, de forma bastante desorganizada, que comprometem a paisagem local, pois as edificações acabam dando as costas ao Rio, promovendo assim maior degradação de suas margens.

Há, também, o lançamento de efluentes sanitários e resíduos sólidos gerados pela população local, apesar de a cidade já ter sido contemplada com sistema de tratamento de esgotos que ainda não está em pleno funcionamento. Outro agravante são invasões irregulares na área estudada, graças a bares localizados na cabeceira da ponte e a algumas residências que estão se apropriando das áreas de proteção ambiental, por estarem muito próximas às margens do rio. A população local ainda não despertou para as questões de proteção ambiental, além de contribuir com a degradação com maus-hábitos, lançando seus resíduos nas margens e, assim, deixando os ambientes às margens do rio pouco atrativo aos moradores e visitantes.

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14 Devido à falta de planejamento urbano de qualidade, legislação e fiscalização eficazes, as invasões irregulares acontecem com técnicas e partidos arquitetônicos adotados aleatoriamente, sem estudos prévios que se integrem com os fatores que compõem a cidade, o que faz com que, cada vez mais, a cidade cresça de forma desordenada, favorecendo o interesse particular e resultando em espaços desconexos, com baixa qualidade para o convívio social e baixo desenvolvimento econômico e cultural da cidade, além de não ter nenhuma preocupação com fatores ambientais.

Diante dessa questão, este trabalho tem como razão uma maior proteção ambiental das margens do Rio São Francisco na Orla de Propriá, apontando diretrizes para diminuir os impactos da urbanização nessa área, além de indicar novos usos às edificações subutilizadas e/ou abandonadas, visando promover melhor uso de moradores e turistas nessa região. Buscou-se, portanto, propor diretrizes urbanísticas e paisagísticas para o trecho compreendido, como já citado, entre a Ponte da BR 101 e a DESO, na Orla do Rio São Francisco, na cidade de Propriá/SE.

Foi elaborado através de revisão bibliográfica voltada para ocupações em orla de rios, especialmente a literatura abordando questões urbanas, e para recomendações de ocupação de baixo impacto ambiental ao longo de rios; Analisou-se as legislações vigentes (Código Florestal, o Plano Municipal de Saneamento Básico e a Norman 11), no que concerne às áreas marginais e APPs, procurou pontuar espécies vegetais adequadas para a implantação na área de estudo, visando sua recuperação, além de ter desenvolvido pesquisa institucional em órgãos e entidades locais, para identificar os tipos de uso e ocupação e de equipamentos urbanos que promovam conexão e atratividade das áreas marginais do rio, a fim de tornar os espaços mais dinâmicos e agradáveisa toda a comunidade.

Foram realizadas visitas e entrevistas informais com moradores e comerciantes do local de estudo, para que se pudesse analisar a configuração espacial, ambiental e social, os costumes da comunidade local, o uso e ocupação das edificações, a relação entre pessoas e o meio ambiente circundante, o ponto de vista dos usuários do local, como estão inseridos e o que anseiam ali, dentre outros aspectos de fundamental importância para a compreensão da real situação da área.

Diante disso, elaborou-se um diagnóstico das potencialidades e deficiências, por meio de mapeamento e levantamento fotográfico, para que se pudesse, finalmente, elaborar

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15 diretrizes urbanísticas e paisagísticas para a área, contendo indicação dos tipos de uso e ocupação, índice de aproveitamento, taxa de permeabilidade, taxa de ocupação, gabarito mínimo, testada mínima, classificação de vias, tipos de equipamentos a serem implantados, atendendo os interesses da população, do município e dos visitantes.

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16 2. RELAÇÃO RIO X CIDADE

2.1. A IMPORTÂNCIA DOS RIOS E OS IMPACTOS DA OCUPAÇÃO URBANA NOS CURSOS D’ÁGUA

Os rios foram bastante importantes para o surgimento das civilizações, pois, com o abandono da vida nômade, muitos povos encontraram, nas margens férteis dos rios, o ambiente apropriado para o desenvolvimento da agricultura, fator que contribuiu para a fixação dos povos que se tornaram sedentários, e deu início ao desenvolvimento das primeiras civilizações.

A cidade nasce da água. A história urbana pode ser traçada como eixos as formas de apropriação das dinâmicas hídricas. A trajetória das relações entre cidades e corpos d’água reflete, assim, os ciclos históricos da relação entre homem e natureza. (MELLO, 2008)

Com o domínio da agricultura, o homem buscou se fixar próximo às margens dos rios, onde teria acesso a água potável e a terras mais férteis. Com isso, a produção de alimentos, que antes era destinada ao consumo imediato, tornou-se muito grande, o que levou os homens a estocarem alimentos. Consequentemente a população começou a aumentar, pois havia alimentos para todos. Assim, começaram a surgir as primeiras vilas ou aldeias e, depois, as cidades. A vida dos homens começava a deixar de ser simples para se tornar complexa. Tornando-se necessária a organização da sociedade que surgia. Com o aumento da oferta de comida, houve o crescimento da população, e o excedente de alimentos passou a ser comercializado com outros povos.

Nascia assim a figura do Estado e a consequente divisão do trabalho. Com isso, as primeiras civilizações criaram diferenças entre a população. Se no período nômade todos eram iguais e tinham direito igual a comida, agora era diferente, pois a divisão do trabalho criou diferenças entre as novas classes sociais.

Segundo Gorski (2010),

na história das civilizações, de modo geral, os cursos d’água, rios, córregos, riachos integram sítios atraentes para assentamentos de curta ou longa permanência, indistintamente, e eram tidos como marcos ou referências territoriais. No imaginário coletivo, figuram predominantemente associados aos mananciais, porém apresentam propriedades outras, como demarcadores de território, produtores de alimentos,

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17 corredores de fauna e flora, geradores de energia, espaços livres públicos de convívio e lazer, marcos referenciais de caráter turístico e elementos determinantes de feições geomorfológicas.

