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Jornal de Estudos Espíritas - Resumo - Art. N. 010203

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Volume 4 – 2016

Pitágoras, um precursor do Espiritismo: análise do pensamento

pitagórico por Herculano Pires e Léon Denis

Leonardo Marmo Moreira

1,a

1

São João del-Rei, MG.

e-mail:a leonardomarmo@gmail.com

(Recebido em 26 de Junho de 2016, publicado em 03 de Agosto de 2016).

RESUMO

Pitágoras e/ou o pensamento pitagórico constituem referências indiscutíveis para a evolução intelecto-moral do Ocidente e de toda a humanidade. É muito provável que o pensamento pitagórico tenha exercido significativa influência sobre as ideias de Sócrates e Platão. Dessa forma, considerando que o próprio codificador do Espiritismo, Allan Kardec, analisou e discutiu, com grande ênfase, os pensamentos de Sócrates e Platão, caracterizando-os como precursores do Espiritismo, é possível sugerir que Pitágoras e/ou os conceitos pitagóricos constituíram igualmente um antecessor da “Doutrina dos Espíritos”. De fato, ideias como imortalidade da alma, reencarnação, necessidade de esforço intelectual para evoluir, parcimônia no uso dos bens materiais e solidariedade em comunidade eram alguns dos vários princípios pitagóricos que podem ser correlacionados com os princípios doutrinários do Espiri-tismo. Análises focadas sobre o pensamento pitagórico por parte de Herculano Pires e Léon Denis, dois dos maiores filósofos do Espiritismo, as quais respaldam Pitágoras como precursor da Doutrina Espírita, são discutidas. Palavras-Chave: Pitágoras; Herculano Pires; Léon Denis; Allan Kardec; Espiritismo; precursores.

I

I

NTRODUÇÃO

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), Allan Kardec caracteriza Sócrates e Platão como precursores do Espiritismo. Talvez, por associação, fosse justo con-siderar Pitágoras como membro desse seleto grupo. De fato, Platão aproveitou-se largamente, por exemplo, na construção da ciência matemática, dos trabalhos dos pi-tagóricos (PLATÃO, 2005). Sabe-se que Platão adotou a doutrina religiosa da transmigração das almas. Platão talvez tenha sido levado a esse corpo de ideias porque a doutrina reencarnacionista, por permitir a tese da “remi-niscência” (de existências físicas anteriores), favorecia a propagação de sua teoria das ideias. Ademais, tal pro-posta fornecia uma respro-posta satisfatória às suas exigên-cias morais (PLATÃO,2005).

É importante frisar que, além de precursores do Es-piritismo, Sócrates e Platão são “signitários” do célebre “Prolegômenos” de O Livro dos Espíritos, o que, uma vez mais, sugere uma certa linearidade de evolução do pensamento filosófico deles, individual e fisicamente, até a constituição, no século XIX, da “Doutrina dos Espíri-tos”.

Pode-se dizer de forma bem simplificada e didática que Pitágoras foi um misto de cientista e místico ( OS-BORNE,1992), ou seja, era interessado tanto em ciências naturais como em questões religiosas. Realmente, Pitá-goras criou uma “filosofia matemático-metafísica” ( OS-BORNE,1992).

II

A

S IDEIAS PITAGÓRICAS

Pitágoras fundou a chamada “Escola Pitagórica”, a qual tem sido considerada a “primeira Universidade do Mundo”. Apesar das limitações em termos de informa-ções sobre Pitágoras, em função do fato de o filósofo de Samos, tal como aconteceria posteriormente com Jesus de Nazaré e Sócrates, nada ter escrito, juntamente com o ca-ráter relativamente “fechado” da referida comunidade (o modo de vida dessa comunidade pitagórica envolvia dis-crição e sigilo em suas práticas (COLLINSON,2004)), o pensamento pitagórico influenciou fortemente várias ge-rações de filósofos, tais como Apolônio de Tiana. Aliás, é o próprio Allan Kardec, codificador do Espiritismo, que afirma no primeiro artigo da Revista Espírita do mês de outubro do ano de 1862, intitulado “Apolônio de Tiana”, que o referido sábio “...de todas as filosofias que estudou, adotou a de Pitágoras, da qual seguiu rigorosamente os preceitos até a sua morte” (KARDEC,1862).

