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A Unidade das Substâncias em Metafísica H.6

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A Unidade das Substâncias em Metafísica H.6

MARY LOUISE GILL Departamento de Filosofia Brown University

Tradução: Luis Márcio Nogueira Fontes

Resumo: Neste artigo, considerarei primeiramente vários argumentos de Metafísica Z.13 que apresentam problemas para a noção de formas substanciais e então discutirei o arcabouço da solução de Aristóteles para esses problemas em H.6. O principal resultado desta investigação é que, para salvar a forma das dificuldades de Z.13, Aristóteles tem de mostrar que compostos materiais são unidades genuínas, cuja definição refere-se apenas às suas formas.

Palavras-chave: Aristóteles. Metafísica.Substância.

1. Problemas em Metafísica Z.13

Metafísica Z.13, o capítulo em que Aristóteles argumenta que nenhum universal é uma substância, apresenta várias objeções que atingem não só o alvo oficial do capítulo – o universal –, mas também a forma substancial, quer a forma seja universal, quer seja particular1.

1 Z.13 tem sido alvo de grande controvérsia. Muitos estudiosos pensam que Aristóteles,

na Metafísica, argumenta que formas substanciais são substâncias primárias. Pensa-se que Z.13 contribui significativamente para essa tese. Há evidências em capítulos anteriores de Z que sugerem que a forma é um universal, algo predicado em comum de várias coisas – por exemplo, Z.8, 1038a8; Z.11 1036a28-29. Se a forma é um universal, como ela pode ser uma substância primária, dadas as objeções aos universais em Z.13? Alguns estudiosos vêem em Z.13 evidência de que a forma é particular – por exemplo, Frede e Patzig (1988), I.36-57, II.241-63; Irwin (1988), seção 140; e Witt (1989), 155-62. Outros defendem leituras de Z.13 que permitem às formas substanciais escapar das objeções desse capítulo, embora elas sejam universais ou, em algum sentido, gerais. Há várias versões dessa interpretação – por exemplo, Woods (1967); Driscoll (1981); Code (1984); Loux (1991), cap. 6; Lewis (1991), cap. 11; e Wedin (2000), cap. 9. Burnyeat (2001, 46) salienta que a forma aristotélica não é mencionada em Z.13, apesar de o capítulo ser tido como decisivo para seu destino.

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Primeiramente, Aristóteles apresenta um breve argumento contra o universal, que parece ter como base o critério da subjacência discutido em Z.3. Por conveniência, vou chamar esta passagem de subjacência: “Além do mais, aquilo que não é predicado de um subjacente é dito ser substância, mas o universal sempre é predicado de algum subjacente” (1038b15-16).

Subjacência aparentemente restringe a substancialidade a algo não predicado de um subjacente. Este critério é problemático para a forma, porque a forma é predicada da matéria e talvez também do composto2. No começo de Z.13,

Aristóteles distinguiu duas formas de algo ser um subjacente (1038b5-6): (1) por ser um isto (to/de ti), como um animal o é para suas propriedades (toi=v pa/qesin); ou (2) como matéria o é para a efetividade (e0ntelexei/‘). Geralmente toma-se que “efetividade” se refere à forma3. Dado que a passagem

inicial menciona a matéria como um dos modos legítimos de ser um subjacente, e assumindo que a forma é de fato predicada dela, subjacência traz uma séria ameaça à substancialidade da forma.

2 Acredito que a forma é predicada de ambos. Ver Gill (2001), 251-52. Entre aqueles

que negam que a forma seja predicada dos compostos estão inclusos Driscoll (1981), 150; Code (1986), 436; Loux (1991), 183; Lewis (1991), 312; e Wedin (2000), 403.

3 Por exemplo, Ross (1953), 2.164; Burnyeat et al. (1979), 127; Frede and Patzig (1988),

2.244; Wedin (2000), 352. Na verdade, e0ntelexei/a| poderia especificar o composto, porque a palavra foi usada duas vezes antes em Z, e ambas as vezes em referência a um objeto efetivamente existente (Z.9, 1034b17; Z.10, 1036a7). Cf. Z.13, 1039a4-21, onde a palavra é usada cinco vezes em referência às partes efetivas que dividem uma coisa. Em Metafísica H e Q, Aristóteles regularmente usa e0ne/rgeia, em vez de e0ntele/xeia, para forma, embora ele diga que as palavras são intimamente associadas (Q3, 1047a30-b2, Q.8, 1050a21-23). Em De An. II.1, ele usa e0ntele/xeia tanto para a forma como para a atividade a que a forma habilita (412a9-11, a21-28). Estudiosos interpretam e0ntele/xeia como forma em nossa passagem aparentemente com base no seu uso como forma no De Anima. Embora a evidência em Z-Q favoreça o composto em vez da forma como referente de e0ntele/xeia em nossa passagem de Z.13, seguirei a tradição, já que Aristóteles de fato usa e0ntele/xeia para forma e já que há ocasiões em Metafísica Z-Q em que ele diz que a efetividade (e0ne/rgeia) ou forma é predicada da matéria: H.2, 1043a5-6; Q.7, 1049a35-36. Mas a questão merece maior escrutínio.

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Segundo, Aristóteles apresenta um breve argumento contra os platô-nicos. Vamos chamar a objeção de não idion: “Além do mais, uma substância estará presente em Sócrates, com o resultado de que ela será uma substância de duas coisas” (1038b29-30).

Para entender a força dessa objeção, precisamos de uma contextualização. A primeira objeção de Aristóteles contra os universais em Z.13 é chamada, às vezes, de argumento idion (1038b9-15), e normalmente se pensa que ela tem por base a discussão anterior sobre substância e essência, em Z.4-11. De acordo com o argumento idion, a substância de cada coisa é própria (i1diov) àquela coisa e não pertence a nenhuma outra (a1llå) (1038b10). O universal não satisfaz o requisito idion, porque ele é comum a mais de uma coisa (1038b11-12). Por exemplo, o universal animal não é substância de nada porque ele é predicado de suas várias espécies, como homem e cavalo, e estes diferem entre si quanto à forma. Se ele fosse a substância de alguma das coisas de que ele é predicado, então todas as outras coisas de que ele é predicado seriam idênticas àquela, o que não é o caso (1038b12-15).

A forma aristotélica, no entanto, deve, presumivelmente, satisfazer o requisito idion. Para entendermos por que, retornemos rapidamente a Z.6. De acordo com a assim chamada tese de Z.6, uma coisa primária é idêntica a sua essência, que é sua substância (1031a17-18, 1032a4-7). A tese de Z.6 afirma que, se algo é primário (i.e., explanatoriamente básico), a coisa e sua essência não são distintas entre si4. As Formas platônicas satisfazem esse critério5, que é conhecido

no contexto platônico como auto-predicação: a Forma F é F (o Belo é belo, o Grande é grande)6. O “é” na auto-predicação e na tese de Z.6 é, acredito, o “é” de

4 Por exemplo, em Z.6, 1031b13-14, Aristóteles diz que uma coisa primária é dita não

em virtude de alguma outra coisa (mh\ kat 0 a1llo le/getai).