O surgimento das grandes civilizações ocorreu, de uma forma geral, às margens dos corpos d’água, com a apropriação de locais com água em abundância e terras férteis para que as tribos nômades pudessem se estabelecer e desenvolver a agricultura, pois assim podiam plantar, criar animais e assim controlar a produção de alimentos, além de atender as necessidades físicas básicas, também podiam navegar, e com isso facilitar a comunicação, o transporte e futuramente o comércio.

Figura 01: Rio Sena em Paris

Fonte: New York Habitat, 2015

Figura 02: Rio Danúbio em Budapeste

Fonte: Meus Roteiros de Viagem, 2015

Em vários momentos da história, em várias localidades, os rios viabilizaram as cidades, mas com elas vieram os impactos hidrológicos e ambientais do crescimento urbano, e

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18 o rio deixou de ser apenas um elemento da paisagem. O crescimento populacional trouxe consigo várias mazelas, como as ocupações irregulares em áreas de risco, prejuízos ambientais e grandes danos socioeconômicos, por conta das decorrentes inundações, fazendo com que fossem repensados os modelos sanitários e de urbanização existentes. É o caso das Figuras 01 e 02, que mostram o Rio Sena em Paris e o Rio Danúbio na Hungria (eixo estruturador da vida da cidade).

Esta relação de pertencimento pelas cidades não é privilégio de grandes rios, que pelo seu porte e imponência impunham-se no tecido urbano. Liubliana, capital da Eslovênia, por exemplo, desenvolveu-se nos braços do pequeno rio que deu seu nome a cidade, (Figura 03) canalizado, mas integrado ao tecido e à vida urbana.

Figura 03: O Rio Ljubljana

Fonte: Eurobusways.com, 2015

No entanto observa-se que muitas cidades tem uma relação de alheamento com seus rios – não apenas ignoraram seus rios e córregos, mas os canalizaram; muitas até os cobriram. Com a chegada da industrialização, os rios passaram a ser tratados como fontes de abastecimentos para as indústrias e receptores de águas residuais, altamente poluídas, alterando ainda mais as condições de salubridade das cidades. Cada vez mais o papel da água na paisagem das cidades vem se perdendo por conta das inúmeras intervenções sanitárias e urbanísticas que buscam o controle das enchentes e de doenças de veiculação hídrica. “De forma geral, independentemente da importância atribuída pelos governantes e da sua

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19 percepção pelas populações, após viabilizar a criação e o desenvolvimento das cidades, os rios passariam a sofrer, perversamente, os efeitos do crescimento urbano” (REYNOSO et al., 2010 apud Baptista e Cardoso, 2013). Os impactos da urbanização nos meios aquáticos podem ser descritos como mostra o esquema da Figura 04, a seguir:

Figura 04: Impactos da urbanização sobre os meios aquáticos

Fonte: Eurydice, 1992, apud adaptação de Rico, 2013

Segundo Baptista e Cardoso (2013),

um exemplo desse processo pode ser visto na cidade de São Paulo, que nasceu às Margens do Rio Tietê – vetor de conquista de boa parte do território brasileiro –, sendo hoje a maior metrópole da América do Sul. Com o crescimento acelerado experimentado no Ciclo do Café e o início do processo de industrialização, a cidade passou a sofrer com problemas de inundações. Já em 1925, Saturnino de Brito apontava soluções:

‘[...] O homem pode estabelecer ou restabelecer condições naturais acessórias para que as águas das chuvas se detenham na sua descida rápida pelas encostas e pelos talvegues torrenciais, e nas dilatações pelas várzeas alagadiças, de modo a retardar a afluência do volume total que tenha de se escoar pelo curso principal’ (BRITO, 1944).

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20 Nas últimas décadas, aumentou a preocupação com o meio ambiente, buscando a conscientização das populações quanto aos seus problemas, tendo em vista maior valorização da paisagem urbana, pela melhoria da qualidade da água. Assim, é importante que as intervenções em corpos d’água, mesmo que destinadas à simples expansão urbana e das atividades econômicas, sejam associadas ao planejamento ambientalmente sustentável da ocupação do espaço marginal, à preservação de áreas necessárias tanto à dinâmica fluvial natural, quanto às ações de revitalização da fauna e flora, sempre que possível.

Segundo Gorski (2010):

A consciência por parte da população da dependência e da finitude dos recursos naturais, como a água, por exemplo, é um fator relevante de valorização e envolvimento, no sentido de preservação, conservação ou recuperação, no caso, dos cursos d’água e dos mananciais de abastecimento urbano. O rio permeia as manifestações culturais, entre outros, da mitologia, da história, da literatura, da música, da religião, da filosofia, da pintura, da escultura e do cinema. Para diversas civilizações, sua presença foi, historicamente, sinônimo de riqueza e poder, mas, por outro lado, também de fúria, de força da natureza, por seu potencial destruidor e catastrófico, trazendo doenças, arrasando cidades e dizimando populações.

Conforme Mello (2008), deve ser encontrado o “caminho do meio” entre as visões anteriores – de preservação generalizada e de “artificialização” indiscriminada –, uma vez que os corpos de água nas cidades são, ao mesmo tempo, elementos componentes dos sistemas natural e urbano.

Baptista e Nascimento (2002) apontam para “inconsistências e incoerências de medidas adotadas, superposição de intervenções, entre outros problemas”. Todavia, conforme Queiroz Jr. (2009), as leis, planos e programas não podem ser setoriais, desarticulados da totalidade do contexto urbano, senão integrantes de um processo de compreensão sistêmica da cidade.

Outro ponto importante refere-se à necessidade de incorporação de incertezas e externalidades aos processos de intervenção urbanística, uma vez que ambas são inerentes à relação entre a sociedade e o ambiente natural (TRAVASSOS, 2010 apud BAPTISTA e CARDOSO, 2013).

A identificação dos significados e valores estéticos e ecológicos das paisagens fluviais é um fator de compreensão da percepção e da utilização do rio pela população e do potencial de recuperação desses sistemas. Para avaliação dessa

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21 percepção, Saraiva apresenta métodos que vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de captar valores intangíveis (cênicos, estéticos e culturais), que deverão ser incluídos nas decisões dos planos de ordenação da paisagem e de uso do solo. Nessa avaliação, são pesquisados e reunidos índices de relacionamento entre homem e natureza, num dado sítio, na perspectiva temporal e espacial (SARAIVA, 1999 apud GORSKI, 2010).