Pitágoras e seus discípulos acreditavam na transmi-gração da alma após a morte, de um corpo para outro. Portanto, defendiam a imortalidade da alma e a reencar-nação. Não afirmamos, no entanto, que a visão pitagórica da “transmigração da alma” corresponda perfeitamente à visão do reencarnacionista do Espiritismo. Todavia, considerando que, ainda hoje, a grande maioria da socie-dade cristã brasileira e mundial, pelo menos oficialmente, rejeita sistematicamente o princípio da “Pluralidade das Existências”, não deixa de ser admirável que há aproxi-madamente 2500 anos, em que pese as inevitáveis dife-renças de compreensão do respectivo conceito, um dos principais pensadores do mundo ocidental na Antigui-dade aceitava e pregava a multipliciAntigui-dade das existências

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no chamado “plano intrafísico”.

É importante registrar que a crença na reencarnação sugere intrinsecamente a crença na existência do mundo espiritual, pois no intervalo de tempo entre a existência física anterior e a existência física subsequente deve ha-ver um “ambiente” no qual a essência da individualidade, isto é, o Espírito imortal, permaneça com sua realidade fundamental intacta para, posteriormente, “habitar” um novo corpo físico. Assim sendo, a crença no binômio imortalidade da alma/reencarnação implica a crença no trinômio imortalidade da alma/existência do mundo es-piritual/reencarnação.

Pitágoras também elaborou uma cosmogonia, cujo foco era bem peculiar, pois era centrado no exame da religião, da alma humana e a sua salvação ( COLLIN-SON,2004). Podemos correlacionar tal abordagem com o princípio fundamental do Espiritismo conhecido como “Pluralidade dos mundos habitados” (também conhecido através da frase de Jesus de Nazaré, título do terceiro ca-pítulo de ESE., “Há muitas moradas na casa do Pai”), o qual está conectado com várias outras questões filosófico-religiosas fundamentais da doutrina, tais como a “Lei de progresso” e, por consequência, a própria “Pluralidade das existências”, isto é, a reencarnação, uma vez que as múltiplas vidas físicas constituem o mecanismo pelo qual o próprio progresso é desenvolvido.

Pitágoras de Samos realizou uma modificação fun-damental na religiosidade órfica (referente ao Orfismo, de Orfeu), transformando o sentido da “via de salva-ção” (SOUZA,2005). De fato, o orfismo era uma religião essencialmente esotérica que acreditava na imortalidade da alma e na metempsicose, ou seja, na transmigração da alma através de vários corpos, a fim de efetivar sua purificação. A alma aspiraria, por sua própria natureza, a retornar à sua pátria celeste, às estrelas; mas, para se libertar do ciclo das reencarnações, o homem necessitava da ajuda de Dionísio, deus libertador que completava a libertação preparada pelas práticas catárticas (SOUZA,

2005).

Para Pitágoras, a alma pode ter existido como animal ou planta, e pode atingir a libertação através de uma de-dicação religiosa ao estudo, podendo depois reunir-se à alma-mundo universal (BLACKBURN, 1997). Percebe-se uma busca profunda por uma religiosidade racional e erudita, o que nos faz lembrar o conceito conhecido no movimento espírita como “Fé raciocinada”, paradigma fundamental para o estudo e prática do Espiritismo.

Nesse contexto, é interessante comentar que Pitágo-ras passou a infância não muito longe de Mileto, daí ser provável que conhecesse essa academia, ou que talvez até tenha nela estudado. Pitágoras, assim como Tales, o fun-dador da “Escola de Mileto”, teria aprendido os rudimen-tos da geometria em uma viagem ao Egito. Tal formação provavelmente o teria influenciado a abordar o pensa-mento filosófico de forma científica e matemática ( FOR-TINO,2014).