5 Como indica o uso que Aristóteles faz das Formas de Platão, como ilustrações em

Z.6.

6 Por exemplo, Prt. 330c-e, Hp. Ma. 292e, Phd. 100c4-6. Cf. como Parmênides se

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predicação, não o “é” de identidade7. Dado que a essência e o objeto de que ela é

predicada são idênticos, a essência determina toda a natureza do objeto – tudo que o objeto é em si mesmo8. É este o espírito das ambas versões do princípio, a

de Platão e a de Aristóteles. A formas substanciais aristotélicas aparentemente satisfazem a tese de Z.6: elas são idênticas às suas essências. Alguns estudiosos notaram que o requisito idion em Z.13 é implicado pela tese de Z.69. Eu julgo que

as duas teses são a mesma. A única diferença é que, enquanto Z.6 apresenta a tese em termos do subjacente, que é dito idêntico à sua essência, o requisito idion apresenta a tese em termos do item predicado, que é dito próprio ao subjacente, não pertencendo a nada mais. Se a forma e a essência são idênticas, então a

7 Esta afirmação é controversa, e eu não posso defendê-la aqui em detalhes. Basta

dizer que, se o “é” fosse o “é” da identidade, como pensaram muitos estudiosos, a teoria das Formas de Platão não seria alvo do argumento do terceiro homem, porque a Forma F e os Fs sensíveis não teriam a propriedade F em comum. Assim, não haveria necessidade de explicar suas características comuns, e assim não surgiria nenhum regresso de explicações. Mas Platão no Parmênides e Aristóteles em Z.13 (1039a2-3) e em outros lugares eviden-temente pensavam que as Formas platônicas eram suscetíveis a essa objeção. Para a minha interpretação da versão de Platão do terceiro homem no Parmênides, veja minha introdução em Gill e Ryan (1996), 29-38. Numa nota promissora, Dahl (1997, 62 n. 39) sugere que ele lê a tese de Z.6 como envolvendo uma relação mais fraca que a identidade, mas ele não desenvolve os detalhes. Talvez sua visão corresponda à minha.

8 Em outro artigo (Gill, 2001, 239-40), distingo entre a essência e o ser de uma coisa, e

argumento que, a não ser no caso de entes primários, os dois não coincidem. Penso que Aristóteles identifica a essência de uma coisa com sua forma substancial (ver, por exemplo, Z.7, 1032b1-2; Z.10, 1035b32; cf. Z.11, 1037a29, 1037a33-b4; cf. Gill [1989], 116-20). O ser de um ente é tudo que ele é em virtude de si mesmo (kaq 0 au9to/ ). No caso das coisas que não são primárias, o ser inclui mais do que a essência. Dado que algo mais contribui para o que eles são, Aristóteles freqüentemente compara o composto material com o adunco (o adunco é definido como “isto naquilo”, “concavidade no nariz”: cf. Met. E.1, 1025b30-1026a6; Z.5; Z.11, 1037a29-b7). Se um composto material é como o adunco, seu ser é determinado de duas maneiras, por sua forma ou essência, e pelo material no qual a forma é efetivada. Aqui uso “natureza” como usei “ser” em artigo anterior, isto é, para designar tudo que um ente em si mesmo é (kaq 0 au9to/).

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essência pertence à forma não enquanto algo diferente dela, mas sim como própria a ela.

O alvo do argumento não idion é o platônico que, nas linhas que precedem essa objeção (1038b19-23), argumentou que, mesmo que as Formas pertençam a coisas distintas, elas satisfazem o requisito idion em um certo sentido, porque existe algo a que cada uma delas pertence como próprio, a saber, ela mesma10.

Assim como homem é a substância da Forma Homem, animal é a substância da Forma Animal11. Estas são maneiras simples de afirmar as auto-predicações

platônicas: a Forma Homem é homem, a Forma Animal é animal. Aristóteles objeta, com o argumento não idion, que uma Forma platônica não satisfaz o requisito idion justamente porque ela é substância não apenas de si mesma, mas também de coisas distintas em que ela está presente. A Forma Homem é substância de si mesma e também de Sócrates.

Mas, é bem verdade, aqui Aristóteles trata as Formas platônicas como se elas pudessem estar presentes em particulares sensíveis, e um platônico poderia objetar que essa não é sua posição. Mesmo assim, esta construção é estimulada pela resposta platônica, de que Animal está presente em Homem e Cavalo (1038b16-18). Além disso, o próprio Platão considerou a participação enquanto imanência no dilema do todo e da parte, na primeira parte do Parmênides (130e-131e). Que em Z.13 Aristóteles está objetando a Formas platônicas, separadas ou imanentes, é confirmado pela conclusão geral que se segue ao argumento não

10 Como leio o capítulo, a réplica platônica começa em 1038b16-23, e tem duas partes.

Para mais detalhes, ver Gill (2001).

11 Os platônicos dizem: “não faz diferença se esta [a fórmula do universal] não for a

fórmula de tudo na substância; pois, ainda assim, este [universal] será a substância de algo, como homem é [a substância] do homem no qual ele está presente, de modo que a mês-ma coisa acontecerá novamente: por exemplo, animês-mal será a substância da formês-ma [animês-mal] na qual ele estiver presente enquanto próprio” (ou0de\n ga\r h[tton ou0si/a tou=t 0 e1stai tino/v, w9v o9 a1nqrwpov tou= a0nqrw/pou e0n w[| u9pa/rxei, w3ste to\ au0to\ sumbh/setai pa/lin: e1stai ga\r e0kei/nou ou0si/a, oi{on to\ zw=|on e0n w[| ei1dei w9v i1dion u9pa/rxei) (1038b20-23).

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idion: ele diz que Formas platônicas como Homem não podem existir nem separadamente, nem em alguma outra coisa (1038b30-34). Na verdade, o argumento não idion desqualifica a posição platônica, mesmo que as Formas sejam separadas, conquanto ele tome a Forma Homem como a essência dos homens particulares que participam nela.

