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JONLANG-CRIANDOATEORIADAARQUITETURA-CAP.1

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CRIANDO TEORIA DA ARQUITETURA: O PAPEL DAS

CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS NO PROJETO AMBIENTAL –

CAPÍTULO 1

i

LANG, Jon

PhD pela Cornell University. Professor da University of New South Wales (Austrália) desde 1990. Professor da University of Pennsylvania (1970-1990). Diretor do Urban Design,

Environmental Research Group, na Philadelphia. Ford Foundation Fellow (India, 1981), Consultor da UNESCO (Turquia, 1979). Co-Editor dos livros Architecture for Human Behavior

(1971) e Designing for Human Behavior (1974). Autor do livro Creating Architectural Theory (1987), Urban Design: The American Experience (1994), A Concise History of Modern

Architecture in India (2002) e, A Typology of Urban Design Procedures and Products illustrated with 50 Case Studies (forthcoming, 2005). Co-autor do livro Architecture and Independence:

The Search for Identity: India 1880 to 1980 (1997).

TRADUÇÃO DE FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETOii

Professor Assistente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo.

RESUMO

Neste Primeiro Capítulo, Lang traça a história do criticismo ao Movimento Moderno em Arquitetura e Urbanismo, centrado nos C.I.A.M.; esse criticismo exigirá, no período após a Guerra Mundial de 1939-1945, uma série de estudos envolvendo uma diversidade de áreas disciplinares – a sociologia, a psicologia, a antropologia, entre outras -, elas próprias em pleno desenvolvimento, para que novas abordagens da teoria e da prática de projetos enfrentassem importantes problemas ambientais colocados pelo modernismo e seu contexto de rápida industrialização e urbanização. Uma dessas abordagens buscará examinar as relações entre as pessoas e seus ambientes, com a ajuda das ciências comportamentaisiii.

ABSTRACT

Lang depicts a history of ideas and criticisms against the Modern Movement centered on the C.I.A.M. series; those criticisms will demand new developments in the frantically evolving social sciences – as in the fields of sociology, psychology, anthropology and so on -, in order to make it feasible to answer back the awesome environmental problems carried out by modernist architects and urban designers, at its deeply transformed urban and industrial milieu. A new field of research is created thanks to some of those efforts: the study of individual-environment relationships, with the aid of behavioral sciences.

PALAVRAS-CHAVE: Teoria da Arquitetura. Projeto Ambiental. Ciências Comportamentais.

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PREFÁCIO

Este livro é motivado por minha preocupação com a qualidade do ambiente construído e com a formação de projetistas de interiores, arquitetos, paisagistas e urbanistas. Há muitos livros com a mesma motivação. Muitas desses mostram propostas sobre como compartimentos, edifícios e espaços abertos devem refletir o sentido religioso, sociológico, espiritual ou tecnológico do nosso tempo. A intenção deste livro não é, contudo, propagar uma nova, específica arquitetura, ou projeto urbano ou de paisagismo, mas ampliar a consciência dos projetistas (o que, evidentemente, inclui os arquitetos) com as novas idéias acerca do ambiente construído e do processo de projeto geradas pela pesquisa recente nas ciências comportamentais.

Este livro é concebido como uma introdução destinada a estudantes, embora espere que os projetistas praticantes o considerem útil para a sua reflexão acerca da natureza e da teoria do projeto. O objetivo do livro é ampliar a nossa habilidade de discussão clara de algumas das complexas questões que enfrentamos – em particular aquelas que envolvem o ambiente construído e o que este propicia em termos de atividades e experiências estéticas.

Vários dos autores de obras recentes sobre o projeto ambiental, particularmente sobre arquitetura, tomam a posição de que as teorias que especulam sobre os diversos campos do projeto têm sido bem sucedidas, e que nada têm a se beneficiar com as abordagens positivistas vindas de outras áreas disciplinares. As teorias dos campos do projeto nunca foram, contudo, independentes de outras disciplinas e do conhecimento que elas trazem sobre o mundo e como este funciona. Se as lacunas existentes entre o que os projetistas afirmam ou postulam sobre como suas obras funcionarão e como elas realmente funcionam tiver que ser reduzido, a qualidade do conhecimento que fundamenta o projeto deve ser consideravelmente ampliada e melhorada. Isto é particularmente verdadeiro quando consideramos as afirmações que os projetistas fazem sobre o impacto do seu trabalho sobre as vidas das pessoas. A contribuição das filosofias que especulam sobre o projeto não pode ser recusada, e elas têm um enorme impacto neste livro. Elas não são, no entanto, um fundamento suficiente para um maior desenvolvimento da teoria do projeto.

No presente, nós projetistas nos defrontamos com diversas questões difíceis de considerar de um modo explícito. A razão disso é que, por um lado, as profissões do projeto são ricas em teorias normativas – ou prescrições para a ação -, e por outro são fracas em teorias positivas, ou, como também as podemos denominar, teorias explanatórias, a explícita descrição e explicação dos fenômenos e processos com que lidam. O resultado é que nós projetistas freqüentemente aderimos a conclusões errôneas acerca do impacto de nosso trabalho sobre as vidas das pessoas. Isso é especialmente verdadeiro quando nós projetamos para pessoas cujos padrões de comportamento e valores diferem dos nossos. Argumenta-se, neste livro, que as ciências comportamentais oferecem importante auxílio às profissões do projeto, no sentido do desenvolvimento tanto de uma teoria positiva quanto de uma maior compreensão de nossas teorias normativas. A visão exposta aqui é de que a construção de teorias é um ato criativo e não simplesmente um ato analítico. Cria-se teoria.

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Este livro representa uma linha de pensamento sobre projeto, teoria, ideologia e prática que tem envolvido muitos arquitetos, tanto educadores quanto praticantes, ao longo dos últimos vinte anos. O específico esforço representado por este livro começa com a conferência e a exibição sobre Arquitetura para o Comportamento Humano organizadas na Filadélfia sob a liderança do Instituto Americano de Arquitetos – Departamento da Filadélfia, e realizado no Instituto Franklin em 1971. O objetivo da conferência era chamar a atenção dos arquitetos e dos estudantes de arquitetura para as pesquisas geralmente mantidas sob a rubrica da Psicologia Ambiental. O sucesso da conferência e dos trabalhos apresentados levou à organização e publicação, em 1974, de um volume editado por Jon Lang, Charles Burnette, Walter Moleski e David Vachon, sob o título “Designing for Human Behavior:

Architecture and the Behavioral Sciences”. Essa livro buscou delinear a

natureza e o escopo de uma base teórica para os campos do projeto de forma assemelhada aos delineamentos feitos em outros campos aplicativos, como no caso da medicina. Também buscou explicar por que o desenvolvimento de uma tal base teórica se faria não apenas desejável mas sobretudo necessária. O objetivo do presente livro é dar um passo adiante a esse prévio esforço, com uma explicação mais detalhada daqueles aspectos da teoria do projeto ambiental em que as ciências do comportamento podem contribuir – ou já oferecem contribuição – em termos concretos.

A abordagem da teoria neste livro se estende desde a mais fundamental contribuição dos grandes teóricos da filosofia da arquitetura do século 20, ao ampliar a definição de função de forma a incluir todos os aspectos do ambiente construído que servem aos propósitos humanos, em vez de restringir-se simplesmente àqueles implicados na eficiência do desempenho de atividades.

Este livro também representa o esforço de reorientar a teoria da arquitetura, do paisagismo, do projeto urbano desde uma preocupação dominante com os manifestos dos mestres e de suas correntes (o que também pode ser denominado teoria normativa) para uma preocupação igualmente voltada para a compreensão dos fenômenos (teoria positiva), uma compreensão que pode ser usada como a base para o desenvolvimento de uma nova geração de prescrições para as situações com que nos defrontamos na atualidade. Essa mudança reflete um abandono de posições fechadas sobre o que constituiria o bom projeto, pela adoção de uma posição relativista. Nisso, há o reflexo de uma importante mudança de valores. Isso também significa que as profissões do projeto requerem uma compreensão mais ampla e mais explícita do que as mantidas na atualidade, tanto sobre as relações entre indivíduo e comportamento quanto sobre os processos de projeto.