É possível inferir, por conseguinte, que a grande no-vidade introduzida, certamente pelo próprio Pitágoras, na religiosidade órfica foi a transformação do processo

de libertação da alma em um esforço inteiramente sub-jetivo e puramente humano (SOUZA, 2005). Para o pensamento pitagórico, o homem precisa identificar-se com o divino para eliminar conflitos a fim de se salvar. Chega-se a isso pela contemplação teórica, que vislum-bra, por trás dos conflitos, a harmonia (ABRAO,2004). A purificação resultaria do trabalho intelectual, tornando a alma semelhante ao cosmo, em harmonia, proporção e beleza (SOUZA,2005). Faz lembrar, mesmo que seja le-vemente, as afirmativas de Jesus: “A cada um segundo suas obras” e também “Vós sois deuses. Tudo aquilo que eu faço e muito mais podereis fazer. Se quiserdes”. Logi-camente, ao induzir uma correlação com tópicos evangé-licos, é possível identificar pontos essenciais em comum com a “Doutrina dos Espíritos”, tais como as chamadas “Leis morais” exaradas em O Livro dos Espíritos, como, por exemplo, a “Lei de progresso”, a “Lei de trabalho” e a “Lei de igualdade”.

III

O

PENSAMENTO PITAGÓRICO E O TRÍ

-PLICE ASPECTO DO

E

SPIRITISMO

A criação da “Escola de Pitágoras” e seu evidente e destacado legado matemático, com especial destaque para o célebre “Teorema de Pitágoras”, denota, inequivo-camente, seu compromisso com o raciocínio lógico e com o crescimento intelectual. Nesse contexto, seu significativo foco em questões científicas e filosóficas, com consequên-cias ético-morais práticas do ponto de vista comporta-mental, faz lembrar a colocação kardequiana de que o Espiritismo é uma “filosofia de causas científicas e inevi-táveis consequências religiosas”.

Realmente, o aspecto tríplice do Espiritismo, ou seja, o tripé ciência-filosofia-religião constitui uma abordagem integral em termos de conhecimento humano, permitindo para os adeptos mais comprometidos com o ideal espírita significativo crescimento intelecto-moral assim como re-novação dos objetivos existenciais. José Raul Teixeira, na X Confraternização Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), em 1995 (TEIXEIRA & RIBEIRO,1995), ci-tando Bezerra de Menezes, caracteriza o centro espírita como “A universidade da alma”, o que nos remete, indi-retamente, à “primeira universidade da Terra”, ou seja, à “Escola de Pitágoras”, a qual, há mais de 2500 anos, já propunha, em um movimento de vanguarda, alguns conceitos e comportamentos que constituem tópicos de estudo atual nas instituições espíritas.

Pitágoras foi precursor de iniciativas modernas em psicologia, tais como a “musicoterapia”. De fato, ele tam-bém descreveu o poder do som e seus efeitos sobre a psi-que humana, o psi-que, inclusive, teria influenciado, poste-riormente, o pensamento aristotélico, como base teórica para a definição de música proposta por Aristóteles, que, segundo ele, seria uma “arte medicinal” (PITÁGORAS,

2016).

Considerando que Pitágoras viveu em torno de meio milênio antes de Jesus de Nazaré, é indiscutível o valor de sua contribuição para o avanço da humanidade nas áreas científica, filosófica e, por consequência, religiosa.

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Por outro lado, em torno de 2500 anos depois, grande parte das ideias e ideais pitagóricos ainda estão distantes das realidades intelectual e moral de grande número dos mais de sete bilhões de habitantes encarnados que a Terra abriga nos dias atuais. Algumas dessas ideias, inclusive, já apresentam grande número de evidências concretas de realidade, tais como a imortalidade da alma e a reen-carnação. Obviamente, a influência do pensamento de Pitágoras, pelo menos em parte, constitui componente das bases daquilo que é chamado de “cultura geral” em nossa sociedade. Ainda assim, vários conceitos, sobre-tudo nas áreas filosófico-religiosas, ainda estão, em ter-mos práticos, distantes da cultura do ser humano médio da atualidade. Podemos supor que isso seja devido a vários fatores. Alguns tópicos dessa questão com múlti-plas causas podem ser destacados, como, por exemplo, o grande avanço das ideias pitagóricas para a sua res-pectiva época, ou seja, Pitágoras tinha um pensamento muitíssimo à frente do seu tempo.