O platônico concordaria que a Forma Homem é a substância e essência de Sócrates, e não apenas de si mesma? Platão talvez negasse isso, mas o que nos importa é a interpretação que Aristóteles fazia dele. Aqui Aristóteles atribui a Platão a doutrina de que Formas são essências de particulares sensíveis12. Como

os particulares sensíveis participam de outras Formas, a Forma que constitui a essência de um particular sensível não determina tudo que o particular é. Como Sócrates participa de outras Formas que não Homem, Sócrates é distinto de Homem, porque a natureza de Sócrates é determinada por múltiplas Formas, enquanto a de Homem é exaurida por sua própria essência13. Assim, se a Forma

Homem for a substância de Sócrates, então ela será a substância de duas coisas. Seja o argumento não idion uma objeção justa aos platônicos ou não, a questão que mais nos interessa diz respeito à posição de Aristóteles. As formas substanciais de Aristóteles são, com certeza, imanentes nas coisas de que elas são formas; uma forma substancial determina um particular sensível como aquilo que o particular é. Em Z.16, ele diz: “a substância não pertence a nada a não ser a ela própria e àquilo que a tem, de que ela é substância” (1040b23-24). De acordo com a tese de Z.6, a forma ou substância de Sócrates, se ela for algo primário, será igual à sua essência. A essência pertence à forma e é idêntica a ela. A essência também pertence a Sócrates e é sua substância. A essência, então, é a substância de duas coisas, como objetado aos platônicos em Z.13? Se a natureza de Sócrates for distinta de sua essência, então, pertencendo a Sócrates, sua essência pertencerá a algo distinto. Por pertencer tanto à sua forma quanto a Sócrates, sua essência será a substância de duas coisas. Como veremos, conforme a maneira

12 Met. A.7, 988b4-6; cf. A.6, 988a10-11.

13 Aristóteles vai objetar em Z.14 e H.6 que as próprias Formas platônicas não têm a

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pela qual Aristóteles concebe a matéria em Metafísica Z, a natureza de Sócrates é distinta de sua essência, porque sua matéria representa uma contribuição independente ao que ele é14. Eu acredito que o argumento não idion representa

uma séria ameaça à substancialidade das formas aristotélicas, sejam elas formas específicas, que pertencem a todos os membros de uma espécie, sejam formas particulares, que pertencem apenas a um composto singular.

Z.13 menciona outro problema que coloca as formas substanciais em risco ainda maior. Chamarei o problema de composicionalidade15. Nenhuma substância é

composta de substâncias efetivas presentes nela, porque uma pluralidade de com-ponentes efetivos comprometeria sua unidade (1039b3-14). Z.10 argumentara previamente que as partes da forma são anteriores a ela, como, por exemplo, as letras A e B são anteriores à sílaba “ba” (1034b24-28). Mas, se a forma é composta de partes efetivas, falta unidade a ela. A preocupação com o problema da composicionalidade leva Aristóteles a concluir, no final de Z.13, que a substância não é composta (1039a16-18). Se uma substância não é composta, então ela não pode ser definida (1039a18-19), visto que uma definição mostra o que algo é especificando suas partes. Aristóteles chama atenção a esse resultado perturbardor. Como as substâncias podem ser indefiníveis? Ele disse no começo (Z.5, 1031a11-14) e nos lembra aqui (1039a19-21) que, mais do que qualquer coisa, substâncias são passíveis de definição. No entanto, agora parece que nada é passível de definição, nem mesmo a forma.

O capítulo termina com uma sugestão de que pelo menos este último problema será resolvido por considerações posteriores. Concordo com aqueles que encontram a solução em Metafísica H.6, onde Aristóteles confronta o problema da unidade da forma16. H.6 também confronta um segundo problema,

14 Ver abaixo, a seção “O Problema dos Compostos”. O papel da matéria em

mudanças substanciais é a razão pela qual a matéria traz uma contribuição distinta à natureza do composto que ela constitui.

15 Sobre composicionalidade, ver a excelente análise de Wedin (2000), 378-404.

16 Ver, porém, Wedin (2000), 390-404, que pensa que o problema é solucionado em

Z.16. Halper (1984 e 1989, 110-18, 179-95) acha que o problema foi resolvido em Z.12 e que H.6 se concentra apenas no segundo problema que eu menciono no corpo do texto.

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a unidade do composto17. Este problema precisa ser solucionado se se pretende

salvar a forma das duas primeiras dificuldades discutidas em Z.13. 2. A unidade da forma

A unidade da forma parece ser diretamente resolvida em Metafísica H.6 (conjuntamente com Z.12), apesar de, na verdade, o problema ser mais complicado do que Aristóteles admite nesses textos. Ele apresenta o problema contra os platônicos:

O que, então, faz o homem uno, e por que [o homem] é um e não muitos, por exemplo, animal e bípede, e os homens serão [homens] em virtude de participarem não em uma, mas em duas coisas, animal e bípede, e, em geral, homem não seria um, mas mais [que um]: animal e bípede? É evidente que aqueles que procedem assim em seu método usual de definir e falar não são capazes de explicar e resolver esta dificuldade (1045a14-22).

O problema com os platônicos é que eles concebem as formas como entidades determinadas e efetivas. Às vezes, Aristóteles coloca o problema chamando as Formas de istos (to/de ti) (Z.14, 1039a30-33)18. Suponha que

Homem é uma forma, e a defina como “animal bípede”. O complexo animal bípede especificado na definição é a essência de Homem. Enquanto os platônicos concebem cada componente como algo determinado e em efetividade, o que implica que a Forma é o que é por participar de duas entidades determinadas,

Apesar de concordar com Halper e Rorty (1973) que Z.12 enfrenta o problema da unidade da forma, acredito que Aristóteles retorna à questão em H.6 e explica a unidade da forma em termos de potencialidade e efetividade.

17 Muitos estudiosos pensam que a unidade do composto é o único problema

enfren-tado por H.6. Halper (1984, 151 e 1989, 180) pretende isso explicitamente. Loux (1995) não discute se H.6 enfrenta dois problemas ou um, mas sua interpretação de 1045a22-25 (263) e sua divisão do capítulo em cinco seções, a segunda seção (1045a20-33) combi-nando o que a maior parte dos estudiosos considera ser dois problemas, sugere que ele pensa que apenas um problema é posto, o da unidade dos compostos.

18 Cf. o uso de poio/n em Z.13, 1038b25 e a minha discussão em Gill (2001), 245 e n.

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bípede e animal, a solução de Aristóteles é conceber um componente, o gênero animal, como algo indeterminado e potencial, e o outro, a diferença bípede, como algo determinado e em efetividade19. Ele diz:

Mas, se, como dizemos, um é matéria e o outro, forma, e um é em potência, e o outro, em efetividade, não mais pareceria que a coisa procurada é uma dificuldade (1045a23-25).

Homem é uma coisa, e não duas, porque animal, enquanto algo indeterminado e potencial, não é uma coisa distinta em acréscimo a bípede. Animal é simplesmente um determinável indeterminado que bípede determina como sendo homem. Uma vez que a menção a animal não adiciona nenhuma informação que já não esteja contida em bípede, e uma vez que bípede define homem exaustivamente, homem e animal bípede são idênticos. A forma é, portanto, uma única coisa, embora sua essência possa ser desdobrada em termos de um gênero e uma última diferença20.