Ao elencar vários estudos e respectivas abordagens desde o final da década de 1950 até a década de 1990, Saraiva, sintetiza os principais fatores, levando em conta a percepção, avaliação e preferência das paisagens fluviais. São eles:

 Características formais ou aspectos estéticos da água e sua relação com a paisagem – unidade como consistência e harmonia, vivacidade como forte impressão visual, contraste, textura, composição; variedade da apresentação da água e dos elementos a ela interligados, como o solo e a vegetação, e presença de elementos focais e distintos;  Características ecológicas – diversidade, integridade, composição e variedade de

espécies;

 Componentes de apreciação cognitiva – simbolismo, complexidade, legibilidade e mistério.

Ao apresentar essa metodologia, Saraiva pretende desvendar o envolvimento da população com as paisagens fluviais e suas motivações estéticas e emocionais.

Em áreas urbanas, é amplo o debate acerca da restauração de cursos de água, principalmente no que tange aos seus objetivos e reais possibilidades de alcance, tendo em vista (i) as suas alterações físicas, funcionais e ecológicas, (ii) as transformações ocorridas na bacia, (iii) as condições de saneamento, (iv) as restrições impostas pelo tecido das cidades e (v) as demandas e implicações políticas, sociais e econômicas envolvidas com o processo. (BAPTISTA e CARDOSO, 2013)

Ainda, segundo WOHL et al. (2005) apud BAPTISTA E CARDOSO (2013), a conciliação entre ciência e prática desponta como um dos maiores desafios da restauração, destacando-se:

 A complexidade e as incertezas inerentes ao processo;

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22  A dificuldade de generalização de cenários;

 O monitoramento, para que seja possível a comparação projeto-resultado;  O desenvolvimento de técnicas de restauração compatíveis.

Assim, a ciência da restauração reveste-se de inúmeras incertezas; por serem ambientes dinâmicos e inseridos em contextos de transformação contínua, a previsão de alterações no comportamento e na evolução dos sistemas fluviais mostra-se incerta e complexa. Essas incertezas devem ser expostas para que as possíveis limitações aos projetos de restauração possam ser de conhecimento dos envolvidos, ou seja, dos técnicos, tomadores de decisão e do público em geral. (BATISTA e CARDOSO, 2013)

Segundo REYNOSO et al. (2010) apud BATISTA e CARDOSO (2013),

a inclusão e interação de múltiplos agentes no processo de elaboração de planos de restauração de cursos de água é outro grande desafio apontado por Reynoso et al. (2010), tendo em vista a necessidade de diálogo entre grupos e atores envolvidos no processo, com grande diversidade de interesses e opiniões, e as distintas autoridades burocráticas e políticas envolvidas. A participação social merece destaque, já que a restauração deve, além do atendimento a questões ambientais, ser sensível às necessidades e demandas da população, de forma a favorecer esquemas de corresponsabilidade cidadã.

A proposição de soluções deve ter fundamentação sociocultural, além do tecnológico ou de engenharia. “Nesse cenário, deve ser considerada uma ampla diversidade de áreas do conhecimento, como geomorfologia, hidrologia, hidráulica, ecologia e biologia, além da consideração do quadro regulatório e político e da participação social” (KONDOLF; DOWNS, 1996, apud BAPTISTA e CARDOSO, 2013). Sendo possível resumir alguns objetivos de intervenção em relação a fatores a serem contemplados, como visto no Quadro 01:

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23

Quadro 01: Possíveis Objetivos de um Projeto de Restauração de Rios e Córregos

Fonte: Adaptado de Woolsey et al., 2005, apud Baptista, 2013

Foi a partir da segunda metade do século XX e início do século XXI, que a integração de diferentes objetivos e demandas ao escopo da restauração vem acontecendo de forma evolutiva, pois até então os projetos de restauração aconteciam de forma fragmentada, com escassa integração a outros projetos.

Os projetos e ações de gestão de recursos hídricos, incluindo a recuperação de rios urbanos, são constituídos por intervenções que necessitam de uma abordagem sistêmica, não sendo caracterizados como processos isolados, principalmente em seus aspectos técnicos, institucionais e políticos (GARCIAS E AFONSO, 2013).

Os estudos relacionados à sustentabilidade, mais especificamente à sustentabilidade urbana, tornam-se cada vez mais complexos na medida em que este conceito vem sendo aprofundado e confrontado com a dinâmica do espaço citadino. Tais questões precisam estar presentes na pauta das políticas públicas e na gestão de cidades, na premissa do amplo debate democrático e, consequentemente, na possibilidade de os indivíduos influenciarem nas decisões que dizem respeito à coletividade (SILVA E SANTOS, 2013).

A ocupação ilegal de áreas ambientalmente frágeis traz pesados efeitos em termos de degradação dos recursos hídricos, do solo, das condições de saúde e dão origem a um conflito socioambiental de grandes proporções. De um lado estão os interesses das populações que ocupam essas áreas “morando em pequenas casas onde investiram suas poucas economias enquanto eram ignorados pelos poderes públicos, e que lutam contra um processo judicial para retirá-los do local” (Maricato, 2000, p. 163, apud BRAGA e COSTA, 2002). De outro

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24 lado estão os interesses em torno da preservação e recuperação de recursos coletivos como mananciais e corpos d’água.

A discussão precedente aponta claramente para a ampla gama de fatores e objetivos que está associada às intervenções em cursos de água urbanos com o viés de restauração, com a inerente complexidade de análise. Ainda que em quadros simples de intervenções, os recortes envolvidos são muitos, levando à integração das diferentes vertentes – urbanística, ambiental e tecnológica – na análise e busca de solução (BAPTISTA e CARDOSO, 2013).

a. MEDIDAS DE BAIXO IMPACTO PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO - LID O Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto consiste na preservação do ciclo hidrológico natural, a partir da redução do escoamento superficial adicional gerado pelas alterações da superfície do solo decorrentes do desenvolvimento urbano.