IV

P

ITÁGORAS NA ANÁLISE DE

H

ERCU

-LANO

P

IRES

Herculano Pires foi um dos maiores pensadores espíri-tas do século XX (MOREIRA,2015;LAVARINI,2015). Considerado por Emmanuel “O metro que melhor me-diu Kardec” e “a maior inteligência espírita contempo-rânea” (RIZZINI, 2001), Herculano Pires, além do seu profundo conhecimento kardequiano, era filósofo de for-mação e desenvolvia, em vários de seus livros, abordagens filosóficas, enfatizando estudos comparativos entre o Es-piritismo e diversos filósofos.

Em várias de suas obras, Herculano Pires faz análises focadas na figura de Pitágoras e no pensamento pitagó-rico propriamente dito. É possível observar que Hercu-lano Pires tinha uma opinião bem elevada a respeito de Pitágoras. Na obra Os Filósofos (PIRES, 2001), ele co-menta:

Pitágoras não era apenas filósofo, no sentido que hoje atribuímos ao termo, mas num sen-tido mais amplo, de verdadeiro “amante da sa-bedoria”. Partindo dos números, chegava ao co-nhecimento das artes, através da harmonia. Tanto aprofundava os segredos da matemática, quanto os da música e da poesia. Não obstante, fiel às tradições órficas, que aprendera de Ferécides, buscava antes a poesia da alma que a do corpo. Embora fosse o mais belo dos homens, ensinava que o corpo só vale como reflexo da alma imortal. (PIRES, 2001; ESPELHO,

2014) (grifos meus).

Na mesma obra, Herculano continua:

Pitágoras soube ver com mais clareza o problema do conhecimento, e deu-lhe forma e nome diversos. Em palestra com o tirano Leonte, de Fliunte, respondeu a este, que o havia chamado sábio: “Nenhum homem

é sábio, só Deus o é”. E acrescentou: “Não sou

um sábio, mas um amigo da sabedoria”, ou seja, um filósofo. (grifos meus).

Esta passagem denota que Pitágoras aceitava a exis-tência de Deus, que consiste em um dos princípios básicos do Espiritismo. Ademais, no livro Concepção Existencial de Deus(PIRES,1992), Herculano Pires, no segundo ca-pítulo, denominado “O existente”, considera seriamente a hipótese proposta por Pitágoras. Questiona Herculano: “Há uma origem de Deus? Podemos saber ou imaginar como, onde e quando, de que maneira Ele surgiu - não no Cosmos, que não podia ainda ter existido, mas no

Inefável, como queria Pitágoras?” (grifos meus).

No livro Agonia das Religiões (PIRES,2000), no início do capítulo XIII, intitulado “Revolução cósmica”, Her-culano Pires faz uma análise interessante sobre o pen-samento pitagórico, correlacionando com o penpen-samento espírita e o colocando, em muitos aspectos, acima de vi-sões de religiões e filosofias atuais:

Não é fácil à mentalidade necrófila desenvolvida pelas religiões da morte, sob o peso esmagador da escatologia judaica e da tragédia grega, compre-ender essa visão nova do homem como um ser cósmico. Por isso acusa-se o Espiritismo de rea-tivar antigas superstições e voltar à concepção da

metempsicose egípcia elaborada pelo gênio de Pitágoras. Não percebe essa mentalidade que a

teoria pitagórica da metempsicose impunha-se ao sistema filosófico por uma intuição do seu próprio gênio e pela necessidade lógica. O homem pitagórico antecipou o homem do Es-piritismo na medida possível das grandes an-tecipações históricas. Era um homem cósmico por antevisão, tão integrado e entranhado na realidade universal que não podia escapar do círculo vicioso das formas se não despertasse em seu íntimo os poderes secretos da mônada.