De acordo com essa explicação, a forma homem tem duas partes conceituais, das quais uma é uma efetividade ou isto, a outra, uma potencialidade, chamada em Z.13 de um qual (toio/nde). Porque apenas uma parte – a diferença – é um isto, e porque ela determina tudo o que a forma é, a forma não é dividida em dois. (Isso resolve o problema da composicionalidade de Z.13, 1039a2-14, que discutimos anteriormente.) O gênero também é um componente

19 Para uma interpretação bastante diferente de H.6, que interpreta a citação abaixo

como introduzindo o arcabouço da solução aristotélica para a forma, em vez da solução propriamente dita, ver Harte (1996). Meu problema com a proposta de Harte é que, em vez de considerar que o sintagma to\ me\n u3lh to\ de\ morfh/, kai\ to\ me\n duna/mei to\ de\ e0nergei/a| (1045a23-24) retoma a referência de to/ te zw=|on kai\ to\ di/poun (1045a15; cf a20), ela considera que o sintagma especifica a forma (que era o assunto de discussão com os platônicos) e a matéria (que não era um problema para eles). Com base nisso, Harte traduz: “Se, como dizemos, há, por um lado, matéria e, por outro, forma, e se uma é em potência e a outra, em efetividade, então a questão não mais será tida como uma dificuldade” (291; ver também 293-94). Mas por que esta proposta resolveria o problema platônico, uma vez que a definição platônica de homem não envolvia matéria?

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da substância, mas, sendo uma entidade potencial, e dependendo, para sua efetividade, da diferença que o divide, é posterior a esse determinante e ao objeto diferenciado21. Assim, as formas substanciais são compostas de partes,

contrariando a conclusão de Z.13 de que substâncias não são compostas. Além disso, formas são passíveis de definição e conhecimento.

Ainda assim, a unidade das formas não é tão facilmente solucionada como sugere a proposta de H.6. Na Metafísica, Aristóteles simplifica o quadro e assume que uma forma pode ser determinada por uma única linha de divisão. Ele argumenta em Z.12 que, se procedermos corretamente nas divisões, tomando a diferença de uma diferença (por exemplo, bípede como uma divisão de dotado de pés), nós podemos definir um objeto apenas pela diferença última. No entanto, a situação não é tão simples. Em suas obras biológicas, Aristóteles diz que devemos dividir um gênero em muitas diferenças ao mesmo tempo22. Por exemplo,

ani-mais são definidos não apenas pelo seu modo de locomoção, mas também por sua maneira de nutrição e reprodução, percepção e assim por diante. Aparente-mente, nenhuma característica diferenciadora determina todas as outras. A questão então é: qual é a unidade na coleção de diferenças finais? Perceba que, de acordo com a explicação dada por Aristóteles em Z.12 e H.6, os itens incluídos na coleção de diferenças finais são efetividades. No final das contas, a divisão múltipla não seria responsável por minar a unidade da forma?

David Charles discute essa questão em detalhes em seu livro recente23. O

modelo científico de Aristóteles nos Analíticos toma como básico, na natureza de um ente, um único elemento, e explica todas outras características relevantes através dele. Mas a prática científica de Aristóteles em sua biologia parece exigir mais do que uma causa como ponto inicial. Por exemplo, embora muito da vida de um peixe possa ser explicado através de sua natureza de nadador (esta

21 Esta solução responde às preocupações de Aristóteles sobre prioridade em Z.13,

1038b23-29, que não discuti neste artigo. Ver Gill (2001), 244-45, 254-55.

22 Ver PA I.2, 642b7; I.3, 643b12-644a12.

23 Ver Charles (2000), especialmente cap. 12. Ver também Charles (1993) e Halper

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natureza explica seu habitat, modo de respirar, etc.), outras características, como seu modo de reprodução, pedem uma causa distinta24. Charles julga que

Aristó-teles tem de modificar sua teoria sobre a unidade de tipos os Analíticos para acomodar a complexidade dos tipos biológicos e ele sugere que a noção de uma natureza comum será fundamentada não em um único fator causal, mas antes na interação de vários fatores causais separados. Ele chama a unidade que daí resulta unidade interativa25.

Minha preocupação é que, na perspectiva da Metafísica (e também na dos Analíticos), há razões para pensarmos que Aristóteles necessita de uma carac-terística causal básica que unifique as outras26. Na perspectiva da Metafísica, se não

existe um único item unificador, por que a forma não consiste de duas ou mais partes efetivas? Por que uma forma substancial não é como a sílaba “ba” discutida em Z.10, cujas partes formais, as letras A e B, são anteriores a ela? E como Aristóteles poderia responder sua objeção aos platônicos, a de que homens são o que são por participarem de duas coisas, Bípede e Animal (ou, em sua teoria, razão e um certo tipo de movimento)? Deixo esta questão de lado27. Em vez

24 Charles (2000), 330-334. 25 Charles (2000), 345.

26 Em nossa discussão em São Paulo, David Charles partilhava de minha preocupação. 27 Uma sugestão que ainda me parece promissora é a explicação de Aristóteles sobre a

relação de encaixe das almas em De Anima II.3, 414b32-415a13. De acordo com essa explicação, existem vários níveis de almas, e o mais elevado pressupõe os mais baixos, mas não o contrário. As capacidades da alma constituem um sistema hierárquico integrado, no qual uma capacidade mais elevada torna necessária uma certa configuração das funções mais baixas. Assim, por exemplo, porque os humanos são seres racionais, todas suas capacidades mais baixas são afetadas: é por causa de sua racionalidade que eles podem se mover de certos modos, se nutrirem e se reproduzirem tal como fazem. Propus essa possibilidade em Gill (1993), 267. Talvez a investigação de Charles sobre as práticas reais de Aristóteles na biologia nos mostre que esta proposta não funciona. Em particular, ele menciona a contribuição independente de fatores materiais. Estes fatores não são acomodados no esquema do De Anima. Halper (1989, 114) convenientemente cita PA I.5, 645b14-20, onde Aristóteles diz que, uma vez que cada parte do corpo é em vista de uma certa ação, é certo que o corpo composto é constituído em vista de uma certa ação

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disso, volto minha atenção para o outro problema que Aristóteles enfrenta em H.6, o da unidade dos compostos.

3. O problema dos compostos

A unidade dos compostos é problemática por causa da contribuição da matéria para aquilo que eles são. Poderíamos pensar que um composto material é determinado como ele é apenas por sua forma – e, de fato, eu acredito que Aristóteles mostra que isso é verdade. Mas a conclusão não é de forma alguma automática.

O problema da matéria pode ser ligado a seu papel na geração e destruição de substâncias. Parmênides, predecessor de Aristóteles, negara a possibilidade de qualquer mudança, argumentando que mudanças requerem o surgimento de algo a partir de nada28. Aristóteles, embora concordasse com

Parmênides que não pode haver geração a partir do nada, considerava a existência da mudança como empiricamente evidente. Seu objetivo era explicar mudanças de uma maneira que evitasse o recurso ao surgimento absoluta. Em Física I.7 ele propôs o modelo da substituição, de acordo com o qual toda mudança envolve três princípios: uma forma, uma privação oposta e um subjacente. Uma mudança é o surgimento de algo novo, porque a forma substitui a privação. Ainda assim, uma mudança não é um surgimento absoluto, porque uma parte do ente preexistente sobrevive à mudança, caracterizado primeiro pela privação e depois pela forma. O item contínuo em mudanças não-substanciais – mudanças de qualidade, quantidade e lugar – é uma substância primária como as de Categorias, como um homem particular ou um cavalo particular. Mudanças ocorrem quando uma das propriedades não substanciais do objeto é reposta por outra que seja apropria-damente oposta. Na geração substancial, em contrapartida, uma substância é o produto da mudança e não pode, portanto, ser aquilo que persiste a ela. Aristóteles argumenta que uma substância nova surge a partir de alguma outra coisa sem que

complexa. Pode ser que a unidade da forma dependa, em última instância, da função natural de um organismo. Sobre esta passagem, ver Lennox (2001), 175-76.

