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A percepção de idosos sobre o processo de envelhecimento humano e do lazer na cidade ao longo do tempo

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Academic year: 2021

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(1)A percepção de idosos sobre o processo de envelhecimento humano e do lazer na cidade ao longo do tempo. Ariane Corrêa Pacheco Universidade Federal de Santa Maria Rua Henrique Abiatti, 255/ 203 Santa Maria – RS – Brasil arianecpacheco@yahoo.com.br. Dr. Marco Aurélio Figueiredo Acosta Professor da Universidade Federal de Santa Maria Avenida Roraima, 1000 Cidade Universitária - Prédio 51 Santa Maria – RS - Brasil marco.acosta@bol.com.br.

(2) Resumo. Atualmente, diálogos, inquietações e elaboração de estratégias para um melhor envelhecer fazem parte das preocupações sociais. O estudo tem por objetivo analisar as transformações na paisagem da cidade, referentes ao lazer e mudanças na compreensão do envelhecer ao longo do tempo, através dos protagonistas do processo de envelhecimento. Em uma abordagem qualitativa, desenvolveu-se uma entrevista, apoiada na utilização de fotografias abordando transformações históricas do município, direcionada a 10 idosos, 5 homens e 5 mulheres, pertencentes a grupos de convivência para a terceira idade. Evidencia-se um olhar positivo do envelhecer na cidade, através dos grupos os idosos enriquecem seus momentos de lazer, novos estereótipos ligados a velhice são apresentados, onde o processo caracterizado por perdas passa a etapa da vida marcada por descobertas e novas possibilidades aos que envelhecem.. Palavras-chave: envelhecimento, cidade, lazer, fotografias, história..

(3) Considerações Iniciais. O processo de envelhecimento, deixou de estar atrelado apenas às perdas que acometem o indivíduo conforme a passagem dos anos, tão pouco ao fato de tais decréscimos refletirem somente em sua privacidade, o envelhecimento passou a ser uma preocupação social. Debert (1999) aponta para a transformação da velhice em tema privilegiado, quando se pensa nos desafios enfrentados pela sociedade brasileira. Implicações sociais de uma população envelhecida em conjunto aos diferentes olhares sobre a velhice oportunizam, com maior vivacidade, uma transformação na cidade ao longo do tempo, sejam elas em sua paisagem ou nas relações humanas que fazem parte de seu funcionamento, promovendo a criação de novos espaços, serviços e atendimento aos idosos. A lógica de funcionamento das cidades, primando pela produtividade em série e acumulo de capital, em diferentes momentos, segundo Magnani (2002) transmite uma imagem onde ela é formada à parte de seus moradores, onde é pensada como resultado de forças econômicas transacionais, das elites locais, de lobbies políticos, variáveis demográficas, interesse imobiliário e outros fatores de ordem macro, parecendo um cenário desprovido de ações, atividades, pontos de encontro e redes de sociabilidade. Tendo como base a cidade, encontramos a universidade, a qual tem por competência a formação de novos saberes e ações, que por sua vez irão modificar o alicerce no qual está inserida. Paula (2006) ainda nos coloca que se atribui à cidade e à universidade conteúdos emancipatórios que, apesar de todas as mazelas, crises e distorções que têm acometido a modernidade, continuam a alimentar o melhor do que somos capazes no sentido da realização de uma humanidade autenticamente humana. A universidade, com seu caráter interdisciplinar e sua capacidade de desenvolver ações que fomentem mudanças em toda a sociedade, engloba em seu trabalho diferentes propostas que contribuirão para o melhor envelhecer de toda a população. Entre os trabalhos originados na universidade estão os grupos de terceira idade, que de acordo com Fenalti & Schwartz (2003) visam à valorização pessoal, à convivência grupal, ao fortalecimento da participação social, à formação de um cidadão consciente de suas responsabilidades e direitos, promovendo a autonomia e qualidade de vida dos idosos..

(4) O entrelaçamento da cidade, universidade e ações direcionadas aos idosos, possibilita a formação de novos espaços, saberes e concepções sobre envelhecer, tais transformações serão analisadas através do discurso dos protagonistas do processo de envelhecimento, onde a partir desses será construído um diálogo entre o lazer, fonte de crescimento pessoal e social do indivíduo e o olhar sobre o envelhecer na cidade. Caminho metodológico. O presente estudo assume um caráter de investigação qualitativo. Neto (1999) afirma que o termo qualitativo engloba diferentes técnicas de investigação, centradas em procedimentos hermenêuticos que tratam de descrever e interpretar as representações e os significados que um grupo social dá à sua experiência cotidiana. Fizeram parte do estudo 10 idosos, 5 homens e 5 mulheres, com idade mínima de 60 anos, moradores do município de Santa Maria – RS desde 1964, que presenciaram transformações históricas no município, possibilitando comparações com o envelhecer em gerações anteriores. A constituição do grupo estudado se desenvolveu através da identificação de idosos que lideram, de alguma forma, o grupo de terceira idade do qual fazem parte, seja por presidir ou pelo entendimento e capacidade de fomentar ações que possibilitem diferentes transformações, sejam essas no próprio grupo ou de maior amplitude. Em um primeiro momento houve um contato de aproximação com os sujeitos, onde os objetivos do trabalho foram expostos e realizava-se o agendamento da entrevista, individualmente, em data e local de preferência dos idosos, favorecendo a criação de um ambiente confortável para o que o diálogo transcorresse naturalmente. Para inclusão dos idosos no estudo, era fundamental sua participação no Grupo de Atividades Físicas para a Terceira Idade (GAFTI), projeto vinculado ao Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (NIEATI), desenvolvido pelo Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Fundado em 1984, o NIEATI é caracterizado como projeto extensionista, constituído por 76 grupos de atividades físicas, localizados em diferentes bairros da cidade de Santa Maria - RS e região. A difusão dos grupos de terceira idade, oriundos do NIEATI, em conjunto ao trabalho consistente que perdura por 25 anos, possibilita uma forte articulação de idéias e ações.