O conceito do homem em Pitágoras é infinita-mente superior ao das religiões atuais e ao das filosofias do desespero e da morte em nosso sé-culo.

Quando Pitágoras falava da música das esferas não se embrenhava nas superstições, mas abria a mente de seus discípulos para a visão real do Cosmos, que só em nosso tempo se tornaria acessível a todos. Mais

tarde, Jesus também anunciaria as muitas mo-radas do Infinito e ensinaria o princípio da res-surreição e das vidas sucessivas, estarrecendo um

mestre em Israel que não sabia dessas coisas. numa fase mais avançada da evolução terrena, Je-sus não se referia à metempsicose, mas à palingene-sia do pensamento grego, à transformação constante dos seres e das coisas, nas antigas Gálias, os celtas, que para Aristóteles eram um povo de filósofos, di-vulgavam esses mesmos princípios pela voz dos seus brados, poetas-cantores das tríades sagradas. E en-tre eles, como um druida, Kardec se preparava para a sua missão futura na França do século XIX. (grifos

meus).

Portanto, fica bem explícito que para Herculano Pires “o homem pitagórico antecipou o homem do Espiritismo” e que, em sua opinião, “o conceito do homem em Pitágo-ras é infinitamente superior ao das religiões atuais e ao das filosofias do desespero e da morte em nosso século”.

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Logo, para ele, além de ter sido um precursor do Espiri-tismo, Pitágoras apresentava um pensamento bem supe-rior aos conceitos religiosos e filosóficos de vários grupos da atualidade.

Em uma das obras mais reconhecidas de J. Hercu-lano Pires, que é o livro O Espírito e o Tempo (conside-rado, em pesquisa elaborada pelas “Organizações Can-deia”, o sétimo melhor livro espírita do século XX) ( PI-RES, 2003), o autor faz o seguinte comentário no início da segunda parte, denominada “Fase histórica”, no item “Emancipação espiritual do homem”, subdivisão 2 (De-senvolvimento da razão):

A reforma grega do Orfismo pelo Pitagorismo, a reforma indiana do Hinduísmo pelo Budismo, a reforma chinesa do Taoísmo pelo Confucionismo, e a reforma síria do Judaísmo pelo Cristianismo, eis os grandes eventos históricos que assinalam o advento mundial, no horizonte profético, da era da razão. Pitágoras é o primeiro a ensaiar, na Grécia do século sexto, e no mundo inteiro, a união do pensamento místico ao racional. E a partir dos pitagóricos, o grande drama da evolução humana, durante milênios, se desen-volverá nesse plano: a luta pela racionalização da fé. (grifos meus).

Herculano, na obra Introdução à Filosofia Espírita (II - Filosofia e Espiritismo, item 3, denominado “A tradi-ção filosófica”) (PIRES, 2010), faz interessante análise na qual correlaciona a filosofia espírita com as escolas filosóficas do passado, situando o Espiritismo “como o delta natural em que desemboca no presente toda a tradi-ção filosófica”. Vejamos o comentário completo:

A Filosofia Espírita se apresenta naturalmente inte-grada na tradição filosófica. Foi por isso que Kardec colocou, sobre o título de “O Livro dos Espíritos”, a indicação: “Filosofia Espiritualista”. Em “O

Evan-gelho Segundo o Espiritismo” ele indica Sócrates e

Platão como precursores do Cristianismo e do Espi-ritismo, sendo este o desenvolvimento histórico da-quele. Mas podemos ir mais longe, demonstrando as múltiplas relações da Filosofia Espírita com as mais significativas escolas filosóficas do passado. Na ver-dade, a Filosofia Espírita se apresenta, para o inves-tigador imparcial, como o delta natural em que de-semboca no presente toda a tradição filosófica.