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haja surgimento absoluto, porque uma parte do item preexistente sobrevive no produto. Ele chama o item contínuo de matéria. A matéria garante a continuidade entre o item preexistente e o produto, e assegura que a geração não é a partir do nada. É possível que a explicação de Aristóteles sobre a geração e destruição de substâncias seja sua razão para analisar a substância primária e atômica de Categorias em matéria e forma.

Assim que a análise hilemórfica é introduzida, a matéria subverte a unidade de qualquer objeto gerado, pois o composto consiste de dois componentes mais básicos, e ambos contribuem para sua natureza. A matéria tem uma natureza distinta da forma pela simples razão de que ela pode sobreviver à remoção da forma. Por exemplo, o bronze que constitui uma estátua pode durar mais que a estátua. O bronze e a estátua têm diferentes condições de persistência. Enunciando simplesmente, a relação predicativa entre forma e matéria em uma substância composta é uma relação acidental, como aquela entre brancura e homem no composto acidental homem branco.

É bem verdade que Aristóteles complica o quadro em Met. Z.10, distin-guindo entre uma matéria funcional e uma matéria constituinte situada num nível inferior, que eu vou chamar matéria “residual”29. A matéria funcional inclui partes

não-uniformes, como mãos e pés, que estão organizadas no corpo orgânico em seu todo, e são determinadas pela forma do composto em seu todo. Em diversas ocasiões Aristóteles insiste que as partes materiais dos organismos vivos, se separadas do todo, são o que elas são apenas em nome – homonimamente30. Esta

doutrina é conhecida como o princípio de homonímia31. Por exemplo, um braço à

parte do corpo é um braço apenas em nome, não mais do que um braço escul-pido ou pintado. Isso é verdade para cada parte do corpo e também para o próprio corpo (De An. II.1, 412b17-25). Um cadáver humano não é um corpo humano sem alma. Ele é um corpo humano apenas no nome (Meteor. IV.12,

29 Esse vívido nome foi dado por Wedin. Ver Wedin (2000), especialmente 309-11. 30 Ver, por exemplo, Met. Z.10, 1035b24-25, G.A. I.19, 726b22-24, II.1, 734b24-27;

Meteor. IV.12, 389b32-390a2; 390a10-13.

(14)

389b31). Quando um organismo morre, o que resta não é a matéria orgânica. A matéria, como também o composto, é destruído quando o organismo morre. O princípio de homonímia de Aristóteles expressa sua convicção de que a relação entre forma e matéria em organismos vivos não é uma relação acidental.

Ao mesmo tempo, há também a matéria residual. A matéria residual é o que sobra quando um composto é destruído. Em Z.10 Aristóteles diz duas vezes que um homem se corrompe em carne e ossos (1035a18-19, a33). Em Geração dos Animais II.1 ele inclui a carne como parte da matéria funcional que é destruída quando o organismo morre (734b24-31). Mas estas complicações não alteram o ponto fundamental: em algum nível da análise hilemórfica – talvez no nível dos quatro elementos, terra, água, ar e fogo – existe um subjacente do qual as funções são acidentalmente predicadas e que sobrevive à remoção da forma orgânica.

Considerações sobre o papel da matéria nas gerações e corrupções substanciais levam Aristóteles a concluir em Met. Z.7 que a explicação de uma esfera de bronze deve mencionar sua matéria (1033a1-5). Z.8 estende a conclusão a respeito da esfera de bronze a compostos orgânicos e a suas espécies e gêneros (1033b24-26). Em seguida, Z.10 nega que essas espécies e gêneros, que incluem matéria tomada universalmente, sejam substâncias (1035b 27-30). A matéria não só compromete a unidade do composto; ela também ameaça a substancialidade da forma do composto. Pois, dentro do composto, a forma é predicada da matéria. Em Metafísica Z.3 Aristóteles define um subjacente como “aquilo de que outras coisas são predicadas, mas que não é predicado de alguma outra coisa (mhke/ti kat 0 a1llou)” (1028b36-37) e repete esta idéia em subjacência, a passagem de Z.13 que discutimos anteriormente. A contribuição independente da matéria à natureza de um composto é também a razão pela qual a objeção não idion ameaça as formas substanciais, pois a forma de Sócrates é a substância de duas coisas, de si mesma e de Sócrates. Sócrates é distinto de sua forma precisamente porque alguma matéria residual faz uma contribuição independente para o que ele é. A explicação

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de um C composto será especificada em B (a forma) predicado de A (a matéria residual), onde as naturezas de B e de A são distintas uma da outra32.

4. A unidade dos compostos

Metafísica H.6 afirma que a dificuldade em relação aos compostos de matéria e forma é a mesma concernente às formas substanciais (1045a25)33, e ele

a resolve com a mesma solução. Ele diz:

Esta dificuldade é a mesma, ainda que a definição de veste for “o bronze esférico”34; pois este nome [“veste”] seria um sinal da explicação. Assim, a questão

é: qual é a causa da unidade entre a esfera e o bronze? De fato, a dificuldade desaparece porque um é matéria e o outro, forma. Então, qual é a causa disto, de algo em potencialidade estar em efetividade, a não ser o fator eficiente, no caso das coisas para as quais há geração? Pois não há nenhuma outra causa de a esfera em potencialidade ser uma esfera em efetividade, mas isso era a essência para cada uma delas (1045a25-33).

Esta passagem afirma que, se considerarmos a matéria como potencial e a forma como efetiva, o problema da unidade do composto desaparece. Aparentemente, o problema desaparece porque uma única essência explica a forma e a matéria35.

32 Ver Met. Z.11, 1037a32-b4; cf. Z.4, 1030a3-6.

33 Halper (1984, 152 e 1989, 181) julga que ambos os problemas dizem respeito à

unidade dos compostos e interpreta Aristóteles como dizendo que a dificuldade é a mesma no caso dos dois exemplos, de um homem e de uma esfera de bronze. Apesar de o plural oi9 a1nqrwpoi em 1045a18 referir-se a homens individuais, como diz Halper, isso não prova que a principal objeção de Aristóteles contra os platônicos diz respeito aos compostos. Harte (1996, 281) corretamente aponta que o fracasso dos platônicos em explicar a unidade de homens particulares é uma conseqüência de seu fracasso em explicar a unidade da Forma Homem. O problema original para Aristóteles, que ele levanta contra os platônicos, é o da unidade da forma. Enquanto Harte pensa que Aristóteles discute a unidade do composto como um meio para solucionar o problema da unidade da forma, eu penso que ele utiliza a solução para o problema da unidade da forma para resolver o problema da unidade do composto.