(5) entre os idosos, fomentando a criação de estratégias e iniciativas em prol do melhor envelhecer de toda a população santa-mariense. Devido ao grande número de grupos de terceira idade vinculados ao GAFTI, fizeram parte do estudo grupos pertencentes ao projeto de pesquisa “O Envelhecer na cidade: um estudo sobre os grupos de atividades físicas para a Terceira Idade em Santa Maria – RS”, onde estão reunidas informações de grupos pioneiros no trabalho com Terceira Idade no município. De acordo com o objetivo do estudo, realizou-se a escolha de fotografias que contemplem transformações históricas da paisagem do município. Cada fotografia engloba diferentes imagens do município separadas por décadas, formando uma linha do tempo ininterrupta entre as fotografias, iniciando na década de 40 até o ano de 2000. As imagens abordam espaços públicos, de acesso comum a todos, como construções no centro da cidade e locais destinados ao lazer, com a finalidade de evidenciar as transformações da cidade ao longo tempo e certificar que os sujeitos reconhecem presencialmente os lugares expostos. A apresentação de imagens fez parte da construção de uma linha de raciocínio, que favoreça aos idosos a relação entre as transformações do município e seu processo de envelhecer. Toda imagem, por sua vez, nos faz pensar e sempre nos oferece algo para pensar: ora um pedaço de real para roer, ora uma faísca de imaginário para sonhar (BRUNO & SAMAIN, 2006). As imagens selecionadas foram expostas em um primeiro momento separadamente, cada década de uma vez, em ordem cronológica, onde os idosos as contemplavam da maneira que os convinha e posteriormente organizadas em formato circular, de acordo com Bruno & Samain (2006) a disposição em circulo conduz a uma maior exploração de conexões, correspondências e aproximações entre as fotografias. Em conjunto a observação das imagens foi realizada uma entrevista, com questões abertas, conduzindo o diálogo ao objetivo do estudo. A análise das entrevistas, após sua transcrição, objetivou identificar as transformações da paisagem na cidade, a percepção dos idosos sobre o envelhecer em Santa Maria – RS, buscando evidenciar as transformações nas possibilidades e percepção do lazer voltado ao idoso, almeja explorar os diferentes significados para a participação de idosos.

(6) em grupos de convivência, revelando o olhar presencial acerca do processo de envelhecimento humano.. Um olhar sobre o envelhecimento humano. Com o passar dos anos, o conceito e o entendimento acerca do envelhecimento humano estão se modificando. Visando a contextualização histórica, Silva (2008, p.158) afirma que: A noção de velhice como etapa diferenciada da vida surgiu no período de transição entre os séculos XIX e XX. Uma série de mudanças específicas e a convergência de diferentes discursos acabaram reordenando o curso da vida e gerando condições para o surgimento da velhice. Dois fatores se destacam como fundamentais e determinantes: a formação de novos saberes médicos que investiam sobre o corpo envelhecido e a institucionalização das aposentadorias.. Estudos contemporâneos destinam-se, em maior número, a descobrir caminhos que afastem os que envelhecem de debilidades físicas ou mentais, que os condicionem à dependência de terceiros, comprometendo de maneira significativa sua autonomia e independência. De acordo com Cachioni (2003) a velhice aos poucos passou a ser vista também como uma etapa da vida na qual se pode viver com prazer, satisfação, realização pessoal, de maneira mais madura e também produtiva. O envelhecimento humano é constituído de dois processos diferenciados, segundo Spirduso (2005) tais processos mesmo tendo causas divergentes, interagem constantemente entre si. Um deles é o processo de envelhecimento (envelhecimento primário) que se caracteriza por mudanças universais próprias da idade e independem de doenças ou influências ambientais. O outro é o processo de envelhecer (envelhecimento secundário) que se refere aos sintomas clínicos e incluem os efeitos do ambiente e doenças. Considerando a heterogeneidade do envelhecimento humano, todos os indivíduos, no decorrer desse processo são acometidos por decréscimos, sejam esses biológicos, psicológicos ou sociais. A compreensão dos aspectos sociais do envelhecimento sofre alterações com o passar dos anos. Carstensen (1995) aponta como resultado mais confiável sobre o envelhecimento social é que a taxa de inter-relações sociais declina, ou seja, na velhice as pessoas interagem bem menos com os outros do que na juventude..