Nessa mesma obra, no item “V - Ontologia Espí-rita”, Herculano afirma que “Plotino se destaca no ne-opitagorismo considerando Ser como a “alma viajora do Infinito”. E, mais adiante, no mesmo item, analisa Pitá-goras nos seguintes termos:

Pitágoras, como acentuou Bertrand Russell, é o pri-meiro filósofo e também o pripri-meiro homem em que Fé e Razão se definem como um par. A Matemática é o processo racional de que ele se serve para escla-recer os problemas da Fé no campo da mística. De um lado, Pitágoras é um órfico (ligado à tradição de Orfeu na história religiosa dos gregos) e de outro lado é um jônico (ligado ao desenvolvimento das pesquisas físicas de Tales, na Jônia).

No livro Evolução Espiritual do Homem - Na Pers-pectiva da Doutrina Espírita (PIRES, 2005), Herculano Pires atribui a Pitágoras a popularização da ideia da pa-ligenesia no Ocidente: “Levada por Pitágoras, do Egito à Grécia, a lei da palingenesia adaptou-se a várias concep-ções das diversas escolas filosóficas”.

Herculano Pires, na obra O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte(capítulo segundo, denominado “Os meca-nismos do sensível”) (PIRES, 1996), também considera dignas de nota as especulações de Pitágoras sobre a evo-lução da sensibilidade, dentro do complexo assunto con-cernente à evolução anímica pré-hominal que, até hoje, ainda é assunto em aberto dentro do contexto do estudo doutrinário.

Ser um precursor não significa apresentar um con-teúdo irrefutável, sobretudo quando analisado em compa-ração ao corpo doutrinário espírita, cujo advento ocorreu mais de dois mil anos após o tempo de Pitágoras. Aliás, a própria “Fé raciocinada”, princípio fundamental da Dou-trina Espírita, reforça uma atitude de irrestrita análise crítica em busca da verdade. Todavia, o levantamento de uma série de questões pertinentes dentro do contexto espírita muitos séculos antes do Espiritismo demonstra o pioneirismo pitagórico em relação a muitos relevantes tópicos espiritualistas e, em alguns casos, propriamente espíritas.

V

P

ITÁGORAS NA ANÁLISE DE

L

ÉON

D

E

-NIS

Léon Denis é tido por muitos como sendo o principal continuador do trabalho espírita após a morte de Allan Kardec, sendo considerado o “filósofo” do Espiritismo, sobretudo no fim do século XIX e no início do século XX. Ele foi denominado, por muitos autores, “O após-tolo do Espiritismo” (de fato, talvez apenas Gabriel De-lanne mereça dividir tal caracterização com o “apóstolo de Tours”) (LUCE,2003).

Em duas das principais obras de Léon Denis, ele exalta a figura de Pitágoras e destaca aspectos do pen-samento pitagórico extremamente afins ao penpen-samento espírita. Na obra No Invisível (DENIS, 2014), no capí-tulo VI (que recebe o contundente nome “Comunhão dos vivos e dos mortos”) da primeira parte (“O Espiritismo experimental: as leis”), Denis, discutindo a mediunidade, faz o seguinte comentário: “Pitágoras ensina aos inicia-dos os divinos mistérios e, pelos lábios de Teocleia ador-mecida, conversa com os gênios invisíveis.” (grifos meus).

Ainda em No Invisível (capítulo XXVI - “A mediu-nidade gloriosa”, que é o último capítulo da terceira e última parte do livro, a qual é denominada “Grandezas e misérias da mediunidade”), Léon Denis transcreve a inte-ressante afirmação de Pitágoras: “a inspiração é uma

sugestão dos Espíritos que nos revelam o futuro e as coisas ocultas.” (grifos meus).