Este livro não é um abrangente tratado sobre teoria do projeto. A natureza da indústria da construção e a organização política e legal das atividades profissionais relacionadas ao projeto são mencionadas apenas de passagem. Há pouca discussão acerca da tecnologia e dos materiais da construção. A atenção deste livro é dirigida para: (1) como a organização tridimensional do ambiente dá suporte às atividades humanas, a comportamentos sociais e a experiências estéticas; e, (2) os processos pelos quais os projetistas criam tais organizações.

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UM SUMÁRIO DO LIVRO

Este livro foi dividido em quatro partes. Na primeira, os fundamentos teóricos do livro são apresentados; a segunda parte diz respeito à teoria positiva e a terceira com a teoria normativa; a parte final consiste em uma breve especificação acerca das limitações do material apresentado no livro e como essas limitações podem ser reduzidas no futuro.

Dado que o livro é dirigido à teoria, é importante saber onde os projetistas se encontram agora – ou o que herdamos do Movimento Moderno. O movimento oferece a nós muitas coisas que não podem ser rejeitadas, embora haja importantes limitações em seus conceitos acerca da teoria e acerca do comportamento humano que devem ser reconhecidas. O ponto essencial é o de que se deve distinguir entre teoria positiva e teoria normativa, e entre teoria substantiva e teoria de procedimentos. Uma vez que isso esteja esclarecido, é possível discutir a natureza e a utilidade da teoria, o papel das ciências comportamentais na construção da teoria do projeto, e suas contribuições passadas e potenciais. A Parte 1 do livro é dedicada a essas questões.

A Parte 2 é a porção central do livro. Nela uma tentativa é feita no sentido de apresentar o núcleo de uma teoria positiva da arquitetura para o qual as ciências do comportamento podem contribuir. Essa parte é dividida em duas seções. A primeira diz respeito à teoria de procedimentos – a natureza da

práxis. Nela se discute não apenas a natureza do processo de projeto, mas

também a questão do por quê uma apropriada teoria substantiva é necessária para dar suporte ao processo de projeto. A segunda seção lida com a teoria

substantiva – a natureza do ambiente e a natureza do comportamento espacial

e emocional humano no ambiente, e suas respostas a ele. O objetivo é apresentar generalizações sobre o que o ambiente oferece como suporte às pessoas, e um conjunto de conceitos para a compreensão do relacionamento entre arquitetura e comportamento humano. Esses conceitos podem substituir o ingênuo modelo de estímulo-resposta implícito em muitas das discussões correntes sobre arquitetura. O mais importante aqui é o reconhecimento de que existem teorias sobre o comportamento humano em aberta competição, e que levam a diferentes conclusões acerca da natureza do projeto arquitetônico, paisagístico e do projeto urbano.

A Parte 3 do livro traz a discussão de volta à consideração da teoria

normativa. Uma das maiores contribuições das ciências comportamentais

consiste no esclarecimento progressivo dos valores adotados por diferentes arquitetos e correntes de pensamento arquitetônico, e como esses valores refletem ou não os valores das sociedades de que participam. Isso também levanta questões que dependem da percepção que o projetista individual tem de seu papel na sociedade.

Ao mesmo tempo em que o objetivo deste livro é prover uma visão geral que as ciências comportamentais têm feito à teoria arquitetônica, há lacunas e inconsistências na apresentação tanto da teoria normativa quanto da teoria

positiva. Certamente alguns críticos considerarão prematuro este esforço de

sintetizar os amplos e diversificados achados das pesquisas e as hipóteses das ciências comportamentais. Seja como for, sem uma teoria se torna difícil trabalhar os diferentes focos que a pesquisa deve utilizar, a fim de construir a base dos conhecimentos de uma área disciplinar. Na Parte 4, a conclusão do

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livro, as inconsistências e omissões mais óbvias referentes aos conceitos apresentados são reexaminadas. É esperado que esse reexame encoraje novas pesquisas, que venham resultar no desenvolvimento e na possível substituição das idéias aqui apresentadas por outras melhores.

AGRADECIMENTOS

Ao contemplar a natureza do projeto e a natureza do mundo construído, urbanistas, arquitetos, paisagistas e projetistas de interiores se voltaram para as pesquisas feitas por um eclético grupo de pessoas interessadas em assuntos similares. Fica evidente, mesmo para o mais descompromissado leitor, o quanto este livro se apóia no trabalho de muitas outras pessoas. Estou na posição em que Sir Henry Wotton encontrou-se quando escreveu The Elements of Architecture, em 1624: “Eu não preciso enaltecer o assunto que aqui apresento; quanto a isso me sinto tranqüilo. A arquitetura não precisa de enaltecimentos… devo sim dedicar este Prefácio àqueles a quem devo meu conhecimento; pois não sou mais que o recolhedor do material produzido por outros, seguindo o meu melhor juízo”.

Ao pensar sobre a natureza da teoria, eu fui influenciado pelos escritos de Barclay Jones, Abraham Kaplan, e ainda dois de meus colegas na Universidade de Pennsylvania, Britton Harris e Seymour Mandelbaum. As idéias de psicólogos cognitivistas e teóricos das decisões, como Herbert Simon, exerceram uma profunda influência no pensamento de muitos arquitetos acerca da natureza do processo de projeto e do ato criativo. Os escritos de Marvin Manheim, Raymond Studer, Gary Hack, Horst Rittel, Don Schon, e Hayden May deram forma aos desenvolvimentos na teoria de procedimentos. O trabalho de psicólogos ambientais tais Harold Proshansky e seus colegas na City University of New York tiveram uma influência similar na teoria substantiva. Os esforços de Amos Rapoport, Constance Perin, William Michelson, C. Douglas Porteous e Thomas Saarinen, no sentido de sintetizarem essas pesquisas para o seu uso por projetistas foi de imenso auxílio neste trabalho. Muitas das idéias apresentadas aqui foram tomadas de empréstimo dos escritos de filósofos da arquitetura contemporâneos, como James Marston Fitch, Christian Norberg-Schulz, Robert Venturi e Denise Scott Brown; outra fonte tem sido os ainda inovadores trabalhos de Kevin Lynch, que fez muitas contribuições à teoria psicológica. O psicólogo James J. Gibson elaborou o conceito de “obtenibilidade” (affordance), tão básico para a compreensão do relacionamento entre o ambiente construído e o comportamento humano. Em seu espírito, este livro deve muito a Appollinari K. Krasovsky, Nikolai Aleksandrovich e Moisei Ginsburg, os grandes filósofos das escolas racionalista e construtivista da arquitetura soviética, e entre os primeiros arquitetos e educadores modernos a enfatizar a necessidade de teorias sistemáticas, explícitas e bem testadas para a arquitetura, e a Walter Gropius e Hannes Meyer, esses dois tão diferentes diretores da Bauhaus.

Se este livro estimular projetistas a aplicar e testar o conhecimento e as idéias dessas e de outras pessoas – tantas que seria fastidioso mencioná-las todas – que são apresentados aqui, e se estimular outros projetistas e cientistas do comportamento a desenvolver as pesquisas necessárias ao estabelecimento de teorias mais rigorosas, terá cumprido o seu propósito. Se

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oferecer aos estudantes um quadro geral que lhes facilite o conhecimento de como o ambiente construído serve à humanidade, bem como a natureza do processo de projeto, terá cumprido seu propósito. Esses eram os objetivos das conferências no Instituto Franklin e do trabalho Design for Human Behavior, que geraram considerável discussão a seu tempo. Se este trabalho levar essa discussão um passo adiante, considera-se a isso sucesso. O impulso original para o evento do Instituto Franklin e para o trabalho Design for Human

Behavior veio de Charles Burnette, que era então diretor executivo do Instituto

Americano de Arquitetos – Departamento da Filadélfia. Sem sua participação e encorajamento, nenhum desses esforços teria alcançado êxito. Ao longo dos anos, Walter Molenski, diretor executivo do Grupo de Pesquisa Ambiental da Filadélfia deu apoio constante à produção deste livro. Muitas de suas inteligentes contribuições estão aqui. Mark Francis, William Sims, Carole Treinan, Seymour Mandelbaum, Richard Dober, Raul Garcia, Ernest Arias e Mark Heyman, bem como revisores anônimos, todos deram inestimável ajuda para que o manuscrito fosse melhorado. Acima de todos, talvez, estiveram as críticas, os desafios e o apoio recebido tanto de estudantes da graduação quanto da pós-graduação, nas quatro escolas de arquitetura e projeto ambiental da Filadélfia – Drexel, Penn, Spring Garden e Temple – pelo que se deve agradecer. Não apenas contribuíram diretamente, na compilação deste volume, como também deram o estímulo sem o qual esta realização sequer seria considerada.