(7) Transformações na concepção de envelhecer para sociedade são apontadas cronologicamente por Siqueira (2002), evidenciando que as teorias sociológicas do envelhecimento começaram a ser sistematizadas na década de 60 e foram incorporando alterações com o passar dos anos, que apesar de arbitrárias e passíveis de críticas, as classificações contribuem para a compreensão da elaboração teórica como um processo dinâmico e em permanente construção. As teorias sociológicas do envelhecimento são classificadas em três gerações, na primeira geração (1949-1969) a unidade de análise era primordialmente o indivíduo, enfocando os papeis sócias e formas de ajustamento ao declínio advindo do envelhecimento; a geração posterior (1970-1985) enfatiza o nível macrossocial de análise focalizando a maneira que as transformações sociais influenciam o processo de envelhecimento e a situação do idoso como categoria social; a terceira geração agrupa categorias que criticam e sistematizam as propostas anteriores e analisam os níveis micro e macrossocial, focando os aspectos estruturais do envelhecimento, como as restrições sociais e a desigualdade na distribuição de recursos econômicos. Atualmente, há um duplo movimento que acompanha a transformação da velhice em preocupação social. Em uma das vias, o envelhecimento é uma questão pública. Debert (1999, p.13) afirma que: “um conjunto de orientações e intervenções, muitas vezes contraditório, é definido e implementado pelo aparelho de Estado e outras organizações privadas. Um campo de saber específico – a gerontologia – é criado com profissionais e instituições encarregados da formação de especialistas no envelhecimento.”. Em outra via, há o processo de reprivatização da velhice, onde cada indivíduo é responsável por seu envelhecimento. Debert (1999, p.14) coloca: “A tendência contemporânea é rever estereótipos associados ao envelhecimento. A idéia de um processo de perdas tem sido substituída pela consideração de que os estágios mais avançados da vida são momentos propícios para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfação pessoal.”. Seguindo a linha de pensamento, a autora salienta que nesse momento surgem oportunidades para os idosos buscarem sua auto-expressão e explorar suas identidades, através das “universidades para a terceira idade” e “grupos de convivência de idosos”, porém a imagem passada para a sociedade é de um envelhecimento, no qual o individuo é.

(8) reconhecido como um ser autônomo, capaz de exercer seus direitos de cidadania, encobrindo a realidade onde encontramos idosos em situações de abandono e dependência. A glamourização do envelhecimento saudável, engajado e ativo, a nosso entender acaba por camuflar as injustiças que são cometidas a uma significativa parcela da população brasileira (ALVES JÚNIOR, 2004). Em diferentes faixas etárias há criação de um padrão de comportamento, sendo este determinante para um indivíduo ser aceito socialmente ou não, porém assumir uma postura que acrescente positivamente em seu envelhecimento somada à cooperação e incentivo as transformações sociais é fundamental para construir um viver e envelhecer bem. A participação em atividades que permitam a conservação da autonomia e independência dos idosos é de extrema importância para seu bem-estar. Segundo Gobbi & Ferreira (2003) a atividade física atua como um meio facilitador da etapa de envelhecimento. Cabe ressaltar que a atividade física, por todos seus benefícios à saúde e a participação em grupos de terceira idade, como possibilidade de engajamento, se constituem como uma oportunidade de melhor envelhecer, embora sejam importantes, não se transformam em receita única a todos que envelhecem.. A cidade e a Universidade. Fruto da imaginação e trabalho articulado de muitos homens, a cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza (ROLNIK 2004). Seja nos sinais primitivos de seu nascimento ou nas grandes metrópoles contemporâneas, as cidades se constituem a partir da fixação em determinado local, apresentando uma organização social e política, onde se fazem presentes gestores que coordenaram a produção coletiva. A cidade, que em diferentes momentos é conduzida por um modo de produção econômico excludente, segundo Monte-Mor (2006) garante a diversidade e riqueza da vida social, onde a competição e a cooperação são características da vida contemporânea. De acordo com Magnani (2002), a cidade comporta diferentes possibilidades e alternativas aos seus sujeitos, o autor aponta a existência de grupos, redes, sistemas de troca, pontos de encontro, instituições, arranjos, trajetos e muitas outras mediações por meio das quais aquela entidade abstrata do indivíduo participa cotidianamente..