Na obra de Léon Denis Depois da Morte (DENIS,

2004), que ficou célebre por ter tido um papel de des-taque na conversão de Eurípedes Barsanulfo ao

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Espiri-tismo (RIZZINI,2004), o filósofo de Tours faz uma aná-lise ainda mais extensa e profunda sobre Pitágoras no capítulo quarto (“A Grécia”), da primeira parte (“Cren-ças e negações”). De fato, logo nos terceiro e quarto parágrafos do referido capítulo, Léon Denis afirma:

... esse ritmo, essa harmonia que o gênio nascente da Grécia introduzira na palavra e no canto, Pitá-goras, o iniciado dos templos egípcios, reconheceu-os em toda parte no Universo, na marcha dos globos que se movem, futuras moradias da Humanidade, no seio dos espaços; na relação dos três mundos, natural, hu-mano e divino, que se sustentam, se equilibram e se completam, para produzir a vida. Dessa visão formi-dável gotejava para ele a ideia de uma tríplice ini-ciação, pela qual o homem, instruído nos princípios eternos, aprendia, depurando-se, para se libertar dos males terrestres e para se elevar à perfeição. Daí,

todo um sistema de educação e de reforma, no qual Pitágoras deixou seu nome e que produziu tantos sábios e grandes homens.

Enfim, Sócrates e Platão, popularizando os mesmos princípios, estendendo-os num círculo mais vasto inauguraram o reino da ciência aberta, vindo a substituir o ensino secreto.

(gri-fos meus).

Mais à frente, no mesmo capítulo, Denis faz uma aná-lise ainda mais categórica sobre o legado pitagórico:

Uma importante figura domina o grupo dos filósofos gregos. É Pitágoras, aquele filho de Iônia que primeiro soube coordenar, esclare-cer as doutrinas secretas do Oriente, fazer de-las uma vasta síntese que abarcava, simultane-amente, a moral, a ciência e a religião. Sua

academia de Crotona foi uma escola admirável de ini-ciação laica, e sua obra, o prelúdio desse grande

movimento de ideias que, com Platão e Jesus, ia abalar as camadas profundas da sociedade antiga e levar suas ondas até as extremidades do continente.

Pitágoras havia estudado durante trinta anos no Egito. Aos vastos conhecimentos juntava essa intuição maravilhosa, sem a qual a obser-vação e o raciocínio não são sempre suficientes para descobrir a verdade. Graças a essas qua-lidades pôde elevar o magnífico monumento da

ciência esotérica, da qual não podemos

dispensar-nos de retraçar aqui as linhas essenciais.

A essência em si escapa ao homem, dizia a dou-trina pitagórica. O homem conhece apenas as coi-sas desse mundo, onde o finito combina-se com o infinito. Como pode conhecê-los? Porque há entre ele e as coisas uma harmonia, uma relação, um prin-cípio comum, e esse prinprin-cípio lhes é dado pelo

Único, que lhes fornece com sua essência o equilíbrio

e a inteligibilidade.

Vosso ser vos pertence, vossa alma é um pequeno

universo, mas está cheia de tempestades e de discórdias. Trata-se de aí realizar a unidade na harmonia. Só então, lentamente, Deus descerá à vossa consciência e participareis, então, do seu

poder e fareis da vossa vontade a pedra da lareira, o altar de Hestia, o trono de Júpiter.

Os pitagóricos chamavam de espírito ou de in-teligência a parte ativa e imortal do ser hu-mano. A alma era para eles o espírito reves-tido de seu corpo fluídico, etéreo. O destino da

Psiquê, a alma humana, sua descida e sua prisão na carne, seus sofrimentos e suas lutas, sua reascensão gradual, seu triunfo sobre as paixões e seu retorno final à luz, tudo isso constituía o drama da vida, re-presentado nos mistérios de Elêusis, como o ensino por excelência.

Segundo Pitágoras, a evolução material dos mundos e a evolução espiritual das almas são paralelas, concordantes e se explicam uma pela outra. A grande alma, espalhada na Natureza, anima

a substância que vibra sob sua impulsão e produz to-das as formas e todos os seres. Os seres conscientes, através de longos esforços, desprendem-se da matéria, que dominam e governam por sua vez, libertam-se e se aperfeiçoam através de suas existências inumerá-veis. Assim, o invisível explica o visível e o desenvol-vimento das criações materiais e a manifestação do Espírito Divino.

... O ensino secreto dava sobre as leis do Universo noções de outro modo elevadas. Aristóteles nos diz que os pitagóricos conheciam o movimento da Terra em torno do Sol ...