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PARTE 1

O MOVIMENTO MODERNO, TEORIA DA ARQUITETURA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS

Arquitetos, paisagistas e urbanistas há muito vêm tomando emprestadas idéias das ciências comportamentais e de filosofias especulativas acerca da natureza da ação e do pensamento humanos. Eles fazem isso, contudo, sem sequer desenvolver um corpo coerente de conhecimento acerca do ambiente construído e o que esse ambiente oferece às pessoas, ou sobre a prática do projeto; constata-se uma teoria bem pouco coerente sobre o projeto ambiental. Mas isso está mudando.

Este século 20 tem presenciado um crescimento sem precedentes no conhecimento humano, com grandes mudanças sociais e melhorias no padrão de vida em boa parte do mundo. Esses desenvolvimentos não têm tornado a prática do projeto mais fácil, ao contrário, ela se tornou bem mais difícil. As razões para isso são claras. Nós temos agora a capacidade tecnológica (e mesmo a comichão) de construir edifícios, vizinhanças e cidades em uma enorme variedade de maneiras sem que compreendamos os desdobramentos desses projetos para o comportamento humano. Nós sabemos que no passado avaliações simplistas das mudanças a serem feitas em nosso habitat resultaram em efeitos colaterais não-antecipados e indesejáveis. Ao mesmo tempo, os arquitetos defrontaram-se com clientes mais informados e exigentes. A sociedade agora tem certeza de que certas demandas são fáceis de ser atendidas. Rayner Barham (1960) observa:

“Um automóvel comum, ao percorrer vias especialmente construídas para ele, oferece um modo de transporte mais suntuoso e de uma forma mais elegante que jamais um imperador da antiguidade, nascido em palanquins, poderia sonhar”.

Muito da arquitetura, do paisagismo e do urbanismo recentes mostra que boa parte de nossas crenças acerca do que é um bom ambiente para as pessoas não é percebido por elas como tal. Muito do que é tem sido percebido pelos projetistas como “bom” é percebido por outros como sendo frio, inumano, aborrecido.

Os campos de pesquisa e de aplicação tornam-se críticos e preocupados com suas bases teóricas quando estão enfrentando desafios, estão sob pressão ou passando por mudanças. Isso é particularmente verdadeiro acerca da arquitetura e do projeto de urbanismo na atualidade. Ao longo da década passada [anos 1970], alguns críticos chegaram a repudiar, em sua inteireza, a contribuição dada pelo Movimento Moderno em arquitetura, com o risco concomitante de obscurecer a significativa contribuição feita por esse movimento. O Capítulo 1, “O Legado do Movimento Moderno”, ocupa-se com a identificação de algumas dessas contribuições, bem como com algumas das básicas limitações do pensamento arquitetônico modernista. Será dito que uma dessas limitações básicas é a sua pouco desenvolvida fundamentação teórica. Isso tem sido reconhecido por muitos autores (tais como

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Norberg-Schulz, 1965; Brill, 1974; Perin, 1970). As profissões do projeto possuem uma fraca história quanto a estudos teóricos; nós dependemos quase inteiramente de outras disciplinas para a nossa base de conhecimentos. Temos também sido lentos no que concerne ao registro e à transmissão do conhecimento desenvolvido pela prática. E muito menos reflexão parece ter sido dedicada ao significado de “ter uma base teórica mais forte”.

Um exame da teoria do projeto ambiental se torna ainda mais difícil dado à ambigüidade do termo teoria. Quase todas as escolas de projeto têm cursos intitulados “Teorias da Arquitetura”, “Teorias e Princípios da Arquitetura”, e/ou “Teoria e História da Arquitetura”. A própria natureza do que seja teoria raramente é discutida nesses cursos, nem um modelo claro do que seja “teoria arquitetônica” emerge deles. O objetivo do Capítulo 2, “A Natureza e Utilidade da Teoria”, é oferecer um modelo de teoria que pode servir bem às profissões do projeto.

Deve-se reconhecer que muitos projetistas, particularmente os arquitetos, estão contentes com o estado atual das coisas. Eles acreditam que o conhecimento necessário à criação de bons projetos não requerem maior esforço de organização do que a necessária à sua intuitiva ocorrência. Eles acreditam que o conhecimento disponível para eles, como resultado de seu superior “senso comum”, é suficiente, e que o objetivo da arquitetura é a expressão de suas “próprias, autônomas personalidade” (Norberg-Schulz, 1965). Apesar de muitos projetos excelentes terem sido concebidos dessa maneira, o custo crescente das construções e a diversidade de usuários nos ambientes profissionalmente projetados tornam o projeto baseado em caprichos pessoais uma coisa tola. A tese subjacente neste livro é de que há muito conhecimento das áreas acadêmicas tradicionais da antropologia, da sociologia, da psicologia, que podem ser trazidos para a construção de teorias arquitetônicas e, daí, aplicadas na prática do projeto. O propósito do Capítulo 3, “As Ciências Comportamentais e a Teoria Arquitetônica”, é demonstrar isso.

O Capítulo 3 delineia o potencial e as limitações da contribuição das ciências comportamentais à teoria arquitetônica. Para compreender os requisitos da teoria arquitetônica, deve-se em primeiro lugar compreender as preocupações da arquitetura. Esse é um argumento mais ideológico que científico. Alguns arquitetos acreditam que a arquitetura é essencialmente uma arte com um pouco de conteúdo social. Outros têm uma visão mais ampla do campo. Daí que o Capítulo 3 se inicie com uma argumentação introdutória sobre o foco de preocupação a ser considerado pelos projetistas ambientais. As fronteiras são mais difíceis, e menos importantes, de definir. Na verdade há um relacionamento circular entre este capítulo e a Parte 2 do livro. Imagens acerca das preocupações do projeto dão forma ao modo que o projetista leva em consideração a natureza do ambiente e a natureza das pessoas. Imagens acerca da natureza do ambiente e das pessoas dão forma às nossas visões da natureza do projeto. Ao se colocar as ciências comportamentais como uma fonte de conhecimento para o projeto ambiental, deve-se evitar o truncamento que é acarretado por determinadas controvérsias irrelevantes para as preocupações dos projetistas. Daí que algum modelo a priori acerca das preocupações da arquitetura se faz necessário. Defende-se o modelo apresentado aqui como sendo suficientemente consistente para nosso ponto de partida.

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CAPÍTULO 1

O LEGADO DO MOVIMENTO MODERNO

Tornou-se moda dizer “Abaixo o Movimento Moderno”. A contribuição do Movimento Moderno em arquitetura tem sido, no entanto, vasta. Ela se desenvolve em paralelo com o pensamento sócio-político dos últimos 100 anos. Emergindo dos movimentos sociais e filantrópicos do século 19, da Revolução Industrial e das revoluções sociais e políticas que a acompanharam, o Movimento Moderno transformou o conjunto de padrões utilizados pelos arquitetos ao analisarem e desenharem edifícios, vizinhanças e a infra-estrutura urbana. Introduziu e desenvolveu novas tecnologias de construção para o projeto das edificações. Talvez o mais importante foi tornar os arquitetos e paisagistas mais sensíveis às questões sociais relacionadas ao projeto das habitações e ao ambiente público. Na educação, o Movimento Moderno rompeu com a desgastada abordagem acadêmica. Muito se construiu segundo os princípios de projeto dos mestres do Movimento. Muitos dos edifícios e dos lugares urbanos assim criados são muito aprazíveis. Infelizmente nem tudo o que se realizou foi tão bem sucedido quanto se esperara ou se previra.