Visa a preservação do manancial de abastecimento público, que é a fonte de água doce superficial ou subterrânea utilizada para consumo humano ou desenvolvimento de atividades econômicas, que podem ser degradados em meio urbano através da ocupação desordenada do solo, em especial áreas vulneráveis como as APPs; práticas inadequadas de uso do solo e da água; falta de infraestrutura de saneamento (precariedade nos sistemas de esgotamento sanitário, águas pluviais e resíduos sólidos); super-exploração dos recursos hídricos; remoção da cobertura vegetal; erosão e assoreamento de rios e córregos; e atividades industriais que se desenvolvem descumprindo a legislação ambiental. Sendo assim, a adoção de medidas de baixo impacto pode contribuir para minimizar os efeitos desta degradação, e melhorar a qualidade da água do manancial.

Segundo Gorski (2010):

desde 2008, a população mundial que vive nas cidades é maior que a população que vive nas áreas rurais. Ao que tudo indica, esse processo deve continuar se intensificando e propondo intrincados desafios com relação à qualidade de vida urbana. Apesar de sobrevivermos à custa das águas, ignoramos a fragilidade dos mananciais que nos abastecem, até que as situações de colapso se escancarem diante de nós.

Vários são os eventos mundiais que discutem e produzem amplas reflexões sobre a interferência do homem sobre o meio ambiente, as devastações sociais ocorridas com a urbanização intensa e quais as estratégias e soluções que possam viabilizar melhores condições de vida para as futuras gerações. Dentre essas reflexões se buscam medidas de

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25 baixo impacto ambiental que conciliem natureza e sociedade.

Ao se tratar de cidade e corpos d’água, é necessário que a visão setorista seja revista, uma vez que prioriza as grandes obras de engenharias, ao invés de buscar medidas capazes de articular o gerenciamento dos recursos hídricos. As figuras 05 e 06 demonstram algumas consequências nos cursos d’água, ao se utilizar das visões setoristas e higienistas, tão utilizadas ao longo dos tempos.

Já as medidas não-estruturais são de caráter preventivo, que buscam evitar as inundações, como normatizações e regulamentações do uso e ocupação do solo, códigos de obras, educação ambiental, com a intenção de evitar a poluição difusa através de resíduos e lixo, etc. Essas medidas atuam em prazos mais longos que as estruturais e podem ser mais eficazes por prazos mais longos e com custos mais baixos: “as medidas não estruturais são aquelas em que os prejuízos são reduzidos pela melhor convivência da população com as enchentes” (TUCCI, 2006).

Figura 05: Consequências do Sistema Higienista de Drenagem

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Figura 06: Consequências da visão setorista no tratamento dos corpos d’água

Fonte: Barros, 2014 Segundo Marcondes (1999), apud Gorski (2010):

Não é por falta de legislação, nem por falta de órgãos de gestão que a situação dos rios e bacias brasileiras chegou ao estado atual de poluição e degradação. A ausência de investimentos nas áreas protegidas, conflitos entre planos e projetos setoriais e omissão na fiscalização da ocupação de áreas de mananciais têm contribuído para acelerar o processo de degradação ambiental.

O conjunto de medidas não-estruturais e não-convencionais vem sendo cada vez mais divulgado e propõe aplicação na escala do lote, do loteamento e nos principais rios urbanos. Mas, para promover medidas sustentáveis, operações fundamentais no âmbito municipal devem ser desenvolvidas, como a integração entre o Plano Diretor Municipal e o Plano Municipal de Saneamento Básico, além de utilizar alguns procedimentos como sistemas de ações integradas para o planejamento e projeto de baixo impacto sobre o meio ambiente.

Figura 07: Esquema do Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto, LID

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27 O programa Low Impact Development (intervenções de baixo impacto, LID) propõe adoção, na microescala, de medidas que, sistematicamente aplicadas, contribuirão para melhorar a qualidade ambiental.

Figura 08: Elementos alcançados com o LID

Fonte: Adaptado de Barros, 2014

Como medidas de baixo impacto para orlas de rios, pode-se destacar:

 Trilhas ou caminhos verdes de pisos drenantes ao longo dos rios, como estratégia para ampliar a captação de água pluviais e reduzir sua velocidade;

 Jardins de absorção (ou área de biorretenção) com a função de captar as águas das chuvas, visando a recarga do lençol freático, a prevenção de inundações e propiciando ambiente para a vida animal;

 Recuperação ou criação de áreas de várzeas ou alagados que, além de captar e diminuir a velocidade das aguas pluviais, abrigam ecossistema rico em biodiversidade;

 Lajes de cobertura protegidas com vegetação, assim como biovaletas, que absorvem e filtram as águas pluviais, reduzindo o contingente de escoamento e poluentes;

 Pavimentação porosa, que contribua para a recarga do lençol freático e para a diminuição da escala de bacias de detenção.

Com relação à racionalização do consumo de água, o LID recomenda economia e reuso, e irrigação automática; com relação ao esgoto, o tratamento local e banhados construídos; com relação à redução de descarte de resíduos, recomenda compostagem e coleta seletiva; com relação à aplicação da vegetação, o emprego de vegetação nativa, pelas vantagens de reduzir a aplicação de adubos químicos e pesticidas, e manter o solo de superfície.

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Figura 09: Alguns dispositivos de controle de águas pluviais

Fonte: Adaptado de Barros, 2014

A Figura 09 apresenta alguns exemplos de dispositivos de controle das águas pluviais que vêm sendo utilizados de forma a garantir maior integração no manejo destas. Dessa forma, o processo de desenvolvimento urbano deve contribuir para que haja equilíbrio, entendendo a água como recurso hídrico e tendo como aliada a educação ambiental para garantir a gestão adequada dos vales e das bacias hidrográficas.

b. EXEMPLOS DE INTERVENÇÕES EM CURSOS D’ÁGUA  NO BRASIL

- O Parque Várzeas do Tietê

Com 75 Km de extensão e 107 Km² de área, o Parque Várzeas do Tietê será o maior parque linear do mundo. Implantado ao longo do rio Tietê, unindo o Parque Ecológico do Tietê (localizado na Penha) e o Parque Nascentes do Tietê (localizado em Salesópolis), o projeto foi apresentado pelo DAEE/SP em 20 de julho de 2010 e teve início em 2011.