34 Ver abaixo a seção “Uma Objeção” para uma discussão e uma tradução revisada

dessa sentença.

35 Ver o comentário de Charles (1994, 87-88) a H.6; cf. Harte (1996), 292. Em Gill

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No caso do bronze esférico, a essência é simplesmente a essência da esfera. Já observamos que uma forma substancial, se ela é uma coisa primária, é idêntica à sua essência. A essência da esfera é também a essência do bronze que constitui a esfera, porque o bronze é definido com referência àquilo que ele é potencial-mente, a saber, uma esfera.

O recurso a potencialidade e efetividade realmente causam o desapare-cimento do problema? Não é de maneira alguma evidente como a redescrição de matéria e forma como potencial e efetiva salva a unidade dos compostos. Apesar de podermos concordar que a matéria funcional e a forma têm a mesma essência, resta o problema da matéria residual. E é para este problema que o exemplo de Aristóteles chama a atenção, pois o bronze que constitui uma esfera de bronze não é matéria funcional, mas matéria residual. O bronze que constitui uma esfera é potencialmente uma esfera, mas é bronze em efetividade. Da mesma forma, os tijolos, pedras e madeira que constituem uma casa não são apenas em potência uma casa, mas são também tijolos, pedras e madeiras em efetividade36. Os

materiais que constituem um complexo maior podem sobreviver à destruição do complexo. Essa independência da matéria é justamente o que o modelo da substituição requer. Mas, se os materiais podem continuar a ser o que eles são quando a organização é removida, a organização que transforma os materiais em um complexo é acidental ao que eles são em si mesmos. O composto é, portanto, apenas um composto acidental37.

responsável pela unidade entre matéria e forma. Para a identificação entre a essência e a causa eficiente, ver Z.17, 1041a27-32. Em contextos de geração, a essência ou forma, que é a origem do movimento, é localizada no agente da geração: ver Z.7, 1032b21-23.

36 Cf. a definição dos compostos em termos de matéria, forma e composto em H.2 e

H.3. A definição de uma casa em termos de matéria é: “pedras, tijolos, madeira” (1043a15).

37 Loux (1995) argumenta que, longe de abandonar a relação acidental entre forma e

matéria (aquilo que Loux chama de modelo de predicação), Aristóteles a reafirma em H.6. Loux pensa que o capítulo explica por que os compostos não são meros amontoados (270). A unidade é explicada pela co-presença de matéria e forma em uma certa estrutura predicativa. A interpretação de Loux é atrativa por conciliar a explicação de H.6 com o resto de Z-H. A principal fraqueza de sua interpretação é que ela ignora as noções de

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Estivemos nos concentrando em exemplos de artefatos, como os que Aristóteles menciona em Metafísica H.6 e anteriormente no livro38. O problema

desaparece quando consideramos os organismos vivos? Penso que não. Organis-mos vivos enfrentam o mesmo problema, embora de modo mais sutil. Mesmo que a matéria funcional seja determinada pela forma do organismo inteiro do qual

potencialidade e efetividade, as quais Aristóteles parece tomar como cruciais para a solução dos problemas levantados no capítulo. Ao contrário do que diz Loux, não é matéria e forma que solucionam os problemas do capítulo (264), mas potencialidade e efetividade, que são primeiramente aplicadas ao problema da unidade do gênero e da diferença (um problema que Loux não discute – aparentemente, ele considera 1045a20-25 como parte da discussão da unidade do composto), e depois à matéria e à forma. Conseqüentemente, a interpretação deflacionária que Loux faz da afirmação de Aristóteles no fim do capítulo (citada abaixo, no texto principal), a que diz que a matéria próxima e a forma são um e o mesmo, uma em potência, outra em efetividade (1045b17-19), não parece entender o ponto de Aristóteles. Na visão de Loux, Aristóteles não está dizendo que matéria e forma são, elas próprias, de alguma maneira um e o mesmo, pois em sua visão a relação entre elas é acidental. Ele interpreta Aristóteles como dizendo que, juntas, “elas fazem ou ‘são’ um composto que é uma coisa única” (273). Por que Aristóteles faz essa afirmação surpreendente (de fato – se Loux está certo – enganadora), se ele quer dizer o que Loux diz? Lewis (1995), que também pensa que a relação entre matéria e forma é em algum nível acidental, dá uma explicação mais plausível à passagem, pois ele leva a sério o aparato de potencialidade e efetividade. Lewis diz: “Aristóteles não está pretendendo que a matéria seja o mesmo que a forma, muito menos idêntica a ela. Ao contrário, ele está dizendo que existe uma e mesma coisa, aliás, um e mesmo tipo t, de tal modo que a matéria é potencialmente (um) t, e a forma é efetivamente (um) t ” (239). Isso funciona para a forma orgânica e a matéria funcional – matéria cuja própria natureza é determinada pela forma. O problema para Lewis (como Loux formula contra Halper [1989] e Kosman [1984] [253-58]) é que sua solução depende de considerarmos os seres vivos, que têm matéria funcional, como centrais à discussão de Aristóteles em H.6. Mas Loux corretamente aponta que a matéria funcional não é mencionada em H.6 (262). O exemplo ao qual Aristóteles se refere no resumo final é o da esfera de bronze. Este exemplo, diz Lewis, é enganador (245). Se Lewis está correto, o exemplo é de fato enganador, pois não faz parte da natureza do bronze ser potencialmente uma esfera. Por que Aristóteles não usou um exemplo orgânico, se seu ponto era o que Lewis atribui a ele?

38 Perceba que Aristóteles afirma que tais exemplos não são substâncias genuínas,

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ela é matéria, e mesmo que esta matéria funcional seja destruída quando o animal morre, ela não é exaustivamente determinada pela forma, porque alguma matéria residual – seja carne e ossos ou os elementos – também contribui para sua natureza. Esta matéria residual compromete a unidade do todo, apesar de ser funcionalmente organizada num corpo orgânico, como parte do animal. A matéria residual é ontologicamente anterior ao composto e à forma, uma vez que a forma depende dela para sua realização, e que o composto consiste na forma e nessa matéria, como se fossem dois componentes mais básicos: a forma é acidentalmente predicada da matéria residual.

Eu sugiro que a proposta de Aristóteles em H.6 é mais radical do que estamos supondo39. A passagem há pouco citada diz que a dificuldade é a mesma

que a anterior, sobre a forma. O problema foi solucionado tomando um elemento da essência (o gênero) como matéria e potencial, e o outro elemento (a diferença) como forma e efetividade. Assumindo que existe apenas uma diferença última40, a dificuldade desapareceu, porque o gênero era simplesmente um

determinável indeterminado. Mencionar o gênero não acrescentava nenhuma informação que já não estivesse contida na diferença última. A solução análoga para o composto é tratar a matéria do bronze esférico da mesma maneira que o gênero foi tratado no primeiro caso. Neste modelo, o bronze que constitui a esfera não é um subjacente determinado do qual o formato fosse predicado. Ao contrário, o bronze é algo indeterminado e determinável que o formato esférico diferencia em uma esfera, tanto quanto bípede diferencia animal em homem. Chamemos esta matéria determinável de matéria genérica.