(9) As múltiplas relações e possibilidades fornecidas pelas cidades às constituem como espaço de liberdade, construído a partir de conquistas históricas, marcadas por diferentes conflitos. Segundo Paula (2006) na Europa, entre os séculos XII e XIV, divergências entre o império, o papado e as monarquias garantem a afirmação da cidade como espaço de liberdade. O autor afirma que o sentido básico é tanto a crise do mundo feudal, de suas instituições, quanto à emergência da modernidade, que apresenta como suas melhores promessas a cidade e a universidade, sendo possibilidades efetivas de liberdade e emancipação da humanidade. A universidade num diálogo constante com a cidade, de acordo com Paula (2006) assume diferentes características, a primeira delas corresponde a seu papel como repositório do patrimônio filosófico, artístico e cultural da humanidade, outra função esta em constituir-se como instituição pública, laica e universal, e por fim encontra-se seu caráter como instrumento de produção de conhecimento através do ensino e da pesquisa. A constituição de uma universidade interdisciplinar, aliada a sua capacidade de conduzir transformações na sociedade, através da disseminação de novos saberes e ações que interfiram no cotidiano dos indivíduos, assume importante papel na contribuição ao melhor envelhecer da população. Projetos em prol do idoso, segundo Fenalti & Schwartz (2003), deram início às Universidades da Terceira Idade, iniciando na França em 1973. No Brasil, a criação da Escola Aberta a Terceira Idade do Serviço Social do Comércio iniciaram em 1977. Ao longo da história as Universidades da Terceira Idade desenvolveram a vocação de propiciar programas de lazer e educativos à população de adultos maduros e idosos; promover pesquisas visando à produção de conhecimentos acerca do processo de envelhecimento; formar profissionais para atuar na área de gerontologia; prestar serviços preventivos de saúde aos idosos e promover a integração entre gerações (CACHIONI, 1999). Entre as ações das Universidades Abertas a Terceira Idade está à formação dos grupos de terceira idade, que favorecem a criação de redes de relacionamento entre os envolvidos, a participação social do idoso e organização de movimentos que visam transformações sejam elas nos próprios idosos, proporcionando seu crescimento pessoal, ou na cidade, como a busca por novos espaços e diferentes possibilidades de atendimento que.

(10) contemplem suas necessidades e finalmente a formação de um olhar atento da sociedade sobre o envelhecimento.. Considerações sobre o lazer e grupos de terceira idade. Atualmente, encontram-se diferentes significados e conceituações para o lazer, sendo que para sua melhor compreensão devem ser consideradas as diferentes esperas da vida social. Rodrigues (2002) aponta uma diversificação no conceito de lazer entre os teóricos, por conseqüência do enfoque de cada autor e pelas diversas áreas de conhecimento na discussão desse assunto. De acordo do Peixoto (2007) a regularidade dos estudos sobre o lazer pode ser observada somente a partir da década de 30 do século XX. Apesar do aumento na produção do conhecimento, Marcellino (2002) afirma que pelo menos 50 anos separam a Europa do Brasil no desenvolvimento de estudos sobre o lazer e que os contextos históricos para sua produção são desiguais. Na Europa o interesse sobre o lazer encontra-se diretamente relacionado ao processo industrial, em nosso país embora também possa ser constatada a mesma relação, o assunto está vinculado principalmente à urbanização nas grandes cidades. Através de lutas trabalhistas pela regulamentação do tempo livre e diminuição da jornada de trabalho que o lazer ganha espaço. No movimento de preocupação com a ocupação do tempo livre, inicia-se a produção do conhecimento correspondente ao lazer, nas décadas de 30, 40 e 50, os Manuais de Recreação centrados na educação voltada para divulgação de normas e padrões de convívio social e para a ocupação do tempo livre, na oferta de jogos, brinquedos, brincadeiras e outras atividades consideradas adequadas do ponto de vista da formação moral e da manutenção da saúde (PEIXOTO, 2007). Segundo Sant’Anna (1994) a preocupação emergente com o lazer é impulsionada no momento que o sistema capitalista encontrou no tempo livre um novo alicerce para o aumento da produtividade, segundo a autora a necessidade de descanso, imprescindível ao corpo humano, passa a ser reconhecida por algumas empresas, na medida em que o corpo descansado demonstra ser mais produtivo durante o trabalho. Da mesma maneira que as empresas vêem no lazer uma oportunidade para o aumento de sua produtividade o mercado de consumo encontra nele mais uma fonte a ser.

(11) explorada. Sant’Anna (1994) coloca que o desenvolvimento da indústria do lazer acontece através do aumento do tempo livre e maior disponibilidade financeira, impulsionando a produção e o consumo em massa de brinquedos, equipamentos esportivos, atividades e eventos lúdicos mais modernos. A oferta de produtos cada vez mais atraentes, a forte propaganda da indústria e os hábitos de consumo da sociedade atual favorecem ao lazer conceder seu lugar ao antilazer, definido por Pascal (1984, p.72) como “o ruído que nos desvia de pensar na nossa condição e nos diverte”. Segundo Marcellino (2002) os indivíduos acabam por entender o lazer como assimilador de tensões ou algo bom que ajuda a conviver com as injustiças sociais. Embora facilmente o lazer assuma o papel somente como oportunidade de desopilação para uma nova jornada de trabalho ou meio para o auxilio no enfrentamento de problemas individuais, o autor ( p.22) salienta que “a simples prática não significa participação, assim como nem todo ‘consumo’ corresponde a necessariamente à passividade”. Atualmente, estudos envolvendo o envelhecimento humano e o lazer, apesar de ganharem cada vez mais espaço na investigação científica, ainda são incipientes (RODRIGUES, 2002). A ligação entre velhice e lazer surge a partir do movimento de reprivatização do envelhecimento, já citado anteriormente, e sua associação, não difícil de ser encontrada, a idéia de que os idosos possuem maior tempo livre. Segundo Debert (1999) os signos do envelhecimento são invertidos e assumem novas designações como “nova juventude” e “idade do lazer”. Essa falsa impressão de todos os idosos possuírem maior parte de seu tempo como livre e a concepção de que cada um é responsável por seu envelhecimento acaba por mascarar a realidade de muitos idosos. Rodrigues (2002, p.106) coloca: “Existe uma grande identificação entre aposentadoria e tempo de lazer, e, se os idosos não procuram uma vida de lazer, é porque não se interessam. Entretanto, este ideal de vida de lazer além de vir acompanhado de uma visão funcionalista, procurando encobrir os problemas sociais e econômicos que atingem estas pessoas; é acessível apenas a uma minoria.”. Diferentes caminhos conduzem o idoso a uma passividade no consumo do lazer, nesse momento se faz importante a presença da educação para o mesmo. Rodrigues (2007) ao apontar a importância da educação para o lazer, afirma que, diversos autores concordam.