Figura 10: Proposta de Projeto do Parque Várzea do Tietê

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29 O principal objetivo do programa é recuperar e proteger a função das várzeas do rio, além de funcionar como um regulador de enchentes, salvando vidas e o patrimônio das pessoas. Ao mesmo tempo, o Projeto Parque Várzeas do Tietê contempla uma gigantesca área de lazer para a população: núcleos de lazer, esportes e cultura (campos de futebol e quadras poliesportivas); polos de turismo; ciclovia; recomposição de mata ciliar; passeios arborizados; controle de enchentes, beneficiando toda a população ao longo das marginais do Tietê; reordenação da ocupação das margens; recuperação e preservação do meio ambiente; despoluição de córregos e manutenção e preservação das várzeas.

- Parque Mangal das Garças

O Parque Naturalístico Mangal das Garças é o resultado da revitalização de uma área de cerca de 40.000 metros quadrados às margens do Rio Guamá, nas franjas do centro histórico de Belém, capital do Pará.

Figura 11: Parque Naturalístico Mangal das Garças

Fonte: Éride Moura, 2015

É um projeto pontual, integrante de um programa estadual de requalificação urbana de espaços públicos da área central de Belém, caracterizado como um projeto de reconversão de uma área abandonada em uma área pública de lazer, de cunho naturalístico.

- Projeto Beira-Rio

O projeto Beira-Rio é um programa de requalificação ambiental e urbanística desenvolvido e implementado pela prefeitura do Município de Piracicaba. Considerado um

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30 exemplo pioneiro de recuperação de rio urbano no Brasil, o programa tem como foco a orla urbana do Rio Piracicaba e sua articulação com o tecido urbano. O projeto vem sendo desenvolvido desde 2001 e se constitui como um processo matricial de ações focadas na legitimação, recuperação e potencialização da relação identitária entre a cidade e o famoso corpo d' água.

Figura 12: Imagens das estruturas em avanço sobre as margens

Fonte: Vitruvius, 2005

A ideia do Projeto Beira-Rio surge desta constatação – rio e cidade formam um sistema biocultural uno e generalizado, no qual o desenvolvimento da cidade passa pelo desenvolvimento de sua relação com o rio. O planejamento desta relação é fundamental para a construção de uma cidade sustentável, calcada na indissociabilidade entre evolução econômica, preservação dos recursos e inserção social.

 ÁSIA E EUROPA

- Rio Cheonggyecheon, Seul, na Coréia do Norte

O Projeto de Restauração do Cheonggyecheon, desenvolvido em Seul, na Coréia do Norte, despoluiu todo o canal do rio e criou diversos parques lineares, ampliando a quantidade de áreas verdes nas ruas da cidade.

A revitalização do Rio Cheonggyecheon, de Seul, na Coréia do Sul, mudou radicalmente a paisagem, a tal ponto que as imagens de antes e depois parecem manipulação digital. Os turistas que visitam o Rio em Seul e desconhecem a história dos bastidores, nem imaginam que anos atrás o lugar era formado somente por viadutos, poluição e caos urbano.

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Figura 13: Rio Cheonggyecheon em Suel, restaurado

Fonte: The City Fix Brasil, 2012

O projeto permitiu a construção de parques lineares que devolveram à população da cidade (cerca de 10 milhões de habitantes) o contato com as margens do rio - que agora contam com novas pontes e um sistema de transporte interligado (BINDO, 2010).

Figura 14: Rio Cheonggyecheon, de Seul: imagens de antes e depois da intervenção

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32  AMÉRICA DO NORTE

- Rio Los Angeles, Los Angeles (EUA)

Este novo projeto para revitalizar 17,7 Km do rio Los Angeles, visa converter o canal de cimento num rio real e natural. Algumas partes do rio já estão aptas para o lazer, este rio possui também espaços onde é possível fazer caiaque ou pescar. Espera-se que, nos próximos anos, os residentes possam nadar com segurança e de forma legal.

Figura 15: Etapas de tratamento do canal com ênfase na vegetação ripária e no acesso ao rio

Fontes: Adaptado de Gorski, 2010

Diante dos exemplos apresentados, portanto, a restauração de rios e córregos urbanos representa um grande desafio às políticas públicas, ao planejamento das cidades, à ciência e à tecnologia, dada a ampla diversidade de contextos, incertezas – crescentes e complexificadas – e dificuldades intrínsecas ao processo. Percebe-se também, no entanto, que a restauração oferece grandes possibilidades, constituindo um caminho promissor a percorrer – ainda que longo e árduo –, para finalmente se chegar à tão necessária conciliação das cidades e seus rios (Baptista e Cardoso, 2008).

c. LEGISLAÇÃO PERTINENTE À ÁREA DE ESTUDO

i. Código Florestal Brasileiro – Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012

As Áreas de Preservação Permanente foram instituídas pelo Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012) e consistem em espaços territoriais legalmente protegidos, ambientalmente frágeis e vulneráveis, podendo ser públicas ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas ou não por vegetação nativa.

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33 margens do Rio São Francisco, portanto este tópico do trabalho tem o foco voltado para as APPs (Áreas de Preservação Permanente), na qual a área está inserida. Segundo o texto da lei 12.651 (BRASIL, 2012, art. 4):

II - Área de Preservação Permanente – APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

A preservação da vegetação nativa ou recuperada nas áreas de preservação permanentes se faz necessário para proteger e manter os recursos hídricos, conservar a diversidade de espécies de plantas e animais, além de controlar a erosão do solo e os consequentes assoreamentos e poluição dos cursos d’água.