Forcei uma analogia com a primeira solução da unidade da forma, mas, mesmo que eu esteja certa em forçar tal analogia, resta uma diferença significativa entre os dois casos. Bronze não é o gênero próprio da esfericidade. O gênero que a esfericidade diferencia é o formato, assim como o bípede diferencia o animal. Enquanto a menção do gênero ordinário, como formato, não acrescenta

39 Minha discussão no restante desta seção resume Gill (1989), cap. 5.

40 Para preocupações acerca da unidade de uma coleção de diferenças últimas, ver

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nenhuma informação quando a esfericidade já está mencionada, o mesmo não é verdadeiro do bronze em relação à esfericidade. A natureza do bronze não pode ser determinada pela simples inspeção da esfericidade, uma vez que o conceito de bronze não está incluído no conceito de esférico, enquanto o de formato está. Assim, se o bronze deve ser mencionado numa explicação da esfera de bronze, uma informação é acrescentada, pois a natureza do bronze é determinada por propriedades que não tem nada a ver com esfericidade. Portanto, mesmo que Aristóteles conceba o bronze como gênero e o formato como a característica diferenciadora, resta ainda a aporia sobre como a unidade pode ser alcançada.

Aristóteles termina H.6 com o famoso resumo:

Mas, como dissemos, a matéria próxima (e0sxa/th) e a forma são a mesma e uma só coisa, uma em potência (duna/mei), a outra, em efetividade (e0nergei/a|), de tal maneira que é como procurar qual é a causa da unicidade e de ser um; pois cada uma é uma coisa única, e a coisa em potencialidade e a coisa em efetividade são de alguma maneira uma só, de tal modo que a causa não é nada mais, a não ser que haja algo que tenha causado o movimento da potencialidade à efetividade. E todas as coisas que não têm matéria são precisamente uma certa coisa única” (1045b17-23).

Percebam a restrição: “a coisa em potência e a coisa em efetividade são de alguma maneira uma só (e3n pw/v)” (1045b20-21). Do modo em que eu leio esta passagem, Aristóteles reconhece que a matéria próxima e a forma não são simplesmente um do modo como o gênero e a diferença são um no caso da forma. Como deveríamos entender o “de alguma maneira um” na proposta de Aristóteles?

Metafísica H.6 dá apenas o quadro geral de uma solução. Devemos procurar os detalhes em outros lugares. O principal lugar, claro, é Metafísica Q e, especial-mente, Q.6-9. Relevante, porém, à discussão em Q é a teoria da mistura de Aristóteles Geração e Corrupção I.10. Lá ele argumenta que os ingredientes de uma mistura existem efetivamente antes de entrarem numa combinação, mas que estão apenas potencialmente presentes na mistura (327b22-31). Pense naquela coisa esponjosa chamada bolo. Os ingredientes de um bolo são ovos, farinha, açúcar, manteiga, água, etc. Estes ingredientes existem separadamente e

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efetiva-mente antes de serem misturados, mas, quando são combinados e a massa, assada, o produto é uma coisa esponjosa em que os ingredientes não estão mais efetivamente presentes. Aristóteles não era um atomista: uma análise dos compostos não resulta em partículas elementares. Ele propõe que os ingredientes estão apenas potencialmente presentes no composto. Eles estão potencialmente presentes porque componentes de tais tipos podem ser extraídos quando o composto é destruído41. Os ingredientes originais certamente contribuem para o

composto: várias de suas propriedades são devidas aos ingredientes. Por exemplo, os ingredientes originais de um bolo são responsáveis por seu sabor, sua umidade, seu peso, sua consistência e sua cor42.

Aristóteles vê os organismos vivos de maneira semelhante. Os elementos que em última instância compõem um corpo orgânico não estão presentes nele

41 Na verdade, os componentes extraídos não são do tipo usados em sua produção,

mas elementos – terra, água, ar e fogo – que compuseram os ingredientes originais. Ver o modelo cíclico de geração e destruição de Aristóteles em Met. H.5, 1044b29-1045a6.

42 Loux (1995, 260-61) considera minha proposta peculiar e implausível, objetando

que a matéria de uma coisa altera-se em suas características categoriais: ela começa como um “isto”, depois tem apenas um ser meramente adjetivo (é por referência a isso que o composto é chamado “daquilo” [“ekeininon”, “that-en”]: ver Met. Q.7, 1049a18-1049b2), daí, depois da destruição do composto, ela reemerge como um “isto” e um subjacente. Ela é, ele diz, um ente intermitente(crono-lacunar). Mas essa objeção pressupõe que exista uma coisa que persiste à mudança, mas que fica nas sombras enquanto compõe o composto. Não é isso que eu penso. O estofo original se vai, transformado no composto. E quando o composto é destruído, resta a matéria do tipo original – não numericamente o mesmo estofo que havia no começo, apenas estofo do mesmo tipo. O composto é conectado à matéria a partir da qual foi gerado por causa de certas propriedades da matéria que caracterizam o objeto. Na minha opinião, há apenas um objeto material em um dado lugar ao mesmo tempo; na opinião de Loux, haveria ao menos dois objetos materiais distintos no mesmo lugar e no mesmo instante – no caso da esfera de bronze, haveria o bronze e a esfera, com condições de persistência distintas. Apesar de eu concordar com Loux que Aristóteles apresenta uma visão desse tipo em Metafísica Z e H.1-5, a visão traz sérios problemas para sua metafísica – em particular, a matéria teria prioridade existencial frente ao composto e à forma. Penso que, para evitar esses problemas, Aristóteles revê sua explicação da relação entre matéria e forma em Metafísica H.6 e Q.

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em efetividade, mas contribuem com certas propriedades do objeto de que fazem parte. Deveríamos, então, conceber a matéria genérica que constitui o composto orgânico não como um subjacente último ao qual pertence a função, mas como uma coleção de propriedades que caracterizam o objeto. Quando o organismo é destruído, materiais de um tipo mais simples são extraídos, mas eles não são componentes efetivos enquanto o organismo existe. Certas propriedades do organismo são devidas aos ingredientes, mas eles não contribuem para a sua natureza e, portanto, não destroem sua unidade. Se estou correta, é possível que um composto material, no final das contas, seja definido apenas com referência a sua forma, porque as propriedades da matéria residual não acrescentam nada a sua natureza substancial. Aquelas propriedades da matéria residual explicam, com certeza, várias coisas acerca do organismo – seu peso, temperatura, umidade, etc. Mas minha tese é que elas são propriedades da substância dotada de forma, e não um subjacente primário ao qual a natureza formal pertence.