Apesar da ascensão do Pós-Modernismo em suas muitas versões – numa ampla mudança multidimensional quanto às preocupações e objetivos do projeto – muito das práticas atuais, nas profissões do projeto ambiental, é baseado nas idéias sobre arquitetura e urbanismo herdadas das grandes escolas de pensamento arquitetônico associadas ao Movimento Moderno. Essas escolas incluíam os Futuristas, da Itália, que se preocupavam especialmente com a “tecnologia” e com os modos dos “novos transportes”, o grupo De Stijl, da Holanda, os Cubistas, da França, as escolas de pensamento Racionalista e Construtivista, da Rússia, que preocupavam-se com o “expressionismo abstrato”, e a Bauhaus, na Alemanha, que se preocupava com o “funcionalismo”. Na América do Norte, as idéias de Louis Sullivan e Frank Lloyd Wright tanto influenciaram quanto apartaram-se das escolas de pensamento arquitetônico européias.

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Foto 1: Beaux-Arts e os Conceitos Modernos de Arquitetura. As ideologias do final do século 19 e do início do século 20 foram dominadas pelos conceitos das Beaux-Arts. Sua preocupação se dirigia ao projeto de edifícios e conjuntos arquitetônicos reunindo elementos derivados do mundo clássico e suas ordens arquitetônicas. O edifício mostrado acima reflete isso. (Town & Davis & Frazee: Custom House, Nova York, 1833-42. Foto de 1987).

Apesar de as idéias de muitas dessas escolas de pensamento estarem radicadas nas primeiras três décadas do século 20, suas mais importantes aplicações ocorreram nas três décadas que se seguem à Segunda Guerra Mundial. Nas décadas de 1970 e 1980, com o desenvolvimento do Pós-Modernismo, houve uma mudança nas atitudes de muitos projetistas, em direção às estéticas simbólicas e com o repúdio, em parte, das preocupações sociais. O resultado disso, no entanto, foi o desenvolvimento de um conjunto novo de maneirismos estéticos, muito mais que uma mudança fundamental no modo de pensar a arquitetura e o urbanismo (ver Blake, 1984). Ao longo da última década [1970], houve uma preocupação crescente com a natureza do simbolismo arquitetônico, mas o modo de pensar a arquitetura de muitos arquitetos norte-americanos e europeus associados ao modernismo era ainda tão difundido que não parece despropositado continuar a tratá-los como sendo as referências mais relevantes para a prática corrente da arquitetura e do urbanismo.

De um ponto de vista mais estritamente arquitetônico, as idéias mais influentes incluem aquelas propostas por pessoas como Louis Sullivan e Frank Lloyd Wright, e por instituições tais como a moscovita VKHUTEMAS (Estúdios Estatais de Artes e Técnicas Avançadas) durante o período de 1919 a 1932 e, subseqüentemente, a Bauhaus. Suas idéias foram uma resposta às tradições acadêmicas e elementaristas das instituições educacionais do século 19. A resposta levou à substituição de um estilo

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baseado nas ordens clássicas por um estilo baseado em formas derivadas da singela geometria Euclidiana, nas leis, na organização e na expressão abstrata das teorias da Gestalt da percepção visual, e na rejeição da decoração pela decoração. Isso também levou a uma série de lemas relativos aos objetivos do projeto. Estes incluíam “A Forma Segue a Função” (Louis Sullivan), “Forma e Função são Um” (Frank Lloyd Wright), “Menos é Mais” (Ludwig Mies van der Rohe), e a “Máquina de Morar” (Le Corbusier).

Foto 2: A arquitetura moderna estava preocupada com a eficiência técnica e com princípios estéticos derivados da geometria Euclidiana (Everson Museum of Art, by I. M. Pei, at Syracuse, New York, 1968. Foto: Bob Masters, 1999).

No projeto de urbanismo, as idéias mais influentes incluem os conceitos anglo-americanos acerca da forma da cidade e das vizinhanças que emergiram dos movimentos sociais e filantrópicos do século 19. Os mais conhecidos são a Cidade Jardim, de Ebenezer Howard (1902); a Unidade de Vizinhança, de Clarence Perry (1927); o plano de Radburn, de Henry Wright e Clarence Stein (ver Stein, 1951), e Broadacre City, de Frank Lloyd Wright (1958), bem como diversos outros planos menos qualificados (ver Gallion e Eisner, 1963). Outras idéias incluem as do grupo “continental” ou “centralista”, exemplificado pela “Cidade Radiosa”, de Le Corbusier (1934) e as idéias do Congrés Internationaux d’Architecture Moderne (CIAM), nos anos 1930.

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Foto 3: … e/ou de conceitos gestaltistas de expressão (A. I. A. Headquarters, by TAC, at Washington, D.C., 1973. Foto: Ernest & Kathleen Meredith, 2002).

Há uma tendência, na crítica contemporânea, de ver essas idéias em arquitetura e urbanismo como caprichosos ego trips, ou exercícios autocráticos de controle comportamental. No entanto, essas idéias foram respostas cuidadosamente trabalhadas ao que seus proponentes consideraram os maiores problemas de seu tempo. À escala urbana esses problemas incluíam: o controle descontrolado das cidades; as indústrias poluentes; as longas viagens das pessoas mais pobres para os locais de trabalho e de volta à moradia; a carência de serviços de educação e recreação; as péssimas condições sanitárias e de habitação; a superpopulação das áreas residenciais; o impacto negativo do automóvel na infra-estrutura das cidades. Para a arquitetura estava colocada a questão de como abrigar enormes populações em um curto espaço de tempo; havia um crescente conjunto de padrões de novas atividades e organizações sociais a abrigar, e, decorrendo disso, novos tipos de edifícios a serem pensados; havia novas tecnologias a serem dominadas, a par da emergência de uma filosofia estética sintonizada com essa era de máquinas e de novas realidades políticas. O elogiável objetivo geral era dar a todos o padrão de vida que somente os ricos podiam desfrutar no século 19.

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Foto 4 - Imagens do Movimento Moderno. . Os arquitetos modernistas nos deram muitas e poderosas imagens do que a nova cidade deveria ser... (foto: Fundação Le Corbusier, sem data).

Foto 5 - ... do que as novas vizinhanças deveriam ser... (foto: Kari Greer, 2005).

Foto 6 - ... do que os novos edifícios deveriam ser. Esses três exemplos não são representativos de todas as imagens que existem, mas são bastante influentes. Capturaram a imaginação de muitos projetistas que aplicaram princípios geradores de formas como essas em muitas partes do mundo. (Johnson Architectural Images)

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Ao mesmo tempo, deve-se reconhecer que os resultados da aplicação dos princípios de projeto dos mestres modernistas não foi exatamente o que os arquitetos predisseram. Isso levou a um grande volume de críticas ao movimento modernista e às suas idéias. Em resposta, alguns arquitetos contra-atacaram os críticos; outros se retiraram do programa modernista, passando a dedicar-se a uma imagem mais romântica da arquitetura como uma arte plástica, de forma a se auto-gratificar em sua busca por padrões visuais abstratos, ou embalados por uma visão da sociedade como patrona das artes. A posição tomada aqui é de que nós devemos entender a natureza dessas críticas – suas origens e seu caráter – de modo a podermos trabalhar a partir dos sucessos alcançados no passado, e evitar a repetição de erros. Assume-se que o objetivo do projeto é satisfazer as necessidades humanas. Isso tem sido o objetivo profissional de muitos arquitetos, paisagistas, e urbanistas. Nós devemos entender que houve limites nos nossos sucessos passados quanto a atingir esse objetivo, se nós queremos melhorar ainda mais a nossa contribuição no futuro.

A CRÍTICA AO MOVIMENTO MODERNO

As críticas sobre os objetivos, idéias e trabalhos no âmbito do Movimento Moderno têm vindo de colunistas sociais ou jornalistas (Wolfe, 1981), de cientistas comportamentais (Gutman, 1966; Gans, 1968; Michelson, 1968), de críticos da arquitetura (Jacobs, 1961), de educadores em arquitetura (Herdeg, 1983), e de muitos arquitetos (Norberg-Schulz, 1965; Brolin, 1976; Rossi, 1982). Freqüentemente tem vindo de arquitetos que deram uma substancial contribuição a esse movimento através de suas obras e escritos (Fry, 1961; Mayer, 1967; Blake, 1974).