(12) com a necessidade de uma aprendizagem que transmita ao indivíduo conhecimentos que lhe proporcionem a autonomia de poder optar por determinada atividade de lazer, reconhecendo nela os instrumentos que possibilitem um maior desenvolvimento. A autora coloca que a educação para o lazer conduz à educação pelo lazer, possibilitando aprendizagens que contribuam para o desenvolvimento pessoal e social. Alves Júnior (2004, p.58) evidencia que “uma vez que a forma asilar passou a ser o último recurso, tanto o lazer e a educação para idosos e aposentados, passaram a fazer parte das mais diversas propostas associativas, tornando-se alternativas para manter inseridos socialmente os que envelhecem.” Construir possibilidades de acesso é fundamental, considerando-se que, só através das experiências de lazer, o idoso poderá apreender a gostar do mesmo (RODRIGUES, 2002). Os grupos de terceira idade formam um importante espaço para aproximar e oportunizar aos idosos atividades de lazer. De acordo com Salgado citado por Portella (2004) a primeira experiência na formação de grupos de convivência ocorreu no SESC/Carmo, na cidade de São Paulo, em 1963, com o objetivo de formar grupos de aposentados e atender suas necessidades internas, objetivado manter as pessoas ativas, ocupadas com algo que viesse ao encontro de suas necessidades de conviver, de estar com outras pessoas, trocar sentimentos e experiências. Com o passar do tempo foram multiplicando-se grupos de terceira idade em todo país, onde os idosos se organizam e buscam amenizar os problemas da velhice, comuns a todos ali presentes. O significado e propostas constituídas pelos grupos de terceira idade assumem características para formação de movimentos sociais, possibilitando assim a constituição de novas redes sociais. Em tais movimentos os idosos visam garantir seu espaço na sociedade e buscar os objetivos de seu grupo e faixa etária. De acordo com Scherer-Warren citada por Portella (2004) um novo movimento social se comporta como redes sociais complexas na medida em que são canais de solidariedade. Scherer-Warren (1984) define movimentos sociais como “um grupo mais ou menos organizado, sob uma liderança determinada ou não; possuindo um programa, objetivos ou plano comum; baseando-se numa mesma doutrina, princípios valorativos ou ideologias; visando um fim específico ou uma mudança social”..

(13) Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de grupos constitui uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades configura uma sociedade (ZIMERMAN & OSORIO, 1997). A universidade capaz de transcender os muros que a cerca, que viabiliza a criação de Grupos de Terceira Idade e favorece a troca de conhecimentos em conjunto aos idosos, é capaz, não somente de estimular o crescimento pessoal e social, através das atividades de lazer, mas contribuir de maneira efetiva para transformações sociais, através de movimentos organizados, proporcionando aos idosos meios para construírem um envelhecer tão bom quanto o possível. A cidade, o lazer e o envelhecimento a partir do olhar dos idosos Direcionamos o olhar sobre o trajeto histórico da cidade, construído através do discurso de indivíduos que presenciaram as transformações do meio urbano, evidenciando a riqueza desse percurso, já que os fatos são narrados com minuciosidade e se completam entre os diferentes sujeitos, possibilidades que poderiam vir a não ser contempladas na análise somente de documentos e imagens. O desenvolvimento da cidade de Santa Maria – RS é apontado através da fala de diferentes sujeitos, onde a Estação Ferroviária, os Quartéis do Exercito e a Universidade Federal de Santa Maria constituem as principais alavancas para o crescimento do município. “Santa Maria cresceu muito através da Rede Ferroviária e os Quartéis que tinham em Santa Maria, apesar de que os Quartéis têm até hoje né!? Mas a rede ferroviária era muito forte, a Avenida Rio Branco que hoje tu vê abandonada, era o centro de Santa Maria, os melhores hotéis, o comércio todo era concentrado na Avenida Rio Branco, a partir da Estação Férrea até a Praça Saldanha Marinho, isso eu me lembro muito bem, as lojas mais fortes, o comercio mais forte, lojas de roupas, ferragem, os melhores hotéis” (Seu Pedro, 62 anos) “Que se agradece ao Mariano da Rocha que foi ele que promoveu aquela Universidade lá fora, foi estimulado por ele, ele era o reitor, ele criou a Universidade, quer dizer entrou com a idéia e o desenvolvimento de Santa Maria se pode agradecer a Universidade de Santa Maria porque dali para cá é que começou a desenvolver” (Seu Arlindo, 68 anos). Em diferentes momentos torna-se clara a satisfação do envelhecer como morador de Santa Maria - RS, embora o descontentamento com gestores também faça parte do.