Conforme a Lei nº 12.651 (BRASIL, 2012, art. 4), as faixas marginais consideradas como Áreas de Preservação Permanente variam de acordo com a largura do curso d’água. A medida é obtida a partir da borda da calha de seu leito regular, conforme a Figura 16, a seguir:

Figura 16: Delimitação de faixas de APP em margens de rios, ribeirões e riachos

Fonte: Cartilha do Código Florestal Brasileiro

A Lei n. 7.803, de 15 de julho de 1989, havia ampliado as faixas marginais aos cursos d’água considerados de proteção permanente de 5 metros para 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura, também definiu a aplicação do Código Florestal às cidades, ao acrescentar ao art. 2º do Código Florestal, o Parágrafo único:

No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.

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34 As APPs em meio urbano desempenham diversas funções ou serviços ambientais que buscam a proteção do solo prevenindo a ocorrência de desastres associados ao uso e ocupação inadequados, como a proteção dos corpos d'água, evitando enchentes, poluição das águas e assoreamento dos rios; a manutenção da permeabilidade do solo e do regime hídrico, prevenindo contra inundações e enxurradas, colaborando com a recarga de aquíferos e evitando o comprometimento do abastecimento público de água em qualidade e em quantidade; a função ecológica de refúgio para a fauna e de corredores ecológicos que facilitam o fluxo gênico de fauna e flora, especialmente entre áreas verdes situadas no perímetro urbano e nas suas proximidades; e ainda a atenuação de desequilíbrios climáticos intraurbanos, tais como o excesso de aridez, o desconforto térmico e ambiental e o efeito "ilha de calor".

A manutenção das APPs em meio urbano possibilita a valorização da paisagem e do patrimônio natural e construído (de valor ecológico, histórico, cultural, paisagístico e turístico). Esses espaços exercem, do mesmo modo, funções sociais e educativas relacionadas com a oferta de campos esportivos, áreas de lazer e recreação, oportunidades de encontro, contato com os elementos da natureza e educação ambiental (voltada para a sua conservação), proporcionando uma maior qualidade de vida às populações urbanas, que representam 84,4% da população do país.

É imprescindível, portanto, prevenir os efeitos indesejáveis do processo de urbanização sem planejamento, como a ocupação irregular e o uso indevido dessas áreas que tende a reduzi-las e degradá-las cada vez mais, uma vez que causa, assim, graves problemas nas cidades e exige um forte empenho no incremento e aperfeiçoamento de políticas ambientais urbanas integradas à gestão de Áreas de Preservação Permanente, necessitando de maior articulação de estados e municípios para a criação de mapeamento, fiscalização, recuperação, manutenção e monitoramento das APP nas cidades; É necessário, também, apoio a novos modelos de gestão de APP urbanas, com participação das comunidades e parcerias com entidades da sociedade civil e definição de normas para a instalação de atividades de esporte, lazer, cultura e convívio da população, compatíveis com a função ambiental dessas áreas;

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35 ii. NORMAN – 11/DPC (2003)

A área de estudo encontra-se às margens do Rio São Francisco, tratando-se de área de jurisprudência brasileira. Para tanto, qualquer intervenção futura, que possa ser realizada nesta área deverá solicitar parecer para realização de obras sob, sobre e às margens das águas jurisdicionais brasileiras (AJB), segundo a NORMAN 11- DPC, da Marinha do Brasil (MB), que estabelece normas e procedimentos para padronizar a emissão de parecer, no que concerne ao ordenamento do espaço aquaviário e à segurança da navegação. Mas que não desobriga o interessado perante os demais órgãos responsáveis pelo controle da atividade em questão.

Segundo, NORMAN 11, a definição de Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB): Para efeito destas Normas, as Águas Jurisdicionais Brasileiras compreendem as águas interiores e os espaços marítimos, nos quais o Brasil exerce jurisdição, em algum grau, sobre atividades, pessoas, instalações, embarcações e recursos naturais vivos e não-vivos, encontrados na massa líquida, no leito ou no subsolo marinho, para os fins de controle e fiscalização, dentro dos limites da legislação internacional e nacional. Esses espaços marítimos compreendem a faixa de 200 milhas marítimas contadas a partir das linhas de base, acrescida das águas sobrejacentes à extensão da Plataforma Continental além das 200 milhas marítimas, onde ela ocorrer.

O interessado na realização de obras, deverá apresentar à Capitania (CP), delegacia (DL), ou agência (AG), com jurisdição sobre o local da obra, duas vias de toda a documentação exigida conforme descrito esta norma, de acordo com o tipo de obra a ser realizada, para ser analisada e ser emitido o despacho com o parecer da Autoridade Marítima.

Estando a documentação de acordo com estas instruções, a organização militar (OM), caso julgue necessário, deverá convocar o interessado para a realização de inspeção no local da obra, a fim de fundamentar seu parecer. Todas as despesas decorrentes desta inspeção correrão por conta do interessado, bem como exigir a apresentação de estudos complementares de acordo com a obra a ser realizada.

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36 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para obter dados e referências para a produção deste trabalho, foram realizadas consultas a artigos, documentos oficiais emitidos por órgãos da administração pública do âmbito federal ao municipal, como Atlas, Diagnósticos, Censos, “Plano Diretor Municipal”, Código de Posturas do Município, Plano Municipal de Saneamento Básico, etc. A pesquisa abrangeu livros sobre a relação rio e cidade, artigos sobre métodos aplicados às questões de gestão urbana e corpos d’água, questão ambiental e acerca da sustentabilidade nos projetos e construções. Além disso, diversos sites foram consultados e suas informações analisadas, a fim de verificar o que poderia ser útil e verídico, para que todos os dados analisados fornecessem panorama mais abrangente para melhor compreensão da dinâmica ocupacional social e ambiental, além da obtenção do mapeamento da área.

Foram, então, conseguidos relatórios, mapas, cartilhas, leis e decretos, em sua maioria ligados ao Ministério do Meio Ambiente, que se tornaram essenciais para subsidiar a compreensão do cenário ambiental encontrado e a situação desejada para a proposição de solução ao problema detectado nesse trabalho. Artigos relacionados às medidas de baixo impacto ambiental para os corpos d’agua, além de exemplos de intervenções urbanas em corpos d’água, colaboraram com clareza e segurança sobre o tema estudado.