Essas críticas podem ser divididas em três fases. A primeira, nas décadas de 1940 e 1950, foi liderada por um pequeno mas importante grupo de arquitetos associados aos CIAM, que se autodenominou Team 10. Em 1954, Alison e Peter Smithson observaram que o próprio sucesso dos arquitetos modernistas (ao terem suas idéias aceitas por outros arquitetos e por clientes) levou à ocorrência de condições urbanas mais sutilmente desumanas do que a evidente degradação e imundície das cidades industriais do século 19. Cinco anos depois, Aldo van Eyck acrescentaria:

“No lugar da inconveniência da imundície e da confusão, temos agora o tédio da higiene. O cortiço materialmente foi embora – mas o quê ficou em seu lugar ? Milhas e milhas de um nada sem organização, com ninguém sentindo-se em um lugar de verdade” (Smithson, 1968).

A segunda fase da crítica resultou de estudos acerca das expectativas e dos resultados dos projetos de renovação urbana e de construção de habitações populares em larga escala, na década de 1950 (Jacobs, 1961; Gans, 1962; Pawley, 1971). Essa crítica fez eco aos argumentos dos membros do Team 10, mas avançaram um passo além deles. Enquanto os membros do Team 10 desejavam substituir os princípios e protótipos

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anteriores pelos seus próprios, Jane Jacobs, Herbert Gans e outros estavam a desafiar o âmago do pensamento modernista, as crenças que os arquitetos tinham sobre o impacto de seu trabalho no comportamento humano. Na sua crítica do trabalho dos arquitetos e dos planejadores urbanos, Jane Jacobs (1961) escreveu: “a arte do planejamento urbano e sua companheira, a pseudociência do planejamento urbano, não se envolveram efetivamente no esforço de lidar com o mundo real”.

Foto 7 - Arquitetos e Casas por Encomenda. Muitos dos edifícios mais distintamente individualistas produzidos pelo Movimento Moderno em arquitetura foram casas especificamente projetadas para seus proprietários. Esses edifícios de Frank Lloyd Wright (Foto de Richard Nickel, 1960) ...

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Foto 9 - ... e Robert Venturi, são muito diferentes em seu caráter. Cada casa reflete valores partilhados e o caráter de seu projetista e de seu cliente. Isso resulta de uma relação muito próxima entre eles. A arquitetura não tem sido tão bem sucedida quando os valores divergem, e quando inexiste uma relação de proximidade ao longo do projeto entre o projetista e seu cliente.

A terceira fase da crítica é mais recente, e é radicada no desenvolvimento das próprias ciências comportamentais. Isto tem resultado na identificação de necessidades humanas que freqüentemente não têm sido consideradas nem pelos próprios clientes, nem pelos projetistas, bem como na identificação de problemas ocorrentes nos processos de projeto usados pelos arquitetos. Esse primeiro aspecto é exemplificado pelo trabalho de etólogos (como Hall, 1966) e arquitetos (como Newman, 1972), acerca de conceitos de territorialidade, e o último aspecto é exemplificado pelas críticas dos modelos de relações entre arquitetos e clientes, feitas tanto por cientistas comportamentais (tais como H. Mitchell, 1974) quanto por arquitetos (como Goodman, 1971). Em paralelo a essas críticas, há a implícita dissensão nos trabalhos de arquitetos tão diferentes como Frank Lloyd Wright, Morris Lapidus, Bruce Goff, e Herbert Greene, cujos projetos colocam-se fora da corrente dominante do Movimento Moderno. Seus trabalhos, considerados em geral como excêntricos, tiveram pequeno impacto no ensino da arquitetura ou em sua prática, apesar de cada um desses arquitetos apresentarem grupos de discípulos. Em adição a isso, o movimento ambiental e os protestos sociais das décadas de 1960 e 1970 resultaram em questionamentos dos objetivos de muitas áreas.

Essa fase de críticas é bastante diversificada, cobrindo muitos assuntos. Num exame mais cuidadoso, parece haver cinco observações de maior importância, que têm a ver com a contribuição potencial das ciências

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comportamentais à prática e à educação dos profissionais do projeto ambiental:

1. Os respectivos papéis dos profissionais, dos patrocinadores, e dos usuários dos edifícios e espaços abertos, no fornecimento de informações, impondo uma nova abordagem da tomada de decisões (ver Goodman, 1971; H. Mitchell, 1974; Zeisel, 1974, 1981);

2. O conceito de função, segundo o lema “a forma segue a função”, mostrando-se mais limitado do que se pensava (ver Relph, 1976; Fitch, 1979; Mukarovsky, 1981);

3. O uso pelos arquitetos de um modelo muito limitado de natureza e comportamento humano como base para seu trabalho (ver Stringer, 1980);

4. A inadequada compreensão pelos arquitetos do relacionamento entre ambiente construído e comportamento humano (ver Gans, 1968; Lipman, 1974; Sommer, 1974; Brolin, 1976). Disso decorre que as afirmações sobre a importância do trabalho dos arquitetos na formação da experiência das pessoas que o usam e o vêem, são enganosas, e iludem os próprios arquitos e seus clientes;

E todas essas observações podem ser resumidas num problema mais abrangente:

5. A base teórica para o projeto é inadequada (ver, por exemplo, Perin, 1970).

Examinemos cada uma dessas observações.

A RELAÇÃO PROFISSIONAL-CLIENTE

Alguns dos edifícios mais bem-sucedidos construídos no século 20 têm sido as casas encomendadas por clientes individuais. O projeto de tais casas é caracterizado por um próximo relacionamento entre cliente e profissional (Eaton, 1969). Além disso, o “cliente patrocinador”, ou a pessoa ou grupo que paga pela construção, e o “cliente usuário”, a pessoa que habita o edifício, são os mesmos. Em alguns casos, a casa é vista como um símbolo do status do cliente na avantgarde. O arquiteto é selecionado porque seu gosto artístico ou arquitetônico é similar ao do cliente. Portanto, para que se entenda a arquitetura das casas deve-se conhecer não apenas o arquiteto mas também o seu cliente. Os clientes de Le Corbusier parecem ter sido, em boa parte, pessoas excêntricas ou colecionadores de arte (Eaton, 1969). Nisso há um forte contraste com os clientes de Frank Lloyd Wright em Oak Park e River Forest, Illinois, que eram pessoas que tinham construído as próprias fortunas a duras penas, embora muito criativas no mundo dos negócios, eram distanciados do redemoinho da vida social de Chicago. Em seus estilos de vida seriam mais tipicamente representativos

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da classe média alta da atualidade que da sua contemporânea. Para compreender os “ajustes” bem-sucedidos entre usuários e edificações deve-se compreender o relacionamento entre clientes e profissionais. O mesmo se aplica aos ajustes mal-sucedidos.

Foto 10 - Problemas com a Ideologia do Movimento Moderno. Os edifícios em altura do East Falls Housing na Filadélfia (a imagem acima foi obtida através do Google Earth 2005, da área metropolitana da cidade de Filadélfia, EUA, não tendo conseguido a imagem original do autor) estão abandonados – em 1985 – enquanto os planejadores e arquitetos tentam encontrar alguma utilização para eles (imagem: Google Earth, 2005)...

Muito do que hoje compreendemos como fracassos de projeto, sejam eles ambientes interiores, sejam edifícios como um todo, sejam paisagens e espaços urbanos, ocorreram em situações em que havia uma lacuna tanto social quanto administrativa entre o usuário final e o projetista (Lipman, 1974; Zeisel, 1974). Uma “lacuna social” é uma discrepância entre os valores do cliente e os valores do profissional, resultante de diferenças em suas formações culturais, em sua educação, e/ou em sua renda (Michelson, 1968). Uma “lacuna administrativa” existe quando o arquiteto lida somente com o patrocinador do empreendimento e não com o usuário final. O patrocinador é freqüentemente um mau representante do usuário final. E não se deve esquecer que lacunas sociais significativas são constatadas com freqüência entre o patrocinador e o usuário final.