(14) discurso, o envelhecer na cidade foi se transformando positivamente com o passar dos anos, onde o idoso conquista socialmente seu espaço. “Envelhecer em Santa Maria, acho que é um privilégio, é um privilégio porque é uma cidade que dispõe de recursos, recursos para a própria saudade da pessoa como por exemplo, tu vai para uma cidade como por exemplo onde eu me criei, onde eu nasci, tu não tem um grupo terceira idade para fazer física, não tem nada disso ai, não tem um lazer, é difícil” (Seu Arlindo, 68 anos) “Hoje em dia para os velhos Santa Maria é tudo de bom na vida! Pelo amor de Deus! Santa Maria simplificou, ela deu o exemplo para muitos e muitos lugares até maiores que Santa Maria” (Dona Clara, 67 anos) “Hoje é bem diferente, hoje a pessoa idosa é bem mais ativa, e participa do movimento social, na época eles já iam se desligando do movimento social, hoje ele faz parte, participa, é membro da sociedade, é membro ativo da sociedade, na época não era” (Seu Carlinhos, 61 anos). Evidencia-se a existência de uma lacuna na disponibilização de espaços da cidade direcionados aos idosos, principalmente os que favoreçam as atividades de lazer e sejam de livre acesso. O vazio deixado na fala dos idosos quando a interrogação era referente aos espaços da cidade que proporcionavam momentos de lazer, demonstra a percepção dos sujeitos quanto à disponibilização de recursos com tal finalidade. “A senhora vê que Santa Maria nós não temos, a não serem esses espaços que a gente aluga, porque senão os idosos ficam em casa (...) Olha, da condições, falta é vontade, falta vontade dos dirigentes da cidade, porque eles tem áreas deles, que eles podem fazer um negócio para o lazer das pessoas” (Seu Adair, 61 anos) “Acho que Santa Maria para a terceira idade, eu acho que mais pagando” (Dona Terezinha, 65 anos). Conforme o processo de urbanização foi se consolidando e formando as cidades atuais, as atividades vivenciadas durante o lazer foram sofrendo alterações, é possível perceber as transformações e o crescimento das possibilidades de lazer para os idosos ao longo desse processo. Historicamente, Marcellino (2002) aponta para a transformação de uma sociedade tradicional, marcadamente rural e também nos setores pré-industriais, não havia separação entre as várias esferas da vida do homem para uma sociedade moderna, marcadamente urbana que obedece a um tempo mecânico, o que provoca uma série de modificações no comportamento dos indivíduos, criando a distinção entre tempo de trabalho e tempo de.

(15) lazer. Mudanças na dinâmica das cidades e influencias culturais de determinada época produzem diferentes concepções e aceitação do lazer como integrante do cotidiano. “pessoas com uma média de 60, 65 e 70 anos eu acredito que tiveram uma cultura de criação diferente, principalmente quem nasceu e se criou na cidade, são pessoas que procuram mais o lazer, atividade, ginástica, caminhar e se movimentar”(Seu Pedro, 62 anos). No passado, o lazer estava vinculado às atividades de Igrejas e Clubes da cidade, como o Clube Esportivo, União Familiar, Treze de Maio, Grêmio dos Ferroviários, Clube Comercial Caixeral. Na década de 80 destacam-se os cinemas, como o Cine Independência, o Cine Imperial e o Cine Glória, peças de teatro, programas de auditórios das emissoras de televisão, e atividades desportivas, como o futebol. A utilização do Parque Itaimbé como possibilidade de acesso público ao lazer é também evidenciada. “O Itaimbé é utilizado sempre para essa parte de caminhada, de exercício, sempre foi, a principio o projeto era para ser uma Avenida e não foi e antes quando abriram aquilo ali o pessoal usa para caminhada, ciclismo e tem hoje para o lado do Bombril tem quadras de futebol de salão, futsal, umas duas ou três ali” (Seu Carlinhos, 61 anos). Devido às características de colonização alemã e italiana do estado, os idosos encontravam-se socialmente inseridos no resgate e preservação da cultura de seu país de origem. “os idosos eram mais presentes nessa parte da tradição, tanto alemã, como a italiana, porque eram os velhos que traziam as idéias (...) porque eram os idosos que sabiam as danças, eram os idosos que sabiam os costumes, mas sempre os idosos é que traziam essas formações e era o lazer que eles tinham” (Dona Clara 67 anos). Através das entrevistas foram ressaltadas diferenças entre o lazer acessível aos homens e às mulheres, onde as atividades para o público feminino se restringiam aquelas propostas por Igrejas e as especificas propostas dos Clubes. “o idoso não tinha, a não ser os homens se aposentavam e eles tinham as suas rodas de bar, suas rodas disso e daquilo, suas rodas de jogo de bocha, de jogo de não sei o que lá que eles iam, as mulheres tinham seus jogos de bolão lá no Esportivo, que tem há muitos anos os jogos de bolão, então eram coisas assim dentro da sociedade, entende!?(...) As mulheres principalmente morriam dentro de casa sem nada, sem um lazer, sem nada a não ser quando a família se reunia e ia passear lá na casa da tia, a família se reunia e ia lá que tem um tio que tem uma fazenda, lá não sei onde e que nas férias nós vamos lá”(Dona Clara, 67 anos).