5. Uma objeção

Há uma séria objeção contra minha leitura de Metafísica H.6, e agora eu quero me voltar a ela. Argumentei que Aristóteles soluciona o problema da unidade da forma propondo que o gênero existe em potência, como um determinável indeterminado, e que diferença existe em efetividade, como aquilo que diferencia o gênero em uma forma determinada. Sugeri que ele estende esta solução ao caso do composto material, pretendendo que a dificuldade seja a mesma (1045a25). Ele propõe que a matéria próxima e a forma são de alguma forma um, aquela, em potência, esta, em efetividade. Argumentei que a matéria próxima é um gênero material diferenciado pela forma em um objeto43. A matéria

43 No caso dos organismos, a matéria próxima é o gênero material diferenciado pela

forma em matéria funcional. O problema que particularmente preocupa Aristóteles em H.6, que dita sua escolha pela esfera de bronze como seu exemplo central, é a relação entre forma e matéria situada em níveis inferiores (que é, então, tratada como matéria genérica, em vez de matéria residual).

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próxima é precisamente a coisa tomada como potencial. Assim, sua natureza é totalmente determinada pela forma do objeto.

A objeção à minha leitura é a partícula ga/r no início da discussão de Aristóteles acerca do bronze esférico: e1sti ga\r au3th h9 a0pori/a h9 au0th\ ka2n ei0 ktl. (“pois esta dificuldade é a mesma, ainda que a definição de veste for ‘o bronze esférico’...” [1045a25-26])44. Interpretei

Aristóteles como se ele estendesse para o caso mais difícil do composto sua solução da unidade da forma. Na minha leitura, a primeira solução ajuda a explicar a segunda. A presença de ga/r sugere, no entanto, que a explicação funciona na outra direção – que a solução para o problema da unidade dos compostos ajuda a explicar a unidade da forma45.

Minha resposta a esta objeção é uma proposta simples concernente ao texto: as letras g-a-r foram erroneamente interpretadas. Deveríamos, na verdade, ler g 0a1r 0, formado a partir de ge a1ra, com duas elisões (a segunda antes da vogal inicial de au3th). Esta sugestão não requer nenhuma emenda textual46,

apenas uma divisão diferente das palavras. Embora Denniston não liste nenhum outro exemplo de g 0 a1r ou g 0 a1ra em Aristóteles, ele lista um grande

número de exemplos em Platão, um em Demócrito, e também na poesia47. Em

44 A objeção me foi apresentada por Lewis (1995), 258 n. 39 e Harte (1996), 282 n. 15.

Julgo que Lewis também enfrenta um problema, dada sua interpretação de ga/r. Em sua nota 39, ele diz considerar que o ga/r indica que a solução para o problema da unidade dos compostos explica a unidade da forma. Tal como ele entende a unidade dos compostos no corpo do seu artigo, a forma é (em algum nível) predicada acidentalmente da matéria. De maneira semelhante, então, a diferença (=forma) não seria predicada acidentalmente do gênero (=matéria)? Esta é exatamente a idéia que Aristóteles rejeita em Z.12, quando ele nega que o gênero toma parte de sua diferença (1037b18-21). A relação entre o gênero e sua diferença não é elucidada pela comparação com uma relação predicativa acidental entre forma e matéria.

45 Neste ponto eu interpreto a estratégia de H.6 bastante diferentemente de Ross

(1924), 2.238, Rorty (1973), e Harte (1996).

46 Divisão de palavras e marcas diacríticas foram obra de editores posteriores. 47 Denniston (1966), 43. Em geral se acha que ga/r foi derivado de ge e a1r

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quase todos os casos, há discordância entre os manuscritos entre ga/r e g 0 a1r 0, g 0 a1ra ou simplesmente ge ou a1ra48. Se as letras forem lidas como estou propondo, a direção da explicação é revertida. Traduzo: “esta dificuldade é então, de fato, a mesma, ainda que a definição de veste seja ‘o bronze esférico’; pois seu nome [‘veste’] seria uma sinal da explicação”49.

6. Solução das aporias de Z.13

Se minha interpretação de H.6 está correta, as aporias de Z.13 que persis-tem são prontamente resolvidas. A forma substancial satisfaz o critério da subja-cência, afinal. Embora a forma seja predicada da matéria próxima, a matéria não é distinta da forma em natureza. A essência da forma é também a essência da matéria, já que é a forma que diferencia a matéria em um objeto (H.6, 1045a33). Assim, predicar a forma da matéria não é predicar uma coisa de outra50. Além do

mais, já que a matéria não dá uma contribuição independente para a natureza do

48 Philebus 46a12: Su/mmeikton tou=to/ g 0 a1r 0, w] Sw/kratev, e1oike gi/gnesqai/ ti kako/n (“Esta realmente parece ser uma experiência misturada então, com um mau componente, Sócrates”), cf. Phlb. 35b6 (g 0 a1ra); Theaetetus 171c9-10: 0Alla/ toi, w] fi/le, a1dhlon ei0 kai\ paraqe/omen to\ o0rqo/n. ei0ko/v ge a1ra e0kei=non presbu/teron o1nta sofw/teron h9mw=n ei]nai (“Mas não é de forma alguma claro, meu caro Teodoro, que estamos saindo dos trilhos. Assim, é provável que Protágoras, sendo mais velho do que nós, também seja mais sábio”: note que aqui há três leituras diferentes nos MSS: ge a1ra B: ge a1r 0 T: e notavelmente ga\r W. Cf. Charmides 159d4 (um MS traz g 0 a1ra). Diels, em edições mais antigas de Diels e Kranz (1951), publicou o Fr. 191 de Demócrito com g 0 a1r: tau/thv g 0 a1r 0 e0xo/menov th=v gnw/mhv eu0qumo/tero/n te dia/ceiv kai\ ktl. (“Quando você [keep to this mind ], então, você seguirá em bons espíritos e...”), mas DK publicam ga/r em edições mais recentes.

49 Para ka2n ei0 ver Smyth (1956) §1766b, e seu exemplo da República de Platão

579d: e1stin a1ra...ka2n ei0…, que é similar à estrutura de nossa sentença de H.6, porém sem o ge enfático.

50 Lembre-se da formulação mais precisa da condição do subjacente em Z.3: “Um

subjacente é aquilo de que outras coisas são predicadas, mas ele próprio não é predicado de um outro (kat 0 a1llou)” (1028b36-37).

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composto, a forma pode ser a substância de si mesma e de Sócrates, sem, com isso, ser a substância de duas coisas. Afinal, a natureza de Sócrates é inteiramente determinada por sua forma. Portanto, sua forma lhe é própria, em concordância com o requisito idion de Z.1351. Um comentário final sobre estas soluções: a

substancialidade da forma é preservada, mas apenas pela demonstração da unidade e substancialidade do objeto composto do qual ela é forma. Este fato é importante para determinarmos o que, para Aristóteles, conta como substância primária e por quê52.

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51 Discuti em outro lugar (Gill [2001], 258-60) que a forma pode ser própria a mais de

um indivíduo, desde que eles sejam um em forma.

52 Li uma versão deste artigo numa conferência sobre Substância e Predicação na

Metafísica de Aristóteles em São Paulo. Agradeço a Marco Zingano por ter organizado um evento tão estimulante e produtivo, assim como agradeço aos participantes, pela discussão construtiva.

(25)

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