Nós projetistas não podemos ter todos os fatos sobre todas as populações e todos os seus estilos de vida ao alcance da mão, mas podemos ter uma melhor base de informações. Também devemos ter um acesso melhor qualificado às populações de usuários. Nós precisamos fazer

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as perguntas certas e nos tornarmos bons ouvintes. Para fazer as perguntas certas devemos deter uma compreensão suficiente acerca da natureza do ambiente construído, da natureza das pessoas (o que nos inclui), e das interações entre esses três conjuntos. Freqüentemente os usuários não estão presentes, e não temos acesso a eles. O processo decisório deve ser estruturado de forma a lidar adequadamente com essa situação. Uma melhor compreensão dos modos alternativos de operar o processo decisório, bem como dos distintos modos de ocorrência da interação entre profissional e cliente, são necessária. Devemos compreender a natureza da práxis projetual.

Foto 11 - … O plano de unidade de vizinhança feito para Chandigarh, na Índia, é quase totalmente destituído de sentido, exceto como gerador de uma certa identidade locacional; seu projeto de cidade-jardim de baixa densidade não vai ao encontro do estilo de vida de seus habitantes. (foto: cperspectives.org, 2005)...

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Foto 12 - ...O mobiliário projetado para o Trenton Mall, em Nova Jérsei foi removido. O quê esses três exemplos têm em comum ? São manifestações de princípios projetuais que tiveram um adequado desempenho em algumas situações, mas não nestas.

O CONCEITO DE FUNÇÃO

Um dos mais persistentes slogans do Movimento Moderno é “a forma segue a função”. Persistente porque muitos projetistas aderiram completamente a ele. Apesar de alguns críticos dizerem que essa postura gerou edifícios e projetos urbanos excessivamente funcionais, na realidade sua “funcionalidade” não foi suficiente (Fitch, 1979). Claro, essas realizações têm sido consideradas, com freqüência, demasiadamente funcionais no caso de se assumir que a função do ambiente construído é simplesmente ser eficiente em termos das dimensões e padrões das circulações e das técnicas construtivas empregadas (Relph, 1976). Sua funcionalidade não é suficiente se passarmos a considerar os outros propósitos humanos a que serve o ambiente construído. Esses propósitos incluem a necessidade de identidade, de segurança, de auto-expressão e, mais amplamente, a função estática da arquitetura (Mukarovsky, 1981).

Gottfried Semper, um dos formuladores do conceito modernista de funcionalismo, acreditava que a indústria e as ciência aplicadas forneceriam um impulso revitalizador para as artes. Ele tinha em mente mais as ciências da natureza que as ciências sociais. Ele estava mais preocupado com a natureza da edificação do que com aquilo que a edificação abrigaria. Adiante, Le Corbusier e Walter Gropius argumentariam a favor de um maquinismo estética baseado na pureza funcional de produtos da engenharia, tais como os aviões, os navios, os elevadores (Le Corbusier, 1923). Apesar de o Movimento Moderno assim dizer que estava servindo às pessoas, o resultado foi que sua principal preocupação concentrou-se mais freqüentemente na eficiência técnica e na consistência interna dos componentes da construção do que no alcance do largo espectro de necessidades humanas.

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Muitas foram as declarações de ansiedade quanto a isso. O próprio Gropius escreveu que “expressões fortes como funcionalismo e adequação

à finalidade é o mesmo que beleza conduziram a apreciação da nova

arquitetura para canais menores, puramente externos” (Gropius, 1962). A crítica básica era de que muito da ideologia de projeto do Modernismo – e, agora, do Pós-Modernismo – baseia-se numa compreensão deficiente do que o ambiente construído possibilita às pessoas. A razão para isso é que muito da ideologia do projeto é baseado em um conceito deficiente acerca das pessoas e seu comportamento.

Modelos de Pessoas, Comportamento Humano e Experiência

O “modelo de homem” implícito nos argumentos de muitos projetistas do Movimento Moderno é aquilo que Joachim Israel (Israel e Tajfel, 1972) denominaram de “modelo organísmico” (Stringer, 1980). Esse modelo assume que todo o conjunto de necessidades humanas pode ser reduzido a algumas poucas convenções, que seriam universais, constantes, e de natureza fisiológica. O modelo organísmico tem sido contrastado com um modelo “de papéis”, que enfatiza as atividades humanas em um sistema social, bem como a um modelo “relacional” ou “auto-realizador”, que enfatiza as relações sociais (Maslow, 1954). Ainda que o discurso dos projetistas se refira a necessidades sociais e culturais, o modelo organísmico tem sido a efetiva base de boa parte da produção arquitetônica contemporânea. Isso é particularmente verdadeiro acerca da Bauhaus – apesar de não ser menos verdadeiro acerca da produção em arquitetura, desenho urbano e paisagismo de pessoas como Henry Wright e Clarence Stein (ver stein, 1951).

Apesar de Hannes Meyer introduzir cursos sobre as ciências comportamentais na Bauhaus, ele pensava na habitação como a criação de abrigo para um determinado conjunto de atividades (Meyer, 1928):

- vida sexual; - hábitos do sono; - mascotes; - jardinagem; - higiene pessoal;

- proteção contra as intempéries; - higiene do ambiente doméstico; - manutenção do automóvel; - preparo de alimentos; - aquecimento;

- isolamento;

- serviços pessoais.

As questões de territorialidade, privacidade, interação social e estética simbólica, por exemplo, simplesmente não eram consideradas num tal modelo. Questões similares têm sido levantadas acerca do modelo de

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pessoas que vem sendo usado para o projeto de escritórios, fábricas e centros urbanos (ver, por exemplo: Parr, 1967b; Rapoport, 1967; Perin, 1970; Lang et al., 1974; Blake, 1974; Brolin, 1976; Fitch, 1979). Com o advento do Pós-Modernismo surge uma crescente preocupação com a natureza simbólica do ambiente construído, mas há pouca evidência de que ocorra sistematicamente associada a questões humanas mais amplas, ou a uma sistemática investigação acerca de como as pessoas experienciem os significados simbólicos do mundo à sua volta, ou qual seria a importância que dariam a tais significados.

Tanto a ideologia da arquitetura Moderna quanto a Pós-Moderna tenderam a negligenciar diferenças culturais entre pessoas. Isso foi particularmente verdadeiro no caso da ideologia Modernista:

“Todas os homens têm o mesmo organismo, as mesmas funções. Todas os homens têm as mesmas necessidades. O contrato social que elaboraram ao longo do tempo fixou classes, funções e necessidades padronizadas, que também padronizou a produção de seus bens...

Eu proponho uma edificação comum a todas as nações e a todos os climas...” (Le Corbusier, 1923)

“Agora há uma abordagem da arquitetura que é comum a todos os países” (Fry, 1961)

Um dos princípios subjacentes da arquitetura moderna é que ela seria universalmente aplicável. Esse pressuposto tem sido tão atacado pelos críticos (ver, por exemplo, Brolin, 1976) que a análise sistemática de fatores culturais no projeto tem-se tornado uma parte integral da agenda de pesquisa dos profissionais projetistas. A maior parte dessa pesquisa foi, no entanto, dirigida aos aspectos do uso do espaço, mais que aos aspectos estéticos. Nós sabemos muito pouco como as preferências variam entre diferentes culturas. Artistas vitorianos como Landseer, Alma-Tadema e Millais foram os últimos – até hoje, talvez – que conseguiram consagrar-se tanto entre os críticos quanto junto ao público, em sua própria época. Ao comunicar suas idéias, eles se valiam de convenções que eram conhecidas de grande parte da população. Os cubistas e seus aliados nas profissões do projeto que recorriam ao expressionismo abstrato tiveram um enorme dificuldade de comunicação de suas idéias a amplos segmentos do público. O pressuposto do Movimento Moderno de que a experiência estética relativa a edifícios é baseada no funcionalismo e no expressionismo abstrato tornar-se assim aberto ao questionamento.