(16) “porque eu me lembro no tempo da minha mãe ela não tinha lazer nenhum, era só em casa fazendo comida para os filhos, trabalhando, remendando, porque naquele tempo remendava as roupas para trabalhar e agora não, eu saio, naquele tempo era só a missa o lugar que a gente ia passear e sair, agora não, se a gente quer ir em um cinema a gente vai” (Dona Ilda, 69 anos). Atividades assistemáticas também fizeram parte das recordações, onde momentos de lazer foram proporcionados por circos e parques de diversões. “Aqui era o ponto de passeio do pessoal, era o passeio, diversão era só quando vinha o circo, o parque, aqui nessa década teve o cara que caminhava de bicicleta no fio, que ligaram de um edifício ao outro, uma semana ficou aí, era a maior diversão que tinha na década eu acho, e tinha apresentação da banda” (Seu Carlinhos, 61 anos). Atualmente as atividades de lazer encontram-se fortemente vinculadas as propostas dos grupos de terceira idade, a partir da participação do idoso em grupos de convivência as ofertas se multiplicam e a busca por tais momentos se torna cada vez mais presente na vida dos que envelhecem. Portella (2004) afirma em seu estudo que os movimentos dos mais velhos, em grupos de convivência possuem propostas culturais ou de lazer ampliadas. “Em 80 que começaram a surgir os grupos de terceira idade, começou que eu me lembro o Grisalhas da Primavera foi o primeiro, e do Grisalhas da Primavera como descendente nasceu o Cabelos de Prata, que nasceu com a idéia de usar e achar um espaço para agregar essa pessoa de terceira idade e oferecer a elas lazer, diversão, aprendizado de alguma coisa”(Seu Pedro, 62 anos) “Os grupos vieram depois, os grupos foram sensacionais, os grupos resolveram os problemas, a gente teve a liberdade que sempre merecemos e não tinha” (Dona Clara, 67 anos). A formação de grupos de convivência possibilitou aos idosos um novo olhar sobre o envelhecer, comparações às gerações anteriores tornam evidentes as transformações não somente na percepção acerca do processo como a importância da participação em grupos de terceira idade como possibilidade de reinserção social. “Ah! Com certeza, fez com que as pessoas, tu pode ver que, quando eu era mais jovem, que eu era guri na década de 70, uma pessoa com 60 anos era um velho, hoje em dia tu vê uma pessoa com 80 anos que estão em pela atividade, claro que não estão trabalhando, não estão produzindo, mas estão em plena atividade através de um grupo de ginástica, gostam de passear, gostam de ir a baile, gostam de se divertir, não são mais aquele idoso a ficar sentado dentro de casa esperando a morte chegar como era.

(17) antigamente isso ai acho que beneficiou para a qualidade de vida das pessoas” (Seu Pedro, 62 anos) “Mas é uma maravilha e como mudou para a gente, acho que muita gente já tinha morrido, se não tem essa natação, hidroginástica, ginástica, os grupos, os passeios, coisa bem boa!” (Dona Ilda, 69 anos). A participação em grupos de terceira idade assume relevante papel para as mulheres que envelhecem. De acordo com Borini & Cintra (2002) pesquisas recentes revelam que um grande número de mulheres envelhecidas atribui a vida atual, como idosa, o momento mais tranqüilo e feliz que já tiveram, o fato da maioria das idosas de hoje não ter alcançado uma vida profissional ativa, e ao mesmo tempo, terem tido uma vida social limitada em relação aos homens de sua geração, leva-as a um sentimento de maior satisfação e plenitude, principalmente ao ingressarem em programas para a terceira idade. A importância do grupo de terceira idade se manifesta na fala dos idosos que o constituem, porém não podemos deixar de considerar que é uma oportunidade de contribuir para um melhor envelhecer mas não única e satisfatória a todos. Quando indagado sobre as mudanças após a entrada no grupo um dos indivíduos, embora o considere importante não o vê como essencial para seu bem envelhecer. “Tu sabe o que mudou, não mudou muito, porque o meu procedimento continuou aquele que era sempre, tratar todo mundo bem, respeitar bem, exercício é bom, é bom mesmo, mas eu estou sempre em movimento, e fazia os movimentos em casa, as vezes a mulher manda eu parar que eu não sou mais um gurizinho ta com quase 100 anos nas costas, vai sentar tomar um chimarrão, te alimentar, ah mas eu não deixo” (Seu Arlindo, 68 anos). As analises evidenciam que o envelhecimento deixa de ser caracterizado como processo exclusivo de perdas, apresenta-se a importância de aceitação do envelhecer como etapa da vida com os decréscimos e conquistas que o compõem. Jardim et al. (2006) em seu estudo, apresenta relatos de idosos que consideram a velhice como fase de prazer, não sendo percebidos conflitos, frustrações ou dramaticidade na forma de vivenciarem a velhice, acrescenta que não foram identificados sentimentos de rejeição e/ou inferioridade face às mudanças e perdas durante o processo. “Eu sou velha. Sou velha! Porque eu quero curtir minha velhice, eu quero aproveitar minha velhice, eu tenho uma história de vida, por isso eu sou velha, porque eu tenho essa história na minha vida, entende!? Eu cumpri uma história, eu cumpri um tempo de vida que me deu uma historia de vida. Através dos meus netos, para ter netos eu tinha que envelhecer, eles.