Outro método de suma importância para a execução da pesquisa e para a proposição de diretrizes urbanísticas e paisagísticas, foi realizar visitas ao local de estudos, a Orla Ribeirinha do Rio São Francisco no município de Propriá/SE, de forma bem informal sem o esclarecimento dos reais objetivos, pois através delas, pôde-se analisar a configuração espacial, ambiental e social, os costumes da comunidade local, as interações sociais, o uso do espaço, a relação entre pessoas e o meio ambiente circundante, entre outros aspectos de fundamental importância para a compreensão meio, buscando esclarecimentos reais sobre a área e comprovações sobre a falta de esclarecimentos da população sobre as questões relacionadas ao tema, tanto ao urbanismo quanto às questões ambientais. Também conversas informais com alguns moradores que estudam a cidade, seja em áreas históricas, ambientais, de educação, jornalísticas, e principalmente relacionadas ao Rio São Francisco, como representantes de ONGs e pessoas que se envolvem diretamente com a Festa de Bom Jesus dos Navegantes; em busca de coletar informações e imagens e entender suas percepções e anseios em relação à área estudada, para que se pudesse obter delas tais informações, que são tão essenciais quanto as técnicas aplicadas para a elaboração do trabalho.

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37 Participação em uma audiência pública para a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico, onde se pode perceber como os órgãos públicos de gestão, que deveriam estar envolvidos diretamente com a problemática, estão alheios aos reais anseios da população de Propriá, pois entregaram a responsabilidade a empresas e o que esperam apenas é um plano elaborado para que se possam receber os recursos financeiros, convidando pessoas muitas vezes alheias ao tema, para obter quórum e assim obter legitimação em suas ações.

Tudo isso promoveu melhor compreensão e análise dos fatores que influenciam os espaços urbanos e que estão relacionados aos corpos d’água, com abordagens que tratam as questões urbanas de forma integrada aos fatores físicos, ambientais, sociais, econômicos e culturais.

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38 4. ÁREA DE ESTUDO

4.1. IMPORTÂNCIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO

A Bacia hidrográfica do Rio São Francisco tem grande importância para o país não apenas pelo volume de água transportado em uma região semiárida, mas, também, pelo potencial hídrico passível de aproveitamento e por sua contribuição histórica e econômica para a região. Seu nome indígena é Opará ou Pirapitinga, também carinhosamente chamado de Velho Chico. Como escreveu Guimarães Rosa, sua história tem sido a história do sofrimento de um rio que há mais de quinhentos anos é fonte de vida e riqueza.

Figura 17: Bacia Hidrográfica do São Francisco

Fonte: Águas do São Francisco, 2015

A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco abrange 639.219 km² de área de drenagem (7,5% do país) e vazão média de 2.850 m³/s (2% do total do país). Possui 2.700 km de extensão e nasce na Serra da Canastra em Minas Gerais, escoando no sentido sul-norte pela

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39 Bahia e Pernambuco, quando altera seu curso para este, chegando ao Oceano Atlântico através da divisa entre Alagoas e Sergipe. A Bacia chega a abranger sete unidades da federação – Bahia (48,2%), Minas Gerais (36,8%), Pernambuco (10,9%), Alagoas (2,2%), Sergipe (1,2%), Goiás (0,5%), e Distrito Federal (0,2%) – e 507 municípios (cerca de 9% do total de municípios do país).

As belas paisagens do Rio São Francisco são divididas por regiões fisiográficas, compreendendo o Alto São Francisco, Baixo São Francisco, Médio São Francisco e Submédio São Francisco. A formação da bacia é feita através dos desníveis dos terrenos que direcionam a água das áreas mais altas para as mais baixas. Na Bacia do Rio, os biomas são diversificados, abrangendo principalmente Floresta Atlântica, cerrado, caatinga, costeiros e insulares. E as águas que formam o Velho Chico são de fundamental importância tanto para os ribeirinhos que vivem ao seu redor como para a nação brasileira.

Figura 18: Regiões da Bacia do Rio São Francisco

Alto São Francisco – das nascentes até a cidade de

Pirapora (111.804 Km2 – 17,5% da região);

Médio São Francisco – de Pirapora a Remanso

(339.763 Km2 – 53% da região);

Submédio São Francisco – de Remanso a Paulo

Afonso (155.637 Km2 – 24,4% da região);

Baixo São Francisco – de Paulo Afonso até sua foz

(32.013 Km2 – 5,1% da região).

Fonte: Águas do São Francisco, 2015

Cerca de 16,14 milhões de pessoas (9,5% da população do país) habita a bacia hidrográfica do São Francisco, com maior concentração no Alto (56%) e Médio São Francisco (24%). A população urbana representa 77% da população total e a densidade populacional é de 22 hab/Km2. Nas demais regiões, observa-se percentual de população da ordem de 10% no

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Tabela 01: População urbana e rural, e taxa de urbanização

Sub-bacia População (hab) Urbanização (%)

Urbana Rural Total

Alto 6.461.510 269.230 6.730.740 96

Médio 2.814.511 2.302.782 5.117.293 55 Sub-médio 1.375.230 1.080.538 2.455.768 56

Baixo 901.713 938.518 1.840.231 49

Total 11.552.964 4.591.068 16.144.032 77 Fonte: Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio São Francisco

Seu uso múltiplo está associado principalmente à geração de energia, produção agrícola, abastecimento humano e industrial, à pesca e à navegação. O elevado grau de exploração dos recursos naturais, que está direta ou indiretamente ligado às atividades desenvolvidas na região, demonstra que a bacia hidrográfica do rio São Francisco é uma das mais exploradas do Brasil.