Quando os arquitetos da segunda geração do Movimento Moderno – os discípulos dos mestres – vieram a compreender que os edifícios possuem importantes características simbólicas, tornaram-se obcecados com a criação de novas formas simbólicas. Isso pode ser observado em obras como a First Presbyterian Church, de Harrison & Abramovitz, em Stamford (Estado de Conecticut, EUA), o terminal da empresa de aviação TWA, no aeroporto J.F. Kennedy (Nova York), da autoria de Eero Saarinen. Por outro

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lado, o Pós-Modernismo, é repleto de alusões históricas, com referências tais como as ordens da arquitetura grega clássica. Temos apenas um conhecimento muito limitado acerca do sucesso dessas idéias com filosofias estéticas e das respostas que diferentes segmentos da população vêm dando a elas. Ao que tudo indica, os projetos dentro do Pós-Modernismo ainda são compreendidos por uma pequenina e erudita audiência. Isso deve ser considerado simultaneamente ao fato de que tem havido pouca pesquisa acerca das preferências estéticas em diferentes culturas, sobre a apreciação estética de edifícios e paisagens. Disso resulta que nossas próprias alegações acerca do impacto de nosso trabalho sobre as pessoas são extravagantes.

O Relacionamento entre Pessoas e o Ambiente

A inadequação do modelo de pessoas que tem fundamentado parte da ideologia mantida por arquitetos tem resultado em incompreensão da natureza da relação entre as pessoas e o ambiente. Muito dessa postura ideológica consiste num modelo ingênuo de estímulo-resposta (E-R) acerca do relacionamento entre o ambiente e o comportamento humano. Nesse modelo o ambiente construído e/ou natural é compreendido como “estímulo” e o comportamento humano como “resposta”. O resultado é que os arquitetos (e outros profissionais) têm freqüentemente assumido que, dado que duas variáveis estão correlacionadas, elas também estão relacionadas de forma causal. Isso tem levado a conclusões errôneas acerca do efeito que haveria, do ambiente construído sobre as pessoas. Um exemplo destacado disso é dado pela crença no determinismo arquitetônico. Vamos considerar primeiramente o caso geral, e a seguir sua especificidade.

É fácil assumir variáveis correlacionadas também são relacionadas de forma causal. Se determinadas variáveis forem relacionadas de forma causal, ocorre que a mudança de uma deve acarretar mudança na outra. Variáveis correlacionadas nem sempre são relacionadas de forma causal. Como ilustração, em boa parte da literatura sobre desenho urbano há uma suposição subjacente tanto de uma correlação negativa quanto de uma ligação causal entre a densidade populacional e a qualidade de vida – o que as pesquisas não têm corroborado (Leary, 1968). Variáveis tais como a precariedade de cenários de comportamento (behavior settings, segundo a terminologia de Roger G. Barker), poluição sonora ou características específicas da população interviriam no estabelecimento de uma relação causal dessa ordem (Bechtel, 1977). A densidade, por ela mesma, não é um indicador muito distinto da população-por-unidade-de-área. Daí que devemos ter grande cautela com a conclusão de que a redução da dnsidade populacional em áreas residenciais implica na melhoria da qualidade de vida. Tanto ambientes com baixa densidade quanto com alta densidade podem ser adequados e desejáveis. Basta considerar exemplos como os de Southampton e Sutton Place em Nova York, ou Chestnut Hill e Society Hill na Filadélfia, ou Vaucluse e Wharoonga em Sydney para que esse ponto seja ilustrado. E o inverso também é verdadeiro. Muito já se escreveu sobre

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favelas densamente povoadas, embora existam abundantes exemplos de favelas de baixa densidade.

Os textos escritos por projetistas de interiores, arquitetos e paisagistas contêm diversas premissas acerca do efeito que teriam determinadas características do ambiente construído sobre o comportamento humano. Diz-se que equipamentos comunitários são capazes de criar comunidades, que parques reduzem o vandalismo, que a unidade arquitetônica contribui para a unidade social, que a magnificência arquitetônica eleva o espírito. Em muitos casos pares de variáveis estão significativamente correlacionados, mas daí a assumir que eles possuem um relação causal sem que variáveis intervenientes sejam consideradas decai numa tola crença no determinismo arquitetônico.

Análises de conteúdo dos escritos dos arquitetos mostram que muito da ideologia da arquitetura é baseada em uma crença no ambiente construído como um importante determinante do comportamento humano (Broady, 1966; Boughey, 1968; Lipman, 1974; Brolin, 1976; N. Dostoglu, 1986). As afirmações que puderam por escrito são especialmente audaciosas: “arquitetura ou revolução”, escreveu Le Corbusier. Já as afirmações verbais ocorreram ser mais suaves.

A crença no determinismo arquitetônico é particularmente aparente nos projetos de instituições, de locais de comércio, de loteamentos residenciais e vizinhanças. No projeto de prisões, por exemplo, a arquitetura é percebida como um instrumento de reforma. No século 19 a arquitetura chegou a ser percebida como um instrumento ativo da autoridade correcional. Já não é esse o caso na atualidade. Tem-se na atualidade que o ambiente construído da prisão reflete as atitudes da sociedade quanto às pessoas presas, quanto ao que podem e não podem fazer (R. Evans, 1982). Mesmo em lugares cujos ambientes construídos e paisagem são considerados muito agradáveis (como parece acontecer no condado de Columbia, no Estado de Maryland, EUA), o objetivo social de estabelecer uma comunidade coesiva, fraterna, através do projeto físico do bairro ou de novas quadras residenciais não foi atingido (Brooks, 1974). Variáveis sociais, tais como a similaridade de valores da população, mais do que fatores arquiteturais são os mais importantes determinantes de padrões de organização social. Hoje, um maior número de arquitetos passou a reconhecer isso.

“Todos nós ingenuamente pensamos que, se

pudéssemos eliminar as fisicamente péssimas habitações e arredores das favelas, as novas e higiênicas habitações, e seus sanitizados arredores iram quase de per si curar males sociais. Agora sabemos melhor que não é o caso.” (Mayer,

1967).

Já se passou algum tempo desde que Albert Mayer fez essa declaração, mas pouco mudou no pensamento dominante na ideologia arquitetônica. Aceitar sua declaração significaria que a profissão deveria

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aceitar uma auto-imagem menos grandiosa que a do passado. Ao aceitarmos a declaração de Mayer, alguns arquitetos lançaram-se ao outro extremo, no entanto, assumindo que o ambiente construído não teria impacto sobre os padrões de comportamento social. Tal posição é igualmente errônea. Se nós desejamos predizer as conseqüências de nossos esforços de projeto, de uma melhor maneira que no passado, precisaremos de um modelo de relacionamento melhor que um de simples Estímulo-Resposta, entre ambiente e comportamento.

A Natureza da Teoria Arquitetônica

O que é que caracteriza esses problemas que descrevemos até agora? Seria aquilo que os cientistas chamam de “baixa validade externa” dos conceitos. Idéias acerca do ambiente construído podem ser muito consistentes internamente – isto é, elas podem apoiar uma à outra muito bem – mas seus elos com a realidade freqüentemente são fracos. Quaisquer que sejam os valores adotados pelas pessoas quanto ao que constitua um “bom ambiente”, o poder preditivo de muitas das crenças que os projetistas mantêm sobre o inter-relacionamento entre o ambiente construído, comportamento humano, e sua experiência, é muito menor do que seria desejável. Nós precisamos projetar “desde o conhecimento, não desde crenças” (B. Jones, 1962); nós devemos ser guiados por “observações tangíveis, em vez de especulações em abstrato” (Neutra, 1954). A dificuldade tem consistido em transformar essas indicações em uma forma de estruturar o pensamento de forma a esclarecer-nos sobre a natureza do ambiente (natural e artificial), sobre os diversos campos do projeto, e sobre os próprios projetistas.

As falhas de boa parte da filosofia do projeto têm origem numa generalizada falta de entendimento sobre o quanto a vida das pessoas apresenta distinções e aspectos complexos, bem como sobre as diferentes situações que o ambiente construído proporciona para as pessoas. As conclusões que os projetistas vão formando sobre como uma solução de projeto funciona são tiradas de circunstâncias fortuitas, de uma experiência do mundo que pode ser mais pessoal que universal, do que de um corpo de conhecimento sistemático. E fazemos isso, em geral, porque não possuímos uma base de conhecimento que nos leve a informações mais fundamentadas. Freqüentemente fazemos isso porque nós não temos aquela organização sistemática do conhecimento, organização esta que facilitaria a recuperação e utilização do próprio conhecimento relevante ao projeto.