Como os sacerdotes do Egito, seus mestres, Pitágo-ras sabia que os planetas nasceram do Sol e que gi-ravam em torno dele, que cada estrela é um sol que ilumina outros mundos e compõe, com seu cortejo de esferas, tantos sistemas siderais, quanto universos re-gidos pelas mesmas leis que o nosso. Mas essas no-ções nunca eram confiadas à escritura. Constituíam o ensino oral, comunicado em segredo. O vulgo não as teria compreendido; tê-las-iam considerado como contrárias à mitologia, por conseguinte, sacrílegas".

(grifos meus).

Fica evidente nessa análise o quanto Pitágoras es-tava à frente de seu tempo e também como seus estudos eram profundos tanto no que se refere à ciência quanto à filosofia e à religião.

VI

C

ONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante registar que Pitágoras teria sido con-temporâneo de outros expoentes da humanidade, tais como Tales de Mileto, Buda, Confúcio e Lao-Tsé, o que viabiliza propormos uma hipótese de que aquele mo-mento histórico da humanidade representou um verda-deiro marco divisor da evolução planetária. Conside-rando os comentários de Emmanuel em A Caminho da

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Luz(EMMANUEL, 2003), nos quais fica evidente o ca-ráter excepcional da atuação de alguns desses filósofos e o planejamento espiritual, coordenado por Jesus, associ-ado a esse esforço, fica patente que tal época representou uma fase de transição evolutiva decisiva para o avanço intelecto-moral dos homens e mulheres da Terra. De fato, nessa época, as grandes distâncias eram muito difí-ceis de serem vencidas e é muito interessante constatar a contemporaneidade desses grandes nomes da iluminação espiritual da Terra. Como era muito difícil que um pen-sador e/ou expositor atingisse várias regiões distintas do globo, com significativo impacto em termos de educação integral, seriam necessários vários indivíduos em diversas regiões diferentes para que um crescimento espiritual re-presentativo ocorresse em um intervalo, digamos, de um século. É possível supor que tal avanço realmente tenha acontecido preparando desenvolvimentos espirituais pos-teriores nas áreas científicas, filosóficas e religiosas. E, nesse contexto, um nome que tem relevância especial é o de Pitágoras, que apresentou ideias extremamente avan-çadas para a sua época.

Estudos mais aprofundados sobre Pitágoras à luz da Doutrina Espírita poderiam constituir importantes fon-tes de reflexão histórico-filosófico-religiosa da evolução intelecto-moral da humanidade, bem como manancial de ilustrações para o nosso aprofundamento no estudo dou-trinário propriamente considerado. De fato, o presente estudo constitui abordagem exploratória inicial em uma área que pode ser substancialmente desenvolvida por con-frades interessados no estudo da evolução filosófica da hu-manidade e no próprio aprofundamento da compreensão doutrinária, analisando a participação do Espiritismo no processo de desenvolvimento intelectual da humanidade.

R

EFERÊNCIAS

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Title and Abstract in English

Pythagoras, a Spiritism precursor: analysis of Pythagorean thought by Herculano

Pires and Leon Denis

Abstract: Pythagoras and/or Pythagorean thought are undeniable references to the intellectual and moral development of

the western world and all humanity. It is very probable that the Pythagorean thought has exerted significant influence on the ideas of Socrates and Plato. In this way, considering that the organizer of the Spiritism, Allan Kardec, analyzed and discussed, with great emphasis, Socrates and Plato ideas, characterizing them as Spiritism precursors, it is possible to suggest that Pythagoras and/or Pythagorean concepts were also predecessors of the “Doctrine of the Spirits”. In fact, ideas like the immortality of the soul, reincarnation, requirement of intellectual effort to evolve, parsimony in the use of material goods and community solidarity were some of the many Pythagorean principles that can be correlated with the doctrinal principles of Spiritism. Analyses focused on the Pythagorean thinking by Herculano Pires and Léon Denis, two of the greatest philosophers of Spiritism, which supported Pythagoras as precursor of the “Doctrine of the Spirits”, are presented and discussed.

Referências

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