(18) é que vão continuar minha história, entendeu!? Então para isso eu tinha que envelhecer, eu tinha que aceitar, no momento que eu aceito a minha velhice, no momento que eu curto a minha velhice, como eu curto, eu me sinto feliz porque eu sou criança, eu sou jovem, daí eu fico no jovem e não vou adiante!? Como!? Eu sou criança, eu sou jovem, eu sou velha! (...) Eu sou velha, to dentro desse ciclo, cheguei a esse ciclo, eu tenho que ter isso como um prêmio, eu cheguei a ser velha, porque o jovem só vai ser velho se ele não morrer antes, eu tenho mais do que vocês, porque eu tenho uma vida maior, porque eu vivi mais, vivi mais tempo que você entendeu!? No momento que a pessoa aceitar a velhice, até entre os jovens a gente ia se sentir melhor, vocês sabem que a gente tem o que passar para vocês, não é por inteligência rara é pela vivencia dos anos que a gente tem.” (Dona Clara, 67 anos). Atualmente, apresenta-se um ciclo de transformações, onde a cidade capaz de acolher diferentes sujeitos é a mesma cidade que se enquadra às molduras produzidas por seus habitantes. Através da proposta de organização de grupos de terceira idade vinculados à universidade, que prioriza a troca de conhecimentos, favorece assim a constituição de movimentos em prol de mudanças estruturais no município e principalmente no olhar de todos sobre o processo de envelhecimento. Considerações Finais O resgate da trajetória de formação do município de Santa Maria – RS, através de seus personagens reproduz nos discursos um encantamento, que encobre um processo negligente na estruturação dos espaços destinados ao sujeito envelhecido, em favor de um olhar positivo do envelhecer na cidade. O trabalho da universidade na formação de grupos de terceira idade contribui significativamente para o melhor envelhecer daqueles que o integram, contribuindo para a preservação da independência e autonomia dos idosos. A participação em grupos de terceira idade favorece a diversificação das atividades de lazer, possibilitando ao idoso um crescimento pessoal e social à medida que integram, conforme suas possibilidades, momentos de lazer em seu cotidiano. Para as mulheres idosas a participação nos grupos e atividades de lazer representa o direito à liberdade, sempre restringida socialmente durante sua caminhada e das gerações anteriores. O olhar positivo de envelhecer na cidade vai ao encontro dos estereótipos ligados a velhice atualmente, onde o processo caracterizado por perdas passa a etapa da vida marcada.

(19) por descobertas e novas possibilidades aos que envelhecem. De acordo com Silva (2008) futuros debates devem considerar que se a ascensão das imagens positivas que compõem a terceira idade produzirem como conseqüências de sua extrema valorização, a exclusão da possibilidade de vivenciar o envelhecimento por meio da quietude, do descanso e da inatividade, certamente perderemos a diversidade referente aos modos de vida e aos caminhos de satisfação dos sujeitos. Estudos destinados a avaliação de narrativas de idosos que não fazem parte dos grupos de terceira idade, abordando seu olhar sobre a cidade de Santa Maria – RS, suas concepções acerca do lazer e do processo de envelhecimento contribuiriam para uma analise comparativa entre tais percepções, enriquecendo assim, o estudo dos aspectos sociais do envelhecimento humano..

(20) Referências Alves Júnior, Edmundo de Drummond. Procurando superar a modernização de um modo de envelhecer. Revista Movimento. v.10, n.2, p.57-71, 2004.. Borini, Maria Lúcia Olivetti; Cintra, Fernanda Aparecida. Representações sociais da participação em atividades de lazer em grupos de terceira idade. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v.55, n.5, p.568-574, set/out, 2002.. Bruno, Fabiana; Samain, Etienne. Imagens da velhice, imagens da infância: formas que se pensam. Caderno Cedes. Campinas, 26(68): 21-38, jan/abr, 2006.. Cachioni, Meire. Universidades da Terceira Idade: das origens à experiência brasileira. In: Neri, Anita Liberalesso. & Debert, Guita Grin. (Org.) Velhice e Sociedade. Campinas: Editora Papirus, 1999.. Cachioni, Meire. Quem educa os idosos? Um estudo sobre professores de universidades da terceira idade. Campinas, SP: Editora Alínea; 2003.. Carstensen, Laura L. Motivação para contato social ao longo do curso de vida: uma teoria de seletividade socioemocional. In: Neri, Anita. Liberalesso. (Org.) Psicologia do Envelhecimento. Campinas: Editora Papírus, 1995.. Debert, Guita Grin. A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Editora Edusp; 1999.. Fenalti, Rita de Cássia de Souza; Schwartz, Gisele Maria. Universidade aberta à terceira idade e a perspectiva de ressignificação do lazer. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, 17(2): 131-141, jul/dez, 2003..

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