Segundo a cartilha a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, na cartilha ações de revitalização na bacia hidrográfica do rio São Francisco (2009):

A região hidrográfica do rio São Francisco possui uma das mais importantes disponibilidades hídricas da região Nordeste do Brasil. O desmatamento, a urbanização, a expansão da indústria e a mecanização na agricultura são os principais fatores de pressão sobre a qualidade e quantidade de água na região. O uso racional da água e sua alocação adequada é princípio básico para garantir a disponibilidade hídrica atual e para as próximas gerações, tanto em termos quantitativos como qualitativos. A bacia do rio São Francisco apresenta, nos dias atuais, um quadro de degradação ambiental decorrente do modelo de desenvolvimento econômico praticado no país, especialmente, nos últimos 50 anos, que compromete a sustentabilidade dos seus recursos naturais. Dentre os problemas identificados na bacia do rio do São Francisco, alguns são específicos ou predominantes de determinadas regiões e outros ocorrem em toda a sua extensão. De todo modo, contribuem para o agravamento das condições físicas e socioeconômicas da bacia, principalmente devido a histórica falta de coordenação nas ações institucionais e desarticulação governamental até um passado recente, tanto no nível federal, como estadual e municipal. As ações de educação ambiental relacionadas, tanto à revitalização da bacia, como ao desenvolvimento humano, deve

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41 ser intensificada e de caráter permanente. A percepção dos habitantes locais em relação às melhorias obtidas com as ações realizadas é fundamental para o sucesso dos projetos que buscam a revitalização da bacia.

É imprescindível reconhecer a existência de restrições e de condicionantes de ordem político-institucional, aspecto este que interfere no planejamento e na gestão dos recursos hídricos e, no caso da revitalização, que agrega o aspecto da recuperação socioambiental e passa a envolver uma série de decisões que merecem ser analisadas com maior profundidade, em função da necessidade de se viabilizar a implementação das ações.

Nesse sentido, a bacia do São Francisco apresenta um alto grau de complexidade e deve ser considerada na análise de estratégias para sua revitalização a necessidade de reforçar as articulações políticas e institucionais em todos os níveis, de forma que seja possível promover as transformações esperadas, em sintonia com as impostas pelo processo de desenvolvimento socioeconômico do país.

4.2. REGIÃO DO BAIXO SÃO FRANCISCO

A região do Baixo São Francisco se estende da foz do rio, entre os estados de Alagoas e Sergipe, até o município de Paulo Afonso (BA), e caracteriza-se por ser uma área de transição climática e geológica. Como um reflexo destes condicionantes da paisagem, a vegetação acompanha estas variações, resultando em uma grande diversidade de cenários e possibilidades de uso dos recursos naturais.

Figura 19: Localização da Região do Baixo São Francisco

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42 O clima semiúmido é considerado predominante na região, passando a tropical semiárido e a árido tropical em direção ao interior (IBGE, 1990). A vegetação desta região é uma extensão interiorana da Mata Atlântica, representada pela vegetação de savana gramíneo lenhosa (campo limpo de cerrado ou tabuleiro), floresta estacional semidecidual, savana-estépica (caatinga) arborizada e florestada, e uma área de tensão ecológica, isto é, área de contato entre dois ou mais tipos de vegetação – neste caso, savana e floresta estacional. Estes tipos de vegetação representam a vegetação potencial, atualmente grande parte das áreas originais encontra-se antropizada, ocupada por formações secundárias ou atividades agrárias.

Além destas formações vegetais, ocorrem nas margens dos corpos hídricos as matas ciliares ou vegetação ripária, vegetação típica destes ambientes que hoje se encontram fortemente impactadas, causando um grave problema de ordem natural que se agrava nos perímetros urbanos que margeiam o rio. Pouco restou da originárias, hoje geralmente se encontra muita vegetação invasora ou solos expostos, o que contribui para a instabilidade dos taludes das margens e o assoreamento dos corpos hídricos, além da perda da fauna associada.

4.3. MATAS CILIARES E A VEGETAÇÃO MARGINAL DO BAIXO SÃO FRANCISCO Matas ciliares são formações vegetais com estrutura de floresta, extensão longa e estreita, que margeiam os cursos d’água. São de preservação permanente pelo Código Florestal, Lei no 4.771/65, respaldadas pela Lei no 7.803, de 18.07.1989. Tem a função de proteger os recursos naturais bióticos e abióticos; favorecer a sobrevivência e manutenção do fluxo gênico entre populações (flora e fauna); contribuir na recarga de água para o lençol freático pelas chuvas; reduzir a contaminação dos cursos d’água por agroquímicos.

Conforme o Código Florestal, a largura da faixa varia com a largura dos cursos d’água. No caso do rio São Francisco, no Baixo São Francisco, seria necessária uma faixa de proteção de 500 metros, devido a largura ser superior a 600 metros (Ver Figura 20).

As matas ciliares ao longo do rio têm sofrido, em todo o seu percurso, fortes agressões com o desmatamento de suas margens (extração madeireira, implantação de agricultura e pastagens, e expansão imobiliária). A urbanização e suas ocupações irregulares, também contribuem bastante, com estas agressões, a vegetação ciliar tem desaparecido quase totalmente, podendo-se verificar, indivíduos arbóreos isolados margeando o rio, tais como a ingazeira, carnaubeira, marizeiro, jatobazeiro, mas, geralmente em área rural, e com a ausência dessa vegetação, há o aparecimento de fortes erosões, trazendo como consequência o assoreamento.

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Figura 20: Área em erosão na orla de Propriá

Fonte: Próprio autor, 2015

Mediante a preocupação com os desmatamentos e a possibilidade de recuperação das margens dos rios, são necessários maiores estudos topográficos e fitossociológicos em áreas remanescentes do rio São Francisco. Alguns já foram realizados, no Baixo São Francisco, com o objetivo de recuperar áreas degradadas, onde foram identificadas algumas espécies nativas para recuperação dessas matas ciliares, como exposto na Tabela 02.

Tabela 02 – Espécies selecionadas para recuperação de matas ciliares na região do Baixo Rio São Francisco1

Fonte: ARAGÃO, 2009

Considerando que a largura da faixa marginal está relacionada com os cursos d’água, mas, por se tratar de uma área já urbanizada e não pode estabelecer a faixa necessária, a proposta será uma revitalização de toda a área marginal até o limite do cais, com espécies

1Grupo ecológico (GE) e habitat preferencial (H): P – pioneira; CL – clímax exigente em luz; CS – clímax

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