Ao considerarmos o conhecimento-base – ou a base teórica – que qualquer profissão necessita para guiar as suas ações, devemos em primeiro lugar definir uma estrutura satisfatória para ele. Atualmente a teoria da arquitetura está especialmente preocupada com um conjunto de ideologias mantidas por arquitetos individuais ou por escolas de pensamento arquitetural. Enfatiza no arquiteto como artista e em suas crenças sobre o que se constituiria como “boa arquitetura”. O raciocínio que está por detrás dessas ideologias – essas crenças acerca de como o mundo funciona –

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raramente é explicitado. Nós projetistas temos uma extraordinária quantidade de conhecimentos sobre o mundo acumulados, mas são internalizados em nossas mentes. O conhecimento detido por um projetista não é acessível a outro projetista – não é disponível para ser testado ou avaliado.

Muitas pessoas têm se preocupado com conhecimento-base das profissões do projeto ambiental. Ao longo das últimas duas décadas houve esforços tanto pra descobrir-se a alma do projeto, sua essência, quanto houve muitas pesquisas sobre o ambiente construído e seus habitantes, bem côo sobre o próprio processo de projeto. Ainda assim, essas pesquisas têm obtido um impacto pouco significativo na prática do projeto. Alguns profissionais, particularmente os cientistas comportamentais, acreditam que isso ocorre porque a pesquisa não tem sido empírica o suficiente. A razão fundamental, no entanto, parece ser que os projetistas possuem poucos modelos que se proponham a organizar os corpos de conhecimento que eles usam. Os profissionais do projeto não têm modelo algum acerca da natureza da teoria que se requer para a sua educação ou para a sua prática. Mas isso está sendo providenciado.

LEITURAS ADICIONAIS

ALLSOP, Bruce. TOWARDS A HUMANE ARCHITECTURE. Londres: Frederick Muller, 1974. BLAKE, Peter. FORM FOLLOWS FIASCO. Boston: Atlantic-Little, Brown, 1974.

BROLIN, Brent. THE FAILURE OF MODERN ARCHITECTURE. Nova York: Van Nostrand Reinhold, 1976.

HERDEG, Klaus. THE DECORATED DIAGRAM. HARVARD ARCHITECTURE AND THE FAILURE OF THE BAUHAUS LEGACY. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 1983.

JACOBS, Jane. THE DEATH AND LIFE OF GREAT AMERICAN CITIES. Nova York: Random House, 1961.

LANG, Jon; BURNETTE, Charles; MOLENSKI, Walter, VACHON, David, editores. EMERGING ISSUES IN ARCHITECTURE. Em Designing for Human Behavior: Architecture and The

Behavioral Sciences. Stroudsburg, Pennsylvania: Dowden, Hutchinson and Ross, 1974, pp.

1-14.

MONTGOMERY, Roger. COMMENT ON ‘FEAR AND HOUSE-AS-HEAVEN IN THE LOWER CLASS. Journal of the American Institute of Planners 32 (Janeiro de 1966): 31-37.

PAWLEY, Martin. ARCHITECTURE VERSUS HOUSING. Nova York: Praeger, 1971. WOLFE, Tom. FROM BAUHAUS TO OUR HOUSE. Nova York: Farrar Straus Giroux, 1981.

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i

Título Original: CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE

BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN. Primeira

edição. Nova York: Van Nostrand Reinhold Company Inc. 1987.

ii

Nota do Tradutor: Tive o privilégio do contato com Jon Lang ao longo de meus

estudos de doutoramento na Universidade de Brasília, a partir de 2000, pedindo-lhe auxílio com relação a questões que ele desenvolvia no livro Designing for Human Behavior: Architecture and the Behavioral Sciences, editado por Jon Lang, Charles Burnette, Walter Moleski e David Vachon (Community Development Series, publicado em Stroudsburg, Pennsylvania, pela editora Dowden, Hutchinson & Ross, Inc.,1974). O que me atraiu em seu trabalho foi a pioneira pesquisa e combinação da abordagem e dos resultados dos estudos dessa nova área por vezes denominada “psicologia ambiental” ou “psicologia ecológica”, com a prática da arquitetura – conjuntamente com um trabalho de crítica e nova elaboração de aspectos fundamentais da própria teoria do processo de projeto em arquitetura. A obra traduzida foi publicada originalmente em 1987, pela Van Nostrand Reinhold Company Inc., de Nova York, sendo que os direitos de publicação reverteram para Lang com a venda de todos os exemplares dessa primeira edição. Generosamente, o autor me autorizou a tradução e a publicação em Português, livre que quaisquer ônus, em meio eletrônico ou impresso, desde que associado à divulgação entre estudantes e profissionais da área que denomina environmental design, de interesse não somente para arquitetos mas também para psicólogos, sociólogos, geógrafos, ecologias, economistas, antropólogos, cientistas políticos, ergonomistas, além de lideranças comunitárias: uma grande equipe para a qual a Universidade Pública tem muito o que contribuir. Esse livro é um guia suficientemente claro, abrangente, bem-referenciado (atualizado até o final da década de 1980) e simples para permitir uma boa introdução do estudante de arquitetura e urbanismo no estudo da psicologia ambiental e das perspectivas de elaborar novos capítulos de teoria da arquitetura com base nas conquistas das ciências comportamentais (sobretudo a psicologia). Considero esse trabalho uma grande deferência feita por um honorável mestre arquiteto, importante precursor dos estudos das relações entre o projeto de arquitetura e urbanismo e as ciências ambientais.

iii

PLANO DA TRADUÇÃO PARA A REVISTA ELETRÔNICA “PARANOÁ”

- São 22 (vinte e duas) “apostilas”, capítulo a capítulo do livro, com o agrupamento das introduções a cada uma das Partes e seções do livro, e seus respectivos capítulos iniciais. A presente “apostila” é mostrada em vermelho, contra o conjunto das demais “apostilas”. Com isso se pretende que o livro

Creating Architectural Theory, de Jon Lang, possa servir como livro texto em

disciplina sobre teoria da arquitetura e do projeto. Prefácio

PARTE 1. O MOVIMENTO MODERNO, TEORIA DA ARQUITETURA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS

(28)

2.A Natureza e Utilidade da Teoria

3.As Ciências Comportamentais e a Teoria Arquitetônica

PARTE 2. TEORIA ARQUITETÔNICA EXPLÍCITA: Conceitos de Práxis e Conceitos de Ambiente

TEORIA DE PROCEDIMENTOS Metodologia de Projeto

4.Modelos de Práxis do Projeto Ambiental

5.Atividades de Inteligência e a Fase de Inteligência 6. Projetação e a Fase do Projeto

7. Decisão e a Fase da Decisão TEORIA SUBSTANTIVA

O Ambiente e o Comportamento Humano

CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE AMBIENTE E COMPORTAMENTO HUMANO

8.A Natureza do Ambiente

9.Processos Fundamentais do Comportamento Humano 10.O Ambiente Construído e o Comportamento Humano PADRÕES DE ATIVIDADES E O AMBIENTE CONSTRUÍDO

11.A Situação Física Envolvente do Comportamento: Uma Unidade para a Análise e Projeto Ambientais

12.Antropometria e Ergonomia

13.Mapas Espaciais e Comportamento Espacial

14.Privacidade, Territorialidade e Espaço Pessoal – Teoria Proxêmica 15.Interação Social e o Ambiente Construído

16.Organização Social e o Ambiente Construído

VALORES ESTÉTICOS E O AMBIENTE CONSTRUÍDO 17.Teoria Estética

18.Estética Formal 19.Estética Simbólica

(29)

PARTE 3. TEORIA NORMATIVA DO PROJETO AMBIENTAL Polêmica e Prática

20.Compreendendo as Teorias Normativas do Projeto Ambiental

21.Questões Sócio-Físicas Contemporâneas no Projeto Ambiental – Uma Instância Normativa

Referências

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